UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA A SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E SAÚDE Ana Gabriela de Souza Fernandes ALIMENTANDO O SABER: O PERFIL DAS MERENDEIRAS, SUAS PERCEPÇÕES EM RELAÇÃO AO OFICIO E AS POSSIBILIDADES PARA A EDUCAÇÃO RIO DE JANEIRO – RJ 2012 Ana Gabriela de Souza Fernandes ALIMENTANDO O SABER: o perfil das merendeiras, suas percepções em relação ao oficio e as possibilidades para a educação Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação em Ciências e Saúde. Orientador: Alexandre Brasil Carvalho da Fonseca RIO DE JANEIRO - RJ 2012 Fernandes, Ana Gabriela de Souza. Alimentando o saber: o perfil das merendeiras, suas percepções em relação ao ofício e as possibilidades para a educação / Ana Gabriela de Souza Fernandes.– 2012. 114 f. : il. ; 30 cm. Orientador: Alexandre Brasil Carvalho da Fonseca. Dissertação (mestrado) -- Universidade Federal do Rio de Janeiro, Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, 2012. Bibliografia: f. 94-98. 1. Educação sanitária. 2. Merenda escolar. 3. Merendeiras I. Fonseca, Alexandre Brasil Carvalho da. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Nutes, Programa de Pós-graduação em Educação em Ciências e Saúde. III. Título. Ana Gabriela de Souza Fernandes ALIMENTANDO O SABER: o perfil das merendeiras, suas percepções em relação ao oficio e as possibilidades para a educação Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Educação em Ciências e Saúde, Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em Educação em Ciências e Saúde. Aprovado em __________________________________ ______________________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Brasil Carvalho da Fonseca – UFRJ ______________________________________________________ Profa. Dra. Luciene Burlandy Campos de Alcântara – UFF ______________________________________________________ Profa. Dra. Vera Helena Ferraz de Siqueira – UFRJ AGRADECIMENTOS A Deus por estar presente em cada etapa deste trabalho, possibilitando ultrapassar as dificuldades que surgiram no caminho. Ao professor Alexandre Brasil por confiar e possibilitar a discussão de um tema que ainda é visto com estranhamento por muitos profissionais, proporcionando um crescimento pessoal e profissional. Pelas conversas descontraídas e orientações que tornaram o mestrado, apesar das dificuldades, um momento prazeroso. Aos meus pais pela compreensão e apoio constantes, mesmo quando não entendiam a dedicação ao trabalho. Ao meu irmão por ser sempre meu parceiro. A Fernanda Portronieri pela amizade, apoio, incentivo de sempre. Pelos cafés e batatinhas de fim de tarde e por me lembrar em diversas situações que o mestrado era um processo de construção, desconstrução e reconstrução de saberes. A Daniela Sanches Frozi pela amizade e incentivo desde os tempos da graduação. Por tudo que aprendi nesses anos de convivência profissional e pessoal. Aos amigos do laboratório por compartilharem suas histórias de vida e conhecimentos. Carolina Rangel pela parceria e amizade, tornando os momentos mais cansativos em situações agradáveis. Leonardo Rosas por ter me ensinado a levar as situações de forma mais tranqüila. Daise, Juliana Casemiro, Rebecca e Eliana pelo carinho e preocupação. Elizabete Ribeiro e Thaís Salema pelos diálogos ricos em conhecimentos. Juliana Dias, Fernanda Dysarz, Hugo Cerqueira pela força no trabalho de campo. Vanessa Suellen e Déborah Gonçalves por se dedicarem de forma intensa ao trabalho extremamente desgastante. Às professoras Vera Helena, Luciene Burlandy e Isabela Cabral presentes nessa banca pelas contribuições. Ao professor Adilson pelo auxilio e disponibilidade. As merendeiras e os Agentes de preparo dos alimentos por terem me recebido em seu local de trabalho mesmo com todas as dificuldades, por terem partilhado seus saberes e um pedacinho de suas vidas. Resumo Fernandes, Ana Gabriela de Souza. Alimentando o saber: o perfil das merendeiras, suas percepções em relação ao oficio e as possibilidades para a educação. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Saúde) – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012. A educação em saúde faz parte do currículo das escolas brasileiras desde 1971, tendo como objetivo estimular nesse ambiente o conhecimento e a prática de saúde básica e da higiene. Apesar da educação em saúde no ambiente escolar ter se consolidado, as atividades escolares nestas áreas não produzem em muitas situações resultados sólidos. Além dos problemas enfrentados pela falta de preparo dos professores e de outros profissionais, a educação em saúde tem seu desenvolvimento dificultado pela invisibilidade atribuída a outros membros da escola, e pelo domínio do saber cientifico sobre o saber popular. Inserida no ambiente escolar a alimentação tornou-se um espaço para o desenvolvimento da educação em saúde, principalmente em relação à educação alimentar e nutricional. Sendo as merendeiras responsáveis diretas pela alimentação escolar, pois são responsáveis por todas as etapas da produção, devem ser consideradas fundamentais para o efetivo desenvolvimento da educação em saúde com foco na educação alimentar e nutricional. O presente estudo tem como objetivo descrever o perfil das merendeiras e indicar as possibilidades desses profissionais como participantes dos processos educativos. Utilizou-se uma abordagem quantitativa, com base no método de pesquisa survey, no qual foram entrevistados 285 manipuladores de alimentos entre setembro e dezembro de 2011 a partir de amostra estratificada e aleatória dos profissionais do município do rio de janeiro. A partir da realização de análises estatísticas verificou-se que há uma mudança no perfil socioeconômico e profissional dos manipuladores de alimento, no entanto é possível concluir que o reconhecimento deste profissional como um ator importante aos processos educativos no ambiente escolar dependerá de uma série de transformações tanto relacionadas à reestruturação da alimentação escolar quanto das relações no espaço escolar. Palavras Chaves: EDUCAÇÃO EM SAÚDE, ALIMENTAÇÃO MERENDEIRAS, EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL. ESCOLAR, Abstract Fernandes, Ana Gabriela de Souza. Alimentando o saber: o perfil das merendeiras, suas percepções em relação ao oficio e as possibilidades para a educação. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Saúde) – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012. Health education has been a part of the Brazilian school curriculum since 1971 with the objective of stimulating the knowledge and action of basic health and hygiene principals. Although health education is present in the school environment, school activities in this field have not produced strong results in many situations. Beyond the issues involving the teachers’ and other professionals’ lack of preparation, health education has its development hindered by the invisibility ascribed to other school members and by the domination of scientific knowledge over popular knowledge. School feeding, as part of this environment, has become an area for the development of health education, mainly related to food and nutrition education. Because they are directly responsible for the school feeding, including all stages of food preparation, the cooks are considered essential to the effective development of health education with a focus on food and nutrition education. This study aimed at describing the school cooks’ profiles and showing the possibilities of these professionals as participants in educational processes. A quantitative survey research was performed and 285 school cooks were interviewed between September and December 2011 from stratified random sample of professionals in the municipality of Rio de Janeiro. Through statistical analysis it was possible to observe changes in the socioeconomic and professional profile of the cooks. However, we conclude that the acknowledgement of this professional as an important actor in educational processes within the school will depend upon a series of transformations related to the structure of school feeding as well as the relationships within the school. Key-words: HEALTH EDUCATION, SCHOOL FEEDING, SCHOOL COOKS, FOOD AND NUTRITION EDUCATION. LISTA DE FIGURAS E QUADROS Figura I – Organização da Alimentação Escolar em 1956 22 Figura II – Organização da alimentação escolar em 1957 24 Figura III – Bairros visitados durante o trabalho de campo 52 Quadro I – Concepções sobre Educação Alimentar e Nutricional 42 LISTA DE TABELAS Tabela I – Tamanho da amostra estratificada – Unidades Escolares 50 Tabela III – Tamanho da amostra estratificada – Merendeiras 51 Tabela III – Caracterização dos Manipuladores de Alimentos: escolaridade, classificação econômica e n° de habitantes por domicilio 56 Tabela IV – Transporte e tempo médio de deslocamento até o trabalho 59 Tabela V – Período que realizou o último curso 65 Tabela VI – Avaliação dos cursos 66 Tabela VII – Participação dos profissionais nas reuniões 72 Tabela VIII – Associações e participações 75 Tabela IX – Associativismo – dados agrupados 75 Tabela X – Percepção sobre intensidade do trabalho, valorização da profissão e relação afetiva 79 Tabela XI – Análise Fatorial 89 Tabela XII - Escores Valorização da profissão 89 Tabela XIII – Grupos respondentes Valorização da Profissão 90 Tabela XIV – Correlação de Spearman 90 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico I – Formação por área 57 Gráfico II – Função desenvolvida pelos manipuladores de alimentos 61 Gráfico III – Participação Curso Higiene dos Alimentos 64 Gráfico IV – Participação Curso Culinária 64 Gráfico V – Participação Curso Alimentação Saudável 64 Gráfico VI – Participação Curso Saúde do Trabalhador 64 Gráfico VII – Participação Curso Segurança do Trabalho 64 Gráfico VIII – Participação em outros cursos 64 Gráfico IX – Local onde utiliza a internet 70 Gráfico X – Freqüência de utilização da internet 70 Gráfico XI – Finalidade de utilização da internet 71 Gráfico XII – Alimentos para inclusão no cardápio 85 Gráfico XIII – Alimentos para serem retirados do cardápio 86 LISTA DE SIGLAS NUTES - Núcleo de Tecnologia Educacional para Saúde UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar INAD – Instituto de Nutrição Annes Dias IPES - Inspetoria de Propaganda e Educação Sanitária SAPS - Serviço de Alimentação da Previdência Social Stan - Serviço Técnico de Alimentação CNA - Comissão Nacional de Alimentação SAE - Setor de Alimentação Escolar PNME - Programa Nacional de Merenda Escolar CNME - Campanha Nacional de Merenda Escolar MEC - Ministério da Educação e Cultura FISI - Fundo Internacional de Socorro a Infância CCC - Commodity Credit Corporation USAID - United States Agency for International Development IDA – Industria de Alimentos CNAE - Campanha Nacional de Alimentação Escolar INAN - Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição PRONAN - Programa Nacional de Alimentação e Nutrição COMEB - Caracterização Operacional da Merenda Escolar Brasileira FAE - Fundação de Assistência ao Estudante INAE - Instituto Nacional de Alimentação ao Educando DAE - Departamento de Assistência ao Estudante FENAME - Fundação Nacional de Material Escolar CAE - Conselhos de Alimentação Escolar FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação COMLURB – Companhia Municipal de Limpeza Urbana APA – Agente de preparo do alimento SESP – Serviço Especial de Saúde Pública OMS – Organização Mundial da Saúde SME – Secretaria Municipal de Educação CLT - Consolidação das Leis do Trabalho CEC – Conselho Comunidade Escola ESF - Estratégia de Saúde da Família SEPE/RJ – Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro CBO - A Classificação Brasileira de Ocupações SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................................13 CAPITULO 1: As merendeiras no contexto da Alimentação Escolar...............................17 1.1. Alimentação Escolar: Do surgimento das primeiras ideias até a nacionalização...............................................................................................................17 1.2. A expansão da alimentação escolar e a experiência do Rio de Janeiro.........................................................................................................................23 1.3. PNAE: em cena, o Instituto de Nutrição Annes Dias e as Merendeiras............................................................................................................................29 CAPITULO 2: Educação em saúde......................................................................................32 2.1. Educação em saúde nas escolas e o componente educativo do Programa Nacional de Alimentação Escolar ..................................................................................36 2.2. Um caminho a pensar: saber popular e saber científico e a Educação alimentar e nutricional nas escolas........................................................................40 CAPITULO 3: Percurso metodológico.................................................................................46 3.1. Construção e validação do instrumento de pesquisa......................................................46 3.2. Definição da amostra.......................................................................................................49 3.3. Trabalho de Campo..........................................................................................................51 3.4. Variáveis e análise de dados............................................................................................53 CAPITULO 4: Perfil dos Manipuladores de alimentos das Unidades Escolares: conhecemos esse profissional? .......................................................55 4.1. Perfil socioeconômico .....................................................................................................55 4.1. Perfil profissional..............................................................................................................59 CAPITULO 5: Possibilidades de formação das merendeiras para além das capacitações.................................................................................................63 5.1. Cursos, materiais informativos e internet.........................................................................63 5.2 A inserção das merendeiras e agentes de preparo dos alimentos nas atividades da escola........................................................................................72 5.3. Associativismo..................................................................................................................74 CAPITULO 6. Intensidade do trabalho, valorização da profissão e relação afetiva: O olhar das merendeiras........................................................................................78 6.1. Intensidade do trabalho, valorização da profissão e relação afetiva.....................................................................................................................................78 6.2. Ações para estimular a alimentação................................................................................82 6.3. Uma abordagem ampla: Correlações entre intensidade do trabalho, valorização da profissão, afetividade, ações para estimular alimentação............................. 