A manutenção do marketing político via web no período entre as eleições Fábio Dias Especialista em Gestão Escolar - Faculdade Network Professor da Faculdade Comunitária de Santa Bárbara e do Colégio D. Pedro - Americana/SP Coordenador do curso de Publicidade e Propaganda do Colégio Técnico e Faculdade Network e-mail: [email protected] Samia Cruañes Dias Mestre em Comunicação Social - UMESP Professora da Faculdade Comunitária de Santa Bárbara, das Faculdades Integradas Claretianas e da Faculdade Prudente de Moraes e-mail: [email protected] Victor Kraide Corte Real Mestre em Comunicação Social - UMESP Professor da Faculdade Comunitária de Santa Bárbara, do Instituto Superior de Ciências Aplicadas e coordenador do curso de Publicidade e Propaganda da Faculdade Prudente de Moraes e-mail: [email protected] Resumo O objetivo do presente estudo foi traçar um paralelo entre as estratégias de comunicação política, representadas aqui pelo marketing político em períodos não-eleitorais, e a internet, como canal midiático de maior potencial atualmente. Neste sentido, levou-se em consideração a realidade das adaptações sofridas a cada ano pela legislação eleitoral brasileira e as freqüentes novidades que surgem a todo instante na internet. Não houve, portanto, a preocupação em chegar a conclusões de fato, mas sim discutir conceitos e oferecer aos pesquisadores da comunicação, profissionais do marketing e representantes políticos brasileiros, a sugestão de dedicar maior atenção ao uso estratégico da internet para finalidades de comunicação política no período entre as eleições. Palavras-chave: Comunicação; Internet; Propaganda. Introdução Falar sobre a utilização do marketing para vender um determinado produto denominado como bem de consumo é fácil, mas difícil mesmo é convencer a sociedade de que é possível utilizar o marketing para vender idéias políticas. Desta forma, pretende-se apresentar neste artigo a utilização do meio internet para a divulgação de atuações dos políticos brasileiros, independentemente do cargo que ocupam. Atualmente, a internet é vista como um meio fundamental para a divulgação de qualquer produto ou serviço, pois os brasileiros estão cada vez mais conectados à rede, fazendo compras, pesquisas ou no 28 lazer e entretenimento. Assim, verificamos que a política não pode ficar de fora, pois se um político deve estar onde a sociedade está, ele então deverá sim estar na internet. Sabemos que em períodos eleitorais, os políticos desenvolvem páginas na internet sob o domínio .can, conforme rege a legislação eleitoral, mas não pensam na importância de manter o seu eleitor informado de seus atos durante o seu governo, principalmente porque a mídia impressa e eletrônica cumprem muito bem este papel. Mas o político deve ter em mente que o mais importante é mostrar ao seu eleitor, em particular, o quanto está pensando nele na hora de atuar. Deste modo, busca-se apresentar a importância do marketing político, a importância da internet e quais ferramentas os políticos podem utilizar para trabalhar a sua comunicação institucional. Sobre o Marketing Político O conceito de marketing eleitoral normalmente é descrito como uma variação do marketing político, estando particularmente preocupado com as estratégias mercadológicas adotadas pelos candidatos políticos durante o período que antecede uma determinada eleição. Porém os conceitos de marketing eleitoral e marketing político muitas vezes aproximam-se e são usados como se não houvesse distinção, pois muitos dos políticos conduzem sua vida pública com sendo um permanente processo eleitoral, ou seja, atitudes e manifestações diante da sociedade são enfatizadas durante um processo eleitoral. De fato, todo indivíduo que pretende ocupar cargos políticos deve estar preocupado em trabalhar seu marketing político diariamente. Algumas ferramentas do marketing comercial são usadas no marketing político, principalmente a propaganda comercial é usada como base para a propaganda política, isso não significa que a escolha de um candidato através do voto seja feita a partir dos mesmos estímulos que temos para comprar uma mercadoria, porém em essência, a propaganda política utiliza argumentos similares aos da propaganda comercial para tentar influenciar os eleitores a escolherem um determinado candidato. Para entendermos os estímulos que interferem na escolha de um candidato ao