40 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 52-61, dez. 2012 Principais doenças ginecológicas responsáveis por indicação de histerectomia em pacientes acompanhadas no município de Serra Talhada - PE Main gynecological diseases responsible for indication of hysterectomy in patients followed in the municipality of Serra Talhada – PE Jeany Denyziane Ferreira Alves de Oliveira¹; Breno Gusmão Ferraz ¹* Faculdade de Integração do Sertão, Serra Talhada – PE. Resumo: O presente estudo teve como objetivo verificar retrospectivamente quais as principais doenças ginecológicas que acarretaram como tratamento a indicação de histerectomia. A pesquisa documental de natureza quantitativa teve como base a abordagem descritiva sendo realizada através da aplicação de um questionário aos prontuários de 156 pacientes submetidas à histerectomia em duas unidades hospitalares no município de Serra Talhada - PE nos meses de setembro de 2010 a setembro de 2011. Identificamos que a faixa etária dos 30 aos 49 anos é a mais acometida pelas patologias ginecológicas, representando 51% do total e tendo como principal fator predisponente a diminuição dos hormônios na pré-menopausa. Das 156 cirurgias realizadas cerca de 70% das pacientes receberam como principal diagnóstico a miomatose uterina e a principal via utilizada para a realização da histerectomia foi à abdominal em 94%, dos casos por proporcionar confiabilidade e visibilidade dos órgãos pélvicos e anexos. Apesar da histerectomia via vaginal apresentar menor tempo de internação, recuperação mais rápida, pós-operatório menos doloroso e menor custo para o Sistema Único de Saúde (SUS) comparando com a histerectomia abdominal, ela não é usualmente realizada. A ooforectomia foi realizada conjuntamente em 53% da amostra estudada. O resultado deste estudo deve despertar a realização de novas pesquisas que possam orientar as mulheres a procurar acompanhamento ginecológico periodicamente como forma de prevenção, além de estimular o desenvolvimento de campanhas para os profissionais médicos para aumentar o número de histerectomias vaginais. Palavras-chave: Doenças ginecológica. Mulher. Histerectomia. Abstract: The aim of this study was to examine retrospectively the main gynecological diseases that led to the indication for hysterectomy. The quantitative documentary research was based on the descriptive approach that was performed by applying a questionnaire to the medical records of 156 patients who underwent hysterectomy in two hospitals in the municipality of Serra Talhada - PE in September 2010 to September 2011. We found that the age range from 30 to 49 years is the most affected by gynecological pathologies, representing 51% of total and the main predisposing factor in the decrease in pre-menopausal hormones. Of the 156 surgeries performed about 70% of the patients the main diagnosis was uterine miomatosis and the main route used for the realization of the hysterectomy was abdominal in 94% of cases by providing reliability and visibility of the pelvic organs and vaginal hysterectomy annexes.Despite the hysterectomy through vagina shows shorter time of hospital stays, faster recovery, less postoperative pain, and less cost to the Unified Health System (UHS) compared with abdominal hysterectomy, it is unsually realized. Regarding hysterectomy was performed in 53% of the sample studied. The result of this study should arouse the carrying out of new research that can inform women seeking gynecological periodically as a means of prevention. Besides stimulating the development of campaigns for medical professionals to increase the number of vaginal hysterectomies. Key word: Gynecological diseases. Woman. Hysterectomy. *Autor para correspondência: Breno Gusmão Ferraz, Rua: João Luiz de Melo, 2110, Bairro: Tancredo Neves, CEP 56909-205 Serra Talhada-PE. Brasil. E-mail: [email protected]. 