o gestor e a organização do espaço escolar

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XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012
O GESTOR E A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR
Ivone Tambelli Schmidt (UNOESTE)
Emerson Magro (UNOESTE)
RESUMO: O presente trabalho traz uma reflexão sobre a questão do espaço escolar,
seu uso, adequação e eficácia na vida e aprendizagem do aluno. Com relação a este
tema, propomos analisá-lo como componente oculto do currículo e pertinente na
inclusão dos projetos pedagógicos das instituições escolares. O gestor e o espaço escolar
possuem uma relação muito estreita que devemos analisar, estudar e refletir, pois, na
contemporaneidade, a gestão escolar precisa preocupar-se mais com os fins da
Educação, com a eficácia da escola no cumprimento de sua função social, daí a
necessidade da capacidade de gestão, liderança principalmente, para tornar o espaço
mais funcional e dinâmico no processo educativo. Cabe ressaltarmos que esta pesquisa
encontra-se em andamento, portanto, descreveremos apenas a primeira fase, de natureza
qualitativa, que foi realizada in loco, o que foi fundamental para as análises e a
integração com a literatura específica, uma vez que fomos realmente verificar o que
acontece nas escolas e o que os gestores percebem sobre o espaço escolar onde
trabalham. Assim, foi possível identificar nos gestores das escolas pesquisadas, que os
mesmos concebem a importância de suas ações na organização do espaço escolar, tanto
na do espaço físico quanto na gestão de pessoas e as relações interpessoais. Procuramos
mostrar, também, a inter-relação destes dois tipos de gestão para um processo de
melhoria da convivência dos atores escolares. Introduzimos no trabalho de pesquisa a
importância da arquitetura escolar, dos estudos das edificações e a contribuição da
psicologia ambiental, disciplina que estuda e pesquisa a influência que o meio ambiente
exerce sobre o ser humano transpondo seus estudos para a Educação.
Palavras-chave: Educação Escolar, espaço escolar, arquitetura.
INTRODUÇÃO
Quem de nós não tem uma história para contar dos tempos da escola, das
brincadeiras na hora do recreio, das horas passadas nas salas de aula, na hora da
Educação Física, na hora da merenda, às vezes até sentimos o cheiro e o gosto daquela
merenda servida. Lembramo-nos, também, dos aspectos espaciais da escola, que era tão
grande naquele tempo e depois se apresenta como um espaço bem menor quando
visitamos na atualidade.
O aluno passa grande parte de seu dia na escola. Está ali para adquirir
conhecimento, competências e habilidades que levará para toda vida. E este tempo em
que ali permanece deve ser o melhor e o mais agradável possível.
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O espaço escolar exerce fascínio, seja nos alunos que estão estudando hoje seja
naqueles que foram alunos um dia. Neste espaço estão impregnados vários símbolos,
signos que ainda hoje influenciam qualquer um de nós. Concordamos, então, que o
espaço escolar é constituído,
[...] de espaços materiais, visualizáveis. O conhecimento de si mesmo, a
história interior, a memória, em suma, é um depósito de imagens. E imagens
de espaços que, para nós foram, alguma vez e durante algum tempo, lugares,
lugares nos quais algo de nós ali ficou e que, portanto, nos pertencem, que
são portanto nossa história. (FRAGO, 2001, p. 63).
O espaço escolar deve ser considerado como uma dimensão material do
currículo (ALVES, 1998), entretanto, como não lhe é conferida tanta expressividade e
por não haver muitos pesquisadores nesta área, o chamamos de currículo oculto.
Mas o que é espaço? Lugar? Território. A priori, precisamos analisar estes
conceitos e relacionar com o nosso objeto de pesquisa. O conceito de espaço sempre foi
tema de estudo e de reflexões, desde a Antiguidade Clássica por intermédio dos
filósofos, na Idade Média, Moderna e Contemporânea por cientistas importantes na
história da ciência. Buscaremos, contudo, nos estudos da Geografia moderna, o conceito
que mais se aproxima do nosso estudo em questão.