invés de outro, precisamos entender um pouco sobre o surgimento da propaganda. As técnicas modernas de propaganda surgiram como conseqüência da industrialização e do desenvolvimento do capitalismo no final do século XIX, naquela época o homem passava a produzir mais do que era capaz de consumir. “Era preciso agregar novos contingentes de consumidores para a demanda poder acompanhar a capacidade de oferta”, além disso, os novos bens de consumo precisavam parecer “necessários, benéficos ou prazerosos” para que os consumidores fossem “levados à decisão de compra” (LINS DA SILVA, 2002). A propaganda começava a ser utilizada como um instrumento capaz de agregar valores aos bens de consumo, fazendo uso de mensagens carregadas de conteúdos ideológicos como, por exemplo, liberdade e sucesso, características que supostamente seriam obtidas através da aquisição de determinados bens de consumo. Um carro passava a ser visto não simplesmente como um veículo de transporte, mas como um símbolo de status, poder e sucesso. O surgimento e o avanço tecnológico dos meios de comunicação de massa potencializaram a divulgação dos supostos benefícios proporcionados pelos bens de consumo. Conhecimentos sociológicos e psicológicos também passaram a integrar as técnicas de propaganda, na tentativa de aperfeiçoar o conceito de manipulação ideológica das necessidades dos receptores das mensagens publicitárias. A propaganda política também procura atribuir valores, muitas vezes questionáveis, a um determinado candidato, a fim de influenciar uma decisão que está relacionada à busca, através do voto, da opção que aparentemente melhor satisfaça nossas necessidades como cidadãos. Então se o marketing político é similar ao marketing comercial, e se em ambos o objetivo é influenciar o consumidor/eleitor a comprar/eleger um determinado produto/candidato, qual é a diferença entre um político e um sabonete? Carlos Eduardo Lins da Silva, na obra “O Marketing Eleitoral” (2002), procura justamente estabelecer essa diferença, através de argumentos sólidos e do posicionamento crítico em relação as principais teorias e práticas existentes sobre marketing político. Ele considera o mundo da política, e as diferentes percepções que cada um de nós tem sobre o assunto, como sendo algo bastante complexo, impossibilitando que uma teoria simplista seja sustentada a partir da defesa de que o marketing é uma “atividade mágica” capaz de decidir eleições. O autor argumenta ainda sobre a constante suposição que transforma candidatos em sabonetes, como sendo uma acusação que “subestima até o mais baixo ponto a capacidade de raciocinar do cidadão”, pois somente uma “pessoa imbecilizada escolheria um governante com os mesmos critérios com que elege a marca de seu sabonete” (LINS DA SILVA, 2002, p.13). Ele levanta uma hipótese a respeito dessa supervalorização atribuída ao marketing político. Em sua opinião, a atribuição de tanto poder a esta modalidade do marketing é interessante para o próprio profissional da área, pois assim ele valoriza seu trabalho e beneficia seus negócios; e também serve ao eleitor, na medida em que ele pode responsabilizar outrem por ter sido influenciado a tomar uma decisão errada, quando um eleito se revela incompetente ou corrupto (LINS DA SILVA, 2002, p.10). De fato esses argumentos normalmente são usados pela opinião pública para dar mais valor do que a prática 29 do marketing político merece. Através dessa hipótese, Carlos Eduardo Lins da Silva não quer justificar o uso desses argumentos, pelo contrário, ele acredita ser até mesmo prejudicial para a democracia esse tipo de argumentação simplista e superficial. Outros pesquisadores como Rubens Figueiredo, por exemplo, também apresentam fortes críticas sobre a concepção exagerada do marketing político: O eleitorado está cada vez mais atento, recusando votar em candidatos cujas campanhas são repletas de ‘truques’ para confundir, quando não enganar, o eleitor. O “marketismo” tem um duplo - e definitivo - defeito. Não é construtivo para a democracia que o suporta. Nem eficiente para os candidatos que o adotam (FIGUEIREDO, 2000, p. 39). Vivemos hoje no Brasil um importante período de desenvolvimento democrático, diante do qual, as discussões políticas, especialmente os estudos sobre marketing político, têm avançado e recebido muita atenção. Muito dos conhecimentos sobre marketing, aplicados