20, 21 e 22 de junho de 2013 ISSN 1984-9354 GESTÃO DE MARKETING PARA IMPLANTAR ATIVIDADES DE GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE Ricardo Martiniano dos Santos (UFF) Mara Telles Salles (UFF) Resumo Os administradores médicos, ao invés dos não médicos, têm sido em geral, responsáveis pelo estabelecimento da política administrativa dos hospitais, tendo que introduzir cada vez mais abordagens empresariais para a gestão de um hospital modderno. Apesar de o marketing disponibilizar recursos para enfrentar esse tipo de problema, muitos administradores médicos resistem usá-lo, por entender que sua melhor aplicação é para estabelecimentos empresariais com fins comerciais. Supõem que esta conotação pode remeter a lucro e lhes causar embaraços. Este artigo tem por objetivo demonstrar, como o processo de adoção do marketing, por organizações que não visam o lucro, pode ajudar na implantação de projetos de gerenciamento de resíduos de serviço de saúde. A pesquisa, de perfil exploratório, foi realizada em um hospital público universitário durante a implantação do seu Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS). O estudo de caso foi desenvolvido propondo a aplicação de conceitos de Planejamento Estratégico, de Comunicação, Endomarketing e Marketing para organizações que não visam o lucro entre outros. Os resultados confirmaram que o uso do marketing como instrumento de gestão, por hospitais públicos universitários, pode contribuir positivamente para organizar, mobilizar e motivar o público alvo do projeto, assim como para fortalecer a cultura organizacional e orientar a melhor aplicação dos recursos institucionais. Palavras-chaves: marketing, endomarketing, plano de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde, cultura organizacional. IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 1.0 Introdução O avanço das ciências médicas trouxe melhorias significativas quanto à prestação de serviços de saúde. A descoberta de novos produtos e equipamentos contribuiu para melhorar os procedimentos médicos, aumentar a longevidade e a qualidade de vida das pessoas. Em contra partida também aumentaram a geração de resíduos que são considerados perigosos em função do potencial de risco de contaminação que representam para o meio ambiente e a humanidade. Os estabelecimentos de saúde são os responsáveis diretos pelo gerenciamento de todos os Resíduos de Serviços de Saúde - RSS por eles gerados, mas pelo princípio de responsabilidade compartilhada, esta obrigação se estende a outros setores, como o poder público e as empresas de coleta, tratamento e disposição final. A RDC ANVISA nº. 306/04 e a Resolução CONAMA nº. 358/05 versam sobre o gerenciamento dos RSS em todas as suas etapas. O Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde – PGRSS é o documento indicado pelas agências reguladoras – ANVISA e CONAMA, que deve ser elaborado pelo gerador de resíduo de serviço de saúde, com a finalidade de orientar todas as etapas do processo de gerenciamento dos resíduos dos órgãos geradores. A implantação de um PGRSS em uma organização envolve várias etapas, que vão da formação de uma equipe responsável pelo seu desenvolvimento e implantação, até a execução e avaliação dos resultados programados. Neste cenário acontecem várias atividades paralelas como: divulgação do plano, capacitação de pessoal, contratação de serviços especializados, redefinição de espaços físicos, compra de equipamentos, redimensionamento de instalações, estudo dos fluxos de informação e dos sistemas de comunicação, identificação das lideranças para mobilizar o público interno e algumas vezes, se faz necessário uma reestruturação organizacional e funcional do hospital, entre tantas outras atividades que podem ou não acontecer. Essa gama de atividades, independentes e interligadas é necessária para dar consistência e viabilizar a implantação do PGRSS. Independente disso espera-se que a organização tenha previsto em seu planejamento estratégico os recursos financeiros, humanos e materiais necessários. 2 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 Com base na problemática apresentada, os objetivos específicos são: levantar à situação institucional do hospital e caracterizar o mercado alvo do hospital usuário do PGRSS; verificar se o PGRSS elaborado está estruturado de acordo com os padrões das agências reguladoras e identificar os procedimentos previstos para a implantação do PGRSS no hospital; identificar possíveis barreiras organizacionais a implantação do PGRSS. A implantação de um PGRSS em organizações hospitalares precisa do total comprometimento da administração do hospital, se tornando também imprescindível mobilizar e capacitar todos os profissionais envolvidos, fatos que se não forem consumados põe em risco todo o processo. Nesse sentido, este estudo se justifica e propõe identificar como o marketing pode suportar a execução de ações necessárias para a implantação de um PGRSS em uma organização sem fins de lucrativos. Para isto foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório junto ao mercado alvo por meio de questionários e entrevistas. A ênfase dada ao livro de Philip Kotler, Marketing para organizações que não visam lucro (1994) neste artigo, se dá por ser este um livro pioneiro escrito por um dos mais conceituados estudiosos de marketing de todos os tempos. E que ainda apresenta uma leitura consistente e atual do marketing que pode ser praticado pelas organizações que não visam o lucro. Quase toda a teoria de marketing anterior a 1970 tratava de organizações com fins lucrativos. Kotler na ocasião percebeu esta lacuna na literatura e abordou com muita propriedade a problemática do uso de marketing para as organizações sem fins lucrativos. Ao prefaciar seu livro Marketing para o século XXI (1999), comentou de forma suscinta o livro anterior fazendo um link com o presente e deixando implícito o valor