UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS – FCM Atenção Global ao Doente II A MULHER A SUA MAMA E O SEU ÚTERO: Reflexões sobre a sexualidade e a feminilidade André Marinho Bruno Xavier Felipe Costa Lima Pedro Diniz Thiago Arruda Prof. Dr. Arthur Rangel Professor [ Recife, 2007. UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS – FCM Atenção Global ao Doente II A MULHER A SUA MAMA E O SEU ÚTERO: Reflexões sobre a sexualidade e a feminilidade Recife, 2007. RESUMO O tema “A Mulher a sua mama e o seu útero: Reflexões sobre a sexualidade e a feminilidade” aborda a questão da feminilidade e da reprodução ameaçada frente ao tratamento cirúrgico que leva à castração da mulher e a importância do apoio psicológico na adaptação pós-tratamento. Palavras-chave: mastectomia, histerectomia, adaptação psicológica, sexualidade, fertilidade. SUMÀRIO Introdução 4 Capítulo 1: A Histerectomia 5 1.1 Introdução 6 1.2 Fatores que influenciam na adaptação psicológica da mulher submetida à histerectomia 7 1.3 8 Alterações fisiológicas ocorridas na mulher histerectomizada Capítulo 2: A Mastectomia 9 2.1 9 O aspecto psicológico do tratamento do câncer de mama Conclusão 10 Referências Bibliográficas 11 INTRODUÇÃO “A mulher, sua mama e seu útero: reflexões sobre sua feminilidade e sua sexualidade”. Este é um tema de difícil debate, visto que abrange múltiplos fatores da vida feminina, como aspectos psicológicos, socioculturais, fisiológicos e patológicos; e essa complexidade refletese na maneira de agir perante uma paciente mastectomizada ou histerectomizada. Essas pacientes, tendo sua estrutura física abalada, encontram-se bastante fragilizadas psicologicamente, por isso, independente do tipo e da gravidade da patologia, deve-se ter um harmonioso vínculo por parte do binômio médico-paciente e este pode influenciar de maneira positiva ou negativa no tratamento clínico. A mama por ser um órgão associado à própria identidade feminina, abrangendo sexualidade, feminilidade e amamentação, tem uma extrema importância a sua anatomia intacta, e naquelas mulheres com câncer de mama que precisam retirá-la deve-se proceder com bastante cuidado, pois sentimentos de revolta, negação, impotência, medo, costumam estar presentes na maioria das vezes, e mudanças significativas em seus relacionamentos afetivos com parentes, amigos e com o parceiro devem ser estabelecidas para obter êxito no tratamento. O útero está intimamente ligado à reprodução feminina e para sua castração ser considerada como uma mutilação, depende de vários fatores, haja vista a freqüência elevada com que se faz histerectomia na mulher. Muito importante é o acompanhamento médico dessas mulheres (mastectomizadas e histerectomizadas), pois a mama e o útero são órgãos primordiais à mulher e o dano causado a eles relaciona-se freqüentemente ao declínio da função sexual e da libido, conseqüentemente com a própria deteriorização no relacionamento com o parceiro. Este trabalho aborda o tema citado, esperando contribuir um pouco para o conhecimento do assunto e com isso, nós, futuros médicos, sabermos lidar com situações de enorme sofrimento psíquico, entendendo principalmente que além de médicos, somos conselheiros e elas além de pacientes, são mulheres. CAPÍTULO 1 A Histerectomia 1.1. Introdução: A Histerectomia “é um tipo de operação que consiste na excisão do útero, realizada sempre através da parede abdominal ou pela vagina" (Saunders, 1976, p.756). Atualmente constitui uma das cirurgias femininas mais freqüentes no mundo ocidental, o que mostra a importância do estudo de suas seqüelas psicológicas. Apesar de, na literatura médica, nada indicar que a Histerectomia leve a alterações sexuais, a associação psicológica entre a procriação e a sexualidade pode afetar as mulheres submetidas a essa cirurgia nos seguintes aspectos: auto-conceito, sintomas depressivos, relacionamento sexual e conjugal, sintomas psicossomáticos etc. Vários autores têm discutido a incidência dessas problemáticas, o que resultou em controvérsias. Enquanto alguns pesquisadores constataram alta incidência de depressão após a Histerectomia, outros não observaram seqüelas psicossociais e emocionais decorrentes da Histerectomia ou as vincularam a um histórico anterior de depressão. Os probelmas específicos no âmbito sexual das pacientes são observados desde de 1958 por Drellich & Bieber, passando pela década de setenta com Richards (1974), Dennerstein & Burrouws (1977) e