1 UNIP UNIVERSIDADE PAULISTA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOLOGIA DO TRÂNSITO ADRIELE APARECIDA BOCALAN CAUSAS DE ESTRESSE NO TRÂNSITO EM FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS DA SECRETARIA MUNICIPAL DE OBRAS NO MUNICÍPIO DE ALCINÓPOLIS – MS MACEIÓ - AL 2014 2 ADRIELE APARECIDA BOCALAN CAUSAS DE ESTRESSE NO TRÂNSITO EM FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS DA SECRETARIA MUNICIPAL DE OBRAS NO MUNICÍPIO DE ALCINÓPOLIS – MS Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito. Orientador: Prof Ms. Alessio Sandro de Oliveira Silva MACEIÓ - AL 2014 3 ADRIELE APARECIDA BOCALAN CAUSAS DE ESTRESSE NO TRÂNSITO EM FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS DA SECRETARIA MUNICIPAL DE OBRAS NO MUNICÍPIO DE ALCINÓPOLIS – MS Monografia apresentada à Universidade Paulista/UNIP, como parte dos requisitos necessários para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Psicologia do Trânsito. APROVADO EM ____/____/____ _______________________________________________ PROF MS. ALESSIO SANDRO DE OLIVEIRA SILVA ORIENTADOR: _______________________________________________ PROF. DR. LIÉRCIO PINHEIRO DE ARAÚJO BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ PROF. ESP. FRANKLIN BARBOSA BEZERRA BANCA EXAMINADORA 4 DEDICATÓRIA Dedico este estudo aos meus pais por estarem ao meu lado em todos os momentos. As minhas filhas e ao meu esposo que fazem a minha vida ser completa. Aos meus amigos que sempre me encorajam a buscar o saber. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida. A minha mãe que me acompanhou a Maceió para cuidar da minha filha Isabella de seis meses. Aos participantes da pesquisa, que me cederam um pouco de seu tempo para a construção desse trabalho. Ao meu esposo Eduardo por compartilhar comigo todos os momentos da minha vida e me apoiar em tudo. Com muito carinho ao Prof. Manoel por sua dedicação. 6 “Alguém que nunca cometeu erros nunca tratou de fazer algo novo.” (Albert Einstein) 7 RESUMO O estresse, cada vez mais vem sendo estudado e, como isso, faz-se necessário identificar quais as principais causas que levam o ser humano a este quadro. No trânsito, o fator humano é essencial, visando assim sua segurança e do outro. Estudos anteriores apontam que a profissão de motorista apresenta grande índice de estresse. O presente estudo visou conhecer as principais causas de estresse apresentados no trânsito por funcionários públicos da Secretaria Municipal de Obras no Município de Alcinópolis – MS. Participaram da pesquisa 10 (dez) funcionários públicos, utilizando-se como instrumento um roteiro de entrevista semi aberto com questões a respeito dos principais fatores indicadores de estresse e o inventário de Stress para adultos de Lipp – ISSL. Os resultados apontam que, dentre as principais causas de estresse apontadas pelos funcionários públicos, estão o trânsito, relacionamentos pessoais e sociais. Sugere-se futuras pesquisas para identificar as principais causas de estresses de todos os motoristas das diversas secretarias do município de Alcinópolis - MS. Palavras-chave: Estresse, trânsito, psicologia. 8 ABSTRACT The stress increasingly is being studied and how this , it is necessary to identify the main causes that lead the human being to this table . In traffic , the human factor is essential , thereby targeting its security and other. Previous studies indicate that the driving profession has great stress index . This study aimed to know the main causes of stress in traffic presented by officials of the Municipal Works in the City of Alcinópolis - MS. Participated in the survey ten (10 ) public servants , using as instrument a semi structured interview with open questions regarding the main factors and indicators of stress Stress Inventory for adults Lipp - ISSL . The results indicate that among the main causes of stress identified by officials , are transit , personal and social relationships . We suggest future research to identify the main causes of stress for all drivers of the various departments of the municipality of Alcinópolis - MS. Keyword: Stress, traffic psychology 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Gráfico 01. Categorias que surgiram como principais causa de estresses nos entrevistados. ......................................................................................... 30 Gráfico 02. Idade média dos entrevistados. .............................................................. 31 Gráfico 03. Escolaridade dos entrevistados. ............................................................. 32 10 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 13 2.1 Estresse ............................................................................................................. 13 2.2 Estresse Ocupacional ....................................................................................... 20 2.3 Síndrome de Burnout ........................................................................................ 22 2.4 Fatores de Estresse .......................................................................................... 24 3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 28 3.1 Ética .................................................................................................................... 28 3.2 Tipo de Pesquisa ............................................................................................... 28 3.3 Universo ............................................................................................................. 28 3.4 Sujeitos da Amostra .......................................................................................... 28 3.5 Instrumentos de Coleta de Dados ................................................................... 28 3.6 Plano para Coleta dos Dados ........................................................................... 29 3.7 Plano para a Análise do Dados ........................................................................ 29 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 30 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 33 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 35 APÊNDICE ................................................................................................................ 41 ANEXO ..................................................................................................................... 