daquele trabalho para atualidade. Isto se deve principalmente a baixa competitividade impelida ao setor que não tem o lucro como meta e nem sofre o assédio permanente dos concorrentes. Esta pode ser uma das explicações para falta de publicações mais recentes sobre o tema. 2.0 Referencial Teórico 2.1 Planejamento Estratégico Para Philip Kotler (apud ALDAY, 2000, p.10) “O Planejamento Estratégico é uma metodologia gerencial que permite estabelecer a direção a ser seguida pela organização, visando maior grau de interação com o ambiente”. Esta direção engloba os seguintes itens: 3 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 âmbito de atuação, macro políticas, políticas funcionais, filosofia de atuação, macro estratégia, estratégias funcionais, macro objetivos, objetivos funcionais. Como benefícios, o planejamento estratégico traz agilidade e aumento da capacidade gerencial para a tomada de decisões; melhora a comunicação institucional; favorece o desenvolvimento de uma consciência coletiva institucional; proporciona uma visão de conjunto da organização; melhora o processo de delegação; proporciona uma direção única para todos; orienta os programas de qualidade, planos estratégicos de marketing e melhora o relacionamento da organização com seu ambiente interno e externo. O estabelecimento de um planejamento estratégico pressupõe a realização de cinco atividades: (I) definir a missão corporativa; (II) fazer uma análise da situação de mercado e do ambiente da organização; (III) formular os objetivos macros da organização; (IV) formular as alternativas estratégicas e (V) programar técnicas de controle e avaliação. De um modo geral, o planejamento estratégico é o processo que instrumentaliza a resposta que a organização precisa apresentar ao seu ambiente diante de um contexto de mudanças. Ele se baseia na escolha dos objetivos prioritários da organização, abordando as questões globais, genéricas e amplas. Pressupõe a definição da área de atuação, do portfólio de produtos oferecidos e das necessidades do público-alvo, o estudo e análise dos fatores ambientais que afetam a organização, previsão dos cenários que a influenciam, definição dos fatores éticos que a norteiam, da sua missão e visão de futuro. Enfim deve contemplar os recursos humanos, materiais e financeiros que a organização precisa em um prazo determinado para alcançar as metas desejadas. Segundo Ambrósio (1999), existe três níveis fundamentais de planejamento que devem interagir entre si e se complementar: O Estratégico que planeja ações estratégicas para organização em longo prazo; o Tático que contém os planos de marketing e planejam ações para médio prazo; o Operacional que se traduz em rotinas e contempla as ações de curto prazo. O plano de marketing, um dos objetivos específicos do nosso estudo, é parte do Planejamento Tático. Ele é que traduz o planejamento estratégico e o aproxima da realidade de execução, pela unidade organizacional responsável, ligando o objetivo planejado à execução operacional. De acordo com Boone e Kurtz (1998, p. 123), “a estratégia geral do plano de marketing serve de base a uma série de planos operacionais necessários para mover a 4 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 organização em direção à realização dos seus objetivos”. Como por exemplo, implantar um PGRSS. 2.2 Planejamento de Marketing De acordo com Ambrósio (1999), o planejamento de marketing é um processo inteligente e coordenado de recursos humanos, financeiros e materiais, que tem foco na satisfação do consumidor, gerando resultados positivos para as organizações e a sociedade. Plano de marketing é o documento que resume o planejamento de marketing. Segundo Churchill e Peter (2000, p.86) “um plano de marketing cuidadosamente estudado tem maiores probabilidades de alcançar os resultados desejados”. Para Las Casas (2001, p. 18), “o plano de marketing estabelece objetivos, metas e estratégias do composto de marketing em sintonia com o plano estratégico geral da empresa”. Os planos de marketing oferecem vários benefícios. Um plano de marketing bem feito ajuda os membros de uma organização a reconhecer onde seus esforços devem estar concentrados e a observar e tirar o melhor proveito das oportunidades. Também proporciona um meio de medir o desempenho de um projeto ou de um departamento pela comparação dos resultados com os objetivos. (CHURCHILL e PETER, 2000). Apesar de existir no mercado várias metodologias de elaboração de diferentes autores para um plano de marketing, percebe-se que essas metodologias possuem algumas diferenças, mas, basicamente, a formulação do plano segue a mesma linha de raciocínio. Propõe pesquisar e avaliar o cenário de ação; identificar e situar o objetivo desejado; definir metas e estratégias de ação; controlar e acompanhar os resultados alcançados; fazer os acertos necessários e executar. Las Casas (2001) observa que em todas as metodologias analisadas existem, sem exceção, os seguintes componentes: a) Análise (diagnóstico) do ambiente interno e externo da organização, identificando os pontos fortes e fracos, bem como as oportunidades e ameaças; b) Diretrizes da empresa (missão, visão, objetivos, metas, políticas); c) Direcionamento das estratégias ou meios que se pretende atingir; d) Sistema de controle e avaliação. Partindo deste raciocínio, Las Casas (2001) propõe dividir em duas etapas o desenvolvimento de um plano de marketing: (I) Diagnóstico estratégico – onde será realizado um estudo do ambiente externo e também do ambiente interno; (II) Prognóstico – elaboração do plano de marketing propriamente dito. 5 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 Para Kotler e Armstrong (2007), alguns pontos devem ser considerados quanto aos procedimentos e conteúdos de um plano de marketing, a variação do planejamento de uma organização para outra, e não perder de vista as deficiências mais freqüentes, que são a