PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Fernando de Andrade Franco Malagrino Gestão das marcas dos clubes de futebol: como o marketing esportivo potencializa o consumo do torcedor MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO SÃO PAULO 2011 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Fernando de Andrade Franco Malagrino Gestão das marcas dos clubes de futebol: como o marketing esportivo potencializa o consumo do torcedor MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Administração sob a orientação do Prof. Dr. Onésimo Cardoso de Oliveira. SÃO PAULO 2011 BANCA EXAMINADORA __________________________________ __________________________________ __________________________________ AGRADECIMENTOS Os percalços encontrados ao longo deste período não foram poucos. De maio de 2009, quando ingressei no Programa de Mestrado, a maio de 2011, quando passei pelo processo de qualificação desta dissertação, muita coisa mudou: nasceu minha filha, a pequena Bruna, passei pela mesa de operação e perdi minha avó. Um trabalho como este não nasce da noite para o dia. É resultado de um processo que se iniciou anos atrás, difícil de situar no tempo e no espaço. Também não é fruto do trabalho de uma única pessoa. Exige tempo e dedicação, não apenas daquele que se propõe a pesquisar e escrever, mas daqueles que fazem parte de sua vida. Assim, a colaboração também não se limita às pessoas que influenciaram no tema escolhido. Ela, muitas vezes, acontece em demonstrações de paciência nos momentos de inquietude, com palavras amigas nos momentos de angústia ou simplesmente com a disponibilidade para escutar. Dessa maneira, muitas são as pessoas a quem desejo agradecer, indiferente do tamanho da contribuição dada, pois seria impossível medir a importância de cada ajuda. Ao meu orientador, vascaíno, Prof. Doutor Onésimo Cardoso de Oliveira, pelos ensinamentos passados, por mostrar os caminhos mais adequados nos momentos das bifurcações e pelas excelentes conversas a respeito de futebol. Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Administração da PUC-SP pelas aulas, pelos ensinamentos e pela competência acadêmica, e também a Rita de Cássia, secretária do programa, que sempre esteve pronta a ajudar nos momentos necessários. Ao amigo Eduardo Calbucci, são-paulino, que teve papel fundamental para que este trabalho acontecesse ao incentivar intensamente minha entrada no programa. Aos amigos Alberto Moyses e Alexandre Modonezi, que, cada um a sua maneira, ajudaram a tornar menos duro o caminho percorrido. À turma do twitter, fundamental para a execução da pesquisa de campo realizada. Aqui seria impossível agradecer a todos e por isso peço que todos se sintam homenageados por mim quando cito os "arrobas": @rcobrabr, @maestrobilly, @lbertozzi e @camilamoraes. À minha mãe e minha irmã, parceiras nos momentos conturbados e incentivadoras deste estudo. A pequena Bruna, que me deu animo ao longo desta jornada com seu sorriso e seu aprendizado constante. E, em especial, a Bia, esposa, amiga, parceira e eterna namorada. Compreensiva, paciente, ajudou a me manter focado com palavras de apoio e me dando tempo quando necessário. Tenho certeza de que haveria ainda muitos a agradecer. Mas sintam-se aqui citados e levem meus agradecimentos pela ajuda inestimável que tantos me deram. Se sua empresa não tem coração ou personalidade, se não compreende o conceito de marca ou se está desligada do mundo que a cerca, não há grandes perspectivas de que seu marketing vá lograr maiores repercussões junto a alguém. É como passar batom em um porco...(Scott Bedbury) À minha avó, dona Nega, que não pode estar presente para ver a concretização deste desafio. RESUMO O futebol brasileiro está entrando numa nova fase, em que não pode mais ser visto apenas como um esporte e sim como um grande negócio capaz de gerar receita na ordem dos bilhões de dólares anuais. Essas receitas, que podem ser oriundas das mais diferentes fontes – direito de imagem, bilheteria, venda de produtos, entre tantos outras – estão aumentando e o torcedor, como nunca antes, tendo acesso a uma variedade infinita de artigos de consumo, que vão do mais simples chaveiro a possibilidade de viajar com o time. Nesse processo de mudanças, o futebol deixou definitivamente de ser o esporte da realeza britânica para se estabelecer como o esporte mais popular do mundo. É neste cenário que o presente trabalho propõe-se, numa primeira etapa, a analisar, por meio de uma pesquisa qualitativa exploratória, os clubes de futebol e o trabalho que eles estão realizando para se fortalecer na indústria do entretenimento como uma marca de expressão e, numa segunda etapa, por meio de pesquisa survey com 1.296 pesquisados, analisar como as ações de marketing dos clubes estão potencializando o consumo do torcedor. Como resultado final, acredita-se que as análises feitas neste trabalho corroboram para mostrar que as mudanças na indústria do futebol são profundas e estão alterando seus alicerces financeiros. Os torcedores começam a ser vistos por seus clubes e pelas empresas patrocinadoras como potenciais consumidores ávidos por produtos que estampem a marca de seus clubes de coração. Palavras-chaves: Marketing, Marketing Esportivo, Clubes de Futebol, Marca, Futebol, Esportes. ABSTRACT Brazilian soccer is entering a new phase, a phase which it can no longer be seen only as a sport, but as a great business that generates revenue of around billions of dollars annually. These revenues derive from different sources: image rights, ticket sales, sale of products, among many others. And these revenues are increasing and fans, like never before, having access to an infinite variety of consumer items, ranging from simple key chains to the possibility of traveling with the team. In the process of change, soccer is no longer the sport of British royalty. It has become the most popular sport in the world. It is within this scenario that this study proposes, on a first level, to examine, through an exploratory qualitative research, soccer clubs and the work they are undertaking to strengthen themselves in the entertainment industry as a brand of expression and, on a second level, through survey with 1,296 respondents, to analyze how the marketing activities undertaken by these clubs are leveraging fans' consumerism. As a result, it is believed that the analysis made in this study supports the notion that changes in soccer industry are profound and altering the foundation of financial support. Fans begin to be seen by their clubs and corporate sponsors as potential consumers eager for products that carry the brand of their beloved teams. Keywords: Marketing, Sports Marketing, Soccer Clubs, Brand, Soccer, Sports. LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Audiência do futebol inglês 10/11 .............................................................. 36 Tabela 2 – Audiência do futebol espanhol 10/11 ......................................................... 37 Tabela 3 – Audiência do futebol brasileiro 2010 .......................................................... 38 Tabela 4 – Linha do tempo das Olimpíadas ................................................................. 48 Tabela 5 – Valor da marca ............................................................................................ 65 Tabela 6 – Percepção do consumidor através do esporte ............................................. 75 Tabela 7 – O torcedor como parte do espetáculo ......................................................... 76 Tabela 8 – Estratégia de crescimento do São Paulo FC ............................................... 92 Tabela 9 – Relação frequência ao estádio X Local preferido para assistir aos jogos . 100 Tabela 10 – Frequência ao estádio x Frequência de compra ...................................... 103 Tabela 11 – Ações de marketing X Retorno financeiro ............................................. 110 Tabela 12 – Avaliação sobre o departamento de marketing X Freqüência de compra .................................................................................................................................... 112 Tabela 13 – Ação de marketing X Avaliação das lojas .............................................. 114 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Modelo de administração do marketing esportivo ...................................... 33 Figura 2 – Os elementos essenciais e o subprodutos dos produtos esportivos ............. 40 Figura 3 – Canais de distribuição para um evento esportivo ........................................ 44 Figura 4 – Pirâmide da lealdade ................................................................................... 63 Figura 5 – Patrocínio e publicidade (em R$ milhões) .................................................. 69 Figura 6 – Receita de patrocínios da CBF (em R$ milhões) ........................................ 70 Figura 7 – Ranking 2010 dos clubes como marca (valores em R$ milhões) ................ 84 Figura 8 – Crescimento do valor da marca dos 12 maiores clubes (em R$ bilhões) .... 84 Figura 9 – Divisão das receitas dos clubes brasileiros (em R$ milhões)...................... 85 Figura 10 – Receitas dos clubes brasileiros .................................................................. 86 Figura 11 – Faturamento Corinthians/Nike (Em R$ milhões)...................................... 89 Figura 12 – Receitas de marketing Flamengo (em R$ milhões) .................................. 93 Figura 13 – Ranking de torcida ..................................................................................... 96 Figura 14 – Perfil socioeconômico ............................................................................... 98 Figura 15 – Grau de instrução ...................................................................................... 99 Figura 16 – Frequência ao estádio X Compra de produtos oficiais ............................ 101 Figura 17 – Frequência ao estádio X Escolha da loja ................................................. 102 Figura 18 – Valor médio de gasto por ano ................................................................. 104 Figura 19 – Ranking de produtos ................................................................................ 105 Figura 20 – Recusa de compra.................................................................................... 107 Figura 21 – O peso da marca do clube ....................................................................... 108 Figura 22 – Relação clube/consumidor ...................................................................... 115 Figura 23 – Competições oficiais ............................................................................... 116 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Teoria do marketing esportivo ................................................................... 30 LISTA DE ANEXO Anexo A – Pesquisa sobre hábitos de consumo do torcedor de futebol ..................... 137 Anexo B – Evolução das Olimpíadas ......................................................................... 147 Anexo C – Ranking por receita total (SOMOGGI, Finanças dos clubes de futebol do Brasil em 2010)........................................................................................................... 151 Anexo D – Ranking de torcida (4ª Pesquisa Ibope) .................................................... 152 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 15 Objetivo do Estudo.................................................................................................... 18 Objetivo Geral ........................................................................................................... 18 Objetivos Específicos ................................................................................................ 19 Justificativa ............................................................................................................... 19 Metodologia da pesquisa ........................................................................................... 21 Estrutura do Trabalho................................................................................................ 25 CAPÍTULO 1 - MARKETING E MARKETING ESPORTIVO...................... 27 1.1 Marketing ........................................................................................................ 27 1.2 Marketing Esportivo ....................................................................................... 29 1.3 Composto do Marketing Esportivo ................................................................. 32 1.3.1. Produto ........................................................................................................ 34 1.3.2. Preço ............................................................................................................ 40 1.3.3. Praça (Distribuição)..................................................................................... 43 1.3.4. Promoção ..................................................................................................... 45 1.4 A evolução do Marketing Esportivo ............................................................... 47 CAPÍTULO 2 - MARCA....................................................................................... 53 2.1 Definições ....................................................................................................... 53 2.2 Imagem corporativa ........................................................................................ 58 2.3 Construção de marca ....................................................................................... 61 2.4 Gestão das marcas no esporte ......................................................................... 67 CAPÍTULO 3 - UM ESPETÁCULO CHAMADO FUTEBOL ........................ 72 3.1 Conceito .......................................................................................................... 72 3.2 Espetáculo e a imagem ................................................................................... 74 3.3 Espetáculo da massa ....................................................................................... 77 CAPÍTULO 4 - VALOR DAS MARCAS DOS CLUBES BRASILEIROS E AS AÇÕES DE MARKETING ..................................................................................... 83 4.1 Os clubes mais valiosos do Brasil ................................................................... 83 4.2 As ações dos clubes ........................................................................................ 87 4.3 Pesquisa de campo .......................................................................................... 95 4.4 O consumidor do futebol ................................................................................ 97 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 120 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 125 ANEXOS ................................................................................................................. 137 15 INTRODUÇÃO O futebol é um patrimônio da cultura brasileira. O chavão que apregoa ser o Brasil o país do futebol, a despeito dos exageros contidos nesse como em qualquer clichê, tem certa validade. E, como não há futebol sem clubes, sem estádios, sem torcedores, sem a paixão que motiva os aficionados pelo esporte, os clubes de futebol também devem ser considerados patrimônios da cultura brasileira. Quando se diz isso e quando se lembra dos anos românticos desse esporte, há quem ainda pense que o futebol deve ser gerido pela abnegação de dirigentes. Nessa visão, tratar-seia mais de um jogo, de uma forma de entretenimento e diversão do que um negócio a ser conduzido por profissionais. O fato é que, no futebol profissional, sobretudo nos grandes clubes, o espírito amador do século passado já não existe ou, pelo menos, não deveria existir. As competições organizadas com mais profissionalismo, os direitos de televisionamento, as empresas que patrocinam o esporte e os clubes são um sinal de que o futebol tornou-se um espetáculo e, principalmente, um grande negócio. No entanto, não foi apenas o futebol que se tornou um grande negócio. A indústria esportiva, como um todo, movimenta mais de algumas centenas de bilhões de dólares anualmente; basta ver os exemplos da Copa Mundial de Rugby, que rendeu US$ 90 milhões em 2003, os X-Games, que dão lucros de 20% sobre suas receitas, ou os 50 atletas mais bem pagos, que, em 2004, juntos ganharam US$ 1,1 bilhão, 40% oriundos de patrocínios comerciais (REIN et al, 2008). Nessa indústria, o futebol, como o esporte mais popular do mundo, tem larga vantagem sobre as outras modalidades. A Copa do Mundo de 2010, realizada na África, apresentou faturamento de US$ 4 bilhões, 40% a mais do que em 2006, na Alemanha (ADNEWS, 2010). No Brasil, segundo pesquisa realizada pela FGV em maio de 2002, a indústria do esporte movimenta cerca de US$ 25 bilhões e o crescimento anual deste setor ultrapassa os 10% (BRASIL, 2005). 16 Para um clube sobreviver, destacando-se no mercado e atraindo consumidores, são necessários investimentos e administração eficiente. Caso contrário, adeus a títulos e, com isso, adeus a consumidores. E mais: clubes desorganizados, que não encontram meios de aumentar seu faturamento e que gastam mais do que têm, costumam passar temporadas nas divisões secundárias do futebol. Atualmente, têm sido discutidas diversas estratégias para aumentar as receitas dos clubes de futebol. Já que o dinheiro arrecadado com bilheteria e com a venda de produtos diretamente ao torcedor é quase irrisório, as equipes tornaram-se muito dependentes dos direitos televisivos e da venda de talentos e, principalmente, de futuros talentos para o exterior. Na última década, começo deste novo século, os clubes passaram a firmar contratos mais vantajosos com empresas fornecedoras de material esportivo e com grandes patrocinadores, conforme será apresentado ao longo do trabalho, mas ainda é pouco. Nesta pesquisa, procurou-se analisar como o futebol articula-se ao que hoje chamamos, genericamente, de marketing esportivo. Além disso, buscou-se mostrar como torcedores começam a virar consumidores e como clubes estão trabalhando para se tornarem marcas. Para analisar a questão da marca e do consumidor, foi necessário abordar antes o conceito de marketing esportivo. A esse respeito, surge uma questão a ser bem discutida por aqueles que optarem por atuar na área: como diferenciar ações de marketing esportivo das chamadas jogadas de marketing? Essa diferenciação faz-se necessária, pois, como já demonstrou Las Casas (2006), o conceito de jogada de marketing tem, na maioria dos casos, uma conotação negativa: o triste disso é que essa expressão tem sentido pejorativo, significando quase sempre algum procedimento ilegal de uma empresa ou pessoa. [...] [Trata-se de uma] distorção do verdadeiro sentindo do marketing, que prega exatamente o oposto, ou seja, uma comercialização que visa deixar clientes satisfeitos, por meio de uma transação comercial a mais transparente possível. (LAS CASAS, 2006, p. 1). Para poder entender o que é marketing esportivo, é imprescindível discutir o que é marketing. Comumente – e de forma equivocada – encontram-se definições que definem marketing como a arte de vender. Mas o marketing deve ser visto como algo muito maior que 17 isso. Literalmente, pode-se dizer que marketing significa comercialização. O Dicionário Houaiss, em sua versão eletrônica, traz como verbete para o termo marketing: estratégia empresarial de otimização de lucros através da adequação da produção e oferta de suas mercadorias ou serviços às necessidades e preferências dos consumidores, para isso recorrendo a pesquisas de mercado, design de produtos, campanhas publicitárias, atendimentos pós-venda etc. (HOUAISS, 2009). Neste ponto, pode-se citar a American Marketing Association – AMA, que diz ser: uma função organizacional e um conjunto de processos que envolvem a criação, a comunicação e a entrega de valor para os clientes, bem como a administração do relacionamento com eles, de modo que beneficie a organização e seu público interessado. (apud KOTLER; KELLER, 2006, p. 4). Conceitualmente, hoje, o marketing deve ser uma ferramenta para construção de relacionamentos de longo prazo, em que todas as partes sintam-se beneficiadas. Os profissionais de marketing devem criar ou despertar no consumidor a necessidade ou o desejo por algo. Partindo desta lógica, pode-se definir marketing esportivo como uma ferramenta de especialização das aplicações dos conceitos de marketing tradicional a produtos de esporte (clubes, federações, eventos esportivos) e aos produtos não esportivos, mas que têm ligação direta com o esporte (produtos de consumo em geral). Nesse âmbito, identificam-se dois conceitos importantes do marketing esportivo: marketing do esporte e marketing por meio do esporte. O marketing esportivo consiste em todas as atividades designadas a satisfazer as necessidades e desejos de seus consumidores pelo processo de troca. Ele desenvolveu dois eixos principais: o marketing de produtos e serviços esportivos diretamente para o consumidor e o marketing de outros produtos e serviços pela utilização das promoções esportivas (HARDY et al, 2004, p. 18). Definindo o esporte como um produto, introduz-se um elemento crucial para a consolidação do marketing esportivo como ferramenta de trabalho dos clubes de futebol: o torcedor, talvez a figura mais importante do esporte e, com certeza, a figura mais 18 menosprezada pelos clubes de futebol no Brasil. Mudar essa visão é fundamental, para que o torcedor passe a ser visto como um verdadeiro consumidor, de modo que não seja apenas a paixão o elemento que mantenha sua fidelidade por um clube . Nesse sentido, a “conscientização da marca vai muito além da sua simples memorização: a presença da marca na mente dos clientes deve ser forte e diferenciada, uma imagem superior às concorrentes, para, assim, ser uma fonte de patrimônio” (SERRALVO, 2008, p. 146). Neste novo mercado, o reforço da marca ganha ainda mais importância, pois torna-se fundamental para o processo de diferenciação dos consumidores. Objetivo do Estudo O título da presente pesquisa, Gestão de marca dos clubes de futebol: como o marketing esportivo potencializa o consumo do torcedor, já aponta para seu objetivo geral: mostrar que o futebol, no conceito de administração do esporte, saiu do campo do amadorismo e, a fim de chegar ao profissionalismo, deve abandonar categorias como torcedor e clube. No universo do marketing, devemos trabalhar com termos como consumidor e marca. Para analisar essas transformações e verificar se os caminhos pelos quais os clubes estão seguindo irão ajudar os clubes a aumentar suas receitas e desenvolver suas marcas, serão cumpridos alguns estágios intermediários. Objetivo Geral Marconi e Lakatos (2001) afirmam que toda pesquisa deve ter um objetivo determinado para saber o que se vai procurar e o que se pretende alcançar. Dessa maneira, torna-se fundamental especificar corretamente os resultados esperados para o sucesso do estudo. O primeiro objetivo deste trabalho será discutir o lugar do marketing no universo da administração, mostrando como surgiu o marketing esportivo e como ele pode ser definido atualmente. Em seguida, trataremos do marketing esportivo voltado para o futebol, analisando 19 casos de estratégias bem-sucedidas em grandes clubes profissionais que estão sendo ou foram usadas para transformar o nome do clube, seu símbolo e tudo que está ligado a ele em uma marca forte. Assim, gera-se um novo ativo para a entidade e, com isso, profissionalizam-se as relações entre os clubes e seus torcedores, que passam a ser respeitados não apenas como apaixonados, mas também como consumidores e clientes. Para finalizar, serão estudados os hábitos do consumidor de futebol para verificar se as estratégias apresentadas pelos clubes têm surtido efeito no aumento das receitas e no faturamento dos principais clubes brasileiros. Para isso, recorrer-se-á à pesquisa realizada no âmbito deste trabalho e a relatórios de consultoria especializada. Objetivos Específicos Este trabalho responderá as perguntas que permeiam o centro deste estudo. • É possível consolidar a marca de um clube como uma marca de expressão no mercado? • Como os clubes de futebol brasileiro estão trabalhando para ter ao seu lado consumidores fiéis? • Esta nova estrutura mercadologia, que passa pela mudança no tratamento ao torcedor e no entendimento do futebol como um espetáculo, pode ser o alicerce para mudar a estrutura dos clubes de futebol? Traçados os objetivos que se pretendem atingir por meio da análise do problema da pesquisa, apresentam-se elementos que justificam a importância deste trabalho, bem como das escolhas até então definidas na delimitação do contexto e das variáveis de estudo. Justificativa As dificuldades patentes que hoje permeiam os clubes de futebol motivam a procurar novas formas de receita. José Angel Sánchez, diretor de futebol do Real Madrid, explicou à revista The Economist como esse esporte deve ser visto: 20 Nós somos provedores de satisfação, como um estúdio de cinema. Ter um clube com Zidane é como ter um filme com Tom Cruise. A atração dos jogadores mais carismáticos do esporte é tal que sua simples presença irá, no mínimo, pagar seus custos (apud CARLIN, 2006, p. 19). O novo modelo de administrar o futebol obriga os clubes brasileiros a se profissionalizarem, o que passa necessariamente pelo processo de renovação dos departamentos de marketing dos clubes, que serão os grandes responsáveis por buscar as novas receitas. Ter em mente a importância de transformar o torcedor em consumidor e o tradicional clube de futebol numa marca potencial será imprescindível para a entrada de novas receitas. Se a marca vai constituir o ativo mais valioso da organização no século XXI, o desafio para os gerentes de comunicação de marca será criar valor de marca tanto para o cliente quanto para a organização, porém, especialmente para o cliente (SCHULT; BARNES, 2001, p. 59). No âmbito acadêmico, muitos falam do que vem a ser o marketing esportivo e da sua importância, mas poucos são os que explicam como desenvolver os conceitos de marketing, aplicando-os ao esporte. Assim, alguns dos desafios deste trabalho serão: mostrar qual a importância de tratar um clube como uma marca e como captar todos os benefícios desta mudança. O momento é oportuno para esta virada na maneira de ver o futebol. A indústria esportiva representa cerca de 2% do PIB nacional (AMCHAM, 2005). Entre 1996 e 2000, enquanto o PIB crescia na média de 2,25%, o setor demonstrava crescimento de 12,34%. (BRASIL, 2005). Apesar da crise financeira que assola o mundo, a candidatura do Rio de Janeiro às Olimpíadas 2016 e, principalmente, a realização da Copa do Mundo de 2014 no Brasil colocam este mercado como uma potencial estrela em ascensão para os próximos anos. As chamadas arenas esportivas multiuso, por exemplo, que chegam a representar até 35% do faturamento dos clubes na Europa, enquanto no Brasil um estádio não passa dos 10% das receitas, é uma demonstração do potencial que os clubes têm na mão quando há uma gerência profissional ou uma gestão de marketing focada. 