TÍTULO HARRY POTTER E A PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS João Céspedes (2), Héctor Cury Soares (3) (1) Trabalho executado sem recursos Graduando em Direito; Bolsista do Centro de Referências em Direitos Humanos; Universidade Federal do Pampa; Sant’Ana do Livramento; Rio Grande do Sul; [email protected]. (3) Orientador; Universidade Federal do Pampa. (2) Palavras-Chave: Cultura, Literatura, Direitos Humanos, Literatura de Massa. INTRODUÇÃO Ao decorrer de sua existência, a humanidade desenvolveu métodos cada vez mais complexos de comunicação, a partir da apropriação do uso da linguagem criando formas e estilos próprios, oriundos dos aspectos culturais dos povos, como meio de transmissão de conhecimentos intergeracionais. Assim, podese destacar a Literatura, que dotada de configuração estilística própria, é um meio de abordar diversas temáticas de forma crítica, possibilitando diversos paralelos entre a ficção criada por determinado autor e a conexão com a realidade, sendo um meio e não somente um conceito com fim em si mesmo. Nessa ótica, a Literatura como expressão cultural acaba criando meios para democratizar o conhecimento, podendo adquirir grande amplitude, estendendo-se a diferentes áreas e abarcando eixos distintos que podem dialogar entre si. Desta forma, o debate sobre a perspectiva dos Direitos Humanos pode ser paralelamente discutido mediante a exploração de seus subtemas que estão tacitamente ou expressamente evidenciados em obras literárias. Direitos Humanos na concepção de Mendes e Branco (p. 147, 2013), “são direitos postulados em bases jus naturalistas, contam com índole filosófica e não possuem como característica básica a positivação numa ordem jurídica particular“, onde, partindo de definições teóricas e doutrinárias como a supracitada, foi formulada a seguinte pergunta de pesquisa: Como abordar Direitos Humanos mediante análise de obras literárias? Fomentando a busca pela resposta da pergunta e novas abordagens sobre essa temática central, foi analisada a Literatura e seu contexto, bem como as chamadas Literaturas de Massa, geralmente alvo de críticas por questões estéticas e estigmatizadas culturalmente, sendo raramente trazidas para a conjuntura dos debates científicos ou sociológicos, o que acaba desconsiderando sua enorme receptividade pelo público. Desta forma foi explorada a obra Harry Potter, a qual, por sua composição, história e conceitos incorporados pela autora, obtiveram um grande alcance mundial, bem como atingiu públicos de diferentes idades e gerações, e, portanto, o presente projeto de pesquisa tem como objetivo analisar o contexto dos Direitos Humanos sob a ótica da Literatura de Massa, por meio do exame crítico do romance Harry Potter. METODOLOGIA Como método para desenvolvimento desta pesquisa, ocorreu a apropriação do método qualitativo, mediante a uma análise crítico-exploratória dos sete primeiros romances da obra Harry Potter, da autora inglesa Joanne Kathleen Rowllling. Desta forma foram realizados diagnósticos da obra, buscando fomentar analogias com conceitos presentes em doutrinas que abordam a temática Direitos Humanos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Elucubrando mediante análise do o primeiro livro da série, Harry Potter e a Pedra Filosofal, é passível de percepção os contextos da trama, onde menino Harry descobre o passado de seus pais, chamados de bruxos por possuírem o dom da magia. Após a morte dos mesmos, a personagem ficou sob a tutela dos tios, que por não possuírem dons mágicos, eram denominados trouxas, e devido a isso, não aceitavam o menino como membro da família e a ele direcionavam maus tratos. Quando Harry é chamado para a escola de Magia e Feitiçaria de Hagwarts, é possível a verificação de que magia e vida real, na trama, ocorrem no mesmo mundo, onde o universo dos chamados bruxos é então disfarçado por meio de uso de feitiço, como Anais do 8º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa é o exemplo do Beco Diagonal, um lugar de compras e onde se localizam lojas, restaurantes, etc, localizado em meio à cidade de Londres, Inglaterra, onde viviam os trouxas. Partindo do entendimento desse cenário, é possível vislumbrar questões de Direitos Humanos a partir desse primeiro livro, as quais permeiam a obra, como por exemplo a discriminação, que