Texto de apoio ao curso de especialização Atividade física adaptada e saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira HIPOGLICEMIA REATIVA Prof. Dr. José de Felipe Junior A hipoglicemia reativa ou funcional está atingindo proporções epidêmicas nos EUA e no Brasil, onde são exagerados o consumo de carboidratos refinados como o açúcar e a farinha branca e os alimentos processados. Em recente entrevista envolvendo 134.000 pessoas da população norte americana, cerca de 50% apresentaram respostas espontâneas de alguma manifestação hipoglicêmica. As manifestações clínicas da hipoglicemia funcional se manifestam em crise , particularmente em períodos prolongados de jejum ou desencadeadas pela ingestão de carboidratos refinados. Manifestações gerais: - vontade exagerada de comer doces - tontura, zonzeira, vertigem - suores noturnos - fraqueza - falta de energia - acordar com dor de cabeça de madrugada - sensação de calor no corpo Humor - ansiedade / apreensão - irritabilidade - inquietação / impaciência - labilidade emocional , sem motivo aparente Sistema Nervoso Central - confusão mental 1 de labirintite Neuro – muscular - caimbra noturna nas pernas e pés - dores nas pernas - formigamento / adormecimento : mãos ou pés - sonolência / atordoamento - sono irresistível que vem de repente e fora de hora - diminuição da memória em crise - diminuição da concentração em crise - desmaio - síndrome do pânico - crise - dor lombar - dores musculares Dor de cabeça - dor de cabeça pela manhã ao levantar - dor de cabeça em crise, no final tarde ou quando com fome Trata-se de um problema dificilmente diagnosticado pelos médicos em geral. As pessoas passam pela adolescência, por exemplo, com dores de cabeça diagnosticada como " enxaqueca" , tomando vários tipos de analgésicos até o dia em que se descobre o verdadeiro motivo: hipoglicemia funcional. O diagnostico é confirmado com curva glicêmica prolongada até 5 horas. Não adiantam as curvas até somente a terceira hora. O diagnostico é feito quando ocorre uma queda igual ou superior a 20 mg% em relação ao valor inicial. Lembrar que em 20% dos pacientes com hipoglicemia a curva glicêmica se comporta como normal , atestando mais uma vez que a clínica é sempre soberana. O tecido cerebral depende primariamente de glicose para produzir energia e sabe-se, há muito tempo, da consistente associação entre os sintomas de neurose e os de hipoglicemia reativa. Podemos encontrar depressão, ansiedade, insônia, irritabilidade, fobias, pânico, falta de 2 concentração e confusão mental. Acompanhando estes sintomas estão: fadiga, sudorese, taquicardia, indigestão crônica e diminuição do apetite. Muito importantes são a dor de cabeça, a tontura, a sensação de desmaio, as dores musculares e as dores lombares. Alguns autores chegam a firmar que um terço das pessoas que procuram seu médico sofrem de hipoglicemia não diagnosticada. Roberts, em 1971, analisando 421 pacientes com diagnostico de enxaqueca severa e outros tipos de cefaléia de origem vascular refratários à terapia habitual constatou que: 1- 226 pacientes (54%) apresentavam hipoglicemia no teste de tolerância a glicose (TTG) de 5 horas de duração. 2- 155 pacientes (37%) apresentavam sinais e sintomas de hipoglicemia reativa, porém com TTG normal. Os sintomas clínicos eram típicos de crise hipoglicemica, 2 a 5 horas após a alimentação com pronto alívio com a ingestão de açúcar. 