hoje em nossa realidade local, são baseados em estudos científicos feitos durante o período da Segunda Guerra Mundial e nos tempos da Guerra Fria, quando vultosos recursos governamentais foram colocados à disposição de cientistas sociais especialmente dos Estados Unidos, mas também do Reino Unido e de outros países ocidentais, para realização de pesquisas sobre os efeitos da propaganda política. O principal incentivo desses estudos foi o resultado eficaz que a propaganda nazista, desenvolvida por Joseph Goebbels, obteve através do uso excessivo da retórica, dos meios de comunicação de massa e dos símbolos visuais (LINS DA SILVA, 2002, p. 39). Porém, as conclusões desses estudos foram apressadas e ingênuas. Modelos teóricos como o da “agulha hipodérmica”, segundo os quais os meios de comunicação seriam capazes de injetar na mente dos receptores das mensagens qualquer tipo de conhecimento ou ideologia, encontraram imediata receptividade pública positiva, devido à simplicidade de seus argumentos. Lins da Silva faz um contraponto, lembrando que ainda naquele mesmo período, alguns pesquisadores perceberam a falha daquelas teorias e saíram a campo a fim de contestar as convicções formuladas em escritórios, tentando provar que a realidade era muito mais complexa do que aquelas teorias estavam supondo. Foi o caso de Paul Lazarsfeld, em 1948, e W. Philips Davidson, em 1959. O que Lazarsfeld concluiu durante a análise das eleições americanas de 1938, 1940, 1944 e 1948, foi 30 que, no caso das mensagens políticas, “rádio, cinema e jornais - os principais meios de comunicação da época - exerceram influência pequena ou mesmo nula sobre a decisão de voto das pessoas por ele examinadas” (LINS DA SILVA, 2002, p. 41). Davidson, a respeito da relação entre público e meios de comunicação, resumiu que a audiência não é um recipiente passivo, e não pode ser vista como uma massa de barro esperando para ser moldada pelo “mestre propagandista”, os receptores exigem algo das mensagens recebidas, e selecionam o que parece ser mais útil. “Há uma barganha envolvida nesse processo” (LINS DA SILVA, 2002, p. 42). Nelson Jahr Garcia (1990, p. 71) analisa com bastante critério a capacidade persuasiva e de manipulação ideológica dos meios de comunicação de massa. Ele acredita que a mídia pode exercer algum controle ideológico sobre o espectador quando este evita fazer qualquer análise ou discussão mais profunda daquilo que está assistindo. Quando o modelo informativo vigente transforma em espetáculo os fatos sociais, pode abalar de certa forma a credibilidade sobre uma certa versão ideológica da realidade. O mesmo autor, discutindo a relação existente entre propaganda e persuasão, argumenta: A propaganda pode não ser eficaz e, assim mesmo, ficar caracterizada como tal. Por outro lado, pode haver persuasão e não existir propaganda quando não houve a intenção inicial. Todavia, não basta a emissão simples de mensagens sem nenhum cuidado. (...) só se pode verificar a intenção persuasiva se o emissor estiver apoiado num mínimo de precauções. (...) a eficácia ou não de sua campanha é difícil de ser verificada porque outras variáveis podem ter ocorrido para um determinado resultado (GARCIA, 1990, p. 20). A prática da persuasão através de mensagens é uma discussão bastante antiga, Lins da Silva (2002, p. 33) expõem a retórica como sendo: O nome da arte de usar a linguagem como forma de persuadir outras pessoas a apoiarem determinada causa ou líder, e ela era objeto de suspeição por parte de alguns pensadores. A crítica hoje feita contra o marketing era basicamente a mesma de Platão (428-348 a.C.) - que foi em relação a retórica quase tão agressivo quanto Adorno (1903-69, o mais conhecido membro da Escola de Frankfurt) seria em relação aos meios de comunicação de massa - em seu tempo: a retórica, ao colocar ênfase nos modos de persuasão em vez de na essência da verdade, mereceria condenação moral. Hoje em dia, o meio acadêmico estuda os efeitos do marketing a partir de duas principais teorias, a “cultivacionista” e a “etnográfica”. De acordo com Lins da Silva (2002, p. 47-48) a corrente de pensamento cultivacionista tem entre seus principais representantes na atualidade, o britânico Neil Postman, defensor dos fortes efeitos do marketing e da visão do público como sendo altamente alienado e irracional. A posição etnográfica representa o trabalho