21 Para isso, os clubes não podem mais contentar-se apenas em ter a maior torcida, mas sim em ter os maiores e melhores consumidores, ou seja, aqueles que geram receita. É o que relata Pat Williams, vice-presidente executivo júnior do Orlando Magic. Nossa meta era satisfazer as expectativas deles e o nosso desafio era superá-las. A cada noite de jogo, os torcedores passariam duas horas e meia em nosso estádio para assistir a 48 minutos de basquete. Para nós, isso não apenas apresentava um desafio, mas uma oportunidade incrível – 102 minutos de oportunidades, para sermos exatos. (apud HARDY et al, 2004, prólogo). Não importa mais ter 20 mil torcedores numa arquibancada; é necessário ter 20 mil consumidores no estádio. Neste ponto, é fundamental perceber que a partida de futebol, vista da ótica do espetáculo business, começa muito antes de o juiz apitar o início do jogo. Metodologia da pesquisa O planejamento da pesquisa é passo importante para o sucesso do projeto, pois é o elo de ligação entre os resultados obtidos e os objetivos propostos inicialmente. Assim, vale ressaltar que pouca importância vinha se dando ao tema proposto nesta pesquisa, principalmente no ambiente acadêmico brasileiro. Porém, com a confirmação do Brasil como país sede da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016, percebese uma mudança neste cenário, principalmente no interesse do público em geral. Conforme Pinsonneault e Kraemer (1993 apud FREITAS et al, 2000, p. 106) é recomendável utilizar a pesquisa “exploratória quando se quer descobrir novas proposições a respeito de um tema que não se tem muita informação”. Avaliando a aplicação do tema proposto e verificando que o conhecimento sobre ele ainda é escasso, verifica-se, nesta pesquisa, um caráter exploratório sobre os assuntos que permeiam a relação entre futebol e marketing, buscando compreendê-los de forma a propiciar o surgimento de novas ideias ou hipóteses, estabelecendo analogias e comparações com o referencial teórico aplicado a situações semelhantes. Assim, este trabalho foi desenvolvido em duas etapas distintas. Numa primeira etapa, optou-se por levantar, por meio de uma abordagem qualitativa, informações a respeito dos conceitos estudados nesta dissertação. Assim, a pesquisa realizada 22 voltou-se para a verificação teórica dos processos práticos que se unem para constituir o marketing esportivo como disciplina. Para isso, foi necessário, antes, analisar o conceito marketing e cruzar as informações levantas com as peculiaridades do marketing esportivo. O caminho escolhido para isso foi a pesquisa exploratória, dividindo esta primeira etapa do trabalho em duas partes: a primeira corresponde à revisão bibliográfica, que gerou os três primeiros capítulos da dissertação. A segunda parte refere-se à coleta, análise e interpretação dos dados capazes de revelar indícios sobre a aplicabilidade dos conceitos levantados nos capítulos iniciais, o que resultou na elaboração de parte do capítulo quatro. Desta maneira, primeiramente, por meio de pesquisa bibliográfica e documental, estudou-se uma série de autores no quesito marcas e buscou-se alinhar o saber das referências de marketing às necessidades dos clubes brasileiros. A pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir de registros disponíveis, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. [...] No caso da pesquisa documental, tem se como FONTE documentos no sentido amplo, ou seja, não só documentos impressos, mas sobretudo de outros tipos de documentos, tais como jornais, fotos, filmes, gravações, documentos legais. (SEVERINO, 2007, p. 121). Essa parte corresponde à necessidade de tomar contato com a fronteira do conhecimento relativa ao tema em si e de aferir a capacidade em realmente contribuir para sua ampliação, por meio de teste ou criação de teoria. Em segundo lugar, por verificação empírica e bibliográfica, estudamos o trabalho que vem sendo desenvolvido na área de marketing por uma série de clubes brasileiros. A fim de limitar a objeto de estudo, optou-se por analisar ao menos uma ação de marketing de cada um dos seguinte clubes: Corinthians, Botafogo, Internacional, São Paulo e Flamengo. Foram analisados também diversos relatórios da consultoria BDO RCS Auditores Independentes a respeito das finanças, dos patrocínios da indústria do futebol e do valor da marca dos clubes brasileiros para verificar se o futebol brasileiro está atendendo às necessidades do consumidor brasileiro. 23 Por fim, na segunda etapa do trabalho, realizou-se pesquisa survey pela aplicação de questionário (Anexo A), de questões fechadas, de modo a conhecer o consumidor brasileiro de futebol e entender como ele está reagindo às ações de marketing dos clubes nacionais. A survey é apropriada como método de pesquisa quando: se deseja responder questões do tipo o que? por que? como? e quando?, ou seja, quando o foco de interesse é sobre o que está acontecendo ou como e por que isso está acontecendo; não se tem interesse ou não é possível controlar as variáveis dependentes e independentes; o ambiente natural é a melhor situação para estudar o fenômeno de interesse; o objeto de interesse ocorre no presente ou no passado recente (FREITAS, et al, 2000, p. 105). Quanto à amostra, a opção tomada foi buscar amostras não probabilísticas tendo como foco o torcedores de futebol, preferencialmente torcedores dos 12 clubes com as marcas mais valiosas do Brasil. Essa opção também foi tomada devido a restrições existentes no orçamento. O universo amostral foi delimitado por meio de dois tipos distintos de amostra não probabilística: por conveniência (convenience) – os participantes são escolhidos por estar disponíveis – e bola de neve (snowball) – os participantes iniciais indicam novos participantes (FREITAS, et al, 2000, p. 106). Tomaram-se alguns cuidados para a elaboração do questionário de forma a garantir mais confiabilidade nos dados pesquisados, como: as alternativas para as questões fechadas foram pensadas de forma a cobrir todas as possíveis respostas; as questões procuraram ser escritas de forma clara e precisa, possibilitando uma única interpretação e contendo uma única ideia; o número de perguntas foi limitado; a ordem das perguntas foi pensada de forma estruturada procurando não induzir respostas e, por fim, o questionário foi introduzido por um cabeçalho explicando o objetivo da pesquisa e oferecendo instruções de como preencher (GIL, 1991; PERRIEN, CHÉRON e ZINS, 1984, apud FREITAS et al, 2000, p. 107). De forma a validar a pesquisa, seguiu-se a recomendação de Severino (2007, p. 126): “De modo geral, o questionário deve ser previamente testado (pré-teste), mediante sua aplicação a um grupo pequeno, antes de sua aplicação ao conjunto dos sujeitos a que se destina, o que permite ao pesquisador avaliar e, se for o caso, revisá-lo e ajustá-lo.” A aplicação do pré-teste foi fundamental para ajustar algumas das opções de resposta em diversas perguntas e, principalmente para incluir algumas questões iniciais da pesquisa 24 proposta (Anexo A). Percebeu-se a necessidade de inserção de questões que segmentassem os pesquisados conforme classe social e nível de escolaridade, mas optou-se pela exclusão de estado e cidade em que o torcedor mora, pois ficou evidenciada a influência da base do pesquisador, estado de São Paulo, no resultado levantado. Faz-se importante ressaltar alguns aspectos das informações levantadas com consumidores por meio da aplicação de pesquisa survey. Elas foram colhidas através de pesquisas realizadas pela internet, sobre formulário criado no Google docs1 e transmitido via twitter e facebook do autor. O link para o formulário também foi repassado por e-mail para lista de contatos do autor de forma a ampliar o número de respostas. A vantagem dessa abordagem foi a velocidade com que se conseguiu obter respostas, sendo possível realizar um pré-teste do questionário com 300 internautas e, após ajustes, aplicá-lo a 1.296 pessoas. A desvantagem dessa técnica é que as respostas foram dadas longe do momento em que o consumidor pode viver a experiência de torcer: o estádio. Além disso, elas não refletem, necessariamente, uma base científica de consumidores espalhados pelo Brasil. Nesse item cabe uma ressalva ainda maior, pois pelo número de torcedores de determinados clubes que responderam à pesquisa fica claro que a rede de relacionamento do autor influenciou no número de respostas consolidadas. Cabe salientar que, apesar da demonstração da interferência da rede de contatos do pesquisador no grupo formado, os resultados apresentados não podem ser descartados; pelo contrário, eles justificam a importância deste estudo e ajudam a responder as questões centrais deste trabalho. Assim, esta pesquisa propõe-se a contribuir para uma análise mais madura da indústria do esporte e, principalmente do futebol, no Brasil e servir com base para outras pesquisas que busquem aprimorar a gestão das marcas nos clubes de futebol. 1 Sistema do grupo Google para documentos livres na internet. 25 Estrutura do Trabalho Este trabalho foi construído em quatro capítulos, além da introdução e das considerações finais. O primeiro capítulo faz uma contextualização dos conceitos que permeiam o marketing e, especialmente, o marketing esportivo. A opção de usar apenas um capítulo para definir dois elementos deste trabalho decorre da intenção de situar o marketing esportivo como uma atividade dentro do marketing, assim como são os conceitos do marketing de varejo, cultural e tantos outros. Assim, ao contextualizar, por exemplo, os quatros Ps do marketing, optou-se por já fazê-lo inserindo-o dentro do marketing esportivo. Essa ótica ajudará o leitor desta dissertação a entender melhor a indústria do esporte e do futebol. No segundo capítulo, intitulado Marcas, apresentamos os conceitos de marca e de construção de marcas líderes, bem como os fatores fundamentais para a construção destas. Como a proposta do trabalho é relacionar o clube de futebol à construção de uma marca forte, neste capítulo apresenta-se o conceito de imagem corporativa da empresa, de forma a situar o leitor neste universo, e finaliza-se com uma análise da gestão de marcas no esporte e da forma como algumas empresas estão lucrando com o consumidor esportivo ao mesmo tempo que os clubes e a Seleção brasileira vêm ganhando espaço no mercado. Assim, os dois primeiros capítulos contribuem como uma revisão bibliográfica do tema, fazendo um apanhando dos principais pontos relacionados a marketing, marketing esportivo e marcas pela contribuição de diversos autores. No terceiro capítulo, introduz-se o conceito de futebol como entretenimento, ou seja, como espetáculo e não apenas como esporte. Nesse momento, debate-se a respeito de como a construção do espetáculo influencia na imagem que os clubes buscam construir de si mesmo e como isso determina a percepção do consumidor. Por fim, analisa-se o papel da mídia na espetacularização do futebol e nas questões mercadológicas das marcas, e do público neste processo de transformação do futebol em espetáculo. No capítulo quatro, apresentam-se os estudos de múltiplos casos mostrando o que alguns clubes brasileiros estão fazendo para fortalecer sua marca em meio a tantas outras, 26 analisando, inclusive, os impactos que essas ações geraram nos resultados financeiros e na valorização da marca, com base em estudos de consultoria independente. Apresentamos também o resultado da pesquisa de campo realizada com 1.296 pessoas a respeito dos hábitos de consumo dos torcedores brasileiros. 27 CAPÍTULO 1 - MARKETING E MARKETING ESPORTIVO Existem diversas maneiras de entender o marketing, em sua amplitude e abrangência, definidas por variados autores, pensadores, mestres e doutores que o citam em obras desde clássicas a contemporâneas. Neste trabalho, os fundamentos, as definições e os conceitos da palavra marketing são entendidos de três modos: como um processo, como tendo um propósito e como responsável por um papel. Optou-se por incluir num único capítulo a contextualização de marketing e marketing esportivo para facilitar a compreensão dos leitores e, também, para evitar repetições de temas como produto, preço, praça e promoção. Dessa forma, a apresentação dos elementos principais do composto de marketing já será feita dentro daquilo que denominamos marketing esportivo. 1.1 Marketing Definir marketing como processo é compreendê-lo como algo dinâmico, visto como uma série de ações voltadas a criar e resolver relações de troca que ocorrem entre pessoas e grupos sociais. É entendido como a inter-relação de partes que demandam e oferecem produtos e serviços, maneira pela qual suprem suas necessidades tanto de alcançar objetivos econômicos, sociais e estratégicos como de consumo. Analisam-se, assim, duas visões: de um lado, empresa; de outro, consumidor, respectivamente. O marketing, ao longo de sua história, conquista novas dimensões e sua abrangência desenvolve-se e direciona-se para outros objetivos, não apenas como uma troca de processo exclusivamente comercial, mas sim como um processo de troca de valores. (SHETH; GARDNER, 1984, apud CORÁ; LUCAS, 2004). O marketing então deixa de ser “orientado somente para o consumidor, mas para o bem-estar e desenvolvimento de toda a sociedade” (WEBSTER, 1974, apud CORÁ; LUCAS, 2004, p. 5). Segundo Kotler e Keller (2006, p. 4) o “marketing envolve a identificação e a satisfação das necessidades humanas e sociais” dessa maneira, entender e desenvolver uma 28 área estratégica para analisar o comportamento do público-alvo/consumidor e perceber o que o influencia – fatores que o envolvem cultural, social, psicologicamente – perante o processo de suprir expectativas faz-se necessário para alcançar esse propósito com eficiência e efetividade. O propósito de satisfação das expectativas que os consumidores depositam nas organizações é visto como uma grande responsabilidade. A tarefa que elas têm em relação ao mercado é: determinar necessidades, desejos e interesses de participação de mercado e proporcionar a satisfação desejada mais efetiva e eficientemente do que a concorrência de forma a preservar ou aumentar o bem-estar do consumidor e da sociedade. (KOTLER, 1998, p. 44). Ser responsável pela avaliação dos anseios por suprir expectativas e pela agregação à sociedade de valores e bem-estar é hoje visto como meta crucial para a permanência das organizações no cenário que reflete mais competitividade e dinamismo. Quando uma organização atinge esses objetivos, o cliente/consumidor passa a associá-la à percepção de confiabilidade, credibilidade, de benefícios atendidos e, enfim, aflora o sentimento de satisfação. Pode-se, então, enfatizar que o marketing tem o papel de: identificar necessidades não satisfeitas, de forma a colocar no mercado produtos ou serviços que, ao mesmo tempo, proporcionem satisfação dos consumidores, gerem resultados auspiciosos aos acionistas e ajudem a melhorar a qualidade de vida das pessoas e da comunidade em geral (KOTLER, 1988, p. 45). Torna-se, nesse sentido, possível ratificar que o marketing refere-se a uma relação de troca entre partes, pois, além de avaliar as necessidades dos clientes, é preciso desenvolver a sensitividade de ofertar no mercado produtos e serviços que ainda não são vistos como necessários. “O consumidor compra não o que o serviço ou o produto é, mas a satisfação da necessidade que o produto ou serviço pode produzir” (COBRA, 1990, p. 345). O papel do marketing em encontrar e suprir de maneira efetiva as necessidades do consumidor que ainda não foram satisfeitas, bem como, simultaneamente, gerar resultados 29 financeiramente positivos e elevar a qualidade de vida nas comunidades relacionadas é uma responsabilidade de suma importância para que o consumidor enxergue o que o pós-venda e compra proporciona para si. O marketing, que conquista lugares e patamares em ambiente dinâmico e complexo, tem como principal função promover trocas de maneira eficaz, maximizando os benefícios para todas as partes envolvidas. O desenvolvimento do conceito de marketing acabou por englobar seus aspectos sociais, ou seja, as ações de marketing passam a ser realizadas e avaliadas não só em vista dos resultados financeiros obtidos e interesses particulares, mas também observando a responsabilidade social. Entendido como processo, propósito e papel, o marketing visa apenas a um objetivo: centrar-se no compromisso com o cliente, consumidor e público-alvo no sentido de oferecer benefícios e atributos que superem expectativas. A responsabilidade que a organização tem em traçar e mensurar necessidades, desejos e interesses do público-alvo/consumidor e em conquistar a satisfação efetiva e eficiente buscando o bem-estar não somente do consumidor, mas como da sociedade, faz com que o marketing transforme-se de um simples conceito a um elemento de suma importância no processo estratégico das organizações. Dessa forma, outros conceitos relacionados diretamente com o termo marketing vinculam-se aos tópicos citados, sendo necessário seu estudo explanatório para que se possa compreender o que a marca e imagem corporativa/institucional podem agregar para a manutenção da credibilidade, fidelidade e transparência, troca de valores e estratégia de marketing, ou seja, o fortalecimento da marca e imagem percebida pelo público-alvo, consumidor e cliente. 1.2 Marketing Esportivo O termo marketing esportivo surgiu em 1978, no Advertising Age, como uma expressão para justificar e explicar as ações de empresas para promover seus produtos por meio do esporte. Segundo Pitts e Stotlar (2002), para avaliar a evolução da teoria do marketing esportivo, faz-se necessário conhecer a base na qual a matéria se constrói: estudos esportivos; 30 de administração de empresas, de ciências sociais e de comunicação. É a partir destas áreas de estudo que o marketing esportivo desenvolve seu conhecimento (Quadro 1). Quadro 1 – Teoria do marketing esportivo Estudos do Esporte Administração de Empresas Comunicação Ciências Sociais Filosofia do Esporte Marketing Jornalismo Relações Humanas Psicologia do Esporte Administração Financeira Relações Públicas Estudos Multiculturais Sociologia do Esporte Economia Estudos de Mídia Estudos Populacionais Administração de Educação Física Direito Empresarial Propaganda Estudos de Mercado de Trabalho Administração de Instalações Esportivas Administração de Pessoal Radiodifusão - Administração do Lazer Administração - - Administração Esportiva - - - Fonte: PITTS; STOTLAR (2002). Lima Gonçalves (1994) mostra que o marketing esportivo era, naquela época, uma nova disciplina da área de administração, que gerava interesse em empresas de equipamentos esportivos e de consumo em geral, ter a imagem associada a atributos como saúde, juventude, vitórias, conquistas, entre outros, características dos ídolos esportivos. Dessa maneira, a diferença entre o marketing esportivo e esforço convencional do marketing estaria no fato de aquele possibilitar que as empresas obtivessem retorno institucional ao mesmo tempo que bons resultados na promoção de seus produtos. Ou seja, é possível a fixação da marca por meio da associação a características e benefícios, mesmo que subjetivos, que reforçam a promessa de marca da empresa. Mas se, conforme Campomar (1992), analisar-se conceitualmente o termo, pode-se considerar o marketing esportivo uma atividade com características próprias, que se desenvolveu em duas esferas: o “marketing do esporte (marketing de produtos e serviços esportivos) e o marketing através do esporte (atividades ou produtos que fazem uso do esporte como veículo promocional)” (CONTURSI, 1996, p. 40). 31 No entanto, apesar das características próprias, o marketing esportivo pouco difere do marketing a não ser nas peculiaridades do segmento esportivo, que envolvem aspectos como produto, demanda, desejo, necessidade, valor, satisfação, qualidade e mercado. Bertoldo (2000) vai um pouco além, ao apresentar o marketing esportivo como uma extensão das estratégias de praça e promoção de empresas de bens e/ou serviços esportivos. Dessa forma, ao ampliar-se a análise para qualquer empresa de produtos e/ou serviço, é possível avaliar o marketing esportivo como sendo, também, ação promocional para divulgação da marca. Assim, o estudo do marketing esportivo inclui tanto as estratégias de gestão, comercialização e divulgação de academias, clubes, ligas esportivas, entre outro, de um lado, como atividades de merchandising, patrocínio e licenciamento que associam equipes ou atletas a outras marcas. Empresas e marcas líderes podem optar por investir nessa área para explorar a boa imagem de atletas ou equipes esportivas junto à opinião pública, gerando resultados extremamente positivos para sua imagem. Nesse momento, o marketing esportivo torna-se uma importante ferramenta para diferenciar marcas e produtos de concorrentes diretos e indiretos, sobressaindo-se à publicidade tradicional, por atingir o espectador (consumidor) em seu momento de lazer, quando está aberto à mensagem da empresa e a seus produtos. Além das vendas, a estratégia de associar a empresa ao esporte pode gerar o rejuvenescimento da marca, devido à forte influência que o esporte exerce sobre os jovens. O fato de inserir uma marca na camisa de uma equipe cria uma relação de cumplicidade da empresa com a performance esportiva, recebendo parcela da credibilidade obtida pelos atletas ou pelos clubes. Com o bom desempenho dos patrocinados (clubes ou atletas), consumidores que até então se mostravam indiferentes à marca podem passar a nutrir uma imagem positiva da empresa. Da mesma forma, quando um jogador apresenta um comportamento inadequado, o patrocinador poderá ter sua imagem afetada, mesmo que indiretamente. Além disso, o mercado, hoje, está aberto a inúmeras possibilidades de negócios e o futebol, como esporte mais popular no país, torna-se o alvo preferido de empresas que querem participar de investimentos ou licenciamentos da marca dos clubes para utilizá-la em suas ações de marketing. 32 Assim, é possível definir o marketing esportivo como um processo de elaboração e programação das atividades de produção, formação de preço, promoção e distribuição de um produto esportivo para satisfazer a necessidades ou desejos dos consumidores e atingir os objetivos das empresas. É a função que auxilia o negócio esporte a aproximar os produtos esportivos e os consumidores por meio de estratégias promocionais, de preço e de praça. Nesse ambiente definido anteriormente, é necessário criar e desenvolver o composto de marketing, ou marketing mix, que seja capaz de ajudar, e até mesmo influenciar, as tomadas de decisão dos consumidores no momento de adquirir os produtos, tangíveis ou intangíveis. Para isso, recorre-se a Morgan e Summers (2008), que conceituam o marketing mix do esporte pelos tradicionais quatro Ps, porém devido à natureza peculiar do produto esporte, que, em muitas ocasiões, adquire características de serviço, abordaremos também os componentes do mix de serviços adicionais. 1.3 Composto do Marketing Esportivo Para avaliar os componentes do marketing esportivo, deve-se antes buscar compreender alguns passos necessários para se chegar a essa definição. Tão importante quanto definir o composto de marketing esportivo é entender que, para isso, é necessário conhecer o consumidor esportivo e a indústria do esporte, bem como definir a base de segmentação desses dois ramos de negócios. Isso fica mais evidente quando analisamos a Figura 1, que enfatiza a interdependência dos estágios e a bifurcação existente no modelo. Assim, para trabalhar a marca de um clube é necessário conhecer o consumidor esportivo e identificar consumidores potenciais para produtos atuais ou futuros. Esse é o primeiro passo para iniciar estratégias de segmentação, tanto do consumidor esportivo quanto da indústria do esporte. Com base nessas análises, é possível delimitar o mercado-alvo a ser atingido, que irá constituir a base das estratégias do marketing esportivo, cujos componentes podem ser definidos como “a aplicação dos quatro Ps (preço, produto, promoção e ponto de venda – distribuição) de forma específica em um contexto esportivo” (MORGAN; SUMMERS 2008, p. 7). 33 Figura 1 – Modelo de administração do marketing esportivo Missão da empresa esportiva e análise da situação Pesquisa de marketing. esportivo e Sistema de administração de informação Análise do consumidor esportivo Análise da indústria do esporte Segmentação do consumidor Segmentação da indústria do esporte Decisões de mercado-alvo Decisões / Estratégias de composição de marketing esportivo Produto Preço Praça Estratégias de administração de marketing Ajustes da estratégia de marketing Fonte: PITTS; STOTLAR (2002). Promoção 34 1.3.1. Produto KOTLER (2003, p. 344) define produto como “qualquer coisa que possa ser oferecido ao mercado para ser apreciada, adquirida, utilizada ou consumida, de modo a satisfazer uma necessidade ou desejo”. Assim, produto esportivo é todo e qualquer bem, serviço, pessoa, lugar ou ideia, com atributos tangíveis e intangíveis, que possam satisfazer às necessidades ou desejos do mercado-alvo definido em termos de uso, consumo ou aquisição. Sua natureza pode ser diversa e incluir desde diversão vivenciada, como o ato de estar num estádio pessoalmente, a compras de produtos/equipamentos esportivos ou mesmo produtos de merchandising. Morgan e Summers (2008, p. 258) ressaltam ainda “a oportunidade de encontrar jogadores em um jantar com o clube ou, talvez, o treinamento sobre como praticar um esporte” como possibilidades de produto. Dessa forma, pode-se entender o produto esportivo como sendo “a complexidade de todos os itens utilizados no processo de troca mercadológica, sejam eles bens tangíveis ou serviços intangíveis ou ideias” (MORGAN; SUMMERS, 2008, p. 179). Qualidade também é um atributo muitas vezes associados ao produto esporte. McCarthy e Perreault (apud FERNÁNDEZ, 2008, p. 35) definem qualidade como a habilidade que um produto tem de satisfazer as necessidades do consumidor. Mas é interessante ressaltar que, na indústria do esporte, muitas vezes a garantia de qualidade do produto esporte não depende da organização. Desempenho em campo, clima (chuva ou sol), contusões, entre outros, são exemplos de fatores que podem alterar a qualidade do produto. A natureza peculiar do produto esporte, principalmente do futebol, demonstra que os clubes em si não podem ser administrados apenas como uma entidade que entra em campo para jogar futebol, mas, sim, devem ser pensados como algo além das quatro linhas que delimitam o campo de futebol e do entorno do estádio. Nesse sentido, deve-se analisar também como entreter os consumidores e fãs à espera do início da partida. A natureza dos componentes do composto de serviço mostra-se clara nesse momento. A prestação de serviço pode e deve ser encarada como um diferencial do produto esporte e os administradores dos clubes devem procurar promover uma experiência única aos consumidores que passam, no caso do futebol, no mínimo duas horas dentro do estádio. 35 Branch exemplifica a ideia proposta: Profissionais do marketing do esporte mais avançados reconhecem que o produto principal, a competição esportiva em si, não é o único produto ao qual se deve dar importância; utilizando-se de estratégias de diversificação, o evento ganha um valor adicional elevado tomando a aquisição deste produto mais consistente. Em outras palavras, o desafio dos administradores está em se concentrar menos no jogo e mais em criar uma positiva experiência ao consumidor (apud FERNÁNDEZ, 2008, p. 36). Achar exemplos para a afirmação acima no universo esportivo não é difícil. Basta buscar conhecer um pouco as ligas de esporte norte-americanas, como NFL2, NBA3, MLB4 entre outras, e verificar a utilização desta estratégia de diversificação pela média de público presente aos estádios. Dentro do universo futebol, analisando as partidas de futebol na Europa, pode-se perceber que mesmo clube de menor expressão atrai um público considerável nos estádios (Tabela 1 e Tabela 2). Fica evidente, ao cruzarmos as informações da Tabela 1 com Tabela 2 – que mostram a audiência dos Campeonatos Inglês e Espanhol – com a Tabela 3 – Campeonato Brasileiro, que mesmo os nossos líderes do ranking (Corinthians, Ceará e Grêmio) ficariam em posições intermediárias nos campeonatos europeus, principalmente no Campeonato Inglês. O exemplo fica ainda mais interessante quando pensamos na posição que o Ceará, clube de nível intermediário no cenário brasileiro, que ficou em segundo lugar no entre as torcidas mas foi apenas o 12º colocado no Campeonato Nacional 2010, com 10 vitórias e 17 derrotas em 38 partidas; ou seja, o desempenho do clube – até certo ponto – demonstra ter sido irrelevante para esses torcedores/consumidores. 2 National Football League – Liga Nacional de Futebol Americano. National Basketball Association – Liga Norte-Americana de Basquete Profissional. 4 Major League Baseball – Liga Norte-Americana de Beisebol Profissional. 3 36 Tabela 1 – Audiência do futebol inglês 10/11 Fonte: < http://www.worldfootball.net/zuschauer/eng-premier-league-2010-2011/1/ >. Acesso em: 5 jun. 2011. 37 Tabela 2 – Audiência do futebol espanhol 10/11 Fonte: < http://www.worldfootball.net/zuschauer/esp-primera-division-2010-2011/1/ >. Acesso em: 5 jun. 2011. 38 Tabela 3 – Audiência do futebol brasileiro 2010 FONTE: <http://www.worldfootball.net/zuschauer/bra-serie-a-2010/1>. Acesso em: 5 jun. 2011. Fernández (2008, p. 36) demonstra o impacto destas estratégias no clube Charlotte Hornets, equipe de basquete da NBA 5 , ao analisar a temporada de 2003 do Campeonato Americano de Basquete, em que a equipe, mesmo com 62 derrotas em 82 partidas, levou 950 mil torcedores/consumidores para assistir aos jogos da temporada regular, em sua 43ª 5 National Basketball Association – Liga Norte-Americana de Basquete Profissional. 39 temporada consecutiva, com todos os assentos vendidos. As receitas não são apenas advindas de bilheteria; seus consumidores adquirem produtos, camisetas, canecas, chaveiras, entre outros produtos licenciados. A natureza peculiar do esporte como um serviço fica evidente nessas análises ao identificar características como intangibilidade, heterogeneidade, inseparabilidade e perecibilidade. O esporte, nessa visão, é consumido ao mesmo tempo que é produzido, remetendo a mais uma peculiaridade do mix de serviços: é prestado no mesmo local em que é produzido obrigando o torcedor a estar in loco para usufruir dele. No entanto, o esporte apresenta outro diferencial, pois o torcedor, além de consumidor do serviço, em muitos momentos, torna-se parte do próprio produto. É ele que, uniformizado e caracterizado como fã, com suas bandeiras e buzinas, lota as arquibancadas do estádio, produzindo uma imagem capaz de valorizar ainda mais o produto final: a partida. Essa partida, produto principal a ser vendido, é efêmera e está sujeita a uma série de percalço antes e durante a realização ou materialização do serviço prestado. A perecibilidade desse produto, que impossibilita a estocagem, devolução, ou revenda, caracteriza ainda mais o esporte como um serviço, pois, a partir do momento em que a partida está marcada, o torcedor não poderá escolher outro momento para ir. Ele poderá, sem dúvida, escolher outro jogo, mas aquele que passou não pode ser revivido. Na percepção de cada fã, cada segundo é único nesta prestação de serviço. Assim, pode-se identificar o produto esportivo como uma combinação complexa do tangível com o intangível. Isso porque o produto esporte apresenta diversas peculiaridades, como ser diferente cada vez que é consumido. O jogo, a partida em si, está inserida no contexto do entretenimento, do espetáculo. Dessa forma, como já mencionado anteriormente, o responsável pela execução do plano de marketing traçado tem pouco controle sobre diversos produtos que podem ser vendido, principalmente sobre a partida. Isso obriga o profissional em questão a se preocupar com o que Hardy et al (2004) chamaram de subprodutos do esporte (2), ou seja, elementos que são criados ou através da realização da partida ou para a realização dela. 40 Figura 2 – Os elementos essenciais e o subprodutos dos produtos esportivos Fonte: Hardy et al (2004, p. 95). 