88 CONSIDERAÇÕES FINAIS 92 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................... 94 ANEXO.............................................................................................................................. 99 I – Questionário Piloto........................................................................................................ 99 II – Questionário versão final.............................................................................................105 III - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...........................................................113 IV – Classificação econômica Critério Brasil...................................................................114 13 INTRODUÇÃO O interesse pelo trabalho das merendeiras iniciou-se no ano 2009, quando realizei um trabalho de consultoria em restaurantes comerciais do Rio de Janeiro e concomitantemente ingressei como voluntária no projeto de pesquisa “Mapeamento e delimitação da alimentação escolar no Brasil: conhecendo e discutindo oportunidades no campo da educação alimentar e nutricional” do Observatório da Educação – NUTES/UFRJ, cujo foco de estudos é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Com a realização da faculdade de nutrição e a consultoria, observei pontos divergentes. Enquanto a rede de alimentação apresentava um crescimento considerável, os órgãos públicos e privados tomavam medidas para aumentar a segurança alimentar, e os estudos com manipuladores tinham maior visibilidade. Os manipuladores continuavam a desenvolver tarefas extenuantes com jornadas de trabalho que chegavam até 10 horas. O maior interesse dos órgãos públicos no setor da alimentação provocou a elaboração de leis para regulamentação do setor, abordando desde a estrutura física dos estabelecimentos até procedimentos padrões que os manipuladores deveriam realizar para assegurar a qualidade do alimento. Com esse novo panorama, surgiram diferentes questões: como capacitar os manipuladores de alimentos para atender às novas demandas? Quais são as demandas e a quais objetivos elas devem atender? De que modo ocorrem os processos educativos nesse contexto? Como as atividades de consultoria e as do Observatório ocorriam paralelamente, as reflexões levantadas no contexto dos restaurantes comerciais acabaram, de alguma forma, influenciando para um olhar mais atento às merendeiras. Ao me aprofundar nos estudos que abordavam a alimentação escolar, desde o início da sua implantação até a estruturação e consolidação do Programa Nacional de Alimentação Escolar, foi possível constatar que as atividades desenvolvidas pelas merendeiras são complexas, pois, além de apresentarem problemas como precarização do serviço e sobrecarga de trabalho, elas estão inseridas em um programa de abrangência nacional que se desenvolve em um ambiente de formação de indivíduos, tornando-se um dos principais meios para educação em saúde (Costa et al, 2001). Ao fazermos uma revisão nos estudos que focam os manipuladores de alimentos que trabalham na produção da merenda escolar, é possível verificar cinco temáticas predominantes: promoção e saúde do trabalhador; condições de trabalho; condições higiênico sanitárias dos manipuladores de alimentos; relações sociais, raça e gênero; 14 formação profissional. Além disso, observa-se que existe um número restrito de estudos e temas que abordam merendeiras. Tal exclusão temática pode ser justificada pelo fato de os pesquisadores focarem em apenas três linhas de pesquisa: a relação do PNAE com o fracasso escolar, aspectos históricos e políticos do PNAE, e o comer saudável (Bezerra, 2002). A consolidação do PNAE como espaço de aprendizagem vem ocorrendo ao longo do tempo. No entanto, os atores envolvidos nesse processo de produção de conhecimento não estão definidos. As pesquisas têm como foco professores, alunos e nutricionistas, delegando às merendeiras uma invisibilidade nos processos pedagógicos. No espaço escolar, a merendeira é definida como profissional que tem a função de preparar e distribuir a alimentação. No entanto, em algumas escolas, o trabalho da merendeira abrange atividades de limpeza da área de produção e de outros setores da escola. Como a execução dessas tarefas não exige qualificação, a população que ocupa essa função é associada à baixa escolaridade e é culturalmente considerada subalterna. Em 1995, Monlevade expõe que essas trabalhadoras são caracterizadas como “semidomésticas” e “desprofissionalizadas”, o que dificultava a visualização das merendeiras como integrantes dos processos educativos da escola. Hoje, 17 anos depois, é possível identificar processos de profissionalização em curso em algumas cidades, algo ainda sem uniformidade. É o caso da prefeitura de Jundiaí que institui através da Lei n.º 6.897, de 12 de setembro de 2007 que o profissional denominado merendeira passa a ser chamado auxiliar de serviços educacionais e deve participar do programa de capacitação e aperfeiçoamento que apresenta os seguintes objetivos: Conscientizar o servidor para a compreensão e assunção do seu papel social, enquanto sujeito do processo de construção de metas institucionais e da construção do planejado; promover e incentivar a integração dos servidores no processo de educação formal; preparar os servidores para o desenvolvimento na carreira, capacitando-os profissionalmente para o exercício eficaz de suas tarefas individuais no contexto da função social coletiva da unidade de trabalho a que pertença, contribuindo para a superação da alienação funcional; preparar os servidores para uma gestão voltada para a qualidade e eficiência na satisfação das necessidades coletivas (Lei n° 6.897, de 12 de setembro de 2007). Para atingir os objetivos propostos o programa está dividido em quatro tipos de capacitação: De integração, tendo como finalidade integrar o servidor no ambiente de trabalho, através de informações sobre a organização e o funcionamento da Prefeitura; de aperfeiçoamento, objetivando dotar o servidor de conhecimentos e técnicas referentes às atribuições que desempenha, mantendo-o permanentemente atualizado e preparando-o para a execução de tarefas mais complexas; de adaptação, com a finalidade de preparar o servidor para o exercício de novas funções quando a tecnologia absorver 15 ou tornar obsoletas aquelas que vinha exercendo até o momento; de atualização, para reforço do conteúdo de diretrizes e normas relativas à atuação funcional (Lei n° 6.897, de 12 de setembro de 2007). A invisibilidade social imposta a esse profissional é provocado também por questões de raça e gênero. Em um estudo realizado com um grupo de serventes e merendeiras de escolas municipais do Rio de Janeiro, investigou-se como as desigualdades socioeconômicas, raciais e de gênero influenciam no processo saúde/doença desses profissionais. A autora constata que o grupo de merendeiras é formado por mulheres negras, adultas, viúvas ou separadas, enquadrando-se dentro do perfil das famílias pobres em nosso país. As questões raciais no Brasil têm um histórico complexo, passando pela fase de branqueamento da população, pela democracia racial e pelo mito de que não existem diferenças raciais. Entretanto, é clara a diferenciação social ao analisarmos a situação do negro no mercado de trabalho e na educação (Chaves, 2004). Além das influências sociais e raciais, as profissionais enfrentam as barreiras impostas pelo gênero e pela classe. A influência do gênero em nossa sociedade é observada nas relações de trabalho em todos os setores, sendo evidenciada principalmente pela disparidade de salários entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo. Essa marginalização potencializa as desigualdades, o que intensifica a falta de oportunidades e o não reconhecimento das atividades desenvolvidas por esses profissionais. Diante dessas discussões e das aproximações dos dois campos no qual estou inserida, surgiram uma série de reflexões que, para facilitar o entendimento, foram agrupadas em três blocos. O primeiro envolve as condições de trabalho, em que exponho o seguinte questionamento: é possível o desenvolvimento pleno de tarefas para elaboração de um cardápio completo seguindo as recomendações nutricionais em locais com espaço reduzido, altas temperaturas, número insuficiente de funcionários e falta de equipamentos industriais? A temperatura elevada em áreas de produção das refeições é comum. Porém, com a instalação de equipamentos, é possível a redução do calor nesse ambiente, oferecendo aos trabalhadores melhores condições para execução das atividades. O segundo baseia-se no perfil socioeconômico e cultural dos profissionais: como isso é levado em consideração na determinação das leis que regulamentam o PNAE no desenvolvimento das práticas educativas, nos treinamentos e capacitações? E o terceiro está ligado aos processos educativos. Como citado anteriormente, os estudos com merendeiras são restritos, o que dificulta a compreensão do cotidiano destas profissionais. Portanto, com a exclusão das merendeiras, será que conseguiremos realizar todos os processos educativos que ocorrem e podem ocorrer nas escolas quando 16 nos referimos à educação alimentar e nutricional? Para um desenvolvimento efetivo das políticas de alimentação e nutrição nas escolas, não seria necessário que todos os sujeitos envolvidos tivessem a mesma importância? Baseado nessas reflexões, o presente trabalho tem como objetivo descrever o perfil das merendeiras e indicar as possibilidades desses profissionais como participantes dos processos educativos. Na primeira parte, iremos discutir o histórico das merendeiras na alimentação escolar. O foco estará na cidade do Rio de Janeiro, que até 1960 foi a capital Federal e, portanto, tem um desenvolvimento importante da alimentação escolar. Abordaremos as formas de contratação e as leis que embasaram a profissão; as transformações na alimentação escolar e suas consequências na rotina de trabalho; o Instituto de Nutrição Annes Dias (INAD) e sua influência no desenvolvimento da profissão no Rio de Janeiro; e a situação atual destes profissionais no município. Na segunda parte, a abordagem estará voltada para a educação em saúde nas escolas, a sua inserção no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o saber popular nesse contexto. Para finalizar, discutiremos o perfil dos manipuladores de alimentos e as possibilidades de inserção desses profissionais nas práticas educativas em saúde que ocorrem no Programa Nacional de Alimentação Escolar desenvolvido no município do Rio de Janeiro. 17 CAPITULO 1. As merendeiras no contexto da Alimentação Escolar Ao buscarmos na literatura documentos que relatam o início, o desenvolvimento e a situação atual da profissão “merendeira'' na alimentação escolar, nos deparamos com um número reduzido de registros. Com o objetivo de entender o processo de consolidação dessa profissão, desenvolveremos nessa seção um paralelo entre a evolução da alimentação escolar e o trabalho das merendeiras a partir de 1921, ano que consta o primeiro relato de uma escola servindo alimentação ao alunos. 1.1 – Alimentação escolar: do surgimento das primeiras ideias à nacionalização Em 1921, foi fundada por Armanda Álvaro Alberto, no município de Caxias, a Escola Proletária de Meriti. A população que residia na localidade era pobre, estando exposta a condições inadequadas de moradia, assistência médica e alimentação. Ao implantar a escola e desenvolver o trabalho pedagógico, a professora Armanda percebeu a necessidade de inserir outras atividades ao ambiente escolar e também oferecer algum alimento às crianças, sendo a primeira escola na América Latina a oferecer alimentação escolar (Lazaroni, 2010). Inicialmente, a própria comprava alguns itens para servir às crianças e, com o aumento do número de alunos, foi preciso elaborar o que seria servido. O que inicialmente era composto por bolos, doces e biscoitos, foi complementado com sopa, mingau, angu, legumes, refrescos e chás, principalmente o mate. Os gêneros alimentícios eram obtidos na horta existente na escola e comprados no comércio local. A verba para compras era proveniente de doações e das Caixas Escolares1. Esses alimentos eram preparados pela caseira e servidos diariamente às crianças. A inserção da alimentação no cenário desta escola foi baseado no conceito de que a criança com fome não consegue aprender e que, para tanto, era necessário fornecer o que a criança não tinha em casa, não deixando de enfatizar o objetivo principal da escola - educar. A instituição ficou conhecida ironicamente como “Mate com Angu” (Lazaroni, 2010). 