XIII Congresso Brasileiro de Sociologia Grupo de Trabalho 4 - Consumo, Sociedade e Ação Coletiva Título do trabalho: O Consumo Consumido Autores: M.Sc. Janaina Nascimento Simões de Souza Instituição: FAETEC e UNIABEU Pós Doctor José Sávio Leopoldi Instituição: UFF e-mail para contato: [email protected], [email protected] O CONSUMO CONSUMIDO Janaina Nascimento Simões de Souza, Mestre, FAETEC e UNIABEU, <[email protected]> José Savio Leopoldi, Pós Doctor, UFF <[email protected]> RESUMO Objeto de muitos sentimentos opostos, o consumo desperta desprezo, admirações, indignações, desejos coletivos e esperanças de novas soluções para velhos problemas. Alvo, muitas vezes, de manifestações negativas, não deixa de estar presente em cada desejo individual, além de constituir um pivô de reflexões. Um paradoxo, portanto, parece impregnar nossa realidade: "consumo - pode-se até ser contra ele, mas é difícil viver sem ele". Para examinar a questão em profundidade, cabe investigar os complexos desejos dos indivíduos e as formas como as mais diversas necessidades são satisfeitas e interpretadas. A resposta mais comum a esse quadro tem sido afirmar que o "culpado" pela prática do consumo é exatamente o indivíduo, que não resiste ao apelo consumista. Além de uma análise das enormes influências dos meios de comunicação, o trabalho objetiva rever as teorias sobre as críticas ao consumo, mas de modo a não invalidar a priori o consumo considerado supérfluo nem os chamados "sonhos de consumo". Busca também discutir alternativas de consumo que seriam menos danosas aos indivíduos, a sociedade e ao meio-ambiente e que configurariam uma nova relação deles com as necessidades, os desejos, as satisfações e os objetos consumidos. Palavras-chave: consumismo, críticas ao consumo, comportamento “Quanto mais sei, mais percebo que nada sei.” "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz". Sócrates 1. Volte Sempre Obrigado – Reflexões Sobre o Consumo Público-alvo, segmento de mercado, cliente, consumidor, comprador, usuário, torcedor, stakeholder, são formas de, muitas vezes e não sempre o com o mesmo sentido, se dar referência àqueles que as organizações ou pessoas têm interesse na troca comercial. Manipulados, adoradores do supérfluo, desinformados, indiferentes, individualistas, estas são maneiras de se repensar o mesmo grupo citado anteriormente. Desta forma, sobraria para os interessados neste público, a denominação de Manipuladores dos desejos e das necessidades humanas. Estes são os personagens, o cenário é o Consumo com tudo o que o antecede e suas conseqüências, e o público respeitável é a Sociedade do Espetáculo de Debord. Abre-se então o debate sobre as críticas ao consumismo, tendo como foco principal não o próprio consumo, mas todas as reflexões feitas a partir dele. Marx aborda nos "Manuscritos econômicos e filosóficos" (1844), que o “o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens. Portanto, em si o homem não tem valor para nós." A questão das relações, no universo capitalista pode desumanizar e ocorrer, segundo o pensador, o fato dos indivíduos deixarem de ser apenas consumidores e tornarem-se objetos consumidos. Desta forma, a presença simbólica de produtos, serviços e até de pessoas, revestem aqueles que os adquirem de valor social. Outros, sem a possibilidade do poder da posse ou propriedade destas mercadorias, seriam legados a rotulação de estarem out. (Apud Frei Beto, 2006). Mas por que as pessoas desejam mostrar valor? Qual a importância do entendimento disto para a sociedade? Qual a relação entre os seus desejos e a real necessidade de adquirirem produtos? Este ciclo de necessidade e desejo é um fenômeno que acontece não só com um indivíduo, mas com um grande grupo deles, que com a busca pela satisfação acabam gerando uma demanda de mercado, e com isso a oportunidade ideal que toda indústria almeja para ofertar o que produz. Dentro de um processo motivacional, a visão da necessidade traduz que ela é ativada e sentida quando há uma discrepância suficiente entre o estado desejado ou preferido e o estado real. À medida que esta discrepância aumenta, o