1.3.2. Preço Kotler (1998) mostra que preço significa a soma de dinheiro que os clientes devem pagar para obter o produto. Dentro do composto de marketing esportivo, o preço pode tornarse um dos itens mais complexos a ser trabalhado. As definições das estratégias de precificação devem basear-se no conhecimento a respeito do consumidor, dos custos de produção e de promoção, da oferta e demanda do mercado e até mesmo do preço da concorrência, ou seja, é necessário considerar o valor que o produto terá ao comprador e o quanto ele está disposto a pagar por aquilo: 41 compra de um ingresso para um evento esportivo baseia-se não só no valor em dinheiro desse ingresso, mas também no valor percebido da experiência e das expectativas de desempenho dos jogadores que a pessoa irá encontrar. (MORGAN; SUMMERS, 2008, p. 259). Fica evidente que os envolvidos nas estratégias de precificação do produto esporte devem considerar uma série de influências que podem impactar na formação do preço, entre elas o uso eficiente dos recursos e a atitude positiva do consumidor, entre outros. Pitts e Stlotar (2002) sugerem a utilização de outras palavras, que não preço, que sejam mais agradáveis aos torcedores/consumidores. Isso pode ser útil quando necessário exemplificar, na Teoria do Marketing Esportivo, os diversos itens que compõem o preço, como: ingressos, salários, direitos de transmissão, licenciamento, aluguel, ou seja, valores que os clubes receberão pela locação do espaço físico do estádio, pelos ingressos para entrar na partida e pela transmissão desta nos veículos de comunicação televisivo, além dos valores que os clubes pagam para atletas e funcionários, que fazem o produto esporte acontecer. Pozzi (1998) lembra que o esporte concorre com outras formas de entretenimento e que isso deve ser lembrado pelo profissional de marketing na hora de estabelecer a precificação do produto. É importante ter em mente que, na disputa pelo consumidor, não são os rivais no campeonato que serão os concorrentes pelos fãs, mas sim outras formas de entretenimento e espetáculos, como cinema, teatro e parques e até mesmo eventos familiares, como um almoço, o balé da filha ou a partida do time em que o filho do torcedor joga. Vale ressaltar que o preço não necessariamente envolve dinheiro, mas também pode estar relacionado a um processo de troca com coisas que os consumidores valorizem, como tempo, esforço, entre outros. Esse modelo pode ser percebido em jogos como Olimpíadas e Copa do Mundo, em que a organização abre inscrições para pessoas dispostas a fazer trabalhos voluntários – recepção, informações turística, hospitality6 – que, em troca, receberão entradas para algumas competições ou, em muitos casos, receberão apenas a sensação de ter contribuído para um evento grandioso. 6 Termo utilizado em grandes eventos para ações de hospitalidade que envolvem, principalmente, os patrocinadores e personalidades. 42 o valor ou benefício percebido do produto esportivo é normalmente uma combinação de elementos tangíveis e intangíveis que são interpretados de forma diferente pelo diferentes tipos de consumidores do esporte. (MORGAN; SUMMERS, 2008, p. 258). Na busca constante de clubes e agremiações por gerar receita, principalmente de longo prazo, a fidelidade do consumidor pode ser um grande diferencial. Não apenas pela simples menção de torcida, pois aqui estamos tratando do consumidor e não apenas do torcedor, mas porque, quanto maior o nível de fidelidade do consumidor a seu clube, maior a chance de retorno daquele ao estádio e a busca frequente por novos produtos. Se o torcedor é fiel a seu clube e, talvez essa seja a mais paradigmática relação de fidelidade, os clubes devem buscar transferi-la para o processo de consumo. Assim, os clubes podem fazer uma migração do processo de troca que não envolve dinheiro, o ato de torcer, para um processo que traga receitas para eles – licenciamento de produtos, ingressos etc. – e para isso o fortalecimento da marca do clube, garantindo qualidade ao produto ou aprimorando a sensação de prazer do consumidor, faz-se essencial para esse processo de troca. O torcedor começa um processo de identificação com seu clube e cria uma troca de valor com ele: atitude de fidelidade ao clube. Pode-se concluir que, ao pensar em preço dentro do produto esporte, uma série de considerações devem ser levadas em conta, não apenas pela característica de serviço que muitas vezes é atribuída ao produto esporte, mas por algumas características peculiares e únicas que rondam o esporte. A decisão, por exemplo, de ir ao estádio, ou seja, de consumir uma partida, envolve um processo de tomada de decisão que vai além do valor pago pelo ingresso. O consumidor levará em conta coisas como o tempo gasto para ir ao local, assistir à partida e voltar para casa, o percentual de chance de seu clube vencer – o que se pode chamar de análise do nível de frustração do torcedor –, uma combinação do custo do ingresso versus, longas filas, congestionamento e chance de vitória. Soma-se a isso os concorrentes diretos e indiretos, muitos deles gratuitos para o consumidor, como parques e eventos de família, e o custo de oportunidade, o que o consumidor deixará de fazer no dia ou mesmo dias depois caso opte por ir ao jogo, sem esquecer que, muitas vezes, o próprio clube acaba por canibalizar seu produto, pois um clube que participa de inúmeras competições simultaneamente força o torcedor a optar por a qual partida assistir (isso afetará o nível de frustração do consumidor). Todas essas condições e variáveis determinam a decisão final do consumidor. 43 São as decisões do consumidor que precisam ser analisadas pelo clube no momento de precificar seus produtos, tendo em mente ainda que, ao trabalhar com conceitos intangíveis, o conceito de valor por parte do consumidor estará condicionado a ações sobre as quais o profissional de marketing muitas vezes não terá ação direita. Porém, quando levado para produtos tangíveis, como compra da camisa do clube, de um tênis etc., os consumidores terão mais facilidade de criar e definir o valor de troca e, com isso, avaliar o processo de maneira menos emocional do que com produtos intangíveis, pois o valor final é resultado de um processo de contabilidade mental dos benefícios percebidos contra o preço, não apenas monetário, da troca. 1.3.3. Praça (Distribuição) Com o conhecimento e a definição do mercado alvo, torna-se possível também definir a distribuição do produto. Para isso, é necessário conhecer o tipo de produto que se está trabalhando, bem como as maneiras possíveis para se levar o produto ao consumidor final, podendo, inclusive, ser analisada a possibilidade de se levar o consumidor ao produto; ou seja, existe uma série de modelos diferentes de canais de distribuição para o produto esporte, bem como estratégias distintas que devem ser analisadas pelo profissionais de marketing. As estratégias de ponto de venda serão diferenciadas de acordo com a curva de tangibilidade do produto. A escolha de canais diretos e simples ou de canais indiretos e mais complexos dependerá também dessa curva. Quando se trata de produtos esportivos tangíveis, como mercadorias e equipamentos, sempre haverá um fabricante produzindo e intermediários, como agentes, atacadistas e varejistas para fazer com que os produtos cheguem ao consumidor. Porém, quando os produtos são intangíveis, devem-se buscar estratégias que possibilitem ao consumidor vir ao produto final. Morgan e Summer exemplificam bem está questão: onde os ingressos são vendidos, onde estão localizados os clubes dos torcedores, como atrair pessoas para os jogos e como estabelecer um contato entre os jogadores e os torcedores, as instalações esportivas, onde os campos e os estádios se localizaram, qual a sua aparência, como as pessoas chegarão até lá? (MORGAN; SUMMERS, 2008, p. 46). 44 Como em qualquer estratégia de canal de distribuição, no marketing esportivo deve-se considerar a ajuda dos intermediários para levar o produto esporte aos consumidores ou para trazer os consumidores ao consumo do produto, como, por exemplo, agência de viagem com pacotes para a Copa do Mundo ou as Olimpíadas. Fica evidente que a decisão do ponto de venda, ou do local de distribuição, tem grande importância no resultado final do composto de marketing e de quão efetivo será o resultado final da estratégia de mix de marketing. Isso porque tal decisão terá implicações de longo prazo, e, após ter sido iniciada, sua alteração é mais difícil, pois envolve fatores como: evento; compra de ingresso; concessões; imagem do evento, dos jogadores e treinadores; assim como todas as lembranças possíveis de virar produto. Ponto fundamental na estratégia de distribuição do produto esporte, principalmente quando ligado ao conceito do fortalecimento da marca dos clubes de futebol, são as arenas esportivas ou os estádios de futebol (Figura 3). São nas arenas esportivas que os profissionais de marketing têm a chance de consolidar a experiência de consumo ofertada, além do fato de elas serem um dos elementos mais tangíveis dessa experiência. Quando bem montados e projetados, os estádios podem e devem fazer parte do processo de fidelização do consumidor, já que possibilitam toda a sinergia para que a experiência de consumo, questão já tratada anteriormente, aconteça de maneira intensa. Figura 3 – Canais de distribuição para um evento esportivo Sócios de um clube de Jogo de futebol futebol Estádio / Instalação Mídia (TV, rádio, jornal e internet) Consumidores esportivos Fonte: MORGAN; SUMMERS (2008, p. 275). 45 Hoje, não resta dúvida de, que um dos grandes concorrentes dessa estratégia é a transmissão televisiva dos eventos esportivos. Além de desestimular a ida de possíveis consumidores possíveis consumidores e torcedores das arenas, as transmissão têm um alcance muito maior; porém, por mais que criem todo um contexto para atrair o telespectador a consumir o esporte pela televisão, a experiência vivida não será mesma. A arena, nessa proposta, pode funcionar como as grandes atrações dos parques da Disney. Para isso, é necessário atrair o consumidor, envolvê-lo, criar o ambiente para que ele vivencie um momento único e, no meio desse processo, oferecer-lhe uma série de produtos ligados à marca do clube. 1.3.4. Promoção Por fim, consolidando a estratégia de mix e a utilização dos 4Ps de marketing, tem-se a promoção, cujo objetivo é divulgar aos consumidores-alvos os produtos e serviços do clube e a forma de acessá-los; assim é importante compreender o consumidor e escolher os canais mais adequados de comunicação: “combinação de todos os esforços iniciados pelo vendedor para estabelecer canais de informação e persuasão de modo a se vender mercadorias e serviços ou promover ideias” (KOTLER, 1998, p. 217). É, sobretudo, uma definição crítica para posicionar um produto e a sua imagem/marca na mente do consumidor. Assim o sucesso do esforço promocional está ligado à capacidade de aumentar a consciência, atrair o interesse, estimular o desejo e iniciar a ação (HARDY et al, 2004). Porém, deve-se ter claro que os consumidores estão em constante mudança. Assim, é importante que as empresas entendam como seus clientes tomam decisões de compra, o que pode afetar suas escolhas e quais são os critérios importantes para sua tomada de decisão. Existem decisões de baixo envolvimento, em que o consumidor não segue todas as etapas do processo de decisão; dessa forma, a decisão pode ser rápida e direta para a maioria, como comparecer a um evento esportivo em um estádio local. Já uma decisão com a de comprar ingressos, passagens áreas e estadia para a final da Copa do Mundo de futebol na África do 46 Sul, com as passagens áreas e a estadia é conhecida como complexa ou de alto envolvimento, pois é provável que o consumidor considere mais alternativas e opções diferentes. Além disso, existem riscos que são percebidos pelos consumidores como o financeiro, social, funcional, físico e psicológico. Conhecer seu consumidor e o processo de tomada de decisão do mesmo ajudará a empresa a decidir qual o melhor meio de comunicação para se promover seu produto. “Em, linhas gerais, segundo Shank (2002), os meios mais comuns de comunicação com o consumidor do esporte são por meio da publicidade, pessoal de vendas, relações públicas, promoção de vendas e patrocínio”. (FERNÁNDEZ, 2008, p. 46). Assim como Shank, diversos outros autores listam uma série de meios de comunicação para se atingir o consumidor, todos, de maneira geral, comuns a qualquer atividade do marketing. Porém, a promoção do produto esporte também deve observar suas peculiaridades e, no que diz respeito às questões do mix de comunicação, não podemos deixar de aprofundar a análise a respeito do patrocínio. A esse respeito, tem-se discutido muito ao longo dos anos e o que se observa é uma tendência gradual das organizações esportivas a um processo de decisão sobre investimentos mais estratégicos e estruturados. No passado, muitos eventos esportivos ou clubes foram patrocinados com o apoio de membros de organizações; no entanto, apenas esforços simbólicos foram empreendidos para avaliar a eficácia ou o retorno do investimento em questão. Uma intensificação da concorrência corporativa, aliada a pressões de acionistas e a uma contabilidade mais rígida, aponta para a tendência de o patrocínio esportivo revestir-se de mais racionalidade e estratégia em sua aplicação. Isso, naturalmente, indica que está ficando mais difícil para o esporte encontrar patrocinadores chave se não houver compreensão dos possíveis benefícios nem habilidade avaliar o retorno. Depois da publicidade, o patrocínio é provavelmente o método promocional mais comumente associado ao esporte. Esse investimento pode assumir a forma de dinheiro ou negociação (a Nike fornecendo uniforme a um clube), sendo possível definir a identidade esportiva como um atleta, um clube, uma liga ou uma competição específica ou, ainda, um evento. (MORGAN; SUMMERS, 2008, p.240). O patrocínio esportivo, como nenhum outro, permite aos profissionais de marketing recorrerem à emoção e alcançarem clientes. 47 O esporte também é uma ótima maneira de atingir o mercado jovem e outros grupos tradicionalmente difíceis de serem alcançados (como executivos ocupadíssimos que não assistem à televisão nem ouvem rádio com freqüência), mas isso tem que ser feito de uma forma convincente e inteligente (MORGAN E SUMMERS, 2008 p.244). Esse componente do marketing esportivo pode contribuir para atingir muitos objetivos de comunicação; no entanto os objetivos mais comuns são: conscientização, mudança ou reforço de imagem da marca, aumento de lealdade, motivação do funcionário e, finalmente, estímulo às vendas. 1.4 A evolução do Marketing Esportivo Na visão de Morgan e Summers (2006), o consumo esportivo (seja participando ou assistindo o esporte) é uma das funções de lazer mais difundidas da sociedade contemporânea. Ele invade todos os aspectos da vida humana e exerce apelo mundial. De fato, o esporte atinge pessoas de todas as idades, atravessando as fronteiras culturais e nacionais. Neste item do estudo, procura-se mostrar a evolução das ações de negócio no mundo, por meio do exemplo dos Jogos Olímpicos, e também como, no Brasil, diversas ações desenvolveram-se, mesmo antes de que o esporte ganhasse a conotação de negócio efetivamente. Os Jogos Olímpicos talvez sejam o maior exemplo de como as sociedades unem-se por meio do esporte e de como muitas empresas atentaram a esse fato visando a agregar valor a suas marcas. O marketing esportivo foi surgindo pouco a pouco, principalmente na relação com grandes eventos, como os Jogos Olímpicos. A Tabela 4 apresenta uma linha do tempo que ilustra como evoluiu a relação entre empresa, patrocínio, investimento, marca e esporte nas Olimpíadas. 48 Tabela 4 – Linha do tempo das Olimpíadas Ano Local Fato 1886 Atenas Criação dos Jogos Olímpicos 1912 Estocolmo Venda dos direitos exclusivos 1920 Antuérpia Venda do programa 1924 Paris Patrocínio nos estádios 1928 Amsterdã Entrada da Coca-Cola como patrocinadora 1932 Los Angeles Jogos dão lucro 1936 Berlim Transmissão televisiva 1948 Londres Direitos de transmissão 1952 Helsinque Aperfeiçoamento do direito de transmissão 1956 Melbourne Sem dados relevantes 1960 Roma 46 companhias patrocinadoras televisionamento ao vivo 1964 Tóquio Entrada de empresa de tabaco como patrocinadora Televisionamento por satélite 1968 México Transmissão em cores 1972 Munique Licenciamento dos anéis olímpicos 1976 Montreal Divisão da modalidade de patrocinadores 1984 Los Angeles Entrada de patrocinadores com direitos de exclusividade 1988 Seul Criação do TOP7 1992 Barcelona Sub-licenciamentos 1996 Atlanta Jogos 100% privados 2000 Sidney Loja on-line 2004 Atenas Ampliação dos pontos de distribuição dos produtos licenciados Pequim Megaconstruções 2008 Fonte: Baseado em ALMEIDA, 2000. Para visão completa da linha, vide Anexo A Observa-se, através da linha do tempo acima, a evolução do evento. Fatores como o avanço das tecnologias de transmissão e organização do evento tornaram os Jogos Olímpicos uma ótima oportunidade de os patrocinadores associarem a imagem de suas marcas a um evento notoriamente conhecido por promover a convivência pacífica entre os povos que dele participam e valores do esporte, como trabalho em equipe, vitória, talento, entre outros. 7 The Olympic Programme. 49 Já no cenário brasileiro, essa relação é um pouco mais recente; para Afif (2000), o marketing teve grande avanço no Brasil nos anos de 1950, durante o governo de Juscelino Kubitschek, quando diversas organizações internacionais começaram a atuar no país. As empresas estrangeira traziam para o Brasil as mesmas marcas que comercializavam em outros nações e limitava-se a produzir artigos padronizados. Observa-se forte ênfase nas vendas, mas empresas líderes já adotavam estratégias de marketing como as pesquisas, a propaganda e promoções de venda. Foi também nessa década que o marketing passou a ser estudado nas faculdades. A pioneira foi a Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, que o incluiu nas disciplinas do curso de Administração de Empresas. Posteriormente, com o golpe de 1964, o país passou por sérias dificuldades econômicas e o progresso só retornou por volta de 1967. No entanto, em 1980, a alta da inflação e a interrupção dos investimentos estrangeiros novamente fizeram com que o marketing decaísse. Entre altas e baixas, o marketing passou a ter forte ascensão com o uso da informática, quando o controle das estratégias tornou-se mais rápido e preciso. as décadas de 80 e 90 representaram para o Marketing brasileiro um período das ilusões perdidas. O país começou a observar melhor sua realidade de seu subdesenvolvimento e a recessão. No decorrer destas décadas a economia sofreu profundas alterações em todos os segmentos da sociedade, e o marketing por sua vez foi influenciado por golpes, por incompetência de governantes e pela instabilidade das empresas. (CONTURSI, 1996, p. 25). No entanto, em 1994, com o Plano Real, o país ingressou em um momento econômico mais estável. Nesse contexto, fixaram-se no mercado, com força total, os profissionais de marketing e, com eles, novas promoções, eventos e campanhas publicitárias. Durante muito tempo a Fifa proibiu o uso dos uniformes como meio de divulgação de marcas. Isso impediu que o marketing esportivo fosse desenvolvido mais rapidamente no futebol. Para resolver essa situação, algumas empresas transformaram seus nomes em marca de material esportivo, podendo estampá-las nas camisas dos jogadores, outras compraram clubes para alterar o nome deste (AFIF, 2000). Muitos dos motivos que levaram grandes empresas a investirem no esporte estão ligados ao espaço que a mídia reservou para a divulgação dos eventos, em virtude do sucesso 50 obtido em grandes competições nacionais e internacionais e o retorno institucional e comercial que eles traziam. O marketing esportivo exerce sua função como merchandising devido ao fato de que cada modalidade esportiva permite: “uma pesquisa de espaço, considerando o local da competição, os uniformes dos atletas, o posicionamento do equipamento, o local destinado ao público e os demais personagens coadjuvantes que participam do evento esportivo.” (MELO NETO, 2003 p. 153-154). Essa característica é um dos pontos positivos do marketing esportivo, pois o produto é divulgado de forma não explícita e, mesmo não sendo o foco principal do evento, será ele lembrado pelo público, funcionando como uma mensagem de qualidade. O Brasil teve sua primeira ação de marketing esportivo em 1938. Nessa data, um jogador brasileiro destacou-se na Copa do Mundo, fazendo oito gols e sendo o artilheiro da Copa. Seu nome era Leônidas da Silva, que foi apelidado por um jornalista francês de Diamante Negro, alcunha pela qual se tornou conhecido. Aproveitando o sucesso, a popularidade e o fato de Leônidas ser um ícone do esporte na época, Assis Chateaubriand, o jornalista e dono da fabricante de chocolates Lacta, teve a ideia de lançar uma barra de chocolate em homenagem ao jogador. Colocou-se, então, no mercado o chocolate Diamante Negro, que até hoje é um dos mais vendidos. Esse episódio ilustra como a relação entre o esporte e o produto ajudou a transformar a Lacta em uma grande empresa do ramo alimentício no Brasil. Um dos primeiros esportes a receber investimentos foi o vôlei, em 1981, que foi o pioneiro em divulgar a marca de uma empresa nos uniformes dos jogadores. No ano seguinte, a CBF também derrubou o veto do CND – Conselho Nacional de Desporto, e em 1984, o Banco Nacional estampou sua marca nas camisas do Fluminense e do Vasco da Gama, os dois clubes que disputaram a final do Campeonato Brasileiro de Futebol daquele ano. Outro fato de destaque ocorreu em 1986, na Copa do Mundo, em que a seleção brasileira jogou com o material esportivo fornecido pela Topper. 51 Em 1987, foi criado o Clube dos 13, com o objetivo de os clubes de todo o país disputarem a Copa União, ocasião em que a Coca-Cola estampou sua marca em 16 clubes participantes dessa disputa. Em 1992, com o objetivo de rejuvenescer a marca, o Banco do Brasil patrocinou a Seleção Brasileira masculina de vôlei, que ficou em primeiro lugar nos Jogos Olímpicos de Barcelona, e, além disso, ofereceu camisetas para a torcida, tornando-se referência de vôlei para toda uma geração. Um dos exemplos mais importantes para o marketing esportivo ocorreu em 1993, quando a Parmalat patrocinou o clube de futebol Palmeiras. Por meio dessa parceria, o clube paulista conquistou, naquele ano, o Campeonato Paulista, após 17 anos sem ganhar títulos. A parceria terminou em 2000, com o Palmeiras tendo conquistado três Campeonatos Paulistas, dois Brasileiros, uma Copa do Brasil, dois Torneios Rio-São Paulo, uma Copa dos Campeões da CBF, uma Mercosul e uma Copa Libertadores. Foram 11 títulos para a sala de troféus, frutos de uma bem planejada e bem-sucedida parceria. Já em 1994, no amistoso em Paris entre Brasil e França, iniciou-se um conflito, pelo fato de a Brahma ter comprado placas no estádio em que seria realizado o amistoso e exibido sua marca na transmissão que era patrocinada pela concorrente Kaiser. Esse gerou um processo judicial e levou a mudanças nas regras de comercialização das placas em estádios. Em 1996, o maior contrato de patrocínio da história do marketing esportivo foi fechado entre a Confederação Brasileira de Futebol e a Nike. Dois anos depois, a Nike foi acusada de escalar jogadores que não estariam fisicamente aptos para jogar, além de interferir nas convocações e obrigar a seleção a jogar amistosos com países pouco representativos no cenário futebolístico. Essas acusações levaram à realização de uma CPI do futebol, mais nada foi provado contra a empresa. Em 2001, CBF assinou patrocínio com a Ambev, rompendo o contrato com a CocaCola. Para isso, a Ambev declarou pagar 10 milhões de dólares para a CBF pelos 18 anos seguintes ou por 5 copas do mundo. Com o objetivo de tornar o guaraná Antártica um produto de alcance internacional, a marca passou a ser divulgada nos uniformes de treino da seleção brasileira de futebol. 52 Em 2010, começou a discussão entre as emissoras de TV e os clubes de futebol da Série A pela direito de transmissão do Campeonato Brasileiro a partir de 2012. Essa discussão ganhou grande visibilidade devido à disputa entre as emissoras Record e Globo. 