crda - centro de referência em distúrbios de aprendizagem curso de

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CRDA - CENTRO DE REFERÊNCIA EM
DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO
SENSU EM
DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
Daniela Anselmo Garcia Gabriel
O Papel do Jogo no Desenvolvimento da
Criança com Transtorno do Déficit de
Atenção e Hiperatividade
SÃO PAULO
2009
2
CRDA - CENTRO DE REFERÊNCIA EM
DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
EM
DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM
Daniela Anselmo Garcia Gabriel
O Papel do Jogo no Desenvolvimento da
Criança com Transtorno do Déficit de Atenção
e Hiperatividade
Monografia
apresentada
como parte dos requisitos
para aprovação no Curso de
Especialização Lato Sensu
em
Distúrbios
de
Aprendizagem e submetida
ao Centro de Referência em
Distúrbios de Aprendizagem
– CRDA, sob orientação do
Prof. Ms.Eduardo Anselmo
Garcia.
3
Dedico este trabalho a aquele que
despertou em mim o interesse em
saber mais sobre o Transtorno do
Déficit
de
Atenção
com
Hiperatividade, Guilherme Santiago,
que com sua energia e vivacidade
inspirou minha pesquisa.
4
Agradecimentos
Aos meus colegas de profissão, que como educadores me
ajudaram a superar as dificuldades e as dúvidas no dia-a-dia da sala de
aula.
À minha família por terem entendido as ausências e me darem o
apoio que tanto precisava.
5
Resumo: O Papel do Jogo no Desenvolvimento da Criança com
Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade - TDAH
O presente trabalho vem apresentar o Transtorno do Déficit de Atenção com
Hiperatividade – TDAH, bem como suas causas, diagnóstico, tratamento e possíveis
atividades a serem desenvolvidas com as crianças portadoras deste transtorno.
Pretende-se também, mostrar como os jogos podem ser importantes na
aprendizagem destas crianças, ajudando-as em suas dificuldades e necessidades
especiais.
Sabe-se que o ser humano tem nas atividades lúdicas e nos jogos, o
benefício da diversão e do prazer, sem desprezar na verdade a aprendizagem, que
é
uma
consequência.
Através
dos
jogos
desenvolvemos
as
habilidades,
conhecemos nossa cultura local, refletimos sobre ela e podemos até modificar nossa
história de vida, tornando-nos autores dela.
Através da imaginação, ultrapassamos a realidade, transformando-a em uma
melhor possibilidade de vida social, intelectual, emocional, motora e acadêmica. Ao
incluírem-se brincadeiras, jogos e brinquedos na prática pedagógica dos portadores
de TDAH, pode-se desenvolver as habilidades sociais, que são de extrema
importância para estas crianças.
Trabalhar com jogos na sala de aula, onde crianças ditas normais vão
interagir com as crianças portadoras de TDAH é uma ferramenta acessível ao
professor que busca novas metodologias para cativar seus alunos e fazer da
aprendizagem um momento de alegria e prazer.
Palavras Chaves: Déficit de Atenção – Hiperatividade – Jogos - Aprendizagem
6
Abstract: The Role of Play in the Development of Children with
Attention Deficit Disorder and Hyperactivity - ADDH
This work will present the Attention Deficit Disorder with Hyperactivity and its
causes, diagnosis, treatment and the possible activities that can be made with the
children with this disorder.
We want to also show how the games can be important in learning of these
children, helping them in their difficulties and special needs.
It is known that human beings have in playful activities and playing games the benefit
of fun and pleasure, without despise the learning, which is a consequence. Through
the games the development of skills, better know of local culture, reflect on it and can
even change our life story, making it the perpetrators of it.
Through the imagination we exceeded the reality, transforming it into a better
chance of social life, intellectual, emotional, motor and academic. When we include
games and toys in the teaching of individuals with ADDH, their social skills will be
developed, which is extremely important for these children.
Working with games in the classroom, where normal and ADDH childrens will
interact is a handy tool for teachers seeking new methods to engage their students
and make learning a time of joy and pleasure.
Key Words: Attention Deficit – Hyperactivity – Play – Learning
7
Índice
Introdução ............................................................................................................. 08
Objetivo Geral ..................................................................................................... 09
Objetivos específicos .......................................................................................... 10
Metodologia ........................................................................................................ 10
Resultado e Discussão
1- O Professor e a Criança com TDAH..............................................................
11
1.1- Abordagem Histórica: O professor de ontem e o de Hoje........................ 11
1.2- O professor no Brasil ............................................................................... 17
2 – A Criança com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)... 21
2.1- Diagnóstico do TDAH............................................................................... 23
2.2- Os Sintomas do TDAH ............................................................................ 24
2.3- O Diagnóstico do TDAH.. ........................................................................ 26
2.4- O Tratamento do TDAH .......................................................................... 29
3 – O jogo e a criança com TDAH........................................................................ 32
3.1- A Função do Jogo no Tratamento do TDAH........................................... 38
Conclusão ........................................................................................................... 44
Referências bibliográficas .................................................................................... 47
8
Introdução
A ludicidade na infância consegue manter a espontaneidade, expansividade e
a expressão do desejo, da alegria, da fantasia, da coragem, do risco, da aventura,
que vai perdendo a vitalidade, na adolescência, na medida em que o aluno vai
sendo conduzido, nas aulas sob comando, com gestos padronizados da prática dos
desportos, sem muito questionamento, possibilidade de recriação e de tomada de
decisão.
Sua importância nas escolas é inegável, pois não existe uma atividade que
consiga integrar, interessar e concentrar mais as crianças, em torno do que estão
realizando do que os jogos, os brinquedos e as brincadeiras. Os jogos levam a
criança à livre imaginação para o brincar, o criar e o recriar, na busca da expressão
individual e do grupo. É fundamental assegurar à criança um tempo e um espaço
para que o lúdico seja vivenciado com intensidade.
A brincadeira permeia todas as ações como jogo simbólico e é através dela
que a criança se compreende, compreende o outro e o meio social em que vive.
Através dos jogos, dos brinquedos e das brincadeiras, a criança desenvolve a
linguagem, o pensamento, a socialização, a iniciativa e a auto-estima, preparando-se
para ser um cidadão capaz de enfrentar desafios e participar na construção de um
mundo mais feliz e fraterno.
Quando unimos os jogos às crianças com TDAH, criamos mecanismos de
superação e valorização desta criança, pois é através dele que elas conseguirão
aprender, conhecer, examinar, criar, recriar e conhecer o mundo, o outro e a si
mesmas. Com sua agitação e desconcentração, sabe-se que é difícil sua adaptação
na escola e os fazeres a ela pertinentes, mas a observação do profissional que vai
trabalhar com essas crianças deve ser minuciosa, para um real diagnóstico, não
confundindo ou acreditando em sintomas isolados, mas analisando tudo o que se
observou para um encaminhamento correto, pois nem todas as crianças agitadas e
indisciplinadas são necessariamente portadoras de TDAH, não precisando, portanto,
de tratamento e medicamentos, mas da presença de adultos comprometidos com a
sua formação e desenvolvimento.
9
Muitos lares não têm valorizado características comportamentais como a
disciplina. É essencial que crianças ou adolescentes tenham seus limites claramente
definidos. Portanto, devem-se investigar todos os fatores que possam estar
contribuindo para comportamentos inadequados na vida da criança, diferenciando
indisciplina de hiperatividade.
Neste trabalho, o jogo é concebido como uma atividade fundamental da
infância de crianças ditas normais e das portadoras de TDAH, observando-se a interrelação dos processos que envolvem este mecanismo, envolvendo a cognição, o
afeto e a linguagem, bem como a memória das situações vividas. A imaginação é o
foco central desta atividade, presente no jogo de faz-de-conta, que envolve
situações fictícias e imaginárias, com a criação de personagens e situações
diversas.
Nossa intenção é contribuir com a reflexão sobre o papel construtivo que o
jogo tem no desenvolvimento da criança. Esse papel é, sem duvida fundamental na
vida das crianças portadoras de TDAH, permitindo o desenvolvimento da iniciativa,
da imaginação, da criatividade e do interesse, além de estimular as habilidades que
nelas precisam de aprimoramento.
Objetivo Geral
O objetivo geral deste trabalho é apresentar algumas pesquisas e reflexões
sobre a importância do jogo no desenvolvimento da criança com Transtorno do
Déficit de Atenção com Hiperatividade - TDAH e como essa metodologia de trabalho
pode auxiliar a criança a superar suas dificuldades sociais, motoras, intelectuais,
emocionais e acadêmicas.
10
Objetivos específicos
Temos como objetivos específicos deste trabalho:
- reconhecer a importância do jogo e do lúdico na vida da criança com TDAH;
- conhecer encaminhar os casos de TDAH observados na sala de aula e
como devem ser feitas estas observações;
- incentivar o uso dos jogos e das brincadeiras no auxílio das crianças
portadoras de TDAH para que superem suas dificuldades.
Metodologia
Utilizaremos como metodologia de pesquisa, a técnica de documentação
indireta, através de leitura e levantamento bibliográfico sobre o tema através de
diversos autores, usando a metodologia da Análise de Conteúdo.
Serão consultados livros, sites da Internet e artigos de revistas especializadas.
Resultado e Discussão:
11
1- O Professor e a Criança com T.D.A.H.
A escola, representada pelo professor, conhece o dia-a-dia de seus alunos, e
principalmente sabe os que têm dificuldades de aprendizagem, o que já é um ponto
positivo, mas não basta apenas conhecê-los, é necessário deixar-se de lado o
preconceito que cerca esse assunto.