43 11 1 INTRODUÇÃO O estresse no trânsito já se tornou um problema social e está presente no diversos comportamentos desempenhados pelos condutores e que influi na maneira de utilização desse espaço público que deve ser com educação, respeito, tolerância e sem agressividade, pois a liberdade que temos com um veículo nem sempre é utilizada de forma correta. O trânsito, de modo geral, tem causado preocupações com relação à falta de segurança, pois diariamente ocorrem acidentes, deixando pessoas mortas ou feridas, evidenciando a violência no trânsito e o comportamento estressante apresentado pelos condutores. Nessa perspectiva, estimativas da Organização PanAmericana de Saúde apontam que 6% das deficiências físicas são causadas por acidentes de trânsito (MÂNICA, 2004). É fato ainda, que tal categoria de acidente, tem como característica primordial (64%), a inteira responsabilidade do condutor (DETRAN-PR, 2006, apud SCHWARZER, 2006) contra 30 % de atribuição às falhas mecânicas do automóvel e 6% às deficiências das vias de circulação. Para Vasconcellos (1998), as condições do momento determinam o comportamento de cada indivíduo no trânsito. A cada situação dada, reações, comportamentos e atitudes diferentes se apresentam. Tudo depende de uma complexidade de fatos, ligados aos fatores de necessidades e interesses pessoais, diversificando esses comportamentos. Saber quais as causas de estresse faz-se necessário. Como consequência, estudos vêm apontando correlação consistente entre acidentes de trânsito e características de personalidade como irritabilidade, agressividade, histórico de conflitos familiares, personalidade instável, descontrole emocional, estresse, inteligência e percepção (SCHWARZER, 2006). Nesse contexto, o estresse torna-se item importante a ser observado, tendo em vista que está diretamente ligado ao surgimento de sintomas relacionados a traços de personalidades como a agressividade e ao descontrole emocional, além de influir em níveis de atenção e resposta (MARGIS, 2012). Estudos demonstram ainda que altos níveis de estresse se correlacionam à inadequação de habilidades sociais, podendo resultar em atitudes explosivas, tendo em vista dificuldades na resolução de conflitos e negociação (FURTADO; FALCONI & CLARK, 2003). Consequentemente, o uso abusivo de álcool, e outras substâncias, também são citados como fator observado (FURTADO; FALCONI & CLARK, 2003). 12 Com base nesse contexto, objetivou-se levantar as principais causas que geram estresse no trânsito por funcionários públicos da Secretaria Municipal de Obras no município de Alcinópolis – MS. 13 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 Estresse O ser humano é um ser social, vive em grupos e por isso adapta-se e modifica-se de acordo com suas necessidades e sobretudo as necessidades do meio. Para que se viver harmoniosamente, faz-se necessário organização e respeito aos direitos e deveres do individuo e do grupo. O comportamento do ser humano é regido pelo consenso geral, abrangendo valores, tais como sociais, políticos, culturais, religiosos e morais que são determinados por normas em todos os setores de vida. Cada indivíduo tem uma experiência diferente de vida, cultura, ideais e valores, que carrega para o trânsito, e influi notoriamente na sua forma de conduzir. O seu comportamento muda de acordo com suas necessidades, com as condições apresentadas no dia. O trânsito é uma resultante de aglomerações humanas, tendo surgido o veiculo justamente para facilitar o deslocamento, a comunicação e a interação entre indivíduos e grupos. Mas, em contrapartida, o convívio das pessoas nas vias públicas envolve uma série de fatores, tais como causas agressivas, que acabam tornando o trânsito algo violento e propenso a acidentes. Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial em acidentes de trânsito. Ocorrem em média 6,8 mortes para cada 10 mil veículos, enquanto nos Estados Unidos a média é de 1,93 e na França 2,35. Ao término de um ano, são mais de 30 mil mortes nas estradas brasileiras. O custo social resultante desta violência no trânsito é de R$ 10 bilhões por ano (IPEA, 2003). Dentro dos fatores que favorecem a ocorrência de um número tão elevado de acidentes, aparece o fator humano como o principal, pois sem ele o trânsito não existiria. Porém o ser humano não pode ser analisado separadamente. O homem tem sua história, personalidade, interesses, necessidades e busca satisfazê-la, gerando conflitos no trânsito, pois interpreta as regras estabelecidas conforme sua visão de mundo. Nesse processo, alguns condutores agem de acordo com a lei, outros não. Tomam atitudes para seu benefício próprio. Na busca por essa 14 satisfação, ocorrem atitudes, comportamentos que colocam em risco a segurança no trânsito. Veículos são usados como objetos para impor medo, forçando a saída do veículo da frente, fazem frenagens bruscas, ultrapassagens forçadas e em locais sem visibilidade, transitam com velocidades incompatíveis para o local, fazem gestos obscenos, xingamentos, discussões, resultando num trânsito violento, agressivo.O ser humano por meio de seus atos, comportamentos, estabelece de que forma o trânsito vai acontecer. Para Hoffmann, Cruz e Alchieri (2003), o homem ou a mulher ao volante é um ser humano que, além de uma série de aptidões, de uma personalidade, hábitos e atitudes definidos, possui necessidades fisiológicas (alimento, sono, descanso), necessidades psicológicas e socioculturais (segurança, comodidade, auto- realização, aceitação). O equilíbrio entre estas várias instâncias e necessidades e a capacidade para supri-las, superá-las ou adaptar-se a elas permitem o funcionamento psicofísico normal do indivíduo. Quando o ser humano sente que algo pode ameaçar este equilíbrio, reage. Esta reação às vezes é de adaptação ao meio, admitindo que estava equivocada, ou de luta, pois algo ameaça este equilíbrio interior, podendo reagir com agressividade. Um comportamento agressivo refere-se a toda e qualquer ação que tenha por objetivo ferir o outro física ou verbalmente. Uma agressão, constantemente é o resultado de sentimentos de desprazer e frustrações, quando o indivíduo não consegue lidar de forma assertiva com tal condição (Menezes, 2003). Para Rozestraten (1988), a maneira de perceber as situações no trânsito produz comportamentos diferentes. Para a produção de comportamentos adequados, são necessárias situações ou estímulos claros, um organismo em condições de perceber e de reagir adequadamente e com uma aprendizagem prévia dos sinais e das normas que devem ser seguidas. Quando o motorista olha para uma determinada placa de trânsito, tem que entender o que o sinal está lhe transmitindo bem como qual o comportamento desejado. Perceber este sinal de maneira errada, certamente o colocará em perigo, com risco de envolver-se em acidentes. Através dessas condições o homem pode construir sobre elas um comportamento adequado ao trânsito. Alguns comportamentos que tendem a passarem despercebidos em algumas situações, receberão destaque em outras situações sociais. Aquele condutor que 15 sempre quer o melhor veículo, o mais potente, maior valor, para um determinado grupo pode ser símbolo de “status”, poder, que quer aparecer e para outro grupo pode ser de bom gosto. Para Lorenz (1979), a natureza da agressividade humana tem uma base inata, mas que pode ser modificada. O critério para determinar que um certo padrão de comportamento é inato, é que ele seja mostrado por todos os indivíduos normais da espécie, de