NEONATOLOGIA ICTERÍCIA Rotinas Assistenciais da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro 9 DIAGNÓSTICO CLÍNICO • A icterícia no RN deve ser pesquisada após realização de pequena pressão sobre a pele, com a ponta dos dedos, e pelo menos duas vezes ao dia, sob luz natural. • Classificação da icterícia em zonas dérmicas segundo Kramer. Zona Local Níveis séricos de bilirrubina ZONA 1 cabeça e pescoço 4 a 8 mg/dL, média 6 mg/dL ZONA 2 tronco até umbigo 5 a 12 mg/dL, média 9 mg/dL ZONA 3 hipogastrio até coxas 8 a 17 mg/dL, média 12 mg/dL ZONA 4 ZONA 5 braços, antebraços, pernas 11 a 18 mg/dL, média 15 mg/dL mãos e pés >15 mg/dL, média >18 mg/dL DIAGNÕSTICO DIFERENCIAL ICTERÍCIA FISIOLÓGICA • Nunca surge nas primeiras 24 horas de vida. • Não está associada a outros sinais clínicos ou doenças do recém-nascido (RN). • No RN a termo, a icterícia tem pico com 3 a 5 dias de vida e duração de 7 a 10 dias. • No RN prematuro, a icterícia tem pico com 5 a 7 dias de vida e duração de 10 a 14 dias. • A progressão diária da bilirrubina total é < 5 mg/dL. • A bilirrubina direta é < 1,5 mg/dL ou < 10% da bilirrubina total. ICTERÍCIA PATOLÓGICA • Pode surgir nas primeiras 24 horas de vida. • Pode estar associada a outros sinais clínicos ou doenças do RN como anemia, hepatoesplenomegalia, plaquetopenia. • Tem duração média de uma semana, no RN a termo, e maior que duas semanas, no RN prematuro. • A progressão diária da bilirrubina total é > 5 mg/dL ou > 0,5 mg/dL/hora. • A bilirrubina direta é > 1,5 mg/dL ou >10% da bilirrubina total. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL • Laboratorialmente é diagnosticada pela dosagem dos níveis séricos de bilirrubina total e direta. QUANDO E QUAIS EXAMES LABORATORIAIS DEVEM SER SOLICITADOS • Mãe Rh-negativo com Coombs Indireto positivo → solicitar, no sangue de cordão umbilical: grupo sangüíneo, fator Rh, Coombs direto, hematócrito, bilirrubina total, bilirrubina direta, pesquisa de esferócitos e dosagem de glicose-6-fosfato-desidrogenase. • RN com icterícia nas primeiras 24 horas de vida de evolução rápida (em intensidade, em zonas ou atingindo a zona 3 de Kramer → solicitar, no sangue periférico: grupo sangüíneo, fator Rh, Coombs direto, hematócrito, contagem de reticulócitos, bilirrubina total e direta. • Lembrar que a principal causa de icterícia patológica e de doença hemolítica do período neonatal é a incompatibilidade sanguínea materno-fetal. 1 • Lembrar que nos casos de colestase, outros sinais clínicos geralmente se associam, como hepatoesplenomegalia, colúria e acolia fecal. Nestas ocasiões outros exames laboratoriais e de imagem podem ser necessários. Diagnóstico laboratorial Doença Hemolítica Colestase Queda do hematócrito Aumento dos níveis séricos de bilirrubina indireta Reticulócitos > 5% Bilirrubina direta > 1,5 mg/dL ou Bilirrubina direta >10% da bilirrubina total QUEM E QUANDO TRATAR FOTOTERAPIA PROFILÁTICA • RN prematuros com peso ao nascimento <1500 g: iniciar após o nascimento e manter por até 7 dias de vida. FOTOTERAPIA TERAPÊUTICA • RN filho de mãe Rh-negativo, com Coombs indireto positivo, e qualquer recém-nascido cuja icterícia teve início com menos de 24 horas de vida: iniciar fototerapia imediatamente, antes dos resultados dos exames laboratoriais. • RN com bilirrubina indireta na zona de fototerapia pelos gráficos convencionais. • RN submetido à exsangüineotransfusão: manter fototerapia antes, durante e após o procedimento, como tratamento complementar. EXSANGUINEOTRANSFUSÃO • Níveis de bilirrubina de sangue de cordão > 5 mg/dL ou hematócrito < 30% ou hemoglobina <10g/dL. • Níveis de bilirrubina indireta na zona de exsangüineotransfusão pelos gráficos convencionais, apesar da fototerapia. • Níveis de bilirrubina indireta com velocidade de progressão > 0,5 mg/dL/hora. • RN prematuros < 1500 g, com bilirrubina nos dois primeiros números do peso. Exemplo: Em RN com peso ao nascimento de 1100 g está indicada exsangüineotransfusão se a bilirrubina indireta atingir 11 mg/(dL). • Bilirrubina indireta