Texto de apoio ao curso de Especialização Atividade Física Adaptada e Saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira Heteroforias • Definição • É um desvio latente que os eixos visuais estão fixando normalmente o objeto de fixação, ou seja, estão paralelos, mas há um desvio quando os olhos estão dissociados. • Desvio latente que só aparece quando há quebra da fusão; Indivíduo com uma capacidade fusional boa • Está presente na maioria da população; Diagnóstico obtido através do cover teste. O desvio aparece no cover alternado por este ser dissociante. Etiologia das heteroforias: Anatômica • • • Orientação, tamanho e formato da órbita ou do globo ocular; Volume e quantidade de tecido retrobulbar e organização anatômica geral; Condição e funcionamento das fáscias e ligamentos da órbita; Inervacional • Alteração nos impulsos nervosos que chegam aos olhos e perturbação na integração dos MEO. Refracional • Efeitos na acomodação causando desalinhamento ocular pela falta de sincinesia acomodação/convergência. Heteroforias podem estar: 1) Compensadas: Sem sintomas 2) Descompensadas: Com sintomas (dificuldade de manter o desvio na forma latente) Classificação Feita em relação à direção do movimento ocular para recuperar a fusão através do cover test. • Ortoforia: Quando não há movimento na dissociação. Olhos sempre alinhados. • Desvios horizontais: Endoforia (E): desvio latente convergente Exoforia (X): Desvio latente divergente • Desvios verticais: Hiperforia (H): desvio vertical para cima Hipoforia (Ho): Desvio vertical para baixo • Desvios torcionais : Excicloforia: Desvio latente torcional para direção temporal. Incicloforia: Desvio latente torcional para direção nasal. Sintomatologia As forias passam a ter importância quando se tornam descompensadas, ou seja, passam a apresentar sintomas. Esses sintomas estão relacionados ao esforço visual para perto sendo menos freqüentes para longe. Os sintomas podem estar isolados ou em conjunto e são denominados astenopia.. Os sinais mais freqüentes são: • Cefaléia frontal ou occiptal • Lacrimejamento • Ardor • Hiperemia • Embaralhamento • Dor e cansaço ocular • Perda de linha na leitura • Dificuldade de troca de fixação perto e longe • Fotofobia • Diplopia • Náuseas • Mal estar • Tontura Geralmente os sintomas não aprecem pela manhã e são aliviados com o descanso. O aparecimento de sintomas depende do estado senso-motor dos olhos, da utilização da visão e da integridade física e emocional do indivíduo. Astenopia Pode ser muscular (esforço em manter a fusão) ou acomodativa (insuficiência de acomodação ou erro refrativo não corrigido). Tipos de Heteroforias Endoforias Desvio convergente mantido latente pelo reflexo de fusão. Ao cover alternado, percebe-se movimento de dentro para fora. • • A maioria das endoforias é acomodativa Causas mais comuns: excesso de acomodação (provavelmente por causa de uma hipermetropia não corrigida); excesso de atividade para perto; espasmo de acomodação. Classificação: Endoforia Básica: P=L e CA/A normal Endoforia por excesso de convergência: P>L e CA/A alta (>10 dp) Endoforia por insuficiência de divergência: P<L e CA/A baixa (>10 dp) Sintomas comuns: Diminuição da percepção de profundidade; Cefaléia durante e após atividade visual. Tratamento: • • Óptico: Correção da hipermetropia ajuda a diminuir a endoforia e acabar com seus sintomas. Do tipo excesso de convergência, algumas vezes torna-se manifesta para perto e nesses casos usa-se lente bifocal para restaurar a visão binocular. Ortóptico: Técnicas para melhorar a divergência fusional e combater a • • • supressão. Prismático: Quando a CA/A é baixa. É um tratamento temporário e não deve ultrapassar 10 pd sendo o desvio parcialmente corrigido para que a vergência fusional continue a ser exercida. Farmacológico: utilizam-se mióticos. Cirúrgico: em último caso. Desvio deve ter tamanho médio a grande. Exoforia • • Desvio divergente mantido latente pelo reflexo de fusão. Ao cover alternado o olho faz movimento de fora para dentro. Maior incidência. Classificação • • • Exoforia Básica: P=L e CA/A normal. Exoforia por insuficiência de Convergência: P>L e CA/A baixa. Exoforia por excesso