O professor deve buscar alternativas para facilitar o dia-a-dia da criança com
dificuldade de aprendizagem e principalmente a criança com T.D.A.H. (Transtorno
de Déficit de Atenção com Hiperatividade), que é o tema desta pesquisa.
Quanto mais tempo se passar, mais difícil será para o professor lidar com este
aluno e atender suas necessidades especiais de aprendizagem, portanto, estudar,
entender sobre o assunto é essencial.
O professor deve estar capacitado para este e outros tipos de dificuldades de
aprendizagem, pois hoje em dia, ele encontrará cerca de 25% de sua classe com
algum tipo de dificuldade.
É claro que discutir a capacitação do professor e sua competência teórica
para lidar com as dificuldades nos remete a um passado remoto, onde o professor
era um profissional muito diferente do que conhecemos hoje. Para isso, vale uma
reflexão histórica sobre este profissional da educação.
1.1- Abordagem Histórica: O professor de ontem e o de Hoje
Vive-se hoje tempos de conflitos e grandes transformações. A tecnologia, as
informações, as novas descobertas são mais rápidas do que nosso entendimento,
muitas vezes e o professor deve sempre estar atualizado, procurando buscar
informações e novos conhecimentos para que seja um profissional excelente.
12
Nestes tempos de incerteza, faz-se necessário repensar o papel do
profissional da educação, especificamente, do professor. Segundo Gadotti (1998):
Faz-se mister que o professor se assuma enquanto um profissional do
humano, social e político, tomando partido e não sendo omisso, neutro,
mas sim definindo para si de qual lado está, pois se apoiando nos ideais
freireanos, ou se está a favor dos oprimidos ou contra eles. Posicionandose então este profissional não mais neutro, pode ascender à sociedade
usando a educação como instrumento de luta, levando a população a uma
consciência crítica que supere o senso comum, todavia não o
desconsiderando. (Gadotti, 1998:56)
Não é possível falar em professor, sem falar-se de educação e todo o
envolvimento social que ela apresenta. Para se conhecer o papel e a visão do
professor, faz-se necessário falar de como a educação evoluiu no decorrer dos
séculos, para que possamos entender assim, o professor e sua formação.
Quando nos remetemos à pré-história, entendemos que desde lá a educação
existia. Ela era feita através da repetição de comportamentos considerados corretos
e desejáveis, escolhidos pelos líderes das sociedades tribais da época. Essas
sociedades eram extremamente tradicionalistas, cercadas de crenças, mitos e
lendas.
Portanto, os primeiros professores eram os adultos mais antigos, que com
paciência ensinavam aos mais jovens, sempre respeitando o ritmo de cada um
deles. Através de sociedades homogêneas, o saber era transmitido a todos, sem
distinção, proporcionando igualdade de conhecimento à sociedade inteira.
Com o aparecimento da escrita as transformações sofridas por esta
sociedade foi brutal. De homogênea, passou a ser dividida em classes, aparecendo
assim os escravos, mas ainda não deixando de lado os mitos, as religiões e as
tradições, que continuaram a ser transmitidas pelos mais velhos, mas agora pelos de
uma classe mais elevada, pois eram os que já sabiam escrever.
Surge aí uma divisão da educação dos jovens das sociedades tribais, pois
uns eram educador para o trabalho e outros eram educados para administrar a
sociedade, sempre respeitando as tradições e a religião. Esta prática educativa
13
perdeu força na Grécia clássica, onde se inicia a separação entre a razão humana e
a razão divina.
Segundo Aranha (1997):"...razão autônoma, da inteligência crítica e pela
atuação da personalidade livre, capaz de estabelecer uma lei humana e não mais
divina." (ARANHA, 1997:44).
Como nomes de destaque na influência do pensamento medieval, temos três
nomes que merecem destaque como professores e discipuladores. Iniciaremos com
Sócrates, que defendia o intelectualismo ético, através dos conceitos morais,
acreditando que a maldade vinha através da ignorância. Foi o professor de Platão,
que se tornou um discípulo fiel a suas idéias.
Platão apesar de ser discípulo de Sócrates acreditava que o verdadeiro
conhecimento vinha das idéias e que a opinião de cada indivíduo era o
conhecimento sensível de cada um. Ele foi professor de Aristóteles.
Aristóteles foi contrário aos ideais de seu mestre e professor, criando a lógica
formal, com a defesa de diálogos e de mecanismos de persuasão. Percebemos aí a
grande importância do papel e da postura do professor da época, que era o
influenciador das idéias de seus alunos ou discípulos. Mais uma vez, vemos o
professor como aquele mais preparado para exercer essa função, com mais
conhecimento teórico, sendo capaz de fazer a ligação entre a teoria e a prática.
Os sofistas foram os primeiros que verdadeiramente tornaram o professor um
profissional, sistematizando a educação das elites e denominando qual seria o papel
deste profissional. Sua maior preocupação era com o ensino das técnicas, cidadania
e a arte de ser cidadão.
A meta dos sofistas, enquanto professores era obedecer as convenções, pois
soa ao professor cabia ensinar aos alunos como ser um bom expositor de idéias nas
assembléias, ensinando a ter sucesso usando a palavra como um meio de
persuasão.
As virtudes não faziam parte de seu conteúdo. Acreditavam que elas
poderiam ser defendidas, modificadas, de acordo com o que fosse conveniente para
o momento, desde que fosse lucrativo. Os filósofos eram contra os sofistas, pois
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acreditavam que estas virtudes eram imutáveis. Acreditavam que os sofistas só
pensavam em quem pudesse pagar-lhes para ensinar.
Chauí (1994), nos mostra que nos textos de Platão, Sócrates dizia que:
Não se pode separar virtude e ciência, virtude e saber, virtude e razão; a
virtude é uma forma de conhecimento (a mais alta) e não um simples modo
de agir em acordo com convenções. Agimos virtuosamente porque
sabemos o que é a virtude. (Chaui, 1994:154).
Essa idéia era chamada de paidéia, ou a formação, que era aprendida após
um longo tempo de aprendizagem, segundo Platão.
Já na época do domínio romano, vê-se a cultura e o pensamento gregos
serem incorporados pelo Império, assim, o Estado influencia o ensino, atendendo as
necessidades da máquina estatal romana.
Surge o ensino superior, com um maior destaque para o curso de Direito. Os
professores da época podiam usar de castigos corporais para castigar os alunos
indisciplinados ou os que não aprendiam corretamente. O método utilizado era o de
memorização, mas de maneira maciça e penosa.
Os aspectos literários e retóricos da cultura grega eram ensinados, como
também a busca da essência humana e o verdadeiro conhecimento da ciência.
Surge aí o catolicismo, tornando-se a religião oficial de Roma, tornando-se a grande
responsável pela mudança na aprendizagem do pensamento grego.
Com as invasões bárbaras, o império Romano é dividido, mas o catolicismo
continua sendo a religião do povo e dos reis bárbaros, que se convertem. A busca
do conhecimento como deixa de ser uma atividade social e passa ser uma mera
formadora do clero, satisfazendo as necessidades do Estado, desinteressando até
mesmo a nobreza. Os professores passam a ser os monges que se tornam os
únicos detentores do saber.
Renasce a filosofia para entender as coisas de Deus, defendida por Santo
Agostinho, fazendo renascer o pensamento platônico de que o verdadeiro
conhecimento vinha de Deus.
15
No século VIII, Carlos Magno reestrutura a educação, fazendo renascer o
modelo romano, sendo adotado nas escolas monásticas, nas catedrais e nas
paróquias, desenvolvendo assim a escolástica, que era a filosofia cristã adaptada às
escolas chegando a seu ápice no século XIII.
No século XI, o comércio se expande e a leitura, a escrita e o cálculo passam
a ser necessários, além de outros conhecimentos práticos, pertinentes ao comércio.
O plano educacional é modificado.
Surgem os professores leigos, ensinando atividades da vida prática,
ministrando noções de história, geografia, ciências naturais, latim, que era a língua
local, até então pouco valorizada.
A cultura é difundida através da imprensa e com a descoberta da pólvora,
inicia-se um maior contato com outras culturas, criando nos alunos uma visão de
mundo estendida.
A educação torna-se estratégia da reforma da igreja e Lutero defende a
interpretação dos textos bíblicos, através da educação universal e pública,
condenando os castigos corporais.
O Papa, tentando defender-se da reforma cria a Companhia de Jesus, que se
torna responsável em divulgar a fé através da educação. Surgem os jesuítas,
chegando a ter 699 colégios espalhados pelo mundo. Os jesuítas tinham uma
flexibilidade nos relacionamentos, aprendiam das novas culturas, mas não deixando
de lado o conservadorismo medieval.
As crianças são separadas dos adultos nas escolas, o que não acontecia na
Idade Média, para que fossem protegidas das más influências deles. A crítica e a
liberdade tomam força, contrapondo-se ao autoritarismo. O conhecimento científico é
retomado, permitindo uma propagação sem limites do conhecimento humano.
Surgem as descobertas de Gutemberg na imprensa, que ajudaria nessa
propagação.
No século XVII, o conhecimento é propagado a todos e a busca da ciência,
em oposição a Deus torna-se prioridade nas escolas. Surgem as academias, para
16
competirem com as universidades escolásticas. As descobertas científicas tornamse relevantes na história, na sociedade e na educação.
Galileu Galilei valoriza a experiência, propondo uma nova ciência, chamada
de ciência moderna, onde ela passa de contemplativa para o domínio da natureza.