Assim, partimos diretamente para o pensamento do geógrafo professor Milton
Santos, que se destacou na ciência com o estudo dedicado ao espaço geográfico, bem
como a ação do homem no mesmo, cujas premissas relacionamos com o nosso conceito
de espaço escolar.
Para Santos (1997, p. 111):
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também
contraditório, entre sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados
isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá. Sistemas de
objetos e sistemas de ações interagem.
Santos (1997, p. 110) continua ainda sua definição de espaço como:
Uma reunião dialética de fixos e fluxos; o espaço como conjunto contraditório,
formado por uma configuração territorial e por relações de produção, relações
sociais; e, finalmente o que vai presidir à reflexão de hoje, o espaço formado
por um sistema de objetos e um sistema de ações.
O Professor Milton Santos pertenceu ao grupo da Geografia crítica da USP, que
concebe o espaço geográfico como espaço produzido pelo homem, pelas relações
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dialéticas deste com a natureza. Santos (1997) também considera que o espaço
geográfico é o cotidiano, o “espaço banal” de todos nós, carregado de símbolos e
significações.
O espaço escolar é a edificação própria construída para ser o local onde se dará a
educação de crianças, adolescentes e jovens, em que ocorrem ações de objetos e ações,
ou seja, uma reunião diacrônica de fixos e fluxos. Fixos o prédio, fluxas são as ações, as
pessoas que passam por ali, que interagem, que circulam, que ocupam e desocupam o
prédio de tempos em tempos, criando ali uma cultura, signos e significados que passam
a fazer parte desse espaço.
Quando se constrói um espaço a ser destinado a uma escola, está ali, fixo,
arquitetado, projetado segundo padrões diversos e normas técnicas. Finalizada a sua
construção, o espaço escolar é finalmente inaugurado com todas as honras e discursos
políticos diversos, como sabemos, porém não passa de apenas um espaço, que será
oportunamente ocupado.
Este espaço ganhará vida, ganhará especificidades, singularidades que lhe serão
próprias, conforme vai sendo ocupado, apossado com os usuários deste espaço (alunos,
professores, diretores, pais, etc). Este espaço ocupado dará forma a lugares (ambientes)
específicos e diversos, diferindo de acordo com seus usos e destinos.
A esse respeito Alves (1998, p. 129) acrescenta que:
A escola é lugar porque é cheia de objetos e seres discriminados, marcados e
hierarquizados (a cadeira do diretor; a mesa do professor; o fogão da
cozinheira; a bola do aluno; o bom e o mau professor; o aluno carente e
aquele nem tanto; a diretora enérgica e o servente bonzinho).
Nas palavras da autora, notamos que o espaço escolar é também marcado pela
disputa dos lugares, a luta pelo monopólio da utilização dos instrumentos de poder, o
que não nos propomos a pesquisar por enquanto, mas apenas demonstrar que não
estamos tratando de um espaço neutro, fixo, estático, mas repleto de vida, de ações, de
reações, o que também implica pesquisarmos o quanto a escola se propõe a acolher o
aluno ou a expulsá-lo de seu direito público e subjetivo.
Importante se faz, também, perceber se o espaço influencia a produção de corpos
dóceis, submissos, domesticados e treinados para o trabalho (FOUCAULT apud
BARGUIL, 2006) o que também se aplica na investigação da questão corporal no
ambiente escolar.
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O estudo da arquitetura escolar vem ganhando, nos últimos anos, a atenção de
muitos educadores, tomando por base o espaço escolar e suas condições materiais como
uma variável a ser considerada no alcance da tão almejada qualidade de ensino. Autores
como Antônio Vinão Frago, Agustin Escolano, Ester Buffa, Gelson de Almeida Pinto,
Nilda Alves, Paulo Barguil e Dóris Kowaltowsky são exemplos na literatura em questão
e que foram objeto de nossa revisão bibliográfica.
Segundo Buffa e Pinto (2002, p. 66): “A construção de edifícios especialmente
projetados para abrigar escolas primárias no Brasil é, em termos históricos,
relativamente recente. O estabelecimento do vínculo entre edifício-escola e concepções
educacionais é tardio”.