falta de realismo, a análise insuficiente e o foco restrito no curto prazo, pois se trata do produto mais importante do processo de marketing. De acordo com Kotler (2000), um plano de marketing deve possuir as seguintes etapas para a formulação: 1. Missão do negócio; 2. Análise do ambiente externo (oportunidades e ameaças); 3. Análise do ambiente interno (pontos fortes e fraquezas); 4. Formulação de metas; 5. Formulação de estratégias; 6. Formulação de programas; 7. Implementação; 8. Feedback e controle. Existem diferentes propostas de estruturas de planos de marketing que, certamente, desembocam em diferentes modelos de plano, também sendo impossível afirmar que um único formato possa atender as necessidades de todo tipo de organização. Peculiaridades do mercado de atuação e da própria instituição devem ser consideradas na escolha ou construção do modelo de planejamento indicado a cada empresa. O mais importante, no entanto, é que a organização adote um modelo que seja adequado às suas necessidades e crie a cultura do planejamento e ações nele baseadas. Entende-se que um plano de marketing tem que ocorrer em um ambiente de marketing e que uma organização que queira usá-lo como ferramenta de apoio à realização dos seus objetivos tem que, necessariamente, pensar em marketing, em sua versatilidade de aplicação e adotar a administração de marketing adaptada ao seu negócio. Espera-se também que esta organização use o planejamento estratégico para otimizar a aplicação de seus recursos. Estas questões satisfeitas corroboram para facilitar o desenvolvimento e execução de um plano de marketing. 2.3 Marketing para organizações sem fins lucrativos Para Peter Drucker (1997) marketing é encontrar necessidades e satisfazê-las, e o marketing deve produzir valores positivos para ambas as partes. Organização e clientes. Para Philip Kotler e Armstrong (2007) marketing e a diferença entre o esforço de vendas e o esforço de marketing. A diferença entre marketing e vendas está no seguinte: se você começa com os clientes, consumidores, ou grupos que deseja atender bem – isso é marketing. Se você começa com um conjunto de produtos que tem e deseja empurrar para qualquer mercado que possa encontrar, isso é venda. 6 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 Se forem consultados 100 autores, provavelmente haverá 100 definições diferentes do conceito de marketing. Elas traduzem a visão e as idéias de vários períodos da história da evolução do marketing: fala-se do marketing como distribuição; como atividade comercial (vendas); como estratégia para promover trocas e satisfação para clientes; para organização (segmentação) do mercado; administração de organizações (planejamento, 4 Ps); de relacionamentos com clientes, fornecedores e stakeholders. Um dos principais atributos do marketing é a diversidade de aplicações que ele permite. As idéias a respeito do marketing evoluem com o tempo e se adaptam às mudanças socioculturais e econômicas, indicando sim não o que é o marketing, mas o que ele pode fazer. Isso foi o que levou Kotler (1994) a afirmar que esta evolução é que faz do marketing uma disciplina saudável. Uma disciplina com capacidade de se adaptar a diferentes objetivos organizacionais. Assim sendo, entre as inúmeras definições para o marketing existe um conceito de Kotler (1994) em “Marketing para Organizações que não visam Lucro” que se aplica a este estudo e as idéias de como fazer este marketing. Ele traduz como deve ser na prática, o marketing que pode ser apropriado para um hospital público universitário. Marketing é a análise, o planejamento, a implementação e o controle de programas cuidadosamente formulados e projetados para propiciar trocas voluntárias de valores com os mercados-alvos, no propósito de atingir os objetivos organizacionais. “Depende intensamente do projeto da oferta da organização, em termos das necessidades e desejos dos mercados-alvos, e no uso eficaz da determinação de preço, da propaganda e da distribuição, a fim de informar, motivar e servir os mercados.” (KOTLER, 1994, p.20). O conceito, como definido por Kotler (1994), sugere a prática de um marketing estratégico direcionado para apoiar o planejamento de instituições cujos objetivos organizacionais não são necessariamente, o lucro, mas a eficiência e a qualidade administrativa de produção e sustentabilidade para seu negócio principal. Seja ele um bem ou um serviço. No nosso caso implantar um plano operacional de gerenciamento de resíduos direcionado para melhorar a qualidade e segurança do serviço médico prestado e preservar a saúde e o meio ambiente. As organizações podem praticar diferentes estilos de marketing. Não existe tal coisa como um estilo de marketing para esta ou aquela organização. Toda organização deve escolher um estilo de marketing que seja compatível com suas metas e seu autoconceito. Kotler (1994) identifica três estilos de marketing que podem ser praticados pelas organizações: 7 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 O marketing agressivo ou marketing de vendas intensas que é o utilizado por muitas firmas comerciais ou indústrias, cujo produto é continuamente lançado e deve ser vendido. Como por exemplo: a indústria de automóveis ou de cosméticos. O marketing mínimo que é conhecido como de não vender, praticado por organizações que pressupõem que a demanda para seus produtos crescerá simplesmente pelo fato de os estarem oferecendo, ou porque o oferecem bem, ou porque ele é uma necessidade. Como os hospitais e as universidades. E o marketing equilibrado que procura misturar eficazmente todos os elementos do composto de marketing, de uma forma que contribua para a adoção elevada do produto e a satisfação do consumidor. O marketing equilibrado é um estilo de marketing que se enquadra aos gostos e necessidades da maioria das organizações que não visam lucro. Kotler (1994, p.24) defende que: A razão básica