NOVAS TECNOLOGIAS NA ÁREA DA SAÚDE NA VISÃO DO DISCENTE DE ENFERMAGEM 1 Jung, L. C1; Mota, S. B2; Giaretta, V.M.A3 ; Posso, M. B. S4 2 3 [email protected]; [email protected]; [email protected]; 4 [email protected] Universidade do Vale do Paraíba – Univap / Faculdades de Ciências da Saúde, Enfermagem, Av. Shishima Hifumi, 2911 – Urbanova – São José dos Campos – São Paulo. Resumo - A Enfermagem é uma profissão que mantém uma relação muito próxima ao paciente, assim, além do domínio da técnica, devem fazer parte do perfil do profissional dessa área habilidades e competências que visam o bem estar do paciente, que venham a somar positivamente no transcurso do tratamento, reduzindo possíveis traumas psicológicos e/ou riscos relacionados a uma internação. Com o advento de novas tecnologias, novos conceitos estão surgindo, desde equipamentos que facilitam a realização de um cuidado até o controle de atividades diretamente ligadas ao paciente, visando, um atendimento de qualidade e com baixo risco a integridade do paciente. Dentre esses equipamentos podemos citar: o “Robô Enfermeiro”, o aparelho de aferição de pressão arterial digital e o termômetro digital. Esse trabalho discute o impacto de tais tecnologias na atuação da enfermagem e como os novos profissionais que irão se inserir no mercado de trabalho se atualizam frente a essa nova fronteira. Palavras-chave: Tecnologia, Saúde, Enfermagem. Área do Conhecimento: Enfermagem Introdução A enfermagem é uma profissão que vem se desenvolvendo ao longo dos séculos, mantendo uma estreita relação com a história da civilização. Essa profissão é imprescindível para o bem estar do ser humano, pois considera sua liberdade, unicidade e dignidade, atuando na promoção da saúde, prevenção de enfermidades, no transcurso do seu ciclo vital, nas incapacidades e no processo de morte (MOURA et al, 2008). Contudo, com o advento de novas tecnologias, novos conceitos estão surgindo, desde equipamentos que facilitam a realização de um cuidado, até o uso de robôs no procedimento operatório, visando um atendimento de qualidade e com baixo risco à integridade do paciente. Recentes fronteiras da tecnologia em robótica aplicadas à saúde estão sendo exploradas, a empresa norte-americana Intouch Healtch é um exemplo, pois iniciou testes do “Robô Enfermeiro”, como acompanhante, em um centro médico especializado no tratamento da doença de Alzheimer. Ele permite que o médico acompanhe tudo o que está acontecendo com o paciente em tempo real. O robô faz algumas tarefas do cotidiano da enfermagem, como mudar o paciente da cama para maca ou vice-versa. Cabe ressaltar que o enfermeiro não será substituído, mas poderá deixar de executar algumas tarefas mecânicas e repetitivas (KAVOUSSI, 2003). Universidades e empresas japonesas estão pesquisando trajes robóticos para ajudar pessoas com limitação de movimentos. Sensores distribuídos pelo corpo e um computador preso ao dorso interpretam o comando do usuário. A função desse traje é aumentar a força e a resistência muscular (Jornal Nacional, 2009). A atitude criadora humana é contínua e constante, sendo assim os avanços tecnológicos com o desenvolvimento de equipamentos, acessórios, entre outros, na área de saúde, especialmente, é um processo inesgotável. O uso desses equipamentos facilita muito a assistência ao paciente, tornando mais rápida e eficiente sua avaliação. Apenas para citar, o aparelho para aferir a pressão arterial não invasiva surgido em 1733, chamado de esfigmomanômetro (do grego sphygmos = pulso), possuía um reservatório de mercúrio (Hg) e tinha uma coluna graduada em milímetros (DECOURT, 2009). Atualmente esses aparelhos convencionais vêm sendo substituídos por aparelhos eletrônicos que não mais utilizam a coluna milímetrada de Hg e sim painel digital e que além de aferir a pressão arterial, fornece também a frequência cardíaca. Fenômeno semelhante ocorre com o termômetro digital que é capaz de medir a temperatura axilar em 40 segundos em média, ao invés dos 05 minutos preconizados para o termômetro tradicional de Hg, contribuindo, ainda para a preservação ambiental (PIRES, et al. 2006). Nessa linha de pensamento, vale ressaltar a tecnologia desenvolvida por empresa norte-americana especializada em leitos hospitalares de alta resolução, são