Resenha Crítica do Livro "Pedagogia da Autonomia" Maria de Lurdes Mattos Dantas Barbosa Saberes necessários à prática educativa, na visão de Paulo Freire. Contextualização Paulo Freire aborda, de forma simples e elucidativa, a prática educativa no cotidiano da sala de aula sala e fora dela, devendo-se levar em conta, que os procedimentos abordados no livro, podem e devem ser aplicados, desde o Ensino fundamental à Pós-graduação. Discorre sobre o desenvolvimento da formação docente e o que constitui o universo educacional, mantendo sempre uma visão crítica e democrática. Na construção e troca de saberes, o conflito e as tensões decorrentes das interações sociais, devem ser instrumentos essenciais para a prática pedagógica desde quando, a realidade do educando, o seu conhecimento prévio e de mundo, são motores móveis para a organização dos conteúdos programáticos, que por sua, vez, necessitam de discussão quanto a sua importância, no contexto do qual o aluno se insere e precisará dele, no momento especifico, dentro e fora da escola. Os conflitos servem também de provocação para que os alunos se assumam como sujeitos sócio-históricos, cocondutores de sua própria formação. As menções ao desenvolvimento afetivo, entre professores e alunos, são constantes. E, fundamenta essa posição, com base no equilíbrio entre a competência, a autoridade e a amorosidade. Essa trilogia vem acompanhada implicitamente de uma constante necessidade de atualização e abertura para a construção de novos paradigmas, caso haja resistência para o novo, o discurso da competência não tem significação. Ainda faz parte do fazer pedagógica, a simplicidade que deve nortear todo os outros procedimentos do professor progressista comprometido com a troca de saberes, assim como, a alegria proporciona um estado de bem-estar no decorrer do processo de educação. O autor defende com veemência a autonomia do educando e sugere a reflexão sobre a prática educativa-reflexiva, afirmando que formar é muito mais puramente treinar o educando no desempenho de destrezas. Faz severa crítica a ideologia neoliberal e ao fatalismo que se recusa enfaticamente ao sonho. Comenta a sua raiva contra as injustiças as quais, são submetidos aos que consideram como esfarrapados do mundo. A responsabilidade dos professores e dos que estão em formação é muito grande, desde quando, se fazem necessários o processo de mudança, as lutas, a criticidade e o exercício da cidadania, para a efetivação da prática docente. A ética é um ponto, o qual o autor considera primordial para a construção e aquisição do conhecimento. Refere-se a ética universal do ser humano e não a ética de mercado, a qual, deve ser combatida, afrontada. A reflexão crítica sobre a prática pedagógica e\ ou educativa para o docente, se torna de fato, uma exigência da relação teoria prática. Talvez por essa razão, Paulo Freire se preocupe tanto, com a formação dos professores e, sobretudo, com a organização dos conteúdos programáticos. As suas palavras conduzem o leitor a reconhecer entre outros objetivos, a necessidade de oportunizar para o formando desde o começo da sua vida acadêmica, o direito de assumir-se como sujeito da produção do saber. E, enfatiza de que ensinar, não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção ou a sua construção. No entanto, a capacidade crítica também deve ser estimulada no educando, assim como conduzir o aluno à “pensar certo, se constitui numa uma tarefa docente. E, para tanto, o conhecimento prévio do educando deve ser levado em consideração, começando pela ética - o respeito aos saberes construídos num processo anterior - ao longo da vida social, cultural e política do alunado. Principalmente refere-se aos alunos oriundos das classes populares, com muitas histórias para contar e que certamente servem de base para estudos sistematizados. O ensino sob este prisma deve abranger de forma elementar, a realidade do aluno de forma interdisciplinar e estimulativa. Pensar certo para o professor implica o respeito ao senso comum, assim como, o compromisso com a consciência crítica do aluno. Ensinar efetivamente exige pesquisa, coisa que está associada intrinsecamente ao fazer didáticopedagógico; exige também rejeição a toda e qualquer forma de discriminação e respeito à autonomia e liberdade do educando e a abertura para o conhecimento de novas metodologias e teorias que venham enriquecer o ensino. Diz Paulo Freire que: O velho que preserva uma tradição ou marca uma presença no tempo, continua novo! O autor revela ao leitor sobre o seu pocisionamento perante a educação neoliberal, dizendo-se conhecedor da natureza humana e que a compreensão que possui dessa referida natureza, é uma exigência que faz a si mesmo de pensar certo quando defende seus pontos de vista. Pensar certo é um ato comunicante, distanciado do aconchego e da solidão. O processo de construção do conhecimento implica também