53 CAPÍTULO 2 - MARCA Neste capítulo, serão abordadas as definições do que vem a ser marca, analisando a posição e o pensamento de diversos autores sobre o tema, como Aaker, Bedbur, Kotler, entre outros. Assim, discorrer-se-á sobre o significado da marca e o que ela representa, e mostraremos que seu conceito pode ir muito além um nome ou símbolo, pois ela integra a essência da organização, sendo reflexo não apenas da imagem da empresa, mas do resultado das opiniões de seus consumidores. Serão abordadas também questões referentes à imagem corporativa, especialmente à forma como ela pode caracterizar uma marca. Nesse momento, serão discutidos a construção de marcas de sucesso, o modo como os clubes de futebol, com sua característica única – a fidelidade do torcedor – pode usar esses conceitos para consolidar sua marca e como a arquitetura da marca é importante na sua valorização. Por fim, apresentamos a gestão das marcas no esporte, mostrando como algumas marcas estão investindo nesse setor para fortalecer sua imagem perante o consumidor e como o marketing esportivo está se tornando uma plataforma de comunicação para elas. 2.1 Definições O processo de construção de marca pode ser analisado por meio de duas vertentes, que, paradoxalmente, apesar diversas, são complementares. A marca foi definida pela AMA – American Marketing Association como sendo: Um nome, um sinal, um símbolo, ou design, ou uma combinação de tudo isso, com o objetivo de identificar produtos ou serviços de um vendedor ou grupo de vendedores e diferenciá-los de seus concorrentes (KOTLER; KELLER, 2006, p. 269). Souza e Nemer (1993) vão um pouco além ao afirmar que uma marca não pode resumir-se a um nome ou símbolo, mas deve sintetizar as ações estratégicas que buscam a 54 satisfação das necessidades e dos desejos do consumidor para que este associe a marca às qualidades do produto, entre outras coisas: A marca é mais que um simples nome ou símbolo. Ela deve ser uma síntese de todas as ações mercadológicas que se originam na satisfação de desejos ou necessidades específicas do consumidor. As ações mercadológicas de uma empresa visam fazer com que o consumidor associe à marca uma série de atributos do produto, uma expectativa de desempenho e uma diferenciação em relação às marcas concorrentes. Ela é uma das formas pela qual a empresa se comunica com o púbico consumidor. (SOUZA; NEMER, 1993, p. 11). A marca traz consigo a percepção que o consumidor tem do produto ou serviço a ela associado, ou seja, a marca está vinculada diretamente com o que a organização oferece ao mercado consumidor. “Marca é o conjunto de referenciais físicos e simbólicos capazes de influenciar e determinar a preferência para os produtos, tendo por base a oferta de valor a ela associada”. (SERRALVO, 2006, p. 109) Sob essa ótica, a marca pode ser um referencial de segurança para o consumidor. Produtos novos, desconhecidos do consumidor final, podem encontrar nela um selo de garantia, de confirmação de qualidade, uma referência física capaz de dar-lhe esse subsídio. Os referenciais simbólicos, por vezes até subjetivos, são construídos pela ação conjunta da empresa e dos consumidores. A marca é o somatório do bom, do ruim, do feito e do que não faz parte da estratégia. [...] As marcas absorvem conteúdo, imagens, sensações efêmeras. Tornam-se conceitos psicológicos na mente do público, onde podem permanecer para sempre. Como tal, não se pode contratá-la por completo. No máximo, é possível orientá-la e influenciá-la. (BEDBURY, 1990, p. 6). Essa visão, segundo a qual a marca pode ser uma soma do bom e do ruim e até do que não estava previsto em sua estratégia, faz com que ela assuma a identidade da organização. Essa identidade é um composto da propagandas boas e ruins, das ações vitoriosas e fracassadas do marketing. Envolve as realizações dos melhores funcionários e os insucessos dos piores. A marca também é definida pelos comentários dos consumidores; nesse sentido, em sua formação rebervera o resultado da equação formada por comentários positivos e negativos. Ao mesmo tempo, a marca adquiriu importância como critério de diferenciação na mente do consumidor. Não basta apenas as ações voltadas a mostrar a marca como um ícone 55 forte; é necessário que essas ações reflitam a visão e a missão das empresas detentoras da marca. Tendo em vista tantos atributos e funções a ela relacionados, a marca tornou-se um ativo da empresa, muitas vezes mais valiosa que fábricas e instalações, apesar de ser intangível. Além disso, mesmo num ambiente competitivo como o atual, a marca, com toda sua subjetividade e intangibilidade, pode tornar-se um critério de diferenciação na mente do consumidor. Criar e desenvolver marcas faz-se, então, não apenas necessário, mas primordial. Porém, como demonstram Kotler e Keller (2006), para desenvolver uma marca, é preciso ter capacidade, competência e habilidade: Talvez a habilidade mais característica dos profissionais de marketing seja sua capacidade de criar, manter, aprimorar e proteger as marcas. O branding se tornou uma prioridade no marketing. Marcas de sucesso como Starbucks, Sony e Nike cobram preços Premium e evocam grande fidelidade. Já marcas novas como Krispy Kreme, Red Bull e JetBlue capturam a imaginação dos consumidores e da comunidade financeira. Os profissionais de marketing das marcas de sucesso do século XXI precisam sobressair no processo de gerenciamento estratégico da marca. (KOTLER; KELLER, 2006, p. 268). Num mundo em constantes mudanças como o que vivemos hoje, onde a cada dia uma nova tecnologia é capaz de tornar algo novo rapidamente obsoleto, ter a capacidade de criar marcas fortes e, principalmente, mantê-las e adaptá-las mudança no comportamento das novas gerações, não só é um grande desafio para as empresas como pode ser crucial para a sobrevivência da marca. Portanto, o sucesso do passado não garante sequer uma presença no futuro. Por isso, compreender a marca é perceber que ela leva consigo uma mensagem intangível, subjetiva e subliminar, e é o resultado das decisões internas da empresa, já que tudo estará associado a ela. Assim, ela irá carregar as percepções e imagens positivas ou não sobre a empresa e seus negócios para os consumidores. A marca é, portanto, o ponto final, a conclusão e a consequência da estratégia criada, a mensagem que chega ao consumidor por diversos canais de comunicação. Uma marca é mais que um nome. Se não for fácil identificá-la, não será realmente uma marca. Há diferenças entre uma marca com pouca ou muita penetração, e a função da pessoa de marketing é criar associações mais sólidas para a marca. Uma 56 marca forte tem cinco dimensões. Ela deve trazer à mente determinados atributos, tais como o tamanho do produto, suas características e assim por diante. Em segundo lugar, precisa sugerir fortemente uma ou duas vantagens cruciais. [...] Em terceiro lugar, se a marca fosse uma pessoa poderíamos visualizar suas características. [...] Em quarto lugar, a marca deve sugerir alguma coisa a respeito do sistema de valores da companhia – se ela é inovadora, responde às exigências dos clientes, tem consciência social. Finalmente, marca forte sugere a imagem dos usuários da marca – eles são jovens e entusiasmados ou mais velhos e assentados? O especialista de marketing incumbido de criar uma marca precisa desenvolver os cinco fatores que a tornam mais robusta. [...] (KOTLER, entrevista para HSM site). Percebe-se, então, marketing como o campo estratégico que efetivamente irá criar e desenvolver a marca. É muito mais que um símbolo, um nome, um sinal, uma combinação de fatores, abrange dimensões vinculadas à percepção do mercado. A marca agrega atributos e características ao produto, vantagens, valores da companhia, transmitem consciência social (responsabilidade social) e é espelho da imagem dos usuários da marca. Analisar o que representa uma marca fortalecida no mercado é perceber como este a vê. Uma marca forte tem uma identidade rica e clara – um conjunto de associações que o estrategista de marca procura criar ou manter, a identidade de marca representa aquilo que a organização deseja que sua marca signifique (AAKER; JOACHIMSTHALER, 2000). O fortalecimento de uma marca depende da atenção à forma como ela é vista pela sociedade e de ações que a façam atingir patamares de vantagem competitiva, ou seja, é necessário construir uma identidade rica, clara e diferenciada do que é oferecido pelos seus concorrentes. Fortalecer a marca é priorizar que sua perspectiva esteja alinhada com os valores, atributos e benefícios oferecidos pela organização por meio de produtos ou serviços. A perspectiva da marca como organização concentra-se nos atributos da organização, não do produto ou serviço. Esses atributos da organização, como a inovação, a busca da qualidade e uma preocupação com o ambiente, são criados pelas pessoas, pela cultura, pelos valores e pelos programas da empresa. Alguns aspectos da marca podem ser descritos como atributos do produto, em determinados contextos, e como atributos organizacionais, em outros. (AAKER, 2001, p. 95). Assim, fortalecer a marca depende de como a marca se constrói no que tange aos valores da organização (inovação e qualidade); faz-se necessário também compreender como 57 desenvolver uma marca perante o que a imagem corporativa e institucional representa por meio do conjunto de ferramentas relatadas por Kotler (2003): Como se constroem marcas? É um engano achar que a propaganda constrói marcas. A propaganda sozinha chama a atenção para a marca; é possível que até desperte interesse pela marca e suscite conversas sobre a marca. Mas as marcas são construídas de maneira holística, por meio da orquestração de um conjunto de ferramentas, inclusive propaganda, relações públicas, patrocínios, eventos, causas sociais, clubes, porta-vozes, e assim por diante [...]. (KOTLER, 2003. p. 119). Kotler (2003) afirma que as organizações devem, de alguma forma, medir a eficácia da construção da marca, não por meras lembranças e reconhecimentos e sim como valor percebido pelos clientes, satisfação dos consumidores. O mesmo autor afirma que “as empresas devem usar a proposição de valor da marca como principal impulsionador da estratégia, das operações, dos serviços e do desenvolvimento de produtos”. (KOTLER, 2003. p. 119). Além disso, nos dias de hoje, fica impossível falar de marca sem considerar fatores psicológicos. Gobé (2002) identificou tal fator e, com isso, criou o termo marca emocional com a intenção de mostrar o meio pelo qual as pessoas se conectam de maneira subliminar com as empresas e com seus produtos. Tal modelo, conforme será mostrado mais à frente, é base fundamental para o fortalecimento dos clubes de futebol como marca na mente do consumidor. Perez utiliza a mesma linha de raciocínio para construir uma interpretação que postula marca dentro de fatores psicológicos: “A marca é uma conexão simbólica e afetiva estabelecida entre uma organização, sua oferta material, intangível e aspiracional e as pessoas para as quais se destina.” (PEREZ, 2004, apud ASSIS, 2007, p. 23). Utilizar e construir de maneira efetiva a marca, como fonte estratégica, ante o desenvolvimento da imagem corporativa para agregar atributos e valores percebidos – por meio do conjunto de ferramentas – é um canal diretamente vinculado à construção e ao reflexo que a imagem da organização tem diante da sociedade. 58 2.2 Imagem corporativa A palavra imagem originou-se do latim imago, imaginis, sinônimo de representação ou reprodução. Trata-se de um conceito resultante de um conjunto de experiências que uma pessoa apresenta em relação a um produto, uma personalidade ou uma empresa. Essa definição compreende ainda o campo da publicidade como sendo “representação que uma marca ou uma firma comercial tenta impor ao público; grau de reputação que ela adquire efetivamente. Modo como uma personalidade ou uma coletividade é geralmente julgada pela opinião pública”. (GRANDE ENCICLOPÉDIA, 1993, p. 3.418). Segundo Kotler e Armstrong (1998), a imagem corporativa é então a maneira como o indivíduo ou grupo vê uma organização. Traz consigo o conjunto de resultados decorrentes da percepção humana sobre determinada organização. A imagem traduz a personalidade da marca, que é avaliada com qualidades positivas ou negativas pela sociedade, que nela enxerga ou não valores, atributos ou benefícios que os associam de acordo com suas experiências, expectativas, atitudes, necessidades e aspectos socioculturais. O marketing nas organizações exige o conhecimento da imagem atual da organização e o desenvolvimento de um plano para aprimorá-lo, pois a organização deve decidir que imagem deseja ter e o que pode ser alcançado (KOTLER, 1998). A percepção de uma imagem por indivíduos e grupos de uma sociedade é algo muitas vezes intangível, ou seja, subjetivo que nem sempre as organizações conseguem mensurar, pois a percepção é subliminar na mente humana. Segundo Solomon (2002), o consumidor atribuiu valor aos aspectos intangíveis da marca, de modo que, muitas vezes, adquire produtos e serviços não em função de seu uso, mas pelo significado que tal compra agrega em seus valores percebidos. Buscar estratégias e ferramentas de marketing para valorizar fatores intangíveis associados à compra faz parte das ferramentas estratégicas de marketing, uma vez que a imagem da marca representa um importante fator de competitividade (CRESCITELLI et al, 2005). Analisar de maneira quantitativa a percepção humana pode ser visto como dificuldade na análise de sua imagem perante o cenário das organizações, porém utilizar instrumentos de 59 marketing para que sua imagem e marca sejam sinônimos de valor ao cliente pode ser prática de uma estratégia no composto de marketing promoção e propaganda. A propaganda é um instrumento de grande valia para propagar a imagem corporativa, como enfatizam Kotler e Armstrong: A propaganda de imagem organizacional é um dos principais instrumentos à disposição das empresas para um marketing de si mesmas direcionando a vários públicos. As empresas podem utilizar a propaganda de imagem corporativa para formar ou manter uma imagem favorável durante muitos anos, ou utilizá-la para combater efeitos que poderiam prejudicar sua imagem. (KOTLER; ARMSTRONG, 1998, p. 462). Carvalho (apud NEVES, 1998) afirma que, em negócios, não basta a imagem empresarial ser boa, ela deve ser competitiva e assim gerar negócios para conquistar clientes, acionistas, parceiros, fornecedores etc. Isso ajudará a atrair, manter e motivar os melhores profissionais, conquistar a empatia de certos públicos, o que ajuda a abrir portas e dar credibilidade à entidade. A imagem é a representação do que a marca traz em seu cerne, é a representação e divulgação que reflete o que a organização tem como objetivo, valor, benefício e atributo. Faz-se necessário notar a distinção entre identidade e imagem de uma organização. Segundo Rego, há distinção entre as palavras imagem e identidade: por identidade deve-se entender a soma das maneiras que uma organização escolhe para identificar-se perante seus públicos. Imagem, por outro lado, é a percepção da organização por aqueles públicos. A minha identidade é o que eu mesmo sou. A imagem é aquela em que imagino que pareço. (apud PINHO, 1990, p. 41). La Tajada (2001) difere, assim, imagem de identidade, definindo a primeira como o resultado da percepção projetada a respeito da personalidade/identidade. Trata-se de uma relação de causa-efeito, em que imagem é o efeito da percepção e a causa é a identidade projetada. A imagem não é a identidade da empresa, porque a primeira configura-se (ou deve configurar-se) tendo como base a segunda. A imagem é gerada nos públicos como resultado de suas percepções a respeito da personalidade/identidade da empresa, de maneira que, quanto tais percepções de identidade estão erradas, a imagem desvia-se 60 de tal realidade e produz uma disfunção da identidade/imagem, geralmente, negativa.[...] Uma imagem divorciada da identidade dificilmente será positiva para a empresa e de modo nenhum poderá assegurar a eficácia das ações de comunicação realizadas. Portanto, deve existir uma relação estreita entre a identidade e a imagem da empresa, relação de causa-efeito em que a causa é a identidade existente que precisa ser projetada, e o efeito são as percepções de tal identidade que ocorrem na imagem institucional da empresa. Obviamente, a relação de união entre ambas é a comunicação, que exerce um papel transcendental a serviço da eficácia do processo de transformação da identidade em imagem (LA TAJADA, 2001, p. 63). Para Gracioso (1995), é evidente o fato de que uma boa imagem (institucional ou de marca) não se impõe – conquista-se. Segundo ele, geralmente ela é o reflexo de uma administração orientada para o mercado e os anseios da sociedade. Não por mera coincidência, as empresas com melhor imagem pública são também as que têm objetivos estratégicos bem definidos e consciência clara de que a perenidade da empresa está acima das considerações ou vantagens circunstanciais. A imagem institucional, segundo o mesmo autor, é diretamente derivada da missão, da visão e dos valores estratégicos da organização, ou seja, as campanhas de publicidade e os programas que incentivam o marketing de imagem necessitam projetar-se alinhadamente ao posicionamento estratégico em que a empresa se encontra. Para construir uma imagem empresarial competitiva e ter credibilidade, é preciso desenvolver, fortalecer e proteger os atributos positivos da imagem da empresa e neutralizar os atributos negativos, o que não é fácil, porque aqui são trabalhadas as percepções dos públicos, das pessoas, que são diferentes e possuem, portanto, percepções diferentes. (NEVES, 2000). Segundo Gracioso (1995), a imagem empresarial é criada ou influenciada por diversos fatores; ela é criada pela dependência de como esta é percebida pelo mercado e pelo ambiente onde opera. Já a percepção depende de cada indivíduo quando avalia a marca, identidade e imagem institucional. O autor afirma que a imagem de uma empresa resulta numa percepção homogênea por parte do consumidor, já que, ao definir a sua preferência por uma marca ou produto qualquer, o consumidor leva em consideração os inúmeros atributos apresentados por eles. 61 2.3 Construção de marca Ao pensar no processo de construção de uma marca, deve ficar claro que se trata de uma estratégia de longo prazo, já que, conforme Kapferer (2004), não existe uma grande marca sem relação emocional direta com seus potencias consumidores. Outro aspecto a ser observado atentamente para a construção de uma marca forte que deve ser ressaltado é o conceito de fidelidade. Assim, para Nunes e Haigh (2003), uma marca forte tem a capacidade de reter os consumidores atuais, possibilitando um aumento na freqüência de compra e, ao mesmo tempo, é capaz de atrair novos consumidores. Não se pode esquecer, nesse processo, que o tempo de vida de uma marca também influencia na sua capacidade de consolidar-se e destacar-se no mercado. Afinal, não existem marcas fortes que permaneçam pouco tempo no mercado. Esse é um aspecto fundamental quando se fala de clubes de futebol, pois é inegável que, a respeito de fidelização de uma marca, no Brasil nada é mais forte do que a paixão do torcedor por seu clube de futebol. Porém, é interessante notar o pensamento de Tosti e Stotz (apud KHAUAJA, 2005, p. 35), que afirmam a necessidade de “construir uma marca de dentro para fora para conseguir entregar a promessa de marca para os consumidores”, ou seja, é preciso envolver os profissionais das empresas para que estes reconheçam o posicionamento da marca e os valores que ela quer transmitir para seus consumidores. A esse respeito, podemos citar Mitchell (2002), que ressalta a necessidade de ações de marketing interno para que todos os funcionários tenham uma relação emocional com a marca da empresa. Mais uma vez, voltando-se ao tema principal da presente pesquisa, apesar de se apontar muitas vezes para resquícios de amadorismo nos departamentos internos dos clubes, identifica-se aqui um aspecto em que os clubes de futebol destacam-se, pois é comum haver torcedores no quadro de funcionário dos clubes. Para assegurar a construção sólida de uma marca, pode-se citar Schultz (apud, ASSIS, 2007, p. 27-28), que considera existirem alguns passos para tal. 62 1º– O primeiro preconiza que o elemento-chave é chegar ao coração da marca, ou seja, entender o que ela significa para os stakeholders, ou seja, para o público relevante formado por clientes, fornecedores, distribuidores, parceiros, funcionários, comunidades que interagem com a marca, mídia e instituições ligadas a ela e á sua detentora; 2º– O segundo diz respeito à avaliação dos aspectos funcionais, como a qualidade e o desempenho do produto ou serviço; 3º– O terceiro, após a fase de análise, compreende a definição dos valores, das competências e das aspirações da marca, um conjunto que deve estar alinhado à direção estratégica empresarial: os valores devem refletir a cultura da organização e ser reforçados por ela, as competências são a base para a diferenciação e o reconhecimento da marca no mercado e as aspirações para o futuro guiam o desenvolvimento de novos produtos e os planos de expansão da marca; 4º– O quarto consiste na determinação dos atributos da identidade e da personalidade, o que Schultz chama de voz da marca; 5º– O quinto e último passo diz respeito à articulação da proposta de valor da marca, ou seja, do seu posicionamento. Assim, se uma das alternativas para os clubes de futebol crescerem é a expansão de sua marca pelo desenvolvimento de novos produtos, nada mais legítimo do que construir isso por uma estratégia que observe atributos com os quais os clubes possam se destacar: lealdade e emoção. Na Figura 4, encontra-se a pirâmide da lealdade Aaker (1998), que apresenta uma maneira de analisar a lealdade desses consumidores. 63 Figura 4 – Pirâmide da lealdade Comprador fiel Gosta da marca, considera-a amiga Satisfeito, mas com medo dos custos de mudança Satisfeito, compra sempre, sem razão para mudança Não leal à marca, sensível ao preço, indiferente à marca Fonte: AAKER (1998, p. 41).. Na base da pirâmide, pirâmide são representados os consumidores não leais, leais pode-se até chamálos de infiéis, aqueles que são completamente indiferentes à marca. No segundo nível, adentra-se aos consumidores que estão satisfeitos com a marca; porém, ém, mesmo satisfeitos e sem razão para mudar, podem vir a trocar de marca caso encontrem um valor agregado em outra que melhor o satisfaça. Mas é interessante notar que, a partir deste nível, uma eventual mudança não ocorrerá de maneira espontânea. No terceiro nível, é importante analisar uma questão: o medo da mudança. O termo medo talvez não seja o mais preciso. O ponto principal apresentado neste nível é importante para a compreensão de que o consumidor, neste momento, pode ainda ser um consumidor disponível para mudanças,, porém já é menos suscetível a ela, pois analisa nalisa melhor os possíveis ganhos e demonstra receios que o impelem a refletir com atenção sobre uma troca. No quarto rto nível, verifica-se, verifica pela primeira vez, o vínculo nculo emocional, emocional citado anteriormente, entre a marca e o consumidor. O consumidor, consumidor mais do que gostar da marca, marca já a considera uma amiga. Isso porque, ao longo de uma relação duradoura, duradoura a experiência vivida 64 foi extremamente positiva. É a partir deste nível que começa a destacar-se o conceito de fidelidade do consumidor para com o marca. Os vínculos de relacionamento já são tão profundos emocionalmente que os consumidores recomendam a marca para seus grupos primários. No topo da pirâmide, está o consumidor fiel, comprometido realmente com o marca. Quanto se trata da questão do futebol e dos clubes como marca para seus consumidores, deve-se, antes, analisar o torcedor. O vínculo entre clube e torcedor é muito forte. Os torcedores integram, por seu próprio perfil, o quarto ou quinto nível da pirâmide de lealdade. É difícil achar torcedores que tenham mudado de clube e passado a torcer para outro após certa idade. No entanto, conforme será apresentado no capítulo quatro, existe uma diferença entre torcer e ser consumidor. Os clubes de futebol têm, sem dúvida, um diferencial competitivo muito forte no mercado: o vínculo emocional de sua marca com o possível consumidor. Porém, como afirma Kapferer (2003), os consumidores podem tornar-se infiéis quando julgam que o preço da marca está acima do que eles previram. Mesmo no universo do futebol, em que o nível de fidelização do torcedor para com seu clube tende a estar, na maioria dos casos, do quarto nível para cima, tal afirmação deve ser estudada com cuidado pelos profissionais de marketing. Isso porque, ao se desenvolver linhas de produtos que levem a marca do clube, o consumidor poderá estar disposto até a pagar um pouco mais por isso, porém não existe fidelidade a qualquer preço e há um patamar a partir do qual o consumidor admitirá que o custo-benefício não compensa. Deve-se ressaltar também que não necessariamente os níveis de lealdade são encontrados como apresentados pela pirâmide, ou seja, puros e isolados. Os consumidores, muitas vezes, encontram-se entre dois níveis e, assim, têm comportamento de compra distintos para marcas e produtos diferentes. Dessa forma, padrões de compra, frequência de recompra de uma mesma marca ou até o número de marcas compradas em uma categoria de produtos servem de embasamento para se determinar o nível de lealdade do consumidor a marca. (ASSIS, 2007). Outro ponto que deve ser levado em consideração quando se fala de expansão da marca diz respeito a sua arquitetura (AAKER, 1999). Para ser forte, marca deve ser 65 atemporal, ou seja, ela deve ser a imagem, em todos os sentidos da palavra, da empresa, mas, ao mesmo tempo, deve incorporar elementos contemporâneos para adaptar-se às mudanças constantes no ecossistema que molda seu universo. Assim a arquitetura da marca ajuda a determinar a sinergia ou o relacionamento entre as ofertas de produtos e serviços da empresa perante seus clientes, parceiros e fornecedores. O resultado dessa sinergia ou desse relacionamento personifica a marca, determinando sua imagem, que deve representar a sua identidade com consistência para que os consumidores percebam seu valor. Esse valor para as empresas e, por conseqüência, para os clubes de futebol, pode ser atribuído avaliando quatro determinantes (Tabela 5): Tabela 5 – Valor da marca Determinantes Resumo • É sempre mais caro conquistar um cliente novo do que Lealdade à marca conservar o atual, especialmente quando este é cliente satisfeito. • A fidelidade do cliente à marca reduz a vulnerabilidade da empresa às ações da concorrência. • Um nome e um logotipo que se tornam familiares são muito Reconhecimento do nome e dos símbolos mais chamativos do que uma marca desconhecida. • O fator reconhecimento é particularmente importante quando a marca já representa uma diferença entre seus pares. • A qualidade percebida pelo cliente não se baseia Qualidade percebida necessariamente nas especificações técnicas. Muitos outros aspectos geram diferentes marcos de qualidade. • Determinante na decisão de compra, a qualidade percebida pode servir de base para uma linha de produtos mais cara ou para uma extensão de marca. • Também pode sustentar a posição desta na arquitetura do sistema em caso de haver marcas múltiplas. 66 • A que ideias os consumidores associam sua marca? • O valor subjacente ao nome da marca baseia-se nas Conjunto de associações associações que lhe são específicas. • Por exemplo, a associação da marca a um “contexto de uso”, como no caso da Aspirina à prevenção de ataques cardíacos, gera um motivo de compra coerente. • A associação a um estilo de vida pode modificar a experiência de uso: “o Jaguar transforma qualquer pessoa que o dirija em alguém diferente”. • Por esse motivo, uma marca bem posicionada é a melhor barreira contra a concorrência. Fonte: Baseado em AAKER (1999). Transpondo os determinantes apontados na tabela para os clubes de futebol, podem-se avaliar as vantagens que os clubes têm quando da construção de sua marca. Como já discutido anteriormente, o primeiro item, Lealdade à marca, é facilmente encontrado entre os torcedores. Os clubes já têm nome e símbolos fortes e podem, por meio deles, criar um conjunto de marcas associadas capaz de levar ao consumidor produtos que atendam as especificações técnicas e emocionais para gerar qualidade. O atendimento dessas determinantes coloca os clubes em vantagem no mercado para criarem suas marcas e atrelarem a elas outras marcas, tão ou mais fortes, que proporcionem aos consumidores os melhores produtos. Fornecedores de material esportivo, por exemplo, associam suas marcas a clubes e atletas para apresentar para o consumidor um produto capaz de superar as expectativas dele. Por exemplo: uma chuteira da Nike é apenas um bom produto, que traz a marca Nike como referência, mas uma chuteira Nike, que seja do modelo usado por Ronaldo, que joga no Corinthians, remete ao torcedor valores únicos, não só de qualidade, mas emocionais, que se agregam ao produto. Assim, as três marcas em conjunto (Nike, Ronaldo e Corinthians) conseguem sinergia para aproveitar a lealdade do consumidor ao reconhecimento da marca. Ao mesmo tempo, atendem a todos os aspectos que possam ser analisados pelo consumidor para gerar conforto na questão de qualidade percebida e criar condições para ele, ao calçar a chuteira para o futebol de domingo, sinta-se único como a imagem associada ao produto. 67 2.4 Gestão das marcas no esporte O esporte, como uma atividade sã e regulamentada, está associado a valores positivos e uma empresa que o patrocina constrói uma imagem favorável perante o público. Em torno do esporte, sobretudo do espetáculo, circula muitos interesses econômicos que o aproximam da consideração de empresas comerciais apoiada no fato esportivo. (WYCHE, 1990). As estratégias comerciais das grandes empresas utilizam com maior frequência o formato do patrocínio de atividades esportivas de ampla repercussão pública, em troca de ver suas marcas associadas à difusão, especialmente através dos meios de comunicação, dessas atividades. O objetivo desta estratégia comercial é conseguir um bom nível de penetração e de memorização da marca comercial e sua associação com valores (positivos) de impacto popular, próprios do acontecimento que patrocinam. O esporte é um campo privilegiado para a aplicação dessa estratégia. As razões devem-se ao fato de que têm uma cobertura ampla pelos meios de comunicação e conseguem grandes audiências dos setores da população que são alvos comerciais. Além disso, o caráter de espetáculo implica relações emocionais com o consumidor por meio de linguagens populares e universais, como o movimento do corpo, a competição, a vitória, a emoção. Assim, o patrocínio adapta-se à mesma lógica e estrutura do mercado, ou seja, a decisão de divulgar a marca em uma competição ou associá-la a um atleta de nível regional ou internacional, segundo o alcance do produto ou serviço que produz a empresa. Essa conclusão pode ser ilustrada com os próprios produtos esportivos Nike, que, em suas etiquetas, se leem: “Projetado e construído para as especificações exatas dos atletas campeões ao redor do mundo”8. A marca é uma forma de proteção legal ao produto e uma maneira de distinguir o produto e/ou serviço dos concorrentes. É também um auxílio no processo de fidelização do consumidor, pois, como demonstrado anteriormente, a marca pode transmitir, entre muitas coisas, um sentimento de confiança. Grandes empresas já perceberam o potencial do 8 Etiqueta orginal em inglês: “Engineered and built to the exact specifications for championship athletes around the world.” (Tradução do autor). 68 marketing esportivo e do investimento em esporte e procuram atrelar sua marca à dos grandes clubes de futebol e suas principais estrelas. Essa estratégia, muitas vezes conhecida como endosso, é muito utilizada pelos clubes internacionais para contratação de grandes craques e começa a ser utilizada no Brasil. Esta é a principal fonte de receita para atletas de destaque, suplantando o salário que eles recebem por competir por um clube. Trata-se da área do marketing esportivo moderno que se nutre do interesse geral do público em se identificar com seu esporte favorito ou personalidade esportiva. (POZZI, 1998, p. 83). De maneira geral, o marketing esportivo é uma excelente ferramenta para ajudar a difundir uma marca, melhorar a imagem e até mesmo fixá-la melhor na mente do consumidor. As ações que envolvem o esporte podem atuar na dimensão institucional da marca agregando a ela os valores do esporte. “As empresas estão cada vez mais conscientes da necessidade de preservar suas marcas e divulgar sua boa imagem diante de um público consumidor cada vez mais exigente e menos fiel”. (MELO NETO, 2003, p. 33). Esse caráter institucional passível de ocorrer com ações de marketing esportivo e, principalmente, a capacidade de fidelização dos clubes perante seus torcedores dão ao marketing esportivo a visibilidade atual. As grande marcas começam a perceber e, com isso a separar, parte de suas verbas de comunicação para ações que envolvam o esporte e, no caso brasileiro, mais especificamente, que envolvam o futebol. Isso pode ser notado analisando a Figura 55, que mostra o crescimento das receitas geradas com publicidade e patrocínio nos clubes de futebol entre os anos de 2003 a 2010. 