leitos eletroeletrônicos cujo sistema permite diferentes XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 posições automatizadas facilitando a mobilização do e pelo paciente. Além disso, permite o controle do peso, dos pontos de pressão, contribuindo para a prevenção de úlceras de pressão (UPP) e dispositivo de encaixe para chassi de raios X e seu colchão é bacteriostático e vibratório ativando a circulação do paciente (VIVÓ; et al, 2008). Essa tecnologia tem contribuído com a assistência de enfermagem hospitalar e despertado a criação dos pesquisadores do Vale do Paraíba, especificamente na universidade do Vale do Paraíba, em que Silva; Posso (2003) desenvolveram um protótipo de leito domiciliar, totalmente articulado e desmontável, cuja base estrutural é de alumínio, o que o torna leve e de fácil transporte e permite a mudança de diferentes posições. Também, nessa mesma Universidade, destaca-se o desenvolvimento da perneira para parto normal lateral de fácil confecção, manuseio e de baixo custo (Pedroso; Posso, 2003). Assim, esse trabalho verifica o impacto de tais tecnologias na atuação da enfermagem e como os novos profissionais que irão se inserir no mercado de trabalho se atualizam frente a essa nova fronteira. Metodologia Trata-se de um estudo exploratório com delineamento descritivo quantitativo. Participaram da pesquisa, 71 (100,0%) discentes de ambos os sexos do 3º até o 7º período matutino, regularmente matriculados no Curso de enfermagem Univap que aceitaram participar, assinando o Consentimento Livre e Esclarecido. Após a aprovação do protocolo nº H260/CEP/2008, a coleta de dados foi realizada nos meses de fevereiro e março de 2009, nos dias de aula, durante o intervalo entre as mesmas, por meio de formulário elaborado exclusivamente para a pesquisa. O formulário constou de três partes, a primeira está centrada no perfil dos voluntários; a segunda visa estabelecer o conhecimento dos voluntários quanto à tecnologia e seu benefício para o paciente e o trabalhador; já à terceira parte é específica a questão do “robô enfermeiro”. Resultados A Figura 1 mostra que 62 alunos (87,3%) são do sexo feminino e 35 (49,3%) cursam o 7º período de Enfermagem. A idade dos respondentes variou de 18 anos e 42 anos, sendo que a maioria 22 (31,0%) tem entre 22 e 26 anos. Figura 1 - Distribuição de sexo e período dos discentes voluntários N= 71 São José dos Campos 2009. 70 60 SEXO 50 PERÍODO DO CURSO 40 30 20 10 0 Fem Masc 3º 5º 7º Em relação às profissões dos voluntários, 36 (52,0%) são apenas estudantes, 16 (23,0%) são auxiliares de enfermagem, 15 (21,0%) são técnicos de enfermagem, e 3 (4,0%) tem outras profissões, além de serem estudantes. A Tabela 1 mostra que 46 (64,8%) discentes relatam que já leram sobre a tecnologia na enfermagem, e 71 (100,0%) concordam que o Enfermeiro pode contribuir com as novas tecnologias (Tabela 1). Tabela 1- Conhecimento do discente sobre a contribuição da Tecnologia na Enfermagem. São José dos Campos – 2009. N=71 Questionamento Sim Não Sem Resposta Já leu sobre tecnologia na enfermagem Acredita que a tecnologia possa contribuir com o Enfermeiro na qualidade do atendimento O Enfermeiro pode contribuir para novas tecnologias 46 25 00 69 02 00 71 00 00 Em relação ao “robô enfermeiro”, 55 (77,5%) dos alunos são de opinião que esse e outros equipamentos auxiliarão o Enfermeiro nos cuidados aos pacientes, 50 (70,4%) não concordam que ele possa fazer algum procedimento de enfermagem em pacientes e 42 XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 (59,2%) relatam a possibilidade de um robô cuidar de paciente clínico (Tabela 2). Tabela 2 - Aceitação do “Robô Enfermeiro” como coadjuvante nos cuidados aos pacientes pelos estudantes. São José dos Campos – 2009. N=71 Questionamento Sim Você acredita que o robô pode fazer um procedimento de enfermagem no paciente Acredita que o robô possa cuidar do paciente em um setor como clínica médica Conhece “robô enfermeiro” que atua como membro da equipe cirúrgica Em um hospital você se sentiria mais seguro se um robô ficasse ao lado do paciente Você acredita que o “robô enfermeiro” e outros produtos da robótica substituirão o profissional de saúde Não Tabela 3 - Conhecimento dos discentes sobre o “Robô Enfermeiro” e a tecnologia usada na