de Richard Hogart e outros culturalistas britânicos, tendo como preocupação a interação que o consumidor de informação faz com as mensagens que recebe, a fim de encaixá-las em seus próprios interesses, a partir de suas experiências anteriores e de seu sistema de crenças. Mesmo assim não podemos negar que o desenvolvimento dos meios de comunicação eletrônicos pode ter trazido alguns benefícios para a democracia e para a prática do marketing político. Podemos perceber que hoje é muito mais fácil conhecer as idéias dos diversos candidatos políticos através da televisão e da internet, do que antigamente quando tínhamos que nos deslocar aos comícios. Segundo Lins da Silva (2002, p. 78), o que a pesquisa científica demonstra “é que os meios eletrônicos, como os comícios do passado, funcionam muito mais para cristalizar atitudes e opiniões antes assumidas do que para alterá-las”. Resta aos pesquisadores e profissionais do marketing, assim como aos candidatos e eleitores, entender essa mudança sobre o ambiente onde a informação é propagada. O Surgimento da Internet Este artigo apresenta as formas de uso da internet para fins políticos e, neste momento não há nada mais justo do que frisar que a internet nasceu para fins políticos e foi lançada como plano de governo na campanha à Presidência de Bill Clinton, como veremos mais adiante. Portanto, verificamos que, por mais que o Brasil tenha demorado para perceber a força que este meio tem para divulgar produtos, serviços e candidaturas, a internet se rende mais uma vez ao propósito da política. A internet surgiu no período da Guerra Fria, para que militares pudessem trocar informações estratégicas sigilosas com as bases militares sem que fossem bombardeados. A primeira versão da rede surgiu em 1969, chamada de Arpanet - Advanced Research Projects Agency. Essa primeira rede se conectava a apenas 4 pontos, mesmo que um deles estivesse desligado e, com o passar dos tempos foi evoluindo até chegar à internet que nos conectamos hoje. Nos anos de 1970, a internet cresceu dentro dos institutos de pesquisa e do meio acadêmico, mas não tinha a função de trocar recursos e informações científicas, mas sim para conversas e recados informais. A propagação da internet para a população começou mesmo na década de 1990 com o primeiro serviço comercial via “dial up” (linha telefônica) de acesso à internet nos EUA. Segundo Ercília (2001, p. 18), o empurrão que faltava para que a internet começasse a penetrar na consciência coletiva dos norte-americanos foi: “Bill Clinton, então candidato à Presidência, decide usar a idéia de uma América conectada por redes de educação e informação em sua campanha. Foi aí que surgiu na mídia a idéia da América conectada”. Mas, o sucesso da internet foi determinado em 1991 com a criação da World Wide Web, que é um sistema de hipertexto que tornou fácil navegar pela rede. A partir deste momento, a internet passou a obter programas cada vez mais avançados para navegação devido à grande guerra entre Microsoft e Netscape para conseguir difundir seus programas. Sem esta grande guerra de concorrentes a internet não teria evoluído tão rapidamente. A Internet no Brasil A internet começou a ser utilizada no Brasil em 1988 no LNCC - Laboratório Nacional de Computação Científica e na FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Mas as conexões ainda não eram diretas e podiam somente trocar e-mails pela rede chamada de Bitnet. Ao longo dos anos, a internet foi se difundindo e evoluindo, conforme pesquisadores, gestores e empresários visavam a lucratividade que a rede poderia oferecer. Em 1995 a internet saiu das universidades e passou a ser utilizada pela população devido ao surgimento de provedores de acesso à rede discada como UOL - Universo Online, Brasil Online, ZAZ que hoje é o provedor Terra e muitos outros. Como curiosidade, em 1997 foi estreado recebimento de Imposto de Renda via internet e, 26% dos contribuintes fizeram suas entregas via online. Desta forma, podemos verificar o avanço da utilização da rede pelos brasileiros em apenas 9 anos de seu acesso no Brasil e a grande lucratividade que esta estrada virtual passou a oferecer aos seus investidores. Em 2000, cerca 31 de 10% dos investimentos estrangeiros diretos no Brasil no setor de serviços estavam sendo direcionados para as empresas ligadas à Internet. Isso representou US$ 471 milhões nos