determinada idade e sexo, sem nenhum aprendizado anterior e sem tentativas e erros. E este é o caso do comportamento agressivo. O ponto crucial da visão de Lorenz a respeito da natureza humana é que, assim como muitos outros animais, o homem tem o impulso inato do comportamento agressivo em relação a sua própria espécie. A diferença do homem é que ele tem acesso a armas que multiplicam seu poder ofensivo, sendo o único animal que mata dentro de sua própria espécie, pois perde o respeito ao gesto submisso feito pelo perdedor. Porém o homem tem um crescente conhecimento de si próprio, e isso aumenta o poder de autocontrole de ter vontades assentadas em base sólidas, podendo compreender melhor as causas materiais da agressão, e estar mais apto para tomar medidas racionais para controlá-la. A agressão, portanto, é necessária para a sobrevivência, desde que seja de forma adequada, quando necessário. Os seres humanos precisam se defender contra algumas situações que ocorrem na vida e, dependendo do contexto, a falta de defesa pode levar à morte ou destruição. O adequado é saber quando e como agir de acordo com as circunstâncias. Para Gaspar (2003), além da agressividade existente pelo estresse diário e que tem efeito sobre o comportamento das pessoas no trânsito, o próprio trânsito gera situações de estresse, fazendo com que o comportamento agressivo de um motorista, desencadeia agressividade de outros motoristas. Geralmente utilizam essa máquina (carro) para desempenhar uma luta, que por fim não haverá vencedores, pior é uma luta existente somente na mente primitiva do homem incapaz de tomar consciência de seus impulsos instintivos quanto mais controlá-los. Acrescenta que o veículo ao nosso lado se torna o adversário e a agressividade inerente a toda competição é acentuada pelo estresse, é como se o corpo reagisse de forma mais instintiva, e aí, os princípios de civilidade e boas maneiras, frutos da cultura humana, fogem. Os números mostram que o trânsito brasileiro tem muito a melhorar em todos os sentidos. O comportamento desempenhado pelos condutores demonstra 16 claramente isso. Na atualidade cada vez mais surgem problemas de ordem pessoal consequentemente às pessoas levam esses problemas para o trânsito. O comportamento muda de acordo com a necessidade de cada um. Às vezes os condutores estão com pressa, atrasados para pegar o filho na escola, para chegar ao trabalho ou a uma reunião. Outras vezes, estão simplesmente satisfazendo suas necessidades fisiológicas. Dessa forma, o tipo de comportamento desenvolvido pelos condutores de veículos automotores reflete no trânsito. O Estresse, atualmente, tem sido alvo de grande atenção por parte principalmente da Organização Mundial da Saúde - OMS (MALAGARIS, 2006), tendo em vista sua relevância para a qualidade de vida de cada pessoa, podendo influenciar, inclusive, no padrão de conduta destas em diversos fatores como interação social, familiar e motivação para atividades em geral, além de patologias físicas e psicológicas (LIPP, 2005). O estresse é a doença mais comum atualmente. Ao investigar a influências dos aspectos físicos e sociais sobre o desempenho e saúde dos motoristas, geralmente é utilizado o termo estresse ocupacional. Pode-se entender o estresse ocupacional como consequência das relações entre: condições de trabalho, condições externas ao trabalho e características do trabalhador. (BALERONI, et al, 2012) O termo estresse é de origem inglesa (stress), derivada do latim stringere e significa apertar, cercar, comprimir (HOUAISS, VILLAR, & 2001). Foi desenvolvido, inicialmente, no campo da física, no século XVII, e utilizado por Robert Hooke para designar uma pesada carga que afeta uma determinada estrutura física. Foi, posteriormente, incorporado pelo campo da biologia por Hans Selye, que amplia os estudos realizados por Cannon. O estresse denota o estado gerado pela percepção de estímulos que provocam excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia, disparam um processo de adaptação caracterizado, entre outras alterações, pelo aumento de secreção de adrenalina produzindo diversas manifestações sistêmicas, com distúrbios fisiológico e psicológico (MARGIS et al., 2012). Logo, o estresse em si, em um primeiro momento, é positivo tendo em vista que se apresenta como um adaptador geral do organismo ao meio; torna-se negativo, porém, quando em excesso levando o individuo a um processo de risco (MALAGRIS et al., 2006). 17 Em 1936, Selye descreve a Síndrome Geral de Adaptação ou síndrome do estresse biológico e a diferencia em três estágios. Inicialmente, ocorre a reação de alarme, quando o organismo se prepara para lutar ou fugir. A seguir, há um momento de resistência, numa tentativa de adaptação. Na terceira fase, há uma diminuição da capacidade do organismo de se adaptar, dando margem a diversas doenças e até a morte por exaustão. Para Selye, a maioria dos indivíduos experiência pelo menos os dois primeiros estágios em diversos momentos de sua vida. Mas foi em 1950 que Selye publicou seu primeiro tratado técnico sobre o assunto utilizando o termo stress como a definição hoje utilizada em psicologia, que também significa desgaste, mas em relação às tensões ou pressões que a doença exerce sobre o organismo que se encontra em equilíbrio. Segundo Lipp (1996) estresse é definido como uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, a irrite, amedronte, excite, ou confunda, ou a faça feliz. A partir do modelo trifásico do estresse apresentado por Selye, uma quarta fase foi identificada por Lipp (2004) e chamada de quase exaustão. Segundo a autora, antes da exaustão existe um período de transição, uma fase em que as defesas do indivíduo estão falhando, a resistência não é mais totalmente eficaz, porém ainda está presente. Há um enfraquecimento do organismo e consequentemente surgem algumas doenças, porém estas são menos graves que na exaustão. Vale ressaltar que nem sempre a pessoa passa pelas quatro fases, e só alcançará a fase de exaustão quando o estressor for muito grave e o indivíduo não conseguir se adaptar à situação. De acordo com Nascimento e Pasqualeto (2002) o estresse é um fenômeno que está presente em todas as sociedades, não importando se ela seja primitiva ou não, sempre que o homem se depara com um evento novo cria-se uma quantidade de estresse, o estresse na realidade é tão antigo quanto a história da humanidade, trata-se de uma reação bioquímica e comportamental que tem sua origem na resposta de “luta ou fuga” uma expressão instintiva que já era observado desde os tempo dos homens das cavernas que ao confrontar uma situação de perigo de vida tinha de responder lutando com o perigo ou fugindo dele. Margis et al. (2003) define em três momentos a resposta dada pelo organismo do ser humano ao estresse, sendo elas o nível cognitivo, que expressa a forma 18 como o indivíduo filtra e processa a informação, e sua avaliação sobre as situações ou estímulos a serem considerados