1 Caixas Escolares – Foi criada em 1917 em reunião da Câmara no Estado de São Paulo, em que ficou determinado que seria obrigatória a matrícula de crianças entre 7 e 14 anos. Caso os responsáveis não cumprissem o ordenado, pagariam uma multa. O produto dessa multa seria a Caixa Escolar, que serviria para aquisição de itens para que os alunos pudessem frequentar a escola. Foram também distribuídas em casas comerciais caixas para a doação espontânea. Hoje, as Caixas Escolares são uma instituição jurídica, de direito privado, sem fins lucrativos, que têm como função básica administrar os recursos financeiros da escola, oriundos da união, estados e municípios, e aqueles arrecadados pelas Unidades Escolares. Os recursos recolhidos estão destinados para bens e serviços necessários à escola, mas, para tal, devem estar descritos no plano de desenvolvimento. (Fonte: http://www.coronelpedreirasp.com.br / http://www.educabrasil.com.br) 18 Além da Escola Proletária de Meriti, outras escolas privadas também incluíram a alimentação escolar em seu contexto, dentre as quais destaca-se a Escola Professor Frazão. Com a experiência das escolas privadas e a necessidade crescente em adotar medidas para solucionar o problema da alimentação infantil, em 1926, o Rotary Club, instituição formada por líderes de negócios e profissionais que prestam serviços humanitários, iniciou uma campanha de incentivo à inclusão da alimentação escolar nas escolas públicas. Basicamente, a alimentação seria composta por um prato de sopa e um copo de leite a serem servidos no horário do recreio. Esse projeto baseou-se na experiência do professor Ulisses Pernambucano que, ao assumir a Escola Normal de Pernambuco, instituiu a merenda escolar para os alunos (Andrade, 2011). Apoiado também nesta iniciativa, Carneiro Leão levou o projeto ao Distrito Federal e, em 1929, o Rotary aumentou o incentivo, principalmente junto aos órgãos públicos (Souza, 1998). A partir de 1930, foram elaborados os primeiros inquéritos sobre alimentação escolar nos internatos. Apesar do interesse dos autores ser inicialmente apenas por tais instituições, justificando-se que estas eram merecedoras de atenção por fornecer ao aluno toda a alimentação, os externatos começaram a ganhar destaque a partir das Caixas Escolares. Segundo Coimbra (1982), com o objetivo de racionalizar a alimentação distribuída pelas caixas, o escolar ganhou um espaço na alimentação. Ao assumir o Rotary Club do Rio de Janeiro em 1935, Ignácio Manoel Azevedo do Amaral definiu como meta de seu mandato propor soluções à merenda escolar e enviou ao governo do Rio de Janeiro um anteprojeto para regulamentar a alimentação escolar. Nesse mesmo ano, o anteprojeto foi discutido em assembleia na cidade do Rio de Janeiro e entregue a Gastão Guimarães e Anísio Teixeira, representantes da Secretaria de Educação e Cultura (Souza, 1998). O incentivo ao desenvolvimento do programa de alimentação escolar foi realizado por várias camadas da sociedade. Um outro grupo que ganhou destaque foram os médicos nutrólogos que, nas décadas de 1930 e 1940, baseados no Tratado de Alimentação de Pedro Escudero e em estudos Norte Americanos, coordenados por Josué de Castro e Moura Campos, instituíram a alimentação e a nutrição como prática política e como saber (Costa et al, 2001). Influenciado por esses movimentos, ainda em 1935, Anísio Teixeira solicitou, através da Inspetoria de Propaganda e Educação Sanitária (IPES), ao médico nutrólogo, Alexandre Moscoso, a elaboração de um folheto sobre alimentação escolar, cujo objetivo principal era orientar as Caixas Escolares e sistematizar o abastecimento para incentivar o consumo de gêneros nutritivos, possibilitando pela primeira vez que os conceitos da nutrição, que estavam se consolidando, fossem integrados à merenda escolar (Coimbra, 19 1982). Em 9 de novembro de 1939, através do Decreto 6.568, o prefeito Henrique Dodsworth reformulou a sistemática, passando a merenda escolar a constituir finalidade básica das Caixas Escolares. Nesse primeiro momento da alimentação escolar nas escolas públicas, consta nos documentos publicados que os trabalhadores envolvidos no preparo da merenda dos externatos eram voluntários, incluindo professores, serventes e pessoas da comunidade. Diferentemente dos externatos, os internatos apresentavam medidas para regulamentação através da Portaria n°153 do Ministério da Educação e saúde do ano de 1939. Essa portaria descrevia as proibições e restrições alimentícias, a forma de trabalho e contratação dos cozinheiros, despenseiros e ajudantes, além dos hábitos higiênicos e a educação alimentar. Para Coimbra (1982), a alimentação escolar nos externatos nessa primeira fase é colocada como um projeto que a sociedade, com a orientação do saber da nutrição, poderia conduzir. Além da reformulação na merenda escolar, o ano de 1939 é marcado pela criação do Serviço Central de Alimentação que, apesar de não ter influenciado diretamente na alimentação escolar, foi importante para uma maior inserção dos nutrólogos no estado. Desse modo, permitiu-se a realização de inquéritos e pesquisas de laboratório de grandes proporções, a elaboração e execução de programas que visavam à distribuição de alimentos com objetivos também pedagógicos, além do investimento em formação de profissionais para auxiliar os médicos no desenvolvimento dos projetos. Apesar de não ser o foco central da política de alimentação neste período, Dante Costa elaborou neste mesmo ano pequenos textos, como o “Merendas Escolares”, que mais uma vez orientou o trabalho das Caixas Escolares. Entretanto, não é restrito como o documento elaborado por Moscoso. O livro Merendas Escolares também desenvolve orientações e recomendações para tornar a merenda variada e saborosa (Coimbra, 1982). O Serviço Central de Alimentação foi desfeito após um ano e, em 1940, foi criado o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS) que, nos primeiros anos, desenvolveu uma série de cursos a fim de qualificar profissionais que trabalham nos programas da política de alimentação. O primeiro foi o Voluntários da Alimentação, seguido pelo Auxiliares da Alimentação. A partir de 1944, iniciou-se o curso para nutrólogos, nutricionistas e para formação de “profissionais de sala, copa e cozinha” (Coimbra, 1982). Embora tenham alguns registros dos Auxiliares da Alimentação trabalharem nos restaurantes populares e se supor que os “profissionais de sala, copa e cozinha” estivessem sendo formados para o trabalho doméstico, não há nenhum registro que indique que algum profissional fosse formado para atividades na alimentação escolar. 20 Além dos cursos citados anteriormente, no ano de 1944 foi criada a Escola Junes Agnes Leith. Neste espaço, era oferecido o curso “Visitadoras de Alimentação”, que disponibilizava orientações para melhor aproveitamento dos alimentos e visava à educação alimentar de trabalhadores escolares e a população em geral (Coimbra, 1982; Cidrack e Bezerra, 2010). A elaboração da merenda escolar ocorreu em um momento em que o foco das políticas públicas era a fome e a desnutrição. As pesquisas sobre a fome no país foram iniciadas no século XIX. Entre as publicações está o estudo desenvolvido por Rodholfo Teóphilo - “A Fome: cenas da seca no Ceará”. Apesar do número crescente de pesquisas sobre a fome, a elaboração de políticas públicas teve o seu desenvolvimento mais efetivo no governo Vargas. O desenvolvimento nesse período ocorreu primeiramente pela política do Estado que, com o caráter populista, permitiu intervenções na área de alimentação e nutrição destinadas às camadas populares. Concomitantemente, ocorreu a evolução das pesquisas sobre alimentação e nutrição pelos nutrólogos, permitindo que os estudiosos dessa área se aproximassem ainda mais do governo, propondo os primeiros instrumentos para efetivação dessa política social (Costa et al, 2001). Um dos profissionais com maior influência nas definições das medidas que objetivavam suprir as necessidades nutricionais da população foi Josué de Castro, médico pernambucano formado pela Universidade do Brasil e que, em 1932, desenvolveu importante estudo intitulado “As Condições de Vida das Classes Operárias no Recife”. Nesta pesquisa, utilizou dados do orçamento familiar e do consumo alimentar de quinhentas famílias de três bairros operários do Recife. Esse estudo influenciou uma série de pesquisas semelhantes e ainda foi utilizado como base para a determinação do salário mínimo. No entanto, sua participação no cenário das políticas sociais não se restringiu apenas a este estudo. Josué de Castro se tornou membro de diversos órgãos, entre eles o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), o Serviço Técnico de Alimentação (Stan), e a Comissão Nacional de Alimentação (CNA). Publicou diversos livros, como o “Problema da Alimentação no Brasil” e o “Geografia da Fome”. A inserção de Josué de Castro nos órgãos públicos e o desenvolvimento de outras pesquisas permitiram a identificação de áreas de melhor alimentação no Brasil, levantaram a discussão sobre a carência do consumo de proteínas, vitaminas e minerais e suas manifestações no indivíduo. Segundo Vasconcelos (2001), essas discussões foram importantes instrumentos de legitimação das políticas sociais desenvolvidas no país a partir da década de 1940. Além da influência de Josué de Castro, outros autores contribuíram para a institucionalização da alimentação escolar, entre eles Carlos Sá, 21 Castro Barreto e Dante Costa. Este último desenvolveu pesquisas envolvendo o Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), o Instituto de Nutrição da Universidade do Brasil e as crianças de escolas públicas municipais do Rio de Janeiro. Nesse cenário político e científico, em 1947 foi instituída oficialmente no Rio de Janeiro a alimentação escolar, um programa municipal de responsabilidade da Secretaria Geral de Educação. Coube ao Instituto de Nutrição da Universidade do Brasil, ao Setor de Alimentação Escolar (SAE) e à Escola Técnica de Assistência Social “Cecy Dodsworth”(,) o apoio ao desenvolvimento do programa (Costa, 2001). A merenda escolar começou a ser propagada efetivamente no cenário nacional em 1953, com a publicação do documento “A Conjuntura Alimentar”. Segundo Coimbra (1982), é um documento consistente com os conceitos da nutrição e que relata a situação da subnutrição no país. Para a resolução dos problemas é proposta uma série de medidas denominadas como o plano da CNA, que apresenta uma fase preliminar e uma fase de ação geral. Na segunda fase, o trabalho estaria concentrado em uma “Campanha Nacional de Alimentação” dividida em quatro projetos amplos com vários subprojetos. O primeiro era o plano de assistência e educação alimentar à infância e adolescência, que tinha como subprojeto o Programa Nacional de Merenda Escolar; o segundo era o plano Regional de Política Alimentar; o terceiro, o plano de Tecnologia Alimentar; e o quarto, o Plano de Estudos, o qual tinha como objetivo criar novas indústrias para alimentos de alto valor nutritivo. Em 1954, foi iniciado pela Comissão Nacional de Alimentação o Programa Nacional de Merenda Escolar (PNME), que no princípio teve caráter experimental e foi implementado em algumas regiões do país. No ano seguinte, a partir do Decreto n°37.106 de 31 de março, foi instituída a Campanha Nacional de Merenda Escolar (CNME), sendo um dos responsáveis por sua execução o Ministério da Educação e Cultura (MEC). Com objetivo de racionalizar os programas de alimentação escolar existentes e expandir sua cobertura para todo o país, dando orientação técnica e assistência econômica ao combater a subnutrição, a CNME apresentava a seguinte organização em 1955 (Ministério da Educação, 1956): 22 FIGURA I – Organização da alimentação escolar em 1956 Campanha Nacional de Merenda Escolar Secretário de Educação e Cultura Setor de Merenda escolar Representação da CNME Supervisora do Programa Monitoras Escrevente Datilógrafo Almoxarife Servente * Ministério da Educação, 1956 No primeiro organograma desenvolvido pelo Ministério da Educação, referente ao setor estadual da merenda escolar, podemos observar que o preparo da alimentação não era mais função de voluntários, visto que os trabalhadores destinados a essa atividade eram os serventes. As preparações eram compostas por leite em pó e farinhas de cereais, além de leguminosas enriquecidas com micro e macronutrientes. A elaboração do cardápio seguia as seguintes normas: baixo custo; alto valor nutritivo; boa aceitabilidade. A CNME contava com um centro experimental de Merenda Escolar. O alimento só era servido após passar pelos testes na instituição. Os critérios considerados na avaliação eram: facilidade de preparação, pois os recursos humanos destinados ao preparo eram reduzidos e as instalações não tinham estrutura; pequeno volume; rapidez de distribuição; bom rendimento; variabilidade de sabores; boa conservação e facilidade de transporte (Ministério da Educação, 1956). Nesse período, o Brasil sofria intensas mudanças políticas e econômicas. A influência de economias externas também estava presente e, portanto, os itens a serem utilizados na merenda escolar não eram apenas definidos pelo objetivo de combater as carências nutricionais dos escolares, mas também atendia a interesses de órgãos institucionais. Foi nesse período que se firmou o primeiro acordo com os Estados Unidos para fornecimento de leite em pó. Esse convênio foi realizado com o Fundo Internacional de Socorro a Infância (FISI) para doações e com a Commodity Credit Corporation (CCC) para compra a custos baixos. A realização desse acordo foi possível, pois os Estados Unidos apresentavam um programa para escoamento de suas mercadorias excedentes, no qual forneciam produtos alimentícios para os países denominados carentes (Arruda e Almeida, 2005). Após 1955, o programa se expandiu e os estados tiveram suas 23 particularidades para desenvolvimento dessa política pública. Como o foco do trabalho são as merendeiras do município do Rio de Janeiro, daremos ênfase ao que aconteceu na cidade, no entanto, sem deixar de citar o que ocorria no Brasil. 