de divergência: P<L e CA/A alta. Sintomas • • • Borramento e amontoamento das letras após leitura prolongada Cefaléia frontal Dor retrobulbar Tratamento Óptico: Não prescrito em hipermetropias pequenas. Nas miopias e astigmatismos a lente deve ser prescrita mesmo para valores pequenos. • • • • Ortóptico: exercícios e técnicas para melhorar amplitude fusional com enfoque para a convergência. Prismáticos: Prismas base nasal Farmacológico: ciclopégico fraco que não paralise totalmente a acomodação. Imagem borrada obriga olho a acomodar melhorando o desvio. Pouco utilizado. Cirúrgico: desvio médio a grande. Insucesso nos tratamentos anteriores. Hiperforias • • • Geralmente associadas a desvios horizontais Etiologia: paresia muscular, alterações ou anomalias de inserção dos anexos orbitários, alta miopia, ptose. Incomitâncias são freqüentes. Classificação: Estática: afeta igualmente os dois olhos não variando com as posições do olhar Parética: varia com as posições do olhar Espástica: desvio apresenta-se somente em destro e levoversões. Sintomas comuns: • • • Diplopia que leva pacientes a fechar um dos olhos. Cefaléia seguida de náuseas e vômitos. Tipo de desvio mais suscetível a apresentar astenopia por causa de sua amplitude fusional reduzida Tratamento: Óptico: correção do centro óptico Ortóptico: para melhorar amplitude vertical, mas é pouco indicado por que a amplitude vertical é muito pequena. Prismático: tratamento de escolha, pois como amplitude fusinal vertical é pequena, pode-se utilizar prismas de pequeno valor. Cirúrgico: Só quando o desvio for grande Cicloforias • • Geralmente desvio vertical associado Causas mais comuns são alterações astigmatismos oblíquos não-corrigidos. Sintomas comuns: Geralmente sem sintomas; Diplopia torcional Tonturas Dificuldade para descer escadas Cefaléia Náuseas e vômito Tratamento: Óptico: Correção do astigmastismo musculares (músculos oblíquos) e Prismático: correção de hiperforia associada Cirúrgico: em último caso, quando o problema não é de causa refracional. Propedêutica da heteroforias 1) Identificação do paciente: nome, idade, sexo, profissão, nascimento, setor de encaminhamento 2) Anamnese: Queixa e duração, história pregressa da moléstia atual, estado geral de saúde, sinais, tratamentos anteriores, antecedentes familiares 3) Acuidade Visual: geralmente para longe, com correção e cortical 4) Ponto próximo de acomodação: com régua RAF 5) Cover test; 6) Prisma e Cover; 7) Outros métodos de medida: Maddox Rod, Duplo Maddox, Maddox Wing e Sinotóforo 8) Fixação Binocular 9) Rotações Binoculares 10) Ponto Próximo de Convergência 11) Amplitude de fusão: Valores normais: a) Convergência; prisma base temporal – perto 30 a 35 dp e longe 20 a 25 pd b) Divergência: prisma base nasal – perto 12 a 14 e longe 6 a 8 pd c) Vertical: supra (base inferior) e infra (base superior) – 3 pd d) Ciclovergência: 2 a 3 graus 12) Acuidade estereoscópica 13) Dominância ocular Anomalias de acomodação São mais raras que as heteroforias e a insuficiência de convergência. Podem ocorrer por excesso ou insuficiência de acomodação Espasmo de Acomodação • • Pupila miótica Excesso de acomodação. • Pseudo-miopia, causando perda da acuidade visual à distância, visão borrada para longe, diplopia. As causas podem ser: • 1) Oculares – hipermetropia não corrigida ou exotropia intermitente. 2) Orgânicas - drogas colinérgicas, inflamação ocular, morfina e álcool. 3) Funcional – sem causa conhecida. • Conduta: algum erro refrativo significativo deve ser corrigido. A causa, se conhecida, deve ser tratada. • Tratamento: Atropina (relaxa acomodação, mas torna visão borrada) + óculos para perto. Paralisia de Acomodação • Condição isolada ou acompanhada de paralisia de convergência. • Afeta um ou ambos olhos. • Visão borrada em todas as distâncias aquém do infinito • Pupila, ou pupilas dilatadas não reagindo a estímulos acomodativos. • Em PPO: XT (paciente queixa-se de diplopia cruzada); • PPC remoto • PPA afastado para a idade • Etiologia: traumas, drogas (atropina) e condições neurológicas (encefalite, esclerose múltipla, etc) • Conduta: a causa deve ser tratada se possível, correção de erro refrativo, prisma base nasal e lentes positivas. Insuficiência de acomodação • • • • • Geralmente ambos olhos estão afetados. Sintomas: Visão borrada para perto, astenopia. PPA afastado para a idade Pode ter sintomas astenópicos compatíveis com o esforço para acomodar. Desvio em PPO: E ou ET para perto Etiologia: 1) Desuso de acomodação após correção óptica. 