41 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 52-61, dez. 2012 INTRODUÇÃO Hystera é uma palavra de origem grega que significa útero, um órgão feminino em forma de pêra que é de fundamental importância para a reprodução, pois nele é realizado o desenvolvimento embrionário. Para algumas culturas o útero é considerado o símbolo da feminilidade e da sexualidade da mulher, apesar de que vários estudos mostram que o prazer não se restringe apenas aos órgãos sexuais, mas envolve todo o corpo e cabe à mulher conhecer o seu funcionamento (MELO; BARROS, 2009). Segundo Montenegro e Filho (2008), a histerectomia é a exérese total ou parcial do útero, um tratamento cirúrgico que mesmo após esclarecimentos de como é realizado, a sua finalidade, e qual é a verdadeira função do útero a sua retirada pode desencadear fortes reações emocionais pela perda do órgão, e até mesmo o desconhecimento do próprio corpo (BARROS; MELO, 2009). Por isso, Smeltzer e Bare (2009) enfatizaram a necessidade de esclarecer que o orgasmo se origina da estimulação do clitóris e da vagina e não do útero como várias mulheres imaginam. Estimativas indicam que 20 a 30 % das mulheres serão submetidas à histerectomia até a sexta década de vida. Os fatores predisponentes que as tornam mais susceptíveis as várias enfermidades pélvicas e, consequentemente, fortes candidatas a se submeterem à histerectomia são: a nuliparidade, a multiparidade, o envelhecimento, o uso de contraceptivos orais por longo prazo, o uso de dispositivo intrauterino e a laqueadura tubária (ARAÚJO; AQUINO, 2003; SÓRIA et al., 2007; TOZO et al., 2009). No Brasil a histerectomia é a segunda cirurgia mais realizada em mulheres, perdendo apenas para a cesariana e tem como principal indicação as patologias benignas e suas complicações, sendo que apenas 5,1 % das histerectomias realizadas são por enfermidades malignas (ARAÚJO; AQUINO, 2003). As principais queixas que levam as mulheres a procurarem os serviços médicos são as irregularidades menstruais, as dores lombares, aumento do volume uterino, sangramento refratário ao tratamento clínico, e dor após as relações sexuais. Sintomatologia provocada principalmente pelas enfermidades pélvicas benignas (MONTENEGRO; FILHO, 2008). Entre as enfermidades uterinas benignas que mais acometem as mulheres destacam-se os leiomiomas/miomas, a endometriose, o prolapso uterino, e, entre as malignas destacam-se o câncer do colo do útero e o carcinoma do útero (endométrio), estas últimas são mais prevalentes em mulheres pós-menopausa ou nas que não têm acesso aos serviços médicos (MONTENEGRO; FILHO, 2008). O diagnóstico destas enfermidades é realizado por meio de anamnese, do exame físico minucioso, do exame bimanual pélvico (toque vaginal), da ultrassonografia transvaginal e do resultado dos esfregaços de Papanicolau. O resultado destes exames juntamente com a idade da paciente e a vontade de ter filhos será primordial para a escolha do tratamento que pode ser medicamentoso ou cirúrgico. Sendo que o tratamento cirúrgico é a opção mais eficaz para solucionar os sintomas e a recorrência de várias doenças ginecológicas, assim como o principal tratamento curativo para as doenças malignas (MONTENEGRO; FILHO, 2008). A histerectomia é um procedimento indicado para tratar diversas patologias que atinge o assoalho pélvico feminino, tal procedimento pode ser realizado por três vias distintas: a via abdominal, a via vaginal, e a via vaginal assistida por um laparoscópico. A escolha da via dependerá da patologia a ser tratada e do estado geral da paciente. Em geral, as condições 42 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 52-61, dez. 2012 malignas requerem a uma histerectomia abdominal e a salpingo-ooforectomia bilateral (RICC, 2008). Apesar da histerectomia ser a solução para várias patologias, este método pode provocar complicações intra e pósoperatórias como: hemorragia, infecção, deiscência da ferida operatória, infecção urinária e pneumonia pós-cirúrgica, além de lesões dos órgãos adjacentes como ureter, bexiga e intestino. Também podem ocorrer algumas complicações tardias, tais como: distúrbios sexuais, distúrbios psicológicos, distúrbios do climatério, disfunções do trato urinário inferior, constipação intestinal, além de impossibilitar a mulher de gerar filhos. Por outro lado algumas mulheres relatam melhora na saúde física e mental após a histerectomia (HOBEIKA et al., 2002). O artigo tem como foco as principais doenças ginecológicas responsáveis por indicação de histerectomia em pacientes acompanhadas no município de Serra Talhada - PE. A intenção é disponibilizar dados que possam contribuir para o desenvolvimento de programas preventivos para essas mulheres de acordo com as principais doenças encontradas no estudo. METODOLOGIA A pesquisa foi realizada com informações dos prontuários de 156 pacientes submetidas à histerectomia no período de setembro de 2010 a setembro de 2011 em duas unidades hospitalares particulares conveniadas com o Sistema Único de Saúde (SUS) no município de Serra Talhada – PE. O tamanho da amostra foi calculado através da fórmula matemática e o erro amostral tolerável para o estudo foi de 5%. O estudo documental