1.2- A expansão da alimentação escolar e a experiência do Rio de janeiro O Rio de Janeiro, por ser inicialmente Capital da República e por haver na educação pessoas com interesse na alimentação escolar, dispunha de uma quantidade superior de verbas, serviços e especialistas interessados na subnutrição infantil. Esse cenário possibilitou o pioneirismo na instituição da alimentação escolar no município. Coimbra coloca que: “por haverem maiores recursos, conhecimentos e capacidades, os escolares do Rio de Janeiro não só tiveram um padrão de atendimento melhor que em outros lugares, como o obtiveram antes” (Coimbra, 1982, p.284). Apesar da eficiência do programa na cidade, esse panorama não se estendia por todo o estado. Walter Santos, ao elaborar um inquérito em Cabo Frio, observou que não existia nenhum trabalho semelhante ao realizado no município do Rio de janeiro. Com a alimentação escolar se expandindo, o ano de 1956 foi marcado pela fundação no Rio de Janeiro do Instituto Municipal de Nutrição. Por ser o município com o programa de alimentação mais desenvolvido, a criação desse órgão se fez necessário para a centralização das atividades de assistência, pesquisa e ensino. Com isso, o Instituto passou a ser responsável pelo estudo de rações alimentares para os diferentes grupos, assistência médica nos casos de carência alimentar e doenças do metabolismo, e por organizar a aquisição, distribuição e fiscalização da alimentação escolar (Costa, 2001). Nesse mesmo período, a CNME tornou-se em todo o Brasil cada vez mais complexa, tanto em termos de organização, quanto pelo número de estudantes atendidos. Nesse contexto, a titulação de servente não mais cabia aos funcionários que preparavam a merenda. Esses passaram a ser chamados de merendeiras. A criação desse cargo foi de fundamental importância para a concretização dessa política pública (Chaves, 2004). A seguir, um esquema da organização em 1957, divulgado em documento do Ministério da Educação: 24 FIGURA II – Organização da alimentação escolar em 1957 CNME Médicos Nutrólogos Dietistas Auxiliares de alimentação Representantes regionais Supervisoras Pessoal administrativo Monitoras Professoras Escolares ajudantes Merendeiras * Ministério da Educação, 1957 Os órgãos que regulamentavam, financiavam, apoiavam e faziam doações de alimentos a CNME sofriam alterações. Sendo assim, em 1960, a campanha continuou a ser responsabilidade do MEC, financiada pelos Estados, Municípios e Superintendências. Porém, ocorreu uma redução nas quantidades dos produtos provenientes do FISI e, com o aumento contínuo do número de beneficiários, o Brasil buscou alternativas para suprir a demanda. No ano de 1961, em reunião realizada entre os países Americanos, ficou definido um programa emergencial denominado Alimentos pela Paz, no qual a United States Agency for International Development (USAID) trabalharia em conjunto com o Departamento da Agricultura Norte-Americano, em que estava inserido o CCC e passaria a ser o principal fornecedor de alimentos destinados à merenda escolar. Os alimentos servidos nesse período tinham a mesma composição básica anterior: leite e formulados, no entanto, agora com acréscimo de alguns excedentes agrícolas dos EUA. No caso do Rio de Janeiro, desde 1948 a merenda escolar era composta por farinha de trigo, arroz, legumes, sagu, tapioca, pães, queijos e frutas. A partir de 1966, houve alterações na forma de fornecimento e pagamento dos 25 produtos disponibilizados pela USAID. Ficou estabelecido que a agência forneceria alimentos a CNME por mais um período e o Brasil se comprometeria a buscar outras formas de abastecimento. Com isso, entraram no cenário da alimentação escolar as indústrias brasileiras, sendo elas: a Indústria de Alimentos (IDA), a Dietrícia e a Refinações Milho do Brasil, que passaram também a fornecer os produtos industrializados utilizados na merenda escolar (Arruda e Almeida, 2005). Além das mudanças causadas por questões econômicas na década de 1960, as mudanças políticas influenciaram diretamente a organização da merenda escolar. A primeira alteração observada foi no Instituto Municipal de Nutrição do Rio de Janeiro, que passou a ser chamado de Instituto de Nutrição do Estado da Guanabara, e, em 1964, de Instituto de Nutrição Annes Dias2 (INAD). A instituição passou a exercer os Serviços de Assistência Alimentar, Serviço de Ensino, Seção de Pesquisas e Seção de Administração, não estando mais subordinado diretamente ao secretário de educação (Costa, 2001). Um ano após as mudanças no INAD, o programa nacional passou a ser chamado Campanha Nacional de Alimentação Escolar (CNAE), com o objetivo de abranger maior número de regiões e incluir no cardápio hortaliças, leguminosas e cereais. Com essas modificações, tanto no INAD quanto no programa, surgiram os primeiros sinais de preocupação com o trabalho das merendeiras. Costa (2001) informou que, em 1964, o Boletim anual do INAD apresentava alguma estruturação para o treinamento das merendeiras. Em 1967, o MEC, por meio do Departamento Nacional de Educação, publicou o Manual da Merendeira, cujo conteúdo abrange desde a importância da assistência alimentar, perpassando pela relevância da alimentação saudável, aos fundamentos técnicos do trabalho das merendeiras. As orientações descritas no livro foram complementadas por figuras ilustrativas em preto e branco, simplificando as explicações. No ano de 1972, foi criado o Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (INAN), com a meta de promover e organizar as atividades de assistência alimentar e nutricional. Este, então, ficaria responsável também pelo CNAE. Caberia ao INAN propor o Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (PRONAN), permitindo sua execução e fiscalizando seu funcionamento (Costa, 2001). O I PRONAN foi elaborado em 1973, no entanto, não foi posto em prática (Arruda e Almeida, 2005). A característica verticalizada do INAN provocou uma série de críticas, não sendo permitido o seu desenvolvimento. Em 1975, foi desenvolvido o II PRONAN (1976-1979) que, dentre uma série de ações, deveria apoiar 2 Annes Dias Nasceu no dia 19 de julho de 1884, na cidade de Cruz Alta no Rio Grande do Sul, formou-se em 1905 na faculdade de Medicina do Rio Grande do Sul. Foi professor de Medicina Legal e Toxicologia Clínica Médica na UFRGS e em 1934 iniciou seu trabalho na Universidade do Brasil. Publicou livros sobre clínica médica e diabetes e colaborou em várias revistas nacionais e internacionais (Secretaria de Saúde do Estado da Guanabara, 1970). 26 as atividades de combate às carências nutricionais específicas, a pesquisa tecnológica e a capacitação, além do aperfeiçoamento de recursos humanos (Arruda e Almeida, 2005). Com a orientação do II PRONAN, que enfatizava o aperfeiçoamento de recursos humanos e a utilização de produtos in natura na alimentação escolar, o Boletim de 1977 do INAD registrou novamente um curso ministrado às merendeiras. Este curso deveria ter como conteúdo: a importância da alimentação adequada; hábitos e atitudes indispensáveis às suas tarefas; e técnicas de preparo do cardápio. Para atingir seus objetivos, deveria ser ministrado pelas técnicas de educação alimentar (professoras com encargos escolares), com carga horária entre 15 e 20 horas e ser oferecido dentro das “modernas técnicas pedagógicas e com farto material áudio visual”, atendendo melhor o nível da clientela. Nos dois anos seguintes, o INAD elaborou mais dois treinamentos com merendeiras, que estão descritos nos boletins de 1978 e 1979. Apesar de ser um período em que a formação das merendeiras e a importância da alimentação saudável tiveram destaque, o incentivo do II PRONAN ao consumo de produtos in natura na alimentação escolar enfrentou barreiras. Segundo Costa (2001), as dificuldades estavam relacionadas à ligação existente entre indústria e estado, e pelo incentivo ao consumo de alimentos com padrões microbiológicos determinados pelo documento Caracterização Operacional da Merenda Escolar Brasileira (COMEB). Além desses dois impasses impostos por questões de mercado e pela aproximação da nutrologia com o programa de alimentação escolar, a implementação de produtos in natura enfrentou um momento de redução dos investimentos no programa, o que refletiu diretamente no auxílio para o pequeno produtor, reduzindo a oferta de produtos e impedindo o desenvolvimento do sistema de produção de alimentos básicos (Arruda e Almeida, 2005). Alguns estudos apontam que, de 1976 a 1979, o programa de alimentação escolar utilizou basicamente produtos industrializados. Essa situação tornou a formação desse profissional ambígua, pois foi orientado a seguir uma linha de trabalho que não era possibilitado pelas condições do programa. Em 1979, o CNAE passou a ser denominado Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). A partir de 1980, foi formulada a descentralização da alimentação escolar por João Sandolim, superintendente do CNAE. A descentralização, nesse momento, consistia em passar para o Estado a responsabilidade da elaboração de cardápio, aquisição e distribuição de alimentos, objetivando racionalizar a administração e adaptar os gêneros alimentícios aos hábitos alimentares regionais. Nesse processo, o estado de Pernambuco foi o primeiro a promover tal forma de gerenciamento, na qual o estado ficava responsável pela elaboração do cardápio e aquisição dos alimentos. O cardápio, 27 que era composto por preparações líquidas, passou a uma composição sólida, sendo predominante o charque, feijão, arroz, macarrão. Outros estados, como Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo e Distrito Federal, iniciaram também o processo de descentralização nesse período. O caso do Estado de São Paulo ganhou destaque, pois sua merenda era constituída basicamente por alimentos industrializados à base de leite. Apesar do convênio com a Faculdade de Engenharia de Alimentos e Agrícola da Unicamp ter permitido uma variação do cardápio, principalmente na inclusão de alimentos salgados sólidos, por intermédio de testes de aceitação, a incompatibilidade com os hábitos alimentares, a presença de cantinas, a falta de treinamento e o número reduzido de merendeiras tornaram-se empecilhos nessa transição. Por exemplo, em estudo realizado em 1981, foi observado que na Escola Estadual de Primeiro Grau Samuel Morse havia duas serventes com treinamento para merendeiras, mas que acumulavam as duas funções. Com o objetivo de solucionar esses problemas que atingiam também outros estados, em 1982 foi instituído no Rio de Janeiro o primeiro decreto (Nº 3410 de 11/02/82) que determinava a função das merendeiras. Entre as atividades designadas a estes profissionais estão: preparar merendas e outros alimentos, distribuir refeições, manter limpas as áreas destinadas à alimentação escolar, verificar as condições dos alimentos e mantê-los adequados para consumo, além de frequentar cursos (Marques, et al. 2005). No ano seguinte, ocorreu novamente uma intervenção no processo de gerenciamento da alimentação escolar, com o objetivo de reorganizar e facilitar a execução do programa. Criou-se a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), a partir da junção entre o Instituto Nacional de Alimentação ao Educando (INAE), o Departamento de Assistência ao Estudante (DAE) e a Fundação Nacional de Material Escolar (FENAME). Além de administrar o Programa Nacional de Alimentação Escolar, a nova fundação também ficou responsável por comprar e distribuir os gêneros alimentícios. O cardápio era composto por produtos formulados e produtos básicos (Arruda e Almeida, 2005). Nesse período de mudanças, o número de documentos que orientavam o trabalho das merendeiras tornaram-se escassos. Somente a partir de 1984 houve uma retomada à elaboração das capacitações do INAD. Neste boletim, o conteúdo estava voltado ao incentivo ao trabalho das merendeiras, enfatizando que os alunos, após as alterações sofridas no programa, teriam acesso a uma refeição completa, sendo assim o trabalho da merendeira cada vez mais necessário (Boletim INAD, 1984). Com a permanência da FAE no gerenciamento, o desenvolvimento de atividades 28 com as merendeiras no INAD tornou-se constante no cenário do Programa de Alimentação Escolar no Rio de Janeiro até 1993, quando se iniciou novamente o processo de descentralização, atribuindo-se a este órgão as seguintes funções: assistência, pesquisa e educação alimentar. Então, em 1994, a FAE estabeleceu convênios com estados e municípios para o repasse de verbas, tornando-se esses os responsáveis pelo gerenciamento do programa. No entanto, esse repasse estava condicionado à criação dos Conselhos de Alimentação Escolar (CAE), compostos por membros do poder executivo, discentes, docentes, trabalhadores na área de educação e pais de alunos, que ficariam responsáveis pela fiscalização da aplicação das verbas e também por acompanhar a elaboração dos cardápios (Belik e Chain, 2009). A FAE administrou o PNAE até 1997, quando foi substituída pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Esse ano foi marcado também pela mudança na forma de seleção das merendeiras para o trabalho nas escolas municipais do Rio de Janeiro. A seleção, que anteriormente era feita por indicação de professores, diretores e políticos, passou a ser realizada através de concurso. A descrição da função é a seguinte: (...)preparar e distribuir merendas e outros alimentos; arrumar mesas para refeição; zelar pelos mantimentos quanto à sua segurança, higiene e conservação; verificar se os gêneros fornecidos para utilização, correspondem à quantidade e às especificações das merendas ou de outros alimentos; manter limpos os refeitórios, cozinhas e utensílios; controlar o total de merendas distribuídas; frequentar cursos para sua especialização; pesar e medir os ingredientes para confecção da merenda, ou de outros alimentos; executar quaisquer outros encargos semelhantes, pertinentes a categoria funcional (Rio de Janeiro, SME, 1997). Com a consolidação da descentralização em 1998, foi possível reorganizar os custos e a distribuição de produtos, permitindo o fornecimento de alimentos de acordo com os hábitos alimentares locais, além de estruturar as compras inserindo os pequenos produtores e comerciantes locais. Essa nova estrutura de gerenciamento, juntamente à criação do CAE, permitiu que a população estivesse próxima à gestão do PNAE. O conselho, a partir de 2000, passou a ser composto por 7 membros - um representante do Poder Executivo, um do Legislativo, dois representantes de professores, dois de pais de alunos e um representante da sociedade civil (Belik e Chain, 2009). Após o processo de descentralização, o PNAE não sofreu mais modificações em sua estrutura. No entanto, vem sendo elaborada uma série de leis e projetos, com o objetivo de consolidar o PNAE como um programa destinado à educação e promoção da saúde, e não apenas como um programa assistencialista de combate à fome e à 29 desnutrição. Essa visão do programa provocou um novo olhar em relação aos atores envolvidos no PNAE e ao quanto estes trabalhadores são ativos nos processos educacionais que ocorrem nele. Por ser uma temática complexa, retornaremos a este tópico no capítulo 2. No tópico seguinte, faremos um panorama breve das atividades atuais do INAD e da situação das merendeiras nas escolas municipais do Rio de Janeiro. 