Hipoglicemia Reativa - Associação Brasileira de Medicina

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Hipoglicemia Reativa
José de Felippe Junior
A hipoglicemia reativa ou funcional está atingindo proporções epidêmicas nos EUA e no Brasil, onde são exagerados o consumo
de carboidratos refinados como o açúcar e a farinha branca e os alimentos processados. Em recente entrevista envolvendo 134.000
pessoas da população norte americana, cerca de 50% apresentaram respostas espontâneas de alguma manifestação hipoglicêmica.
As manifestações clínicas da hipoglicemia funcional se manifestam em crise , particularmente em períodos prolongados de jejum
ou desencadeadas pela ingestão de carboidratos refinados.
Manifestações gerais:
- vontade exagerada de comer doces
1.
2.
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4.
5.
6.
tontura, zonzeira, vertigem
suores noturnos
fraqueza
falta de energia
acordar com dor de cabeça de madrugada
sensação de calor no corpo
Humor
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4.
ansiedade / apreensão
irritabilidade
inquietação / impaciência
labilidade emocional , sem motivo aparente
Sistema Nervoso Central
1.
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5.
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8.
confusão mental
sonolência / atordoamento
sono irresistível que vem de repente e fora de hora
diminuição da memória em crise
diminuição da concentração em crise
desmaio
síndrome do pânico
crise de labirintite
Neuro - muscular
1.
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3.
4.
5.
caimbra noturna nas pernas e pés
dores nas pernas
formigamento / adormecimento : mãos ou pés
dor lombar
dores musculares
Dor de cabeça
1. dor de cabeça pela manhã ao levantar
2. dor de cabeça em crise, no final tarde ou quando com fome
Trata-se de um problema dificilmente diagnosticado pelos médicos em geral. As pessoas passam pela adolescência, por exemplo, com
dores de cabeça diagnosticada como " enxaqueca" , tomando vários tipos de analgésicos até o dia em que se descobre o verdadeiro
motivo: hipoglicemia funcional. O diagnostico é confirmado com curva glicêmica prolongada até 5 horas. Não adiantam as curvas até
somente a terceira hora. O diagnostico é feito quando ocorre uma queda igual ou superior a 20 mg% em relação ao valor inicial. Lembrar
que em 20% dos pacientes com hipoglicemia a curva glicêmica se comporta como normal , atestando mais uma vez que a clínica é
sempre soberana.
O tecido cerebral depende primariamente de glicose para produzir energia e sabe-se, há muito tempo, da consistente associação
entre os sintomas de neurose e os de hipoglicemia reativa. Podemos encontrar depressão, ansiedade, insônia, irritabilidade, fobias, pânico,
falta de concentração e confusão mental. Acompanhando estes sintomas estão: fadiga, sudorese, taquicardia, indigestão crônica e
diminuição do apetite. Muito importantes são a dor de cabeça, a tontura, a sensação de desmaio, as dores musculares e as dores
lombares.
Alguns autores chegam a firmar que um terço das pessoas que procuram seu médico sofrem de hipoglicemia não diagnosticada.
Roberts, em 1971, analisando 421 pacientes com diagnostico de enxaqueca severa e outros tipos de cefaléia de origem vascular
refratários à terapia habitual constatou que:
1. 226 pacientes (54%) apresentavam hipoglicemia no teste de tolerância a glicose (TTG) de 5 horas de duração.
2. 155 pacientes (37%) apresentavam sinais e sintomas de hipoglicemia reativa, porém com TTG normal. Os sintomas clínicos eram
típicos de crise hipoglicemica, 2 a 5 horas após a alimentação com pronto alívio com a ingestão de açúcar.
3. 40 pacientes (9%) não apresentavam hipoglicemia.
Este trabalho nos mostra que 91% desse grupo de pacientes com cefaléia apresentavam hipoglicemia reativa.