retrospectivo de análise quantitativa foi realizado em duas etapas: o levantamento dos dados e o processamento dos mesmos. No levantamento dos dados, foi utilizado um questionário sistemático baseado numa abordagem descritiva, com 6 perguntas para serem respondidas a partir da análise dos prontuários das pacientes cuja cirurgia foi custeada pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no período de setembro 2010 a setembro de 2011. Após a coleta, os dados foram sistematizados por meio de tabelas, sendo analisados e apresentados na forma de tabelas e gráficos a partir do programa Excel. A pesquisa está de acordo com as normas da Resolução Nº 196/96, da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa/Conselho Nacional de Saúde (Conep/CNS). Foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Fundação Francisco Mascarenhas da Faculdade Integrada de Patos pelo número de protocolo: 089/2011 e autorizada pelos diretores responsáveis pelas unidades através da Carta de Anuência e do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. RESULTADOS E DISCUSSÃO Entre os dados relativos à faixa etária das pacientes que se submeteram a histerectomia, observa-se o fato de que a maioria das pacientes encontra-se no período reprodutivo, representando 79% do total das pacientes submetidas a histerectomia no município de Serra Talhada. Dos 156 prontuários analisados percebe-se que a maior incidência das histerectomias realizadas ocorre nas mulheres com idades entre 30 - 39 anos com 41 casos (26%) e entre 40 - 49 anos 79 (51%). Para Silva; Santos e Vargens (2010), "aproximadamente 58,5 milhões da população brasileira são compostos por mulheres em idade reprodutiva, ou seja, de 10 a 49 anos. Esta faixa etária representa 65% da população feminina do Brasil". Em estudo realizado por Sbroggio; Giraldo e Gonçalves (2008) relatou-se que 43 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 52-61, dez. 2012 a produção de hormônios começa a cair a partir dos 35 anos, provocando vários distúrbios sexuais, ocorrendo desta forma como consequência um aumento no número de histerectomias. Isso justifica a existência da maior prevalência de procedimentos realizados entre as mulheres na faixa etária dos 30 aos 49 anos. Gráfico 1 - Relação da Faixa Etária X Tipos de Histerectomia. Fonte: Os autores, 2011. Os dados do Gráfico 2 mostram relação entre a faixa etária e a via de acesso para a realização da histerectomia. Tais dados permitem observar que a via abdominal é a mais utilizada para todas as idades. Apenas na faixa etária > 60 anos houve um incremento na realização da cirurgia por via vaginal com 8 (5%) das 14 pacientes submetidas à histerectomia. Isso acontece porque nessa faixa etária ocorre o aumento das indicações por prolapso uterino, caracterizado pelo enfraquecimento das estruturas que sustentam o útero, devido a uma série de fatores, sendo os mais comuns: o parto normal e à diminuição dos estrogênios após a menopausa (RICC, 2008). 44 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 52-61, dez. 2012 Gráfico 2 - Distribuição da população submetida à histerectomia de acordo com a situação conjugal. Fonte: Os autores, 2011. A partir dos dados apresentados no Gráfico 3 é possível analisar a relação conjugal das 156 participantes, e de acordo com a análise estatística, pode perceber o maior número de histerectomias realizadas entre mulheres casadas, 86 (55%) das participantes, porém com um percentual expressivo de 44 participantes solteiras (28%). Em várias culturas, inclusive na sociedade ocidental, o útero é identificado como a alma da mulher e representa a feminilidade, a sexualidade e a reprodução, apesar dele só ser lembrado no momento de sua retirada ou durante a gestação. Para algumas mulheres, a cirurgia para retirada do útero pode desencadear vários distúrbios psicológicos, trazendo também interferências na vida afetiva e sexual com os parceiros, por achar que eles possam perder o interesse sexual nela após a realização da operação. Isso pode despertar uma serie de conflitos interiores, por ela se sentir vazia, fria e sem interesse sexual. Tais crenças são muito comuns em mulheres que não conhecem o próprio corpo e acham que o mesmo é apenas fonte de prazer para o homem, esquecendo-se de se descobrirem (LOUREIRO, 1997; NUNES et al., 2009; TOZO et al., 2009). Em contrapartida, Salimena e Souza (2008) relatam que outras mulheres verbalizam melhoras na relação conjugal com o parceiro por não sentir dores durante a relação sexual após a histerectomia. Tais mulheres