As escolas que temos hoje, em sua arquitetura, foram construídas para atender
uma determinada clientela no passado, para uma população bem menor e para uma
pequena parcela da população em idade escolar.
Atualmente, estamos com quase 100% da população em idade escolar na escola.
Considerando o aumento da população em escala mundial, questionamos: Será que
nossa estrutura escolar está preparada para atender esta clientela? As instituições
escolares, ou melhor, suas edificações estão adequadas para atender as condições ideais
de espaço, higiene e conforto? Provavelmente, não.
Imaginemos um dado espaço escolar que acaba de ser inaugurado, com todas as
festividades. Este espaço está ali concretizado e para um fim determinado: ser uma
escola. Ao gestor escolar lhe é atribuída uma função de direção deste espaço que nem
sempre é o ideal, nem sempre contém o que é necessário para um ambiente educativo. É
neste momento que queremos cruzar os nossos assuntos: Qual a função do gestor
escolar frente à questão dos espaços escolares? O que ele pode fazer para mudar,
adequar, adaptar este espaço para os fins educacionais mais específicos?
A gestão escolar é abordada neste trabalho como ponto de cruzamento com a
questão do espaço escolar, pois está cada vez mais evidente que a gestão escolar – em
nível de sistema e de unidade de ensino – precisa contemplar todas as variáveis para o
sucesso escolar e, no nosso entendimento, o espaço escolar é uma variável
extremamente importante no processo educativo.
A gestão participativa na escola pode contribuir para que a escola se torne
melhor. Em certas comunidades, a parceria da escola com a comunidade de seu entorno
contribui para ações dentro da escola, como reuniões de pais e mestres para conversar
sobre o rendimento escolar do filho, participação em eventos culturais, no Programa
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Escola da Família nos finais de semana para prática de esportes e de oficinas,
arrecadação de dinheiro em festas, doações e outras atividades de caráter participativo,
tendo a instituição auxiliar APM como importante aliada para que se façam alterações,
naturalmente, aprovadas pelos órgãos competentes das respectivas secretarias de Estado
ou Municipais. Portanto, afirmamos que modificações na estrutura do prédio podem ser
feitas, além daquelas de grande monta previstas com verba do Estado. Consideramos,
nesse caso, que a gestão escolar faz a diferença, quando os problemas são
compartilhados por todos para melhoria da escola.
Neste sentido, propomos, ao abordarmos o espaço escolar, introjetar o gestor, o
diretor escolar, no “olho do furacão”, esperando neste importante ator escolar, sua
atuação com o intuito de ampliar a democratização do espaço escolar, para o direito
fundamental à escola daqueles que mais precisam dela.
Com
essas
preocupações
desenvolvemos
a
pesquisa
que
a
seguir
apresentaremos.
OBJETIVOS
•
Identificar a maneira como o gestor escolar, mais especificamente o diretor de
escola, concebe e organiza o espaço escolar para que funcione a serviço da
aprendizagem.
•
Analisar como o gestor atua na organização do espaço escolar da instituição que
dirige em prol da qualidade do ensino, com base nos novos paradigmas de Gestão
Escolar.
•
Relacionar os conceitos da psicologia ambiental e sua transposição para a
arquitetura e edificações para a educação escolar.
METODOLOGIA
A realização de uma pesquisa exige uma investigação metódica e sistemática,
durante a qual o pesquisador precisa fazer opções metodológicas; por isso, nosso
trabalho foi desenvolvido tendo como base a pesquisa qualitativa, pois, segundo Minayo
(2007, p. 21):
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Este tipo de pesquisa permite trabalhar questões, como: significados,
motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, que não podem ser
traduzidos em dados estatísticos e matemáticos. Assim, a pesquisa qualitativa
possibilita perceber um lado não perceptível das relações sociais e permite a
compreensão da realidade humana vivida socialmente.
Nesse sentido, a busca séria pelos resultados da pesquisa é nosso objetivo, e será
imprescindível o compartilhamento posterior com quem se compromete com a educação
e pretende sempre contribuir para reflexões neste campo, pois com relação à educação,
consideramos ser o meio pelo qual a sociedade se desenvolverá e se tornará melhor.