como relevantes, agradáveis, aterrorizantes, etc. O nível comportamental que compreende três respostas comportamentais básicas diante de um estressor, que são: enfrentamento (ataque), evitação (fuga) e passividade (colapso). E por último o nível fisiológico, onde primeiramente são abordados aspectos neuroanatômicos considerando-se que diversas estruturas cerebrais podem estar envolvidas em diferentes estratégias de defesa dependendo dos níveis de ameaça presentes ao organismo. França e Rodrigues (1996) adotam uma visão biopsicossocial do estresse. Os autores definem o estresse como uma relação particular entre uma pessoa, seu ambiente e as circunstâncias às quais está submetida, que é compreendida pela pessoa como uma ameaça ou algo que exige dela mais que suas próprias habilidades ou recursos e que põe em perigo seu bem estar. Hoje em dia o homem é raramente confrontado com a necessidade de lutar ou fugir, uma vez que os perigos experimentados não são ameaças físicas que necessitem de reações imediatas, as pessoas se deparam frequentemente com desafios psicológicos repetitivos que necessitam de pouca ou nenhuma ação imediata, mesmo assim a resposta de luta e fuga é desencadeada, sendo essa uma reação primitiva. (NASCIMENTO e PASQUALETO, 2002) Apesar de todas as consequências negativas que podem advir de um estresse intenso e contínuo, ele nem sempre é prejudicial. As reações de estresse são naturais e até necessárias para a sobrevivência das pessoas. O estresse positivo é chamado de eustress, onde o esforço de adaptação gera uma sensação de realização pessoal, bem estar e satisfação das necessidades. Porém quando o indivíduo reage de forma negativa às situações estressantes, ocorre o distress (FRANÇA & RODRIGUES, 1996). Independentemente de ser bom ou mau – eustress ou distress – é impossível eliminar totalmente o estresse, já que ele faz parte das reações orgânicas que preservam a vida (FRANÇA & RODRIGUES, 1996; WEISS, 1991). Sendo assim, o estresse é o resultado da interação entre o individuo e as condições do seu ambiente externo, o efeito negativo surge quando a pessoa atinge o seu limite para adaptação e é neste momento que podem surgir às doenças através dos estressores. De acordo com Caçoilas et al (1993), o estresse pode servir de estimulo e ser benéfico, ou pelo contrario, ser algo indesejável e constituir um risco a saúde física e 19 mental do individuo, qualquer atividade pode causar estresse, mesmo aquelas consideradas agradáveis sem causar qualquer efeito negativo. Daí ser errado pensar que o estresse deve ser evitado sempre que possível, já que a única situação em que estamos livres do estresse é a morte. Estressores são identificados como aquilo que provoca estresse, podendo ser de origem interna ou externa, segundo Lipp e Malagris (1995, apud MALAGRIS & FIORITO, 2006). Aquilo que faz parte do mundo interno, das cognições do indivíduo, seu modo de ver o mundo, seu nível de assertividade, suas crenças, seus valores, suas características pessoais, seu padrão de comportamento, suas vulnerabilidades, sua ansiedade e seu esquema de reação à vida. Furtado (2003) reforça o conceito afirmando que é tudo o que cause a quebra da homeostase interna, que exija alguma adaptação, pode ser chamado de um estressor. A reação do estresse pode ser dividida em fases, de acordo com Selye (1965, apud MARGIS, 2003): alerta, resistência e exaustão. Lipp (2000), no entanto, acrescentou uma nova fase – quase–exaustão, que seria a fase intermediária entre a resistência e a exaustão. As fases estão descritas a seguir: 1) Fase de alerta: quando o organismo é exposto a uma situação produtora de tensão, ele se prepara para a ação, através da mobilização de alterações bioquímicas, compreendendo as reações de "luta e fuga" definidas por Cannon (1953). Algumas reações presentes são taquicardia, tensão muscular e sudorese. Quando o agente estressor – o que está gerando o stress – não é eliminado, o organismo passa ao estágio de resistência (LIPP & MALAGRIS, 1995). 2) Fase de resistência: nessa fase, o indivíduo, automaticamente, utiliza energia adaptativa para se reequilibrar. Quando consegue, os sinais iniciais (das reações bioquímicas) desaparecem e o indivíduo tem a impressão de que melhorou. A sensação de desgaste generalizado, sem causa aparente, e as dificuldades com a memória ocorrem nesse estágio, mas, muitas vezes, não são identificadas pelo indivíduo em situações de stress excessivo (LIPP & MALAGRIS, 1995). 3) Fase de quase–exaustão: o organismo está enfraquecido e não consegue se adaptar ou resistir ao estressor. As doenças começam a aparecer, tais como herpes simples, psoríase, picos de hipertensão e diabete, nos indivíduos geneticamente predispostos (LIPP, 2000). Quando o estressor permanece atuante por muito tempo, ou quando muitas fontes de stress ocorrem simultaneamente, a reação do organismo progride para a fase de exaustão (LIPP & MALAGRIS, 1995). 20 4) Fase de exaustão: observa–se nessa fase que há um aumento das estruturas linfáticas, a exaustão psicológica e a física se manifestam e em alguns casos a morte pode ocorrer. As doenças aparecem com muita frequência tanto em nível psicológico, em forma de depressão, ansiedade aguda, inabilidade de tomar decisões, vontade de fugir de tudo, como também em nível físico, com alterações orgânicas, hipertensão arterial essencial, úlcera gástrica, psoríase, vitiligo e diabete. Convém observar que o stress não é o elemento patogênico das doenças, ele conduz a um enfraquecimento do somático e do psicológico de tal modo que aquelas patologias programadas geneticamente se manifestam devido ao estado de exaustão presente (LIPP & MALAGRIS, 1995). 2.2 Estresse Ocupacional O estresse ocupacional deriva dos estímulos do ambiente de trabalho que exigem respostas adaptativas por parte do empregado e que ultrapassam a sua habilidade de enfrentamento; estes estímulos são comumente denominados de estressores organizacionais. Também pode constituir-se como respostas aos eventos estressores sendo as resposta que os indivíduos fornecem quando são submetidos a situações de trabalho que excedem sua habilidade de enfrentamento. Os estímulos estressores-respostas referem-se quando o estresse ocupacional refere-se ao processo geral em que demandas do trabalho impactam nos empregados (JEX, 1998). Segundo Ferreira e Junior (2009), o estresse ocupacional surge a partir das demandas inadequadas no trabalho e as habilidades do trabalhador, ou seja, entre suas competências e desenvolturas para desempenhar as tarefas que lhe cabem e as exigências de seu ambiente de trabalho. Nesse sentido a exposição continuada às condições iniciais do processo de estresse pode levar o individuo a apresentar problemas físicos, psicológicos ou comportamentais. A um nível físico é possível à ocorrência de uma variedade de sinais ou sintomas de estresse, como por exemplo, dores de cabeça, ranger de dentes, dores nos ombros, pescoço e dorso, ganho