Enfermagem. São José dos Campos – 2009. N=71 Talvez 3º Per. 5º Per. 7º Per. R NR R NR R NR Tecnologias na enfermagem que conhece 04 06 18 07 30 06 10 00 24 01 36 00 00 Acredita que a tecnologia pode contribuir para melhora do desempenho de suas funções 09 01 16 09 33 03 28 A tecnologia ou o “Robô Enfermeiro” desumaniza o cuidar Questionamento 21 09 53 20 50 20 18 23 00 42 R: Responderam ao questionário; NR: Não Responderam ao questionário. Discussão 55 16 00 A Figura 2 nos mostra que 29 (41,0%) dos alunos já ouviram falar do robô e instrumentos na televisão, e somente 04 (8,0%) ouviram falar em congressos, mas 28 (40,0%) não sabem a respeito (dados não mostrados). Revistas; 10% Jornais; 3% Não Viu; 40% falta de humanização que a tecnologia juntamente com o robô podem levar ao conjunto enfermeiro/paciente (Tabela 3). Televisão; 41% Congresso; 6% Internet; 0% Figura 2 - Fontes de informação nas quais entrevistados já ouviram falar sobre o robô ou outros instrumentos São José dos Campos 2009. Os discentes do 7º período referenciaram mais tecnologias, as suas contribuições, bem como, a Ser enfermeiro é um atributo de pessoas que tiveram uma educação superior que as capacitam para exercerem a profissão, que atuam profissionalmente dentro das competências, habilidades e conhecimentos determinados pela Lei do Exercício Profissional da categoria. Dentro de suas funções o Enfermeiro é preparado para cuidar do indivíduo, família e comunidade, visando sua reabilitação, promovendo sua saúde e prevenindo-o contra enfermidades e pelo ensino do auto-cuidado torná-lo independente (Horta, 1979; George, 2000). Assim, a denominação de “robô enfermeiro” não está correta, pois este, no momento foi criado para ser elo de comunicação com os profissionais de saúde, sejam os médicos, enfermeiros ou outros. Isto porque é “ele não se parece com uma enfermeira; na verdade, nem mesmo lembra uma pessoa, apesar de que uma tela de computador como rosto e uma câmera de vídeo como olho possa dar-lhe um certo ar de sabedoria. Ainda assim, o robô enfermeiro acaba de estrear no Hospital Johns Hopkins (Estados Unidos), com a promessa de estreitar os laços entre médicos e pacientes. Ele ouve. claro que não se trata de nada além de um microfone fazendo as vezes de ouvido. Mas o som da voz do paciente chegará ao médico, que fará um XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 atendimento em tempo real” (Jornal Nacional, 2009). Tal qualificação não deve estar restrita apenas ao período de formação profissional, e sim fazer parte de um programa de educação continuada que visa atualizar os profissionais da área frente às novas tecnologias. Entretanto, pelos resultados, apresentados na (Tabela 3 e Figura 2) foi possível observar que o conhecimento dos discentes em relação às novas tecnologias está restrito aos equipamentos do cotidiano hospitalar e para aqueles que trabalham na área. Para novas fronteiras como a do robô enfermeiro, que necessita de intervenção ativa por parte do profissional, essa aquisição de novos conhecimentos não ocorre. Um aspecto contraditório que pôde ser observado é que apesar de os dados sugerirem que uma parcela significativa dos alunos não se atualiza, houve uma preocupação em relação a um cuidado sem humanização (Tabela 3), ao atendimento com qualidade e que o enfermeiro deve contribuir para o desenvolvimento de novas tecnologias. É de competência também do enfermeiro prestar uma assistência isenta de riscos aos clientes, cabendo este a responsabilidade de chefia e/ou direção do corpo da enfermagem integrante da estrutura básica da instituição de saúde, e no desenvolvimento do planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de assistência de enfermagem, onde de forma sistemática a tecnologia tem se inserido e os processos de inovação tecnológica repercutem e impactam diretamente sobre a qualidade do serviço prestado, gerando novas necessidades sobre as equipes e os serviços (ARONE; CUNHA, 2006). As funções assistencial, administrativa, de ensino e pesquisa se entrelaçam e merecem atenção, pois estão diretamente ligadas aos resultados dos serviços como na atividade gerencial, nas unidades e equipes, e na assistência direta aos pacientes. Assim, a adequação da tecnologia na enfermagem deve estar vinculada