resultado é a ativação de uma condição de despertar chamado impulso. Quanto mais forte o impulso, maior a urgência percebida de resposta. Os profissionais de mercado farão o possível para prover produtos e serviços que sejam eficazes para a redução deste estado de despertar. Certos padrões de comportamento são reconhecidos como mais eficientes do que outros para a satisfação das necessidades e estes surgem para funcionar como desejos. Por exemplo, se uma pessoa está com sede, há o reconhecimento do desconforto, há necessidade sentida e identificada como sede. Esta necessidade ativada leva ao impulso que pode fazer com que seja desejado um refrigerante da marca X, da linha diet. (Engel et al, 2000) As necessidades são intrínsecas dos indivíduos, já os desejos (o que pensam como solução para saída do estado de necessidade) são formatados de acordo com a cultura, com a influência dos grupos primários, secundários e de aspiração, do estímulo de comunicação, da história de vida de cada um, da personalidade, do poder de compra, da disponibilidade, e também de acordo com os interesses políticos e empresariais de persuasão para escolha das marcas e dos objetos. Para Maslow (Kotler, 1998), as necessidades humanas estão organizadas e dispostas em níveis, numa hierarquia de importância e de influência, numa pirâmide, em cuja base estão as necessidades mais urgentes (necessidades fisiológicas) e no topo, as necessidades menos urgentes (as necessidades de auto-realização). Estas necessidades são: 1. Necessidades de auto-realização 1. Necessidade de status e estima 2. Necessidades sociais (afeto) 3. Necessidades de segurança 4. Necessidades fisiológicas De acordo com Maslow, as necessidades fisiológicas constituem a sobrevivência do indivíduo e a preservação da espécie: alimentação, sono, sexo,repouso, abrigo, etc. As necessidades de segurança constituem a busca de proteção contra a ameaça ou privação, a fuga e o perigo. As necessidades sociais incluem a necessidade de associação, de participação, de aceitação por parte dos companheiros, de troca de amizade, de afeto e amor. A necessidade de estima envolve a auto apreciação, a autoconfiança, a necessidade de aprovação social e de respeito, de status, prestígio e consideração, além de desejo de força e de adequação, de confiança perante o mundo, independência e autonomia. A necessidade de auto realização são as mais elevadas, de cada pessoa realizar o seu próprio potencial e de auto desenvolver-se continuamente. Os objetos desejados ficariam condicionados a estas necessidades, como se pode observar na figura abaixo. Pirâmide das Necessidades de Maslow Necessidades Produtos Desejados Necessidades de autorealização, auto-satisfação Necessidades de auto-estima Status, respeito Necessidades sociais: Amizade, amor, associação Necessidades de segurança Segurança física e financeira Necessidades fisiológicas (básicas) Comida, água, descanso, sexo, ar Férias, cursos universitários, organizações de caridade Marcas de prestígio Títulos de sócios em clubes, cartões de agradecimento Fechaduras, seguros Farinha, feijão, água encanada Fonte: Churchill & Peter, 2005. Percebe-se, inicialmente, que de acordo com Marx, ao saciar sua necessidade de fome (supostamente uma necessidade básica fisiológica) um indivíduo será julgado socialmente pelos restaurantes que freqüenta, pelos grupos que o acompanham e pelas roupas que veste ao sair. Observa-se então que a necessidade fisiológica já não é a mais influente, mas sim, a necessidade social, de auto-realização ou status. O mesmo acontecendo, por exemplo com a necessidade social de comunicação, que gera a demanda por celulares. Entretanto, um celular com câmera, filmadora, capacidade de armazenar dados e enviar e-mail ultrapassa os limites de facilitar as relações sociais, e vai ao patamar do status e conseqüentemente de exclusões pelo poder aquisitivo. Tem-se ainda as marcas de eletrodomésticos como objetos desejados resultantes dos casamentos (necessidade social). Aqueles preocupados com a segurança de se manterem no mercado de trabalho, buscam o produto “informação” para possuir empregabilidade, o