HIGHLIGHT do EASL-2008 e IMPRESSÕES PESSOAIS PARTE II - HEPATITE VIRAL B ROBERTO FOCACCIA * Neste momento atual o tratamento da Hepatite Viral B (HBV) passa por um importante período de avanço com novos nucleosídeos e nucleotídeos análogos já em fase II e III de experimentação, cujos trabalhos iniciais foram apresentados no Congresso. Entretanto, muitas questões ainda permanecem em aberto para a adequada compreensão clínica dos resultados alcançados, esquemas posológicos, e outros, como pode ser visto no Quadro 1. Quadro 1. Aspectos relevantes em aberto interferentes na infecção e tratamento da HBV. Melhor definição do “endpoint” do tratamento. Importância do genótipo viral na patogênese e terapêutica. Melhor compreensão do mutante pré-core e da resistência viral às drogas. Fatores que disparam a fase imunoativa. Melhor compreensão dos fatores virais, do hospedeiro e do meio ambiente interferentes na evolução da infecção e do tratamento. Quem deve ser tratado? Quando começar o tratamento? Qual a droga ou drogas de primeira escolha? Esquemas terapêuticos duplos e/ou triplos versus monoterapia. A resistência cruzada potencial com anti-retrovirais Muitos trabalhos experimentais referentes à virologia e à imunopatogenia da infecção pelo HBV foram apresentados, vindo a acrescentar lentamente outros conhecimentos que reverterão no futuro em aplicações na área clínica. Para melhor efeito didático, faço um breve resumo comentado de alguns trabalhos que julguei importantes e reunidos por temas, e em seguida um resumo comentado dos grandes estudos internacionais apresentados e das novas drogas em estudo. _________________ * Professor Livre Docente pela FMUSP Coordenador do Grupo de Hepatites do Instituto de Infectologia Emílio Ribas Editor Científico do “Tratado de Hepatites Virais” Exaustão e Restauração de Células T HBV-Específicas. Os linfócitos T HBV-específicos têm um papel crucial na patogênese da lesão histológica e na depuração viral. A exposição prolongada dos antígenos virais provoca uma exaustão dos linfócitos T CD4 e CD8 específicos. Um grupo da Universidade de Parma (Itália) coordenado por Fisicaro - ABSTRACT 5 utilizou anticorpos específicos contra marcadores de exaustão (PD-1) e marcadores de memória (CD127), alcançando elevação do interferon-gama e interleucina -2 produzido pelas células CD4 e CD8 periféricas e intra-hepáticas, sugerindo que, especialmente, o anticorpo PD-1 poderia ser utilizado em esquemas terapêuticos futuros. Carga Viral como Fator Preditivo de Reativação em Portadores Inativos. Baseado nos guidelines atuais que sugerem controles de ALT semestrais para detectar eventuais reativações de portadores inativos de HBV, definidos como AgHBenegativos, AgHBe positivos, ALT normal e DNA-HBV<2.000UI/ mL, Seo et al. (Universidade de Seoul-Coréia) demonstraram que a dosagem da carga viral tem melhor valor preditivo de reativação em portadores inativos, quando o DNA-HBV “baseline” é maior que 200UI/mL e menor que 2.000 UI/mL. – ABSTRACT 667. Presença de Quasiespécies e Mutantes Resistentes Pré-existentes. Kim et al. (Universidade de Seoul-Coréia) encontraram mutantes resistentes na região Polimerase em seis pacientes naïves, com mais de seis substituições de porções genômicas. Na análise de 100 clones desses vírus selvagens encontraram de 30 a 58 substituições genômicas. No paciente 1: 1% em L180P e 2% em V173L. Paciente 2: 1% em T128I e 181T, 2% em V173A. Intrigantemente, 1% em L180M que sabidamente é o site de resistência à Lamivudina. No paciente 5, 1% em L180M, A181T e M204V. No paciente 6: 2% em M204I e 1% no M204V. Os pacientes 2 e 3 foram encontrados 1% e 8%, respectivamente, no site de resistência ao Adefovir, Q215P. Com relação ao Entecavir foi encontrado 1% de substituição