1.3 - PNAE: em cena, o Instituto de Nutrição Annes Dias e as Merendeiras A alimentação escolar no município do Rio de Janeiro vem se destacando ao longo dos anos e, após 1990, apresentou algumas particularidades tanto em relação ao INAD, quanto em relação à profissão de merendeira. Atualmente, o INAD tem as seguintes atribuições: propor e implementar ações de promoção da saúde; coordenar e supervisionar os serviços de nutrição e dietética de hospitais e unidades de saúde; planejar e assessorar o programa de alimentação escolar e o programa de alimentação do trabalhador; realizar inspeções junto aos órgãos de vigilância sanitária; realizar estudos epidemiológicos em nutrição. Quanto à atividade de planejar e assessorar a alimentação escolar, as atividades do INAD se iniciaram pelo manual de cardápios e de fichas de preparação. O manual de cardápio é composto por uma lista com as especificações dos alimentos, tabelas de compra e planilhas de cardápio de acordo com a unidade escolar. O manual de fichas de preparação apresenta a forma correta de preparação e o per capta dos ingredientes. Além de fornecer esses manuais, o instituto se responsabiliza pela qualidade dos gêneros alimentícios e das refeições e realiza atividades de consultoria junto às escolas. Além da assessoria voltada para a alimentação, o INAD, aliado às unidades administrativas do programa e às escolas, desenvolve ações visando a melhoria da infraestrutura no local de produção das refeições. Esse trabalho envolve desde questões de ergonomia até a definição dos produtos de limpeza. Outra atividade que permanece até hoje como responsabilidade do órgão é a valorização profissional e capacitação do manipulador de alimentos, que ocorre através das visitas técnicas, seminários, cursos, encontros e oficinas relacionados aos processos de trabalho e à saúde do trabalhador. A alocação dos recursos humanos também é responsabilidade do INAD, mas essa coordenação é feita junto à Coordenadoria de Recursos Humanos da Secretaria Municipal de Educação (Castro, et al. 2006). Em relação aos recursos humanos envolvidos na preparação da alimentação escolar, sabemos que, após o concurso de 1997, ocorreu um concurso em 2002 e outro 30 em 2007 para substituir as profissionais aposentadas ou as que passaram por readaptação. A descrição da função merendeira permanece a mesma de 1982 a 1997, apesar de terem ocorrido diversas mudanças no programa de alimentação escolar e no INAD, além de terem sido publicadas novas pesquisas e legislações. (...) arrumar mesas para refeição; zelar pelos mantimentos, quanto à sua segurança, higiene e conservação; verificar se os gêneros fornecidos para utilização correspondem à quantidade e às especificações das merendas ou de outros alimentos; manter limpos os refeitórios, cozinhas e utensílios; controlar o total de merendas distribuídas; freqüentar cursos para a sua especialização; pesar e medir os ingredientes para a confecção da merenda ou de outros alimentos; executar quaisquer outros encargos semelhantes, pertinentes à categoria funcional. (SME, 2007) O candidato à vaga deveria estar habilitado a desenvolver as atividade acima, ser alfabetizado e dominar as quatro operações matemáticas básicas. No processo seletivo, passaria por prova escrita e prática, na qual prepararia um prato definido em sorteio. O salário para 40 horas semanais de trabalho era de R$ 568,69, em que estava incluso o auxílio transporte. Em 2009, no entanto, ocorreu a principal mudança no que se refere aos recursos humanos. Foi criado pela COMLURB (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) o cargo de agente de preparo do alimento (APA). As funções não diversificavam das descritas acima, porém a carga horária era de 44 horas semanais, o salário era inicialmente de R$667,29 mensais, estando hoje em torno de R$740,63, já incluído o repouso semanal remunerado, além de Plano de Saúde e Vale Transporte. Para concorrer a esta vaga, o trabalhador deveria ter ensino fundamental completo. As etapas do concurso envolviam prova objetiva, prova de capacitação física e prova prática. Da mesma forma que o concurso realizado pela prefeitura em 2007, as condições de higiene e vestuário eram consideradas para pontuação final. Segundo a legislação CVS06 de 99, os indivíduos que manipulam alimentos devem apresentar-se no ambiente de trabalho da seguinte forma: com roupas claras; sem brincos, relógios, colares e outros acessórios; barba feita; unhas curtas, sem esmalte e base; maquiagem leve e sapatos fechados. Os profissionais selecionados seriam alocados nas escolas municipais de acordo com as necessidades. Apesar da inclusão de um profissional com outra denominação, ao buscarmos informações na Classificação Brasileira de Ocupações - CBO, instituída pela portaria ministerial nº. 397, de 9 de outubro de 2002, que tem como objetivo identificar as ocupações no mercado de trabalho, observamos cinco classificações de cozinheiros: cozinheiro geral; cozinheiro do serviço doméstico; cozinheiro industrial; cozinheiro de 31 hospital e cozinheiro de embarcações. Os merendeiros estão incluídos no grupo do cozinheiro geral e, apesar das cinco classificações, a descrição sumária da função é apenas uma: organizar e supervisionar serviços de cozinha em hotéis, restaurantes, hospitais, residências e outros locais de refeições; planejar cardápios e elaborar o prépreparo, o preparo e a finalização de alimentos, observando métodos de cocção e padrões de qualidade dos alimentos. Com o panorama atual do Programa Nacional de Alimentação Escolar, tanto no que diz respeito à parte institucional, quanto ao perfil dos recursos humanos, é desejável o reconhecimento desse profissional como parte dos processos educativos da escola. No entanto, para que os processos educativos sejam observados com mais amplitude, é necessário analisar a parte institucional e o cotidiano, que nos permite observar conflitos e alianças definidoras das identidades e das diferenças no espaço escolar. 32 CAPITULO 2. Educação em saúde Enquanto a alimentação escolar era implantada e construía pilares para se consolidar, o conceito de Educação em Saúde já difundia seus conceitos, sofrendo alterações de acordo com a política de estado e as condições de saúde da população. A educação em saúde surgiu no Brasil em meados da década de 1920, influenciada pelas ideias de educação sanitária presentes nos Estados Unidos. Os conceitos de educação e saúde, até esse momento, mantinham-se distantes. As políticas de saúde estavam baseadas no isolamento dos enfermos e na vacinação compulsória. Um dos primeiros movimentos ocorreu na cidade de São Paulo, em 1925, a partir da análise realizada por Geraldo Horácio de Paula Souza (Diretor do Instituto de Higiene da Faculdade de Medicina de São Paulo) no Serviço de saúde Pública do Estado de São Paulo, ao assumir o cargo de Diretor Geral. Para Geraldo Horácio, os centros de saúde deveriam atender a todos os indivíduos, não restringindo sua atenção aos doentes. Nesse momento, a educação em saúde foi denominada educação sanitária. De acordo com o Diretor Geral, a educação sanitária teria como base métodos práticos, objetivando convencer os educandos a incluir em sua rotina os hábitos de higiene. Com a educação sanitária inserida na política de saúde, em 1925, foi criado no Rio de Janeiro o Curso Especial de Higiene e Saúde Pública, que visava à especialização de médicos para as atividades sanitárias. Concomitantemente, em São Paulo, o Dr. Geraldo criou a Inspetoria de Educação Sanitária, os Centros de Saúde do Estado de São Paulo e o curso de Educação Sanitária no Instituto de Higiene da Faculdade de Medicina de São Paulo, com o objetivo de formar os profissionais chamados auxiliares de educação sanitária3. Entretanto, no início do curso surgiu uma discussão a respeito de qual profissional estaria habilitado para realizar a “consciência sanitária”.4 Por isso, a titulação “auxiliares de educação sanitária” foi contestada. Alguns críticos, principalmente a classe médica, colocavam que, por não serem médicos especializados, não atingiriam o objetivo da Educação Sanitária. A formação dos auxiliares continuou, porém, sofreu várias alterações. A primeira foi a denominação que passou a ser “educadores sanitários”. A educação sanitária não era restrita a um número de indivíduos ou aos Centros de Saúde, visto que deveria também atingir domicílios, escolas, hospitais e fábricas (Candeias, 1988). 3 4 Auxiliares de educação sanitária eram professores diplomados por escola normal que passariam por um curso com duração de 12 meses. Após alguns anos, os indivíduos que tinham o Curso secundário completo também podiam realizar o curso. Consciência Sanitária era o termo utilizado no Decreto 3.876 da inspetoria Sanitária que caracterizava a disseminação dos conhecimentos na área da saúde; esse termo também era conhecido como educação higiênica. 33 Esse primeiro momento da educação sanitária no Brasil foi consolidado apenas em 1942, com o Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), pois se reconheceram outros profissionais como atores dessa política de saúde e se atingiu a uma parte significativa do território nacional. No entanto, nesse período a educação permanecia como um processo individual, que objetivava alteração de comportamento, sem considerar as questões sociais (Pelicioni e Pelicioni, 2007). Após a década de 1940, os conceitos de saúde e educação começaram a transformar-se, junto à educação sanitária. Primeiramente, foi criada a Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece a saúde como um completo bem estar e não apenas a ausência de doença. A partir dessa concepção, a OMS define como responsabilidade do educador: diagnosticar os problemas de saúde, levando em consideração características sociais, econômicas e culturais; desenvolver e orientar planos educativos nos programas de saúde; estimular e desenvolver programas de treinamento para equipe de saúde; realizar estudos e pesquisas na área (Pelicioni e Pelicioni, 2007). Com a exigência de um profissional de saúde diferenciado, os cursos existentes passaram por uma avaliação. Os avaliadores chegaram à conclusão de que estes cursos não estavam formando profissionais para atender as novas características da educação sanitária. Por meio de uma reestruturação do SESP e dos cursos, da definição da OMS e da criação do Curso de Educação em Saúde de nível superior, iniciou-se uma nova fase. A mudança na nomenclatura, de “educação sanitária” para “educação em saúde”, nos confirma as transformações nos paradigmas da saúde (Pelicioni e Pelicioni, 2007). As teorias que embasaram a educação em saúde, tanto em São Paulo como em outras regiões do país, foram influenciadas inicialmente pelos conceitos higienistas originados na Europa no século XIX (Assis, 1998). A consolidação da concepção de educação higiênica associada aos graves problemas de saúde da população fizeram com que o governo brasileiro elaborasse estratégias de combate às epidemias. Essas primeiras estratégias eram baseadas na propagação de orientações que tornassem o indivíduo apto a enfrentar os desafios no trabalho e na vida. As orientações abordavam questões morais e sociais, além de questões de higiene. Como descrito anteriormente, os objetivos da educação em saúde e a forma de abordagem vêm sendo determinadas pelo interesse dos estados. Assis (1998) cita três ocasiões em que o estado interveio com os conceitos da educação em saúde. A primeira ocorreu na necessidade de controlar os navios que aportavam no Rio de Janeiro para que não trouxessem epidemias à população brasileira, embora continuassem realizando as 34 exportações; a segunda ocorreu na necessidade de incentivar a extração de borracha na Amazônia, assegurando aos exploradores que não seriam assolados pelas doenças da região; e a terceira ocorreu no momento em que as tensões sociais eram intensas pela presença do comunismo, surgindo a necessidade, por parte do governo, de reduzir a insatisfação da população por meio da diminuição da doença e da miséria. Essas intervenções evidenciaram a utilização da educação em saúde para o controle, com medidas imediatistas que davam enfoque aos conteúdos da epidemiologia e da medicina. A educação em saúde, então, foi definida como um processo de transmissão de informações e habilidades capaz de modificar valores, hábitos, crenças e comportamentos nocivos à saúde. Ao ser conceituada desta forma, preconizou-se que a prática educativa era simplesmente um instrumento de transmissão de regras às camadas populares, o que geralmente ocorria por meio de palestras, as quais não possibilitavam o debate e o aprofundamento dos temas junto aos participantes (Assis, 1998). Esse conceito de educação em saúde permaneceu por um período, no entanto, passou a não ter o impacto esperado na saúde da população e começou a ser questionado por alguns setores médicos, por movimentos sociais e sindicais. As críticas em relação à educação em saúde seguiram em duas direções. A primeira estava relacionada à dissociação da condição de saúde da população das condições socioeconômicas e do contexto histórico. Tal reflexão possibilitou que a educação em saúde fosse vista como um processo histórico social, permitindo um comprometimento do setor de saúde com a condição de vida da população. Nesse contexto, a ação educativa passou a ser vista de outra forma: “A ação educativa é vista como processo de instrumentalização de indivíduos e de grupos para identificação e análise dos problemas de saúde, no sentido da elaboração de propostas de solução” (Assis, 1998, p. 8). A segunda questionava a transmissão vertical dos saberes, a desvalorização do saber popular em relação ao saber técnico sobre a saúde, e a relação técnico/população. Esse questionamento permitiu que novas pedagogias com ideia de troca e diálogos que possibilitassem reelaborar os conhecimentos e o aprendizado mútuo fossem incorporadas à educação em saúde (Assis, 1998). As reflexões em relação à temática permitiram avanços e novos significados. Assis destaca as definições de Stotz e Valla em 1989 e de Levéfere neste mesmo ano, que conceituam educação em saúde, respectivamente, como: Área de conhecimento (área marcada pela interdisciplinaridade) e atividade (marcada pela relação interinstitucional) orientadas para facilitar / capacitar a relação entre profissionais de saúde e sociedade civil, de modo a explicitar e sistematizar as condições