69 Figura 5 – Patrocínio e publicidade ublicidade (em R$ milhões) 400 335 350 300 270 250 200 150 100 71 50 0 2003 2009 2010 Fonte: SOMOGGI (2011, p. 8). 8 A explosão de 380% no crescimento nas receitas geradas com publicidade e patrocínio de 2003 para 2009 é reflexo não só da melhoria do ambiente de negócio do mercado brasileiro, mas também de uma mudança estratégica das empresas no trabalho associado a suas marcas e dos clubes de futebol, que começam a estruturar departamentos departamentos de marketing de modo mais profissional, a fim de possibilitar a criação de um canal direto e estreito com seus torcedores. Assim, conseguem auxiliar os patrocinadores a posicionarem e lançarem marcas e produtos no mercado, relacionar-se relacionar com um público variado e vender seus produtos e serviços. Esses números ficam ainda mais interessantes e mostram a capacidade da força de marca dos clubes de futebol brasileiro quando inserida na análise a CBF – Confederação Brasileira de Futebol, detentora de uma uma das marcas mais valiosas do cenário futebolístico – a Seleção Brasileira de Futebol – que sozinha arrecadou R$ 165 milhões com patrocínios e publicidade no ano de 2009 (SOMOGGI, 2011, p. 03). Ou seja, num cenário em que a receita com publicidade e patrocínio cínio chegou à casa de R$ 435 milhões, a CBF representa quase 38% do mercado total. Assim, analisando os números da CBF, através de seus balanços publicados, pode-se se perceber, além da receita total, um aumento do número de patrocinadores (Figura ( 6) interessados em atrelar sua marca à Seleção Brasileira, corroborando para a explicação de que 70 o mercado de futebol no Brasil começa a ser percebido pelas empresas e também pelos pe clubes para se tornar um alicerce no incremento de receitas. Figura 6 – Receita de patrocínios atrocínios da CBF (em R$ milhões) 70 60 50 40 30 20 10 0 Nike Itaú Vivo Ambev Traffic TAM Gillette Pão de Açúcar VW 2008 61 8 9 17 2 8 0 0 0 2009 59 34 31 20 4 7 4 3 3 Fonte: CBF (2008-2009) Claro que essa mudança também passa por um processo de transformação do olhar dos clubes sobre seus torcedores que, começam a ser vistos, pelos profissionais de marketing, como consumidores ou potenciais consumidores. Dessa maneira, os clubes podem definir uma nova missão, que é a satisfação do seu torcedor, não apenas com títulos ganhos, ganho mas também ao permitir que o torcedor vivencie o clube. Assim, como em qualquer ação de marketing, e nisso as ações geradas através do marketing esportivo não fogem à regra, o profissional precisa conhecer seu público-alvo público para que possa oferecer os melhores hores produtos a seus consumidores e direcionar os consumidores corretos para os patrocinadores. Faz-se Faz se necessário um acompanhamento deste consumidor. Saber quem ele é, quais são seus hábitos e seu comportamento. A relação de fidelidade do torcedor para com m o clube deve ser alcançada entre o consumidor e as marcas que apoiaram seu clube. O torcedor/consumidor no futebol é fiel por excelência em virtude do amor que sente pelo esporte e por seu clube. Enquanto em todos os setores as empresas lançam 71 marcas e buscam fidelizar seu consumidor, no futebol os clubes têm uma legião de consumidores ávidos por produtos de seu time. (SOMOGGI, 2011, p. 2). Por isso, os clubes de futebol, diferente de outros segmentos de mercado, encontramse em uma posição privilegiada com relação à marca, pois seu público-alvo, de maneira geral, já é altamente fiel. Mas essa fidelidade não pode levar o profissional a acreditar que não precisa trabalhar a marca de um clube; ao contrário, é necessário que se criem vínculos cada vez mais estreitos para reforçar, na mente do consumidor, o papel do clube além das quatro linhas que delimitam o campo de futebol9. Neste cenário, o marketing esportivo torna-se excelente para marcas que buscam construir, fortalecer, rejuvenescer sua identidade e conquistar novos mercados (AFIF, 2000, p. 33). Já, especificamente para os clubes de futebol, analisados como marca, nota-se uma necessidade de trabalharem mais a questão de equidade da marca. Essa equidade pode ser construída por meio de vários elementos do produto: extensões/mercadoria de produtos tangíveis; jogadores e treinadores que são astros; patentes/marcas registradas distintas; história e tradição; festival e espetáculo (HARDY et al, 2004, p. 107). O trabalho sobre tais elementos possibilita que os consumidores/torcedores vislumbrem o valor agregado da marca clube ao produto. 9 O consumidor de esportes será abordado no capítulo 4 deste trabalho. 72 CAPÍTULO 3 - UM ESPETÁCULO CHAMADO FUTEBOL Para transformar os clubes de futebol em grandes marcas e com isso trabalhar o torcedor como consumidor, é necessário, em primeiro lugar, romper com a visão apaixonada e lúdica do futebol como o esporte mais popular do Brasil e caracterizá-lo como entretenimento, ou seja, dentro do escopo dos grandes espetáculos. Dessa forma, os profissionais da área poderão avaliar melhor quem são seus reais concorrentes, diretos e indiretos, e fugir do que Levitt (1960) denomina miopia do marketing 3.1 Conceito A ideia de uma sociedade do espetáculo faz parte do discurso cotidiano e é comumente utilizada pelos meios de comunicação para aumentar a audiência, seja através da exploração de crimes ou da espetacularização de dramas humanos. O esporte, como não poderia deixar de ser neste contexto, tornou-se também um espetáculo. Não é à toa que três das maiores audiência televisivas do planeta comportem eventos esportivos: Copa do Mundo, Olimpíadas e o SuperBowl10. O conceito de sociedade do espetáculo foi usado pela primeira vez por Guy Debord, chefe da Internacional Situacionista,11 em seu primeiro ensaio, em 1967, cujo título era, justamente: A sociedade do espetáculo. Nessa obra, Debord descrevia as nações pósindustriais como obras de entretenimento e diversão de baixo nível. “Toda a vida das sociedades modernas nas quais reinam as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de ‘espetáculos’. Tudo o que era vivido diretamente tornou-se uma representação”. (apud PEREIRA, 2003, p. 70). Na sociedade atual, cuja velocidade de difusão e consumo dos produtos culturais atinge níveis dificilmente imaginados até bem pouco tempo atrás, ainda se faz presente a sensação de que somos objetos e não sujeitos de nossas ações. Essa sensação é 10 11 Nome dado ao evento da grande final do futebol americano. Pequeno grupo de extrema esquerda revolucionária que atuou na França e Itália até os anos 1970. 73 capaz de criar choques aos quais os consumidores estão submetidos nas mais variadas relações e situações cotidianas. A final da Copa do Mundo da França, em 1998, é o típico exemplo do espetáculo integral. Os fatos com o mito/herói Ronaldinho envolvem um conjunto tão impressionante de informações contraditórias, que se construiu uma história na qual a Nike, marca esportiva patrocinadora da Seleção Brasileira, era a responsável pela escalação do jogador na final contra a França. Quem construiu esta versão? Nem uma CPI no Congresso Nacional foi capaz de descobrir, mas ela passou a existir como verdade ou pseudoverdade. (NOGUEIRA, 1998, apud PEREIRA, 2003, p. 72). Nessas circunstâncias, tem-se a sensação de que tudo é verdade por mais impossível que seja de se provar. A sociedade apresenta-se como uma imensa acumulação de espetáculos. São esses espetáculos que estão em jogo, ou seja, a necessidade de ser identificado como alguém que se destaca diante dos outros, incentivando, muitas vezes, o surgimento de opiniões conflituosas, que originam várias alternativas de comportamento. Porém, a contínua subordinação das necessidades básicas em relação às de consumo estimula a construção de identidades que se reconhecem por meio desse ato: a luta pelo logotipo é uma luta contra a ausência de vestígios: tanto da própria pessoa como de seu mundo circundante. Daí o empenho frenético em descobrir signos esquisitos de identificação, que faz com que os jovens se pareçam com publicidade viva ambulante. (TURCKE, 2001, p. 17, apud PEREIRA, 2003, p. 74). É neste momento que o futebol pode enquadrar-se como ferramenta de marketing, reforçando a identidade baseada na mídia e, por que não, alimentando o mercado com produtos que serão consumidos de maneira rápida pelo torcedor, que, neste momento, transforma-se em consumidor e quer, de alguma forma, ser igual a seu ídolo. Quando uma empresa patrocina um atleta, não espera dele apenas o endosso em seus produtos, mas também mídia espontânea, mesmo que premeditada, transformando ações em produtos que possam ser consumidos pelos torcedores/consumidores. Exemplo claro disso ocorreu na final da Copa de 2002, quando Ronaldo, após o fracasso de 1998, surgiu com um corte de cabelo inusitado e , como destaca Pereira (2003), isso teve seu efeito imediato na mídia: 74 Por conta desse singular “penteado”, Ronaldinho fez um comercial para o Guaraná Antarctica (patrocinador da Seleção Brasileira), pelo qual recebeu cerca de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais). Milhares de pessoas no mundo inteiro, do Brasil ao Japão, fizeram cortes de cabelo semelhantes ao criado pelo jogador. Segundo o site www.esportebrasil.com.br, só na cidade de São Paulo, no dia em que o Brasil se tornou pentacampeão mundial, em 30.06.2002, com dois gols de Ronaldinho, aproximadamente, 3.000 pessoas cortaram o cabelo de forma semelhante; Segundo a empresa Clip-imagem, a exposição nas TVs brasileiras do corte de cabelo de Ronaldinho só foi inferior aos dois gols da vitória do Brasil e do jogador Cafu erguendo a taça. Portanto, foi a quarta imagem mais mostrada pelas emissoras de televisão do país. Como ele foi o autor dos dois gols, o corte do seu cabelo foi o destaque midiático do final da copa. (PEREIRA, 2003, p. 75). Portanto, para que possam continuar a ser percebidos, na chamada sociedade do espetáculo, os produtos da indústria do entretenimento necessitam ser expostos por meio de estímulos cada vez mais agressivos, caso contrário correm o sério risco de ser descartados antes do tempo necessário para ser comercializados. 3.2 Espetáculo e a imagem O espetáculo é uma relação entre forças singulares que, se bem realizado, pode favorecer a criação de valor para as marcas que estão associadas a ele: A Sociedade do Espetáculo reforça sobremaneira as imagens, os símbolos, os logotipos, enfim, as marcas. Em uma garrafa do refrigerante coca-cola, transformado em valor monetário, quanto representa efetivamente o bem, o trabalho humano necessário à sua produção e o valor intangível da marca? (PEREIRA, 2003, p. 77). É neste momento, então, que identificamos o uso do esporte para potencializar o valor de uma marca, que, inúmeras vezes, supera o valor real da produção, criando o conceito do valor agregado a marca. Como já debatido no capítulo 2 deste trabalho, não são apenas os clubes de futebol que buscam, através do esporte, criar suas marcas, mas grandes marcas, dos mais variados segmentos também percebem no futebol um canal de comunicação capaz, não só de alavancar vendas, mas de dar retorno institucional a elas. As grandes marcas já disponibilizam parte de suas verbas de marketing e comunicação em estratégias no esporte. As empresas atrelam um de seus principais ativos no esporte por 75 meio de investimentos em eventos, atletas, propriedades esportivas e novos canais de distribuição de seus produtos, além de poderem utilizar o interesse dos consumidores pelo esporte para a divulgação de promoções e campanhas publicitárias e para reposicionar e rejuvenescer suas marcas e fidelizar seu consumidor. Os benefícios de associar a marca ao esporte são muitos, como podemos ver através da Tabela 6. Tabela 6 – Percepção do consumidor através do esporte Questão % Entendem que patrocínio dá seriedade à marca. 71% Recomendam as marcas patrocinadoras. 64% Sentem confiança em comprar o produto. 62% Gostam de vestir a camisa dos patrocinadores. 58% Identificam-se com ela e procuram falar bem dela. 56% Consideram as marcas patrocinadoras de status elevado. 63% Acham que são as mais respeitadas. 57% Acham que são mais sérias. 52% Fonte: Instituto de Pesquisa Interscience/Meio & Mensagem (2009) Neste momento podemos ver o espetáculo futebol como a entrega de um serviço. Não basta que os torcedores/consumidores paguem pelo entretenimento futebol. É necessário que eles façam parte do espetáculo, interajam das arquibancadas e o vivenciem. Para tornar esta exploração mais eficiente e muito mais lucrativa, estádios de futebol estão sendo modernizados, ou demolidos para a construção de novos, de quarta e quinta geração, denominados Arenas Multiuso. Nestes complexos de entretenimento e lazer, o torcedor irá transformar toda sua paixão em consumo, desde o hipotético sanduíche “Mc-mengo” até o uniforme do artilheiro da partida, vendido via internet, logo após o jogo e entregue pelo jogador pessoalmente, tudo isto gravado em DVD para, também, ser vendido ao “apaixonado consumidor”. (CARNEIRO, 2003 apud PEREIRA, 2003, p. 79). O torcedor/consumidor acaba por ajudar a valorizar o espetáculo pelo qual pagou e a reforçar o valor das marcas que estão patrocinando tal espetáculo. Não é a toa que os grande clubes estão investindo tanto em seus estádios, hoje chamados de arenas multiuso. Os clubes perceberam que os estádios podem ser fontes de receitas interessantes quando ações são desenvolvidas para esse fim. Os estádios também ajudam a reforçar a marca do clube, criando 76 patrimônio para o clube e, por consequência, para o próprio torcedor, que se sente dono de seu clube de coração e faz dessa arena sua segunda casa. Assim, o torcedor assume papel importante nas ações esportivas. Deixa de ser um mero coadjuvante do espetáculo e ganha destaque. Ele é alvo dos clubes e seus patrocinadores, que irão preparar as estratégias de marketing para abordá-lo e, conforme demonstrado no capítulo 2 deste trabalho, transformar a experiência dele, no estádio, em algo único. Ao mesmo tempo, é parte do espetáculo, ajudando no processo de valorização das marcas associadas, não só incentivando o clube com a torcida, mas também exercendo seu papel de consumidor, mesmo nas arquibancadas, papel que passa a ser cada vez mais reconhecido (Tabela 7). Tabela 7 – O torcedor como parte do espetáculo Questão Qual a importância do torcedor nas arquibancadas para o espetáculo de futebol? Avaliação do papel da torcida na arquibancada Muito importante Percentuais 32% Fonte: PEREIRA (2003, p. 79). Importante Pouco importante Não importante NS/NR 45% 9% 6% 8% Esse processo de consumo inicia-se antes da entrada do consumidor no estádio. A própria decisão de ir ao estádio é o pontapé inicial do processo de compra do consumidor esportivo, ou seja, é a primeira decisão de consumo que ele irá tomar entre muitas outras que farão parte de sua experiência no estádio. Por isso, os profissionais da área de marketing dos clubes não podem tratar o jogo como apenas uma partida, mas sim como um evento esportivo, um espetáculo, e criar um ambiente não apena acolhedor para o consumidor, mas um ambiente que impulsione o consumo de inúmeros produtos, tal e qual fazem os parques de diversão temático da Disney. Neste processo, a mídia ajuda, por meio de emoções preconfeccionadas, a criar uma relação de intimidade que faz ignorar o resto do mundo e constrói emoções em torno de mitos. Nesse sentido, o futebol é um nascedouro de mitos no imaginário popular brasileiro (GIGLIO, 2007). Temos claros exemplos disso nas transmissões ufanistas realizadas pela Rede Globo de televisão na defesa dos ídolos do futebol, na criação dos heróis nacionais ou mesmo na necessidade de alavancar a audiência através do jargão: “determinado time é o Brasil na 77 Libertadores”. Isso acontece também porque a mídia acaba selecionando quem pode ou não aparecer. O escritor norte-americano Gore Vidal afirma, por exemplo, que a TV é um veículo de marketing simultâneo: vendas de bens de consumo e dos interesses do Estado. Reforça-se essa ideia ao se pensar como a Rede Globo monopoliza o astro Ronaldo e usa o programa Fantástico para fazer anúncios exclusivos que envolvam o centroavante para polemizar, seja sobre seu acesso de peso, seja a respeito de sua aposentadoria ou até mesmo de seu novo corte de cabelo. A mídia ajuda no processo de espetacularização do futebol ao construir a própria relação deste como esporte de massas e seu apelo ao torcedor/consumidor. Após a análise de valores e condutas construídas em torno do futebol, o passo final para discutir a relação do futebol com a sociedade do espetáculo é fazer referência a dois aspectos. Primeiro, observar como o futebol transforma-se de um jogo ocasional a uma atividade que adquire os elementos iniciais de espetáculo de massas. Em segundo lugar, como as instituições do futebol consideram necessário criar formas de autogoverno para organizar, regulamentar e controlar o desenvolvimento do futebol. 3.3 Espetáculo da massa Embora estivesse muito longe do que é na atualidade, o futebol começou a adquirir características iniciais de espetáculo de massas, quando se manifestaram, de maneira incipiente, três elementos: a aparição dos campos esportivos, o surgimento do público aficionado em assistir o futebol e a organização dos primeiros torneios e competições de futebol. Inicialmente, a prática do futebol não era realizada em terrenos destinados especialmente a isso. Os primeiros clubes tomaram como terreno de jogo qualquer área de amplas dimensões que tivessem uma superfície sem desníveis pronunciados. Diante da necessidade de campos esportivos para o crescente número de aficionados, os clubes e as autoridades criaram condições para a construção ou adaptação de áreas desocupadas como terrenos esportivos. Os clubes que contavam com campos próprios eram uma minoria. Inicialmente, nas partidas do final do século XIX e início do XX, a assistência reduziase a membros da comunidade britânica e das elites, ou mesmo só a alguns familiares. As 78 partidas assemelhavam-se a uma reunião de membros da alta sociedade, em que se ressaltava a aparição de tal ou qual família ou determinados personagens. Mas com a mudança de século, e ao longo da primeira década, lenta e progressivamente, a composição social dos torcedores foi sendo modificada, incorporando-se jovens estudantes e membros dos setores populares. Em que pese isso, para as elites, a assistência a um jogo de futebol mantinha seu caráter de evento social. Também nesse período, a assistência de mulheres era usual. Essa modificação do público presente ao evento incidiu diretamente na formação do futebol como espetáculo fazendo-o mais amplo, diverso e até mesmo cultural. Imaginemos o perfil do torcedor hoje e façamos uma reflexão de como eram esses primeiros torcedores, vendo a narrativa de uma partida disputada entre dois times cariocas: seguiam com interesse e entusiasmo crescente as peripécias da luta sportiva que sustentavam que se o entusiasmo dos jogadores de ambos os bandos foi grande durante todo o match, maior foi o do público. As mil pessoas aí presentes seguiam as incidências do football com crescente interesse e em um estado de tensão nervosa que os fazia prorromper em aplausos e aclamações entusiastas quando um dos jogadores executava algum lance decisivo ou de mérito. (A GAZETA DE NOTÍCIAS, 1921, p. 21). Porém, nem tudo era harmonia. Os campos esportivos havia sérios problemas, inclusive desconforto para o público presente. Na realidade, nem poderiam ser chamados de campos, ao menos não esportivos, pois se tratava de terrenos sem nenhum tipo de preparação adequada. Como careciam de tribunas, os torcedores agrupavam-se ao redor do campo, em que não havia separação entre público e jogadores. (CALDAS, 1990. Mas os problemas de infraestrutura nos campos esportivos não eram os mais graves. Nessa época, já podemos perceber o aumento do nível de rivalidade entre as equipes, a ocorrência menos frequente do fair play, cuja falta originava diversos conflitos. A vontade de vencer afetava não apenas os jogadores, mas também o público. No relato a seguir, a respeito de uma partida do Bangu em 1908, ressalta-se a boa atuação das equipes e mostra-se a participação dos torcedores: satisfeitos devem ter ficado ambos os clubes do desafio de ontem, e esta satisfação seria maior se estivesse atenuada pelas manifestações hostis, incultas e que envergonham, que fez contra os do Bangu certa gente do povo no transcurso do jogo. Além de ser descortês, revela um espírito mesquinho, quanto mais quanto que 79 essas manifestações eram feitas a cavalheiros estrangeiros a quem devo respeitar em todo caso em troca os elevens de ambos os clubes, uma vez concluído o interessante match que nos ocupa, prorromperam em vivas mútuos, tanto para vitoriosos como para vencidos. (CORREIO DA MANHÃ, 1908, p. 17). Data dessa época o crescimento dos clubes que, hoje, são os mais populares do Brasil: Corinthians e Flamengo. Vemos também a introdução do negro no campo de futebol, com o Vasco da Gama. Essas pequenas facetas marcaram a transformação do futebol, de uma prática de imigrantes britânicos e um espetáculo de elite, que esteve fundamentado em seus valores oligárquico – o cavalheirismo, a honra, o racismo – naquilo que atualmente denominamos como o esporte mais popular do planeta. (HAMILTON, 2001). Nesse cenário, o futebol formou um novo público, cada vez mais ávido para torcer e assistir às melhores partidas. O novo público começa a ver no futebol uma forma de expressão legítima da sociedade que estava sendo construída. Saíam de cena os valores oligárquicos, de uma sociedade britânica inexistente no país, para dar lugar aos ideais das classes mais populares e médias, que começam a ver no futebol uma forma de entretenimento para ele e para a família. Temos, nesse momento, a construção de um novo torcedor, que não tem mais o interesse no fair play, mas torce, vibra e procura achar sua representatividade nos clubes de futebol existentes, dando personificação à entidade clubística. Os clubes eram instituições que sobreviviam de várias formas. Em primeiro lugar, das contribuições dos sócios que, geralmente, não eram regulares e, na maioria das vezes, limitavam-se ao número de membros. O segundo meio eram os favores dos presidentes e sócios honorários. Aqui identificamos a construção do alicerce que sustenta os maiores clubes até hoje e que expressa uma relação paternalista que, sem dúvida, reproduzia valores da sociedade na esfera clubística. O terceiro meio foram as atividades extracampo, que podem ser consideradas as primeiras ações de marketing entre clube e torcedores: as promoções de atividades extradesportivas como funções de cinema, teatro ou festas e que fortalecem a fidelização do torcedor. Não se trata apenas de torcer para um clube, mas fazer parte dele, de alguma forma. Nesse cenário, surgem os campeonatos, como uma maneira mais segura de conseguir receitas para os clubes como pagamento pelas inscrições das outras equipes e, principalmente,a arrecadação das bilheterias. (CALDAS, 1990). 80 Os aspectos políticos da sociedade brasileira no começo do século XX também influenciaram na estruturação do futebol. As classes médias e populares já tinham estabelecido diferenças em relação aos clubes de elite, embora eles seguissem sendo os mais prestigiosos. Porém, a inclusão de novos centros para a prática do esporte, da escola aos bairros e centros trabalhistas, significou para os jovens uma maior oferta de espaços para a prática do futebol. Para as classes médias, esse se tornou um meio de afirmarem-se, serem reconhecidas e diferenciarem-se socialmente. (HAMILTON, 2001). A competição era um valor familiar para elas, cultivado nos campeonatos escolares e, na Liga, que favorecia uma competição mais justa, com a participação de todos os clubes, via-se a possibilidade de se demonstrar quem era os melhores. Assim, tornava-se possível conquistar prestígio e reconhecimento, que era uma forma de legitimidade para as emergentes classes médias, enquanto, para os novos clubes, era um intento por diferenciar-se e distanciar-se. Assim, o futebol formou-se no Brasil e se modificou, saindo do solo britânico como um jogo de reis para se transformar num jogo popular, assumindo ares novos, atraindo um novo público e crescendo. Dessa forma, transformou-se no esporte mais popular do mundo e, no caso especifico do Brasil, assumiu tamanha popularidade que praticamente chega a ser único. Neste cenário, nota-se a formação do torcedor e a criação do processo de fidelização. Torcer é a forma de fazer parte de um grupo, de identificar-se com ele e de mostrar-se socialmente. É também a forma que a classe média teve de se mostrar igual perante a elite dominante do país. A força do futebol como alicerce de modificações da sociedade pode ser encontrada anos à frente também, na ditadura militar, quando o governo da época usou o futebol como elemento de comunicação com o povo, fosse apoiando a Seleção em Copas do Mundo ou construindo campeonatos em que participavam centenas de times, de forma a agradar ao maior número de pessoas, como reforça o refrão popular criado no lançamento do 1º Campeonato Brasileiro de futebol: “Onde a Arena vai mal, um time no nacional”. Com o aumento do número de participantes do Campeonato Brasileiro ano a ano – em 1979, por exemplo o torneio foi disputado por 94 clubes – um novo refrão foi criado: “Onde a Arena vai mal, um time no nacional. Onde a Arena vai bem, um time também.” 81 Assim, é possível identificar, ao longo da história da consolidação do futebol no Brasil, como ele se transformou em um grande espetáculo. No presente capítulo, buscou-se identificar o papel do torcedor nesse espetáculo e a atuação da mídia sobre a construção do novo ambiente de negócio que se forma, pois a visão do futebol como negócio, conforme apresentado, é recente para o mercado brasileiro. Nesse novo cenário, o futebol não pode ser apenas uma atividade de lazer. Empregando o léxico futebolístico, o jogo mudou e tornou-se necessário perceber se os jogadores estão prontos para a partida. Há tempos o futebol deixou de ser uma atividade de lazer. A partir do momento que começou a envolver milhões de fãs, tornando-se o esporte mais popular do planeta, e a movimentar bilhões de dólares em toda sua cadeia, não se pode mais ver o futebol como um simples esporte e sim como um espetáculo, uma atividade da indústria do entretenimento. A importância do esporte para essa indústria é indiscutível. Basta ver a disputa existente entre os mais variados países para receber as principais competições esportivas –. Olimpíadas, Copa do Mundo, Mundiais de Ginástica, Natação e muitos outros –, que têm força suficiente para transformar cidades, regiões ou países quando estes investem em infraestrutura, além de divulgarem maciçamente as cidades e países sedes pelo mundo a fora. Todos estes eventos tiveram a ajuda da mídia para se potencializar e a prova maior disso é a realização das Olimpíadas e da Copa do Mundo, que, há muito deixaram de ser simples jogos esportivos em que, nas palavras do Barão de Coubertin, “o importante é competir”, para se tornar os dois dos maiores espetáculos da terra, tanto em audiência como em faturamento. O futebol, mais do que qualquer outro esporte, soube aproveitar-se do poder de potencialização da mídia para crescer e fortalecer-se. A Fifa, com apoio da Coca-Cola e da Adidas, efetivaram a globalização do futebol contando com o apoio da TV (SMIT, 2007) e o transformaram no maior espetáculo do planeta. O crescimento do número de TVs especializadas em esporte, assim como de rádios, mostra o poder midiático do segmento e como ele, sozinho, é capaz de movimentar milhões de fãs (REIN et al, 2008). Essa relação do esporte, principalmente do futebol, com a mídia ajudou a mudar o futebol de lugar, que, de uma atividade de lazer, passou a ser uma atividade 82 de entretenimento e, com isso, um negócio, em torno do qual gira toda uma indústria, que movimenta bilhões de dólares anuais. Essa mudança do foco do negócio atingiu não somente o público, mas também os clubes, que fazem parte do espetáculo. Já há algumas décadas que essa mudança atingiu a Europa e forçou os clubes a tratarem o futebol não mais como um esporte e sim como um negócio. Esse tratamento não está ligado, necessariamente, à maneira formal como o clube se constitui. Na Europa, encontramos dois casos que exemplificam bem que a relação futebol/negócio não está na constituição oficial da organização e sim na raiz de sua gestão. Manchester United e Real Madrid são os dois clubes com as marcas mais valiosas do planeta, respectivamente, e são antíteses disso quando analisados por sua constituição formal. Assim, por um lado, há, no Real Madrid, uma associação típica à dos clubes brasileiros, já que não é uma empresa formal, mas, nem por isso o clube madridista deixa de pensar de forma estratégica, tanto que muitos dos exemplos levantados neste trabalho (capítulo quatro), foram inspiradas nos modelos criados pelo clube espanhol. Por outro lado, há o Manchester United, formalmente constituído e com ações na bolsa de valores, que, assim como seu rival espanhol, faz seu planejamento estratégico e de marketing visando ao mercado mundial. No próximo capítulo, será apresentado o estudo realizado com a intenção de identificar quais são os modelos de ação de marketing que os clubes brasileiros estão adotando e como essas ações estão gerando impactos no valor da marca dos clubes. Será apresentado, também, o resultado da pesquisa de campo realizada para identificar os hábitos de consumo do torcedor brasileiro e verificar se as ações realizadas pelos clubes estão potencializando o consumo desse torcedor. 