que gera uma demanda por universidades e desejos de diplomas, entretanto de acordo a marca da instituição que poderá ser cursada, terá a pessoa mais ou menos status e oportunidades, o que pode não corresponder com sua competência. E todas estas necessidades, segundo Maslow, são naturais da pessoa. Já os desejos são moldados por cultura e preconceitos. Esta representatividade que tem os objetos é discutida por Canclini e Baudrillard. Canclini (1999) aborda que o consumo, de forma simples, é “o conjunto de processos socioculturais em que se realizam a apropriação e o uso dos produtos”. Na chamada sociedade do consumo, “apropriação e uso” tem outra tradução. Hoje o consumo não é a racionalidade do uso das mercadorias, mas sim o valor simbólico da diferenciação social. (Apud Assis, 2002). Baudrillard (2003) defende que nunca se consome o objeto em si (no seu valor de uso), os objetos manipulam-se sempre como signos que distinguem o indivíduo, quer filiando-o no próprio grupo tomado como referência ideal quer demarcando-o do respectivo grupo por referência a um grupo de estatuto superior. Tal manipulação de valores simbólicos cria os referenciais de preferências de consumo, gosto, estilo de vida e bem-estar. Existe uma crítica constante que o marketing das empresas cria necessidades inexistentes nas pessoas, segundo os autores Engel, Blackwell e Miniard (2000), esta questão tem sido muito debatida nas salas de aula, desde o primeiro curso em 1904, na Universidade de Michigan. A crítica se fundamente na argumentação enfática que o profissional de marketing está manipulando o consumidor incauto ao induzi-lo a comprar coisas de que não precisa. Os autores apresentam que Cheryl Russel e Thomas G. Exter utilizaram a crítica de que o exemplo mais notório de uma necessidade criada foi a da campanha publicitária que tornou uma nação inteira ciente do hálito matinal. Para Russel e Exter alguns produtos não podem ser traduzidos como necessários por qualquer limite da imaginação da maioria das pessoas. Ainda segundo os críticos, o método aqui adotado é adular as pessoas ao oferecer a elas mesmas um presente. Dizem ainda que a campanha da L’Oreal “Eu Mereço” para a coloração premium de cabelos é um outro ótimo exemplo. Os autores rebatem a crítica, abordando que a necessidade desses produtos já existia, muito embora pudesse estar adormecida e em grande parte não-reconhecida, portanto não seria criada pelo profissional de marketing. Respondendo sobre o “hálito matinal”, apresentam que muitos já estavam preocupados com seus efeitos nas relações pessoais. Assim, existia uma necessidade muito antes dos profissionais de marketing suspeitarem disso. O que a comunicação mercadológica realizou, entretanto, foi posicionar uma marca de enxaguatório bucal mais favoravelmente em termos de potencial para superar o problema. Para estes autores, o marketing habilidoso pode estimular uma vontade ou desejo de um produto ou serviço, mas isto não acontecerá se uma necessidade não existir antes. Portanto, a manipulação insinuada por Russel e Exter não existiria, visto que nada foi feito nos exemplos citados que evitasse uma liberdade de escolha desinibida. E contra-argumentam que as cobranças dirigidas aos profissionais de marketing parecem representar pouco mais de que uma opinião pessoal em relação aos produtos citados, e acrescentam que cada geração de críticos e de executivos deve reaprender um princípio historicamente validado: esforços de marketing têm sucesso ao satisfazer necessidades existentes, e não ao criar necessidades. Entretanto muitos grupos não compartilham da mesma opinião. A Organização Não Governamental Adbusters Media Foundation (tradução:caça-anúncios) se colocam como representantes do crescente movimento contra o estímulo ao consumismo, e criticam todo o sistema composto pelas grandes corporações e seu marketing na comunicação de massa. Eles se definem da seguinte forma: “Nós somos idealistas, anarquistas, guerrilheiros, brincalhões, neoluditas, descontentes e punks. Nós somos o resíduo da cultura de oposição – o que sobrou do impulso revolucionário na atmosfera gasta