TRATAMENTO DA DEFORMIDADE NASAL CAUSADA POR LEISHMANIOSE ROGÉRIO BITTENCOURT Chefe do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Cajuru - PUC/PR Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. ALAN JEZIOROWSKI Preceptor do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Cajuru-PUC/PR Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. CHRISTIAN KAYMOTO Preceptor do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Cajuru-PUC/PR Membro especialista da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital Universitário Cajuru PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ Av. São José, 300, Cajuru, Curitiba - Fone (0xx41) 3271-2800 / 3271-3000 - E-mail: [email protected] DESCRITORES RECONSTRUÇÃO, LEISHMANIOSE, NARIZ, CARTILAGEM. KEYWORDS RECONSTRUCTION, LEISHMANIASIS, NOSE, CARTILAGE. RESUMO Introdução: Na leishmaniose 3% dos casos destroem a mucosa nasal 1 e as cartilagens da ponta, causando retração de toda pirâmide. Objetivo: Verificar as características da lesão, seu tratamento cirúrgico e discutir as opções terapêuticas. Métodos: Revisão dos prontuários operados no Hospital Universitário Cajuru nos últimos 15 anos. Resultados: Quatro casos operados pelo autor com reconstrução dos forros nasais com retalho frontal e na liberação do pedículo, realizada enxertia de cartilagem no dorso e columela. No caso da retração só columelar foi realizado aumento da mesma pela técnica de Ishida. Discussão: Cardoso descreveu as características da lesão e retalhos para reconstrução considerando o retalho frontal a melhor opção. Em nossa casuística optamos por este retalho por ter circulação bastante conhecida e quantidade de tecido suficiente para reconstrução de todo o forro e permitiu, quando da secção de seu pedículo, enxertia de cartilagem no dorso nasal. Cardoso relatou da não necessidade de enxertia de cartilagem ou óssea no dorso nasal, mas achamos que com enxertos podemos ter a estrutura nasal mais projetada com resultado estável por mais tempo. Conclusão: Consideramos o retalho frontal com enxertia de cartilagem uma excelente opção no tratamento da leishmaniose nasal. ABSTRACT Introduction: In 3% cases leishmaniosis destroy the nasal mucosa 1 and the cartilages of the tip, causing retraction of the whole pyramid. Objective: To determine the characteristics of the 110 nasal injury and options of surgical treatment. Methods: Medical documents of patients submitted to surgical treatment for nasal injury at University Hospital Cajuru, in the last 15 years, were reviewed. Results: Four caseswere operated by the author with reconstruction of the nasal lining using medio-frontal flap and secondary estructural cartilage graft for dorsum and columella. supportthe release of held back in the grafting of cartilage and columella. In the case of only columella retraction, it was treated by Ishida technique. Discussion: Cardoso described the characteristics of the lesion and flaps for reconstruction considering the frontal flap as the best option.We decided to use this flap because it provided sufficient amount of tissue for reconstruction of the entire linning and allowed secondary cartilage grafting in the nasal dorsum. Conclusion: We consider the frontal flap associated with secondary cartilage grafting as an excellent option for the treatment of nasal leishmaniosis. INTRODUÇÃO A leishmaniose é uma doença infecciosa produzida por um protozoário flagelado do gênero Leishmania brasiliensis e transmitida pela picada de insetos do gênero Phlebotomus. A forma mucosa ocorre em 3% dos casos e se manifesta entre 2 e 10 anos após o início da infecção. Em decorrência da infiltração edematosa do revestimento e destruição das estruturas de sustentação1, ocorre retração do terço inferior com depressões profundas na ponta, podendo colabar as narinas. A cirurgia só deverá ser realizado na ausência de atividade da doença. Poucos são os relatos sobre o tratamento específico da seqüela nasal. O objetivo da cirurgia é reconstruir o forro nasal e obter forma e projeção permanente na superfície da face2. Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 OBJETIVO Revisar as características da lesão, seu tratamento cirúrgico e discutir as opções terapêuticas existentes na literatura. MÉTODOS Levantamos prontuários do período de 1995 e 2008 e achamos quatro pacientes do sexo masculino, entre 40 e 60 anos de idade, no Hospital Universitário Cajuru com sequela de leishmaniose nasal. RESULTADOS Foram 3 casos por retração e afundamento da ponta com ausência do septo nasal e em um paciente a retração apenas da mucosa da columela. Foram operados pelo autor, com anestesia geral e infiltração local com vasoconstritor. Realizamos incisão transversa e transfixante no dorso nasal para ressecção da fibrose do forro nasal e complementação por via intranasal. Realizamos a elevação do retalho frontal3,4 e a rotação do mesmo em 180 graus, passando pela incisão transfixante reconstituindo o forro nasal. Próximo ás narinas a sutura foi quebrada para evitar a retração narinária. A área doadora foi fechada por sutura direta, com pouca tensão. Quando da liberação do pedículo do retalho, após 3 semanas, foi realizado enxerto de cartilagem costal de banco (caso 1 e 2) e de cartilagem auricular (caso 3), entre o retalho e a pele do dorso nasal, com fixação-o ao periósteo. Neste caso, mantivemos parte do pedículo ao retalho e o fixamos na mucosa atrás do osso nasal, mantendo a sutura do dorso em planos diferentes, evitando possível retração. Realizamos tamponamento nasal por 3 dias e uso de dilatadores nasais por 30 dias, mantendo o acompanhamento ambulatorial semanalmente. Obtivemos resultados considerados bons e apenas no caso 1 não houve projeção suficiente da ponta, apesar da melhora. Foi necessário posterior enxerto de sustentação na ponta. No caso da retração da columela (caso 4), realizamos alongamento pela técnica descrita por Ishida, com retalho bipediculado com incisões paralelas verticais indo da columela e avançando pela ponta nasal e dorso, com a retirada de 2 triangulos de compensação, projetando a ponta nasal. retalhos e considerou o retalho frontal a melhor opção. Realizava autonomização da ponta para confecção da columela com enxertia de pele na região posterior6 ou com retalho de pedículo subcutâneo baseado na artéria frontal7. Em nossa casuística optamos pelo retalho frontal por ter circulação bastante conhecida e tecido suficiente para reconstrução do forro e permitiu, quando da secção de seu pedículo, realizarmos enxertia de cartilagem no dorso nasal. Cardoso relatou da não necessidade de enxertia de cartilagem ou óssea no dorso nasal8, mas achamos que com enxertos podemos ter a estrutura nasal mais projetada e resultado estável por mais tempo. Cruz em 2001, relatou 1 caso que utilizou retalhos nasogenianos10, porém nos nossos casos a quantidade de tecido necessário era maior. CASO 1 - PRÉ OPERATÓRIO DISCUSSÃO A leishmaniose é doença que atinge toda a América do Sul, mas pouco se tem escrito sobre o tratamento da sequela nasal. Cardoso5,6,7, nas décadas de 50 a 80 foi um dos poucos que publicou trabalhos sobre seu tratamento. Descreveu as características da lesão, o tratamento com vários Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 CASO 1 - PRÉ OPERATÓRIO 111 CASO 1 - PÓS OPERATÓRIO CASO 2 - PÓS OPERATÓRIO CASO 2 - PRÉ OPERATÓRIO CASO 3 - PRÉ OPERATÓRIO CASO 2 - PÓS OPERATÓRIO 112 CASO 3 - PER OPERATÓRIO Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 CONCLUSÃO Na sequela de leishmaniose nasal o retalho frontal para reconstrução do forro nos pareceu uma ótima opção, pois tem grande quantidade de tecido e proporciona bons resultados estéticos e funcionais com áreas doadoras pouco aparentes. Quando utilizado com enxertos ósseos ou cartilaginosos mantém um resultado mais estável. REFERÊNCIAS CASO 3 - PER OPERATÓRIO CASO 3 - PÓS OPERATÓRIO 1. Lessa M.M. et als; Leishmaniose mucosa: aspectos clínicos e epidemiológicos. Rev. Bras. Otorrinolaringol. Vol73 no.6, São Paulo. Novembro/dezembro 2007 2. Roberts JB Suggestions for the operative correction of syphilitic and others deformities of the nose. Ann Surg 1910 February ,51(2):173-90 3. Kazanjian VH. The repair of the nasal defects with the medial forehead flap: Primary closure of the forehead wound. Surg Gynec Obst 1946; 83:37. 4. Morais J. Reconstrução da pirâmide nasal . In: Carreirão S, Cardin V, Goldenberg D. Cirurgia Plástica. - Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. São Paulo. Editora Atheneu, 2005 p. 407-23 5. Cardoso AD. Reconstruction of cicatricial nasal retraction after leishmaniosis. Plast Reconstr Surg 1951 Apr;7(4) :309-15 6. Cardoso AD. Loss of columella after leishmaniasiis, reconstruction with subcutaneous tissue pedicle flap. Plast Reconstr Surg Transplant Bull.1958 Feb;21(2) :117-23 7. Cardoso, A.D. Deformidades da Leishmaniose cutâneo-mucosa. In: Anais do Simpósio Brasileiro do Contorno Facial - SBCP: 210-5, 1983. 8. Ishida J. O nariz do paciente com fissura labial bilateral In: Lessa S, Carreirão S. Tratamento das fissuras lábio-palatinas. Rio de Janeiro: Interamericana, 1981. p. 95-103 9. Cruz GAO, Freitas RS, Meurer F, Bertolotte WA, Canan Junior LW, Grillo MA. Reconstrução nasal de paciente com rinofima gigante e destruição do septo por leishmaniose. Rev. Méd. Paraná, Curitiba, v.59, n.2, p.47-50,jul/dez, 2001 Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 38 - Suplemento 01 - 2009 113