ou perda de peso, náuseas, ulcera péptica, impotência, diarreia ou constipação, falta de ar, palpitações cardíacas e aumento da tensão arterial. A um nível psicológico pode ocorrer, ansiedade, depressão e insônia. E, que o estresse também pode afetar o comportamento do individuo originando 21 outros sintomas como, tiques nervosos, incapacidade de relaxar, chorar a toa, fadiga crônica, perda de eficiência no trabalho, negligencia, fumar e beber em excesso, (HESPANHOL, 2005). Segundo Lazarus (1995), a simples presença de eventos estressores em determinado contexto no qual o indivíduo esteja inserido, não caracteriza um fenômeno de estresse já que os fatores cognitivos têm um papel central no processo que ocorre entre os estímulos potencialmente estressores e as respostas do indivíduo a eles. Desta forma, a existência de um evento potencialmente estressor na organização não quer dizer que ele será percebido desta forma pelo empregado, já que características situacionais e pessoais podem interferir no julgamento do mesmo. Caplan (1983) considera o estresse ocupacional como o resultado de um desajuste entre o que a pessoa tem e o que o trabalho lhe fornece, isto é, entre os recursos pessoais que ela dispõe para desempenhar as tarefas que lhe competem e as demandas do contexto de trabalho. O estresse ocupacional pode ser definido, portanto, como um processo em que o indivíduo percebe exigências do trabalho como estressores, os quais, ao exceder sua habilidade de enfrentamento, provocam no sujeito reações negativas (TRINXET & CVITANIC, 2003). Estresse ocupacional pode também ser definido como "prejudiciais respostas físicas e emocionais que ocorrem quando as exigências do trabalho não corresponder às capacidades, recursos ou necessidades do trabalhador”. Se sua causa é contínua produz efeitos patológicos, com efeitos “físicos - doenças cardiovasculares, obesidade, asma, úlceras pépticas, artrite reumatóide - e os efeitos psicológicos - os sintomas cognitivos (insatisfação com o trabalho, dificuldade de concentração), sintomas emocionais (ansiedade, raiva, depressão) e sintomas somáticos (dores de cabeça, transpiração, tonturas) e sintomas comportamentais (uso de álcool e drogas, a redução no desempenho do trabalho, aumento dos níveis de absentismo ou licença médica, o aumento no número de on-the-job acidentes e rotatividade de pessoal de alta)” (SAMPAIO, 2013). De acordo com Albrecht (1988) os fatores que mais frequentemente contribuem para o estresse podem ser agrupados em três tipos de fatores: físicos, sociais e emocionais. Dentre os fatores físicos o autor inclui quantidade excessiva de calor, frio, umidade, secura, barulho, vibração, poluidores do ar, lesões físicas, sol forte, radiação ultravioleta ou infravermelha, máquinas perigosas, animais 22 perigosos e substâncias potencialmente explosivas ou tóxicas. Quanto aos fatores sociais encontram-se chefia colegas de trabalho, clientes, pessoas perigosas ou potencialmente perigosas, investigação pública das atividades da pessoa, grupos aos quais se devam prestar contas. E por último estão os fatores emocionais, que podem ser prazos, risco percebido de lesão física, risco financeiro pessoal, medo de perder status ou autoestima, expectativa de fracasso e expectativa de desaprovação de outras pessoas importantes. Biehl (2009) avaliou como base para o desencadeamento do estresse os padrões de conduta, status e prestigio do trabalhador, definidos pela convivência e participação em determinados grupos, cuja dinâmica de funcionamento cobra parâmetros de comportamento culturalmente determinado pelos participantes, a não efetivação de certos desempenhos gera frustrações favorecendo o estresse. Para o autor, o estresse parte de um estressor que é a passagem vivenciada pelo individuo com anseios dispersos, dentre eles está tensão, ansiedade, medo, ou sentimento de ameaça – e a qualidade da força do estresse deve ser considerada pela percepção dos fenômenos estressores e seu enredamento na vida do individuo. Hespanhol, (2005) afirma que o estresse ocupacional constante e não aliviado provoca o burnout, o qual por sua vez provoca a insatisfação e ineficácia profissional assim como ao absentismo. Portanto o burnout é nada mais que o efeito incapacitante de uma exposição prolongada a condições de estresse no trabalho. 2.3 Síndrome de Burnout A síndrome de Burnout consiste em uma expressão inglesa para designar aquilo que deixou de funcionar por exaustão de energia, e foi utilizada inicialmente por Brandley (1969), mas veio a se tornar mundialmente conhecida a partir dos artigos de Freudenberger de 1974, 1975 e 1979, médico, psicanalista que teve uma vida profissional com muitas frustrações e dificuldades que o levaram a exaustão física emocional, (BENEVIDES-PEREIRA e GARCIA, 2003; CARLOTO e CÂMARA, 2008). Carloto e Câmara, (2008) afirmam que o termo Burnout foi utilizado pela primeira vez em 1953 numa publicação de estudo de caso de Schwartz e Will, conhecido por “Miss Jones”. E, descrevem o problema de uma enfermeira psiquiátrica que desiludiu com seu trabalho. Em 1960, Graham Greene publica outro trabalho designado de “A burn Out Case” quando relata o caso de um arquiteto que 23 abandonou sua carreira por está desanimado com a profissão. A descrição destes sintomas são os que se conhece hoje como Burnout. Para Willenburg e Klein (2009), o termo burnout é de origem inglesa, composta por duas palavras Burn que significa “queimar” e Out que quer dizer “fora”, ”exterior”, o que significa “queimar para fora” ou “consumir-se de dentro para fora”, podendo ser mais bem compreendido como “combustão completa” que se inicia com os aspectos psicológicos e culmina em problemas físicos, comprometendo todo o desempenho das pessoas. O Burnout no trabalho é uma síndrome psicológica que envolve uma reação prolongada aos estressores interpessoais crônico. As três dimensões desta reação são uma exaustão avassaladora, sensação de descrença e desligamento do trabalho, uma sensação de falta de eficiência de realização no ambiente laboral. Esta definição é uma descrição mais ampla do modelo multidimensional que foi predominante no campo do burnout. (SILVA, 2000). Benevides-Pereira e Garcia (2003) comunicam que o inicio do burnout é insidioso e traiçoeiro. Ele se instala silenciosa e progressivamente e assim ocorre uma sensação de mal estar indefinido, físico ou mental, sintomas esses que são atribuídos pela pessoa ao excesso de trabalho que estão realizando, não se dando conta que estão adoecendo. Benevides-Pereira (2010) afirma que os sintomas mais frequentes associados ao burnout são: Físicos: fadiga constante e progressiva, distúrbios do sono, dores musculares ou osteomusculares, cefaléias, enxaquecas, perturbações gastrointestinais, imunodeficiência, transtornos cardiovasculares, distúrbios do sistema respiratório, disfunções sexuais, alterações menstruais nas mulheres; psíquicos: falta de atenção e concentração, alterações de memória, lentidão do pensamento, sentimento de alienação, sentimento de solidão, impaciência, sentimento de insuficiência, baixa autoestima, labilidade emocional, dificuldade de auto-aceitação, astenia, desanimo, disforia, depressão, desconfiança, paranoia; comportamentais: negligencia ou excesso de escrúpulos, irritabilidade, incremento da agressividade, incapacidade para relaxar, dificuldade na aceitação de mudanças, perda de iniciativa, aumento do consumo de substancias, comportamento de alto risco, suicídio; defensivos: tendência ao isolamento, sentimento de onipotência, perda de interesse pelo trabalho (ou até pelo lazer), absenteísmo, ironia, cinismo. 