DANISCO QUINOA: UM ALIMENTO ALTAMENTE NUTRITIVO Cultivada há mais de cinco mil anos na Cordilheira dos Andes, a quinoa é um dos poucos vegetais completos, por apresentar um balanço de aminoácidos adequado à nutrição humana. FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS Origem 34 Para os incas, uma planta sagrada. Para o homem moderno, uma alternativa alimentar altamente nutricional e ecologicamente viável. Esta é a quinoa, um vegetal cultivado nas regiões andinas há pelos menos cinco mil anos e que continua a ser produzido principalmente no Peru e na Bolívia. Conhecida também como o “trigo dos incas”, a quinoa é um tipo de cereal que produz uma semente pequena, comestível, rica em proteí­nas, vitaminas e minerais. Os Incas chamavam a quinoa de “chisiya mama”, o que significa em Quéchua “mãe de todos os grãos”. Para eles, a quinoa era uma planta sagrada, e era o imperador Inca que todos os anos semeava os primeiros grãos, usando um utensílio de ouro. Durante o solstício (momento em que o sol, durante seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do equador), os grandes sacerdotes Incas a ofereciam ao sol em vasos de ouro. Pesquisas arqueológicas indicam que a quinoa foi cultivada por volta de 5.000 anos antes de Cristo na Bacia de Ayacucho, no Peru. Segundo os arqueólogos, de 70% a 90 % das sementes descobertas no sítio de Chiripa, perto do Lago Titicaca, são sementes de quinoa. É ao redor do Lago Titicaca que se encontra a maior diversidade de quinoas; o centro de origem dessa planta se encontra no Peru ou na Bolívia. Sua extensão atual na América do Sul coincide quase com os limites do império Inca, para o Norte na região de Bogotá, na Colômbia, e para o Sul até a ilha de Chiloé, na costa Chilena. Sua cultura se estende também ao território dos Araucanianos, cultura extremamente criativa que nunca foi conquistada pelos Incas. A quinoa constitui a base alimentícia das grandes civilizações pré-colombianas. Assim, o centro cultural de Tiahuanaco, que foi particularmente florescente do ano 600 ao ano 1.200, era muito dependente da cultura de quinoa, pois era localizado às beiras do Lago Titicaca, a 4.200 metros de altitude. O império Inca que lhe sucedeu, podia ainda contar com a cultura do milho, pois sua capital Cuzco era situada a 450 metros mais baixo em altitude. Até o momento da conquista espanhola, dois terços da população do que é hoje o Peru vivia nas terras onde reinava a cultura da quinoa. Durante a invasão européia da América do Sul, a quinoa constituía o segundo alimento, por ordem de importância, dos povos Andinos. O primeiro era a batata e o terceiro era o milho. Os espanhóis adotaram rapidamente o milho que crescia em altitudes inferiores e em climas mais amenos. A quinoa desapareceu com a sociedade e com o sistema agrícola que a havia portado. Apesar disso, restos do antigo sistema agrícola perduraram nos vilarejos indígenas, e foram esses vilarejos que durante séculos contribuíram para a preservação dessa cultura antiga. O cultivo da quinoa foi retomado há aproximadamente 40 anos, por um pequeno grupo de pesquisadores Andi- nos, para quem era muito importante promover essa cultura, assim como de outras espécies alimentícias datando da mesma época pré-colombiana. Graças ao apoio de organizações internacionais e agrônomos da América do Sul, amostras de quinoa foram coletadas, bancos de sementes no Equador, na Bolívia e no Peru foram elaborados, trabalharam na melhora das variedades, estudaram as condições de cultivo e estabeleceram técnicas de colheita. Em 1975, a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos instigou os pesquisadores a continuar a explorar os potenciais dessa cultura, declarando que “seu grão rico em proteína e dotado de um bom equilíbrio dos aminoácidos, poderia se revelar uma melhor fonte de proteínas do que os cereais tradicionais”. Depois do interesse suscitado pela quinoa na América do Norte, o setor privado começou a comercializá-la e, no início dos anos 1980, a sociedade Nestlé decidiu implantar no Equador um centro de pesquisas e de desenvolvimento de plantas alimentares originárias da América do Sul. A quinoa desembarcou no Brasil há pouco tempo. Foi a partir de 2004 que esse grão começou a ser importado do deserto Uyuni, nos Andes bolivianos. O local fica a 3.800 metros acima do nível do mar e no inverno a temperatura pode atingir 30 graus negativos. A quinoa plantada em outros lugares não tem as mesmas características nutricionais desta, cultivada em seu local de origem, onde o solo, o clima, os ventos, a salinidade do ar e a altitude são muito peculiares. Além de ser ótima fonte de carboidratos de baixo índice glicêmico, vitaminas, minerais e gordura saudável, a quinoa contém todos os aminoácidos essenciais que o organismo não fabrica e