vai além da separação entre trouxas e bruxos, mas aprofundando em um preconceito de cunho racial, pela diferenciação, entre os sangues puros, aqueles nascidos de pais bruxo, considerados a elite social; os sangues ruins, nascidos de pais trouxas; e os bruxos abortados, aqueles que possuem pais bruxos, mas sem magia, e, mediante essa conjuntura, o vilão Valdemort pretendia realizar um extermínio das raças inferiores. Nesse sentido, é possível a analogia tocante aos Direitos Humanos, bem como a importância de uma de suas características, a universalidade, a qual, segundo Piovesan (p. 210, 2013), “traduz a absoluta ruptura com o legado nazista, que condicionava a titularidade de direitos à pertinência à determinada raça (a raça pura ariana).” Com o segundo livro, coloca a questão da escravização direcionada aos Elfos Domésticos, seres com poderes mágicos que acreditavam serem destinatários dessa condição, e além de sofrerem tratamentos semelhantes a obejetos, conduziam-se autoflagelamento, ou até mesmo ao suicídio mediante à uma falta perante seus donos. Uma das personagens principais, Hermione Granger, tenta criar a Fundo de Apoio à Libertação dos Elfos, porém, sem a adesão dos demais, não obtém sucesso. Esse tema pode ser incorporado aos debates sobre as condições análogas de escravidão, direcionado para além da ficção, assim como para abordar a questão sob a ótica dos Direitos Humanos e essa realidade existente mundialmente. Outro aspecto que pode ser destacado é o trazido pelo livro terceiro, Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, que traz o contexto da situação da instituição prisional chamada de Azakaban, que era o local onde eram encarcerados os bruxos e magos que cometiam infrações graves, sendo uma fortaleza de onde ninguém jamais havia sido liberto, que levava os prisioneiros à loucura ou à morte, protegida por seres malignos denominados Dementadores. A prisão era administrada pelo Ministério da Magia, responsável também pelos julgamentos, os quais eram compostos pelos Interrogadores, que desempenham o papel inquisitivo, mediante uma justiça tendenciosa, que muitas vezes violava direitos civis durante os julgamentos. Tal perspectiva pode remeter ao Tribunal de Nuremberg de 1945, que foi alvo de discussão como as punições éticas, privação de direitos e tribunais de exceção, sendo também um dos precedentes para internacionalização dos Direitos Humanos. Além dos temas citados, questões raciais, de gênero, família, imprensa, bem como aspectos políticos e sociais são fios condutores que perpassam a obra e podem ser transmitidos para análises em Direitos Humanos. CONCLUSÕES Direitos Humanos se configuram como aqueles atribuídos à condição humana, e muitos desses direitos atualmente se constituem como princípios fundamentais ao indivíduo, devido a isso, merecem a tutela dos Estados em suas respectivas Cartas. Assim, mediante ampliações no âmbito da própria doutrina a cerca dos Direitos Humanos, verifica-se que os mesmos permitem diferentes meios para que sejam discutidos diversos de seus pontos fundamentais. Nesse prisma, a Literatura é um meio interdisciplinar de abordar diferentes contextos sociais, políticos e entre outros, desta forma, por ser produto de cultura humana, mostra-se também com uma forma pedagógica de trazer debates reais que estão implícitos na conjuntura das obras de ficção. Portanto, seguindo essa ideia, devido a grande abrangência e aceitação da Literatura de Massa, é possível o paralelo da obra Harry Potter com o debate dos Direitos Humanos, exemplificando a amplitude que se pode encontrar para proposição de diferentes olhares a respeito do tema. REFERÊNCIAS a. Livro: MENDES, Gilmar F; BRANCO, Paulo G. Curso de Direito Constitucional. 8°ed.rev e atual. -São Paulo:Saraiva, 2013. PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e direito constitucional internacional. 14° ed., rev. e atual. -São Paulo: Saraiva, 2013. ROWLLING, J.K. Harry Potter e a Pedra Filosofal. Tradução: Lia Wyler. -Rio de Janeiro: Rocco, 1997. ROWLLING, J.K. Harry Potter e a Câmara Secreta. Tradução: Lia Wyler. -Rio de Janeiro: Rocco, 1998. ROWLLING, J.K. Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban. Tradução: Lia Wyler.- Rio de Janeiro: Rocco, 2000 Anais do 8º Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade Federal do Pampa