Com Newton, este trabalho é expandido através da matemática e a ciência
une-se à técnica, antes desvalorizada por causa dos trabalhos escravos.
Os professores precisavam ser técnicos, contrários ao perfil desenvolvido pelo
método escolástico. Surge a pedagogia realista, que busca metodologias que
tornem a aprendizagem prazerosa e eficaz, valorizando o humano e o técnico.
Comênio, pedagogo e pastor protestante, escreve sobre novas técnicas de
ensino, defendendo a escola democrática, voltada para a vida, onde todos teriam o
direito à aprendizagem. Partido do mais simples para o mais complexo, do concreto
para o abstrato, valoriza o método e a organização do conhecimento, através de
uma estruturação racional de tempo de estudo, exigindo dos professores o
planejamento, um programa de estudos, um cuidado com o material didático. O
professor é valorizado e passa a ser um guia no processo de aprendizagem.
Depois da Revolução Industrial, Diderot, Rousseau e Giambattista Vico,
revolucionam a pedagogia, defendendo o aluno e não o professor, fazendo com que
ele se torne o centro do processo educacional. Defendiam o conhecimento sensível
antes do intelectual. A educação passa a ter uma ordem, onde a razão, a ser
desenvolvida pelo aluno deveria antepor a moral e a religião.
Cultivam a
curiosidade como estimulo na aprendizagem e defendem a idéia de que a criança
não era uma miniatura de adulto.
Kant, discípulo de Rousseau, acredita que o conhecimento humano era
gerado pela experiência, onde o professor deveria criar no aluno autonomia e
liberdade, moldando assim a moral e formando o homem. A disciplina deveria ser
voluntária, consciente, sempre buscando os objetivos de cada aluno e da sociedade.
Surge a massificação e o estado fica responsável por ela. Divide-se o ensino
secundário entre clássico , onde o aluno era preparado para o ensino superior e
17
técnica, voltado para a indústria. As escolas politécnicas são reformuladas, surgindo
o ensino tecnológico.
Com Pestalozzi a educação passa a ser vista com uma função social e o
professor passa a ser estimulador do desenvolvimento do aluno.
Já Johann Herbart une a psicologia experimental à pedagogia, privilegiando o
conhecimento que o professor transmitia ao aluno. Critica a desvalorização da
instrução de Rousseau e o ensino tradicional, que ensinava coisas inúteis. O
professor passa a transmitir seus conhecimentos através de aulas expositivas.
A educação se aproxima da atual, onde o rigor metodológico e técnico
procura fugir das escolas escolásticas, com um ensino mais humano e nacional. A
educação passa a ser responsável pelo bem-estar social, a estabilidade o progresso
e a capacidade de transformação da sociedade. A educação tradicional passa a
sofrer as influências do pensamento positivista.
Durkein impõe à sociedade a idéia de comportamentos socialmente
desejáveis,
sendo
o
professor
responsável
pela
aprendizagem
destes
comportamentos.
Surge a teoria do reforço, do condicionamento através do behaviorismo, onde
o ensino era programado, pensando-se até na ausência do professor, criando-se
máquinas de ensinar.
1.2- O professor no Brasil
No Brasil, a despeito do mundo, várias foram as influências sofridas desde o
domínio por Portugal, com o descobrimento do Brasil em 1500.
Os
jesuítas
eram
os
professores,
que
mantinham
uma
educação
conservadora, em contraposição à tendência européia do renascimento. O conteúdo
era escolástico, muito longe da realidade. Os membros da aristocracia colonial
tinham seus preceptores particulares, que eram professores altamente capacitados
18
para ensinar a elite, que eram enviadas à Universidade de Coimbra para cursarem o
nível superior.
Em 1759, os jesuítas são expulsos do Brasil e a educação passa por uma
fase de decadência, terminando com a vinda da família real e parte da corte
portuguesa ao Brasil em 1808. Mudanças estruturais são feitas na educação e a
indústria e o comércio crescem.
Com a revolução de 1930 a aristocracia rural perde a força. Surgem as
instituições de ensino superior para os militares e a formação de profissionais
liberais.
Como no período colonial a educação era tradicional e escolástica, em 1834 a
constituição determina que as escolas secundárias públicas dividem espaço com as
escolas particulares. Os professores passam a ter formação técnica, através das
escolas normais que não possuía pressupostos pedagógicos suficientes e eficazes.
Em 1890, Benjamim Constant, professor e Ministro da Instrução estabelecem
o estudo científico e os princípios positivistas no ensino primário e secundário.
Combatidas pela elite dominante, sua implantação é dificultada.
Após a primeira guerra mundial, Dewey e o movimento da escola nova
influenciam os intelectuais brasileiros e alguns jovens intelectuais reformam a escola
no Brasil.
Como foi dito anteriormente, com a revolução de 1930 surgem três correntes
educacionais no Brasil: a pedagogia nova, da burguesia; a pedagogia tradicional, da
aristocracia e a pedagogia libertária, ligada ao socialismo. As universidades tornamse muito parecidas com o modelo atual e os professores passam a ter formação
pedagógica superior. O ensino básico, chamado de primário era tratado com
descaso e a educação era feita, preferencialmente para a elite.
Segundo Catani, in Lopes (2000):
Os educadores da Escola Nova respondem com o Manifesto dos Pioneiros
da Educação de 1932, onde defendem a educação obrigatória, pública,
gratuita e leiga como dever do Estado em programa de âmbito nacional,
bem como criticam a escola dualista. No entanto, a prática é restrita e o
19
debate educacional acaba se ocupando mais com aspectos técnicos do
que sociais.(Catani in Lopes, 2000:590)
Na década de 40, surge o ensino industrial, com o advento do SENAI, em
1942 e o ensino comercial, com a criação do SENAC, em 1946.
Em 1961 é promulgada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), onde
se iniciam os debates sobre a educação brasileira, criticando a educação feita para
as elites, particulares e as tradicionais escolas católicas. Mesmo com as mudanças
propostas pela LDB, nada na verdade muda, pois a estrutura educacional e o
sistema econômico brasileiro não permitem.
Com a urbanização e a industrialização dos anos 50, o mercado de trabalho
exige um novo profissional, assim a escola passa a ser valorizada pela sociedade
através da alfabetização, tornando-se um direito social.
Paulo Freire, um dos mais importantes pedagogos brasileiros, desenvolve a
Pedagogia do Oprimido, afirmando:
Os privilégios de uns, opressores, impedem a maioria, oprimidos, de
usufruir os bens produzidos. Para ele a vocação humana de ser mais é
negada na injustiça, na exploração, na opressão, na violência dos
opressores, mas afirmada no anseio de liberdade, de justiça, de luta dos
oprimidos, pela recuperação de sua humanidade roubada. (FREIRE, 1980).
Na ditadura militar, Paulo Freire é exilado por tentar conscientizar a população
da importância da alfabetização, indo para o Chile, onde auxilia o país a obter a
distinção em superação do analfabetismo pela UNESCO.
Os professores, alunos e funcionários das escolas eram proibidos de fazer
manifestações políticas e o currículo é modificado, sendo introduzidas as matérias
Educação Moral e Cívica, para o nível primário, Organização Social e Política
Brasileira, para o secundário e Estudos dos Problemas Brasileiros para o nível
superior. O professor perde sua autonomia e torna-se autoritário, como o sistema
político brasileiro. O ensino passa a ser massificado e recebe ajuda financeira dos
Estados Unidos, para atender as necessidades da indústria.
20
Com o fim da ditadura militar iniciam-se os debates democráticos e surge a
escola nova.
Num resumo histórico brasileiro, vemos o professor com diversos papéis
frente à educação e aos seus alunos. Viana (2008) divide em tendências a história
da educação brasileira e a postura do professor:
a) Tendência Liberal Tradicional: O professor é autoritário, transmite o
conhecimento, que deve ser absorvido pelo aluno e exerce uma rígida
disciplina sobre os mesmos.
b) Tendência Renovada Progressista: O professor tem lugar privilegiado,
onde a disciplina consiste na tomada de consciência do aluno para que
ambos possam ter um relacionamento saudável.
c) Tendência Liberal renovada Não-Diretiva: A educação é centrada e o
professor é um especialista em relações humanas, onde as intervenções
tornam-se ameaçadoras.
d) Tendência Liberal Tecnicista: O professor estabelece uma relação com o
aluno exclusivamente técnica, sendo eficiente na transmissão dos
conhecimentos. Não dá espaço ao debate e às discussões.
e) Tendência Progressista Libertadora: O professor e o aluno estão no
mesmo nível e não existe autoridade por parte do professor.
f) Tendência Progressista Libertária: O professor deve separar-se dos
métodos, que se tornam ineficazes, mesmo sendo diferentes.
g) Tendência Crítica-Social dos Conteúdos: O professor deve ter uma
relação de troca com o aluno, onde os conteúdos devem ser estipulados
pela necessidade e a realidade social do aluno.
21
2 – A Criança com Transtorno do Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH)
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma
dificuldade de aprendizagem mais comum do que se imagina nas escolas. Temos
várias definições que aqui abordaremos de maneira ampla. Segundo Possa et all
(2005):
O TDAH são alterações dos sistemas motores, perceptivos, cognitivos, de
comportamento, comprometendo o aprendizado de crianças com potencial
intelectual adequado. (POSSA, et all, 2005:45)
Percebe-se com a definição acima que o TDAH faz com que os portadores
desta dificuldade façam tudo o que querem, mas a aprendizagem é muito
prejudicada, pois a memória, a atenção e a concentração são habilidades muito
difíceis de serem manifestadas neles. É importante ressaltar que os portadores de
TDAH têm condições de aprender, tem potencial e inteligências normais, mas a falta
dessas habilidades e a agitação os impossibilitam disso, além do que, estudar é algo
desagradável e desconfortável.