de uma organização que não visa a lucro se interessar pelos princípios formais de marketing é que eles permitem que a organização seja mais eficaz no alcance de seus objetivos. As organizações numa sociedade livre dependem de trocas voluntárias para que possam realizar seus objetivos. Recursos devem ser atraídos, empregados devem ser estimulados, clientes devem ser encontrados. O planejamento de incentivos apropriados é um passo importante no estímulo dessas trocas. O marketing é a disciplina que mais se preocupa com o controle eficaz e eficiente das trocas. A troca é o conceito central de marketing. Exige a oferta de valor a alguém, em troca de valor. Através das trocas, várias unidades sociais – indivíduos, pequenos grupos, organizações, nações inteiras – obtêm o que precisam. Hoje técnicas de marketing são aplicadas em todos os sistemas políticos e em muitos aspectos da vida social e empresarial podendo ser também amplamente usado para "vender" idéias, serviços e ou projetos religiosos, socioculturais e esportivos. Pode-se fazer marketing de pessoas, lugares, experiências, organizações e até para melhorar o clima organizacional e apoiar ações estratégicas de comunicação, mobilização e capacitação de um mercado alvo com fins de viabilizar a implantação de projetos. O marketing, como se pretende aqui demonstrar pode ser usado para regular as relações de troca entre o hospital e seus funcionários. Quando aplicado desta forma, para dentro da organização é chamado de marketing interno e endomarketing. 2.3.1 Marketing interno, Endomarketing e Comunicação interna 8 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 Segundo kotler e Armstrong (2007) o marketing interno precede o externo e qualifica a organização para atender melhor o cliente, é uma tarefa de contratar, treinar e motivar os funcionários para que eles possam bem atender ao cliente. O objetivo funcional do marketing interno é satisfazer os desejos e necessidades dos empregados de forma a mantê-los motivados para produzir melhor (LAS CASAS apud SUSIN, 2003). O endomarketing tem por objetivo promover ações, através das quais, a organização consiga obter maior comprometimento dos empregados e melhoria dos processos operacionais. É a aplicação e adaptação de técnicas e princípios de Marketing, que são voltadas para o interior das organizações. Para Brum (apud SUSIN, 2003), Endomarketing é um conjunto de ações de Marketing para o público interno. São ações que a empresa deve utilizar adequadamente para vender sua imagem aos funcionários e familiares. Enfim, o marketing interno pode preparar melhor o funcionário para o uso do plano e, o endomarketing pode ajudar a melhorar as relações internas criando um ambiente organizacional favorável a implantação do PGRSS. Ambos podem e devem ser usados, para motivar a aceitação e utilização do plano pelo funcionário e ajudando a construir um ambiente organizacional favorável a implantação do projeto. A comunicação interna é um dos fatores mais importantes a serem considerados em qualquer programa de marketing interno ou endomarketing e traz reflexos imediatos e profundos no relacionamento entre a empresa e seus funcionários. Ela é uma subárea do sistema de comunicação integrada e forma junto com a comunicação de mercado e a comunicação institucional, a comunicação organizacional. (COLLINA apud FORTES, 2001). Comunicação Interna, marketing Interno e endomarketing podem incorporar um conjunto de ações capazes de tornar comum, entre os funcionários de uma organização, os objetivos, as metas e os resultados planejados. A escolha dos instrumentos de comunicação interna adequados ao produto trabalhado, ao público alvo e ao conteúdo da mensagem que se quer divulgar é indispensável para alcançar e envolver o público. Conhecer o perfil deste público, o fluxo da informação na organização e os canais de comunicação disponíveis permitem planejar a divulgação adequada para motivar o público. Para Brum apud Susin (2003), comunicação interna é um conjunto de ações e de instrumentos utilizados pelas organizações para influenciar, de forma positiva, seus 9 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 funcionários. Dentro deste contexto é importante que a informação percorra os caminhos corretos e encontre o público certo, através de adequados instrumentos de distribuição. Os conceitos básicos da disciplina de marketing são os mesmos, tanto para as organizações lucrativas quanto para as que não visam o lucro, no entanto, cada organização que não visa lucro terá necessidades específicas que devem ser analisadas e tratadas com os recursos de marketing apropriados para o seu caso. De acordo com Kotler (1994), o marketing deve ser ético e democrático; deve planejar e controlar as trocas; realizar tarefas de comunicação e distribuição e pesquisar os seus públicos para atendê-los cada vez melhor. Toda organização funciona num meio ambiente de públicos. Os públicos não se relacionam apenas com a organização, mas também, entre si. É razoavelmente fácil relacionar os vários públicos que orbitam o universo de qualquer organização específica. Baseados na missão da organização e na consulta aos seus objetivos têm-se as informações necessárias para identificá-los. Para o marketing, é de grande utilidade classificá-los, para que se possa melhor entender suas relações funcionais com a organização e, então, estabelecer com eles boas relações de troca. Os funcionários do hospital, médicos, enfermeiros, técnicos, auxiliares, serventes, professores, residentes formam o seu público interno. Uns dos públicos da organização. Os pacientes, fornecedores, doadores, associados, agências reguladoras, organizações conveniadas constituem o seu público externo. Outro público, outro perfil. Kotler (1994) sugere que a classificação dos públicos deve ser exaustiva, uma vez que o conhecimento dos públicos é muito importante para os negócios da organização