A fim de atingir os objetivos propostos para este trabalho de pesquisa foram
utilizados os seguintes instrumentos:
•
Pesquisa bibliográfica ou revisão de literatura acerca de espaço, relacionando a
questão espacial dentro da área da Educação.
•
Pesquisa bibliográfica a respeito dos atuais conceitos de gestão escolar das
instituições, com autores especialistas que tratam deste tema.
•
Observação do cotidiano das escolas pesquisadas, quanto à atuação do gestor na
organização do espaço escolar.
•
Aplicação de um questionário aberto aos diretores de quatro escolas estaduais, com
questões referentes à visão que eles têm da arquitetura/edificação da escola em que
atuam, de identificação de lugares e ambientes que a escola dispõe e como são
utilizados, de identificação da relação do espaço escolar e a aprendizagem do aluno,
da questão do direito ao acesso e permanência do aluno na instituição escolar.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No desenvolvimento deste trabalho, levantamos muitas questões, que merecem
nossa atenção, pois o espaço físico é um componente curricular, merecedor, assim, de
uma crítica reveladora (silenciosa e gritante) nas práticas pedagógicas (BARGUIL,
2006, p. 32).
Neste caminho, o estudo do espaço escolar ganha uma dimensão importante na
atualidade, pois o homem se inter-relaciona com o espaço, com o meio em que vive.
Desta forma:
Na arquitetura, o espaço não é uma realidade dada, mas seus símbolos são
percebidos, através dos sentidos, pelos sujeitos de forma peculiar, haja vista a
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diversidade cultural. Todo prédio, portanto, é dotado de uma simbologia
própria, a permitir ou impedir àqueles que, de alguma forma com ele se
relacionam, aprendam algo. (BARGUIL, 2006, p. 108).
Consideramos, então, que o espaço escolar é dotado de muitos símbolos que
precisamos compreender, com o intuito de favorecer a análise de como este mesmo
espaço contribui para um aprendizado mais eficaz dos alunos.
Assim, pensemos que uma escola, um espaço escolar é inaugurado. Uma
edificação construída especialmente para ser uma escola, para ali abrigar crianças,
jovens e adultos para sua formação como cidadãos. Este espaço está definido, mas a
partir do momento em que este espaço vai sendo ocupado, toma diversos significados.
O espaço vai tornando-se lugar à medida que vai sendo ocupado, utilizado por
diferentes atores e criando particularidades próprias.
Nesse contexto, merece destaque a gestão escolar. O diretor toma posse de seu
cargo em uma determinada escola e dará a este espaço uma direção, ressignificação dos
lugares, dos ambientes, otimização do uso dos ambientes que serão importantes para a
tarefa educativa da escola.
Pensamos, então, que o gestor que não concebe o espaço como um braço, uma
vertente do sucesso escolar, esta escola estará relegada e fadada ao fracasso, pois
entendemos que direção, professores, alunos, pais de alunos e funcionários precisam
identificar-se com o espaço em que atuam. Com os alunos, as coisas vão além, pois o
sucesso de sua aprendizagem dependerá do grau de satisfação deste usuário com relação
ao lugar que ele frequenta e nele passa o maior tempo. Sua estadia precisa ser agradável.
A gestão escolar é peça chave na execução de um projeto pedagógico escolar
que contemple o uso do espaço escolar e sua otimização, com vistas à melhoria da
qualidade de ensino. Mas o trabalho do gestor não para aí. A gestão escolar ultrapassa a
administração escolar. Organizar o espaço dado, ainda que com muitas limitações para
mudar uma edificação e arquitetura, é imprescindível para dar o toque de significação
de cada canto na escola.
Assim, o pátio escolar coberto, as salas de aula, os corredores da escola, o
jardim, a biblioteca, os laboratórios, a quadra, são lugares que se constituem em
ambientes propícios para serem considerados educativos, pois:
A arquitetura escolar e satisfação do usuário em relação à qualidade do
ambiente estão diretamente ligadas ao conforto ambiental que inclui os
aspectos térmico, visual, acústico e funcional, proporcionados pelos espaços
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externos e internos. […]. Essas características são discutidas no programa
escolar, pois as pesquisas desenvolvidas na área demonstram a relação entre
o desempenho acadêmico e os elementos arquitetônicos dos ambientes de
ensino. (KOWALTOWSKI, 2011, p. 111).