do fim de milênio e da pós-modernidade, na qual é dito que a revolução não é mais possível. O que compartilhamos é uma ira irrefreável contra o capitalismo consumista e um consenso de que chegou a hora de reagirmos como uma força coletiva. De forma simples, somos um número crescente de pessoas que desistiu do sonho americano.” O grupo do Canadá, através de revistas próprias, sites, manifestações, mensagens em out-door, alerta sobre os males das comidas transgênicas e artificiais, da neurose urbana, da concentração de poder e manipulação na mídia. Aponta que o sistema de comunicação das grandes corporações, através da mídia, é propagador de ideais consumistas, a Adbusters tenta apoiar e impulsionar o movimento de crítica a este sistema, demandando sua evolução no sentido de tornar-se mais democrático e ecologicamente (considerando tanto o meio-ambiente natural quanto o meio-ambiente mental) respeitoso. Lideram eventos como o By Nothing Day (Dia de comprar Nada) e o TV Torn off week..(Semana da TV desligada). Para Kalle Lasn, o fundador da Organização, faz-se necessário “criar rasgos na face brilhosa do espetáculo consumista”. Seu foco, ao abordar isto faz referência ao Battle of the mind (batalha mental) – considerando que os produtos de consumo não são mais do que idéias e conceitos nas mãos do marketing, a Adbusters entende que deve contrapor-se a este sistema também. (LASN, 2000. Apud Assis, 2002) Para a competitividade do mercado, entretanto, faz-se muito importante a estratégia de posicionamento, que é a técnica de desenvolver imagens e conceitos sobre as marcas nas mentes das pessoas, (Churchil & Peter, 2005) e a ferramenta principal para isto é a comunicação. Os clientes pouco conhecem sobres produtos, sua composição, procedência, forma de produção, riscos ao meio ambiente e a saúde. Compreendem e julgam a qualidade do ponto de vista da satisfação individual, de acordo com o que tem de expectativas comparado com o que efetivamente percebem. Portanto, tudo que poderão pensar a respeito de uma marca, empresa ou produto, depende de como aprenderão e perceberão. As instituições posicionam as marcas para que os públicos tenham um conceito que as definam e as diferenciem no mercado, fixando uma imagem, que ocasionará lembrança na hora da compra. E forma como algumas empresas decidem competir no mercado, também é alvo de questionamento. Acrescentam-se às reflexões sobre ética e responsabilidade social que fazem os Adbusters, alguns outros fatores ilustrativos, entre os quais destacam-se: • Os Custos sociais da Embalagem que em excesso poluem os aterros sanitários e as águas versus a dependência que o sistema de logística ainda tem das embalagens para facilitar o transporte, e a importante função final dos invólucros de permitir melhor manuseio e utilização dos produtos. Algumas soluções ainda não são completamente perfeitas, como por exemplo: a Procter & Gamble introduziu uma garrafa de plástico 100% reciclada para o seu amaciante de roupas, entretanto como colore suas garrafas é difícil reciclar depois de utilizadas. Mas se não colore a embalagem, esta não é diferenciada na gôndola do ponto de venda. • A privacidade pessoal à venda – A Mastercard Internacional perguntou a 507 pessoas o que pensavam a respeito do marketing direto, e descobriu que 75% concordavam com a seguinte informação: “Precisamos encontrar maneiras de fazer com que as empresas e o governo parem de coletar informações sobre as pessoas. (Berkowitz et al, 2003) • A questão ética da mensagem subliminar e a ampla capacidade de percepção humana, que por ter múltiplos sentidos absorve informação de forma consciente ou inconsciente, e que segundo alguns críticos, desta forma aprendem ao que consumir, como consumir e em que quantidade, com pouca cognição e de forma bastante behaviorista. Entretanto, os produtos não são sempre os vilões da história, muitos objetos e serviços facilitam realmente a vida cotidiana. Pensar no mundo sem computadores, Internet, avião, livros, seria como segurar a velocidade dos rumos, das trocas e das aproximações. Entretanto, uma saída precisa ser encontrada, principalmente para a questão ecológica e social. Falar sobre ética em consumo é paradoxal. O consumo gera lixo e diferenças sociais. E não se basta consumir diferente é importante consumir menos, o que também gera um impacto nas empresas e sociedade. 