no site I169L no paciente 1. Novas mutações foram encontradas em sites ainda desconhecidos (60% no T38A, 47% no Y124H, 98% no I224V, 34% no D134E e 67% no R242A) em vários pacientes. Os autores sugerem que a detecção precoce antes do início do tratamento poderia ser um caminho para minimizar o desenvolvimento e disseminação de resistência a drogas. Fung et al. (Universidade de Toronto) –ABSTRACT 688 – testaram 75 pacientes AgHBe positivos e negativos naïves de NA (sendo 10% tratados com Interferon), seqüencialmente atendidos no Mount Sinai Hospital de Toronto, com idades entre 38 +/- 15 anos, 87% asiáticos, com DNA/HBV = 5,7 +/- 2,3 cópias/mL, genótipos A, B, C, e D respectivamente 4%, 30%, 54% e 6%%. Foram encontradas as seguintes mutações: L80V/I: 7 casos; V173L: 1 caso; L180M: 7 casos; M204V/I: 13 casos; T184G: 3 casos; S202I: 5 casos; M250V: 3 casos. Os autores sugerem que, face à alta resistência genômica prévia à Lamivudina em pacientes naïves de NA, não mais deveríamos iniciar a terapêutica com Lamivudina. Comentário: A resistência aos núcleos(t)ídeos análogos tem sido um dos grandes fatores adversos para a eficácia dos nucleo(t)ídeos análogos. O uso continuado de nucleosídeos análogos inibidores da transcriptase reversa tem gerado resistência genômica com alta freqüência, por vezes de forma cruzada contra outros núcleos(t)ídeos análogos. Aqui entre nós, o Dr. João Renato Rebelo Pinho, no Laboratório do Hospital Albert Einstein já encontrou resistência primária à Lamivudina e ao Entecavir em dois pacientes nossos. O trabalho de Fung revela com boa casuística, podendo se dimensionar a importância do problema com relação ao estabelecimento adequado da conduta terapêutica inicial. Por outro lado, o maior “gargalo” entre nós para a prática clínica correta reside na dificuldade de disponibilidade dos testes na rede pública (falta de Kits para carga viral, de genotipagem, de teste de resistência). Associação de Núcleos(t)ídeos Análogos Inibidores da Transcriptase Reversa Poucos trabalhos foram apresentados. Dois deles chamaram a atenção. 1) Shaw, Sozzi e Locarnini (Melbourne-Austrália) –ABSTRACT 699, testaram a resistência por fenotipagem e testes antivirais “in vitro” de clones de vírus selvagens e vírus de um paciente que havia desenvolvido resistência subseqüente ao Adefovir, Lamivudina e Entecavir, isoladamente ou em associação. Comparado aos vírus selvagens, os resistentes às multidrogas mostraram aproximadamente 5,10 e 20 vezes mais aumento na resistência, respectivamente, ao Adefovir, Tenofovir e Entecavir. Mas apresentaram cerca de 90% na redução na capacidade de replicação em relação aos vírus selvagens. A atividade antiviral “in vitro” de drogas pareadas, tanto de vírus selvagens como os resistentes mostraram uma ação aditiva ou sinérgica em baixas concentrações, porém antagônicas quando em altas concentrações virais. Os autores concluíram que: a) A fenotipagem e os testes antiviriais usando combinações de drogas poderiam fornecer as bases para um adequado tratamento combinado; b) A terapêutica combinada de drogas para tratamento inicial é provavelmente mais efetivo do que substituir ou acrescentar novas drogas quando se desenvolve resistência no tratamento monoterápico. 