aos preceitos éticos e sociais sendo estes necessários ao saber fazer e ao valor da vida, e também para o crescimento desta profissão quer seja pela produção científica, humanística ou consonante com as estratégias políticas (ARONE e CUNHA, 2006). Em linhas gerais, tal adequação vem sendo estabelecida de forma pertinente não apenas em relação às questões éticas e pessoais, mas também em relação aos novos paradigmas como a preocupação com o gerenciamento de resíduos de forma a impactar menos o meio ambiente. Outrossim, tem-se a substituição de materiais tradicionais do cotidiano da enfermagem, como o esfignomanometro, termômetro de Hg, com o intuito de minimizar os erros humanos relacionados à assistência e a potencialização de riscos ao ser humano e ao ambiente (FAERSTEIN; et al., 2006). Toda essa biotecnologia tem trazido inúmeros benefícios para o paciente institucionalizado ou não, promovendo o “bem-estar” e comodidade, e ao mesmo tempo para a enfermagem, proporciona uma atividade mais ergonômica e com menores riscos para a sua saúde e, por conseguinte menos custos para a Instituição. Entretanto, para todas as inovações aqui apresentadas se faz necessário que os profissionais dominem sua utilização para poderem usufruir todos os recursos que esses oferecem, prestando um atendimento seguro e de qualidade. Para tanto, a busca pelo conhecimento deve ser uma preocupação constante de todos os profissionais e ser apoiada pelos programas de educação permanente existente nos serviços de saúde, evitando riscos legais. Conclusão Os resultados obtidos permitem inferir que os alunos do Curso de Enfermagem da Universidade do Vale do Paraíba (CE/UNIVAP) pouco praticam o hábito da leitura técnica em relação às novas tecnologias, tornando difícil a atualização nessa nova fronteira que cada vez mais se vincula à profissão de enfermagem. Fato que causa estranheza, tendo em vista que CE/UNIVAP está inserido numa Universidade que permite o acesso ao seu Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento e Incubadora de Empresa por meio de monitorias e integração para realização de iniciação científica e participação em grupos de pesquisa. Além disso oferece cursos de Pós Graduação Sensu lato e stricto em Bioengenharia e Engenharia Biomédica, que podem orientar e desenvolver sua criatividade biotecnológica. Referências - ARONE, E.M.; CUNHA, I.C.K. 2006. Avaliação tecnológica como competência do enfermeiro: reflexões e pressupostos no cenário da ciência e tecnologia. Rev. Brasileira de Enfermagem. Vol.59. n.4. Brasília, 2006. - DECOURT, L.V. Caminhos da Cardiologia 305, Caminhos da Cardiologia. Disponível em http://abc.cardiol.br/historia/pressaoarterial.pdf. Acesso em 28/01/09. XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 4 - FAERSTEIN, E.; et al. Aferição da Pressão Arterial: Experiência de Treinamento de Pessoal e Controle de Qualidade no Estudo Pró-Saúde. Cadernos de Saúde Pública. v.22 n.9, Rio de Janeiro, 2006. - OREN, D.E.1991. In: GEORGE, J.B.; et al. Teorias de Enfermagem – Os Fundamentos à Prática Profissional. Cap.7, pág. 83. Artmed, Porto Alegre 2000. 4º Edição. - JORNAL NACIONAL, Robôs auxiliam seres humanos a caminhar e levantar peso, exibido em 04 de agosto de 2009. Disponível em http://deolho.zgil.org/tag/robo/. - KAVOUSSI, L. 2003. Inovação Tecnológica. Empresa lança Robô Enfermeiro, set/2003. Disponível em http://www.inovacaotecnologica.com.br. Acessado em 28/01/09. - MOURA, C.C. et al 2008. Humanização do Enfermeiro no Centro Cirúrgico. Revista Eletrônica de Enfermagem. Disponível em www.webartigos.com. Acesso em 10/08/08. - PEDROSO, KZA; POSSO, MBS. Protótipo têxtilmecânico para auxílio ao parto na posição lateral. 2003. 0 f. Dissertação - Universidade do Vale do Paraíba, . Orientador: Maria Belén Salazar Posso. - PIRES, D.P.L.; AFONSO, J.C.;CHAVES, F. A. B., Do termoscópio ao termômetro digital: quatro séculos de termometria. Química Nova v.29 n.6, São Paulo 2006. - RODRIGUEZ, J.C; MARTINEZ, X.R; VIVÓ, G.M.. Camas Especiales. Rev. ROL Enf. 2008; 31(10):691-694. Hospital Universitario Vall d’Hebron. - SILVA, A; POSSO, MBS. Desenvolvimento de cama Hospitalar para uso domiciliar. 2003. 0 f. Dissertação - Universidade do Vale do Paraíba, . 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