através dos anos oitenta por Guzman & Ortega (1984) e Alves (1989). Para esses autores, a Histerectomia é sentida pela mulher como um golpe no seu território de prazer, sendo constatado: decréscimo na freqüência do coito, deterioração no ajustamento e no relacionamento sexual, diminuição do desejo sexual e menor capacidade de resposta sexual. Os medos na área de mudanças físicas - sentimentos de mutilação, de ameaça ao autoconceito e à imagem corporal - foram evidenciados ainda por Michaud & Engelsmann (1988) e, no Brasil, por Teitelroit (1980), que os denomina perda e revivência da fantasia de castração. Drellich & Bieber (1958) relataram que, apesar de a menstruação ser considerada um período desagradável, muitas mulheres a percebem como uma função útil; nesse sentido, após a Histerectomia, são assinaladas a diminuição do desejo sexual, menor capacidade de resposta sexual e preocupação pela possível infidelidade do marido. 1.2. Fatores que influenciam na adaptação psicológica da mulher submetida à histerectomia: 1.2.1. A idade: A mulher em plena menacme, no auge da sua vida sexual, sofre maior impacto, pois sua função reprodutiva foi interrompida. 1.2.2. A paridade: A mulher que tem a sua prole definida sofre menor impacto comparando com aquela que não tem filhos ou ainda desejável de ter outros. 1.2.3. A vida conjugal: Uma relação conjugal satisfatória proporciona maior confiança e segurança à mulher histerectomizada. 1.2.4. O motivo da cirurgia: Doenças malignas, em comparação à patologia benigna, exercem efeitos mais desfavoráveis, pois a insegurança da mulher e do seu parceiro repercute no comportamento sexual. 1.2.5. Vida psicosocial: O apoio dos amigos e familiares influencia positivamente na adaptação psicológica. A personalidade de cada paciente assim como a sua maneira de perceber a doença também vão interferir numa melhor ou pior resposta ao tratamento. 1.2.6. Condições sócio-econômicas: Segundo pesquisas, o sentimento de perda da feminilidade associado à retirada do útero acentuou-se nas mulheres da classe média-alta, ocorrendo o oposto com as mulheres da classe operária. A respeito desses achados, Muraro (1983) elaborou duas contribuições teóricas baseadas em seus próprios estudos de campo. Ao comparar homens e mulheres das classes operária e burguesa, quanto à influência do nível sócio-econômico em diversos aspectos, observou que os valores e atitudes das mulheres da classe operária permitiram classificá-las como detentoras de "um corpo-para-a-produção". Este corpo estaria voltado para o trabalho manual e distante do mercado de consumo de bens destinados ao embelezamento e à manutenção da saúde. Em contraste, ainda segundo Muraro, as mulheres da classe burguesa seriam detentoras do "corpo-para-o-consumo", referindo-se aos cuidados dispensados à saúde e à estética. É evidente que, nesse contexto, o binômio saúde-beleza vinculado ao corpo levaria a mulher da classe média-alta, após a Histerectomia, a se sentir menos feminina, o que comprometeria o seu desempenho sexual. 1.3. Alterações fisiológicas ocorridas na mulher histerectomizada: Conforme Ramos (1998), as queixas e os sintomas da menopausa em histerectomizadas são mais intensos e graves; na sua prática clínica, a autora tem encontrado quadros depressivos, de difícil solução. Ela aponta para a questão simbólica do útero: fertilidade e feminilidade. Desequilíbrios fisiológicos, hormonais, anatômicos e, principalmente, energéticos ocorrem, com graves complicações para a vida dessas mulheres. Atualmente, alguns médicos discutem as conseqüências dessa intervenção sobre a queda da libido. Se antes se pensava exclusivamente em razões psicológicas, agora há comprovação de que existem razões fisiológicas para tais sintomas. A retirada do útero torna os tecidos da região pélvica menos ingurgitados, com menor quantidade de sangue na hora de excitação sexual. Por isso, pode ocorrer uma diminuição do prazer. A ausência do colo uterino também afeta a sensibilidade, o prazer que muitas sentiam quando ele era tocado. Além do mais, sabe-se da grande importância do útero na produção do muco cervical, importante para a lubrificação durante o ato sexual. CAPÍTULO 2 A Mastectomia 2.1. O aspecto psicológico do tratamento do câncer de mama A mulher e sua mama é um tema que traz consigo toda uma questão de identificação, de estética e de sexualidade feminina. Logo, mulheres portadoras de câncer de mama necessitam de uma terapêutica