2) Delepee et al. (Universidade D'Orleans, França) - ABSTRACT: 576-desenvolveram um método analítico para determinação simultânea de Lamivudina, Adefovir, Entecavir e Tenofovir no plasma, por cromatografia líquida permitindo a determinação simultânea de drogas antivirais. O método é de fácil aplicação, podendo melhorar o monitoramento da terapêutica combinada. Resistência Insulínica e HBV. O diabetes mellitus ocorre cerca de quatro vezes com maior freqüência em hepatite crônica do que na população geral. A maioria dos estudos foi realizada em pacientes portadores da hepatite C. Kumar et al. (Nova Delhi, Índia) - ABSTRACT: 659, verificaram que os marcadores de resistência insulínica (C-peptídeo-insulina, HOMAIR, HOMA-β, em pacientes com HBV. Em 69 pacientes HBV crônicos encontraram os níveis mais altos de insulina nos pacientes com F-0 e F-1, demonstrando que a resistência insulínica não se associa com piora da lesão fibrótica. Análise de regressão linear incluindo índice de massa corporal (IMC), colesterol, triglicérides, mostrou que somente o IMC foi um fator independente preditivo de resistência insulínica. Imunoglobulina I.M. e E.V. + Nucleosídeos Análogos na Profilaxia da Recorrência de HBV pós-Transplante Hepático. Na ausência de profilaxia, a ocorrência de recaída do HBV é de 75%%. A profilaxia incluindo Imunoglobulina e Nucleosídeos Análogos reduz a recaída a 10%. Marzano e um grupo multicêntrico italiano – ABSTRACT 701, estudaram 31 pacientes HBV positivos transplantados que receberam Imunoglobulina (HBIG®), 5.000 UI/mL/, E.V., por quatro semanas durante seis meses, ou 2160 UI, I.M., cada duas semanas por seis meses. No período seguinte de seis até o final do estudo, receberam 2.000 UI, I.M., cada duas semanas. Todos receberam núcleos(t)deos análogos. Após um ano de follow up nenhum paciente havia tido recorrência da infecção e 29 deles mantinham títulos de anti-HBs > 100 UI/mL. Os estudos de farmacocinética e análise estatística mostraram que não houve diferenças na eficácia e segurança dos que receberam 540/3mL E.V. e os que receberam 1.000 UI/mL I.M. Sinvastatina A provável ação da Sinvastatina em HCV ao reduzir o gradiente de pressão venosa hepática, sem efeitos deletérios sobre a hemodinâmica sistêmica, foi adicionalmente enriquecida de importância pelo grupo da Universidade de Oklahoma (Bader,FE et al.AM J Gastroenterol, in press) que demonstraram a atividade viral in vivo contra o HCV em pacientes cirróticos não respondedores ao Interferon peguilado e Ribavirina. Os mesmos autores, ABSTRACT 552, agora em colaboração com a Universidade de Georgetown e o NIAID verificaram ação antiviral da sinvastatina “in vitro” contra o HBV, sugerindo o potencial de eficácia e segurança dessa droga contra HBV. Vacina contra HBV Como o Grupo de Consenso Europeu sobre Imunização contra HBV não seria necessário revacinar após 10 anos em indivíduos vacinados ou adequadamente na infância ou adolescência. O grupo da Universidade de Niigata, Japão, coordenado por Shibasaki, ABSTRACT 668, estudou 1.31 indivíduos em 1998 e acompanhados em grupo conforme o nível de resposta anticórpica e o tempo decorrido de proteção humoral. A soropositividade do anti-HBs após 3, 5, 7 e 10 anos foi, respectivamente, de: Grupo H: > 1.000 mUI/mL: 100, 98.7, 89.7 e 72.2%; Grupo M: 100 a 1000 mUI/mL: 98.1, 83.4, 63.3 e 45.3%; Grupo L: 10 a 100 mUI/mL: 79.8, 61.1, 42.9 e 19.7%. A soropositividade de 50% de anti-HBs foi de: 15.4, 9.1 e 6.2, respectivamente nos grupos H,L e M. Os autores concluem que a diversidade de respostas individuais de anti-HBs recomenda que o tempo para receber booster de vacina deve ser precedido de testagens periódicas do título de anti-HBs pós-vacinação completa. Em outro estudo de Locarnini et al. – ABSTRACT 698, revelou que em co-infectados com o HIV ao desenvolverem vírus mutantes aos núcleos(t)ídeos análogos (NA), ao se propagar aumentam o risco de escape imune à vacinação contra HBV. Comentário: O primeiro trabalho de grande alcance em saúde pública levanta com primazia o consenso de que não haveria necessidade de revacinação senão em indivíduos de alto risco de contágio. Alguns autores já haviam sugerido a revacinação nessa comunidade após 10-15 anos de vacinação completa. O trabalho mostra que