A psicologia ambiental como uma área ou disciplina que trata das relações entre
o comportamento humano e o ambiente físico do homem está ganhando cada vez mais
espaço, por entender que há uma relação mútua entre o homem e o meio em que ele
vive.
A pesquisa procurou focar a visão dos gestores escolares acerca do espaço
escolar e o que os mesmos pensam a respeito deste espaço influenciar a aprendizagem,
tanto positivamente, quanto negativamente.
Responderam o questionário quatro diretores de escolas estaduais pertencentes à
Diretoria de Ensino-Região Mirante do Paranapanema: E.E. “Profa Takako Suzuki”, em
Narandiba, E.E. “Dr. Moacyr Teixeira”, em Estrela do Norte, E.E. “João Pinheiro
Correia”, em Rosana e E.E. “Maria Antônia Zangarini Ferreira”, em Euclides da Cunha
Paulista.
Ao serem questionados sobre a arquitetura de sua escola ser adequada ao
número de alunos e ao tipo de ensino que a instituição oferece, as respostas foram na
maioria negativas. Dois diretores disseram que a arquitetura e a edificação estão
deficitárias para o atendimento à clientela escolar, com falta de espaço e de salas para a
montagem de biblioteca e laboratório. As duas outras escolas se queixaram da falta
desses lugares, mas disseram que fazem adaptações.
No tocante à pergunta sobre ser possível organizar o espaço escolar,
independente da arquitetura, para melhorar a escola, a aparência e otimizar o uso destes
espaços, todos foram unânimes em responder que é possível ultrapassar as barreiras
arquitetônicas e trabalhar com o que se tem e da melhor maneira possível, fazendo
adaptações com verbas que chegam e ou ampliação e reforma. E, neste caso, todos
demonstraram características de bons gestores, de acordo com os paradigmas que se
espera na gestão escolar atual, como por exemplo, transparência das ações, prestação de
contas à comunidade, consulta aos conselhos escolares e instituições auxiliares da
escola.
A pergunta que mais nos causou boa impressão foi aquela que questiona ao
gestor a relação do espaço escolar com a aprendizagem do aluno. O gestor precisava
responder se existe relação e de que maneira isso se dá. Todos os gestores concebem o
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espaço escolar e suas condições como um dos fatores determinantes, ou seja, uma
variável do sucesso escolar, da aprendizagem na escola. Para tanto, acessamos os
boletins do Saresp, ano base de 2010 destas quatro escolas e verificamos que elas
apresentam bons resultados educacionais em termos de aprendizagem. São escolas que
se sobressaíram nestas avaliações e às quais os gestores atribuem o gostar da escola, a
sensação de pertencimento ao espaço escolar onde estudam, além, é claro, de outros
fatores, como bons professores, métodos de ensino e materiais pedagógicos adequados e
a atuação comprometida da gestão escolar.
Após condensar as respostas dos gestores, analisamos também o questionário
dos alunos, com questões referentes ao espaço e às sensações que eles têm a respeito da
escola onde estudam. Apesar de os questionários serem respondidos por amostragem,
obtivemos na maioria absoluta, respostas de apreço ao espaço escolar, demonstrando
satisfação dos alunos pela instituição em que estudam. Alguns alunos sugeriram coisas
novas, como é esperado, alterações em ambientes e incremento de materiais como
montagem de um cantinho para jogos de xadrez, dama e o tênis de mesa que a escola
possui, o que é compreensível, mas todos aprovam o espaço onde estudam.