relatam que recuperaram o prazer pelo sexo, além de melhorar o convívio com outros familiares. Ressalta-se a importância de criar no ambiente hospitalar um atendimento psicológico que possa tirar todas as dúvidas das mulheres a respeito da retirada do útero para que este procedimento seja encarado da melhor maneira tanto pela a mulher como pelo o seu parceiro (TOZO et al., 2009). Na Tabela 1 estão descritas as principais queixas relatadas na anamnese dos 156 prontuários analisados. Entre várias sintomatologias provocadas pelas doenças ginecológicas, observa-se que os sintomas mais relatados entre as mulheres submetidas à histerectomia foram: dismenorréia 19 dos casos (12%), dor pélvica, 90 casos (58%) e irregularidades menstruais 19 dos casos (12%). Silva; Santos e Vargens (2010) realçam que alguns casos das doenças ginecológicas apresentam-se assintomáticos e quando surgem sintomas 45 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 52-61, dez. 2012 os mais comuns são sangramento uterino, que provoca anemia e a indisposição física relatada por algumas pacientes, sensação de peso no baixo ventre, infertilidade entre outros. Tabela 1 - Principais queixas relatadas das pacientes submetidas à histerectomia durante a anamnese. Sintomas N° % Dismenorréia 19 12 Dispauremia 13 8 Dor Lombar 16 10 Dor Pélvica 90 58 Irregularidades Menstruais 19 12 Menorragia 06 6 156 100 Total Fonte: Os autores, 2011. Na Tabela 2 estão dispostas as principais doenças ginecológicas diagnosticadas que acarretaram como tratamento a histerectomia. Observa-se que das 156 pacientes que foram submetidas a histerectomia, 109 foram abordadas por via abdominal, o que representa cerca de 70% da amostra, tendo como diagnóstico principal os leiomiomas/miomas. E apenas 3 pacientes, isto é 2% da amostra, foram diagnosticadas com neoplasia maligna. Tabela 2: Principais doenças diagnosticadas nas pacientes submetidas à histerectomia. Diagnóstico N° % Leiomiomas/ Miomas 109 70 Endometriose 16 81 Prolapso uterino 16 6 Neoplasias malignas 9 2 Outros 19 12 156 100 Total Fonte: Os autores, 2011. A cada ano cerca de 300 mil mulheres recebem a indicação de histerectomia e necessitam de cirurgia. As indicações são as mais variadas: mioma uterino, hemorragias indominável, roturas do útero, endometriose, prolapso uterino, as neoplasias entre outras. Sendo que 70 a 80% das indicações de histerectomia são devido à miomatose uterina. (MURTA et al., 2000; NUNES et al., 2009). Os leiomiomas/miomas são tumores benignos originados de tecido muscular do útero que se desenvolvem lentamente e acometem cerca de 20 a 40% das mulheres em idade reprodutiva. É a causa mais comum de indicação de 46 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 52-61, dez. 2012 histerectomia nos serviços de ginecologia representando 70 a 80 % dos casos, enquanto as neoplasias do colo do útero e do útero é a segunda causa de indicação. (SMELTZER; BARE, 2008; MURTA et al., 2000). No nosso estudo, a principal indicação de histerectomia também é a miomatose uterina, porém as neoplasias malignas ficam em quarto lugar, representando apenas 2% dos casos. Isso ocorre devido ao fato dessas cirurgias pertencerem à categoria de alta complexidade, normalmente não autorizados pelo sistema único de saúde em nossa região e sendo encaminhadas para serviços terciários, normalmente na capital (Recife). Costa; Amorim; Cursino (2003) reafirmam que em todo o mundo a principal indicação de histerectomia está relacionada às doenças benignas, e que as indicações malignas representam apenas 10% dos procedimentos realizados. Na distribuição das pacientes quanto à via de escolha utilizada para o tratamento das diversas patologias que podem acometer o assoalho pélvico feminino, observa-se que nos 156 prontuários analisados, o equivalente a 100%, a histerectomia abdominal foi à opção de escolha nas unidades de realização do estudo no município de Serra Talhada - PE, sendo realizadas 146 histerectomias abdominais correspondente a 94% dos casos. Apenas em 10 pacientes, que correspondem a 6 % dos casos, foi utilizada a via vaginal. A histerectomia realizada pela incisão abdominal é um procedimento mais complexo, doloroso, e o tempo de recuperação é mais longo. Apesar de ser a principal opção de escolha utilizada, por proporcionar confiabilidade e visibilidade dos órgãos pélvicos e anexos, estudos ressaltam que a histerectomia abdominal só deve ser utilizada após suspeita e confirmação de alguma patologia maligna ou no caso de miomas volumosos, aderências ou útero fixo ao