e não deve ser desprezado. A figura abaixo permite visualizar sua proposta de classificação adaptada para o hospital. Figura 1 – Adaptação da Classificação de Públicos de Kotler 10 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 Públicos Provedores Públicos Internos Públicos Agentes Públicos Consumidores Associações, Ongs, Fundações, Pessoal Empre. fornecedoras de bens e serviços. Médicos, técnicos, Profs., residentes, Enfermeiros, aux., serventes Méds / profs Convênios Mídia massa Educadores Cliente comunid. Residente/aluno Familia clientes, funcions. e aluno ANVISA CONAMA Cabe observar que médicos, professores e residentes podem ser encontrados em duas classes de públicos. Os médicos por pertencerem ao quadro institucional e serem responsáveis diretos pela entrega ao público do serviço oferecido. Os residentes por serem alunos que se encontram no hospital em nível de especialização prática e teórica. Para Kotler (1994), os agentes são responsáveis por levar o produto ou serviço da organização aos públicos consumidores. Para efeitos deste trabalho classificamos o público do hospital em externo e interno, o interno é o nosso mercado alvo. Do ponto de vista da organização, é importante estabelecer relações de troca positivas com seus públicos mais valiosos para produzir satisfação entre eles. O mercado é o lugar onde estas relações vão acontecer. Do ponto de vista de uma organização, um mercado é uma arena em potencial para troca de recursos. Uma organização vai ao mercado financeiro para obter capital; ao mercado de trabalho para obter empregados; ao mercado comprador para obter clientes e assim por diante. (KOTLER,1994). Uma organização entra e sai de vários mercados oferecendo alguma coisa em troca de outra coisa. Essa outra coisa pode ser um recurso ou algo que procura. Baseado nesta linha de raciocínio Kotler (1994, p.38) define mercado como: “Um grupo distinto de pessoas e/ou organizações que têm recursos que querem trocar ou que poderão concebivelmente trocar por benefícios distintos”. Assim para uma organização o termo mercado pode significar um público ou uma empresa de seu interesse para as trocas. Logo mercado-alvo identifica um grupo específico de interesse da organização para promover trocas. 11 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 Neste estudo de caso, considerando o hospital uma organização, o grupo específico de interesse para troca é o seu público interno. Formado por funcionários do hospital, usuários do produto PGRSS, oferecido pela organização como um sistema para gerenciar os resíduos de serviços de saúde gerados em seus setores de trabalho. Produto que o hospital quer implantar para atender exigências legais (público externo), e diminuir o risco a saúde das pessoas, dos seus funcionários e ao meio ambiente. A organização poderá abordar os funcionários, falar da importância do produto para as partes e oferecer um conjunto de valores e benefícios em troca de cooperação. O marketing se preocupa com está abordagem. Segundo Kotler (1994), uma organização que deseja implantar, em seus setores, um conjunto específico de recursos, tem várias opções disponíveis para fazer isso, e uma delas é a troca. A troca exige duas condições: (1) a existência de duas partes. (2) e que cada parte tenha algo de valor para outra parte. “A troca é o conceito central de marketing. Exige a oferta de valor a alguém, em troca de valor. O valor está enraizado nos desejos humanos” (Kotler 1994, p.39). Os desejos são vontades moldadas pela cultura e pelas características pessoais de cada indivíduo. Os desejos são sentimentos percebidos por alguém e influenciados por mudanças ocorridas na sociedade. Para Kotler (1994, p.39), [...] um desejo é uma deficiência sentida por parte de um organismo. Essa deficiência sentida produz um estado de tensão no organismo e o induz para uma ação. O organismo pesquisa em seu entorno coisas para satisfazer seu desejos. Coisas que tenham valor para ele. O meio tem todos os objetos tangíveis ou não, coisas de interesse de um organismo. A comunicação é um elo entre o meio e o organismo. Um desejo é conseqüência de uma necessidade, que pode ser influenciado pelos meios de comunicação. “No processo de troca é importante que a parte que deseja atrair um recurso seja capaz de oferecer valores à outra parte. Para tal deverá compreender as necessidades da outra parte. Estudá-las e buscar saber o que pode satisfazer os seus desejos” (KOTLER. 1994 p.39). Para este estudo, o hospital deve compreender as necessidades dos seus funcionários, para chegar a valores que possam satisfazer seus desejos e, serem usados como moeda de troca. Há três categorias de coisas que podem satisfazer os desejos de outra parte: 1ª - os bens, 2 ª - os serviços e 3ª - o dinheiro. Kotler (1994) 12 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 O diagrama a seguir mostra três situações comuns de troca. Nele destacamos em verde a transação que tem identidade com o caso em estudo e o que pode ser usada entre o hospital e os seus funcionários. Figura 2: Situações comuns de troca A) Transação Comercial Bens ou Serviços Vendedor Dinheiro Dinheiro Comprador Comprador B) Transação de Emprego Ordenados e Benefícios Empregador Serviços Produtivos Empregado C) Transação Cívica Serviços de Proteção Polícia Impostos e Cooperação Cidadãos A Figura ‘A’ descreve uma transação comercial clássica. Uma unidade social – vendedor oferece coisas de valor, bens ou serviços à outra unidade social – comprador, que oferece na troca dinheiro. A transação comercial pressupõe uma melhor condição para comprador e vendedor após a troca. Um espera maior satisfação através do bem adquirido e o outro obter um lucro por meio da venda. A figura ‘B’ descreve uma troca econômica básica, entre empregador e empregado. O 1º oferece salário e benefícios e o 2º oferece recursos produtivos, que envolvem coisas como: conhecimento, habilidades, tempo e energia. Cabe aqui observar a existência de trocas intangíveis neste relacionamento, tais como, respeito, lealdade, segurança e assim por diante, que não são mostradas na figura e, que chamamos de valores subjetivos. Aplicáveis no caso do hospital. 