as respostas imunes são absolutamente individuais, e que a revacinação deve ocorrer na dependência do título de anti-HBs pós-vacinal. Fica demonstrado que é necessário revacinar grupos de alto risco de contágio em períodos de tempo indicados por dosagens periódicas dos títulos de anti-HBs. O segundo trabalho traz mais preocupações com os mutantes-drogas induzidas, e que merece uma reflexão sobre o futuro dos esquemas de tratamento. HBV Oculto Dois trabalhos chamaram a atenção sobre o HBV oculto. Assim, Wong et al. (Universidade de Hong-Kong), ABSTRACT 672, utilizando PCR em doadores de sangue nessa região encontraram por essa metodologia 0,11% de HBV oculto. Já De Mitri et al. (Universidade de Bolonha, Itália), ABSTRACT 557, estudando o HBV em tecido hepático de co-infectados pelo HIV verificaram baixa heterogeneidade e ausência de divergências genômicas entre o HBV evidente e o oculto, sugerindo que o HBV oculto é estável geneticamente e mantém silenciosamente o potencial patogênico. Progressão da Doença em Portadores do HBV com ALT Normal Chen (Universidade de Taiwan) et al.-ABSTRACT 644- fazendo um update do Estudo REVEAL, avaliaram por 12 anos em média a evolução clínica de 2.097 pacientes portadores assintomáticos “inativos” com ALT persistentemente normal. Utilizaram como a dosagem do DNA/HBV como parâmetro de piora associado às complicações observadas. A incidência de complicações por 100.000 pessoas / ano foram: Morte Relacionada HBC Cirrose HCC Fígado 4 AgHBe+ (≥10 3089 3265 3005 24,933 cópias/mL) AgHBe (≥104 cópias / 2017 2728 3928 14,548 mL) AgHBe - (<10 4 cópias/mL) 842 912 2826 5932 Interferon Peguilado (INF-Peg) Dos trabalhos apresentados com INF-Peg merecem de minha parte interesse: ao Marcelin, coordenando um estudo multicêntrico para tratamento de pacientes AgHBe negativos com Interferon peguilado alfa 2 a + placebo (177 pacientes), Interferon peguilado alfa 2 a + Lamivudina (179) versus Lamivudina em monoterapia (181) por 48 semanas. Foram acompanhados agora por quatro anos. Os que receberam Interferon Peguilado alfa 2 a negativaram o DNA sérico em 24% deles. A ALT normalizou em 27% contra 16% dos que não receberam INF-Peg. Houve 11% de soroconversão do AgHBs em anti-HBs (clearence viral) contra 2% dos que não receberam INF-Peg. Os autores sugerem que o INF-Peg deva ser a terapêutica de primeira escolha em pacientes AgHBs negativos. Entretanto, Zu et al. em estudo aberto multicêntrico na China com INF-PEG 2 a em pacientes HBV AgHBe positivos por 48 semanas -ABSTRACT 712 – não relatam a soroconversão de AgHBs. Com metodologia semelhante Brunetto (Universidade de Pisa) e um grupo multicêntrico – ABSTRACT 682- avaliaram após três anos, encontrando o clearence viral (soroconversão do AgHBs) em 8% dos que receberam INF-Peg 2 a com ou sem Lamivudina, contra nenhum paciente que recebeu somente Lamivudina. Os mesmos autores-ABSTRACT 683- avaliaram com o mesmo material a importância da redução do AgHBs como valor preditivo de resposta ao INF-Peg 2 a. Ainda nesse sentido, Chen et al. (Universidade de Guangzhou, China)-ABSTRACT 690- demonstraram dois padrões de alterações do AgHBs de acordo com o genótipo do HBV e nível do AgHBs baseline (genótipo B > C) apesar da perda do DNA sérico precoce e tardio com Lamivudina e a rara ocorrência da perda do AgHBs em terapia de longa duração. Jang et al. (Universidade de Seul, Coréia) – ABSTRACT 691avaliaram em 336 pacientes cirróticos HBV positivos quanto a fatores de piora clínica e/ou laboratorial (ascite, varizes esofagianas, encefalopatia hepática, bilirrubinas, tempo de protrombina, ALT, nível de albumina e carga viral) durante 10 anos. Compararam os resultados em associação com o tratamento incluindo INF-PEG com ou sem Lamivudina, e somente