interdiciplinar que enfatiza a abordagem médico–cirúrgica, representada pela mastectomia, e abordagem psicológica, que visa proporcionar a compreensão de fatores que facilitem a adaptação psicossocial. O importante nesse tipo de terapêutica é saber que cada mulher com câncer traz à situação suas características demográficas, sua condição médica e suas estratégias de enfrentamento para lidar com o estresse, em geral, e o câncer da mama e a mastectomia, em particular. Cada um destes pontos constitui aspectos que desempenham um papel fundamental na adaptação psicossocial da mulher portadora de câncer de mama. Diante desse quadro são importantes duas definições que serão os pilares do tratamento: bem–estar psicológico que se refere à capacidade da mulher em estabelecer ligações afetivas, sua habilidade em manter controle emocional e comportamental como também a ausência de episódios de ansiedade ou depressão que exijam intervenção psicológica e/ ou psiquiátrica; e a competência social que se refere à habilidade de reassumir (após a mastectomia) papéis que a mulher comumente vinha desempenhando em seu contexto social. Estes papéis incluem um grande número de atividades da vida diária, como, por exemplo, trabalho, lazer e envolvimento como esposa e mãe. Algumas mulheres fazem uso da autoculpa como forma de enfrentamento da doença e da mastectomia. Estas atribuem a si mesmas a responsabilidade pelo câncer de mama. “Acreditam que perderam a mama e aumentaram o risco de vida com o diagnóstico de uma doença grave por terem retardado a detecção do tumor e a busca de tratamento precoce”. O benefício do uso dessa estratégia de enfrentamento é o fato de as mulheres abandonarem a percepção de que são “vítimas inocentes”. Este fato implica que o terapeuta pode chamar a atenção para o papel ativo que a mulher tem sobre sua saúde e bem - estar físico, fazendo assim uma ponte para possibilidade de participação ativa e decisiva em sua reabilitação. Entretanto, a habilidade do terapeuta em conscientizar a mulher neste sentido, sem, contudo, levá–la a sentir–se culpada, é absolutamente essencial para seu bem – estar psicológico. Outras questões devem ser consideradas durante a intervenção psicológica, como: Coesão familiar – famílias coesas ajudam as mulheres a sentirem – se amadas e emocionalmente apoiadas, oferecendo segurança para lidar com a situação estressante; Recursos psicossociais da família – devido à necessidade de lidar com o impacto do câncer e seus tratamentos. A intervenção e o apoio psicológico devem ser dados, o quanto antes, para famílias que apresentem poucos recursos para a resolução de problemas ou poucos recursos emocionais para lidar com a doença e suas conseqüências. Portanto, procurar apenas minimizar o desconforto físico decorrente da doença e seus tratamentos não garantirá níveis positivos de bem–estar psicológico. CONCLUSÃO Tendo em vista o impacto causado na vida dessas mulheres que são acometidas por patologias nos órgãos sexuais femininos, demos ênfase no tema relacionando-o com as pacientes mastectomizadas e histerectomizadas; e pudemos entender o quanto é importante uma estreita relação entre médicos e pacientes. Em decorrência do abalo causado na vida das pacientes que sofrem de patologia em seus órgãos sexuais É importante compreender que o funcionamento físico é indissociável do mental e os fatores emocionais exercem bastante influência no desenvolvimento das enfermidades, fato este que realça o fator decisivo do médico em dirigir-se à paciente com câncer de mama e patologias uterinas com respeito pelo seu sofrimento, pois estes órgãos refletem fielmente a sexualidade e feminilidade da mulher. Conclui-se deste trabalho a seriedade que se deve tratar o tema, pois implica em um vasto e complexo campo de abordagens, principalmente no que tange à área psíquica. As cicatrizes deixadas nas pacientes que fazem mastectomia ou histerectomia permanecem com feridas abertas no nível mental, apesar de, às vezes, serem invisíveis a olho nu, causando em geral enorme sofrimento mental. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1) Gikovate, Flávio: Entendendo a mulher além da paciente; 1999, Editora Derlimed. 2) http://www.psicometria.psc.br/artigo1.htm 3) http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010279722004000200006&script=sci_arttext&tlng=pt 4) Gimenes, Maria da Glória; Fávero, Maria Helena. A Mulher e o Câncer. São Paulo: Editora Livro Pleno, 2000.