13 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 A figura ‘C’ descreve uma típica troca cívica, entre o Deptº de Polícia e a sociedade. O deptº oferece serviços de proteção aos cidadãos; em troca, estes oferecem impostos e cooperação. Uma vez que o hospital pode não ter dinheiro ou intenção de oferecê-lo em troca de participação, pode elaborar uma relação completa dos benefícios advindos do uso do plano, moldar esses benefícios aos diferentes segmentos de funcionários e apresentá-los como moeda de troca. Para isso deve compreender os valores em jogo que podem interessar aos funcionários e ajustá-los aos interesses e recursos organizacionais. Ou seja, deve pesquisar as necessidades dos funcionários, conhecer seus desejos e buscar satisfazê-los em benefício de ambas as partes. Um problema típico de marketing que pode ser abordado em uma relação estratégica de troca. 3.0 Método de Pesquisa Utilizado A metodologia utilizada no presente trabalho constitui-se de uma pesquisa exploratória, na forma de estudo de caso. Foram utilizadas pesquisas de opinião e documental, além do levantamento de material bibliográfico sobre o assunto central e temas correlacionados, envolvendo Marketing, Endomarketing, Comunicação, Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde, Métodos e Técnicas de Pesquisa, Gestão Ambiental e de Resíduos Sólidos entre outros. 3.1 Organização Pesquisada O hospital estudado está localizado na região sudeste do Brasil, foi idealizado na década de 40 e inaugurado em 1951 como um hospital municipal. No início da década de 60, foi doado a uma universidade federal para funcionar como hospital escola. Tem como objetivos básicos o ensino, a pesquisa e a assistência médico-hospitalar. É caracterizado como um hospital universitário integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS) para servir como base de atenção à saúde e à formação de recursos humanos para o setor. O hospital é formado por um complexo que compreende um prédio principal de oito andares e mais dois prédios anexos de seis e cinco andares. Na ocasião contabilizava 2025 funcionários, sendo que 1265 (62%) eram da área médica e 760 (38%) de outras áreas. 3.2 Procedimentos Metodológicos O estudo se iniciou em 2008 e foi concluído em 2011 nas unidades onde o PGRSS havia sido implantado pela Gerência de Risco. Órgão designado pela diretoria do hospital para gerenciar a implantação. 14 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 O levantamento priorizou os seguintes setores: UTI neonatal, maternidade (berçário), enfermaria da obstetrícia e centro Obstétrico Clínica Médica Masculina e Clínica Médica Feminina; clínica masculina especializada, ginecologia e mastologia, localizadas no 8º, 7º e 6º andares do prédio principal do complexo hospitalar. O sistema de coleta de dados utilizou questionário e entrevista informal semiestruturada. A entrevista informal é recomendada nos estudos exploratórios e tem como objetivo básico a coleta de dados. Para Gil (1999) a entrevista informal visa abordar realidades pouco conhecidas pelo pesquisador e oferecer visão aproximativa do problema pesquisado. Esse tipo de entrevista permite ao pesquisador identificar características da personalidade do entrevistado e paralelamente observar o ambiente e o clima organizacional. A entrevista semi-estruturada combina perguntas abertas e fechadas e permite a obtenção de informações detalhadas que podem ser usadas numa análise qualitativa. Por outro lado possibilita também o tratamento quantitativo de outra parte dos dados obtidos na entrevista. (GIL, 1999, p.121). O perfil funcional do público entrevistado foi de médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, nutricionistas, técnicos administrativos, alunos e residentes. Escolhidos a partir de uma amostra não-probabilística por acessibilidade ou conveniência das áreas pesquisadas. Existem vários tipos de amostragem e elas podem ser classificadas em dois grandes grupos: os da amostragem probabilística e não-probabilística. Para Gil (1999), os tipos do primeiro grupo são rigorosamente científicos e se fundamentam em leis estatísticas que lhe conferem fundamentação teórica. Os do segundo grupo não apresentam essa fundamentação e dependem unicamente dos critérios do pesquisador. Com a finalidade de ampliar a visão geral, o trabalho de pesquisa foi estendido para outras unidades do 5º, 4º, 2º e 1º andares, que aguardavam a implantação do plano. Nessas unidades foram entrevistados a chefia do setor e um funcionário. Assim, procedeu-se no ambulatório, no serviço de emergência, na ouvidoria, no laboratório de análises clínicas, na anatomia, zeladoria e hematologia. Além dessas unidades, foram entrevistados os membros da diretoria do hospital inclusive o diretor geral, os chefes dos principais setores de serviços médicos e administrativos, o chefe da ouvidoria, a assistente administrativa do centro de infecção hospitalar, a presidente da comissão de infecção hospitalar e médica responsável pela 15 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 elaboração do PGRSS, a chefias da gerência de enfermagem, obstetrícia e pediatria e a gerente de leitos hospitalares. Em paralelo às entrevistas foi realizado um estudo de campo, de característica observacional, com a finalidade de captar o clima organizacional das unidades em relação ao processo de gerenciamento de resíduos. Foram observados o respeito à rotina de procedimentos operacionais, as condições de manutenção das instalações físicas, disposição e identificação dos coletores e o sistema de coleta, de armazenamento temporário (abrigos internos e externo) e transporte dos resíduos coletados. O estudo de campo ocorreu em dias alternados ao levantamento. 