Lamivudina. Não houve diferenças quanto à resposta viral, mas fortemente com a normalização da ALT. Huang et al. em estudo multicêntrico na China – ABSTRACT 654- extraindo o DNA e RNA do HBV sérico em 10 pacientes tratados com núcleos(t)ídeo análogo e seis com terapia seqüencial Lamivudina 936 semanas seguido por Interferon por mais 36 semanas. O RNA foi indetectável antes do tratamento com monoterapia em oito pacientes e em quatro pacientes com terapia seqüencial. Entre esses dois grupos, o DNA do HBV pré-tratamento e o tempo de duração do tratamento foram comparáveis. Entretanto, o RNA/HBV foi detectado somente em somente um paciente pós-tratamento sob monoterapia e em todos os com terapia seqüencial. Os autores concluem que o Interferon inibe o RNA detectado durante a terapia com Lamivudina. Comentário: Em que pese as dificuldades de tratamento com os Interferons peguilados, seus efeitos colaterais severos e a má resposta aos pacientes AgHBe positivos, a terapia de primeira escolha para pacientes AgHBe negativos para ser agora bem sugerida pelos estudos referidos, quer pelo tempo limitado de tratamento (48 semanas), quer pela maior possibilidade de alcançar o clearence viral (soroconversão do AgHBs) que é efetivamente o objetivo terapêutico maior. Parece-me que a utilização de antivirais deveria ser indicada para pacientes AgHBe positivos, não respondedores ou intolerantes ao INF-Peg. Os estudos de Bruneto et al., e de Chen et al., introduziram um parâmetro ainda não bem utilizado como preditivo de resposta ao Interferon, que pode vir a ter importante utilidade na prática clínica e em futuros protocolos de pesquisa, ainda que mereça melhor avaliação. O estudo de Jang et al. é interessante, mas contraditório. Os próprios autores comentaram que o achado da redução de ALT ser superior à resposta virológica como preditivo de menor complicação da cirrose em HBV é surpreendente. Como estudo isolado necessita de validação posterior para uso na prática clínica. O estudo de Huang et al. traz uma importante observação para a terapêutica futura da HBV crônica. Lamivudina (LAM) Van Bömmel et al. num estudo multicêntrico na Alemanha – ABSTRACT 709estudaram o DNA/HBV baseline e o tempo de supressão em 293 pacientes HBV crônicos tratados com LAM e/ou LAM+INF. Verificaram que o desenvolvimento de resistência foi diretamente proporcional ao menor nível de DNA pré-tratamento e a sua supressão nos primeiros seis meses de tratamento. Não encontraram correlação da resistência anti-LAM com outros fatores virais (genótipo, AgHBe) ou do hospedeiro (sexo, idade, índice de massa corporal, nível de ALT). Comentário: A LAM ainda é utilizada em muitos países, inclusive na rede pública brasileira, como droga de primeira escolha pelo baixo custo, segurança, ainda que apresente cerca de 70 % de resistência genômica após cinco anos de tratamento, rara supressão do AgHBs mesmo a longo prazo. Tal fato tem motivado a busca de novos antivirais e não suplantou o INF como droga de escolha. Após a necessária reprodutibilidade dos resultados alcançados pelo grupo alemão, a introdução da LAM em esquemas terapêuticos poderá fornecer ao clínico a orientação de considerar a baixa viremia pré-tratamento como liberação do uso da droga e a resposta após seis meses (negativação do DNA/HBV) como fator preditivo de segurança contra resistência genômica. Adefovir (ADV) Dois trabalhos sobre o ADV revelam uma ação imunomoduladora da droga. Jiang et al. (Universidade de Jilin, China) – ABSTRACT 562- apresentaram evidências de que o tratamento reconstitui o sistema imune de maneira ampla estimulando citoquinas expressas pela resposta Th1 assim como Th2. Os autores sugerem que a dosagem de citoquinas poderiam ser marcadores de eficácia para