Outra definição aceitável seria a de Topczewski (2002) que afirma que:
A hiperatividade é um desvio comportamental, caracterizado pela
excessiva mudança de atitudes e de atividades, acarretando pouca
consistência em cada tarefa a ser realizada. Portanto, isto incapacita o
indivíduo para se manter quieto por um período de tempo necessário para
que possa desenvolver as atividades comuns do seu dia-a-dia. Este padrão
de comportamento se mostra incompatível com a organização do seu
ambiente e com determinadas circunstâncias. Crianças e adolescentes
hiperativos
são
freqüentemente
considerados
inconvenientes. (TOPCZEWSKI, 2002:33)
como
pessoas
22
Muitas são as definições, mas todas se interceptam numa questão: o TDAH
compromete o comportamento do indivíduo que a possui de maneira significativa,
interferindo em suas relações sociais, familiares e escolares.
Para Smith e Strick (2001), que diz que:
O TDAH é apresentado erroneamente como sendo um tipo específico de
problema de aprendizagem, mas ao contrário, ele é um distúrbio de
realização. As crianças com TDAH são capazes de aprender, no entanto
têm dificuldade em se sair bem na escola devido ao impacto que os
sintomas do transtorno têm sobre uma boa atuação. De 20 a 30% das
crianças com TDAH apresentam problema de aprendizagem o que
complica sua identificação e em conseqüência um tratamento correto.
(SMITH E STRICK, 2001:21)
Por apresentarem dificuldade na aprendizagem, o TDAH muitas vezes é
confundido com uma criança sem limites, mal educada, disléxica, pois muitos
apresentam dificuldade na alfabetização, ou com Dificuldade no Processamento
Auditivo, pois não se concentram e não ouvem muitas vezes o que lhes é pedido ou
explicado.
Phelan (2005) afirma que:
O TDAH destaca-se como característica de um desvio significativo da
norma
em
três
sintomas
principais:
desatenção,
impulsividade
e
hiperatividade, os quais conduzem a dificuldade permanente e de início
precoce, em sua adaptação social e/ou em seu rendimento, em relação a
sua idade de desenvolvimento. Nesta definição, o DSM-IV apresenta uma
ênfase clara em que o TDAH deve ser avaliado em relação à idade de
desenvolvimento da criança: o que é normal aos três anos de idade passa
a ser anormal aos oito anos. (PHELAN, 2005:12)
Os principais fatores negativos do TDAH, na vida da criança portadora são a
falta de atenção e a agitação extrema, que atrapalham seu desenvolvimento físico,
motor, psicológico e social.
23
O indivíduo com TDAH pode manifestar apenas a hiperatividade ou a
desatenção, sendo que em alguns casos podem manifestar os dois. Uma série de
mudanças na vida deste indivíduo precisam ser feitas como: reestruturação de seu
ambiente, adequação alimentar, eliminar fontes de perigo, entre outras coisas.
O TDAH é um transtorno neurológico que pode ou não ser acompanhado de
comorbidades, ou seja, outros distúrbios associados como: ansiedade generalizada,
transtorno do sono, depressão, distúrbios de linguagem, distúrbios alimentares,
personalidade anti-social, baixo limite para a frustração (não aceita adiamento de
recompensas), impulsividade, emotividade, excesso de atividade e outros distúrbios
de aprendizagem.
O convívio social entre familiares, amigos e colegas com o indivíduo que
apresenta o TDAH é muito difícil e complicado, carregado de estresse por causa do
comportamento inconstante e imprevisível.
2.1- Diagnóstico do TDAH
Não é possível definir um diagnóstico preciso e fechado sobre TDAH. É
necessário uma série de observações e informações das mais variadas fontes e
lugares como: pais, professores nos mais diversos ambientes e aulas. Tudo isso
com o embasamento de questionários, testes e entrevistas.
Alguns sinais no desenvolvimento do indivíduo devem ser lembrados e
observados, desde a mais tenra idade para se diagnosticar o TDAH. Bebês que são
difíceis de acalmar ou que dormem pouquíssimo, ou tem dificuldade para dormir, são
sérios indícios de TDAH.
Segundo Conners (1966):
Certos fatores de desenvolvimento no início da infância (o bebê difícil de
acalmar ou com dificuldade para dormir) podem colocar as crianças no
grupo desses problemas, pela sua intensidade ou gravidade e pela sua
24
persistência durante o processo de crescimento da criança. (CONNERS,
1966:05)
O TDAH pode ser considerado um distúrbio de interação, pois as situações do
dia-a-dia que o indivíduo com TDAH enfrentar vão determinar o grau de sua
agitação. Certos lugares, vão causar ao indivíduo com TDAH, dificuldades de
adaptação, tornando-o anti-social.
Portanto, é importante observar o ambiente e os estímulos deste ambiente
antes de levar um indivíduo com TDAH, pois quando ele não consegue se comportar
socialmente adequado, sente frustração, e esta acarreta sentimentos de angústia e
incapacidade, fazendo com que sua auto-estima abaixe, impedindo, muitas vezes o
progresso.
2.2- Os Sintomas do TDAH
O TDAH não se manifesta apenas em crianças na idade escolar, mas os
especialistas não fecham nenhum diagnóstico antes dos cinco anos, apesar de
muitas crianças apresentarem os sintomas, mas são considerados sintomas
precoces, que necessitam de uma maior observação.
Muitos são os casos hoje em dia de adolescentes que apresentam os
sintomas do TDAH, a única diferença é que os problemas enfrentados por eles são
mais intensos e maiores, principalmente quando tentam entrar na vida adulta.
Para Pennington (2004):
A criança com TDAH apresenta os seguintes tipos de comportamento: falta
de persistência em atividades que requeiram envolvimento cognitivo;
mudança de uma atividade para outra sem completar nenhuma delas;
abandono das atividades; cometimento de erros por falta de cuidados;
dificuldade em manter atenção em tarefas ou atividades lúdicas;
desorganização dos hábitos de trabalho; manuseio de objetos com
descuido; dificuldade de pensar antes de agir; necessidade de agir
rapidamente que sobrepuja sua reduzida capacidade de auto-controle;
25
realização de infrações não premeditadas; impaciência; dificuldade de
protelar respostas; necessidade de responder precipitadamente; dificuldade
de aguardar a vez. (PENNINGTON, 2004:44)
Outra definição de sintomas vem de Pessoa (2006), que diz:
Segundo a DSM-IV, de 1994, tem validade atual e os comportamentos
estão distribuídos em três dimensões, ou seja, desatenção, impulsividade e
hiperatividade. Na dimensão hiperatividade, foram considerados os itens:
não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por
descuido nos trabalhos da escola ou tarefas; é esquecido em atividades do
dia-a-dia e mexe com as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira, itens do
DSM-III-R e acrescentados os comportamentos: freqüentemente se levanta
na sala de aula ou em outras situações nas quais deveria permanecer
sentado; com freqüência e excessivamente corre de um lado para outro em
situações impróprias (nos adolescentes ou adultos pode ser decorrente de
sentimentos subjetivos de agitação); parece estar, freqüentemente, "ligada"
e é descrita como "com o motor ligado". (PESSOA , 2006:23),
Estes sintomas, aparecem no DSM-III-R, e vão estar presentes no indivíduo
com TDAH antes dos sete anos, devendo permanecer por pelo menos seis meses,
para que se possa diagnosticar o TDAH corretamente. Além disso, precisam se
manifestar em no mínimo duas situações diferentes, ou em lugares diferentes.
Exemplos de sintomas vistos através de observação em lugares diferentes ou
situações diferentes podem ser: não seguir instruções até o fim; não terminar as
tarefas escolares ou obrigações domésticas; muita dificuldade em organizar as
tarefas e as atividades a serem feitas, saindo do lugar o tempo todo, quando se
espera que fique sentado.
Segundo Topczewski (2002):
Para as características do TDAH aparecem de modo isolado ou associado.
Apresentam o transtorno crianças que: estão em constante movimento,
mexem em tudo mesmo sem motivo, são impacientes, mudam sempre de
atividade, não ficam sentadas por muito tempo na sala de aula ou na frente
da TV, não conseguem prestar atenção na mesma coisa por muito tempo,
desviam a atenção para outros estímulos, muitas vezes impróprios para o
que está realizando, distraem-se facilmente, não terminam as tarefas que
começam e também demoram para realizar as tarefas. Certamente pode
26
haver outros sintomas e, por outro lado, sintomas isolados não
caracterizam o TDAH. (TOPCZEWSKI, 2002:67)
Na idade escolar os sintomas tornam-se mais evidentes e mais observáveis,
principalmente no ambiente escolar. Com muitas crianças juntas numa mesma sala
de aula é possível comparar comportamentos, observando brincadeiras e interações
sociais. Muitas crianças, em casa, comportam-se agitadamente e na escola agem de
maneira calma e sensata. Os indivíduos com TDAH não conseguem ficar quietas,
sentadas por muito tempo, pois mexem-se o tempo todo e falam sem parar.
Para Smith e Strick (2001), os sintomas manifestam-se:
...bem cedo para a maioria das pessoas, logo na primeira infância. O
transtorno é caracterizado por comportamentos crônicos, com duração de
no mínimo seis meses, que se instalam definitivamente antes dos sete
anos de idade. (SMITH E STRICK, 2001:45).