24 Segundo Rocha (2005), apesar da síndrome ser bastante semelhante ao estresse, não deve ser confundido com o mesmo. O Burnout é muito mais perigoso para a saúde. No estresse existem maneiras de controlá-lo. Como exemplo, um trabalhador estressado quando tira férias volta novo para o trabalho, mas isso não acontece com um trabalhador que esteja sofrendo a Síndrome de Burnout. Assim que ele retorna ao trabalho os problemas voltam a surgir novamente. A Síndrome de Burnout é considerada um problema social de grande relevância, e vem sendo pesquisada em vários países, uma vez que se encontra vinculado a grandes custos organizacionais. Alguns destes custos referem-se à rotatividade de pessoal, absenteísmo, problemas de produtividade e qualidade, como também o surgimento de graves problemas físicos e emocionais, podendo levar o trabalhador a total incapacidade para o trabalho, (CARLOTO e CÂMARA, 2008). 2.4 Fatores de Estresse O estresse e fatores psicossociais foram motivos de pesquisa de Reis (2010), apontando que, com as inovações tecnológicas, econômicas e sociais tem havido um grande impacto na vida das organizações – com impactos diretos na integridade e saúde do trabalhador. Para atender tal mudança em um cenário cada vez mais instável e imprevisível, os grupos gerenciais tem desenvolvido uma estrutura que privilegie o dinamismo, flexibilidade, a participação do trabalhador, além do incremento da velocidade, da polivalência e rotação de tarefas e rotação de tarefas em busca da constante superação. Biehl (2009) associa o estresse entre a pessoa, o ambiente e as circunstancias a qual está submetida, em que a demanda é maior que as habilidades ou recursos que o individuo possui, sendo incapaz de avaliar e encarar os estressores, favorecendo determinantemente o desenvolvimento do estresse e do estresse ocupacional, em que o individuo qualifica o ambiente como ameaçador, em consequência disso os desejos inerentes a realização pessoal e profissional estão ameaçados causando desequilíbrio em sua saúde física e mental. A cultura e a função organizacional têm como categoria associada principalmente à deficiência na comunicação, suporte precário para resolução de problemas e para o desenvolvimento pessoal e indefinição de objetivos 25 organizacionais. O que pode provocar na equipe desenvolvimento das atividades com ineficiência, comunicação deficitária, desorganização do trabalho, insatisfação e diminuição da produtividade. A função ou papel na organização tem sido categorias de estudos. Pesquisas que enfocam riscos psicossociais relacionados ao estresse no trabalho têm se apoiado na “teoria de papéis”. Papel é toda função acompanhada de um conjunto mais ou menos característico de condutas próprias para uma função que se desempenha em um momento da vida. O conflito de papéis ocorre quando um indivíduo é solicitado a fazer uma atividade que não está de acordo com os seus valores, ou quando várias funções a serem realizadas são incompatíveis. A "ambiguidade de papéis" ocorre quando há falta de clareza das expectativas do trabalho e de certeza sobre suas responsabilidades. Dessa forma, o ambiente de trabalho pode gerar falta de confiança, insegurança, irritação, pouca tolerância e até mesmo rejeição, tornando-se fator gerador de estresse (CAMELO; ANGERAMI, 2013). A categoria de Desenvolvimento de carreira traz como fatores de risco as questões relativas à estagnação e incerteza na carreira, baixo salário, insegurança e pouco valor social do trabalho. Outra categoria semelhante de estressores psicossociais foi identificada por outros autores, que a denominou de desempenho profissional e nela incluiu riscos psicossociais como: trabalho com alto grau de dificuldade; trabalho com grande demanda de atenção; atividades de grande responsabilidade; funções contraditórias; criatividade e iniciativa restringidas; exigência de decisões complexas; mudanças tecnológicas intempestivas; ausência de plano de vida laboral e ameaça de demandas laborais (CAMELO; ANGERAMI, 2013). Quanto à decisão e controle, a pouca participação do trabalhador nas decisões e a falta de controle sobre o trabalho constitui-se em condições de risco psicossocial evidenciada no contexto do trabalho. Alguns pesquisadores consideram que, quanto menor a autonomia ou controle do trabalhador na organização de sua atividade, maior a possibilidade de que a atividade gere transtorno à sua saúde mental. A Interface trabalho-família é considerada de grande importância como risco psicossocial no trabalho, pois a esta categoria estão relacionadas questões como conflitos nas exigências do trabalho e do lar e pouco suporte no lar. 26 Longas jornadas, ou atuação em dois ou mais empregos, provocam um distanciamento do trabalhador em relação a sua família, tornando-o alienado, irritado e estressado, podendo assim apresentar sentimentos de culpa por não estar em casa para cuidar das crianças; ressentimento por não ficar tempo suficiente com a família; ausência de vida social em virtude de horas de trabalho extremamente longas; exigências dos parentes dependentes em conflito com as responsabilidades do trabalho; remuneração insuficiente para cobrir os gastos pessoais ou para satisfazer o estilo de vida desejado (CAMELO; ANGERAMI, 2013). Os resultados de uma pesquisa relacionando à influência da interferência família/trabalho sobre o estresse ocupacional revelaram que esta pode favorecer o aparecimento de estressores organizacionais e influenciar afetos e cognições, que por sua vez, levam à percepção de demandas do trabalho como estressores (CAMELO; ANGERAMI, 2013). Ao considerarmos carga e ritmo trabalho, a sobrecarga ou a baixa carga de trabalho, a falta de controle sobre as atividades laborais e altos níveis de pressão são riscos psicossociais relacionados ao trabalho, incluídos nesta categoria, que podem levar ao estresse. Existem duas questões relacionadas aos efeitos do esquema de trabalho na saúde: mudança no esquema ou função no trabalho, e longas horas de trabalho. O excesso de horas trabalhadas reduz a oportunidade de apoio social ao indivíduo, causando insatisfação, tensão e outros problemas de saúde. O fato de um indivíduo ser geralmente capaz de lidar com determinada carga de trabalho, por si só, não significa que ele possa sempre caminhar naquele ritmo sem períodos de restabelecimento. Os fatores de estresse durante o trabalho pode provocar um envelhecimento funcional do trabalhador, o que podem gerar uma perda precoce de capacidade de trabalho. Esses fatores, juntamente com as características pessoais e profissionais podem influenciar a saúde, a capacidade de trabalho, eficiência e produtividade do trabalhador. As boas condições de trabalho e um estilo de vida saudável permitem a manutenção da saúde e capacidade para o trabalho ao longo da idade avançada. Portanto, uma avaliação sistematizada da capacidade para o trabalho é necessária para identificar possíveis agentes associados a sintomas de trabalho, lesões, doenças e estresse para que medidas preventivas e / ou corretivas possam ser implementadas (SAMPAIO, 2013). 