uso clínico. Wirth et al. (Universidade de Essen, Alemanha) – ABSTRACT 575 – apresentaram resultados que sugerem uma estimulação da produção de interferon alfa. Os autores concluem que o ADF teria além da ação antiviral também capacidade imunomoduladora. Castel et al. (Universidade de Montreal, Canadá) – ABSTRACT 684 Mostraram que a carga viral na semana 48 maior que 6 logs10 copias/mL e monoterapia com ADV estão associados a maior risco de resistência ao ADV em pacientes LAMresistentes. Os autores sugerem que o ADV seja introduzido rapidamente, tão logo surjam indícios de resistência terapêutica com LAM em monoterapia. Entecavir (ETV) Foram apresentados os resultados preliminares de três grandes clinical trials internacionais sobre eficácia e segurança do ETV, os quais o Brasil participa em vários centros de pesquisa do País. Os trabalhos apresentados no EASL-2008 se referem aos resultados multicêntricos dos grupos da China, Japão e Filipinas. Yao et al. (Universidade de Shangai, China) – ABSTRACT 714 - relataram os resultados de um dos estudos desenvolvidos em centros chineses de pesquisa. Foram incluídos num estudo coorte (Estudos ETV-023 e ETV-050) 160 pacientes chineses, AgHBe positivos e negativos, naïves de NA, derivados de outros protocolos duplo-cego com placebo, os quais foram seguidos por três anos de terapia continuada com 1 mg/dia de ETV. O grupo foi composto de a) pacientes não respondedores virológicos após 52 semanas; b) pacientes que não tinham resposta consolidada após 96 semanas de terapia; c) pacientes que tiveram um “breakthrough” durante no ano dois do tratamento; d) pacientes que tiveram uma interrupção de tratamento com menos de 35 dias. Foram avaliados na semana 144. EA redução de DNA < 300 cópias/mL ocorreu em 89% dos pacientes; normalização da ALT em 86% dos pacientes; a perda do AgHBe em 20% dos pacientes e soroconversão em 8% dos pacientes. O mesmo grupo de pesquisadores chineses – ABSTRACT 715 – desenvolveram estudo coorte (Estudos ETV 056 e ETV 050) com 128 pacientes que tinham falhado à terapêutica com LAM que completaram pelo menos 36 semanas do estudo ETV-056 e foram envolvidos no ETV-050 agora tratados com 1 mg/dia de ETV e acompanhados por três anos. Em 98% dentre todos os pacientes com falha prévia à LAM tiveram redução do DNA < 300 cópias/mL e 65% tiveram normalização da ALT. Mochida et al. (Universidade de Saitama, Japão) – ABSTRACT 703 – relataram os resultados de um dos estudos desenvolvidos em centros japoneses de pesquisa. Foram incluídos num estudo coorte (Estudo ETV-060) pacientes provenientes de estudos de fase II de ETV (Estudos ETV-047 e ETV-053) após completarem 24 e 52 semanas de tratamento com 0,5 mg/dia foram avaliados quanto à eficácia. Segurança e resistência após três anos de observação. A redução de DNA < 400 cópias/mL aumentou nos pacientes do ETV-047 que haviam sido tratados por 24 semanas de 44% para 80% após continuação do tratamento por pelo menos 96 semanas. Os pacientes do ETV-053 que haviam sido tratados por 52 semanas aumentaram de 68% para 85%. O ETV continua mostrando uma alta barreira genômica de resistência em torno de 1,7% após três anos de tratamento. Comentário: O Entecavir continua a mostrar alta barreira de resistência genômica frente aos demais NA. Os resultados dos estudos internacionais (nosso Grupo está também participando) agora relatando resultados parciais asiáticos que confirmam a alta eficácia e rápida ação do ETV em redução do DNA viral, tornando o medicamento indispensável para substituir NA resistentes e, a meu juízo de valor, até para iniciar a terapêutica em pacientes monoinfectados AgHBe positivos, em situações clínicas de resgate rápido, ou em pacientes AgHBe negativos não respondedores ao Interferon.