O PAPEL DA NUTRIÇÃO NA PREVENÇÃO DO DANO CEREBRAL William W. Hay Jr (USA). XVI CONGRESSO BRASILEIRO DE PERINATOLOGIA Salvador: 21-26 de novembro de 1998 Reprodução realizada pelo Dr. Paulo R. Margotto, neonatologista do Hospital Unimed-Brasília [email protected] www.paulomargotto.com.br Estudos recentes, particularmente o de Ecobar e Sales, publicado no Biol Neonate (1995:68: 47) utilizando modelos animais, demonstraram o papel da má nutrição no crescimento prejudicado das células cerebrais que inclui, não apenas a redução do número, mas também da área dendrítica (há uma redução no número de conexões), resultando no déficit de memória, aprendizado e comportamento. Vejam assim que a nutrição tem um papel importante, principalmente em bebês prematuros com C.I.U.R. (crescimento intra-uterino retardado). O desenvolvimento comportamental e a sua relação com a privação nutricional pode nos levar a pensar na dificuldade em dar causas específicas, como por exemplo, seleção de populações (existem várias causas específicas para cada uma das variantes). Ainda não está bem estabelecido que os micronutrientes, tais como o Zn (zinco), afetam o desenvolvimento neurológico (achamos que sim, pois o Zn é essencial na divisão celular). A proteína, componente essencial no crescimento, é o fator de mais fácil correção bastando que sejam dadas quantidades diárias adequadas. Existem vários estudos da psicologia comportamental em seres humanos e animais que demonstram a melhoria do desenvolvimento neurológico em bebês prematuros alimentados com leite humano. O status sócio-econômico materno tem uma relação direta com o status neurológico do bebê. Não estamos alimentando adequadamente nossos bebês!!! Por quê? O problema principal que temos é que os bebês não crescem muito bem após o nascimento, principalmente os bebês abaixo de 1000g onde o início da nutrição é tardio e os bebês com C.I.U.R onde o crescimento fica bem abaixo das curvas de crescimento intra-uterino. A resultante do desenvolvimento é melhor prevista pelo crescimento da cabeça que pelo crescimento do corpo (o crescimento deficiente da cabeça é a melhor indicação de que você não esta alimentando seu bebê adequadamente). Os seres humanos são os únicos em que, no crescimento cerebral, o máximo ganho está no nascimento. O cérebro é muito vulnerável à desnutrição por ser um dos maiores órgãos do corpo nos seres humanos (é o que nos faz mais espertos entre todos os animais). A glicose é um nutriente essencial ao cérebro. Estudos evidenciam que bebês que apresentam com mais freqüência hipoglicemia evoluem com um quociente de desenvolvimento inferior e um menor quociente intelectual (Lucas–Lancet; 335:1477, 1993Inglaterra). Entretanto é mais provável que estes bebês já tenham nascidos com este comprometimento e a hipoglicemia seja apenas um marcador, sendo diferente daqueles bebês que apresentam hipoglicemia grave com convulsão e coma (representa uma agressão mais grave ao cérebro e necessita de urgente tratamento). Isto é uma relação ou apresenta uma causa- efeito, particularmente penso que representa uma associação: cérebros adultos têm grande capacidade de responder a hipoglicemia crônica (eles supra-regulam ou aumentam a sua capacidade de retirar glicose transportando para o interior dos neurônios para fins de uso energético). O cérebro se adapta aumentando sua capacidade de captar glicose em episódios repetitivos de hipoglicemia. Isto ocorre nos adultos e no feto e prematuro acontece a mesma coisa? Para enfatizar, estudos experimentais sugerem haver um aumento na capacidade transportadora de glicose em resposta a hipoglicemia continuada. Não interprete erroneamente estes achados: a hipoglicemia não é bom e nem deve ser permitida que seja continuada; estes dados apenas nos informam que a hipoglicemia continuada ou episódios repetitivos de hipoglicemia discreta à moderada não tem o mesmo problema evidenciado na hipoglicemia aguda. Qual é o nível de glicose no RN prematuro que devemos usar? Acredito que o prematuro deva ter as mesmas concentrações de glicose que o feto normal crescendo intra-útero (60 mg%) Mantendo a glicemia destes bebês acima de 60mg % não haverá problemas com a hipoglicemia. Os bebes prematuros, principalmente aqueles com restrição do crescimento não têm como produzir ac.graxos, para serem oxidados à cetona, servindo como substrato energético ao cérebro, diferente do RN a termo que tem como responder a hipoglicemia, produzindo grandes quantidades de ac. graxos. Assim, precisamos alimentar estes bebês desde o início, incluindo solução E.V. com lipídeos para que este substrato alternativo possa estar disponível. Quanto às proteínas: com as fórmulas específicas para prematuros ou com o LH (leite humano) enriquecido raramente os prematuros vão receber mais do que 2,5 a 3,5g/dia a não ser que você dê mais de 150ml/kg, o que é muito difícil nos primeiros 7 dias de vida.Há diferença grande no Q.I. entre os prematuros alimentados com baixo teor de proteína (menor Q.I.) em relação aos prematuros com teor adequado de proteína (a diferença na escolaridade chega até 2-3 níveis). Há diferença importante no Q.I. da recebendo LH do banco de leite e fórmula enriquecida. A suplementação de leite materno (fortificantes do LM) melhora bastante o Q I, assim como o desenvolvimento destas crianças. Quanto aos lipídeos: o cérebro é constituído 60% de lipídeos na sua estrutura, a maioria ac. araquidônico e ducosahexanóico (DHA), sendo importante tanto para o tamanho como função do cérebro. A deficiência de ac.graxos é deletéria e permanente no desenvolvimento cerebral. O risco de uma desordem no desenvolvimento cerebral é maior nos RN PIG (pequeno para a idade gestacional), pois estes RN têm menos ac.graxos. A síntese de lipídeos pelos oligodendróglios exige ac.graxos saturados e monossaturados e colesterol. As taxas de síntese são altas durante a parte final da gestação e durante a mielinização, onde há um aumento rápido do crescimento do cérebro. Como corrigir deficiente suplementação de ac. graxos? A suplementação de ac. graxos resultou numa melhora da acuidade visual, mas o nível do crescimento do peso é menor (mecanismo não muito bem entendido). As infusões lipídios produzem uma quantidade excessiva de ac. graxos essenciais e pouco ac. araquidônico e DHA podendo levar a anormalidades importantes principalmente na nutrição endovenosa prolongada. Alguns aminoácidos selecionados: Trofamina (mistura comum para ser infundida em RN nos EUA): os bebês ganham mais peso e tem um balanço nitrogenado melhor. Alguns de nossos bebes estão ficando com hiperglicemia e a hiperglicemia prolongada pode está associada com problemas neurológicos futuros. A hiperglicemia pode levar a concentrações anormais de aminoácidos no plasma, ocasionando falhas e lesões cerebrais no desenvolvimento cerebral. Estudos realizados em animais por nós evidenciou baixas concentrações de aminoácidos essenciais (glicina, isoleucina) o que pode fazer com que o cérebro não cresça. Evidenciamos também níveis maiores de aminoácidos tóxicos. Estamos começando agora a coletar dados de bebes humanos com hiperglicemia para observar se estas alterações ocorrem nos RN com hiperglicemia. Mais uma vez penso que o pobre desenvolvimento relacionado com a nutrição é que simplesmente nós não alimentamos os bebês suficientemente