2. A Saída, Por favor As questões de consumo e consumismo são amplas visto que se relacionam com pontos como ética, responsabilidade social, liberdade, manipulação, economia, relações sociais, individualidade, formas de administração, ecologia, história, cultura, mercado, e uma lista sem fim de fatores integrados. Baudrillard (2003) destaca o ponto da crença cega no progresso e no crescimento econômico como produtores de abundância, e, por conseguinte, democracia e igualdade. O autor entende tal pensamento como alienado, mas ao mesmo tempo rejeita o oposto completo, o crescimento como causa da desigualdade. Sua defesa é de que “o crescimento em si é função da desigualdade. A necessidade que a ordem social desigualitária e a estrutura social de privilégio têm de se manter é que produz e reproduz o crescimento como seu elemento estratégico” Durham (1980) aborda que “a ótica do mercado não perpassa apenas a sociedade, mas também as explicações da sociedade.” Cantor Magnani (1984) traz uma análise da vida cotidiana da grande massa social que consome: “Sua concepção de família é tida por conservadora, suas tradições, resquícios fragmentados de uma cultura rural e pré-captalista; seus gostos estão moldados pela influência dos meios massivos, seu lazer não passa de escapismo, sua religiosidade, um fator de alienação, e seus projetos de vida, tentativas frustradas de ascensão social” (Apud Martin-Barbero, 2003). Quem é este consumidor escondido nas grandes massas? Quem se considera Consumista? Até que ponto vale a frustração de um desejo? Quem é insano o desejo ou a necessidade? Que grupo pode e que grupo não pode desejar? E quem impõe limite ao desejo: a classe social, a etnia, a religião, as empresas? O que é a real representação do consumo para quem consome e para quem oferta? Até que ponto ambos podem abrir mãos de seus benefícios, por um bem maior à coletividade? Uma coisa é certa: a responsabilidade é da sociedade e das instituições. E Instituições são formadas por pessoas tomando decisões. Quanto à busca pela valorização pessoal através do consumo, Martin-Barbero (2003) aborda que nem toda a forma de consumo é a interiorização dos valores de outras classes. O consumo fala nos setores populares de suas justas aspirações a uma vida mais digna. Que nem toda busca de ascensão social é arrivismo, ela pode ser vista também como uma forma de protesto e expressão de certos direitos elementares. Portanto há necessidade de uma concepção não-reprodutivista nem culturalista do consumo, capaz de oferecer um marco para a investigação da comunicação/cultura a partir do popular, que permita uma compreensão dos diferentes modos de apropriação cultural, dos diferentes usos sociais da comunicação. A pessoa quando consome se identifica e se diferencia na busca da sua individualidade através dos símbolos, entretanto no quesito consumo responsável, o foco está na sociedade e não apenas nos benefícios individualistas que os produtos trazem. Portanto a questão é ainda maior. Para muitas empresas ofertar produtos favoráveis ao meio ambiente pode significar preços mais altos, menos beleza nas embalagens, diminuição de produção, entretanto, infelizmente, atualmente o quesito ecologia e sociedade ainda não são quesitos determinantes e de maior peso que influenciam consumidores individuais e compradores organizacionais para escolher uma marca ou deixar de comprar de uma empresa que não é ética. O desenvolvimento sustentável surge como uma saída para que as gerações futuras tenham as mesmas oportunidades de vida que as gerações de hoje, ou ainda melhores. Mas o próprio termo desenvolvimento, ou crescimento sustentável como é utilizado por muitos, é oxímoro. Segundo Herman E. Daly (2004), crescer significa “aumentar naturalmente em tamanho pela adição de material através de assimilação ou acréscimo”. Desenvolver-se significa “expandir ou realizar os