Disciplina: Odonto Social 1 – Psicologia -- 732 Professor Responsável: Antonio Bento Alves de Moraes 2010 O modelo biopsicossocial: Trinta anos depois. Giovanni A. Fava & Nicoletta Sonino Psychotherapy and psychosomatics. 2008; 77: 1-2. Giovanni A. Fava - Departamento de Psicologia , Universidade de Bolonha Nicoletta Sonino - Departamento de Ciências Estatísticas, Universidade de Padova, Padova, Itália. Trinta anos atrás, George L. Engel [1] destacou a insuficiências e limitações do tradicional modelo biomédico e defendeu a aprovação de uma abordagem biopsicossocial. O artigo teve um impacto considerável na comunidade científica e atraiu cerca de 1.900 citações ao longo dos anos. O modelo biopsicossocial permite que a doença a seja vista como um resultado da interação de mecanismos celulares, teciduais, organísmicos, interpessoais e ambientais. Assim, o estudo de qualquer doença deve incluir o indivíduo, seu corpo e seu ambiente circundante como componentes essenciais de um sistema total (único ou particular)[1, 2]. Os fatores psicossociais podem operar para facilitar, manter ou modificar o curso da doença, embora o seu peso relativo possa variar de doença para doença, de um indivíduo para outro e até mesmo entre 2 episódios diferentes da mesma doença no mesmo indivíduo. A característica fundamental da ciência clínica é a sua atenção explícita à humanização, onde a "observação (visão externa), introspecção (visão interna), e o diálogo (entrevista) são a base da tríade metodológica para o estudo clínico e para processamento cientifico de dados do paciente" [3, p. 59]. Engel identificou o modelo biopsicossocial como uma estrutura conceitual mais completa (adequada) para orientar os clínicos no seu trabalho diário com os pacientes. Ele considerou que a transição de estreito modelo biomédico para o modelo biopsicossocial era o maior desafio para a medicina nos anos setenta [1]. Este desafio foi alcançado? Não como um todo, tal como analisado em uma recente monografia sobre a abordagem biopsicossocial [4]. Como há 30 anos, o modelo dominante sobre a doença é ainda hoje biomédico, sendo a biologia molecular a disciplina científica básica. De fato, tem havido um declínio progressivo da observação clínica como fonte primária dos desafios científicos [5]. No entanto, as evidências que oferecem suporte ao modelo biopsicossocial aumentaram consideravelmente ao longo dos anos. Um grande corpo de investigação científica tem 1 Disciplina: Odonto Social 1 – Psicologia -- 732 Professor Responsável: Antonio Bento Alves de Moraes 2010 documentado o papel de eventos estressantes e dos desafios ambientais repetidos ou crônicos na modulação da vulnerabilidade individual a doença [6]. A tendência a experimentar e comunicar o sofrimento psicológico como fenômeno clínico sob a forma de sintomas físicos e procurar ajuda médica para eles é uma fenômeno clínico generalizado que pode envolver até 30 ou 40% dos pacientes, o que aumenta a procura por cuidados médicos e os custos do serviço [7, 8]. Sintomas medicamente inexplicáveis parecem a ser a regra para a atenção primária [7, 8] e o fronteiras tradicionais entre as especialidades médicas, baseadas principalmente em sistemas orgânicos (específicos) (por exemplo, cardiologia, gastroenterologia) parecem a ser cada vez mais insuficientes para lidar com os sintomas e os problemas que atravessam estas subdivisões exigem uma abordagem holística. Além disso, perturbações afetivas (como depressão, ansiedade, hostilidade) e o comportamento de doença, isto é, as formas em que os indivíduos lidam, percebem, avaliam e respondem ao seu próprio estado de saúde, podem afetar o curso, a resposta terapêutica e resultado de um dado episódio de doença [7] Descobriu-se que o bem-estar psicológico [9] desempenha um papel protetor no equilíbrio dinâmico entre saúde e doença como descrito por Engel [1]. A necessidade de incluir a análise da função na vida diária, produtividade, desempenho de papéis sociais, a capacidade intelectual, estabilidade emocional e bem-estar, tem emergido como uma parte crucial da investigação clínica e de assistência ao paciente [7]. Estas questões tornaram-se particularmente importantes em doenças crônicas, devido ao fato da cura não ser possível e afetar os cuidadores. Os pacientes tornaram-se cada vez mais conscientes destes problemas, cuja carga emocional tornou-se mais e mais evidente. Suas dificuldades em lidar (enfrentarem) as doenças e suas conseqüências psicológicas resultam no desenvolvimento de vários problemas aos pacientes. Em investigações controladas de diversos distúrbios em saúde, o uso de estratégias psicoterápicas tem resultado na melhoria substancial na qualidade de vida, na aquisição de estratégias de enfrentamento e no tratamento da doença [7, 10]. Atualmente, a quase totalidade das despesas de saúde é dirigida os cuidados biomedicamente orientados. Ainda assim, metade das mortes que ocorrem no EUA pode ser atribuída a comportamentos habituais evitáveis como a exposição ao tabagismo, obesidade e inatividade física [11]. Em 1985, Geoffrey Rose [12] mostrou que os fatores de risco para saúde quase sempre são normalmente distribuídos e suportam uma abordagem pública de prevenção em termos 2 Disciplina: Odonto Social 1 – Psicologia -- 732 Professor Responsável: Antonio Bento Alves de Moraes 2010 populacionais ao invés de rotulá-los como o mais alto risco. Os gastos exponenciais com medicamentos preventivos justificados pelo potencial de benefícios potenciais e de longo prazo a um segmento muito pequeno da população tem sido contestados [13, 14], enquanto que os benefícios da modificação do estilo de vida saudáveis em termos populacionais por meio de uma abordagem biopsicossocial dos cuidados médicos tem sido crescentemente demonstrados [7,14,15]. Como George Engel [1] afirmou, há 30 anos "... nada mudará a menos que, ou até que, aqueles que controlam os recursos tenham a sabedoria de se aventurar fora do caminho já batido da exclusiva dependência de biomedicina como a única abordagem para o cuidado em saúde" (p. 135). Referências 1 Engel GL: The need for a new medical model:a challenge for biomedicine. Science 1977; 196: 129–136. 2 Engel GL: The biopsychosocial model and medical education: who are to be teachers? N Engl J Med 1982; 306: 802– 805. 3 Engel GL: From biomedical to biopsychosocial. Psychother Psychosom 1997; 66: 57–62. 4 White P (ed): Biopsychosocial Medicine. Oxford, Oxford University Press, 2005. 5 Feinstein AR: The intellectual crisis in clinical science: medaled models and muddledmettle. Perspect Biol Med 1987; 30: 215–230. 6 McEwen BS: Protective and damaging effects of stress mediators. N Engl J Med 1998; 338: 171–179. 7 Fava GA, Sonino N: The clinical domains of psychosomatic medicine. J Clin Psychiatry 2005; 66: 849–858. 8 Barsky AJ, Orav EJ, Bates DW: Somatization increases medical utilization and costs independent of psychiatric and medical comorbidity. Arch Gen Psychiatry 2005; 62: 903– 910. 9 Ryff CD, Singer BH: Psychological well-being. Psychother Psychosom 1996; 65: 14–23. 10 Layard R: The case for psychological treatment centres. BMJ 2006; 332: 1030–1032. 11 Mokdad AH, Marks JS, Stroup DF, Gerberding JL: Actual causes of death in the United States, 2000. JAMA 2004; 291: 1238–1245. 12 Rose G: Sick individuals and sick populations. Int J Epidemiol 1985; 14: 32–38. 13 Heath I: Combating disease mongering: daunting but nonetheless essential. PLoS Med 2006; 3:e146. 14 Abramson J, Wright JM: Are lipid-lowering guidelines evidence-based? Lancet 2007; 369: 168–169. 15 Chiave SE, McCullough ML, Sacks FM, Rimm EB: Healthy lifestyle factors in the primary prevention of coronary heart disease among men. Circulation 2006; 114: 160– 167. 3