CONCLUSÕES
O presente trabalho de pesquisa nos permitiu chegar às seguintes conclusões, de
acordo com os objetivos que nos propusemos a trabalhar:
Com relação à identificação com a maneira como o gestor escolar, mais
especificamente o diretor de escola, concebe e organiza o espaço escolar para que
funcione a serviço da aprendizagem, concluímos que os diretores das quatro escolas
pesquisadas conhecem a teoria e procuram praticar a gestão do espaço para otimizar a
aprendizagem, além disso, concebem a questão do espaço escolar como uma variável
importante na aprendizagem do aluno, embora não tenham se dado conta disso
plenamente na tarefa diária da gestão.
Com base na pesquisa realizada, percebeu-se uma preocupação maior com relação
ao espaço escolar e a aprendizagem. Em nossas observações in loco, percebemos que as
escolas estavam limpas, organizadas e que existe, por parte da gestão, essa preocupação.
Os diretores também responderam positivamente quanto à questão de serem tratados os
temas da gestão do espaço nos cursos de formação da Secretaria de Estado da Educação,
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como: REDEFOR, Progestão e PDG Educação. Isso se refletiu na análise das respostas
dos alunos que entendem o papel da gestão escolar em propiciar condições para melhorar
a convivência interpessoal e espacial dentro da escola.
Verificamos, também, que os diretores possuem consciência da natureza do seu
cargo/função expressa na literatura educacional e da importância de atuar de forma a
ampliar o acesso e a permanência do aluno na escola, facilitando este processo por meio
de atitudes democráticas de gestão escolar e da compreensão de que é necessária a
Educação para o desenvolvimento pleno do ser humano.
Ao relacionarmos o conceito de psicologia ambiental, já comentada
anteriormente neste trabalho, conseguimos analisar, identificar e entender como a
satisfação do aluno com o espaço, lugares e ambientes escolares, favorece o seu
aprendizado, isto é, o homem atua modificando o espaço em que vive, mas é
influenciado por ele também.
Desta forma, os objetivos da pesquisa foram alcançados, pois pudemos
confrontar as respostas dos gestores, as respostas dos alunos, a observação do cotidiano
escolar e, finalmente, confirmamos na avaliação externa o sucesso das escolas
pesquisadas.
Com relação à observação, é oportuno salientar que, de acordo com Ludke e
André (1986, p. 26), “[...] a observação possibilita um contato pessoal e estreito do
pesquisar com fenômeno pesquisado, a experiência direta é, sem dúvida, o melhor teste
de verificação da ocorrência de um fenômeno”.
Foi possível, também, relacionarmos as falas com as atitudes dos gestores na
condução de suas equipes, pois eles não fazem nada sozinhos, mas atuam como
maestros de orquestras que precisam estar afinadas.
Logicamente, as condições da arquitetura, da edificação não são suficientes para
o sucesso escolar, mas o entrecruzamento destes itens com a gestão escolar é que faz a
diferença. E no tocante ao bem-estar do aluno, o sentimento de pertencimento ao espaço
de estudo certamente contribui para o sucesso destas escolas.
REFERÊNCIAS
ALVES, Nilda. O Espaço Escolar e Suas Marcas: o espaço como dimensão material
do currículo. Rio de Janeiro: DP&A, 1998.
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BARGUIL, Paulo Meireles. O homem e a conquista dos espaços - o que os alunos e
os professores fazem, sentem e aprendem na escola. Fortaleza: LCR, 2006.
BUFFA, Ester; PINTO, Gelson de Almeida. Arquitetura e Educação: organização do
espaço e propostas pedagógicas dos grupos escolares paulistas, 1893-1971. São Carlos;
Brasília: EdUFSCar; INEP, 2002.
FRAGO, Viñao; ESCOLANO, Augustin. Currículo, espaço e subjetividade: a
arquitetura como programa. Tradução de Alfredo Veiga-Neto. Rio de Janeiro: DP&A,
2001.
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Elisa D. A. de. Pesquisa em educação: abordagens
qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa
em saúde. 10. ed. São Paulo: Hucitec, 2007.
SANTOS, Milton: Técnica, Espaço e Tempo: Globalização e Meio Técnico Científico.
São Paulo: Hucitec, 1997.