que nesta mesma relação se 35 manifestam em diferentes níveis de saúde (citado por Assis,1998, p. 12). Campo de pesquisa, a estrutura conceitual e as práticas (interprofissionais, de profissionais com usuários e no interior dos vários segmentos da população) que tem o tema a saúde dos indivíduos e das coletividades e como escopo o desenvolvimento, nestes profissionais e indivíduos da consciência sanitária (citado por Assis, 1998, p. 12). Embora sejam perceptíveis as particularidades de cada autor ao definir a educação em saúde, as teorias que embasam a educação em saúde estão bem consolidadas para a aplicação na área de saúde pública. É necessário destacar que, apesar desse cenário, a educação em saúde ainda enfrenta barreiras, principalmente em relação às práticas pedagógicas utilizadas e em relação aos locais e responsáveis por seu desenvolvimento. Para Candeias, a primeira medida que deve ser tomada para que a educação em saúde consiga atingir os objetivos propostos é conceituá-la de forma clara. Ela explica, baseada nas definições de Green e Kreuter, que a educação em saúde é “(...) quaisquer combinações de experiências de aprendizagem delineadas com vistas a facilitar ações voluntárias conducentes à saúde” (Candeias, 1997). De acordo com o que diz a autora, “combinação” significa ser fundamental a associação de experiências de aprendizagem a intervenções educativas; a palavra delineada define que o processo de educação deve ser planejado. Para outros autores, além da confusão causada por uma série de conceitos, a educação em saúde hoje apresenta outro panorama que dificulta sua eficácia: o discurso teórico está baseado em referenciais que abordam as questões do saber instituído e as mudanças de comportamento, discutem as representações e subjetividades, questionam o saber apenas científico, e analisam o indivíduo em sua totalidade, apresentando, portanto, o campo técnico-científico consolidado. Entretanto, as práticas pedagógicas estão baseadas na transmissão de conteúdo, enquanto as normas são passadas com o objetivo de mudar comportamentos, faltando a implantação de atividades educativas racionalmente planejadas (Gazzinelli, 2005; Candeias, 1997). Apesar das discussões sobre qual direcionamento a educação em saúde deve seguir e como transformar as práticas normativas baseadas nos conteúdos científicos em atividades que considerem aspectos culturais, sociais e afetivos, a educação em saúde, na prática, segundo Candeias (1997) é importante para orientar o componente educativo de programas que se desenvolvem em clínicas, consultórios, comunidades, escolas e outros espaços de trabalho. 36 2.1 - Educação em saúde nas escolas e o componente educativo do Programa Nacional de Alimentação Escolar. A educação em saúde se tornou obrigatória nas escolas a partir do artigo 7 da lei 5.692/71, cujo objetivo era estimular nesse ambiente o conhecimento e a prática de saúde básica e da higiene. Em estudo realizado por Marcondes (1972), o autor descreve que a educação em saúde nas escolas tem como objetivo: proporcionar o desenvolvimento das crianças a partir de suas necessidades e problemas, levando em conta os fatores biológicos, psicológicos, sociais e culturais. A interpretação de Marcondes (1972) de que caberia ao amplo conjunto de atores a execução das práticas de educação em saúde na escola não obteve consenso entre diferentes autores. Para esse mesmo autor, a educação em saúde ocorre em vários seguimentos da escola: inicia-se no ambiente escolar, perpassa pelos serviços de saúde e ensino da escola e termina nas relações entre o lar, escola e comunidade. O início da educação em saúde na escola foi marcado pela definição dos atores que desempenhariam a função de educador. Marcondes coloca como potenciais educadores da escola professores, pais e técnicos. No entanto, os primeiros trabalhos com educação em saúde na escola determinam como principais neste cenário dois profissionais: o educador de saúde pública e o professor da escola. A formação dos educadores de saúde pública foi iniciada em 1971, com caráter experimental. Estes profissionais apresentavam nível universitário em pedagogia ou psicologia e passavam por um curso com duração de 11 meses, no qual constavam as seguintes disciplinas: básicas de Saúde Pública; educação em Saúde na escola; disciplinas complementares; treinamento de campo. Com essa formação, deveriam elaborar metodologias, planejar e organizar atividades, e desenvolver pesquisas em educação e saúde, além de formarem outros profissionais para execução dos programas. No caso dos professores, os autores destacam que nenhum profissional na escola é tão apto a desenvolver a educação em saúde quanto este profissional. Porém, em publicação feita em 1980 por Marcondes et al, os pesquisadores esclareceram a necessidade de que estes tenham um amplo conhecimento na área de saúde. Para isso, devem estar familiarizados principalmente com as características físicas, mentais e sociais da criança. Em 1973, foi publicado o Ensino da Saúde no Primeiro Grau, que serviu de base para o livro Saúde na Escola destinado a professores do primeiro grau. Este livro é dividido em seis capítulos que abordam temas como ar e sol, alimentação, atividade e repouso, crescimento da criança, ambiente e necessidades 37 emocionais (Marcondes, et al. 1980). Apesar da educação em saúde no ambiente escolar ter se consolidado, as atividades escolares nestas áreas nem sempre produzem, em muitas situações, resultados sólidos. Esse problema é atribuído a uma série de fatores relacionados à educação nacional, à deficiente formação dos professores em educação em saúde, e à precariedade dos conhecimentos didáticos (Mohr e Shall, 1992). Além dos problemas enfrentados pela falta de preparo dos professores, a educação em saúde tem seu desenvolvimento dificultado pela invisibilidade atribuída aos outros profissionais da escola. Tavares e Trojan (2008) colocam que o foco de formação na educação está voltado aos docentes e que, apesar da importância desse movimento, é essencial que os olhares se voltem também a outros funcionários. As autoras concluem que isso será possível a partir do momento em que se reconheça que todos os integrantes são importantes para os processos educativos. As dificuldades para que a educação em saúde seja eficiente no espaço escolar ainda são muitas, porém, a escola não deixa de ser um importante cenário para os programas de incentivo à saúde. A Lei 5692/71, além de estabelecer a inserção da educação em saúde na escola, como destacado anteriormente, estabelece a merenda escolar como um serviço de saúde na escola e, consequentemente, um espaço para educação em saúde, principalmente com o foco na educação alimentar e nutricional. No entanto, na escola, o reconhecimento da alimentação como um espaço para educação não ocorreu de imediato. Ao ser fundamentado pelos órgãos públicos com objetivo de alimentar as crianças desnutridas e reduzir o fracasso escolar, não possibilitou a discussão do programa com destaque à educação. Além dessa visão baseada na política desenvolvida no Brasil, a alimentação escolar, por um longo período, foi secundária na preocupação dos educadores, o que dificultou transpor o conceito de alimentação escolar para suplementar as necessidades nutricionais de crianças carentes (Moysés e Colares, 1995; Abreu, 1995). O programa de alimentação escolar, após a descentralização, sofreu um processo de reestruturação que refletiu também nas questões educacionais do programa. Em 1995, em documento publicado pelo Conselho Federal de Nutrição sobre o panorama da alimentação escolar, além de se enfatizar a qualidade nutricional da alimentação, também se destacou a merenda como ferramenta educativa. A alimentação escolar passou a ser abordada com outro enfoque pelos pesquisadores da área. Em estudos publicados pela revista “Em Aberto”, no ano de 1995, os autores discutiram o papel da alimentação escolar em dois aspectos: como direito dos alunos à alimentação adequada e não como 38 uma resolução para o fracasso escolar; como uma atividade pedagógica (Abreu, 1995; Belaciano et al, 1995; Moyses e Colares, 1995). ...ao repassar os recursos financeiros e a elaboração dos cardápios aos municípios, cria condições não só para a melhoria da qualidade nutricional da merenda, através da incorporação de alimentos in natura e da garantia de uma dieta mais variada, mas também para a discussão do papel pedagógico das refeições fornecidas aos alunos no ambiente institucional da escola (Abreu, 1995. p.19). No estudo realizado por Abreu, a autora expôs que alimentação das crianças é determinada por escolhas culturais influenciadas pela situação econômica e que, portanto, a escola torna-se mais importante, pois além de instruir sobre a relevância do consumo dos nutrientes, ela deve oferecer de forma balanceada os alimentos que fornecem tais componentes. A mudança no perfil nutricional da população e a prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e jovens, causada pelo aumento da ingestão de gorduras e pela redução da atividade física, provocaram o desenvolvimento de uma série de programas de educação nutricional, reforçando o potencial do PNAE como espaço para esse processo. Nesse contexto, em 2006, foram determinadas, em Lei, as diretrizes para a promoção da alimentação saudável nas escolas, o que reforçou a prática de atividades para desenvolvimento da educação alimentar e nutricional (Lei interministerial 1010 de 2006). Ao perceberem-se a escola e, principalmente, o PNAE como espaço para educação alimentar e nutricional, foi necessário determinar quais profissionais estariam inseridos nesses processos educacionais. Segundo Davanço et al (2004), em estudo realizado com estudantes submetidos a um curso ministrado por nutricionistas e professores, concluiu-se que os alunos que tiveram aulas com os nutricionistas tiveram menor rendimento quanto aos assuntos abordados. A mesma autora colocou que esse resultado pode ser explicado pelo maior contato que os professores têm com os alunos, pela facilidade na comunicação e por estarem inseridos na realidade social e cultural dos estudantes. Em relação às nutricionistas, é importante frisar que em 2007, 64% dos municípios atendidos pelo PNAE contavam com a presença de um nutricionista (CFN, 2007). Esse, como profissional da saúde, consegue interligar as questões alimentares com o ser humano. Porém, o campo de atuação do nutricionista na escola deve ir além do simples fato de informar sobre alimentação e higiene. Deve agregar o saber popular ao técnico, 39 interagindo com os outros profissionais e não se impondo como detentor dos saberes de educação alimentar e nutricional. Com relação às práticas intersetoriais e interinstitucionais, verificamos que as nutricionistas percebem e se preocupam com a necessidade de estabelecer parcerias para melhorar e agilizar as ações destinadas à execução do PNAE, tendo em vista sua dimensão de política pública. Embora preocupação quase unânime, não parece estar clara a forma como essas parcerias devem ser construídas (Caniné e Ribeiro, 2007, p. 66). Apesar da importância dos professores e dos profissionais de saúde no desenvolvimento das atividades de educação em saúde, dentre os mais de um milhão de profissionais não docentes nas escolas, temos as merendeiras, que participam de todos os processos envolvendo a alimentação dentro da escola. Portanto, essas profissionais podem ser consideradas fundamentais para o efetivo desenvolvimento da educação em saúde, principalmente quando o foco é a educação alimentar e nutricional. Ao situar professores, nutricionistas, merendeiras e alunos como atores da merenda escolar e participantes ativos dos processos educativos, temos de considerar que estes apresentam identidades e diferenças específicas, tornando o cenário da merenda escolar um espaço sociocultural. A respeito desse contexto, Dayrell expõe que A escola, como espaço sociocultural, é entendida, portanto, como um espaço social próprio, ordenado em dupla dimensão. Institucionalmente, por um conjunto de normas e regras, que buscam unificar e delimitar a ação dos seus sujeitos. Cotidianamente, por uma complexa trama de relações sociais entre os sujeitos envolvidos, que incluem alianças e conflitos, imposição de normas e estratégias individuais, ou coletivas de transgressão e de acordos (Dayrell, 1996, p.137). Ao transpor a questão da dupla dimensão, a merenda escolar apresenta a parte institucional, composta pelas normas do FNDE e PNAE que determinam a ação de cada sujeito, e a parte do cotidiano, que inclui as relações entre nutricionistas, merendeiras, professores e alunos. Nessa trama, podemos observar conflitos e alianças que nos permitem analisar com maior amplitude os processos educativos existentes no contexto da merenda escolar (Elias, 2009; Portronieri, 2010; Greenwood, 2011). A produção de conhecimento e a aprendizagem para instituir-se como parte do serviço de alimentação escolar precisa do estímulo a toda a equipe da escola (Costa, 2001). A evolução dos conceitos de educação em saúde e promoção da mesma, além do número de pesquisas discutindo novas formas de abordagem da educação alimentar e nutricional, apontam a necessidade de novas teorias para embasar os métodos 40 educativos, a consolidação e a criação de espaços que permitam ações contínuas de educação, assim como o aprimoramento dos profissionais que atuam nessa área (Franco e Boog, 2007). Ao focarmos nossa discussão no aprimoramento dos profissionais que trabalham em ações de educação nutricional e alimentar no ambiente escolar, temos um panorama diferenciado para cada profissional, como citado anteriormente. Ao nos aprofundarmos na situação dos manipuladores de alimentos, observamos que o contexto desses profissionais vem sendo alterado em relação à educação. Em 2004, o Ministério da Educação publicou um documento que enfatizava o protagonismo de todos os funcionários da escola nos processos educativos. Sendo estes profissionais integrantes dos processos educativos voltados à educação alimentar, a primeira pergunta que se faz necessária é: quais saberes devem estar presentes para que as práticas educativas sejam efetivas no ambiente escolar? 