potenciais de; trazer gradualmente a um estado mais completo, maior ou melhor”. Quando algo cresce fica maior. Quando algo se desenvolve torna-se diferente. O ecossistema terrestre desenvolve-se (evolui), mas não cresce. Seu subsistema, a economia, deve finalmente parar de crescer, mas pode continuar a se desenvolver. Ainda segundo o autor, o termo desenvolvimento sustentável só faz sentido para a economia se entendido como desenvolvimento sem crescimento – a melhoria qualitativa de uma base econômica física que é mantida num estado estacionário de matéria-energia que está dentro das capacidades regenerativas e assimilativas do ecossistema. Portanto o termo desenvolvimento sustentável é usado como um sinônimo para o paradoxo e perdido crescimento sustentável. Para o economista, este termo é político, pois é muito difícil admitir que o crescimento, com desenvolvimento sustentável é uma adaptação cultural feita pela sociedade quando ela se torna consciente da necessidade emergente do crescimento nulo. Para ele, até mesmo crescimento verde não é sustentável. Há um limite para a população de árvores que a terra pode suportar, assim como há um limite para as populações humanas e de automóveis. E alerta que a ilusão na crença de que o crescimento é ainda possível e desejável se for rotulado de “sustentável” ou “verde” apenas estará sendo retardada a transição inevitável e esta será ainda mais dolorosa. Daly ainda orienta que o desenvolvimento sustentável deve ser desenvolvimento sem crescimento, mas com o controle da população e a redistribuição da riqueza – se é para ser um ataque sério à pobreza. Percebe-se que as questões como a possível escassez dos recursos, as drásticas modificações no ambiente natural e a miséria têm trazido à tona maior atenção à forma como se consome, produz e distribui. Estas pressões parecem gerar o início de mudanças mais significativas. A palavra Ética (Arruda et al, 2003) é proveniente do grego ethos e significa costume, maneira habitual de agir, índole. Deve ser analisada pela existência de três modos inter-relacionados de abordagem: semântica (falar sobre a ética), a teoria (pensar sobre a ética) e prática (atuar eticamente). Portanto, não basta apenas o discurso das pessoas e das organizações, é necessário que a educação formal faça seu papel de conscientizar e informar, que as famílias reflitam sobre seus comportamentos de consumo e passem a agir para melhorar, que os indivíduos pensem em mais benefícios sociais que individualistas na tomada de decisão das compras, e que as organizações, diminuam suas ambições e pratiquem ética como uma maneira natural de agir, em prol da harmonia da vida no planeta. Referência Bibliográfica ARRUDA, M.C.C, WHITAKER, M. C. & RAMOS, J. M. R. 2003. Fundamentos de Ética Empresarial e Econômica. 2 ed. SP: Atlas. BAUDRILLARD, J. 2003. A sociedade de consumo. Lisboa. Edições 70. BERKOWITZ, E.N., KERIN, R.A., HARTLEY, S.W. & RUDELIUS. 2003. Marketing.6 ed. Vol 1. RJ:LTC. CANCLINI, N.G. 1999. Consumidores e Cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. RJ: UFRJ. Citado por ASSIS, E.G.2002. O Movimento de Contestação do Consumismo: A Crítica do Consumo e o Consumo da Crítica. Anual em Ciência da Comunicação, Salvador/BA. 1 a 5. Set 2002, Salvador/BA. 1 a 5. Set 2002. CANTOR MAGNANI, J.G. 1984. Festa no Pedaço: Cultura Popular e Lazer na Cidade.SP: Brasiliense. Citado por MARTIN-BARBERO, J. 2003. Dos meios às Mediações: Comunicação, Cultura e Hegemonia. 2 ed. RJ: UFRJ. CHURCHILL, G. A. & PETER, J.P.. 2005. Marketing:Criando Valor para os Clientes.2 ed.SP: Saraiva. DUHAM, E. R. 1980. A Família Operária:Consciência e Ideologia n 2.RJ. Citado por MARTIN-BARBERO, J. 2003. Dos meios às Mediações: Comunicação, Cultura e Hegemonia. 2 ed. RJ: UFRJ. ENGEL,J., BLACKWELL, R.D., & MINIARD, P.W.2000. Comportamento do Consumidor. 8 ed. RJ: LTC. HERMAN, E. D. 2004. Crescimento Sustentável?Não, Obrigado. Disponível em [http://www.scielo.br/pdf/asoc/v7n2/24695.pdf]. SciELO - Scientific Electronic Library Online Brasil Ambient.soc. vol.7 no.2 Campinas Jul/Dez. 2004. 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