2) Saúde geral fraca. 3) Trauma local no olho. 4) Drogas. • Conduta: a tratar causa se possível, corrigir qualquer erro refrativo e óculos para leitura. Fadiga acomodativa • • • • • Nessa condição a acomodação é inicialmente suficiente para as necessidades do paciente, mas se deteriora com o uso continuado. Sintomas e sinais: são similares à insuficiência de acomodação. A condição pode ser precipitada com saúde fraca e estress emocional. Etiologia: Não há causas especificas. Conduta: erros refrativos devem ser corrigidos e deve-se dar atenção a condição geral do paciente. Síndrome do esforço acomodativo • Sintomas: astenopia muscular e acomodativa, diplopia-borramento. • • • • • • PPC: Normal para a idade PPA: normal para a idade Vergência fusional: divergência fusional reduzida Desvio em PPO: E Etiologia: fadiga acomodativa Tratamento: lente positiva – óculos para leitura. Miótico – facilitador da acomodação. Inércia acomodativa • • • • • Retardo no esforço acomodativo ou no relaxamento. Ambos olhos são afetados e os pacientes geralmente estão na faixa dos 30 a 40 anos. Visão borrada na mudança de foco de longe para perto ou de perto para longe. Etiologia: é mais comum em pacientes neuróticos e pacientes psicologicamente normais que estão desenvolvendo mudanças no cristalino (catarata). Conduta: Correção de um erro refrativo pode ajudar no conforto visual do paciente e exercícios ortópticos. Insuficiência de Convergência • • • • PPC remoto e amplitude de convergência reduzida para a visão de perto. O PPA é normal e correspondente à idade do paciente. Etiologia: convergência pobre Em PPO: X ou X(T) Sintomas: dor de cabeça frontal, visão borrada e diplopia intermitente para perto compatível com a dificuldade para manutenção da convergência. Tratamento é ortóptico. Insuficiência de convergência associada à insuficiência de acomodação (sistêmica) • • O PPC é remoto e o PPA é afastado para a idade Seu reconhecimento é feito através da medida do PPA reduzido e relação CA/A reduzida ou ausente. • Pacientes com insuficiência de convergência sistêmica não respondem ao tratamento ortóptico O início é gradual e as queixas são semelhantes às da insuficiência de convergência. Etiologia: sistêmica como infecção, drogas etc. Importante resolver agente causal. • • Insuficiência de convergên cia Sintomas PPC PPA Vergência fusional Ocular Sistêmica Astenopia, diplopia remoto Astenopia, diplopia, borramento remoto Normal para a idade Afastado para a idade Convergência reduzida Convergência reduzida Idade Desvio em PPO Etiologia Tratamento 10 – 30 anos. Pacientes 10 – 30 anos jovens. Maioria em idade escolar. X ou X (T) X ou X(T) Pobre convergência Doença sistêmica Ortóptico convergência PPC) (aumentar Lente positiva (< valor que fusional e fique sem sintomas) ou prisma Base nasal Insuficiência de divergência • • • • • • • Endoforia pré-existente para longe que se torna manifesto. Desvio em PPO: E(T) ou ET para longe em pacientes que mantém fusão para perto (endodesvio P<L) Desvio comitante em todas posições do olhar Sinais e sintomas: astenopia, fadiga ocular, cefaléia, diplopia homônima; Vergência fusional: divergência reduzida (P e L) e convergência normal; Diminuição da endoforia por aproximação do ponto de fixação Tratamento: exercício ortóptico (aumentar amplitude de divergência) e prisma base temporal Paralisia de Divergência • • ET para longe associado à história de trauma na cabeça e outros problemas neurológicos. Sinais e sintomas: 1. Aparecimento súbito de diplopia homônima para longe; 2. ET (que pode diminuir nas lateroversões) 3. Divergência fusional reduzida ou ausente L e P 4. Fusão a uma distância entre 25-40 cm • Diferenciação com paralisia de RL • • Diferenciação com espasmo de convergência Tratamento: Prisma base temporal ou procedimento cirúrgico de dupla ressecção de RL.