3- 40 pacientes (9%) não apresentavam hipoglicemia. Este trabalho nos mostra que 91% desse grupo de pacientes com cefaléia apresentavam hipoglicemia reativa. Os pacientes com hipoglicemia estudados por Roberts apresentaram os seguintes sinais de sintomas: 90% - Narcolepsia: sono irresistível ou sono inapropriado 56% - edema recorrente 50% - caimbras espontâneas e dores nas pernas 46% - obesidade 32% - neuropatia periférica: formigamento dos dedos das mãos e dos pés 30% - ansiedade, depressão ou ambos pouco responsivos a medicamentos ou à psiquiatria 15% - angina pectoris e arritmias 12% - úlcera péptica 7% - alcoolismo É interessante notar neste estudo a necessidade de prolongar-se o teste de tolerância à glicose até à 5ª hora e que este teste pode ser normal mesmo na presença de sintomas típicos de 3 hipoglicemia, isto é, ele pode dar falsos negativos. Neste estudo os falsos negativos foram de 155 em 381 pacientes ou 41% dos casos. Os pacientes que nos procuram com essa disfunção, geralmente mulheres, não sabem por onde começar a contar suas queixas. Dizem possuir todas as doenças e que já procuraram vários médicos, sem nenhum resultado. Uma anamnese dirigida e um alto grau de suspeição em muito nos será útil. No Brasil, nas classes média e alta, também é elevada a incidência de hipoglicemia reativa. Muitas vezes as pessoas contam espontaneamente que não podem viver sem o açúcar e que possuem verdadeira compulsão para doces e alimentos açucarados. É muito freqüente encontrarmos dores de cabeça de madrugada ou ao acordar pela manhã; sudorese inexplicada; palpitação e tremores de madrugada ou no cair da tarde, isto é, longe da última refeição. A queda do rendimento intelectual e o sono fora de propósito no horário vespertino, tonturas inexplicadas, sensação de desmaio ou de "apagamento" da consciência também são achados comuns. O paciente refere que está com a pilha fraca ou está trabalhando com a energia em meia fase. Não é raro encontramos diabéticos na família. Devemos estar atentos e alertas para não deixar passar despercebido este diagnóstico, que apesar de muito freqüente nas consultas de medicina interna, nós médicos não estamos lhe dando o merecido valor. No tratamento, além das clássicas 6 refeições ao dia, ricas em proteina e pobres em carboidratos refinados, é util acrescentar o dinicotinado glicinato de cromo 200 microgramas 3 vezes ao dia no 1º mês, e após, 2 vezes ao dia por mais 2 meses. Alguns preferem o cromo na forma de picolinato. É provável que existam vantagens concretas no uso do cromo picolinato. Não devemos nos esquecer dos suplementos com magnésio, zinco e manganês. Muitas vezes fica difícil para o paciente entender o que está acontecendo. O carboidrato refinado quando ingerido passa rapidamente para o duodeno e estimula a produção de insulina pelo pâncreas. No paciente com hipoglicemia funcional esta produção de insulina é exagerada e assim duas a cinco horas depois provoca a hipoglicemia. A não ingestão de refinados não estimula exageradamente o pâncreas e controla o problema. A ingestão de alimentos cada 3 a 4 horas também impede a queda da glicêmia no sangue. Desta maneira para previnirmos a queda da glicemia evitamos o açucar branco. Entretanto , se acontecer os sinais e sintomas de hipoglicemia , deve-se ingerir o açúcar branco ou mel para elevar a glicose no sangue e sair da crise hipoglicêmica. 4 Referências Bibliográficas 1- Chandler, PT: Na update on reactive hypoglycemia. AFP , 16(5):113,1977. 2- Fajans, SS : Fasting hypoglycemia in adults. N.Engl.J.Med.,766(294):14,1976 3- Fabrykant, M: The problem of functional hyperinsulinism or functional hypoglycemia attrbuted to nervous causes. Metabolism , 4:469,1955 4- Felippe, J. Jr. : Estados hipoglicêmicos. In Pronto Socorro: fisiopatologia, diagnóstico e tratamento. Ed. Guanabara Koogan, 540-544, 1990. 5- Felippe, J. Jr: hipoglicemia reativa, uma verdadeira epidemia. Revista da sociedade Brasileira de Medicina Biomolecular e Radicais Livres. 1(1): 8-9,1994. 6- Leggett,J & Favazza,AR: Hypoglycemia: na overview. J. Clin. Psychiatry, 78:51,1978. 7- Permutt, MA: Post prandial hypoglycemia. Diabetes, 719:25(8),1978. 8- Roberts, H. J: The causes, ecology and prevention of traffic accidents. Springfield, Illimons. CC Thoms, 1971. 5