que são precursores das proteínas histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, treonina, triptofano, valina e arginina. Essas proteínas, formadas pelos aminoácidos, são indispensáveis para o melhor rendimento e elasticidade das fibras musculares, recuperação de tecidos e células, manutenção dos órgãos, da pele e do sistema imunológico, bem como para a produção de hormônios e enzimas. Geralmente, um legume, uma verdura, um cereal ou uma fruta pode apresentar determinado aminoácido essencial em quantidade significativa e ter carência dos demais. A quinoa reúne todos. Outro diferencial do grão é a presença dos aminoácidos metionina e lisina, típicos de alimentos de origem animal, como carne e ovos. Esses dois aminoácidos estão relacionados ao desenvolvimento da inteligência, à rapidez de reflexos e a funções como a memória e a aprendizagem. Cultivo e variedades A quinoa (Chenopodium quinoa) é uma planta anual que pode atingir mais de 2,5 metros de altura. Algumas variedades podem não passar de um metro de altura, como a variedade chamada Real. A magnificência da quinoa se revela nos panículos imponentes de cores variadas, como verde, amarelo, vermelho, ocre e marrom. A cultura da quinoa é relativamente fácil. É uma planta resistente, que pode crescer nos Andes em até 4.000 metros de altitude; a espécie Chenopodium pallidicaule cresce em altitudes de até 5.000 metros, em regiões altas com neve durante nove meses do ano. Segundo a variedade, o crescimento da quinoa dura de 90 a 220 dias. Quanto à sua produtividade, é muito aceitável e pode variar nas melhores parcelas de 3 a 5 toneladas por hectare. Classificação científica Reino Plantae Filo Magnoliophyta Classe Magnoliopsida Ordem Caryophyllales Família Amaranthaceae Subfamília Chenopodiaceae Gênero Chenopodium Espécie C. quinoa Nome binomial Chenopodium quinoa Existem numerosas variedades de quinoa que se dividem em cinco grupos: Quinoa dos vales - Cultivada nos vales inter-andinos em altitudes entre 2.200 e 4.000 metros. As plantas são grandes, ramificadas e se caracte­rizam por uma longo período de crescimento de mais de sete meses. Esse grupo inclui variedades, como a Blanca de Junin, Rosada de Junin, Dulce de Lazo, Dulce de Quitopamba e Amarilla de Marngani. Quinoa do altiplano - Cultivada na região do Lago Titicaca a uma altitude de aproximadamente 4.00 metros. As plantas são particularmente resistentes à geada. Possuem de 1 a 1,80 metros de altura. A maior parte das variedades não é ramificada e seu período de crescimento varia de quatro a sete meses. Esse grupo inclui as variedades ­Chawecca, Kanccolla e Blanca de Juli. Quinoa de terrenos salinos - Originária das zonas salinas da Bolívia a uma altitude de aproximadamente 4.000 metros. As plantas são particularmente resistentes e muito adaptadas a solos salinos e muito alcalinos (com pH acima de 8,0). Suas sementes são amargas e possuem um grande teor em proteínas. A maioria das variedades tem sementes pretas. Uma variedade de terrenos salinos foi um dos pais da variedade Sajama, que possui sementes brancas e fraco teor de saponinas. Existem também algumas variedades desse grupo de sementes brancas, a mais importante é a variedade Real. Quinoa de zonas baixas ao nível do mar - Cultivada no Sul do Chile, em latitudes de aproximadamente 40° Sul. As plantas não são normalmente ramificadas e suas sementes amarelas e translúcidas são amargas. Sua altura é de mais ou menos 2 metros. São plantas que florescem em dias longos. Quinoa sobtropical - Cultivada nos vales inter-andinos da Bolívia. A cor dessas plantas é de um verde intenso, tornando-se laranja durante o processo de maturação. As sementes podem ser brancas ou laranjas. A Bolívia é o maior produtor mundial de quinoa e possui, inclusive, o maior banco de grãos do mundo. Acredita-se que a domesticação da planta na meseta andina tenha de fato 10 mil anos. Seu consumo habitual foi comprovado pelos arqueólogos, ao encontrarem quinoa nas ruínas préhispânicas. Após a conquista espanhola, os alimentos autóctones, como a quinoa, caíram paulatinamente em desuso e foram substituídos pelos grãos consumidos na Europa, como o trigo e a cevada.Porém, os agricultores andinos conservaram as sementes e continuaram seus cultivos em pequenas parcelas de terra, sabendo da enorme riqueza da quinoa. Somente no último terço do século XX, os bolivianos redescobriram o valor do grão. A partir de estudos científicos e do melhoramento de algumas variedades, como a quinoa “sajama”, verificou-se uma grande expansão, tanto do seu cultivo como do seu consumo no país. No Brasil, as pesquisas com a quinoa começaram na década de 1980, pela Embrapa, obtendo-se ótimos resultados. Atualmente, agrônomos, engenheiros de alimentos, nutricionistas e outros profissionais pesquisam