83 CAPÍTULO 4 - VALOR DAS MARCAS DOS CLUBES BRASILEIROS E AS AÇÕES DE MARKETING Este capítulo irá abordar as ações de marketing que diversos clubes brasileiros têm feito para atrair novos consumidores e/ou torcedores, bem como qual o impacto dessas estratégias sobre as receitas dos clubes e as condições criadas para transformar os clubes de futebol em grandes marcas no mercado nacional. Serão analisados também os hábitos de consumo do torcedor de futebol, com base nos dados coletados na pesquisa realizada por este pesquisador e, para fundamentar melhor, em pesquisa realizada em maio de 2010 pelo jornal Lance! e grupo Ibope. 4.1 Os clubes mais valiosos do Brasil Se as desigualdades do Brasil, tanto financeiras quanto sociais, são amplamente conhecidas, o futebol, infelizmente, é um reflexo do contexto histórico nacional. As diferenças existentes entre o Norte/Nordeste e Sul/Sudeste, que, muitas vezes, revelam dois Brasis, tornam-se evidente quando identificados os 11 clubes com as marcas mais valiosas do Brasil, concentrados na região Sul/Sudeste (Figura 7). É interessante analisar também o crescimento do valor da marca dos clubes, nos últimos anos (Figura 8). A explosão ocorrida de 2004 para 2009 reflete a mudança de cenário, já comentada no capítulo 2 deste trabalho, que possibilitou aos clubes brasileiros aprimorarem seus departamentos de marketing, focar suas ações sobre o consumidor e o patrocinador e, com isso, aumentar suas receitas. 84 Figura 7 – Ranking 2010 dos clubes lubes como marca (valores em R$ milhões) 89,9 Botafogo Fluminense 104,2 Atlético-MG 110,3 139,6 Cruzeiro Santos 153,3 Vasco da Gama 156,5 222,8 Grêmio 268,7 Internacional 444,1 Palmeiras 625,3 Flamengo 659,8 São Paulo 749,8 Corinthians 0 100 200 300 400 500 600 700 800 Fonte: SOMOGGI. (2011, p. 7). 7 Figura 8 – Crescimento do valor da marca dos 12 maiores clubes (em R$ bilhões) 4 3,72 3,5 3,24 3 2,5 2 1,72 1,5 1 0,5 0 2004 2009 2010 Fonte: SOMOGGI., (2011, p. 5) A evolução de R$ 1,52 1,52 bilhões, ou 88%, no valor das marcas acumuladas, é um forte sinal da presença consolidada das ações de marketing esportivo e de uma administração mais profissional dos clubes. Com isso, as receitas oriundas de estádio, sócios e mídia aumentaram, 85 assim como o interesse dos patrocinadores e os valores investidos (Figura Figura 9). Isso também gerou uma ampliação nos valores das receitas de TV, amplamente divulgados pelo mídia, mídi e uma maior participação do torcedor nas receitas geradas pelos clubes. Porém, não podemos deixar de considerar que o aquecimento da economia brasileira e a melhora da renda dos consumidores, com a passagem da classe D para a classe C, que se transformou transformo na maior classe da sociedade brasileira, também influenciou na valorização das marcas dos clubes brasileiros. Figura 9 – Divisão das receitas receitas dos clubes brasileiros (em R$ milhões) 400 335 350 300 300 270 280 270 249 250 200 150 100 89 71 56 50 0 Social e Amador 2003 Patrocínio e Publicidade 2009 Bilheteria 2010 Fonte: SOMOGGI (2011, p. 7). 7 Esse aquecimento da economia, junto com o crescimento da classe C, não ajudou apenas na valorização das marcas dos clubes de futebol brasileiros, mas também no aumento de suas receitas. Com isso, esses clubes conseguiram um faturamento recorde no ano de 2010, atingindo R$ 2,19 bilhões, um crescimento de 171% em relação ao ano de 2003. (SOMOGGI, ( 2011). Mais uma vez, é possível identificar, nos números apresentados, o crescimento da representatividade do torcedor no aumento dos valores (Figura ( 10). ). As receitas que sofrem influência ncia direta do consumidor – patrocínio e publicidade; cotas de TV e bilheterias – saltaram de R$ 568 milhões para R$ 719 milhões, es, um crescimento na ordem de 26,5% 2 em apenas um ano. Já a receita gerada com a transferência de atletas teve uma pequena redução. 86 Tal fato demonstra que, ao investir em sua marca, os clubes estão conseguindo aumentar suas receitas baseadas na transformação do torcedor em consumidor e, com isso, is diminuir a dependência com a venda de atletas para o exterior. Figura 10 – Receitas dos clubes brasileiros 350 300 250 200 150 100 50 0 Transferên cia de atletas Cotas de TV Patrocínio e Publicidade Social e Amador Bilheteria Outras Receitas 2009 211,7 265,4 158,2 169,7 144,4 125 2010 208,2 319,9 249,3 191,6 149,8 172,4 Fonte:: baseado em SOMOGGI (2011)12 O trabalho de valorização da marca também se mostra eficiente quando analisamos as receitas totais (Anexo C). ). Dos 12 clubes que possuem as marcas mais valiosas, valiosas apenas o Botafogo não está na lista dos 12 clubes com maiores receitas, porém se encontra encontr na 13ª posição, tendo sido superado pelo Atlético-PR. Atlético O Corinthians é o clube brasileiro que gerou mais receitas em 2010, totalizando R$ 212,6 milhões. No entanto, o Santos foi quem registrou a maior variação positiva em relação a 2009, aumentando as suass receitas em 66%, mais R$ 46 milhões (€$ ( 19,9 milhões), do que no ano anterior. Essee fato comprova que o resultado dos clubes nas competições em que participam, atrelado a um bom programa de marketing, marketing pode ajudar a incrementar o faturamento. 12 Para a confecção da tabela,, foram utilizadas informações relacionadas àss oito maiores receitas de cada categoria. Dessa maneira, em cada receita podem estar incluídos valores de clubes diferentes. Tal critério foi adotado para explorar as receitas mais altas em cada categoria, categoria indiferentemente de clube. 87 4.2 As ações dos clubes Os profissionais de marketing, ao verem uma arquibancada lotada, devem enxergar não milhões de torcedores, mas sim milhões de consumidores, apaixonados e, acima de tudo, fiéis a uma única marca: o clube. Os clubes brasileiros perceberam que as estratégias de marketing vão muito além da venda de camisa e produtos licenciados. No Corinthians, o faturamento com marketing cresceu de R$ 50 milhões 2008 para R$ 160 milhões em 2010 (SPORTVNEWS, 2010). O jogador Ronaldo e as ações de marketing do clube explorando sua imagem foram um forte impulso nesse crescimento, como declara o diretor de marketing do clube, Luís Paulo Rosemberg, em entrevista para a Sportvnews: A autoestima da Fiel subiu uma barbaridade com Ronaldo. É um orgulho, é uma sensação de que nós trouxemos o herói que a gente merecia e o nível de rejeição do Corinthians caiu muito. Ele veio de graça. O jogador mais barato do elenco do Corinthians é o Ronaldo. O que ele gera, além da parte que fica para ele, cobre os custos do Corinthians. (SPORTVNEWS, 2010). A elevação do faturamento pode ser explicada analisando as diversas ações que o clube criou ao longo destes três anos. Só em 2008, no primeiro ano da gestão de André Sanches como presidente e de Rosemberg com diretor de marketing, o clube lançou seis camisas diferentes para seus consumidores, uma agência de turismo, especializada em pacotes para levar a jogos fora de São Paulo ou para trazer torcedores de fora de São Paulo a jogos na capital, uma TV pela internet e o programa Fiel Torcedor, programa de fidelidade para o torcedor corintiano. Um dos grandes sucessos de venda do clube, que demonstra bem essa relação de fidelidade e paixão do torcedor, aconteceu com a queda para a segunda divisão do time no Campeonato Brasileiro. A camisa com a frase “Eu nunca vou te abandonar”, refrão muito utilizado pela torcida nos estádios, rendeu, em dez meses, R$ 1,2 milhões para o clube, com mais de 200 mil camisas vendidas neste período e a marca impressionante de, em um único dia, vender 20 mil peças. (HECICO, 2008). 88 Não é à toa que o Corinthians vem se destacando, nos últimos anos, na área de marketing. Com ações agressivas, o clube vem aumentado o número de produtos licenciados, bem como investindo no sistema de franquia da marca Todo Poderoso, que hoje já conta com 98 lojas, espalhadas em 47 cidades em quatro estados, considerando o Distrito Federal. A maioria das lojas, 92, ainda se concentra no estado de São Paulo, o que é natural e mostra a força deste clube no estado. O aumento no número de lojas está atrelado à expansão da marca do clube, rompendo as quatro linhas do campo de futebol e aproximando-se do consumidor. A contratação de Ronaldo foi, sem dúvida, um fenômeno de sucesso para o marketing esportivo brasileiro. Para o Corinthians, os benefícios transcenderam e muito o aspecto financeiro, pois está-se falando de marca, do Corinthians, mas também de Ronaldo. A sinergia que essas duas grandes marcas geraram foi enorme e resultou num saldo muito positivo para o Corinthians. A assessoria do time, no dia da apresentação oficial de Ronaldo como jogador do Corinthians, informou que 400 jornalistas dos mais diversos países, como Itália, França, Espanha e até Arábia Saudita, cobriram o evento. Ao todo, 24 equipes de televisão do mundo inteiro estavam no Parque São Jorge para cobrir sua apresentação, que foi até transmitida ao vivo na internet pelos principais portais brasileiros. Importantes jornais no mundo, como o Clarín da Argentina, Telegraph da Inglaterra, La Gazzetta dello Sport da Itália, Mundo Desportivo e El País da Espanha, entre outros, não fizeram por menos. Até o site da Fifa deu sua contribuição. O impacto da contratação na exposição da marca Corinthians foi enorme tanto fora do Brasil, mas também aqui dentro, entre seus fiéis torcedores, como mostra texto publicado no site O Globo, no dia da chegada do ídolo: A manhã desta sexta-feira tornou-se inesquecível para os mais de 20 milhões de corintianos. A contratação de Ronaldo tocou o coração dos amantes do Timão e a atenção de todos os envolvidos com o futebol, no Brasil e no resto do mundo. No Parque São Jorge, os seis mil sortudos que trocaram 1 kg de alimento por um ingresso para ver o Fenômeno estavam enlouquecidos, mais do que o normal, já que a própria Fiel e, agora, o maior artilheiro da História das Copas do Mundo, se intitulam parte de “um bando de loucos”. Desde as primeiras horas da manhã, uma multidão de torcedores já entoava gritos de guerra e louvor ao Alvinegro dentro e fora da sede do Corinthians, na Zona Leste de São Paulo. Ronaldo era o assunto em qualquer roda de conversa e todos sentiam-se privilegiados por vivenciar aquele momento: torcida, imprensa, funcionários do clube e todo tipo de gente. (GLOBO, 2008). 89 Outro fator importante para o Corinthians foi a parceria com a Nike, empresa em fornecedora de materiais esportivos. Além de inovar nos modelos de camisas do clube, o chamado terceiro uniforme, a parceria rendeu bons frutos financeiros nos últimos anos (Figura ( 11). Figura 11 – Faturamento Corinthians/Nike (Em R$ milhões) 33 35 30 25 20 15 17 12 10 6 3 5 0,5 3 5 0 0 Patrocínio de Uniforme 2007 Produtos Licenciados 2008 Loja Todo Poderoso Timão 2009 Fonte: adaptado de EXAME,, 2010. O Botafogo, equipe tradicional do Rio de Janeiro, encontrou dentro de campo cam um de seus maiores produtos: o jogador Loco Abreu. Marcelo Guimarães,, diretor de marketing do time, comenta: Ele tem uma imagem rebelde, a cabeleira dele e tal.. Por outro lado é um jogador extremamente disciplinado, é um exemplo dentro do clube. Ele, pelo p que entendo, agrada as meninas, as mulheres, já que é um rapaz bem apessoado. Ao A mesmo tempo é bom de bola. Quer dizer ele tem um conjunto de características que fazem dele um produto muito interessante. (SPORTVNEWS, SPORTVNEWS, 2010). Oss números apresentados pelo clube carioca com a venda de camisas do jogador comprovam o que o diretor de marketing do clube carioca diz. A camisa, camisa chamada de Celeste Alvinegra, criada para venda relacionada a Loco Abreu, transformou-se, transformou em apenas três meses, no maior sucesso comercial da história do clube, com 12 mil camisas vendidas, 90 perdendo apenas para a vendas acumuladas da camisa oficial do clube. (SPORTVNEWS, 2010). No Sul, o Internacional também viu seu faturamento com marketing aumentar em mais de dez vezes nos últimos quatro anos. Passou de R$ 600 mil em 2006 para R$ 6,5 milhões em 2010. (SPORTVNEWS, 2010). Porém, a maior receita do clube em 2010 não foi com a venda de um produto específico e sim com a utilização do estádio Beira-Rio como uma verdadeira arena multiuso. Assim como a venda do Estádio dos Eucaliptos, que injetou mais R$ 21,6 milhões nos cofres do clube, a apresentação do ex-beatle Paul McCartney transformou-se numa ação assertiva do clube gaúcho, como comenta o diretor de marketing Jorge Avancini. A diretoria aceitou o desafio e fechou junto com os produtores muito mais pela imagem, pela reprodução mundial que vai dar esse show. Que já vem dando. Isso é a marca do Internacional que está presente no mundo inteiro, somando ainda a ida ao mundial. Isso não tem preço. São coisas que você não tem como mensurar. (SPORTVNEWS, 2010). A utilização do estádio como arena é um dos modelos mais usados pelos grandes clubes da Europa. Como apresentado no capítulo 1 deste trabalho é também um ponto crítico para o sucesso de qualquer clube, pois o estádio pode e deve transformar-se num ponto de venda da marca e também em um local onde o consumidor consiga vivenciar sensações únicas de prazer. No Brasil, um dos, se não o primeiro clube, a ver isso foi o São Paulo, que transformou o Morumbi na casa de espetáculos mais importante do país. Em 2010, recebeu nove shows de grande porte, os chamados mega-shows internacionais, e ajudou a elevar as receitas com marketing em 2010 para R$ 105 milhões. (SPORTVNEWS, 2010). O São Paulo foi também o primeiro clube, no Brasil, a introduzir a ideia de lojas conceitos, ou seja, lojas especializadas em comercializar produtos do próprio clube. A primeira loja, em parceria com a Reebok, fornecedora de material esportivo do clube, foi inaugurada dentro do Morumbi, sob as arquibancadas, em conjunto com o primeiro bar temático em estádios brasileiros. Mas o clube preocupa-se em vender produtos não apenas em suas lojas, mas em todos os locais que seu torcedor estiver. Nesse sentido, comenta Adalberto Batista, diretor de futebol do time: “Até pouco tempo atrás poucas pessoas acreditariam que 91 iriam no supermercado e no lugar da marca A, B ou C comprariam o arroz do São Paulo. É uma coisa inusitada.” (SPORTVNEWS, 2010). As ações de marketing do São Paulo também buscam fugir do comum. Nos últimos anos, o clube lançou diversos DVDs em homenagem aos títulos brasileiros conquistados, assim como para comemorar o centésimo gol na carreira de Rogério Ceni. Além disso, foi produzido um filme, intitulado O Soberano, para falar do clube. Com o lançamento do filme, exacerbou-se a rivalidade fora de campo entre os dois maiores clubes paulistas, o Corinthians e o São Paulo. O documentário são-paulino, que desbancou o longametragem corintiano, Fiel, no primeiro fim de semana de exibição nos cinemas nacionais, com uma bilheteria 20% no primeiro fim de semana de apresentação, foi assistido por 18.010 espectadores e teve renda de R$ 203.509,02. (IG, 2010). O clube paulista também inovou a fechar parceria com a Warner Bros para lançar produtos com os personagens Looney Tunes vestindo o uniforme tricolor. Os personagens Taz e Pernalonga foram os primeiros testados, seguidos de outros produtos. Além disso, em parceria com a Reebok, o São Paulo inovou com a linha 4-3-3, em alusão aos títulos de campeão brasileiro, da Libertadores e do mundo. O sucesso de vendas garantiu a continuidade do projeto com o lançamento da 5-3-3 e da 6-3-3, cada vez que o clube conquistou um novo título brasileiro. A diretoria do São Paulo foi uma das pioneiras no Brasil a elaborar um planejamento visando o crescimento da torcida. O objetivo do clube é ter a maior torcida do país até 2016. Para isso, o foco da ação do clube é investir em criação entre os seis e doze anos. O plano de estratégico do São Paulo é baseado em três pilares: fortalecer a marca São Paulo Futebol Clube; atrair novos torcedores e melhorar o resultado financeiro do clube. (ADEMAR; ELUSTONDO, 2006). Para sustentar as ações propostas, o São Paulo apoia-se em seu estádio e prevê uma série de melhorias na principal vitrine do clube (Tabela 8): 92 Tabela 8 – Estratégia de crescimento do São Paulo FC Melhorias no estádio do Morumbi construção de um mini-shopping dentro do estádio criação de um complexo de entretenimento e lazer dentro do estádio melhora arquitetônica do estádio (modernização de alguns setores) ampliação de parcerias dentro do estádio aumento da ocupação (não confundir com aumento da capacidade) ampliação dos camarotes corporativos no anel intermediário e inferior do estádio Fonte: baseado em PERRONI. (2002-2003). Além das melhorias no estádio, o Plano Piloto de Marketing do clube pretende lançar uma série de novos produtos e serviços, tais como: um canal de televisão, a Faculdade Reffis13, lançamento do título de capitalização14. O São Paulo FC também inovou com uma série de ações visando a fortalecer a marca, adquirir novos fãs e aumentar a renda do clube, nos últimos anos: o batizado Tricolor; a criação da Embaixada São-Paulina, que seria a escolha de um representante tricolor em cada estado ou cidade do Brasil para divulgar a marca junto ao torcedor local; a criação do São Paulo Itinerante, que seria um núcleo móvel que seguiria o time onde ele estivesse jogando, para venda de produtos oficiais e licenciados do clube; a criação do São Paulo Social, que é o leilão de camisas usadas em jogo e registradas como autênticas; o projeto Torcedor do Futuro, que levaria torcedores mirins em ônibus escolares ao Morumbi para uma partida; a criação de parques temáticos itinerantes, com permanência de 40 a 60 dias em cada local do Brasil, contendo jogos eletrônicos, brinquedos e campos temáticos da marca para o público infantil – esse projeto seria para cidades do Nordeste, interior de SP e Campos do Jordão –; criação do São Paulo das Estrelas, uma comissão de atores, músicos e formadores de opinião para divulgarem a marca nos meios de comunicação. No Flamengo uma das ações de marketing de mais impacto foi a venda de tijolinhos para arrecadar dinheiro para a modernização do Centro de Treinamento do clube: o ninho do urubu. Em 2010, foram vendidos 5 mil tijolos, que geraram uma receita de R$ 1 milhão, mas que parece pouco para quem tem a maior torcida do país (SPORTVNEWS, 2010). 13 Centro de Reabilitação Esportiva, Fisioterápica e Fisiológica. Ao longo do desenvolvimento do trabalho, o São Paulo FC, em parceria com a Caixa Econômica Federal e com outros clubes do Brasil, lançou, em maio de 2011, um título de capitalização. 14 93 Se, em 2010, a diretoria do Flamengo não pôde p de comemorar um título, título o departamento de marketing deu motivos de sobra para os festejos. O time carioca conseguiu um grande crescimento nas chamadas receitas de marketing (Figura ( 12), ), saltando de um total de R$ 46,55 milhões em 2008 para R$ 70,9 milhões em 2010, um aumento de aproximadamente 53% em dois anos. Figura 12 – Receitas de marketing arketing Flamengo (em R$ milhões) 80 70 14 60 13,5 50 40 21,1 20 1,85 7,87 23,6 18,7 30 20 10 43,4 0 2008 2009 Patrocínio Licenciamento 2010 Bilheteria Fonte: CASTRO (2010). Apesar da luta contra o rebaixamento até o fim do Campeonato Brasileiro, as polêmicas envolvendo jogadores, depoimentos em delegacias, e até a prisão do exex goleiro Bruno, suspeito do desaparecimento da estudante Eliza Samudio, o RubroRubro Negro conseguiu um aumento aumento nas receitas de pouco mais de R$ 24 milhões em relação a 2009, ano do hexacampeonato. hexacampeonato (CASTRO, CASTRO, 2010). 2010 Mesmo esmo em um ano em que o desempenho em campo não foi bom para o clube carioca, as receita geradas cresceram, mostrando a força da marca Flamengo. Essa Es questão fica comprovada analisando os números apresentado acima. Os valores com patrocinadores cresceram quase duas vezes e meia, saltando de R$ 18,7 milhões em 2009 para R$ 43,4 milhões em 2010. Esses números refletem a força e a consolidação da marca no mercado e corroboram para explicar o fato de ser uma das três marcas mais valiosas valios do mercado esportivo brasileiro. 94 Mas é interessante notar também o decréscimo na bilheteria, talvez reflexo de um ano em que o time não foi bom dentro de campo, levando os torcedores se afastarem da arquibancadas, mas relevante é que, mesmo com a diminuição de R$ 6 milhões no faturamento de bilheteria, as receitas totais de marketing cresceram. Isso se explica em parte pelo aumento nos valores de contrato de patrocínio, mas a área de licenciamento também foi importante ao registrar um crescimento de 71,5% de 2009 para 2010 e de mais de 700% de 2008 para 2010. Esses números justificam as palavras de Henrique Brandão, atual vicepresidente do time: “O Flamengo tem 35 milhões de consumidores e o nosso desafio é fazer com que os produtos que o Flamengo tem a oferecer para o torcedor atinjam os 35 milhões de torcedores” (SPORTVNEWS, 2010). Em 2011, o clube carioca continuou mostrando sua força fora de campo e avançou com as ações de marketing. Justificando a fama de ser a maior torcida do Brasil e, muitas vezes, ter a segunda ou terceira maior torcida em outros estados, o Flamengo inovou ao criar ações nos estádios em que o clube joga como visitante. Entre as ações que o clube planejou, uma das principais é levar uma loja móvel em cada estádio em que o time for jogar, aproveitando a força que o nome Flamengo tem em outros estados. No Ceará, por exemplo, o clube carioca divide a preferência com o próprio Fortaleza, segundo a quarta pesquisa Ibope/Lance!, de 2010. Não restam dúvidas de que a ideia do clube é fortalecer e divulgar a marca Flamengo, principalmente fora do estado do Rio de Janeiro e, com isso, aumentar a receita vinda da torcida. Outro exemplo, espelhado no sucesso da contratação de Ronaldo pelo Corinthians, foi a contração de Ronaldo Gaúcho no começo de 2011. Apostando no impacto da imagem do jogador, o Flamengo trouxe o atleta da Itália para buscar um faturamento de R$ 200 milhões apenas com o atleta, em quatro anos de contrato (ESTADO, 2011) Outra fonte importante é a venda de patrocínio e, nesse quesito, o clube carioca pretende, usando Ronaldinho Gaúcho como garoto-propaganda, vendeu uma cota master da ordem dos R$ 45 milhões. “Estamos negociando com três empresas e esperamos obter, pelo menos, R$ 45 milhões em 2011. Desse valor, R$ 30 milhões ficam com o Flamengo e o restante seria dividido igualmente entre Ronaldinho e o clube”. (MAIA; LOUSADA, 2011). 95 Evidentemente, muitas outras ações, assim como diversos outros clubes, poderiam ter sido aqui apresentadas. Porém, como já mencionado anteriormente, optou-se por selecionar Corinthians, São Paulo e Flamengo por serem os clubes como maiores torcidas do país (Anexo D) e pelo fato de os três terem também as marcas mais valiosas entre os clubes brasileiros. Com o intuito de mostrar que outros clubes também estão fazendo sua parte na busca por seus consumidores, foram escolhidos mais dois clubes, que adotaram ações diferentes, para exemplificar essas realizações. O levantamento realizada mostra que os clubes brasileiros começam a ter a percepção da importância do consumidor. Essa importância fica visível quando se analisam os resultados financeiros dos clubes e o papel central que os torcedores vêm adquirindo no balanço final. Isso mostra que os clubes começam a sair de dentro do campo e ocupar espaços nas ruas, nos shoppings, nos supermercados e a expor sua marca. 4.3 Pesquisa de campo Neste item, será discutido com mais atenção o perfil do consumidor de futebol. Para compreender melhor a relação do torcedor/consumidor com seu clube, este trabalho propôs-se a pesquisar (Anexo A) os hábitos de consumo deste torcedor, a percepção que este consumidor tem do departamento de marketing de seu clube de coração, o local em que os torcedores mais assistem os jogos, a presença deles nos estádios, bem como seu grau de instrução e sua renda familiar. Na pesquisa de campo, buscou-se como amostra torcedores dos 12 clubes associados às marcas mais valiosas do Brasil, conforme apresentado no item 4.1, de forma a verificar se ações de marketing, apresentadas no capítulo anterior, influenciam na percepção do consumidor e em seus hábitos de consumo. Ciente que a rede de contatos do pesquisador, pelo modo como a pesquisa desenvolveu-se, influenciaria em algumas respostas, como nível de instrução, renda familiar e até mesmo clube de coração, optou-se por não perguntar a cidade ou o estado do entrevistado, pois, além de aumentar o número de questões – que poderiam influenciar negativamente no número de respostas dadas – não se alcançaria uma amostra para validar todos os estados. 96 Pelo mesmo motivo, optou-se optou por delimitar em apenas duas perguntas a avaliação de grau de instrução e renda familiar. Tal influência é comprovada quando se avalia a Figura 13 e se nota que a amostra pesquisada não reflete o ranking de torcidas apresentado na Pesquisa Lance!/Ibope (Anexo D). ). Porém, essas limitações não invalidam os resultados obtidos na pesquisa, principalmente porque 55,3% dos pesquisados declararam como seu time de coração os clubes Corinthians, Flamengo ou São Paulo, que, que além de serem os três clubes com as três rês marcas mais valiosas do Brasil, Brasil foram também os clubes com mais mai ênfase na análise realizada no item anterior, sendo apenas necessária essaa ressalva para quando o presente trabalho servir de fonte de referência para futuras pesquisas. Figura 13 – Ranking de torcida 3,0% Vasco 25,2% São Paulo 6,3% Santos 13,7% Palmeiras 6,0% Outro 1,3% 1,9% 2,4% 1,8% Não possuo Internacional Grêmio Fluminense 9,0% Flamengo 2,1% Cruzeiro 22,1% Corinthians 2,2% 3,2% Botafogo Atlético-MG 0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011. 2011 A pesquisa foi dividida em três partes: partes a primeira visando a conhecer quem é consumidor participante da pesquisa; pesquisa a segunda parte com o intuito de conhecer os hábitos de compra do consumidor de futebol e a influência que a marca de seu clube tem na tomada de decisão de compra. De forma a delimitar a influência dos que não compram produtos ou compram produtos não oficiais, oficiais esse tópico foi dividido em duas situações distintas: os consumidores que respondiam negativamente n à questão daa compra de produtos oficiais foram direcionados para uma única questão, cujo intuito é entender os motivos que levam o 97 consumidor a optar por não comprar produtos oficiais. Já os consumidores que responderam positivamente foram direcionados para um questionário específico. Por último, buscou-se analisar a percepção de valor que o consumidor tem do clube e do departamento de marketing, bem como o conhecimento que ele tem a respeito da organização esportiva que é seu clube, de forma a analisar se as ações de marketing realizadas pelos principais clubes pesquisados neste trabalho influenciam nessa percepção. 4.4 O consumidor do futebol Os clubes brasileiros começam a perceber algo que os clubes europeus há tempos já conheciam: que os torcedores podem ser uma gigantesca fonte de receita para os clubes. Não apenas indo ao estádio ou consumindo os produtos licenciados, mas valorizando os clubes como marca, aumentando assim o valor de uma cota de TV, o preço de um ingresso ou de uma ação de merchandising. Novamente, o torcedor assume um papel duplo, pois, ao mesmo tempo que ele se torna o público-alvo das ações das empresas patrocinadoras e de seu próprio clube, é ele mesmo que acaba valorizando o espetáculo, aumentando seu consumo de produtos e serviços ligados ao clube e, assim, impulsionando o crescimento da receita deste. Os clubes de futebol da Europa descobriram há muito tempo como faturar altos valores com o torcedor de futebol, tanto aquele que vai ao estádio, como o que acompanha pela TV ou simplesmente tem uma simpatia por futebol. O segredo para o sucesso comercial na relação com o aficionado por futebol é compreender que uma infinidade de novas receitas se multiplicará em função do relacionamento estreito e contínuo com o torcedor. (SOMOGGI, 2011, p. 2). Como descrito acima, o torcedor só se torna uma fonte de receita quando os clubes criam uma relação de proximidade com ele, possibilitando-o vivenciar com o clube momentos únicos e inesquecíveis. Para que isso aconteça, é necessário que os clubes saibam quem são seus consumidores, como pensam e o que procuram. Pela amostra analisada neste trabalho, 1.296 pessoas, pode-se concluir que a pesquisa apresenta números capazes de validar sua proposição e ajudar a entender quem é esse consumidor do futebol. 