elevada associada à bilirrubina direta também elevada – casos em que a fototerapia está contra-indicada, pois possibilita a formação de pigmento tóxico. COMO TRATAR • A hiperbilirrubinemia indireta pode ser tratada pelo aumento da excreção – fototerapia, ou pela retirada mecânica – exsangüineotransfusão. FOTOTERAPIA – Tem sua eficácia influenciada por: • Tipo de luz: a luz azul é a que determina queda mais rápida e acentuada da bilirrubina. • Dose de irradiação: a dose mínima é de 4 microw/cm2/nm. • Superfície corporal exposta: retirar roupa ou fralda, mantendo exclusivamente proteção ocular. • Distância entre a fonte luminosa e o paciente: aparelhos convencionais de fototerapia devem ser posicionados a 30 cm do paciente. Fototerapia com lâmpada halógena deve ser mantida a 50 cm, com o halo de luz formado sobre o RN de ± 20 cm, podendo ser utilizados vários aparelhos sobre o mesmo RN com os halos de luz tangenciais. • Eliminação de mecônio: a fototerapia aumenta o número de evacuações e diminui a consistência das fezes, reduzindo a circulação entero-hepática de bilirrubina e ajudando no tratamento. RN ictéricos que ainda não eliminaram mecônio devem ter esta eliminação incentivada pelo estímulo anal com sonda. Se possível, a dieta deve ser iniciada precocemente. EXSANGÜÍNEOTRANSFUSÃO – Solicitar o sangue da seguinte forma: • Volume: peso do RN x 80 x 2. 2 • • • Tipo: sangue total fresco, idealmente até 3 a 5 dias da coleta, tipo O Rh-negativo, no caso de doença hemolítica Rh, ou tipo O Rh compatível com o da mãe, no caso de doença hemolítica ABO. Concentração: solicitar que o hematócrio da bolsa seja de 55%. Prova cruzada: enviar ao banco de sangue amostra de sangue da mãe e de seu RN para que se possa selecionar o sangue mais compatível possível, citando a indicação clínica. COMO MONITORAR OS NÍVEIS DE BILIRRUBINA • Clinicamente, pela avaliação da coloração da mucosa oral e escleróticas. • Laboratorialmente, pelos níveis de hematócrito e bilirrubinas colhidos com a seguinte freqüência: à RN de mãe Rh-negativo com Coombs indireto positivo → a coleta deve ser feita a cada 4 ou 6 horas, mesmo se os resultados dos exames iniciais de sangue de cordão não indicarem fototerapia ou exsangüineotransfusão, para cálculo da velocidade de aumento de bilirrubina em mg/dL/hora. Manter o RN em fototerapia. à Nível sérico inicial de bilirrubina na zona de fototerapia pelos gráficos convencionais, sem suspeita de doença hemolítica → após o início da fototerapia a coleta de exames pode ser realizada a cada 12 ou 24 horas. à Nível sérico inicial de bilirrubina próximo ao nível que indica exsangüineotransfusão ou se houver anemia → a coleta deve ser realizada a cada 4 ou 6 horas. à RN submetido à exsangüineotransfusão → exames a cada 4 a 6 horas, após o término do procedimento, para cálculo da velocidade de aumento de bilirrubina em mg/dL/hora. à Tipo de luz: a luz azul é a que determina queda mais rápida e acentuada da bilirrubina. à Dose de irradiância: a dose mínima é de 4 microw/cm2/nm. COMO AVALIAR A EFICÁCIA DO TRATAMENTO • Após o início da fototerapia, os níveis de bilirrubina indireta devem cair de 1 a 2 mg/dL e, após a exsangüineotransfusão, à metade dos níveis iniciais. QUANDO SUSPENDER O TRATAMENTO • A fototerapia pode ser suspensa quando os níveis de bilirrubina saírem da zona de tratamento pelos gráficos convencionais. • Nova dosagem de bilirrubina deve ser realizada 8 a 12 horas após a suspensão da fototerapia (bilirrubina de rebote). Devem permanecer fora dos níveis que indicam o tratamento e, idealmente, não devem ser maiores do que 1a 2 mg/dL dos níveis de bilirrubina quando terminada a fototerapia. COMO ACOMPANHAR APÓS A ALTA HOSPITALAR • Devem ser encaminhados para acompanhamento especializado, pelo risco de evoluírem com anemia importante, encefalopatia crônica ou surdez, todos os recém-nascidos à com diagnóstico de doença hemolítica perinatal. à submetidos à exsangüineotransfusão. à que tiveram níveis séricos de bilirrubina próximos ou maiores que 20 mg/dL. 3