Muitas crianças que são TDAH são rotuladas de desatentas, apesar de
estarem ligadas a tudo o que acontece ao seu redor. Pesquisas revelam de cerca de
3 a 5% da população em idade escolar são portadoras de TDAH e o que realmente
elas não conseguem fazer é planejar suas atividades ou atitudes com antecedência.
Outra grande dificuldade é a de focar sua atenção em apenas uma coisa,
selecionando o que realmente é importante para aquele momento. Organizar e
responder rapidamente são outras dificuldades aparentes dos portadores de TDAH.
Estas crianças não possuem limites para suas ações e não têm noção do perigo ao
praticarem certas ações.
2.3- O Diagnóstico do TDAH
Para Topczewski (2002):
O TDAH pode ser notado em várias fases do desenvolvimento da criança,
seja na fase escolar, adolescência ou adulta. O processo de avaliação
envolve a coleta de dados com os pais, com a criança e com o professor.
Para firmar o diagnóstico, deve-se solicitar avaliação interdisciplinar,
27
incluindo
a
neurológica
infantil,
psicológica
e
psicopedagógica.
(TOPCZEWSKI, 2002:71),
Sabe-se que o diagnóstico do TDAH é difícil e complexo, pois muitas são as
manifestações conscientes e inconscientes, envolvendo a família como é hoje e
como era, a vida social, a escola.
Lemos em Araújo et al (2003) que:
O sistema família, escola, fatores sociais, econômicos e culturais, afetivos
e psicológicos podem desordenar os processos de aprendizagem,
reduzindo a complexidade da questão num rótulo, potencializado pela
conduta imperativa, agitada e hiperativa. A acumulação de frustrações, de
ansiedades, de agressões, de depressões e de insucessos é atividade por
um sistema escolar que insiste na maturação precoce. (ARAÚJO et al,
2003:5).
Possa et al (2005) afirma que:
As comorbidades do TDAH em crianças escolares são: transtorno de
conduta (TC), transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtorno
desafiante opositivo (TDO). A maioria das crianças com TDAH apresentam
alguma dessas comorbidades psiquiátricas, sendo o TC e o TDO as mais
comuns. Assim, é importante pesquisar sobre as morbidades associadas
ao diagnosticar o TDAH. (POSSA et al,2005:23)
Como
já
dissemos
anteriormente,
o
TDAH
traz
consigo
algumas
comorbidades que também precisam de atenção e estudo. A observação deve ser
uma grande aliada no diagnóstico preciso.
Rhode e Benczik (1999) dizem que:
O diagnóstico é fundamentalmente clínico. Só deve ser realizado por
profissional (médico ou psicólogo) de saúde mental. Existem escalas que
descrevem os sintomas de atenção, hiperatividade e impulsividade e
medem de forma objetiva sua intensidade. (RHODE E BENCZIK,1999:67)
Uma equipe multidisciplinar deve sempre estar unida no diagnóstico das
dificuldades
de
aprendizagem,
portanto,
fonoaudiólogos,
psicopedagogos,
psicólogos, pedagogos, neurologistas, psicomotricistas entre outros devem avaliar e
juntos chegarem a uma conclusão sobre o diagnóstico e o tratamento.
28
Citadas por Rhode e Benczik (1999), as escalas de Conners e a de
Problemas de Atenção do Inventário de Comportamentos de Crianças e
Adolescentes, apresentam as versões para os pais e para os professores. Para os
autores elas ainda não são adequadas à nossa realidade:
...no entanto essas escalas não estão adequadas inteiramente, para
crianças e adolescentes brasileiros. O exame neurológico e testes como a
Escala de Inteligência Wechsler para Crianças, podem ser um reforço para
o diagnóstico clínico. Mas deve-se ter cuidado, pois crianças podem
apresentar resultados normais nestes exames e testes. (RHODE e
BENCZIK, 1999:45)
Nesse caso entra a equipe multidisciplinar que vai avaliar caso a caso. Depois
de uma avaliação minuciosa, os terapeutas decidirão qual será a ou as terapias
adequadas para cada caso. É importante lembrar que um diagnóstico envolve d
versos fatores que não podem ser desprezados como: problemas biológicos,
psicológicos, sociais, motores e emocionais, que podem, e muito, contribuir para o
resultado final a ser obtido.
Para Goldstein (2003):
O diagnóstico de TDAH pede uma avaliação ampla. Não se pode deixar de
considerar e avaliar outras causas para o problema, assim é preciso estar
atento à presença de distúrbios concomitantes (comorbidades). O aspecto
mais importante do processo de diagnóstico é um cuidadoso histórico
clínico e desenvolvimental. (GOLDSTEIN, 2003:39)
Um levantamento emocional, intelectual, acadêmico, social e motor deve ser
umas das primeiras medidas a serem tomadas para a obtenção de um diagnóstico
preciso. Exames médicos como: neurológicos, oftalmológicos, otorrinolaringológicos
entre outros podem esclarecer causas, sintomas e até doenças que apresentam
sintomas semelhantes aos do TDAH. Muitos medicamentos e doenças ligadas à
tireóide, por exemplo, podem apresentar os mesmos sintomas que o TDAH, mas são
passageiros e não necessitam do mesmo tratamento terapêutico que os portadores
do TDAH.
29
Segundo Tiba (2002):
Diagnósticos apressados e equivocados têm feito pessoas mal-educadas
ficarem à vontade para serem mal educadas sob o pretexto de que estão
dominadas pelo TDAH. O fato de serem consideradas doentes facilita a
aceitação de seu comportamento impróprio. (TIBA, 2002, p.152).
Até hoje, apesar da alta tecnologia e dos extensos estudos feitos sobre o
tema, o TDAH ainda é um assunto polêmico e controverso, pois muitas são
chamadas de crianças levadas, rebeldes, indisciplinadas e desorganizadas, sendo
que na verdade elas possuem o TDAH, que é um problema comportamental que
independe de sua vontade ou controle.
O contrário também não é descartado, pois muitas vezes crianças agitadas e
com falta de limites são consideradas hiperativas, mas não são. Conclusões
precipitadas diagnosticam crianças com TDAH, por observações mal feitas ou
palpites pessoais dos familiares, chamando uma distração momentânea de déficit de
atenção.
Lembramos que sintomas isolados e não observados várias vezes, em
diversos ambientes e momentos não podem ser levados a sério, não podem
diagnosticar o TDAH. Um conjunto de sintomas, extensamente observados, por
diversos profissionais, em diversos ambientes, horários e estímulos, que depois de
analisados isoladamente serão analisados em conjunto, pela equipe, é que podem
dar um diagnóstico preciso e específico.
2.4- O Tratamento do TDAH
Topczewski (2002) também fala sobre o tratamento do TDAH:
Existe, sem dúvida, tratamento para a hiperatividade, mas é necessário
que se tome uma série de medidas, porque o quadro é pluridimensional: no
caso, deve ser um trabalho conjunto que envolve orientação familiar,
orientação psicológica, psicopedagógica, a participação da escola,
complementado pelo tratamento com medicamento. São receitados os
30
medicamentos estimulantes do sistema nervoso central. (TOPCZEWSKI,
2002:69).
Segundo Kaippert et al (2003):
Existem tratamentos alternativos como o fitoterápico e homeopático que
têm demonstrado eficácia no tratamento da hiperatividade. É essencial que
o tratamento ocorra de forma cautelosa, em um ambiente calmo e
carinhoso. (KAIPPERT et al 2003:10).
Para um tratamento eficiente com o portador de TDAH, a equipe
multidisciplinar deve trabalhar em conjunto com a família, pois os pais e os demais
familiares precisam aprender a entender o transtorno, preparando junto com os
especialistas, estratégias de controle do comportamento do filho. A escola também
deve fazer parte desta parceria, pois os pais e os professores precisam ser
orientados em como ensinar e ajudar na aprendizagem dos portadores de TDAH,
para que os conflitos sejam evitados e para que haja um maior entendimento sobre
a medicação usada e os efeitos colaterais ou não deste medicamento.
Muitas habilidades dos portadores do TDAH deixam de ser estimuladas por
falta de informação e entendimento. Araújo et al (2003) diz que:
No tratamento do TDAH, é importante trabalhar a criança em habilidades
tais como: participar de jogos coletivos que envolvam regras; desenvolver a
competência de se comunicar com eficiência e a capacidade de
relacionamento interpessoal adequado; em termos terapêuticos, a criança
precisa aprender um modelo racional de descobrir e solucionar problemas
do cotidiano. (ARAÚJO et al, 2003:8)
Complementa dizendo que:
Ao valorizar um tratamento do TDAH para além da razão, trabalhando a
afetividade: Essas crianças merecem paciência, criatividade, precisa de
orientação adequada, sobretudo no ambiente da sala de aula, para que
consiga o rendimento esperado e consentâneo com sua capacidade de
aprender. Se não conseguir poderá isolar-se ou passar a ter problemas
com
a
concentração
da
atenção.
Outras
poderão
assumir
um
31
comportamento oposicionista de desafio e desestruturar o grupo em que
estiver. (ARAÚJO et al, 2003, p. 9).
O carinho, a compreensão, o limite são peças essenciais deste quebracabeça a ser montado na mente e na vida do portador do TDAH. Entender suas
limitações e necessidades ajudarão o indivíduo a compreender mais o mundo que o
cerca, fazendo-o sentir-se valorizado e com sua auto-estima elevada.