98 Para isso, tomou-se se a liberdade de excluir da amostra analisada os torcedores que responderam que não têm clubes declarados ou que torcem para algum clube que não os 12 analisados neste trabalho, totalizando em 1.201 entrevistados, sendo 82,5% homens e 17,5% mulheres. As Figura 14 e Figura 15 ajudam a traçar o perfil dos entrevistados analisando o grau de instrução e o perfil socioeconômico s deles. Essa informação permite entender melhor o perfil da amostra e, com isso, validar o impacto das ações de marketing apenas no perfil analisado neste trabalho. Do total de homens analisados, analisados 72,3% têm renda rend familiar acima de cinco salários mínimos, número muito parecido com os das mulheres, 67,7%. O grau de instrução dos entrevistados demonstra que um perfil elevado nessee quesito, quesito já que 49,1% dos entrevistados têm nível superior. Caso se incluam aqueles que têm nível superior incompleto (cursando ou não),, o percentual da amostra será se de 74,5%. Figura 14 – Perfil socioeconômico 14,8% 20,3% Mais de 20 Salários Mínimos 18,1% 26,5% De 10 a 20 Salários Mínimos 34,8% 25,5% De 5 a 10 Salários Mínimos 18,1% 14,9% De 3 a 5 Salários Mínimos 9,0% 7,3% De 2 a 3 Salários Mínimos De 1 a 2 Salários Mínimos 1,9% 4,0% Até 1 Salário Mínimo 3,3% 1,4% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Torcedora Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011 Torcedor 99 Figura 15 – Grau de instrução 2,4% 3,8% Fundamental Incompleto 0,5% 1,2% Fundamental Completo 6,2% 2,9% Médio Incompleto 4,8% Médio Completo 10,0% 27,1% 25,0% Superior Incompleto 48,6% 49,2% Superior Completo 9,5% 6,6% Mestre 1,0% 1,0% Doutor Pós-Doctor 0% 0,2% 0% 10% 20% Torcedora 30% 40% 50% 60% Torcedor Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011 Como apresentado ado no início do capítulo, uma das principais fonte de renda dos clubes brasileiros é a receita gerada pelo direito de transmissão dos campeonatos de que os clubes participam. A participação dessa fonte nos rendimentos financeiros dos clubes vem crescendo nos últimos anos, tendo aumentado 20% em 2010 em relação a 2009. Tais valores justificamjustificam se quando se comparam com o resultado apresentado na pesquisa a respeito da frequência freq em estádioss por parte do torcedor e do local de preferência para assistir ao jogos de seu clube (Tabela 9). 100 Tabela 9 – Relação frequência ao estádio X Local preferido para assistir aos jogos Qual o local onde você mais assiste a jogos do seu clube Com que frequência você vai ao estádio ver jogos do seu clube? Bar 6,2% Nunca vou 1,6% Todos os jogos, não perco um 0,1% Uma vez a cada três meses 0,7% Uma vez por ano 1,5% Uma vez por mês 1,3% Uma vez por semestre 1,0% Casa (própria ou amigos) 84,2% Nunca vou 28,9% Todos os jogos, não perco um 0,6% Uma vez a cada três meses 13,9% Uma vez por ano 17,7% Uma vez por mês 12,2% Uma vez por semestre 11,0% Estádio 8,9% Todos os jogos, não perco um 5,7% Uma vez por ano 0,1% Uma vez por mês 3,1% Outro local 0,7% Nunca vou 0,1% Uma vez a cada três meses 0,1% Uma vez por ano 0,1% Uma vez por mês 0,1% Uma vez por semestre Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011. 0,4% Se o número de torcedores que frequentam o estádio é baixo e a maioria opta por ver aos jogos em casa ou na casa de amigos, é natural que os valores cobrados pelos clubes, nas chamadas cotas de TV passem para um novo patamar. Pode-se especular que o maior número de assinantes de canais de TV fechada e o crescimento do pay-per-view nos últimos anos – que, em meados de 2009, já era de 300% comparado à temporada 2006 (MORAIS, 2009) exercem forte influência no resultado apontado pela pesquisa. Como se mostrou, no capítulo 1, um dos locais mais importantes para que um clube possa divulgar sua marca e atrair consumidores é o estádio, local em que o torcedor tem a 101 chance de vivenciar seu clube e, com isso, aumentar seu nível de fidelidade para com a marca. Isso fica ca evidente quando confrontamos os dados da d Figura 16. Se no resultado geral da pesquisa o índice de torcedores que dizem comprar produtos oficias de seu clube é de 73,7%, analisando a Figura 16 nota-se se que a frequência freq ao estádio influencia fortemente decisões de compra com essas. essas. A pesquisa, assim, justifica as afirmações apresentadas no capítulo 1 de que o estádio tem papel fundamental na tomada de decisão de compra do torcedor/consumidor, impulsionando as vendas. Figura 16 – Frequência ao estádio stádio X Compra de produtos oficiais 120% 100% 96,1% 92,0% 86,4% 81,9% 80% 77,6% 57,2% 60% 42,8% 40% 20% 4% 8,0% 13,6% 18,1% 22,4% 0% Todos os jogos, Uma vez por Uma vez a cada Uma vez por não perco um mês três meses semestre SIM Uma vez por ano Nunca vou NÃO Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011. 2011 As lojas próprias, sejam físicas ou virtuais, também também são um grande vitrine para exposição da marca de um clube, clube afirmação respaldada na pesquisa: 54% dos pesquisados, que adquirem produtos oficiais do time, dizem comprá-los nas lojas oficiais oficia dos clubes. Apesar de uma diferença pequena entre os que compram compra e os que não compram nessas lojas, esses dados são importantes porque indicam que o torcedor brasileiro começa a ver em seu clube mais do que uma forma de entretenimento nos os finais de semana, mas também como marca. O hábito de frequentar entar estádio também influencia na escolha da loja. Conforme mostra a Figura 17,, podemos observar que aqueles que vão ao estádio e dizem não perder um jogo optam, em larga maioria (68%), (68%) por adquirir produtos em lojas oficias do clube. 102 Figura 17 – Frequência ao estádio X Escolha da loja oja 80% 70% 68% 60% 60% 50% 40% 40% 32% 30% 20% 10% 0% Todos os jogos, não perco um Lojas Oficiais Nunca vou Lojas de Esporte Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011. 2011 15 O estádio também influencia na frequência freq ência de compra do torcedor torcedo (Tabela 10). Os torcedores que são presença assídua no estádio têm m o hábito de comprar produtos oficiais ao menos uma vez a cada três meses (64,9%), (64,9%) enquanto aqueles que não frequentam freq o estádio compram produtos oficias no máximo uma vez por ano (56,2%). (56,2 Através dos números apresentados pela pesquisa, analisando apenas os entrevistados que responderam comprar produtos oficias, podemos perceber o impacto impac que frequentar o estádio tem no hábito de compra do consumidor. Isso corrobora para evidenciar a tendência mostrada no item 4.2, que apresenta as arenas multiusos como uma das alternativas de receitas para os clubes. Os estádios, mais que ser o local do jogo, devem ter condições de receber os fãs nos sete dias da semana. Para tanto, lojas, ojas, teatros, cinemas, lanchonetes, entre milhares de outras opções de entretenimento devem ser pensadas com o objetivo de transformar o estádio numa arena multiuso, multiuso investimento imento que se justifica pela aprovação do torcedor que frequenta o estádio e por seus hábitos de compra. Nesse sentido, o estádio, claramente, torna-se um impulsionador e um alicerce da marca do clube. Mais do que um 15 Foram consideradas como lojas oficiais as opção da pesquisa: loja virtual do clube e lojas do clube. Por esse mesmo critério, foram consideradas lojas de esporte as opções: lojas de esporte e outras lojas virtuais. 103 simples local, ele deve ser transformado no templo sagrado para o torcedor, o grande ponto de venda do clube dentro de sua estratégia de mix. Tabela 10 – Frequência ao estádio x Frequência de compra Com que frequência você vai ao estádio ver jogos do seu clube? Com que frequência você compra produtos oficiais do seu clube? Nunca vou Uma vez a cada três meses 10,5% Uma vez por ano 56,2% Uma vez por mês 1,0% Uma vez por semestre 32,4% Todos os jogos, não perco um Uma vez a cada três meses 33,8% Uma vez por ano 12,2% Uma vez por mês 31,1% Uma vez por semestre 23,0% Uma vez a cada três meses Uma vez a cada três meses 30,9% Uma vez por ano 27,6% Uma vez por mês 4,6% Uma vez por semestre 36,8% Uma vez por ano Uma vez a cada três meses 16,7% Uma vez por ano 50,6% Uma vez por mês 1,1% Uma vez por semestre 31,7% Uma vez por mês Uma vez a cada três meses 34,4% Uma vez por ano 16,9% Uma vez por mês 14,2% Uma vez por semestre 34,4% Uma vez por semestre Uma vez a cada três meses 24,6% Uma vez por ano 36,9% Uma vez por mês 4,1% Uma vez por semestre Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011. 34,4% O futebol brasileiro está entrando numa nova fase. Como já demonstrado anteriormente, os valores de patrocínio aumentaram, assim como todas as receitas gerais dos 104 clubes. O próprio valor de marca dos clubes analisados nesta dissertação tiveram um aumento agressivo, principalmente de 2004 para 2010. O aumento dos valores com licenciamentos do Corinthians e do Flamengo refletem bem o momento pelo qual os clubes estão passando. Esse crescimento é fruto das assertivas asserti estratégias de marketing e influem diretamente no resultado financeiro do clube. A pesquisa de campo, realizada neste trabalho, mostra que os torcedores estão dispostos a gastar com seu clube (Figura ( 18): 44% assumem gastar entre R$ 150,00 a R$ 300,00 por ano com seu clube. Se estudarmos o caso caso do Flamengo, que tem cerca de 33,2 milhões de torcedores (Anexo Anexo D) e imaginarmos o tíquete médio como o valor mais baixo da média apontada pela pesquisa (R$ 150,00), pode-se projetar uma estimativa de receitas, caso o clube atinja apenas 10% de seus torcedores, em R$ 498 milhões por ano, ano valor quase quatro vezes superior à receita total do clube em 2010 (Anexo ( C)) e 50% superior ao total arrecado pelos clubes brasileiros com patrocínio e publicidade no ano de 2010. Figura 18 – Valor médio de gasto por ano 21% 26% 9% 44% Até R$ 150 Mais de R$ 500 R$ 150,1 a 300 R$ 300,1 a R$ 500 Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011. 2011 A pesquisa aponta também que o consumidor do futebol ainda manifesta uma grande preferência pelo uniforme oficial de seu clube. Essa informação confirma a escolha de clubes como Botafogo e Corinthians em lançar não só os chamados chamados terceiros uniformes, mas camisas 105 alusivas a determinados jogadores ou a datas específicas.. Roupas, em geral, é o item apontando na pesquisa como o principal item de consumo do torcedor brasileiro, não apenas o uniforme, mas também as chamadas roupas casuais ca (Figura 19). Figura 19 – Ranking de produtos Outros 14% Mascotes ou Bichos de Pelucia 16% Copos e Canecas 34% Bandeira 20% Carteira 4% Produtos Infantis 15% Calçados 3% Bonés 15% Chaveiros 19% Bolas 5% Outras Roupas Casuais do Clube 34% Lençois e Toalhas 12% Camisas/Uniformes 96% 0% 20% 40% 60% 80% 100% 120% Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 201116. A preferência doo consumidor por determinados produtos vai em consonância com os números apresentados pela pesquisa a respeito do tíquete médio.. Do total de consumidores que dizem comprar produtos oficiais, 96% afirmam adquirir uniformes oficiais, que têm um valor média de R$ 150,00 nas n lojas esportivas. O resultado da pesquisa de campo mostra que, em relação ao mix de produtos que o clube pode formar, ainda existe um potencial muito grande a ser explorado. Ao se considerar que esta pesquisa abrange uma amostra que foge ao padrão médio médio do brasileiro no que diz respeito à escolaridade e, principalmente, à renda média familiar, fica ainda mais evidente 16 Na pesquisa, o entrevistado poderia marcar marcar quantos itens desejasse para responder a esta questão. Dessa forma a soma dos percentuais será sempre superior a 100%. 106 que, para o perfil pesquisado nesta dissertação, os clubes ainda têm um grande espaço para percorrer de forma a atender seu consumidor. As ações de marketing analisadas mostram que os clubes observam, ainda que de forma branda, a relação do tíquete médio com a renda média do torcedor. Enquanto daqueles que têm renda familiar acima de 20 salários mínimos 17,9% dizem gastar mais de R$ 500,00 por ano com seu clube, a média apresentada pelos outros níveis de renda, excluindo os de mais de 20 salários mínimos, fica em 6,6%. A amostra reflete uma relação natural do mercado de consumo e demonstra para os clubes que existem pessoas dispostas a consumir produtos mais caros. Neste ponto, a pesquisa apresenta um dado interessante, que se relaciona a uma queixa comum entre os torcedores: preço (Figura 20). Verifica-se, na amostra analisada, que tanto entre quem compra produtos oficiais como entre quem que não compra, esse é o principal motivo de reclamação. Ao se constatar que esse é o maior entrave para quem não compra produtos oficiais e a maior reclamação entre quem compra – considerando-se o fato de os consumidores preferirem a compra de uniformes e camisas oficias de seu clube, de valor exato ou muito próximo do tíquete médio apresentado no resultado da amostra –, pode-se concluir que, entre ampliar a quantidade de produtos comprados de seu clube e juntar recursos financeiros para adquirir uma camisa oficial, o torcedor ficará com a segunda opção. Assim, para aumentar o tíquete médio de consumo, os clubes não podem pensar apenas numa estratégia baseada no aumento da gama de produto. É necessário pensar em estratégias de precificação que convençam ao consumidor a comprar novos produtos que levem a marca do seu clube. Neste ponto, a adequação da arquitetura de marca (apresentada no capítulo 2) mostra-se essencial. A ampliação da gama de produtos faz-se necessário, mas, para evitar a canibalização entre os próprios produtos, é importante analisar a associação de marcas que ajudem a fortalecer a marca do clube no mercado. 107 Figura 20 – Recusa de compra 80% 71% 70% 60% 54% 50% 40% 30% 23% 20% 20% 12% 10% 8% 3% 1% 4% 1% 1% 0% Atratividade Preço alto Qualidade Utilidade Variedade Em nada Porque você não compra produtos oficias de seu clube? No que os produtos do seu clube deixam a desejar Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011 Entre aqueles que compram produtos do clube, é interessante notar que, depois do preço, as principais reclamações são em relação a atratividade do produto e a sua utilidade. Isso significa que o consumidor espera de seu clube produtos mais adequados a sua necessidade. Chaveiros, bolas e bandeiras fazem parte do passado para esse e consumidor, que deseja identificar-se se com o clube por meio de produtos que possam, realmente, ser utilizados. Tanto entre quem compra quanto entre quem não compra os produtos oficiais, a qualidade não é um item que expressa preocupação e isso ajuda a entender entender a resposta a uma das questões que mais poderá fortalecer a ideia de os clubes projetarem-se projetarem no mercado como marca. O consumidor está propenso a comprar os produtos do clube em relação às marcas mais tradicionais, como a pesquisa aponta claramente (Figura ( 21). 108 Figura 21 – O peso da marca do clube 70% 59,98% 60% 50% 40% 30% 16,92% 20% 11,28% 10% 6,29% 3,15% 2,28% 0,11% 0% aquele que aquele que não levo em o que tenha o a marca conta o fato melhor custo tradicional apresente a tenha o melhor preço de ser do meu benefício melhor clube qualidade o produto oficial do meu clube (vazio) Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011 Com isso, podemos responder um dos objetivos apresentados nesta dissertação, que é entender se é possível trabalhar o conceito de marca nos clubes de futebol e se essa marca tem influência na tomada de decisão do consumidor. O estudo aponta para uma resposta conclusiva a essa questão: 60% dos entrevistados, que compram produtos de seu clube, dizem que, se puderem escolher entre um produto com a marca de seu clube e um produto de uma marca tradicional, mesmo levando em consideração preço e qualidade, optariam pela marca de seu clube. A renda média familiar não tem impacto nessa decisão, pois, todas as faixas das pesquisa apontam para a média, sendo a mais baixo, com 50%,, entre um e dois salários mínimos e a mais alta, com 78,5%, até um salário mínimo. Porém, como já apresentado anteriormente, essas duas faixas representam um universo pequeno da amostra dos entrevistados, mas, mesmo isoladas,o estas faixas da amostra a média se mantém. Preferir um produto com a marca de seu clube de coração a uma marca tradicional, aliado ao fato de a qualidade não ser considerado, pela maioria dos entrevistados, um 109 problema nos produtos que levam a marca dos clube, desmentindo inclusive a crendice popular de que produtos de clube de futebol são de baixa qualidade, é um forte indício de que os anos vindouros podem ser dourados para os clubes de futebol. Ainda justifica a orientação de que os clubes de futebol devem investir no conceito de marca para atrair o público consumidor o fato de que apenas 3% dos pesquisados disseram não levar em consideração o fato de o produto ser de seu clube de coração e 2% preferirem o produto de uma marca tradicional. Fica evidente que o mix de marketing dos clubes começa a ter que ser planejado. O meio gerador de receita não pode ser apenas mais a venda do jogador, o que, na verdade, vem perdendo espaço na balanço final. O jogador começa a ser visto como o ator de um grande espetáculo que está para acontecer, peça chave para atrair público. Nesse sentido, o produto deixa de ser o jogador e passa a ser a marca, a capacidade do clube em ganhar, em ter os melhores atletas. Isso gera o lançamento de novos produtos, os mais variados possíveis. Nesse cenário, o estádio ganha importância central, pois é nele que o consumidor poderá ter a experiência única de vivenciar seu clube. Nesse sentido, os clubes devem criar estratégias para manter nas arquibancadas o maior número de consumidores, que cheguem com antecedência ao estádio e estejam dispostos a consumir os mais variados produtos associados à marca do seu time: do estacionamento ao cachorro quente, da pipoca ao resumo da partida, da bala ao novo uniforme. Assim, os 90 minutos de jogo serão apenas um dos atrativos para atrair os consumidores ao ponto de venda principal. Os próprios ponto de venda já se espalham, demonstrando que não basta ter o produto e o potencial consumidor, mas é necessário construir uma ponte entre ambos. Para isso, os clubes têm adotado estratégias que estão recebendo respostas do consumidor. Isso fica evidenciado na pesquisa, que aponta 73,7% dos torcedores optando por adquirir produtos oficiais e, mais que isso, 92% dos consumidores acreditando que, ao comprar produto oficiais, contribuem financeiramente com o clube (Tabela 11). 110 Tabela 11 – Ações de marketing X Retorno financeiro Você acredita que, ao comprar produtos oficiais do seu clube, você está contribuindo financeiramente com ele? Não Como você avalia as ações de marketing do seu clube? 8% Ótimo 7% Boa 36% Regular 19% Ruim 27% Péssima 7% Não tenho conhecimento do clube para responder 4% Sim 92% Ótimo 17% Boa 42% Regular 26% Ruim 11% Péssima 4% Não tenho conhecimento do clube para responder Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011. 1% A percepção de que ao comprar produtos oficiais do seu clube o torcedor está ajudando financeiramente com ele é mais forte entre aqueles que avaliam de forma positiva (ótima ou boa) as ações de marketing daquele. Esse é um dado importante de ser analisado neste trabalho, pois corrobora com as propostas de ação de marketing apresentadas anteriormente. Quando Corinthians, São Paulo e Flamengo foram buscar seus maiores astros, respectivamente, Ronaldo, Luis Fabiano e Ronaldinho Gaúcho, o fator fundamental para a contratação milionária, não só no valor do passe, mas nos salários a serem pagos, foi o marketing dos clubes. O aval para a contratação veio após avaliação de que, através do uso da imagem desses jogadores, seria possível trazer novos patrocinadores e criar produtos especiais para os consumidores de forma a custear a vinda dos craques. Essa mesma estratégia vem sendo utilizada pelo Santos para manter o jovem Neymar no Brasil e, especificamente, na Vila Belmiro. Trata-se de um modelo de parceira entre o atacante e o clube da baixada, que garante um fixo de R$ 500 mil por mês ao atacante, mas com perspectivas de chegar a R$ 1 milhão. Com a divisão de receitas no que diz respeito à imagem do jogador, mesmo lhe pagando esse montante, o Santos prevê um lucro financeiro de R$ 620 mil para o ano de 2010. Soma-se a isso quatro títulos conquistados em 18 meses 111 como jogador profissional, entre os quais uma Copa Libertadores, que o clube não ganhava desde 1962, época em que tinha Pelé em seus quadros. Com tantas vantagens em vista, os valores financeiros podem ser considerados até pequenos quando comparados ao retorno em imagem para o clube e o envolvimento emocional do torcedor. (ITRI; LOURENÇO, 2011). Como reflexo do trabalho iniciado pelo São Paulo Futebol Clube, na contratação de Adriano, e do sucesso que foi a contratação de Ronaldo pelo Sport Club Corinthians Paulista – como mostrado neste capítulo – os grandes clubes, aqueles que possuem as marcas mais valiosas, ampliaram este modelo de investimento. O São Paulo foi buscar Luis Fabiano, enquanto o Flamengo trouxe Ronaldinho Gaúcho e o Corinthians tentou, com uma oferta fora dos padrões brasileiros, R$ 90 milhões, trazer o ex-ídolo da torcida, Carlito Tevez. Nos três casos, o modelo adotado segue os padrões europeus: para pagar a contratação, há forte investimento em marketing, por meio da criação de produtos e serviços que levam não apenas a marca dos clubes, mas também do jogador, como forma de ajudar apagar a contratação. Parte do salário do astro também está atrelado ao sucesso de vendas; com isso, o impacto financeiro acaba sendo repartido e o sucesso de um depende do sucesso de outro. Essa estratégia caracterizou o time do Real Madrid, no começo do século, batizado de Los Galácticos, que contou com estrelas como o inglês David Beckhan, o francês Zidane e o brasileiro Ronaldo. (CARLIN, 2006). Se as ações de marketing começam a render frutos para os clubes, ter um departamento de marketing profissional, capaz, eficiente e inovador também pode atrair os consumidores. Entrar na era do espetáculo deve ser uma via de duas mãos. Atrair os consumidores para o espetáculo, fazê-lo participar e incentivar seu consumo são as novas missões dos clubes de futebol. Se dentro das quatro linhas a equipe será montada para vencer os campeonatos, fora delas a equipe de marketing precisa estar preparada para o desafio. Esse mercado que se abre amplia a natureza do clube e seu status, pois, mais do que simples diversão, o futebol começa a ser visto com uma atividade profissional, um negócio. Nesse contexto, as raízes fincadas em solo amador não irão colher frutos: quanto mais profissional e mais bem preparado for o departamento de marketing maiores serão as chances de sucesso fora das quatro linhas. Na Tabela 12, podemos ver bem o resultado disso. 112 Tabela 12 – Avaliação sobre o departamento de marketing X Freqüência de compra Avaliação sobre o departamento de marketing Frequência de compra Profissional Uma vez por mês Uma vez a cada três meses Uma vez por semestre Uma vez por ano 35% 8% 24% 34% 35% Criativo 16% 2% 28% 31% 39% Uma vez por mês Uma vez a cada três meses Uma vez por semestre Uma vez por ano Inovador 13% Uma vez por mês Uma vez a cada três meses Uma vez por semestre Uma vez por ano Desorganizado Uma vez por mês Uma vez a cada três meses Uma vez por semestre Uma vez por ano Omisso 11% 35% 34% 20% 10% 8% 17% 36% 39% 5% Uma vez por mês Uma vez a cada três meses Uma vez por semestre Uma vez por ano 11% 14% 34% 41% Ruim 6% Uma vez por mês Uma vez a cada três meses Uma vez por semestre Uma vez por ano Amador Uma vez por mês Uma vez a cada três meses Uma vez por semestre Uma vez por ano Não tenho conhecimento do clube para responder Uma vez a cada três meses Uma vez por semestre Uma vez por ano Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011. 4% 22% 31% 44% 13% 8% 18% 30% 44% 2% 14% 33% 52% 113 A frequência de compra do torcedor está ligada a sua avaliação sobre o departamento de marketing do clube. Quanto mais positivo for essa avaliação, com mais frequência ele irá consumir a marca do clube. É interessante destacar que, apesar da maioria (35%) dos entrevistados enxergarem o departamento de marketing de seus clubes como um ambiente profissional, a maior taxa de frequência de compra está entre aqueles que o consideram inovador. Isso demonstra que os consumidores, ao estabelecerem uma relação consumidor/clube, buscam nos produtos dos clubes algo que possa diferenciá-los dos demais. Os consumidores já não querem mais do mesmo. Novamente, faz-se necessário analisar o mix da linha de produto dos clubes. Além do uniforme oficial, que exerce forte apelo sobre o consumidor, há outros produtos – por exemplo, roupas casuais do clube, o segundo item mais comprado pelos consumidores –, que demonstram o desejo dos consumidores em ostentar a marca de seu clube. Se alguns anos atrás era moda sair às ruas com camisas de clubes estrangeiro, hoje os clubes brasileiros começam a explorar esse mercado e lançam, para atender a demanda promissora, uma linha completa de roupas e acessórios. O consumidor, como utilizador do produto e produtor do espetáculo em conjunto com o clube, acredita que, ao comprar objetos e serviços com a marca deste, contribui para que o clube cresça. Assim, a marca dos clubes começa a ter um papel importante na ativação deste consumidor, tornando-se referência e opção na tomada de decisão do consumidor, fazendo parte do conjunto de elementos que integram a marca, que direciona toda ação de marketing. As ações de marketing dos clubes surtem efeitos em seus balanços, o que fica evidenciado ao longo do trabalho. A pesquisa de campo realizada corrobora para elucidar que, mais do que ajudar efetivamente no balanço, que é, sem dúvida o objetivo principal, essas ações propiciam uma nova relação entre torcedor/consumidor e seu clube. Tantos os clubes como diversas marcas fortes sabem que essa associação será vantajosa: por um lado, o clube ganha receita e a possibilidade de atrair novos consumidores; por outro, as marcas ganham exposição e aproximam-se do consumidor que está receptivo a coisas novas. O reflexo positivo dessa simbiose pode ser visto quando se analisa a Tabela 13: quanto mais positiva (ótima/boa) é a opinião do torcedor sobre as ações de marketing do clube melhor, é sua avaliação das lojas que frequenta. Tal análise é importante por mostrar que os 114 clubes estão ampliando seus pontos de vendas e traçando estratégias para chegar ao consumidor que não pode vir até o clube. Tabela 13 – Ação de marketing X Avaliação das lojas Avaliação das ações de marketing Avaliação das lojas do clube Ótima Ótimas Boas Regulares Ruins Péssimas NC17 59 27 15 7 0 0 Boa 35 60 53 48 38 25 Regular 3 8 57 22 30 33 Ruim 0 0 3 7 8 0 Péssima 0 0 1 4 14 0 Não utilizo 3 5 12 12 11 42 25 12 4 1 Total geral 16 44 Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011. A ampliação destes pontos de venda, do mix de produto e de toda a estratégia de oferta dos clubes deve vir acompanhada de ações que demonstrem para o torcedor essa mudança na relação. Os clubes não estão mais falando apenas com os torcedores, pois agora a comunicação é feita para o consumidor. Os torcedores podem, e devem, lotar as arquibancadas, vibrar, torcer, mas os clubes sabem que não são só os gritos e incentivos da arquibancada que levarão o clube à vitória. Esses incentivos devem ser demonstrados também pelo consumidor. Para isso, investimento em lojas próprias, como a Sao Store e Todo Poderoso, lojas oficiais do São Paulo e do Corinthians, respectivamente, mostram-se propícias no cenário atual, já que os consumidores estão dando preferência a produtos e lojas oficiais. A 22 mostra que os clubes estão focados neste aspecto: 57% dos entrevistados dizem se sentir bem tratados como clientes do clube. Esse dado é, sem dúvida, um indício da mudança de paradigmas por que os clubes estão passando. Outro dado importante é que a pesquisa não encontrou influência desta respostas nas demais do questionário. De maneira geral, indiferente as outras respostas do questionário, o torcedor começa a se sentir cliente do clube e percebe nessa relação uma via de comunicação satisfatória. Assim, saem os torcedores e entram os consumidores. 17 Não tem conhecimento das ações. 115 Figura 22 – Relação clube/consumidor 45% 39,15% 40% 35% 29,83% 30% 25% 20% 18,00% 15% 8,13% 10% 3,47% 5% 1,41% 0% Com certeza Na maioria das Mais ou menos Quase nunca vezes Nunca Não tenho conhecimento do clube para responder Fonte: pesquisa esquisa realizado pelo autor em julho de 2011 Ao se analisar também a reação dos torcedores dos clubes chamados grandes18 que caíram para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro e agregar a isso o resultado da Figura 23,, será possível notar notar que os torcedores estão, em sua maioria, migrando para uma posição de consumidor. Isso fica refletido quando se verifica que 53% dos entrevistados não acreditam que o clube tenha a obrigação de ser campeão sempre. Para estes, se o clube representar bem seu eu papel dentro de campo, tendo uma boa qualificação, mas acima de tudo representando bem os ideais do clube, o saldo já será positivo. 