primeiros quatro meses do ano, praticamente só US$ 100 milhões a menos do que o que foi aplicadoem instituições financeiras. Os provedores de acesso à Internet no Brasil estão entre os segmentos que mais tem atraído capital externo para o país. O perfil do internauta brasileiro Segundo pesquisa realizada pelo IBOPE e NetRatings publicada na revista Meio & Mensagem em 28 de março de 2007, apresenta que o número de internautas no Brasil, considerando múltiplos locais de acesso como residências, trabalhos e universidades chega ao número de 32,9 milhões no final de 2006, porém concentrados principalmente nas classes sociais A e B devido aos investimentos necessários: computador, assinatura de acesso em banda larga, assinatura de provedor, entre outros e com grande concentração de moradia nos grandes centros urbanos, ou seja, local que favorece a utilização da rede devido ao número elevado de violência, alto custo dos locais que oferecem lazer e entretenimento. Abaixo é possível verificar o perfil do internauta brasileiro: manter a sociedade informada sobre suas atuações. Desta forma, ao verificar o número de acessos pelas classes sociais e faixas etárias, é possível dizer que a utilização deste meio é importante para a propagação de ideologias políticas devido ao perfil do internauta brasileiro que se concentra principalmente nas classes sociais mais elevadas e mais esclarecidas, além de ser as formadoras de opinião. É importante esclarecer que o meio internet não gera resultado sozinho, mas é uma ferramenta de marketing relevante e que evoluirá com o tempo para obter os fins desejados no meio político. Nos Estados Unidos da América, a internet avança em passos largos na política devido à criação de blogs e sites de movimentos, partidos e candidatos que levam os leitores de jornais e revistas e ouvintes de rádio, a buscarem informações políticas no meio virtual, roubando assim os telespectadores das emissoras de TV. O jornalista Flamínio Fantini pesquisou as 10 tendências da internet na política nos EUA e verificou que uma pequena parcela de internautas buscaram informações sobre seus candidatos na internet, os leitores de jornais empatam com os usuários de internet de banda larga residencial, mas os jornais ainda possuem maior credibilidade em termos de informações políticas do que a internet, sendo que a mesma ultrapassa o rádio. No Brasil, a utilização deste meio para informações políticas ainda é pequeno, mas vem se propagando devido a utilização de domínio .can e a utilização do e-mail marketing nos períodos eleitorais, conforme analisaremos adiante. A partir deste momento, passamos a apresentar uma visão mais aprofundada do assunto principal deste artigo que é a utilização do meio internet para divulgar ações realizadas por políticos eleitos, como forma de 32 Estratégias de divulgação das ações públicas políticas A partir do início da década de 90, com o aumento considerável do número de servidores conectados ao sistema da Internet, a facilidade de receber, trocar, enviar e divulgar informações tornou-se uma poderosa ferramenta de mídia, onde muitos veículos de comunicação de massa, como as televisões, rádios e jornais, passaram a conciliar a forma de divulgação de noticiário tradicional com a online. Isso possibilita que as notícias sejam transmitidas a população em tempo real, diferentemente de um passado recente, onde seria necessária a espera de uma nova edição para as notícias serem atualizadas. Apesar da internet ser um meio democrático e de certa forma acessível a qualquer pessoa, é sabido que apenas uma parcela da sociedade de classe social média e elevada tem contato direto com essa tecnologia, portanto um grupo seleto, politicamente correto e formador de opinião. Até 2002, o candidato a um cargo eletivo no Brasil montava equipes de marketing, imprensa, televisão, rádio, pesquisas e coordenação de cabos eleitorais. A internet era praticamente um acessório, quase um luxo. Agora, o político que entrar na disputa sem pensar na web pode até não perder, mas sairá com certeza em desvantagem. Através do sistema de e-mail e da popularização dos fóruns de discussão, que são uma forma de compartilhar, agilizar, estimular e democratizar informações sobre um determinado assunto, a internet tem se tornado o meio pelo qual a população consegue discutir, criticar e divulgar os acontecimentos dos governos e