no sentimento de não acabado, concluído, finalizado. Ao contrário, essa construção, ao abolir a simples transferência de conteúdos, abre o caminho para a educação continuada, o aprimoramento da prática-docente, como a atualização dos acontecimentos das áreas do conhecimento científico; da contínua busca do novo. Gosto de ser gente, porque inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. As forças sociais, como fator externo, influenciam na estrutura educacional de alguma maneira. Fechar os olhos às tensões que delas emergem, é fechar-se e recolher-se; é não se dar conta de suas próprias limitações e condicionamentos. Tomar conhecimento disso pode conduzir o indivíduo a transpor suas pequenas condições. O bom senso deve permear todo o trabalho educativo, haja vista, a performance de cada professor, o jeito peculiar de ser, (uns autoritários, outros mau-humorados, alegres...) deixam marcas inaliáveis nos educandos. O autor chama à atenção quanto à necessidade da luta pelos direitos adquiridos, assim como também pelas plenas condições para o exercício de suas funções enquanto docente. Portanto, dentro dessa perspectiva, pode-se afirmar com base no pensamento do autor que, ensinar realmente, implica na luta pelos direitos dos educadores e na utilização da humildade e tolerância no contexto da vida cotidiana da sala de aula. Falar em educação deixa implícita a necessidade de estimular a curiosidade do aluno e conseqüentemente a do próprio educador, sem curiosidade não haveria ciência.Diz Paulo Freire: Como professor devo saber que sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem ensino. Pode-se intervir no mundo, através da educação, essa compreensão deve estar presente na prática-educativa da maneira crítica, oportunizando sempre debates a respeito de questões importantes que permita ao aluno se posicionar. Pode-se afirmar, que a educação também é contraditória e envolve a dialética, o desmascaramento da ideologia dominante, e muitas vezes ela própria reproduz essa ideologia, etc. No entanto em determinado momento do tempo e do espaço, um desses fatores predomina aos demais,cabendo ao setor educacional intervir nas ações que considera de relevância para a sociedade, como um todo. O autor chega à conclusão de ser necessário um pouco de radicalidade nas ações e diz continuar atento a advertência de Marx quanto a esse aspecto, pois graças a ela, continua alerto a tudo o que diz respeito a defesa dos direitos humanos e afirma ser imoral que os interesses de mercado se sobreponham aos interesses humanos. A sociedade social e política de que precisamos para construir a sociedade menos feia e menos arenosa, em que podemos ser mais nós mesmos, tem na formação democrática uma prática de real importância.(1991, p. 47) A possibilidade de transgressão da ética deve ser combatida e nada justifica a minimização dos seres humanos. O avanço da ciência e da tecnologia pode legitimar uma ordem desordeira em que só as minorias do poder esbanjam e gozam, enquanto que as maiorias se encontram em dificuldade até para sobreviver, mas que, afirma que a realidade é assim mesmo, que sua fome é uma fatalidade do fim do século. O autor se refere à ideologia fatalista da política e ao discurso neoliberal, assunto esse, repetido várias vezes, no decorrer no texto. Paulo Freire ao se referir à globalização, revela que ela reforça o poder das maiorias dominantes, esmigalha e torna impotente a presença dos dependentes. Enfatiza que frente a globalização, não há saída, a não ser baixar os olhos e agradecer a Deus ou a globalização por ainda estar vivo. Prefiro a rebeldia que me confirma como gente e que jamais deixou provar que o ser humano é maior que os mecanismos que o minimizam. (idem, p.129). A morte da História, era na verdade, a morte da utopia, a morte do sonho.Sobre esse assunto, Freire discorre dizendo que a proclamada morte da História e conseqüentemente do sonho, decreta de fato, o imobilismo que nega o ser humano. O livro é dividido em tópicos referentes ao processo de ensino; observa-se em determinados trechos, um pouco do perfil político e ideológico do autor; a sua veemente defesa em favor dos interesses humanos,; do ensino progressivo e democrático; da rejeição á política neoliberal e fatalista; a preocupação com os valores étnicos e sociais ,entre outros. Confirmam ser necessário certo radicalismo e rebeldia como normas para a construção de novos paradigmas e se posiciona contra a supremacia dos valores de mercado aos valores humanos, esse último, sua principal causa e primeiro objetivo de sua carreira na educação. A liberdade amadurece no confronto com outras liberdades, na defesa de seus direitos em face da autoridade dos pais, do professor, do Estado. ( idem, p. 119) REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários a à Prática Educativa.-São Paulo: Paz e Terra. 1996. Maria de Lurdes Mattos Dantas Barbosa