18 Palmeiras, Corinthians, Botafogo, Fluminense, Vasco e Grêmio frequentaram a segunda divisão do d campeonato ao longo dos últimos anos. 116 Figura 23 – Competições oficiais 9% a obrigação de ser campeão 38% boa qualificação, mas acima de tudo representar bem nossos ideais 53% que ter dignidade, vencer é o menos importante Fonte: pesquisa realizada pelo autor em julho de 2011 Por isso, estratégias como a apresentada no item 4.2, como o desenvolvimento de uma camisa que possa, mesmo na derrota e no rebaixamento, recuperar a autoestima do torcedor e, com isso, levantar também os ânimos da equipe são extremamente assertivas. Como já debatido no capítulo 3, se uma marca representa a organização e deve ser reflexo de suas ações, transmitindo o que existe de bom e de ruim (BEDBURY, 1990) e os clubes buscam ser vistos como marca, eles devem levar em consideração nas suas estratégias dee comunicação toda e qualquer questão extracampo, ou seja, a vitória e a derrota fazem parte do esporte. Esta mesma estratégia foi usada pelo clube do Parque São Jorge quando da perda do título brasileiro de 2010. Em parceria com a Nike e com Ronaldo como garoto-propaganda, a diretoria de marketing do Corinthians lançou a campanha “Maior que isso tudo”, tão logo o clube perdeu o título brasileiro. O objetivo da ação foi mostrar que não é um título que define o sentimento por um clube, mas tudo aquilo que vem vem sendo construído ao longo dos anos e que está atrelado à marca. 117 Essa iniciativa mostra como deve agir um departamento de marketing de um clube profissional. Não são apenas sentimentos, embora estes, sem dúvida, estejam em jogo, que devem ser levados em conta na formulação da estratégia, mas sim tudo o que a marca pode transmitir para seu torcedor. O marketing, mesmo na derrota, tem a possibilidade de manter acesa a chama do torcedor ao proporcionar-lhe o poder de ser consumidor de uma marca que tem história. O conceito de fidelidade, sonho de toda marca, está enraizado na natureza do torcedor. Por mais dolorida que seja uma derrota, ou mesmo a perda de um título, a paixão pelo time não desaparece. Tendo isso em vista, as ações de marketing podem reforçar a ligação do torcedor com a clube e, assim, incentivar o desejo pelo consumo, mesmo que seja como forma de o torcedor demonstrar que está ao lado do clube na vitória ou na derrota. Esses valores e desejos devem ser explorados, pois os clubes têm ao seu lado torcedores movidos por ideais. Esse é o típico valor que o marketing não pode criar. Se dentro do campo não se discute a técnica e o talento de nossos jogadores, é fora dele que este capítulo procurou analisar o futebol como um negócio e verificar se os clubes estão preparados para passar por processo semelhante ao que se deu em décadas passadas na Europa. Essa evolução do futebol é uma exigência gerada pelo próprio mercado e por todos os participantes dessa cadeia. Em síntese, nesse cenário é que foram analisadas as atuais ações dos clubes de futebol brasileiro para impulsionar suas marcas e buscou-se verificar como os consumidores estão reagindo a essa investida. Nunca antes o torcedor de futebol teve tantas oportunidades para consumir esporte e, principalmente, consumir seu clube, sob a forma de partidas dos mais variados campeonatos, nos estádios ou pela TV, uma diversidade gigantesca de produtos espalhados em diversas lojas, inúmeros canais de TV e rádios especializados em esportes entre outros. Nesta nova era, todos os torcedores são inconstantes; e todos os torcedores estão em jogo. Os concorrentes se empenham cada vez mais em guerra total pelo dinheiro, pelo tempo e pela preferência dos torcedores. Os executivos do mundo do esporte enfrentam hoje um novo nível de competição, uma verdadeira corrida para sobreviver num mercado assoberbado pelas opções, e uma batalha para definir, atrair 118 e manter a fidelidade dos torcedores cada vez mais inconstantes (REIN et al, 2008, p. 20). Tudo isso ajuda no processo de crescimento do futebol e dos clubes brasileiros, mas ao mesmo tempo coloca os clubes numa nova posição neste mercado. Não basta apenas competir em campo contra os rivais conhecidos. Nesta nova modalidade que se apresenta – a gestão profissional do marketing –, os clubes encontrarão novos concorrentes, diretos e indiretos, na busca pelo consumidor e deverão estar atentos para não ser afetados por aquilo que Levitt (1960) chamou de miopia do marketing. Assim, dentro desta nova indústria do futebol, que faz parte da indústria do entretenimento, os clubes de futebol devem procurar seus concorrentes não dentro das quatro linhas, conforme apresentado no capítulo 1, mas sim na indústria do entretenimento. No processo de valorização das marcas, apresentado neste capítulo, a participação dos torcedores mostra-se como um fator crítico. Identifica-se que os quatro principais clubes brasileiros, em termos de torcida, possuem também as marcas mais valiosas do negócio futebol, refletindo o peso daquela na importância destas. Outro fator que aponta para esta conclusão é a diferença existente entre o valor da marca dos três principais clubes e do quinta colocado em diante. Corinthians, São Paulo e Flamengo possuem as três maiores torcidas e as três marcas mais valiosas entre os clubes. O valor de cada uma delas chega a ser de duas vezes e meia o valor da quinta colocada e também apresentam torcidas bem maiores que dos demais clubes. Através da pesquisa de campo realizada, é possível identificar que o resultado do valor da marca também é reflexo das ações de marketing realizadas pelos clubes nos últimos anos. Dos 12 clubes analisados, cinco receberam uma avaliação positiva19, por parte do consumidor, sobre seu departamento de marketing. Os torcedores reconhecem também que as ações realizadas pelos clubes são, de maneira geral, boas ou ótimas. Essa informação ajuda a justificar o crescimento vertiginoso do valor das marcas dos clubes nos últimos anos, bem como o maior faturamento nos itens patrocínio e publicidade, licenciamento e bilheteria. 19 Optou-se por considerar a avaliação positiva os clubes que obtiveram resultado acima de 70% na soma dos votos em Profissional; Criativo ou Inovador. 119 Apesar de o estudo apontar para uma melhoria na relação dos clubes com seus consumidores e isso acarretar uma melhoria do faturamento dos clubes e da valorização das marcas, quando se analisam estudos internacionais e comparam-se os valores das marcas dos principais clubes internacionais (FORBES, 2011), fica evidenciado que o caminho que os clubes brasileiros terão que percorrer ainda é longo. A soma dos valores das 12 marcas mais valiosas do futebol brasileiro – R$ 3,72 bilhões – está pouco acima do valor de marca mais valiosa do futebol mundial, o Manchester United – R$ 2,9 bilhões; o Real Madrid e o Arsenal completam o trio de clubes com a marca mais valiosa, com R$ 2,18 bilhões e R$ 1,86 bilhões20. (FORBES, 2011). A seguir, serão apresentadas as considerações finais desta dissertação. 20 Os valores em dólar foram convertidos para R$ na data de 1º de agosto de 2011 através do site http://economia.uol.com.br/cotacoes/. Os valores em dólar dos clubes são, respectivamente, US$ 1,86; 1,4 e 1,19 bilhões. 120 CONSIDERAÇÕES FINAIS As limitações que circundaram este trabalho foram diversas. Primeiramente, a limitação imposta pela falta de autores nacionais, apesar da contribuição valiosa de alguns, criou barreiras constantes para analisar-se a teoria do marketing esportivo no Brasil. O número de trabalhos e livros apresentado ainda é pequeno e por isso esta pesquisa recorreu, por diversas vezes, principalmente, a livros de autores internacionais. Mesmo que traduzidos para o português, os livros trazem dados e informações pertinentes ao mercado norteamericano ou europeu, que muitas vezes até auxiliam na construção do cenário do mercado brasileiro, mas nem sempre com a exatidão necessária. Essa limitação mostra a necessidade de desenvolvimento nessa área dentro do universo acadêmico. Vale ressaltar que a quantidade de trabalhos acadêmicos, tanto no nível de graduação quanto na pós-graduação (mestrado e doutorado), está aumentando, mas ainda está longe de ser um dos temas de pesquisa mais comuns. A imaturidade da indústria do esporte no Brasil, principalmente dos clubes de futebol também resultou num desafio à parte para a busca das informações. Isso fica evidente quando se percebe que os maiores clubes de futebol do Brasil são organizados como associações sem fins lucrativos, ainda estão montando seus departamentos de marketing e, em muitos casos, não como setores profissionais. Na busca de informações para a análise do cenário em que os clubes brasileiros estão expostos, ficou evidente como tal estrutura impacta, se não no resultado dos clubes, na transparência das informações. Apesar da limitações impostas, os levantamentos realizados serviram de alicerce para a construção do tema proposto. Assim, não há como negar o impacto das transformações do ambiente futebol. Essas mudanças, frutos de um processo que vem ocorrendo nas últimas décadas – a mercantilização do futebol – começam a chegar ao Brasil e mostram-se visíveis, sobretudo, quando se vislumbram as amplas e diversas possibilidades de receita que o futebol é capaz de gerar, conforme apresentado no capítulo 4. Os dados levantados por este trabalho mostram que os clubes estão num processo de adaptação a esse novo modelo de negócio e buscam entender este novo perfil de torcedor/consumidor que surge. A época é propícia para essa adaptação, pois o Brasil 121 atravessa um dos momentos de maior crescimento econômico das últimas décadas, como contextualizado no capítulo 4. Assim, dentro do mix de marketing que vem sendo trabalhado pelos clubes de futebol no Brasil, conseguimos, ao longo do trabalho, identificar diversas ações que ajudam a responder as indagações e hipóteses aqui levantadas. É na intersecção entre marca e consumidor que está o alicerce para a construção de um clube sólido, capaz de atrair novos fãs, novos investimentos e novas receitas. Num cenário mercadológico inédito para os clubes, em que seus concorrentes não serão apenas os outros clubes, mas sim cinema, teatro, espetáculos, restaurantes e todos os setores da indústria de entretenimento, a consolidação da força da marca será cada vez mais necessária para manter os atuais e atrair os novos consumidores/torcedores. Para que essa união de forças ocorra, é necessário que os clubes brasileiros profissionalizem seus departamentos de marketing e desenvolvam novas formas de tratar o esporte: cada partida é um espetáculo à parte, único em todos os seus aspectos. Os eventos esportivos devem ser vistos como uma atividade de entretenimento capaz de gerar lucro para todas as partes envolvidas. Um dos meios de divulgação mais eficazes nas ações de marketing esportivo é o estádio, local onde o clube tem a chance de promover para o consumidor a experiência única de torcer. Esse conceito pode ser peça chave para aumentar tanto a presença do público como o faturamento do clube, não apenas pela própria bilheteria, mas, principalmente, pelo envolvimento do torcedor/consumidor com o clube, conforme apontado na pesquisa apresentada no capítulo 4. O torcedor parece entender seu papel neste espetáculo chamado futebol e, como produtor do evento ao mesmo tempo que é o receptor da ação, busca uma participação mais ativa no espetáculo que cria. A percepção de que, ao adquirir produtos oficiais de seu clube, está contribuindo financeiramente com o clube colabora no processo de transformação dos clubes em uma marca. Nesse sentido, o torcedor percebe que, no novo cenário, seu papel pode ir muito além das arquibancadas e ele se mostra pronto para ser a plateia, o produtor e o investidor do espetáculo. 122 Mas os clubes devem estar atentos e não podem acreditar que, apesar da alta fidelidade existente do torcedor, ele nunca será infiel; não se cogita aqui da migração de torcedores para outros clubes, mas sim da migração de consumidores para outras marcas. Como alertado por Kapferer (2003), citado no capítulo 2, os consumidores podem tornar-se infiéis quando julgam que o preço da marca está acima do que eles previram. A pesquisa de campo (capítulo 4) mostra que, entre aqueles que optam por não comprar produtos oficiais do clube, o principal motivo é justamente o preço e, mesmo entre aqueles que compram, uma das maiores reclamações recai sobre o mesmo item. Isso requer atenção por parte dos profissionais de marketing dos clubes na hora de estruturar os mix de serviço. Trabalhar os produtos é importante, mas ter atenção redobrada ao preço mostra-se fundamental. O processo de conceber o clube como uma marca e, através dela, buscar novas receitas é inédito para o mercado do futebol no Brasil. Até pouco tempo atrás, o futebol era um esporte amador. As poucas receitas geradas eram fruto da venda de atletas para o exterior. Como exposto no capítulo 3, a entrada da mídia serviu de base para essa mudança. A grande exposição que o futebol proporciona trouxe novos jogadores ao mercado e, com isso, outras regras e possibilidades. Nesse cenário, as empresas identificaram no futebol uma plataforma para suas ações e para consolidação de suas marcas. Ao longo do trabalho, é possível identificar que os clubes estão se esforçando para aproveitar essa mudança e é bem plausível crer que, num futuro próximo, em vez de exportar talentos esportivos nacionais, os atores do espetáculo, se passe a exportar o próprio espetáculo, tendência que tornará o futebol brasileiro ainda mais rentável do que já se ventura hoje. Essa análise é justificada pela análise das ações recentes dos clubes brasileiros, apresentada no capítulo 4, que demonstram que eles estão acreditando no potencial de consumo de sua marca e investindo na relação clube/consumidor. Concluindo, é certo que o futebol brasileiro está rompendo barreiras e iniciando um novo ciclo. Os profissionais da área de marketing estão ainda na fase do aquecimento e o torcedor é peça chave para que todas essas mudanças ocorram. Levar o torcedor a frequentar o estádio novamente, não apenas em dias de jogos, como já demonstrado ao longo do 123 trabalho, também se apresenta como um diferencial para os clubes e pode ser potencializado por meio do marketing esportivo. Para isso, é necessário colocar o futebol na pauta do cidadão comum, não apenas dos fanáticos por futebol. O futebol deve estar entre as opções de entretenimento de todas as classes sociais, pois, como se tratou no capítulo três, esse é um esporte que não tem barreiras sociais ou caracteres excludentes. Uma boa administração do mix de marketing, baseada em segmentos distintos, que amplie a oferta de produtos e serviços (capítulo 1) será capaz de maximizar as receitas dos clubes ainda mais do que os valores apresentados no capítulo 4. Dessa maneira, a maior presença do torcedor no estádio não deve ser considerada apenas com a finalidade de aumentar a arrecadação de bilheteria, que é a forma mais simples de receita e já acontece nos dias de hoje, mas o retorno dos torcedores a esse ponto de venda representa inúmeras possibilidades de negócios: • valorização do espetáculo – o torcedor, como já exposto, tem papel fundamental na criação deste espetáculo, de modo que seu retorno ao estádio irá gerar mais credibilidade ao produto futebol e, principalmente, ao produto campeonato; • patrocínios – as grandes marcas investem nos principias clubes e nos principais atletas para associar sua imagem a imagens de sucesso e a uma história que seja compatível com sua marca; o estádio cheio é um ambiente propício para as mais variadas ações de marketing, pois o consumidor encontra-se num momento emocionalmente intenso, o que pode impulsionar o consumo. • Naming Rights21– modelo de patrocínio em que o patrocinador adquire o direito de dar nome à arena esportiva do clube patrocinado. A aproximação da Copa do Mundo de 2014 também abre uma frente de negócios importante para os clubes brasileiros. Não se trata de discutir se a Copa será ou não vantajosa para a sociedade brasileira, ao menos não neste trabalho, mas sim de aproveitar a construção e/ou reforma dos principais estádios para que o Brasil possa ter arenas que sejam lucrativas, capazes de atrair novos negócios para os clubes. 21 Direito de nome: é o direito sobre a propriedade de nomes. 124 Por fim, a pesquisa de campo corroborou com as hipóteses levantadas por este trabalho, mostrando que as ações de marketing dos clubes devem estar integradas ao mix de serviços. A valorização das marcas nos últimos anos, o aumento da receita – em todas as frentes analisadas (capítulo 4) – e a resposta do consumidor a esse novo modelo de trabalho dos clubes também corroboram para que este trabalho chegue ao fim com a certeza de ter atingido os objetivos propostos na introdução. “Fecham-se as cortina e termina o espetáculo, torcida brasileira!” (Fiori Gigliotti) 125 REFERÊNCIAS Livros e Trabalhos AAKER, David. A. Marcas: brand equity gerenciando o valor da marca. 4 ed. São Paulo: Negócios Editoria, 1998. _______________. Arquitetura da Marca. Revista HSM Management. nº13, 1999. p. 112116. _______________. Criando e administrando marcas de sucesso. São Paulo: Futura, 2001. AAKER, David. A. & JOACHIMSTHALER, E. Como construir marcas líderes. São Paulo: Futura, 2000. AFIF, Antonio. A bola da vez: O marketing esportivo como estratégia de sucesso. São Paulo: Infinito, 2000 ALMEIDA, Luis Cláudio de. A Gestão do esporte de alto nível: necessidade e especificidade. 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Os clubes escolhidos foram baseados numa análise prévia sobre o valor de marca de cada clube e foram considerados os 12 clubes com as marcas mais valiosas do Brasil. Desde já agradeço sua ajuda. Abraços Fernando Fleury12 12 Todas as questões foram marcadas como obrigatória, não podendo o entrevistado pular para uma nova questão sem ter respondida a anterior 138 01. Qual é o seu clube de coração? Atlético-MG Botafogo Corinthians Cruzeiro Flamengo Fluminense Grêmio Internacional Palmeiras Santos São Paulo Vasco Outro Não possuo 02. Qual é seu sexo? Torcedor Torcedora 139 03. Qual é a faixa de renda mensal que mais se aproxima a de sua família? Até 1 Salário Mínimo De 1 a 2 Salários Mínimos De 2 a 3 Salários Mínimos De 3 a 5 Salários Mínimos De 5 a 10 Salários Mínimos De 10 a 20 Salários Mínimos Mais de 20 Salários Mínimos 04. Qual seu grau de instrução? Fundamental Incompleto Fundamental Completo Médio Incompleto Médio Completo Superior Incompleto Superior Completo Mestre Doutor Pós-Doctor 140 05. Qual é o local onde você mais assiste jogos do seu clube? Estádio. Casa (próprio ou amigos). Bar. Outro local. 06. Com que frequência você vai ao estádio ver jogos do seu clube? (Considerar apenas as partidas em que seu clube é mandante). Todos os jogos, não perco um. Uma vez por mês. Uma vez a cada três meses. Uma vez por semestre. Uma vez por ano. Nunca vou. 07. Você compra produtos OFICIAIS de seu clube? (Não estão inclusos nesta compra produtos de torcidas organizadas e/ou piratas). Sim (leva direto para a questão 08). Não (leva direto para a questão 16). 141 Você respondeu que compra produtos oficiais de seu clube (somente para quem respondeu SIM à questão 07) 08. Onde você compra produtos do seu clube? Lojas do clube. Lojas de esporte. Loja virtual do clube. Outras lojas virtuais. 09. Com que frequência você compra produtos oficiais do seu clube? Uma vez por mês. Uma vez a cada três meses. Uma vez por semestre. Uma vez por ano. 10. Quanto você gasta anualmente em produtos oficiais do seu clube? Até R$ 150. R$ 150,1 a 300. R$ 300,1 a R$ 500. Mais de R$ 500. 142 11. Quais são os produtos que você costuma comprar do seu clube? Permitido assinalar qualquer quantidade Camisas/Uniformes Lençóis e toalhas Outras roupas casuais do clube Bolas Chaveiros Bonés Calçados Produtos Infantis Carteira Bandeira Copos e canecas Mascotes ou bichos de pelúcia Outros 12. Se você puder escolher entre um produto oficial do seu clube ou um concorrente de uma marca tradicional você irá comprar... o produto oficial do meu clube. a marca tradicional. aquele que tenha o melhor preço. aquele que apresente a melhor qualidade. o que tenha o melhor custo benefício. não levo em conta o fato de ser do meu clube. 143 13. No que os produtos do seu clube deixam a desejar Preço alto. Qualidade. Variedade. Utilidade. Atratividade. em nada. Você respondeu que não compra produtos oficiais de seu clube (somente para quem respondeu NÃO à questão 07) 14. Porque você não compra produtos oficias de seu clube? Preço alto. Qualidade. Variedade. Utilidade. Atratividade. 144 Percepção de valor e da organização 15. Onde você busca informação sobre seu clube? Jornal. Site oficial do clube. Site especializado no seu clube. Outros sites. 16. Como você define as lojas oficias de seu clube? Ótimas. Boas. Regulares. Ruins. Péssimas. Não utilizo. 17. Qual loja oficial de seu clube você mais frequenta? Dentro do estádio. Shopping. Loja de rua. Outra. Não frequento. 145 18. Como você define o marketing do seu clube? Omisso. Amador. Desorganizado. Ruim. Criativo. Profissional. Inovador. Não tenho conhecimento do clube para responder. 19. Como você avalia as ações de marketing do seu clube? Ótimas Boas Regulares Ruins Péssimas Não tenho conhecimento do clube para responder. 20. Você acredita que ao comprar produtos oficiais do seu clube você está contribuindo com seu clube financeiramente? Sim. Não. 146 21. Como consumidor do seu clube, você se sente bem tratado como cliente? Com certeza. Na maioria das vezes. Mais ou menos. Quase nunca. Nunca. Não tenho conhecimento do clube para responder. 22. Você acredita que seu clube, em competições oficiais, tem... a obrigação de ser campeão. boa qualificação, mas acima de tudo representar bem nossos ideais. que ter dignidade, vencer é o menos importante. Atenas 1886 Antuérpia Paris Amsterdã Los Angeles 1920 1924 1928 1932 1912 Estocolmo Local Ano • Jogos dão lucro Cola • Entrada da Coca- estádios • Patrocínio nos • Venda do Programa exclusivos • Venda dos direitos Olímpicos • Criados os Jogos Fato Anexo B – Evolução das Olimpíadas • Foi o primeiro evento dos Jogos a dar lucro no estacionamento do estádio. • A Coca-Cola torna-se, pela primeira vez, um patrocinador dos jogos. • A publicidade não foi permitida dentro do estádio, mas o outdoor foi admitido em lugares discretos, como • Patrocínio em estádio foi permitido pela primeira vez. • Foi completamente vendido para patrocinadores, cujos anúncios dificultaram a leitura do programa. comercializadas em produtos de varejo. • Vendidos para dez companhias suecas, basicamente para tirar fotos que posteriormente seriam patrocinadores. • George Averoff, um arquiteto de renome, financiou a obra do estádio e, posteriormente, companhias como a Kodak foram os primeiros patrocinadores das Olimpíadas. • A empresa pagou para ser incluída no programa de souvenires distribuídos no estádio uma importância mínima na época. • Existiam dificuldades financeiras para a realização do evento, fato que obrigou a entrada de Dado Histórico 147 Londres Helsinque 1948 1952 Roma Tóquio 1960 1964 1956 Melbourne Berlim 1936 Olímpico Internacional. • 250 empresas entraram com força total, incluindo uma empresa de tabaco, mais tarde banida pelo Comitê • Entrada de empresa de tabaco com o aparecimento de 46 companhias, que forneceram suporte técnico e provisões básicas, como sabonetes. • Foi um evento televisionado ao vivo para 18 países europeus e, horas mais tarde, para os Estados Unidos, o Canadá e Japão. • Um complexo para o planejamento de patrocinador, fornecedor, entre outros fatores, foi implementado cidades disputaram, na Austrália, a imagem de melhor cidade e de melhor qualidade de vida profissional; além disso, a equipe de Melbourne não queria de forma nenhuma que Sidney sitiasse uma Olimpíada • Receber as Olimpíadas passa a ser visto como status, além do montante investido, que era interessante para qualquer cidade já naquela época • Um detalhe das Olimpíadas de Melbourne foi a grande rivalidade com a cidade de Sidney. As duas • O departamento de vendas de direitos de imagem e produtos foi instalado no local do evento. • Meio milhão de telespectadores assistiu a 64 horas de programação direitos de imagem. • A BBC foi forçada a pagar US$ 3 mil por direitos de televisão, estabelecendo assim um novo conceito de • Foi televisionado com apenas três câmeras. • Apenas uma câmera foi usada em imagens ao vivo e, mesmo assim, só com luz do dia. • 138 horas de Olimpíadas foram televisionadas para 162 mil telespectadores. patrocinadoras • Televisionamento ao vivo • 46 companhias relevantes • Sem dados dos direitos de transmissão • Aperfeiçoamento transmissão • Direitos de televisiva • Transmissão 148 Montreal Los Angeles Seul 1976 1984 1988 14 • Criação do TOP13 patrocinadores com direitos de exclusividade • Entrada de modalidade de patrocinadores • Divisão da anéis olímpicos • Licenciamento dos cores • Transmissão em The Olympic Programme idem Munique 1972 13 México 1968 por satélite • Televisionamento administra todos os produtos globais • O Comitê Olímpico Internacional implementa uma nova programação de marketing: o TOP14, que direitos exclusivos. • A maioria dos patrocinadores era de multinacionais. • 156 nações compraram direitos de televisionamento com audiência estimada de 2,5 bilhões de telespectadores. • 250 câmeras e super-slow motion, que era novidade para o momento. • 34 patrocinadores oficiais, 64 fornecedores oficiais e 65 licenciados. Para a categoria, foram designados U$ 7 milhões de lucro, o que pode ser considerado pouco até para os padrões da época • Houve 628 patrocinadores e fornecedores. • O patrocínio foi dividido em três áreas: patrocinador oficial, apoio oficial e promotor oficial. • Princípios de organização começaram a se tornar mais evidentes; mesmo assim, o evento em si gerou melhor qualidade, ao vivo, para os telespectadores. • 98 câmeras foram usadas. • Os contratos de licenciamento foram criados para uso dos anéis olímpicos. • Nenhum esporte era praticado simultaneamente, pois os jogos foram televisionados na íntegra e com • Jogos foram televisionados ao vivo e em cores pela primeira vez. • O televisionamento global, por satélite, foi usado pela primeira vez. 149 Sidney Atenas Pequim 2000 2004 2008 Idem Atlanta 1996 15 Barcelona 1992 • Megaconstruções pontos de distribuição dos produtos licenciados • Ampliação dos • Loja On line privados • Jogos 100% • Sub-licenciamentos conhecido como Ninho de Pássaro. Um consórcio privado pagou o restante. Em troca, as empresas privadas terão o direito de administrar o estádio por 30 anos. Após esse período, ele voltará para as mãos do governo. • Autoridades municipais alocaram metade do dinheiro para a construção do novo estádio nacional, construindo 12 novos estádios e reformando outros. • Segundo o Comitê de Organização de Pequim (Bocog, na sigla em inglês), a cidade gastou US$ 1,9 bilhão marca de US$ 42 bilhões, mais que o dobro do investido em Atenas. • Segundo dados publicados pela BBC de Londres os gastos nos Jogos Olímpicos de Pequim superam a diversos países, tais como: Bélgica, Chipre, Canadá, Japão, Suíça e Estados Unidos. • Através de um programa de licenciamento internacional os produtos também foram disponibilizados em dentro da Grécia, fato relevante para as dimensões do país. • Os produtos dos Jogos Olímpicos de Atenas foram disponibilizados em mais de 10 mil pontos de venda capazes de comprar produtos licenciados (la84foundation, 2008). • Implantada a Loja On-line (Olympics.com) através da qual os consumidores de todo o mundo foram licenciamento e outros, 8%. • 25 mil horas de cobertura de TV em 214 países, com 19,6 bilhões de telespectadores. • Direitos de televisionamento foram cedidos de graça para a África pelo COI. • Receitas de patrocínio representaram 32%, vendas de ingressos, 26%, direitos de televisão, 34%, patrocínio e venda de ingressos, sendo as maiores fontes de renda. • Os cem anos dos Jogos foram completamente financiados por empresas privadas, com direitos de TV, meio de satélites na Inglaterra, na Espanha e nos Estados Unidos. • O TOP15 continua com dois patrocinadores globais, porém com um pacote mais sofisticado. • Operava em vários países, é a primeira da Multi-tier TV Structure. • Emissoras nacionais de televisão sub-licenciavam a cobertura dos jogos para o sistema de TV a cabo por 150 Clubes Corinthians-SP Internacional-RS São Paulo Palmeiras-SP Flamengo-RJ Santos-SP Grêmio-RS Cruzeiro-MG Atlético-MG Vasco da Gama Fluminense-RJ Atlético-PR Botafogo-RJ Vitória-BA Avaí-SC Coritiba-PR Goiás-GO Portuguesa Guarani-SP Bahia-BA RK 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Receita total 2010 212.633 200.798 195.715 148.289 128.558 116.508 113.677 101.391 93.290 83.558 76.822 67.743 52.699 42.136 31.987 30.696 30.373 24.609 22.940 20.566 Receita total 2009 181.042 176.199 174.836 125.007 120.022 70.378 110.893 121.341 66.126 84.817 61.261 63.091 45.869 30.403 21.006 41.385 30.096 23.660 15.684 ND Variação 09/10 17% 14% 12% 19% 7% 66% 3% -16% 41% -1% 25% 7% 15% 39% 52% -26% 1% 4% 46% ND Receita total 2008 117.521 142.168 160.575 138.811 117.907 65.341 99.038 94.087 57.614 52.023 66.456 44.363 51.569 18.882 8.337 37.660 20.695 47.153 10.546 9.497 Variação 08/09 54% 24% 9% -10% 2% 8% 12% 29% 15% 63% -8% 42% -11% 61% 152% 10% 45% -50% 49% ND Receita total 2007 134.627 155.881 190.081 86.290 89.499 53.102 109.031 77.650 58.326 51.079 39.335 54.091 41.160 11.215 5.731 14.916 39.720 12.439 6.936 ND Anexo C – Ranking por receita total (SOMOGGI, Finanças dos clubes de futebol do Brasil em 2010) Variação 07/08 -13% -9% -16% 61% 32% 23% -9% 21% -1% 2% 69% -18% 25% 68% 45% 152% -48% 279% 52% ND 151 Anexo D – Ranking de torcida (4ª Pesquisa Ibope) 152