dos políticos . Num futuro breve teremos o meio online como a principal forma/ferramenta para a definição políticas e de governos, tendo a população como parte principal do processo de tomada de decisão de governança de uma nação, onde as pessoas possam transformar suas democracias representativas em democracias diretas, minimizando o poder absoluto e muitas vezes obscuro de um governo. O objeto principal deste estudo não é discutir o meio internet como ferramenta na campanha política, mas sim, divulgar ações públicas de um determinado membro político, por um meio simples, barato e que proporciona alto índice de fidelidade, através do marketing one-to-one, que segundo os autores Don Peppers e Martha Roggers (1993, p. 9), é “a prática de adequar mensagens, serviços, produtos, promoções e informações a um usuário individual na web”. Segundo os autores Cliff Allen, Deborah Kania e Beth Yaeckei (2002, p. 4): Para ver o que o futuro reserva para o marketing na web, vamos analizar como o marketing one-to-one é diferente dos outros tipos de marketing: Marketing de massa: Comunicação de um para todos. Sem especialização da mensagem ou da mídia. Marketing de segmento: Comunicação de um para muitos ou de um para poucos, com especialização da mensagem e da mídia para cada segmento identificado do mercado como um todo. Marketing one-to-one: Comunicação de um para poucos ou one-to-one, com mensagem e mídia individualizadas para cada mercado altamente segmentado ou cliente individual. Newsletter É um sistema desenvolvido para permitir que empresas e pessoas de qualquer segmento possam explorar os benefícios do e-mail marketing através da Internet. Com ele é possível gerenciar campanhas e enviar informações personalizadas para cada grupo ou pessoa individualmente. Através de recursos bastante simples, é possível criar modelos de mensagens a serem enviadas (com textos, imagens e anexos) ou enviar mensagens em formato HTML (formato de internet) de forma rápida, segura e programada (possibilidade de agendar dia para envio), com a garantia de que elas serão entregues de forma individualizada a cada uma das pessoas ou grupos selecionados. É possível também, acompanhar o recebimento das campanhas, visualizando através de gráficos as pessoas que receberam as mensagens e a quantidade de visualizações, além de outras informações. Desenvolvido para funcionar dentro do navegador de web (browser), o sistema funciona a partir de qualquer computador com acesso a internet, não sendo necessário instalação individual em equipamento. Com esse sistema um determinado membro político pode enviar a todos os contatos de sua lista, que foram previamente cadastrados, ações que julgue pertinentes para a manutenção de sua imagem política, que diz respeito à visão que o povo tem do político, não somente como profissional, mas principalmente como pessoa. A imagem é muito importante em época de campanha eleitoral, porém não pode ser descuidada em outros momentos, pois isso pode ser fatal para candidaturas futuras. Sendo assim, o membro político pode enviar periodicamente notícias sobre seu desempenho público, projetos e opiniões sobre assuntos relevantes a população. 33 Sistema Powerpage® Para melhor apresentação, será mostrado neste estudo como forma de ilustração da ferramenta a ser utilizada, o sistema de newsletter Powerpage®, desenvolvido pela empresa ON-Z Comunicação & Design. A página inicial do sistema conta com os campos login e senha, que possibilitam que somente pessoas autorizadas tenham acesso as informações contidas no sistema (imagem 1). Após o login o usuário é direcionado a uma tela que apresenta a visão geral do sistema, com seus recursos (imagem 2). No menu “gerenciador de dados” é possível gerenciar todos os destinatários do newsletter, cadastrando (imagem 3), excluindo (caso o contato não deseje mais receber os e-mails), visualizando os que estão ativos no sistema e os que estão pendentes, pois para que o destinatário receba o newsletter é necessário que autorize através de um e-mail enviado previamente, 34 solicitando a sua inclusão na lista de envio, de acordo com as regras do código de ética anti-span e melhores práticas de uso de mensagens eletrônicas (anexo 1). Os usuários que por ventura não responderem a atualização ficam indicados no sistema como pendentes. No menu “enviar e-mail” é onde o tipo de mensagem a ser enviada