2.2 - Um caminho a pensar: o saber popular e o saber científico e a educação alimentar e nutricional nas escolas. Os saberes da nutrição como campo específico consolidaram-se como saber científico recentemente. Alguns estudos destacam três períodos marcantes para as descobertas relacionadas ao campo da nutrição: o primeiro no século XVIII, em que ocorreram as discussões sobre oxidação e valor calórico dos alimentos; o segundo no século XIX, em que se teve como foco as descobertas sobre elementos químicos e o desenvolvimento da bacteriologia; e o terceiro no século XX, quando se descobriram os micro e os macronutrientes que compõem os alimentos. Para Vasconcelos (2001), no entanto, a consolidação desses saberes só aconteceu na metade do século XX, a partir do reconhecimento entre a relação dieta e enfermidade, o que provocou a necessidade de um profissional para atuar nessa área. Conforme mencionado, o ano de 1930 foi marcado pela atuação de médicos nutrólogos que, além de incentivarem a criação da alimentação escolar, desenvolveram as duas vertentes fundamentais da nutrição: uma composta por concepções biológicas e fisiológicas, enquanto a outra focada nas perspectivas sociais e preocupada com os aspectos da produção, distribuição e consumo dos alimentos. Entretanto, mesmo tendo como processo inicial de desenvolvimento essas vertentes, a nutrição vem sendo consolidada nos modelos biomédicos. Em estudo realizado por Ferreira e Magalhães (2007), as autoras concluíram que a predominância do modelo biomédico ocorre 41 inicialmente no conteúdo dos currículos de cursos de formação. Há uma diferença evidente entre a importância atribuída aos conceitos biológicos em detrimento das concepções políticas, econômicas e culturais necessárias à percepção da totalidade do fenômeno da nutrição. Os conceitos da nutrição vêm dando suporte às diferentes funções do programa de alimentação escolar. Quando a alimentação escolar era caracterizada como um programa de combate à desnutrição e ao fracasso escolar, os conceitos da nutrição eram utilizados para elaborar preparações enriquecidas e definir a composição nutricional que melhor atendia aos escolares. Nesse momento, o foco dos estudos eram os nutrientes e a composição dos alimentos consumidos. Depois que o alvo das pesquisas passou a ser a busca de um caminho para oferecer aos escolares alimentação saudável com segurança e qualidade, outros conceitos da nutrição foram integrados às discussões. Entre os temas estão: as boas práticas de fabricação que devem ser seguidas pelos manipuladores de alimentos, hábitos alimentares, alimentação saudável, educação alimentar e nutricional. A inserção de novas temáticas da nutrição no programa de alimentação escolar com o objetivo de torná-lo mais eficaz não significou uma abertura aos campos das ciências humanas e de princípios filosóficos da Educação em geral. Os conhecimentos que ainda predominam são os biomédicos. O domínio dos conceitos biomédicos pode ser observado em todas as áreas da nutrição, no entanto, em nosso estudo, daremos ênfase aos processos de educação alimentar e nutricional e à formação dos manipuladores de alimentos. Em relação à educação alimentar e nutricional, em estudo realizado por Manço e Costa (2004), as autoras apresentam as principais concepções sobre a educação alimentar e nutricional ao longo dos anos. Estão descritos no quadro I: 42 Quadro I – Concepções sobre Educação Alimentar e Nutricional Autor Concepções Ponto importante Ritchie Valorização do significado dos alimentos, dos aspectos religiosos e culturais, dos hábitos por grupos étnicos, baseado em uma visão sociológica. Não se faz necessária a participação ativa dos educandos no processo decisório. Burges e Dean Não considerava o processo O nutricionista é visto como de educação nutricional multiplicador de como um simples repassar informações. de informações. Enfatiza a importância de um diagnóstico educativo bem elaborado e formulação precisa de objetivos educativos. Jelliffe Instruir de acordo com os problemas diagnosticados nos dados epidemiológicos. Bosley Enfatiza novamente a valorização dos costumes, valores, preferências, tabus dos indivíduos. Mushkin Educação nutricional voltada para o crescimento econômico. Nutricionista como responsável técnico, mas não executor da educação nutricional. A habilidade do educador é colocada como um dom e, por isso, não pode ser desenvolvida. Embora as concepções sobre educação alimentar e nutricional fossem discutidas e a cada novo panorama os conceitos em relação ao que devia ser considerado na elaboração da atividade, em relação aos responsáveis técnicos, executores e educandos fossem revistos, a descrição concreta de programas e atividades de educação alimentar e nutricional e seus desdobramentos são raros (Santos, 2005). A educação alimentar e nutricional esteve ligada diretamente à política alimentar do país. Enquanto era preconizado que os problemas alimentares da população estavam associados à educação da população, o número de estudos e programas baseados no binômio alimentação-educação avançavam. A partir do momento em que a justificativa para alimentação inadequada da população passou a ser a renda, a educação nutricional 43 tornou-se uma temática desinteressante aos pesquisadores (Santos, 2005). Para Manço e Costa (2004), a educação nutricional esteve em vários momentos ligada a interesses econômicos, sendo utilizada para introdução de novos alimentos. A educação alimentar e nutricional é uma área que vem ganhando espaço nas ações de educação em saúde, entretanto, enfrenta dificuldades em seu desenvolvimento. As ações de educação alimentar e nutricional destinadas à população, em geral, têm sido caracterizadas por variações em seu conteúdo e abordagem, porém, o foco está em informações sobre benefícios e malefícios da alimentação. As ações que objetivam a formação de profissionais, os quais serão responsáveis por desenvolver atividades de educação alimentar e nutricional, são desenvolvidas de forma fragmentada e desarticulada da realidade local, provocando uma não efetividade dessas atividades (Castro, 2007). Ao tratarmos das práticas educativas realizadas com as merendeiras, estudos apontam que o único objetivo é a transmissão de conhecimentos científicos da nutrição, a fim de que possam desempenhar suas funções (Costa, 2002). A principal preocupação dos órgãos de saúde e das pesquisas com manipuladores de alimentos é o que chamamos de Boas Práticas para Serviços de Alimentação - normas e orientações que asseguram a qualidade higiênico-sanitária dos alimentos. Tanto os estudos com manipuladores de alimentos de restaurantes comerciais quanto os estudos com merendeiras centralizam-se nessas questões. Segundo Leite et al (2011), em pesquisas realizadas no Brasil e em outros países, constatou-se que os manipuladores de alimentos são potenciais transmissores de microrganismos patogênicos quando ocorrem falhas nos processos produtivos. Com a necessidade de assegurar que certos procedimentos fossem adotados a fim de reduzir falhas, foram elaboradas leis que orientam os serviços de alimentação e nutrição, entre elas a Portaria CVS-6/99, de 10.03.99, e a Resolução – RDC 216/2004. A primeira dispõe sobre o regulamento técnico referente aos parâmetros e critérios para o controle higiênico-sanitário em estabelecimentos de alimentos. A segunda, sobre edificações e instalações; higienização de instalações, equipamentos e utensílios; controle integrado de pragas e vetores; abastecimento de água; manejo de resíduos; manipuladores; matérias-primas, ingredientes e embalagens; preparação do alimento; armazenamento e transporte do alimento preparado; exposição ao consumo do alimento preparado. Com base nas leis e na importância da atividade desenvolvida, recomenda-se que os trabalhadores sejam continuamente reforçados e monitorados em relação à higiene pessoal e dos alimentos, passando por atividades de educação continuada (Leite et al, 44 2011). Apesar da orientação de órgãos de saúde e pesquisadores em relação à necessidade de reforçar os conceitos de higiene, para Teo et al (2010) esse tipo de capacitação caracteriza os manipuladores de alimentos como trabalhadores manuais e operacionais. Segundo as autoras, é fundamental que se discutam atividades que visem à formação humana integral, a fim de que, deste modo, as merendeiras possam atuar de forma efetiva na educação em saúde. O manipulador de alimento no ambiente escolar pode ser visto como educando, no momento em que recebe orientações sobre a qualidade nutricional e higiênico-sanitária da alimentação escolar, além de educador. Ao longo do que foi descrito sobre educação em saúde, educação alimentar e nutricional e formação das merendeiras, é possível perceber uma predominância do saber científico em relação aos outros conhecimentos, não sendo esse fenômeno restrito à área da saúde e nutrição. Ao discutir a questão dos saberes, Chassot (2006) divide-os em três grupos: o saber construído na universidade, o saber escolar e o saber popular. O autor expõe que: o saber construído na Universidade é um saber elitista, que ainda hoje considera como verdadeiro o que é validado dentro dessa instituição; o saber escolar é o saber que a escola define como importante e que deve ser transmitido aos alunos; e o saber popular é originado das práticas cotidianas das classes dominadas cultural e economicamente. Antes de nos aprofundarmos no saber popular, faz-se necessária a diferenciação entre senso comum e saber popular. Segundo Lopes (1993), o “senso comum se constitui do conjunto de saberes capazes de orientar os seres no mundo indistintamente: sejam classes dominantes ou dominadas”. Ao utilizarmos como base para discussão os conceitos de Chassot, temos os conceitos da nutrição e da saúde validados pela Universidade como saber científico. O saber escolar são os determinados como importante nessa temática e que são transmitidos tanto aos alunos como aos outros profissionais. O saber popular é o originado no cotidiano dos alunos, professores, merendeiras e demais funcionários. Na ciência escolar há uma valorização dos conhecimentos da Academia (saber institucionalizado) em detrimento do saber popular. Assim, parece que, quando se olha a posição da Escola, colocada entre a Academia, produtora de ciência, e a Comunidade, detentora do saber popular, a vemos cortejando o saber acadêmico, que não conhece, mas tem que transmitir, e até desprezando o saber popular que ela também não entende e que não tem a validação da Academia (Chassot, 2006, p. 2011). Essa desvalorização dificulta a inserção dos saberes populares nas práticas 45 educativas. Além dessa barreira, a dificuldade de se reconhecer que é possível a produção de conhecimento por meio de outros processos e o fato de o saber popular estar inserido de diferentes formas nos contextos sociais também são empecilhos ao resgate do saber popular na educação (Chassot, 2006). Ao extrapolarmos os conceitos de Dayrell, em relação à escola como espaço sociocultural, e os conceitos de Chassot, sobre os saberes, a alimentação escolar pode ser vista de outro ponto de vista, em que há a parte institucional (PNAE e FNDE) e está baseado nos conceitos oriundos da Universidade (saberes institucionalizados), os quais definem as orientações fundamentais ao desenvolvimento da alimentação escolar. O cotidiano, formado pelas relações entre alunos, professores, merendeiras e demais profissionais, possibilita a formação do conhecimento por meio de outros processos, reconhecendo-se os contextos sociais em que estes se encontram. Ao definir a alimentação escolar como um espaço sociocultural permeado por saberes distintos, é necessário buscar meios que permitam a valorização do saber popular, o qual ainda possui menor prestígio social, ou seja, resiste a “menos códigos” (Chassot, 2006). No entanto, esse reconhecimento só é possível a partir do momento em que o manipulador de alimentos não se resume a um indivíduo que desenvolve uma atividade no “espaço cozinha-refeitório”. 46 CAPÍTULO 3. Percurso metodológico O programa de alimentação escolar do Município do Rio de Janeiro é coordenado pela Secretaria Municipal de educação (SME) e pelo Instituto de Nutrição Annes Dias, sendo esta instituição ligada à Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil. Segundo dados da Secretaria Municipal de Educação fornecidos no ano de 2011, o município do Rio de Janeiro tem 1330 unidades de educação entre escolas, creches e espaços de educação especial. No ensino fundamental, são 685.279 alunos matriculados. Em relação aos recursos humanos, o município conta com 37.391 professores e 13.088 funcionários de apoio administrativo. Em informação cedida pelo INAD, consta que, dos 13.088 funcionários, 5.900 são manipuladores de alimentos. O presente trabalho tem uma abordagem quantitativa, com base no método de pesquisa Survey, o que permite a descrição das características sociais e econômicas. Possibilita explicar rotinas, decisões e atitudes tomadas no preparo da alimentação escolar(Babbie, 1999). A amostra é composta por manipuladores de alimentos que trabalham nas escolas municipais do Rio de Janeiro. Participam do estudo as profissionais que são denominadas merendeiras como também agentes do preparo de alimentos (APAS). O desenho do estudo é interseccional, possibilitando a extrapolação dos dados. O estudo é composto por três fases: a primeira consiste na elaboração e validação do questionário; a segunda na realização de um estudo piloto e a terceira na aplicação efetiva do questionário. 