27 Para Sousa et. al. (2009) o ambiente profissional é colocado como espaço que não é propenso a realização pessoal, o que gera desgastes físicos e emocionais, designados estresse ocupacional, este é resultado de certa quantidade de fenômenos que agem sobre o trabalhador. Esses fatores contribuem para o aumento da tensão emocional levando o individuo ao estresse crônico, e dependendo das estratégias de enfrentamento (coping) utilizadas por ele nos problemas relacionados ao trabalho podem levar-lhe ao desenvolvimento de burnout. Os mecanismos utilizados pelo individuo para lidar com a situação de estresse são concomitantemente psicológicas, envolvendo mecanismos cognitivos e fisiológicos através da ativação do sistema nervoso central e autônomo. Se a forma como o individuo lida com a situação não for eficaz, o estresse torna-se prolongado podendo ocorrer respostas insatisfatórias que por sua vez podem conduzir a danos funcionais e estruturais. E, o individuo ao tentar se adaptar a uma nova situação seja ela agradável ou desagradável desenvolve um conjunto de reações tentando manter o equilíbrio interno, esta é uma necessidade de adaptação que o individuo tem de voltar a estabelecer a normalidade de antes do evento, se este mecanismo desequilibra, desencadeia-se o estresse e surge a resposta do individuo ao estresse, sendo esta uma tentativa de lidar com o problema, (CAÇOILAS, MELO, RODOLFO, 1993). Para Areias e Comandule (2004) os trabalhadores em sua grande maioria sofreram, sofrem ou sofrerá situações de descontentamento, de desgaste emocional, de sentimento de injustiça e conflitos interpessoais no campo do trabalho, gerando assim altos custos ao individuo e as organizações interferindo em sua qualidade de vida. E, afirmam que no contexto do trabalho os fatores de risco são os problemas com a credibilidade, disponibilidade, conservação ou reparação do equipamento e das instalações, falta de variedade, trabalho fragmentado, não usar a inteligência, alto nível de insegurança, sobrecarga de trabalho ou quantidade de trabalho insuficiente, pressão relativos ao acordo para conclusão das tarefas, trabalho por turnos, horários rigorosos, horas irregulares, períodos longos ou fora do normal. 28 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Ética Antes da pesquisa, foi pedido autorização ao Secretário Municipal de Obras, assim como esclarecimento da finalidade da mesma. O presente estudo procurou atender o que apregoa a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde. Os quatro princípios básicos da bio-ética – voluntariado, beneficência, não maleficência e justiça – nortearam toda a abordagem aos sujeitos. Todos os participantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa, que não incorriam em nenhum tipo de risco e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi lido e teve a anuência assinada dos sujeitos da pesquisa. 3.2 Tipo de Pesquisa A presente pesquisa trata-se de um estudo descritivo a fim de levantar as principais causas que geram estresse, transversal com abordagem quantitativa e as informações obtidas através do ISSL. 3.3 Universo O presente estudo abrangeu a Secretaria Municipal de Obras de Alcinópolis – MS. Os motoristas trabalham tanto na zona urbana, quanto na rural. 3.4 Sujeitos da Amostra Abordou-se 10 pessoas por conveniência, com participação voluntária. Todos os participantes foram predominantemente do sexo masculino, faixa etária de 43 anos e escolaridade nível fundamental. 3.5 Instrumentos de Coleta de Dados Os instrumentos utilizados para a coleta de dados foram roteiro de entrevistas através de um questionário com perguntas semi-estruturadas a respeito dos fatores de estresse conforme percebidos pelos motoristas. Apresentou-se uma definição 29 simples de estresse aos motoristas e em seguida os mesmos descreveram fatos ou situações do dia-a-dia que provocam, na opinião deles, estresse. Posteriormente havia uma questão para que os entrevistados relatassem se estava passando por algum problema fora da situação de trabalho que lhes estivessem causando estresse e qual era este problema. Além disso, no próprio questionário haviam perguntas para colher dados pessoais e profissionais, tais como idade, escolaridade, tempo de serviço, estado civil, problemas de saúde, carga horária, número e idade de filhos. Para melhor compreensão da pesquisa, lançou-se mão do instrumento estandardizado e validado para a população brasileira, o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos (ISSL), (Lipp, 2000). 3.6 Plano para Coleta dos Dados As informações foram coletadas pessoalmente entre os meses de maio a agosto de 2012. O local de coleta foi o galpão da Secretaria municipal de Obras do Município de Alcinópolis- MS, onde os 10 (dez) participantes da pesquisa responderam devidamente o questionário e o Inventário de Sintomas de Stress para Adultos (ISSL). 3.7 Plano para a Análise do Dados Os dados foram tabulados e analisados em planilha do Microsoft Office Excel 2007. A parte qualitativa recorreu se a análise de conteúdo enquanto técnica para dar sentido às falas dos sujeitos entrevistados. 30 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente, buscou-se conhecer e compreender na primeira parte deste estudo as principais causas que geram estresse em motoristas da Secretaria Municipal de Alcinópolis - MS através de entrevistas efetuadas no local de trabalho, tendo como roteiro duas questões abertas. A primeira questão da entrevista tinha como objetivo identificar as principais causas que geravam estresse. Os 10 participantes da pesquisa forneceram aproximadamente 50 respostas que foram classificadas em 5 categorias. Posteriormente buscou-se compreender um pouco mais do público entrevistado, tais como níveis de escolaridade e idade média dos mesmos. As cinco categorias que surgiram foram: (1) relacionamentos sociais; (2) condições do ambiente do trabalho; (3) baixo poder de decisão; (4) insegurança e (5) problemas pessoais, conforme demonstra na distribuição do gráfico 01. Gráfico 01. Categorias entrevistados. que surgiram como principais causa de estresses nos Fonte: Dados da Pesquisa. Alcinópolis- MS. 2013. Verifica-se que os