Os pacientes com hipoglicemia estudados por Roberts apresentaram os seguintes sinais de sintomas:
90% - Narcolepsia: sono irresistível ou sono inapropriado
56% - edema recorrente
50% - caimbras espontâneas e dores nas pernas
46% - obesidade
32% - neuropatia periférica: formigamento dos dedos das mãos e dos pés
30% - ansiedade, depressão ou ambos pouco responsivos a medicamentos ou à psiquiatria
15% - angina pectoris e arritmias
12% - úlcera péptica
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- alcoolismo
É interessante notar neste estudo a necessidade de prolongar-se o teste de tolerância à glicose até à 5ª hora e que este teste
pode ser normal mesmo na presença de sintomas típicos de hipoglicemia, isto é, ele pode dar falsos negativos. Neste estudo os falsos
negativos foram de 155 em 381 pacientes ou 41% dos casos.
Os pacientes que nos procuram com essa disfunção, geralmente mulheres, não sabem por onde começar a contar suas queixas.
Dizem possuir todas as doenças e que já procuraram vários médicos, sem nenhum resultado. Uma anamnese dirigida e um alto grau de
suspeição em muito nos será útil. No Brasil, nas classes média e alta, também é elevada a incidência de hipoglicemia reativa. Muitas
vezes as pessoas contam espontaneamente que não podem viver sem o açúcar e que possuem verdadeira compulsão para doces e
alimentos açucarados. É muito freqüente encontrarmos dores de cabeça de madrugada ou ao acordar pela manhã; sudorese inexplicada;
palpitação e tremores de madrugada ou no cair da tarde, isto é, longe da última refeição. A queda do rendimento intelectual e o sono fora
de propósito no horário vespertino, tonturas inexplicadas, sensação de desmaio ou de “apagamento” da consciência também são
achados comuns. O paciente refere que está com a pilha fraca ou está trabalhando com a energia em meia fase. Não é raro encontramos
diabéticos na família.
Devemos estar atentos e alertas para não deixar passar despercebido este diagnóstico, que apesar de muito freqüente nas
consultas de medicina interna, nós médicos não estamos lhe dando o merecido valor. No tratamento, além das clássicas 6 refeições ao
dia, ricas em proteina e pobres em carboidratos refinados, é util acrescentar o dinicotinado glicinato de cromo 200 microgramas 3 vezes
ao dia no 1º mês, e após, 2 vezes ao dia por mais 2 meses. Alguns preferem o cromo na forma de picolinato. É provável que existam
vantagens concretas no uso do cromo picolinato. Não devemos nos esquecer dos suplementos com magnésio, zinco e manganês.
Muitas vezes fica difícil para o paciente entender o que está acontecendo.
O carboidrato refinado quando ingerido passa
rapidamente para o duodeno e estimula a produção de insulina pelo pâncreas. No paciente com hipoglicemia funcional esta produção de
insulina é exagerada e assim duas a cinco horas depois provoca a hipoglicemia. A não ingestão de refinados não estimula
exageradamente o pâncreas e controla o problema. A ingestão de alimentos cada 3 a 4 horas também impede a queda da glicêmia no
sangue. Desta maneira para previnirmos a queda da glicemia evitamos o açucar branco. Entretanto , se acontecer os sinais e sintomas de
hipoglicemia , deve-se ingerir o açúcar branco ou mel para elevar a glicose no sangue e sair da crise hipoglicêmica.
Referências Bibliográficas
1. Chandler, PT: Na update on reactive hypoglycemia. AFP , 16(5):113,1977.
2. Fajans, SS : Fasting hypoglycemia in adults. N.Engl.J.Med.,766(294):14,1976
3. Fabrykant, M: The problem of functional hyperinsulinism or functional hypoglycemia attrbuted to nervous causes. Metabolism ,
4:469,1955
4. Felippe, J. Jr. : Estados hipoglicêmicos. In Pronto Socorro: fisiopatologia, diagnóstico e tratamento. Ed. Guanabara Koogan,
540-544, 1990.
5. Felippe, J. Jr: Hipoglicemia reativa, uma verdadeira epidemia. Revista da sociedade Brasileira de Medicina Biomolecular e Radicais
Livres. 1(1): 8-9,1994.
6. Leggett,J & Favazza,AR: Hypoglycemia: na overview. J. Clin. Psychiatry, 78:51,1978.
7. Permutt, MA: Post prandial hypoglycemia. Diabetes, 719:25(8),1978.
8. Roberts, H. J: The causes, ecology and prevention of traffic accidents. Springfield, Illimons. CC Thoms, 1971.
Prof. Dr. José de Felippe Junior
e-mail: [email protected]
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