cada vez mais a quinoa, inclusive procurando adaptá-la ao solo de cerrado brasileiro, principalmente no Estado de Mato Grosso. Resultados das pesquisas mostram que o Brasil apresenta um enorme potencial para produzir a quinoa na região Central, mais árida, pois a planta não exige muita chuva e pode ser cultivada na entressafra da soja, bem como nas áreas mais altas e frias da região Sul. Pesquisas realizadas pelo Departamento de Nutrição da Universidade de São Paulo, em parceria com a Embrapa, comparando a quinoa andina com a produzida no Brasil, comprovaram um perfil de proteí­nas de 90% em ambas. FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS DANISCO 35 DANISCO A quinoa brasileira contém mais fibras, 13% contra 8,5% da andina. Os resultados indicam grandes semelhanças genéticas com a original, prometendo um futuro promissor para o cultivo no Brasil. Cada 100 gramas de quinoa contêm: Proteínas 15 Carboidratos 60 Ferro 9,5g Fósforo 286g Cálcio 112g Fibras 5 Calorias 350 FUNCIONAIS & NUTRACÊUTICOS Valores nutricionais 36 O valor protéico da quinoa é superior ao dos demais cereais. As sementes contêm 23% de proteínas e grande quantidade de vitaminas, como B1, B2, B3, B6, C e E. É rica também em minerais, como o ferro (9,5mg/100 g), o fósforo (286mg/100 g) e o cálcio (112mg/100 g). Da mesma forma, o valor calórico está calculado em 350Kcal/100gr, o que faz da quinoa um alimento apropriado para áreas altas e épocas mais frias. A composição de aminoácidos essenciais confere à planta um elevado valor biológico, comparável somente ao leite e ao ovo. Esse valor biológico é medido segundo a quantidade de proteínas absorvidas pelo organismo por cada 100g do produto ingerido. O índice da quinoa é igual a 75 (por 100g), do ovo 95, do leite 72, do trigo 60, e do milho 44. Essas proteínas atuam para um melhor rendimento e elasticidade das fibras musculares, auxiliam na recuperação de tecidos e células e estimulam a produção de hormônios e enzimas. A quinoa também é uma boa fonte de triptofano, aminoácido ligado à produção de serotonina no cérebro, responsável pela modulação do humor, pela disposição e pelo bem-estar. Por isso, é provável que o seu consumo regular possa ajudar a reduzir a fadiga e a depressão. A quinua é livre de glúten, isso significa que os celíacos - pessoas com intolerância às proteínas presentes no glúten ou pessoas com sensibilidade alimentar ao glúten - podem saborear pães, tortas e bolos feitos com a farinha de quinoa. Por ser rica em fibras, até mais que o arroz integral, a quinoa ajuda a aumentar a sensação de saciedade durante as refeições, melhora o funcionamento intestinal e favorece o controle dos níveis de colesterol, glicemia e triglicérides no sangue. Ou seja, pode ser um grande aliado para quem quer emagrecer com saúde. Propriedades medicinais e indicações Uma pesquisa revelou que a quinoa age na prevenção de enfermidades crônicas, como a osteoporose, o câncer de mama, as doenças do coração e outras alterações femininas decorrentes da carência de estrógenos na menopausa. O estudo observou que as mulhe­ res do altiplano boliviano, cuja dieta é rica em quinua, apresentam um índice reduzido de osteoporose em relação às mulheres de outras cidades, que não consomem o alimento. Os cientistas acreditam que isso aconteça pela presença, na quinua, dos chamados fitoestrógenos, existentes na maioria dos cereais comuns.Contudo, ainda não houve um exame científico que comprovasse a presença da substância na quinua. A quinoa é indicada para todas as idades e faixas de peso. A porcentagem de energia liberada pelo ácido linoléico (presente nas sementes de quinoa) é de 10%, o maior índice recomendado pela Academia Americana de Pediatria para alimentos infantis (onde o conteúdo mínimo é 2,7%). O alimento é especialmente útil às crianças porque contém lisina, um componente relacionado ao desenvolvimento da inteligência, da rapidez de reflexos e de outras funções como a memória e a aprendizagem. Outra indicação da planta é aos atletas. A quinua, além de ajudar na recuperação das fibras musculares, é de fácil digestão e contém pouco colesterol e gordura. É perfeito para quem faz exercícios físicos. Nos homens, atua como normalizador da próstata e dos órgãos reprodutores. Combate anemias, problemas urinários, tuberculose, complicações no fígado e desnutrição. COMPOSIÇÃO DOS GRÃOS DE QUINOA EM RELAÇÃO A OUTROS CEREAIS (100g) Componentes Quinua Trigo Aveia Calorias (Kcal) 336 330 405 Carboidrato (g) 68,3 71,6 68,5 Proteína (g) 12,1 9,2 10,6 Lipídeo (g) 6,1 1,5 10,2 Água (g) 10,8 16,5 9,3 Fósforo (mg) 302 224 321 Cálcio (mg) 107 36 100 Fibras (g) 6,8 3 2,7 Cinzas (g) 2,7 1,1 1,5 Ferro (mg) 5,2 4,6 2,5 Tiamina (mg) 1,5 0,2 0 Niacina (mg) 1,2 2,8 0 Riboflavina (mg) 0,3 0,8 0 Ácido Ascórbico (mg) 1,1 0 0