KOWALTOWSKI, Dóris Catharine C. K. Arquitetura escolar: o projeto do ambiente
de ensino. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
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INTRODUÇÃO
O aluno passa grande parte de seu dia na escola. Está ali para adquirir conhecimento, competências e
habilidades que levará para toda vida e este tempo em que ali permanece deve ser o melhor e mais agradável
possível. O espaço escolar deve ser considerado como uma dimensão material do currículo (ALVES, 1998) e
por não ter tanta expressividade o chamamos de currículo oculto.
“A escola é lugar porque é cheia de objetos e seres discriminados, marcados e hierarquizados (a cadeira do
diretor; a mesa do professor; o fogão da cozinheira; a bola do aluno; o bom e o mau professor; o aluno carente e
aquele nem tanto; a diretora enérgica e o servente bonzinho)” (ALVES, 1998, p. 129).
O estudo da arquitetura e edificações escolares vem ganhando nos últimos anos, a atenção de muitos
educadores, considerando o espaço escolar e suas condições materiais como uma variável a ser considerada no
alcance da tão almejada qualidade de ensino. “A construção de edifícios especialmente projetados para abrigar
escolas primárias no Brasil é, em termos históricos, relativamente recente. O estabelecimento do vínculo entre
edifício-escola e concepções educacionais é tardio” (BUFFA; PINTO, 2002, p. 75).
A edificação escolar é dada a uma determinada comunidade para os fins educacionais, no entanto é necessário
que a gestão escolar, na figura do diretor de escola, cumpra sua função liderando sua equipe para conferir
significados àquele espaço que se configura como lugar à medida que é ocupado pelos sujeitos. Surge a
necessidade, no âmbito escolar, de uma proposta pedagógica que contemple a utilização do espaço para
atividades educativas e proporcionar aos usuários (alunos, professores e comunidade) a satisfação com a escola.
PROBLEMAS/QUESTÕES
Ocorre que, hoje, temos a quase totalidade de crianças em idade escolar frequentando as escolas em espaços
construídos em uma época em que a minoria estava na escola, num regime então excludente de Educação. Estas
edificações não estão sendo suficientes para abrigar esta quantidade e oferecer a qualidade. Considerando o
exposto: Que papel assume o gestor escolar frente a esta realidade? É possível organizar a escola, adaptá-la para
oferecer o mínimo de condições e conforto? Como deve ser o trabalho do gestor frente a esta nova realidade?
Esta pesquisa, em andamento, pretende responder a estes questionamentos e contribuir para discussão do
espaço escolar como um dos elementos que influenciam na aprendizagem do aluno.
OBJETIVOS
• Identificar a maneira com que o gestor escolar, mais especificamente o diretor de escola concebe e organiza
o espaço escolar para que funcione a serviço da aprendizagem.
• Analisar como o gestor atua na organização do espaço escolar da instituição que dirige em prol da qualidade
do ensino, com base nos novos paradigmas de Gestão Escolar.
• Relacionar os conceitos da psicologia ambiental e sua transposição para a arquitetura e edificações para a
educação escolar.
METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido tendo como base a pesquisa qualitativa e envolveu a observação do cotidiano de
quatro escolas públicas quanto à atuação do gestor na organização do espaço escolar e a realização de
entrevistas com questões referentes à visão que os gestores têm da arquitetura/edificação das escolas, bem como
sobre a utilização dos ambientes e sua relação com a aprendizagem dos alunos.
RESULTADOS/CONCLUSÕES
Com relação à maneira como que o gestor escolar concebe e organiza o espaço escolar, concluímos que os
diretores das escolas pesquisadas conhecem a teoria e procuram gerir o espaço para otimizar as atividades
educativas, concebem a questão do espaço escolar como uma variável importante na aprendizagem do aluno.
Percebemos uma preocupação maior com relação ao espaço escolar como facilitador da aprendizagem, desse
modo, encontramos as escolas limpas e organizadas. Os diretores também responderam positivamente quanto à
questão de serem tratados os temas da gestão do espaço nos cursos de formação da Secretaria de Estado da
Educação. Isso se refletiu na análise das respostas dos alunos que entendem o papel da gestão escolar em
propiciar condições para melhorar a convivência interpessoal e espacial dentro da escola.
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