Conforme Lancet (2006):
O tratamento desse transtorno exige uma abordagem ampla do paciente. A
avaliação deve incluir aspectos físicos, emocionais e sociais uma vez que o
TDAH apresenta inúmeros problemas associados em diferentes áreas da
vida do paciente. (LANCET, 2006:27)
Os portadores de TDAH precisam de variadas formas de aprender, precisam
ser ensinados de maneira lúdica, com atividades que unam a realidade com a
fantasia, sempre mostrando que a consciência de sua aprendizagem é o importante,
pois assim entenderão que estão aprendendo, capacitando suas habilidades e
tomando atitudes intencionais e não por simples reflexo, sem pensar.
Silva et al (2004) nos mostra que:
Outra característica do jogo desenvolvido, própria para reter a atenção de
crianças hiperativas, é a exigência de muitas tarefas a serem cumpridas
em um curto espaço de tempo. (SILVA et al, 2004:03).
Smith e Strick (2001) lembram que:
Na escola, as crianças com TDAH são um problema para educadores e até
para os colegas da classe e podem apresentar inteligência média ou acima
da
média, mas
apresentam
problemas
na
aprendizagem
ou
no
comportamento, propiciando dificuldades na percepção, conceitualização,
linguagem, memória, controle da atenção, função motora e impulsividade.
No entanto, a criança hiperativa não necessariamente apresenta todas
estas características juntas e estas também variam de intensidade
dependendo de fatores circunstanciais. (SMITH e STRICK, 2001:32)
É importante lembrar que a sala de aula para os portadores de TDAH deve
ser muito organizada e estruturada, para que ele se sinta seguro. As regras
32
devem ser claras e devem ser feitas de maneira ao portador cumpri-las. Regras
difíceis para ele não devem ser cogitadas. Em tudo o que for feito ou proposto
deve haver coerência, para que o trabalho da classe, como um todo flua de
maneira natural e saudável. O professor deve avaliar este indivíduo de maneira
coerente, frequente e imediata.
Muitos incidentes ou problemas devem ser ignorados para não estressar o
portador por pequenas dificuldades por ele ainda existentes. O professor deve
estar preparado para ministrar tarefas que realmente venham de encontro com
a necessidade do portador de TDAH, facilitando a auto-correção e estimulando
o interesse do indivíduo.
O portador de TDAH deve ser supervisionado em seus momentos livres, de
intervalos e troca de aulas. A comunicação entre escola-família deve ser diária,
clara e sincera, para que juntos possam ajudar no crescimento do portador de
TDAH.
O professor deve ter cuidado com os reforços negativos, pois eles podem
prejudicar um longo trabalho em apenas um segundo, pois os portadores de
TDAH costumam ter sua auto-estima rebaixada, pelas dificuldades em controlarse e pela falta de atenção, que prejudica sua aprendizagem. Atividades lúdicas,
coerentes e adequadas ao nível de habilidade do portador de TDAH para que
ele entenda que quando acontecerem mudanças, elas serão conseqüências de
seus atos e que precisam ser pensadas antes de mais nada.
3 – O jogo e a criança com TDAH
Quando se fala em jogo e brincadeira muitas vezes pensamos que se trata de
um momento de recreação, diversão. O jogo e o brincar têm estas características,
mas também muitas outras, tão importantes quanto às primeiras.
O jogo promove a integração social das crianças e uma de suas
características principais é que , por ser transmitido de uma geração à outra, ou
33
apenas por ser aprendido pelos grupos de crianças nos mais diversificados lugares,
é incorporada pelos grupos infantis espontaneamente, onde as regras podem ser
alteradas ou mudadas de acordo com a cultura local, mas a essência do jogo é a
mesma em qualquer lugar. Ele faz parte da cultura de uma sociedade, sendo um
verdadeiro patrimônio lúdico cultural, transmitindo costumes, valores, pensamentos e
ensinamentos.
Para Alves (1994):
O jogo traz uma visão do futuro: O jogo tem a visão do futuro
em primeiro lugar, porque seu espírito criativo esta nas origens
da humanização. Em segundo lugar, porque ele está vinculado
à criança e ao espírito infantil. (ALVES, 1994:56)
O jogo entendido sob a ótica do brinquedo e da criatividade terá maior espaço
para ser entendido como evolução na medida em que buscar desenvolver as
capacidades investidas e conduzir a convivências fraternas, pois brincar é educar-se
para a criação e pela convivência.
Jogo no idioma português tem o mesmo significado que brincadeira, lúdico,
diversão com finalidade recreativa de entretenimento. Pode ser submetido a regras
(Ferreira 2004:885), e está presente no cotidiano escolar e no extra-escolar da
criança e do adolescente.(Burgos 2002).
De acordo com Bruner (1978), qualquer ser que brinca atreve-se a explorar e
ser além da situação dada, na busca de situações pela ausência de avaliação ou
punição. Entende que a criança aprende ao solucionar problemas, e que o brincar
contribui para esse processo. A aprendizagem centrada na criança permite a
compreensão significativa da informação bem como sua transformação.
Através da brincadeira e do jogo, a criança aprende a utilizar os movimentos e
desenvolve estratégias para solucionar problemas. Com o jogo é possível explorar o
que vai ser aprendido e pode-se buscar soluções para os mais diversos problemas,
usando-se o pensamento intuitivo.
34
Segundo Bruner (1978):
A brincadeira deve ter o auxílio do adulto e ter situações estruturadas ,mas
que permitam a ação motivada e iniciada pelo aprendiz de qualquer idade.
(BURNER, 1978:38)
A presença do adulto intermediando a brincadeira e o jogo pode impor
implicitamente regras do seu universo, e tornar o brincar muitas vezes pedagogizado
e com um fim em si mesmo.
Quando ligamos o lúdico, o jogo ou a brincadeira ao comportamento da
crianças com TDAH, muitas vezes não se obtém sucesso, pois a dificuldade de
atenção, concentração e a impulsividade que o portador de TDAH possui podem
atrapalhar.
Segundo Barros (2002):
Sabe-se que o comportamento da criança com hiperatividade, em relação
às crianças normais, se mostra muito deficitário devido à grande dificuldade
de atenção, concentração e impulsividade causada pelo distúrbio.
(BARROS, 2002:67)
Ao utilizar os jogos como estratégia pedagógica, o professor deve levar em
consideração as características da criança com TDAH, bem como as condições sob
as quais deverá realizar as atividades, objetivando auxiliar o aluno a desenvolver as
habilidades necessárias para um bom desempenho social, emocional e cognitivo.
Atualmente, vive-se um momento de profunda reflexão em torno do
Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, atraindo o interesse de
profissionais da medicina, psicologia e educação que, direta ou indiretamente, estão
envolvidos com o processo ensino-aprendizagem. A investigação científica tem se
concentrado em uma multiplicidade de aspectos, incluindo causa, evolução, métodos
de diagnose e processo de tratamento da TDAH, como já se citou anteriormente.
Para Fabris (2003):
35
Apesar dos grandes problemas que o TDAH pode causar nas crianças e
nos adolescentes, por muito tempo, os pais e os profissionais da educação
tiveram poucas informações sobre o assunto, principalmente sobre as
conseqüências da hiperatividade e as dificuldades na capacidade de
prestar atenção. Acreditava-se que seria um problema superado na
adolescência, o que não é verdade, pois estudos realizados comprovam
que a hiperatividade pode permanecer durante a adolescência e na vida
adulta, e que os seus portadores continuarão sofrendo suas manifestações
caso não haja um tratamento especializado. (FABRIS, 2003:87)
Rodhe e Benzic (1999) dizem que:
Este distúrbio pode levar a dificuldades emocionais, de relacionamento
familiar e social, bem como a um baixo rendimento escolar. (RODHE e
BENCZIC, 1999, p.37)
O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade tem por característica
essencial, segundo a Associação Psiquiátrica Americana apud Barros (2002):
...um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade - impulsividade,
mais freqüente e grave do que aquela tipicamente observada nos
indivíduos em nível equivalente de desenvolvimento. (ASSOCIAÇÃO
PSIQUIÁTRICA AMERICANA apud BARROS, 2002, p.31)
As crianças com TDAH possuem alguns comportamentos típicos como:
atividade
excessiva,
distração,
impaciência,
impulsividade,
dificuldade
de
relacionamento, agressividade, descontrole emocional e, freqüentemente, são
consideradas problemáticas, indisciplinadas e inconvenientes no meio em que estão
inseridas. Dessa forma, sentem-se afetadas e excluídas em sua interação com os
adultos, com os amigos e com elas mesmas, pois são pouco compreendidas., assim
a prática do jogo pode ser uma atividade estressante, quando não for ministrada de
maneira coerente e adequada à dificuldade que esta criança possui.
Os estudos sobre o TDAH confirmam tratar-se de um transtorno
neurobiológico, retratando um déficit funcional de determinados neurotransmissores,
e ainda enfocam um déficit funcional do lobo frontal, mais precisamente do córtex
pré-frontal. A função dos lobos frontais é responder as capacidades de iniciar,
manter, inibir e desviar a atenção. Também é atribuída aos mesmos a missão de
administrar as informações recebidas, integrar a experiência atual com a experiência
36
passada, monitorar o comportamento presente, inibir respostas inadequadas e
organizar e planejar a obtenção de metas futuras. Assim, segundo Barros (2002):
O indivíduo que apresenta tal deficiência terá dificuldade de autoregulação, podendo ter uma vida caótica e desorganizada, sem direção
para um futuro mais interessante, necessitando de regras internas,
diretrizes e incentivos.” (BARROS, 2002:28)
É na sala de aula que o TDAH tem se manifestado com maior incidência. Ele
tem interferido de maneira significante no processo ensino-aprendizagem, pois o
comportamento hiperativo leva o aluno a ser dispersivo e desatento, prejudicando o
seu rendimento escolar. Essas crianças demonstram impaciência nas tarefas que
exigem atenção, esforço, concentração e organização. Suas tarefas são realizadas
de maneira desorganizada e, quase sempre, ficam inacabadas. Muitos professores
têm se queixado em relação ao baixo desempenho acadêmico, à impulsividade, ao
excesso de atividade motora e ao não-cumprimento das regras, por não saberem
lidar com estes problemas.