4.0 Análise dos Dados A metodologia de pesquisa adotada envolveu cerca de 12% dos funcionários das unidades selecionadas. Os problemas a seguir foram identificados na análise dos dados coletados1: - Não foram encontradas evidências do uso de metodologia de planejamento estratégico pela administração do hospital, nem de um planejamento de marketing para apoiar a implantação do PGRSS ou de um plano de contingência com mecanismos de controle e avaliação das ações implantadas. Dados estatísticos revelaram que apenas 50% do público alvo tinham uma percepção de qual era a missão do hospital e o planejamento se caracterizou como pontual. - Não foi identificado na estrutura organizacional do hospital um departamento de marketing para acompanhar o desenvolvimento do projeto, nem foi encontrado na equipe constituída pela Gerência de Risco, um profissional capacitado para planejar as ações de implantação do Plano. - O hospital não atingiu a mobilização necessária do seu público alvo para encampar o projeto, faltaram recursos para divulgação adequada e treinamento para os funcionários e terceirizados dos setores escolhidos. Apenas 46% dos pesquisados afirmaram saber o que era um PGRSS e, 67% não receberam treinamento para implementar o projeto em sua unidade. - Foram identificados vários focos de insatisfação nas unidades escolhidas como: problemas com colegas, com a chefia, com o ambiente de trabalho, com a mantenedora do hospital, com o salário. Situações envolvendo disputa de poder, de espaço físico e de formação de grupos de interesse também foram descritas. Estes fatos explicam porque 31% 1 As estatísticas foram tabuladas a partir da analise de questionários e entrevistas aplicados aos funcionários e administradores das unidades escolhidas para implantação do PGRSS. Ver: Santos,2008. 16 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 do público consultado consideraram inadequada a cultura organizacional do hospital para abraçar um projeto de gerenciamento de resíduos. - Houve atraso nas obras de construção dos abrigos de resíduos para atender as necessidades do projeto e as exigências das agências reguladoras. A construção dos abrigos internos ainda não tinha local definido e do abrigo externo estava um ano atrasada. Segundo a pesquisa 38% do pessoal entrevistado considerou as instalações físicas do hospital inadequadas para o plano funcionar e 67% afirmaram que o material de coleta de resíduos não atendia às necessidades das unidades. 5.0 Análise crítica do estudo Na definição de Kotler e Armstrong (2007) a missão de uma organização deve proporcionar a visão e a direção da organização para os próximos dez ou vinte anos e, o Planejamento Estratégico é uma metodologia gerencial que permite estabelecer a direção a ser seguida pela Organização, visando maior grau de interação com o ambiente. Esta direção engloba o âmbito de atuação da organização, sua macro política, políticas funcionais, filosofia de atuação, macro estratégia, estratégias funcionais, macro objetivo e objetivos funcionais. Assim o montante de investimentos, o desenvolvimento de produtos ou a implantação de projetos que a organização queira executar podem ficar comprometidos se esta não se planejou para este fim. Como também pode ficar comprometidos a interação de seus valores institucionais e funcionais para criar uma cultura organizacional consistente. De acordo com os dados pesquisados a organização em estudo não utilizou o planejamento estratégico como ferramenta administrativa. Como conseqüência direta deste processo, tornou complexa para seus administradores a tarefa de priorizar e alocar os recursos necessários para apoiar a Gerência de Risco no cumprimento das metas estabelecidas para implantação do PGRSS. Ou seja, mesmo o hospital tendo elaborado seu plano de gerenciamento de resíduos dentro dos padrões recomendados pelas agências reguladoras, não teve no momento certo, o aporte dos recursos financeiros, humanos e materiais necessários para desenvolver as ações estratégicas recomendadas. Como por exemplo, adquirir um Plano de Marketing para suportar o processo de comunicação e de treinamento com o mercado alvo do PGRSS. A escassez de recursos financeiros se fez sentir na impossibilidade de contratar uma assessoria de marketing para auxiliar em tarefas como: identificar o perfil do público alvo, 17 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 identificar os canais de comunicação e definir os veículos que deveriam ser utilizados para divulgar, preparar e mobilizar este público. Assim como também identificar os pontos de conflito e as lideranças que poderiam ser usadas para quebrar focos de resistência e dar credibilidade ao PGRSS. A impossibilidade de articular o período de implantação do Plano, à conclusão de ações básicas como a construção dos abrigos, a aquisição dos coletores adequados e a capacitação do pessoal envolvido, também foram comprometidas por este processo. O resultado desse processo desarticulado foi que a falta de um plano de comunicação integrada e de treinamento comprometeram a mobilização do mercado alvo do projeto. A construção dos abrigos comprometeu a credibilidade e a qualidade da coleta de resíduos e falta de um plano de marketing não deu suporte ao desenvolvimento dos planos acima e inviabilizou a implantação do gerenciamento dos resíduos da instituição. 