toque bimanual. Várias hipóteses são formuladas para justificar a maior utilização da histerectomia abdominal, ressaltando-se principalmente a maior familiaridade e segurança dos cirurgiões com essa via, por dar maior visão em cirurgias mais complexas, motivando a escolha dessa via na maioria dos casos. (REIS et al., 1998; SÓRIA et al., 2007). Segundo Noviello et al. (2003) a histerectomia por via vaginal apresenta várias vantagens em relação à histerectomia por via abdominal, proporciona uma menor manipulação das alças intestinais, o tempo de internação é menor, o pós - operatório é menos doloroso e a recuperação é rápida e não deixa cicatriz abdominal. Além dos custos serem mais baixos para o Sistema de Saúde (COSTA; AMORIM; CURSINO, 2003). De acordo com Netto; Figueiredo; Figueiredo (1998), um grande número de histerectomias realizadas pela a via abdominal ou laparoscópica poderia ser realizado pela via vaginal simples e se a paciente pode ser submetida à histerectomia vaginal não há vantagem em realizar a histerectomia por outra via, ela só poderia ser submetida a esta operação quando todos os tratamentos medicamentosos fossem falhos. Sória et al. (2007) ressaltam a importância de determinar a melhor via de escolha para a realização da histerectomia. Como as indicações são variadas, o profissional deve escolher a melhor abordagem para cada paciente, de acordo com a patologia a ser tratada. Além de avaliar o volume uterino, fatores de riscos, mobilidade e acessibilidade do útero e anexos. O Gráfico 5 descreve a ocorrência da preservação ou remoção dos ovários. A ooforectomia uni ou bilateral foi realizada em 91 das pacientes que corresponde a 58% da amostra e em 65 mulheres que equivale a 42% não foi feita a ooforectomia. 47 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 52-61, dez. 2012 Gráfico 5: Distribuição da população em que foi realizada a ooforectomia. Distribuição quanto a Ooforectomia 42% Sim 58% Não Fonte: Os autores, 2011. De acordo com Nahás et al. (2002) a ooforectomia profilática realizada durante a histerectomia abdominal priva um grande número de mulheres dos efeitos benéficos dos esteróides sexuais endógenos levando a mulher à menopausa cirúrgica devido à redução dos andrógenos. Em contraposição Hobeika et al. (2002) ressaltam que mesmo com a conservação desses órgãos, dentro de dois anos após a cirurgia 34% das mulheres histerectomizadas irão desenvolver certo grau de falência ovariana, devido ao trauma cirúrgico e a redução do fluxo sanguíneo. CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo evidencia que grande parte das mulheres submetidas à histerectomia tem os leiomiomas/miomas como diagnóstico principal de indicação cirúrgica atingindo cerca de 70% das mulheres na fase reprodutiva, com quase metade delas sendo casadas. Em relação à via de escolha para a abordagem no tratamento das patologias uterinas a via abdominal foi a mais utilizada por apresentar maior visibilidade do útero e anexos, apesar da histerectomia vaginal apresentar vantagens em relação abdominal. Como a presença do útero ainda mantém uma grande associação com a sexualidade feminina, tais dados devem despertar as realizações de novas pesquisas que possam identificar fatores de risco evitáveis. Além de estimular a realização de terapias minimamente invasiva com a preservação do útero e dos ovários para que essas mulheres possam se beneficiar com a presença dos hormônios sexuais, assim como manter a sua autoestima para manter-se sexualmente ativa. Sugere-se também o desenvolvimento de campanhas para estimular os profissionais médicos a aumentar o número de histerectomias vaginais em detrimento das abdominais. E por fim orientar as mulheres a procurarem os centros ginecológicos periodicamente como forma de prevenção, e caso seja diagnosticada alguma patologia que acarrete indicação de histerectomia esclarecer todas as dúvidas em relação à técnica cirúrgica e ressaltar os benefícios pós-histerectomia. 48 Saúde Coletiva em Debate, 2(1), 52-61, dez. 2012 REFERÊNCIAS ARAÚJO, T. V. B.; AQUINO, E. M. L. Fatores de Risco para histerectomia em mulheres brasileiras. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.19, supl. 2, 2003. COSTA, A. A. R.; AMORIM, M. M. R.; CURSINO, T. Histerectomia vaginal versus histerectomia abdominal em mulheres sem prolapso genital, em maternidade-escola do Recife: ensaio clínico randomizado. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Rio de Janeiro, v. 25, n.3, abr. 2003. 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