Diante dessa realidade o jogo vem como um aliado da sala de aula e do
processo ensino-aprendizagem, conforme argumenta Vygotsky (1991), que afirma
que o brincar é de extrema importância para os processos de aprendizagem e
desenvolvimento da criança, pois é através dele a criança pode reproduzir
experiências e vivenciar o mundo, relacionando-se com outras crianças. Para ele:
O brincar nem sempre é considerado uma atividade que dá prazer à
criança, já que outras atividades dão experiências de prazer muito mais
intensas do que o brincar como, por exemplo, o chupar chupeta, mesmo
que a criança não se sacie com a mesma. No entanto, o ato de brincar é de
suma importância no desenvolvimento e aprendizado da criança.
(VYGOTSKY, 1991:89)
No dia-a-dia escolar, percebe-se que essas crianças apresentam dificuldades
de obediência e autocontrole, o que dificulta o trabalho do professor em sala de aula.
Para Lopes (2002):
37
...basta ter duas ou três crianças com esse distúrbio na sala de aula para
prejudicar todo o andamento da classe, pois as características deste
distúrbio são: inquietação motora, dificuldades de atenção e concentração,
falta de controle emocional e baixa tolerância a frustrações. (LOPES
2002:38)
A aprendizagem progressiva de “domínio do corpo” através do jogo corporal
onde o movimento acompanha as diferentes organizações funcionais, um dominador
comum a todas as formas de inteligência.
Piaget (1988) acredita que:
O jogo é essencial para a vida da criança e tem-se o jogo de exercício que
é aquele em que a criança repete uma determinada situação por puro
prazer, por ter apreciado seus efeitos.(PIAGET, 1988:76)
Froebel apud Cunha (1998), foi o primeiro a colocar o valor educativo do jogo
como parte essencial do trabalho pedagógico. Assim como nos primeiros estudos
sobre o jogo, o nome de ludus, era atribuído às escolas responsáveis pela instrução
elementar, que eram semelhantes aos teatros, onde existiam apresentação de
espetáculos e também a práticas de exercícios de fortalecimento do corpo e do
espírito. (KISHIMOTO 1990:39, 40)
Antes de Froebel, havia três concepções de jogo:
a)
Recreação: necessário como relaxamento em atividades que exigem
esforço físico e intelectual,
b)
Uso de jogos para favorecer os conteúdos escolares,
c)
Usando-os como instrumentos de educação e de diagnósticos da
personalidade infantil, usado como recursos para ajustar o ensino às
necessidades infantis.
38
Froebel apud Cunha (1998), delineia a metodologia dos dons e ocupações
dos brinquedos e jogos. A ação livre requer a adoção do modelo de educação
centralizado na criança. Sendo assim, o jogo, quando visto como brinquedo que
incentiva a criatividade, precisa encontrar mais espaço na educação, principalmente
depois que os educadores entenderem o potencial de contribuição que ele pode dar
ao desenvolvimento da criança.
3.1- A Função do Jogo no Tratamento do TDAH
Ao utilizar o jogo como estratégia de ensino, utiliza-se uma ferramenta
preciosa, que oferecerá oportunidade para a criança com TDAH desenvolver
habilidades de experimentação, imaginação, concentração, interação, perseverança,
socialização, atenção, autoconfiança, bem como resolução de problemas. Segundo
Cunha apud Barros (2002):
Brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança ,
tendo em vista que o comportamento lúdico contribui para a aquisição das
habilidades de cada domínio do desenvolvimento. (CUNHA apud BARROS,
2002:58)
Todas as crianças têm necessidade de brincar e jogar. O lúdico faz parte do
mundo da criança porque é jogando que ela fará descobertas de si, do outro e do
meio em que está inserida. Por esse motivo, considera-se que aprender a jogar é
indispensável na vida das crianças, inclusive na das crianças com TDAH. É uma
estratégia de ensino criativa, atraente e interativa que mantém os alunos envolvidos
e interagindo com os colegas do grupo.
Os jogos não devem apenas ser utilizados como uma forma de brincadeira,
diversão ou lazer. Por serem divertidos e prazerosos, desenvolvem o raciocínio,
treinam a concentração, ensinam as crianças a obedecerem regras, a respeitarem o
outro, oferecendo oportunidades para que ela desenvolva as habilidades que uma
criança necessita para viver em sociedade.
39
Para Lopes (2000):
Quando se usa o jogo como prática pedagógica, ele se torna um elemento
enriquecedor para promover a aprendizagem e contribuir com o
desenvolvimento de muitas habilidades. (LOPES, 2000:35)
Através
das
atividades
lúdicas e
dos jogos,
pode-se
promover o
desenvolvimento social, emocional e cognitivo e também trabalhar as habilidades do
pensamento, da criatividade, da imaginação, da interpretação, da atenção, da
motivação interna e da socialização. O jogo é um indicador de várias competências,
é uma atividade muito rica e que trará grandes contribuições para que o aluno possa
conhecer-se melhor, enfrentar desafios, ter interação com o outro, organizar suas
relações sociais e emocionais, construindo, aos poucos, sua personalidade e
favorecendo sua melhor adaptação social no futuro.
Verderi (1999) diz que:
Nos dias de hoje, a formação da personalidade das crianças é bastante
influenciada pelo contexto sócio-cultural. A cada dia, as crianças são mais
afastadas dos jogos e das brincadeiras, do contato com as atividades
recreativas, o que traz como conseqüências o empobrecimento nas etapas
do desenvolvimento infantil e a privação de um aprimoramento mais
adequado ao desenvolvimento de suas capacidades motoras, cognitivas e
sócio-afetivas. Logo, se entende que os jogos e as brincadeiras são
primordiais em todas as etapas do desenvolvimento infantil, tornando-se
indispensável na prática pedagógica do educador, pois contribuem com a
construção da personalidade e do desenvolvimento cognitivo. Não se pode
deixar de lançar mão dessa ferramenta em nossas salas de aulas.
(VERDERI, 1999:78)
Os jogos ajudam a desenvolver a cooperação entre os alunos do grupo. Faz
com que as crianças ajudem-se mutuamente no processo de construção coletiva de
conhecimento e possibilitam a interação do grupo. As crianças com TDAH
aprendem, assim, a conviver com os colegas de maneira mais saudável e prazerosa.
Através dos jogos, o professor poderá explorar muitas habilidades de forma
significativa e interessante. Por não haver pressão, imposição e cobrança, a criança
se sente mais à vontade para superar as dificuldades cognitivas e emocionais.
40
O jogo infantil possui regras bem definidas a serem obedecidas por todos os
participantes. Sabe-se que os alunos com TDAH têm dificuldades em seguir e
obedecer a instruções, pois eles não sabem se submeter adequadamente às regras
de interação social. Através dessa prática pedagógica, a criança compreenderá o
porquê das regras, pois, antes do início de qualquer atividade lúdica, é necessário
que os participantes compreendam e concordem com as regras combinadas pelo
grupo e pelo professor.
O TDAH dificulta o desenvolvimento de um comportamento social adequado.
Segundo Cunha apud Barros (2002): “Através dos jogos e brincadeiras grupais, a
criança aprimorará seu senso de respeito às normas grupais e sociais.” (CUNHA
apud BARROS, 2002:61)
O jogo é um caminho para a aprendizagem das habilidades sociais. É por isso
que se enfatiza a necessidade de os portadores de TDAH aprenderem a jogar.
É preciso reconhecer que as crianças normais possuem maiores habilidades
no que se refere às atividades lúdicas e recreativas, apresentando um
comportamento mais persistente, paciente e com maior nível de concentração,
enquanto as crianças com TDAH, pela dificuldade que apresentam em manter
atenção
em
tarefas
ou
mesmo
em
atividades
lúdicas,
demonstram
um
comportamento lúdico dispersivo. Portanto, o papel do jogo, como intervenção no
aluno com TDAH, é o de contribuir para melhores condições de desenvolvimento e
não como forma de tratamento.
Para Barros (2002), deve-se levar em consideração que:
Em situações em que o jogo exija um grau elevado da capacidade de
atenção, concentração e paciência, o comportamento lúdico das crianças
consideradas hiperativas certamente será comprometido, pois essas
crianças possuem menos intensidade de jogo do que as crianças normais.
Dessa forma, seu comportamento poderá ser diferente do das outras
crianças. (BARROS, 2002:63)
Devido
à
grande
instabilidade
comportamental
e
todas
as
suas
conseqüências, as crianças com TDAH têm dificuldades em cultivar e preservar suas
amizades, assim, o jogo também poderá atuar como facilitador das relações
41
interpessoais, melhorando suas interações sociais e ampliado seu círculo de amigos.
É essencial que essas crianças percebam que, através da integração social que têm
com os companheiros do grupo, podem aprender as habilidades sociais e fazer uso
delas para ter uma vida comunitária satisfatória.