dez entrevistados citaram como causas de estresses as relações sociais, as quais foram ressaltadas por eles como a falta de comunicação 31 entre os próprios colegas e chefia, críticas da sociedade, visto que são cobrados o tempo todo por não ter arrumado a rua, ou aguado a mesma (já que muitas ruas do município não tem pavimentação. Citaram também condições do ambiente de trabalho como uma causa de estresses, citando as condições dos automóveis, hospedagem em fazendas (favores), além de perseguição política. A cultura na cidade é que se não apoiar o efetivo, é mandado para a Secretaria de obras, visto por eles como um castigo já que precisam passar dias em trechos sem voltar para casa, arrumando estradas, pontes, ausentando assim de seus lares. Dos entrevistados, apenas 05 responderam baixo poder de decisão como fatores de estresses, entendidos pelos que assinalaram a questão como pressão e cobrança, visando as escalas de trecho. Todos os entrevistados citaram a insegurança e problemas pessoais como fatores de estresses. A insegurança eles ressaltam pela falta de companheirismo entre funcionário e chefia, alem de se exporem a vários riscos com as máquinas e caminhões. Quanto aos problemas pessoas, apontaram dívidas, salários e problemas familiares. No gráfico 02 observamos que a idade média dos motoristas entrevistados é de 43,4 anos. Gráfico 02. Idade média dos entrevistados. Fonte: Dados da Pesquisa. Alcinópolis- MS. 2013. 32 No gráfico 03 verifica-se que 50% dos entrevistados possuem ensino fundamental completo, 20% fundamental incompleto, 20% médio incompleto e 10% médio completo. Níveis superiores incompletos e completos não foram apontados. Gráfico 03. Escolaridade dos entrevistados. Fonte: Dados da Pesquisa. Alcinópolis- MS. 2013. De forma geral os dados apresentaram as principais causas de estresse nos motorista entrevistado. Pode-se afirmar que o presente trabalho trouxe dados interessantes sobre as causas de estresse no trânsito, e que podem indicar a necessidade de implementação de políticas públicas educativas voltadas para os funcionários de todas as secretarias que tenham como cargo motorista de transporte leve e pesado, além de cursos, tendo em vista que o comportamento humano no trânsito é tido tanto como agente, quanto receptor, de situações de estresse. 33 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Objetivou-se identificar as principais causas de estresse apresentados no trânsito por funcionários públicos da secretaria municipal de obras no município de Alcinópolis – MS. As cinco categorias que surgiram foram: relacionamentos sociais; condições do ambiente do trabalho; baixo poder de decisão; insegurança e problemas pessoais. Os motoristas de modo geral enfrentam um trabalho exaustivo, comprometendo não somente a sua saúde como também a segurança de passageiros e pedestres. Esse profissional exerce suas atividades num ambiente público, estando sujeito às alterações climáticas, às condições de tráfego e do trajeto das vias urbanas. Assim, ao apontar as principais causas de estressores citados espontaneamente pelos motoristas com a avaliação do estresse através do ISSL, observou-se relação entre a presença ou não de estresse e as categorias Relacionamentos Sociais e Baixo poder de decisão. Uma possível explicação para esta relação pode ser o fato de que quando o motorista se depara com uma situação desagradável devido ao comportamento, ele encontra-se limitado em sua ação, não tendo muitos recursos para lidar com a situação. O motorista está restrito em seus movimentos por estar sentado e em um espaço pequeno, está sendo observado por todos e qualquer reação negativa por parte do motorista poderá ser alvo de reclamação. Ou seja, tem poucas estratégias de coping possíveis em certas situações. Também a insegurança para resolver os problemas do cotidiano, parece ser uma forte fonte de pressão (MEIJMAN & KOMPIER, 1998). No que se refere à vivência de outros fatores de estresse, os motoristas entrevistados afirmaram estarem passando por alguma situação de estresse fora do trabalho. Foi visto que a maior parte dos problemas citados referiu-se a aspectos financeiros. Quando as dificuldades financeiras representem uma situação que atinge e incomoda uma proporção maior de motoristas, existem algumas alternativas para minimizar o problema, como palestras sobre administração das finanças domésticas ou sessões de aconselhamento financeiro. Alem disso, os problemas familiares poderiam ser amenizados através de palestras e grupos de auto ajuda ofertados por psicólogos da saúde do município. Como foi visto o estresse é um fenômeno multideterminado e gerador de inúmeras consequências negativas tanto a nível individual quanto organizacional. 34 Portanto, tentativas para erradicá-lo ou ao menos minimizar os seus efeitos somente serão efetivas a partir de uma real preocupação e envolvimento por parte das empresas, sejam elas privadas ou públicas, e também de seus funcionários, com ações sobre os múltiplos aspectos e determinantes do estresse. É importante que sejam desenvolvidos conhecimentos acerca dos fatores de estresses em outras categorias de profissionais, de modo que maiores informações possam ser transmitidas aos profissionais na tentativa de uma melhoria na qualidade de vida no ambiente de trabalho. 35 REFERÊNCIAS ALBRECHT, K. (1988). O gerente e o estresse: faça o estresse trabalhar por você. Rio de Janeiro: Zahar. ALMEIDA, N. D. V. (2002). Contemporaneidade X Trânsito: reflexão psicossocial do trabalho dos motoristas de coletivo urbano. 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São Paulo, Brasiliense: 1998. 41 APÊNDICE QUESTIONÁRIO 1- IDADE: __________ 2- ESTADO CIVIL: ( ) Solteiro ( ) Casado / Amasiado ( ) Viúvo / Separado / Divorciado 3- ESCOLARIDADE: ( ) Ensino fundamental incompleto ( ) Ensino fundamental completo ( ) Ensino médio incompleto ( ) Ensino médio completo ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo 4- TEMPO DE TRABALHO: _____ anos e ___ meses 5- CARGA HORÁRIA DE TRABALHO: ( ) ATÉ 8 horas por dia ( ) MAIS de 8 horas por dia 6- JÁ TEVE ALGUM PROBLEMA DE SAÚDE DEVIDO AO TRABALHO? ( ) Não ( ) Sim Qual? ________________________________________________________ 42 Esta pesquisa tem o objetivo de descobrir as principais causas que geram estresses nos funcionários motoristas da Secretaria Municipal de Obras de Alcinópolis - MS. O estresse é definido como “uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, que ocorrem quando a pessoa enfrenta uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que a faça feliz”. Identifique aqui o que mais lhe causa estresse (trânsito, condições de trabalho, problemas pessoais, salário, etc.) __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ Fora da situação de trabalho você está passando por algum problema que está lhe causando estresse? ( ) SIM ( ) NÃO Se sim, qual é este problema? __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 43 ANEXO 44