6.0 Considerações Finais De acordo com o estudo realizado o estilo do marketing equilibrado é o que melhor se enquadra às necessidades da maioria das organizações de serviços que não visam lucro. Ele representa a opção do meio entre o estilo de marketing agressivo usado por muitas organizações comerciais ou industriais que precisam da venda intensa de sua produção, o estilo do marketing mínimo, conhecido como o de não vender, praticado por empresas que pressupõe que seu produto é uma necessidade que se vende por si só. Uma organização orientada para marketing é uma organização plenamente perceptiva. Seus produtos e serviços geralmente são de boa qualidade e ela busca servir e se relacionar bem com todos os seus públicos. Seus valores humanos apresentam elevada auto-estima assim também apresentam baixa resistência a mudanças e se interessam pelos problemas da organização. Normalmente essas organizações ocupam espaços positivos na mídia, na memória viva de seus clientes e gerenciam com qualidade e eficiência os seus recursos. O hospital objeto deste estudo é uma organização de serviços não orientada para marketing, está mais para a prática do estilo de marketing mínimo do que o equilibrado, no entanto essa classificação não o impede de fazer uso específico da gestão de marketing para implantar o seu PGRSS e o plano de marketing é o documento que deveria elaborar para esse fim. Os planos de marketing oferecem vários benefícios e possibilidades de aplicação. Podem ser usados tanto por organizações que visam o lucro, como para as que não visam o 18 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 lucro. Podem ser elaborados para conquistar novos mercados e aumentar as vendas de uma empresa. Para valorizar a imagem de uma organização. Para mobilizar seus públicos, implantar mudanças, projetos ou atividades de gerenciamento de resíduos como no caso em estudo. Kotler (1994, p.3) diz: Os conceitos, instrumentos e modelos que têm funcionado tão eficazmente para controlar os produtos e serviços no setor que visa a lucro, estão se tornando cada vez mais relevantes à administração dos produtos e serviços do setor que não visa a lucro. Conforme visto, a elaboração de um plano de marketing exige conhecimento técnico específico para seu desenvolvimento e que o mesmo seja elaborado de acordo com a realidade da instituição. De preferência desenvolvido em sintonia com a missão, visão, valores e objetivos da organização, de modo que haja a devida integração do planejamento de marketing com o planejamento estratégico da instituição. Entretanto esta recomendação não deve ser considerada como uma condição para as organizações elaborarem um plano de marketing, até porque os planos são de nível tático operacional e podem abranger uma infinidade de aplicações. Além disto, precedem de recursos que podem estar previstos em outras estâncias da organização ou serem alocados pós a elaboração ou durante a sua execução. O planejamento estratégico é um facilitador, um norte para o melhor desenvolvimento do plano e ajuda aperfeiçoar suas ações, mas não deve ser um impeditivo para sua elaboração. No caso do hospital, a falta do planejamento estratégico, influiu na elaboração do plano de marketing, por inviabilizar em tempo a contratação técnica de uma assessoria para o seu desenvolvimento. Mas o maior prejuízo causado pela ausência de planejamento estratégico no hospital foi comprometer a alocação dos recursos, em tempo hábil para o alcance das metas de implantação do PGRSS. A demora dos gestores para liberar os recursos para o projeto comprometeu o trabalho da Gerência de Risco e a impediram de contratar ou desenvolver as ações estratégicas de marketing necessárias para, definir e mobilizar o mercado alvo de implantação do PGRSS. Também impediram identificar às possíveis barreiras organizacionais a implantação, tornando difícil criar uma consciência coletiva entre os funcionários do hospital e assim evitar a formação de grupos de interesse e estabelecer uma comunicação e divulgação adequadas à implantação do projeto. 19 IX CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 20, 21 e 22 de junho de 2013 Todas estas questões como vimos podem ser abordadas no marketing que tem conseqüências diretas na administração, na mobilização e motivação das pessoas. Podem influenciar na cultura e no clima organizacional, melhorando a visão do público interno da instituição e facilitando a implantação de programas, sistemas, ou planos gerenciais de cunho institucional. Principalmente aqueles que venham interferir na rotina diária operacional da Instituição. O planejamento de marketing isolado não possui os elementos básicos para sua elaboração, precisa da pesquisa para reunir dados e informações necessárias para embasar e validar suas propostas. Precisa também dos recursos humanos materiais e financeiros para realizar suas ações previstas. O planejamento estratégico pode ajudar a suprir estas informações e acelerar o seu desenvolvimento, mas não impedir. As organizações sem finalidade de lucro podem e devem fazer uso da gestão de marketing para atender melhor as necessidades do seu mercado, planejar adequadamente seus projetos, programas e serviços, com custos enxutos, comunicação e distribuição para divulgar, motivar e atender aos seus clientes e suas necessidades operacionais. Assim sendo, pode-se concluir que a organização prévia de informações e ações pelo marketing, tem condições de impulsionar uma organização para o sucesso de seus empreendimentos ou negócios. E, para o caso de um hospital do porte estudado a falta de uma metodologia de planejamento estratégico tende a acarretar muitos prejuízos á sua administração. Prejuízos que podem ser amenizados pela gestão de marketing, mas não excluídos. Referências Bibliográficas ALLOWAY, B.J. & AYRES, D.C. Chemical principles of environmental pollution. London: Blackie Academic & Professional, second edition, 1997. ALDAY, H. E. C. O Planejamento Estratégico dentro do Conceito de Administração Estratégica. In: Revista da FAE. Curitiba, V.3, n.2, p.9-16, maio/ago. 2000. AMBRÓSIO, V. Plano de Marketing Passo a Passo. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso, 1999. BELKIN, N.L. Reduce, Reuse, Recycle (letter - comment). AORN Journal, v.62, n.3, p. 333, set 1995 BOONE, L. E. e KURTZ, D. L. Marketing Contemporâneo. 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