O professor deve criar facilidades para que a criança com TDAH adquira
novas amizades, pois os amigos são essenciais para o desenvolvimento dessas
crianças. Segundo Lopes (2000):
A instabilidade comportamental, a ansiedade e a falta de concentração em
algumas crianças hiperativas fazem com que as outras crianças se afastem
delas, pois, por não compreenderem a sua forma de relacionamento,
acabam as considerando inconvenientes. Assim sendo, algumas vezes, as
crianças hiperativas acabam sendo excluídas pelos amigos, o que poderá
provocar alguns transtornos emocionais, pois a falta de companheiros
poderá trazer para algumas delas sentimentos de solidão e ansiedade.
(LOPES, 2000)
Nas relações do cotidiano escolar, o professor deverá intervir de maneira
positiva com o seu grupo de forma a ajudar os seus alunos a observarem que os
colegas com TDAH possuem qualidades, fazendo-os perceberem que, muitas vezes,
suas ações necessitam de correção para que eles aprendam a reagir e a interagir de
forma adequada com o grupo. Dessa forma, o professor estará facilitando as
relações interpessoais das crianças e construindo uma auto-educação para a
tolerância e a paciência, tão essencial na vida das pessoas nos dias atuais.
De acordo com Fabris (2003):
A impulsividade é um comportamento básico na vida do hiperativo; ele tem
desejo de satisfazer suas vontades de maneira rápida e imediata,
independendo das circunstâncias; possivelmente esta manifestação ocorre
devido à falta de organização interna dos indivíduos, à imaturidade, à falta
de atenção e às inabilidades motoras que apresentam. (FABRIS, 2003:30)
Em decorrência da necessidade impulsiva de recompensa imediata, o
hiperativo apresenta muita dificuldade em compartilhar e ser cooperativo com o
grupo.
42
Os jogos dramáticos, tais como a dramatização e a expressão, podem ajudar
a criança com TDAH a desenvolver as habilidades de saber ouvir, esperar a sua vez
de falar, bem como olhar para quem fala. Isso enriquecerá a sua integração com o
meio em que vive, bem como favorecerá seu crescimento social e emocional. É por
meio dos jogos dramáticos que se pode levar o hiperativo a reconhecer que
compartilhar é importante para conquistar amigos.
O professor deve ser o facilitador das relações interpessoais, mostrando à
criança que o seu comportamento está inadequado, e oferecer oportunidades de
superar seus erros e melhorar tais deficiências comportamentais.
Para a realização de uma prática pedagógica eficiente através dos jogos, é
necessário que o professor esteja preparado para exercer plenamente suas funções
com responsabilidade e competência, estando consciente de que, ao utilizar os
jogos em sua sala de aula, precisa saber quais objetivos deseja alcançar e quais
potencialidades almeja desenvolver em seus alunos.
Para isso, é essencial que escolha o jogo adequado para o momento
educativo a que se propõe, explorando de maneira significativa as finalidades
educativas de cada jogo realizado. Os objetivos traçados pelo professor devem
atingir os participantes na sua totalidade, valorizando a aprendizagem individual e
grupal, colaborando de forma eficiente na formação integral de cada cidadão.
Os jogos e as brincadeiras devem ser elaborados com materiais variados. É
necessário criar um ambiente estimulador dentro da sala de aula. Materiais que
possibilitem a confecção dos jogos devem estar sempre presentes na sala de aula.
O professor deve propiciar a participação dos alunos na elaboração e na construção
dos mesmos, fazendo do ambiente escolar um laboratório de aprendizagem. Dessa
forma, as crianças sentem-se mais motivadas a jogar e, enquanto constroem os
jogos, vão adquirindo conteúdos, conceitos e valores em um ambiente social rico de
relações de aprendizagem. Essa prática permitirá mais sucesso nas possibilidades
de intervenção pedagógica.
43
Para Lopes (2000):
Através da confecção de jogos, a criança poderá ter suas experiências:
errar, acertar, construir, criar, copiar, desenvolver planos, e isto aumentará
a sua auto-estima, revelando que é capaz, que pode usar o pronto, mas
também que pode fazer muitas coisas para si própria. (LOPES, 2000:41)
Assim, é fundamental o papel do professor no processo de construção do
conhecimento durante a realização dos jogos, devendo ele agir como organizador,
mediador e incentivador da aprendizagem.
Lopes (2000), relata os resultados positivos que vivenciou em sua clínica
através da confecção e aplicação dos jogos no tratamento de crianças com TDAH:
Essas crianças foram encaminhadas pela instituição escolar com queixas
de hiperatividade e dificuldades em acompanhar o desenvolvimento geral
da classe. Em relação aos aspectos comportamentais, apresentavam um
nível
de
ansiedade
muito
alto
e
dificuldades
em
concentração,
coordenação viso-motora e aceitação de regras.
Após adotar um trabalho pedagógico com a criação e aplicação de jogos
com as crianças acima mencionadas, os resultados começaram a aparecer
a cada sessão. No final do trabalho, a autora pôde perceber que, a partir da
vivência com jogos, as crianças criaram novos hábitos e desenvolveram
potencialidades e habilidades. Os trabalhos realizados abriram caminhos
que estavam fechados, pois as crianças vivenciaram possibilidades até
então desconhecidas, passando, dessa forma, a trilhar caminhos pelos
quais atingiram a maioria dos objetivos terapêuticos propostos.(LOPES,
2000:43)
Quando se aplica os jogos como metodologia de ensino e quando eles são
trabalhados de acordo com a necessidade e o interesse dos alunos, é possível
alcançar resultados positivos na construção do saber das crianças com TDAH.
44
Conclusão
Este trabalho procurou mostrar que as dificuldades de aprendizagem podem
ser diversas, mas o poder que o estímulo correto, na hora certa pode fazer na vida
dessas crianças pode ser decisivo para suas vidas, principalmente quando tratamos
de crianças com TDAH, um transtorno de difícil tratamento e incurável.
É importante lembrar sempre que a atividade lúdica deve ser encarada com
muita seriedade, pois brincando a criança adquire experiências, opera sobre todo o
material cultural: conceitos, valores, idéias, objetos concretos, e desenvolve os
conceitos sobre o mundo.
Lembramos o que Fabris (2003) afirma:
Um fator importante é buscar um diagnóstico multidisciplinar, com
neuropediatra, psicólogo, psicopedagogo, família e escola. Uma avaliação
minuciosa de TDAH deve incluir informações sobre a história do
desenvolvimento
da
personalidade,
do
desempenho
escolar,
do
comportamento em casa e na escola e da condição clínica da criança. É
preciso reconhecer a importância da intervenção multidisciplinar no
tratamento das crianças portadoras de TDAH, havendo coerência entre as
diferentes propostas e possibilidades que se deseja alcançar. É
imprescindível, portanto, uma avaliação das intervenções necessárias em
todo o ambiente social, objetivando a melhoria das habilidades deficitárias
da criança com TDAH, incluindo a orientação familiar, psicopedagógica e
psicológica. (FABRIS, 2003:56)
Ele alerta sobre a necessidade do tratamento adequado, pois, dessa forma,
serão evitadas as possibilidades de depressão, ansiedade e conduta destrutiva,
muito comuns nas pessoas com TDAH. Assim, é necessário que esse tratamento
ocorra durante a infância, se possível, o que poderá evitar sequelas emocionais que
os pacientes não-tratados poderão apresentar futuramente.
A
criança
com
TDAH
necessita
de
amor,
paciência,
aceitação
e
compreensão. Devem ser respeitadas seus limites e suas individualidades. Se essa
45
criança receber oportunidades, demonstrará que é um ser criativo e inteligente e que
tem um grande potencial para o sucesso. É fundamental que a escola valorize suas
potencialidades para que se sinta mais feliz consigo mesma e com a vida. No
entanto, a falta de conhecimento sobre o assunto e o pouco ou nenhum auxílio e
orientação de outros profissionais envolvidos, leva pais e professores a um
despreparo, sobre os procedimentos necessários para atuarem em relação ao
problema, o que compromete de forma muito intensa o desenvolvimento psicossocial
da criança.
Assim, é de extrema importância conhecer o problema, pois isso possibilitará
aos pais e professores atuarem de forma mais adequada junto a essas crianças. É
necessário que o profissional da educação entenda que, muitas vezes, a criança não
tem consciência da inconveniência de seus atos nem sabe diferenciar a
desobediência da falta de controle de seus impulsos.
Sempre que for feito um diagnóstico de TDAH, o mesmo só terá validade se
for realizado visando à reorganização da vida social, escolar e doméstica da criança
ou do adolescente, pois não há justificativa para uma avaliação apenas para
justificar um processo que está descomprometido com o aluno e com a sua
aprendizagem. Em termos bem objetivos, a avaliação nada mais é do que localizar
necessidades e se comprometer com sua superação, parafraseando Vasconcelos
(2002). Portanto, assim que o problema for identificado, deve ser feito o
encaminhamento para um tratamento especializado.
A escola é um espaço social privilegiado de construção do conhecimento.
Não há como crescer na dimensão cognitiva se não houver crescimento na relação
com os outros e consigo mesmo.
Os valores precisam ser abordados desde a mais tenra infância, com crianças
ditas normais e as portadoras de TDAH, no sentido de construir na relação com o
outro um modo agradável de socializar experiências, valores e atitudes essenciais
para a vida com qualidade.
Do exposto, concluímos que cabe ao professor, no cotidiano escolar, criar
oportunidades de aprendizado com cooperação e interação através das atividades
lúdicas, transformando o jogo em um recurso pedagógico para experimentar, como
46
mediador, o verdadeiro significado de uma aprendizagem com desejo e prazer,
colaborando assim, com o bem estar e a auto-estima dos portadores de TDAH.
47
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