deve ser escolhido, ou seja, é possível enviar uma mensagem somente de texto ou uma mensagem no formato HTML, que possibilita que o cadastrado abra diretamente em seu programa de e-mail uma única mensagem com texto e imagem. Através deste menu, também é possível agendar o envio da mensagem tanto em formato texto quanto em HTML, para que em determinada data o newsletter seja enviado aos destinatários selecionados. Esta opção é muito interessante quando associada à data de nascimento dos cadastrados, pois possibilita que na data do aniversário, ele receba um e-mail com as congratulações do político. No menu “agenda de envio” são apresentadas todas as datas de envio programadas e permite a manipulação das mesmas quando necessário. No menu “template” é utilizado para visualizar e selecionar as artes e layouts em HTML que se encontram disponíveis no sistema, ou seja, todas as artes enviadas como newsletter ficam arquivadas dentro deste menu, possibilitando que sejam escolhidas para envio, ou até mesmo sejam reenviadas, caso seja necessário. O menu “histórico”possibilita a visualização de um histórico de todas as mensagens enviadas pelo sistema. Ele apresenta um relatório de todos os envios que obtiveram êxito e especifica os endereços que apresentaram problemas. Através do menu “opções” são adicionadas outras pessoas para administrar o sistema, ou seja, o político pode autorizar sua secretária, seu assessor ou membros do partido para que gerenciem todo o sistema. Exemplo de newsletter freqüentes novidades que surgem a todo instante na internet. Neste sentido, chegamos às considerações finais deste texto com o intuito de oferecer aos pesquisadores da comunicação, profissionais do marketing e representantes políticos brasileiros, a sugestão de dedicar maior atenção ao uso estratégico da internet para finalidades de comunicação política no período entre as eleições. A partir dos conceitos de marketing político, da análise sobre os internautas brasileiros e da apresentação do sistema Powerpage®, encerra-se o presente artigo com a impressão de que é possível fortalecer a democracia através da seriedade na utilização dos meios de comunicação. Referências Bibliográficas Considerações Finais Estratégias de comunicação relacionadas com a persuasão e a retórica são praticadas desde a Antiguidade Clássica com a principal finalidade de promover mudanças sociais e de comportamento. É inerente ao ser humano a tentativa constante de fazer com que suas idéias, valores, crenças e ideologias sejam aceitas em seu meio social, afinal foi justamente através do discurso e da força da linguagem que o homem tornou-se um ser social. A democracia veio depois disso e surgiu com o propósito de servir como ambiente propício para a representação e tomada de decisões em benefício da coletividade. Este breve estudo procurou apontar uma das possibilidades de relacionar as estratégias de comunicação política, indicadas aqui pelo marketing político em períodos não-eleitorais, e a internet, como mais recente e potencial canal midiático em atividade. Em momento algum houve a preocupação em chegar a conclusões de fato, muito pelo contrário, a intenção foi realizar uma leitura dialética do comportamento social respeitando a característica das Ciências Sociais de não fechar discussões com argumentos supostamente inquestionáveis. Além disso, e talvez principalmente, ainda levou-se em conta a realidade das adaptações sofridas a cada ano pela legislação eleitoral brasileira e as ALLEN, Cliff; KANIA, Deborah; YAECKEI, Beth. Marketing one-to-one na web. São Paulo: Makro Books, 2002. ERCÍLIA, Maria. A internet. 2 ed. São Paulo: Publifolha, 2001. FIGUEIREDO, Rubens. O marketing político: entre a ciência e a falta de razão. In: Marketing político e persuasão eleitoral. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2000. GARCIA, Nelson Jahr. Sadismo, sedução e silêncio: propaganda e controle ideológico no Brasil (1964-1980). São Paulo: Edições Loyola, 1990. LINS DA SILVA, Carlos Eduardo. O marketing eleitoral. São Paulo: Publifolha, 2002 - (Folha Explica). NIELSEN, Jakob. Usabilidade na web. São Paulo: Campus, 2007. PEPPERS, Dom; ROGERS, Martha. CRM Series: Marketing One to One. São Paulo: Makron Books, 2001. TORRES, Roberto. Personalização na internet. São Paulo: Novatec, 2004. Recebido em 11 de outubro de 2007 e aprovado em 06 de novembro de 2007. 35