3.1 - Construção e validação do instrumento de pesquisa A construção do questionário ocorreu em duas etapas: o ponto de partida foi a realização de uma revisão bibliográfica, com a qual foi possível determinar as variáveis do problema em questão. Após essa etapa, foi desenvolvido um questionário prévio composto por 35 questões, divididas em quatro blocos: dados pessoais; informações da família; informações profissionais; informações sobre o trabalho na escola. Esse questionário foi então discutido em três etapas: em reunião com orientador; em reunião com um estatístico; em reunião com uma nutricionista e uma professora de ciências, formada em biologia. Em seguida, foi elaborado um questionário piloto nova versão com 36 questões. A divisão dos blocos permaneceu como descrita anteriormente, porém, 47 foram elaborados subgrupos de perguntas no bloco referente a informações sobre o trabalho na escola. Estes subgrupos são: intensidade de trabalho; ações da merendeira para estimular a alimentação; valorização da profissão; relação afetiva merendeira x aluno; ações de qualificação. Após elaboração das questões, foi realizada análise semântica das versões. Segundo Pasquali (1997) para testar a compreensão dos itens é necessário expor as questões a grupos formados pela população meta e a grupos com maior habilidade. O autor colocou ainda que não precisam ser mais avaliados os itens com dois grupos de sujeito que não apresentarem problemas. Para o grupo com maior habilidade, foram selecionados três profissionais: o primeiro com formação em nutrição, o segundo cursando Biologia e o terceiro com formação em enfermagem. Para o grupo meta foram selecionadas cinco escolas, sendo quatro da 7° CRE e uma da 9° CRE, compostas por dois ou três manipuladores de alimentos. Essas escolas foram excluídas das próximas etapas da pesquisa. No grupo com maior habilidade, as questões foram aplicadas a cada profissional separadamente e, de uma forma geral, bem compreendidas. No entanto, a questão 26 do grupo “Informações sobre o trabalho na escola” e subgrupo “Valorização da profissão” causou dúvidas a um profissional em relação ao contexto. Não saberia dizer o que a frase quer dizer. Se ela não gosta do termo merendeira para designar sua profissão ou se ela não gosta de ter que trabalhar como cozinheira (Profissional 2). No grupo meta, as entrevistas foram aplicadas em grupos de dois ou três manipuladores de alimentos. Os entrevistados apresentaram dúvidas em cinco questões do grupo “Informações sobre o trabalho na escola”. A primeira questão é a 21, que está no subgrupo “Ações da merendeira para estimular a alimentação”. Dentre os cinco grupos entrevistados, dois, formados por quatro merendeiras, não compreenderam qual era a abordagem da questão, fazendo com que o entrevistador tivesse que explicitar em outras palavras o que era medido. Essa questão foi alterada para o versão final do questionário. A segunda questão é a 25, componente do subgrupo “Valorização da profissão”. O grupo composto por agentes de preparo de alimentos não compreendeu tal questão, visto que estes profissionais estão inseridos em um contexto de trabalho diferenciado das merendeiras. Como o objetivo do trabalho engloba os dois grupos, essa questão foi retirada da versão final do questionário. A terceira questão é a 26, também componente do subgrupo “Valorização da 48 profissão”. Os cinco grupos não entenderam o sentido da frase, pois a questão não media o que se pretendia, sendo, portanto, alterada. A penúltima questão é a 30, do subgrupo “Relação afetiva merendeira x aluno”, (está) a qual provocou dúvidas nos cinco grupos, pois apresentava o mesmo sentido da questão que a antecede. Devido a isso, para a versão final também sofreu alterações. A última questão é a 32, que compõe o subgrupo “Acidente de trabalho”. A situação de trabalho destes profissionais mudou ao longo dos anos, tendo em vista que recebem uniforme completo, reduzindo assim o número de improvisos no momento de trabalho. Portanto, a questão não se adaptou ao contexto e também foi modificada. Além das questões alteradas por conta de problemas semânticos, que provocaram dúvidas nos entrevistados e que, consequentemente, não cumpriram o objetivo esperado, outras questões tiveram de ser inseridas no instrumento. Em resultado da aproximação ao campo de trabalho, obteve-se uma visão mais abrangente do grupo a ser estudado e concluiu-se que seria necessário introduzir novos pontos para melhor análise. Na questão 7, foi incluída mais uma opção de moradia, pois alguns profissionais residem na escola. Na número 12, foi modificado o item que descreve a função do profissional manipulador de alimentos, tendo em vista que automaticamente ele deve realizar a limpeza do refeitório e da cozinha, conforme especificado no edital do concurso. No subgrupo “Ações da merendeira para estimular alimentação”, foi acrescentada uma questão a fim de ser abordada a falta de tempo para o desenvolvimento de atividades educativas, situação esta levantada por todos os grupos entrevistados e não explicitada no instrumento. A última alteração no questionário foi a inclusão de duas questões do subgrupo “Ações de Qualificação” - a de número 37 e a 38. A primeira pergunta sobre a participação no Conselho Escola Comunidade, criado com o objetivo de discutir e analisar criticamente os problemas que envolvem a escola, sendo este um espaço para o reconhecimento do trabalho dos manipuladores. A segunda aborda o acesso às cartilhas de alimentação escolar. Nas entrevistas com merendeiras e em conversas informais com diretores e coordenadores da escola, foi destacada a importância desse material no processo de formação dos manipuladores de alimentos. Após essa etapa, o instrumento da pesquisa passou pela avaliação da banca de qualificação e, com sugestões dos professores, sofreu novas modificações. A primeira aconteceu em relação ao layout, com o objetivo de facilitar a aplicação e compilação dos dados. Em relação ao conteúdo, foram feitas as seguintes alterações: na primeira questão, passou a ser perguntado o ano de nascimento; na quarta, a opção de resposta 49 5(vive com companheiro) foi integrada à opção 1; na quinta, com o objetivo de facilitar a resposta do profissional, a pergunta tornou-se “Qual foi a última série que cursou?”; as questões 7, 10 e 12 foram incluídas para complementar as perguntas sobre atividade remunerada, tempo de deslocamento até o trabalho e o tema chefe da família; as questões 21 (no questionário anterior, 18) e 24 (anterior 21) foram alteradas a fim de não causar dúvidas ao respondente; foram incluídas as questões 26, 27 e 28, com o objetivo de observar a percepção das merendeiras em relação ao que é servido. Além de tais modificações, analisou-se que a questão 25 do questionário piloto deveria ser substituída, pois não estava associada às outras questões do bloco. Foram também acrescentadas interrogações que tratam do acesso dos profissionais à internet e do associativismo, além da questão 33, abordando-se a valorização das merendeiras. As perguntas do subgrupo “Acidente de Trabalho” foram retiradas, considerando o reduzido tempo para aplicação do questionário nas escolas e o fato de esse tema ser amplamente abordado por outros estudos. Os questionários seguem em anexo (anexo I – Questionário Piloto; anexo II – Questionário Final) 3.2 - Definição da amostra A amostragem estratificada foi adotada na pesquisa para o cálculo do tamanho da amostra, pois as informações a respeito do evento “a merendeira exerce papel central na educação alimentar e nutricional” foram coletadas junto à população de merendeiras. Estas profissionais estão alocadas em 1054 escolas do Rio de Janeiro, distribuídas de duas a três por turno em cada escola, totalizando-se 4669 profissionais divididas geograficamente em dez Conselhos Regionais de Educação – CRE. Nessa amostra, não estavam incluídas as creches e os espaços de educação especial. Para tal, foi adotado um intervalo de confiança de 95%; uma proporção de sucesso do evento (0,50); significância estatística de 5% e erro máximo da estimativa amostal 0,05. O tamanho da amostra estratificada por CRE, levando-se em consideração o número de escolas de cada estrato, foi calculado pela fórmula de amostragem estratificada para população finita conforme Martins (2001), em que: N é o número total de escolas; Ni, o número de escolas em cada CRE; p, a proporção de sucesso do evento; q, a proporção de fracasso do evento; k é igual a número de estratos; wi é o peso relativo de cada estrato. 50 O tamanho total da amostra (n), o peso relativo (wi) e o tamanho da amostra em cada estrato (ni) estão representados na Tabela I. Tabela I – Tamanho da amostra estratificada – Unidades escolares p=0,50 e=0,05 α=5% ESTRATOS CRE 1 CRE 2 CRE 3 CRE 4 CRE 5 CRE 6 CRE 7 CRE 8 CRE 9 CRE 10 TOTAL Z N AMOSTRA 1,96 Ni 53 113 101 134 103 77 116 144 104 109 1054 1054 wi 0,05 0,11 0,10 0,13 0,10 0,07 0,11 0,14 0,10 0,10 1 N 14,2 30,2 27,0 35,8 27,5 20,6 31,0 38,5 27,8 29,1 281,5 Visto não ser possível determinar o número exato de merendeiras por escola, após a definição do número total de escolas por CRE, determinou-se a proporção de casos por escola pela média de 4,43, obtida pela divisão entre o número total de merendeiras e o total de escolas, incluindo creches e espaços de educação especial. O cálculo foi baseado novamente na amostragem estratificada para população finita conforme Martins (2001), sendo: N o número total de merendeiras e Ni o número de merendeiras em cada CRE. O tamanho total da amostra (n), o peso relativo (wi) e o tamanho da amostra em cada estrato (ni) estão representados na Tabela II. 51 Tabela II – Tamanho da amostra estratificada – merendeiras p=0,50 e=0,05 α=5% ESTRATOS CRE 1 CRE 2 CRE 3 CRE 4 CRE 5 CRE 6 CRE 7 CRE 8 CRE 9 CRE 10 TOTAL Z N AMOSTRA 1,96 Ni 235 500 447 594 456 341 514 638 461 483 4669 5900 Wi 0,05 0,11 0,1 0,13 0,1 0,07 0,11 0,14 0,1 0,1 1 N 14,3 30,6 27,4 36,3 27,9 20,8 31,4 39 28,2 29,5 285,4 Após essa etapa, foi realizada uma amostragem aleatória na lista de escolas de cada CRE por meio do programa IBM SPSS Statistics 19, a fim de determinar as escolas que seriam visitadas para as entrevistas com as merendeiras. 3.3 - Trabalho de campo A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, tendo sido aprovada em 13 de maio de 2011. Posteriormente, passou de modo simultâneo pela avaliação do INAD, para esclarecimento de algumas questões, e da Secretaria Municipal de Educação. Concedida a licença para a pesquisa por esses dois órgãos, iniciou-se o pedido de autorização para as dez CREs, apresentando a cada uma o nome das escolas sorteadas. Este elaborava uma carta nominal a ser entregue à direção das escolas. Então, entrávamos em contato por telefone com a direção da escola, solicitando a permissão e perguntando qual seria o melhor dia e horário para realizar a pesquisa. Algumas escolas não permitiram o contato com as merendeiras, sendo automaticamente substituídas no estudo. Seguindo as exigências do comitê de ética, em todas as etapas do estudo, só participaram os manipuladores de alimentos que concordaram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo III), em que constam os objetivos da pesquisa e os contatos do pesquisador responsável. O sigilo e o anonimato dos participantes foi garantido durante toda a pesquisa. Foram entrevistados 285 merendeiros em 162 Unidades Escolares, durante os meses de setembro, outubro, novembro e dezembro de 2011. O número de entrevistas 52 por CRE seguiu o que foi determinado na amostragem descrita anteriormente e os bairros do município do Rio de Janeiro visitados estão ilustrados na Figura III. FIGURA III – Bairros visitados durante o trabalho de campo. * Bairros visitados: Ilha do Governador (Jardim Guanabara, Tauá, Freguesia, Galeão, Cacuia); Cordovil, Ramos, Manguinhos, São Cristóvão, Centro, Flamengo, Laranjeiras, Botafogo, Copacabana, Ipanema, Leblon, Lagoa, Gávea, São Conrado, Tijuca, Alto da Boa Vista, Engenho de Dentro, Inhaúma, Vicente de Carvalho, Irajá, Colégio, Rocha Miranda, Coelho Neto, Pavuna, Guadalupe, Ricardo de Albuquerque, Marechal Hermes, Deodoro, Vila Militar, Jardim Sulacap; Jacarepaguá (Taquara, Freguesia, Gardênia Azul, Cidade de Deus); Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Vargem Pequena, Vargem Grande, Sepetiba, Santa Cruz, Paciência, Cosmos, Inhoaíba, Campo Grande, Senador Vasconcelos, Santíssimo, Bangu, Osvaldo Cruz, Bonsucesso. As entrevistas duravam em torno de 20 minutos e foram realizadas por mim com a colaboração de 5 assistentes de pesquisa envolvidos no CAPES/INEP – núcleo local NUTES/UFRJ. Observatório da Educação 53 3.4 - Variáveis e análise dos dados Para análise dos dados, todas as informações obtidas por meio do instrumento de pesquisa foram utilizadas. Determinaram-se então as variáveis independentes e as variáveis dependentes. Sucessivamente, foi realizada a análise descritiva dos dados, utilizando a frequência absoluta e percentual, o teste de associação Qui-Quadrado e a análise fatorial. As varáveis independentes são as seguintes: 1. idade; 2. gênero; 3. raça; 4. situação conjugal; 5. escolaridade; 6. questões socioeconômicas / Critério Brasil; 7. bloco II - informações da família; 8. bloco III – informações profissionais; 9. acesso à internet; As variáveis dependentes seguem abaixo. 1. Bloco IV – Intensidade do Trabalho. 2. Bloco IV – Ações para estimular alimentação. 3. Bloco IV – Valorização da profissão. 4. Bloco IV – Relação afetiva merendeira x aluno. 5. Bloco V – Participações em cursos. 6. Bloco V – Quando foi o último curso que participou. 7. Bloco V – Avaliação sobre os cursos. 8. Bloco V – Participações em reuniões. 9. Bloco V – Participação do Conselho Escola Comunidade (CEC). 10. Associativismo. 54 55 CAPÍTULO 4. Perfil dos Manipuladores de Alimentos das Unidades Escolares do Rio de Janeiro: conhecemos esse profissional? O portal de saúde pública define que manipulador de alimentos é o indivíduo que trabalha com produtos alimentícios tanto na preparação de embalagem como na distribuição e venda, além de realizar a preparação culinária de alimentos em estabelecimentos onde se confeccionam e servem refeições. Baseando-se nessa definição, utilizaremos os termos merendeiras concursadas, merendeiras contratadas e APAS, para facilitar o entendimento dos resultados e da discussão. Quando utilizarmos o termo manipuladores de alimentos, estarão englobados os três grupos. 4.1 - Perfil socioeconômico Ao analisarmos o perfil dos entrevistados, a primeira observação foi em relação à faixa etária. A média de idade é de 46,5 anos, sendo a mediana 47 e a moda 52 anos. Da amostra, 23 (8,1%) profissionais apresentam idade entre 21 e 30 anos, 162 (56,8%) apresentam idade entre 31 e 50 anos e 100 (35,1%) apresentam idade entre 51 e 67 anos. Essa característica segue a tendência de envelhecimento da população. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2009, há uma redução na população com idade até 24 anos, enquanto a faixa etária entre 25 e 59 anos aumentou em 1,8 milhão de pessoas e a faixa de 60 anos ou mais aumentou em 642 mil pessoas (IBGE, 2010). Em relação ao gênero, podemos concluir que a atividade de manipulador de alimentos permanece predominantemente feminina, tendo em vista que o número de mulheres no estudo é 19 vezes maior que o de homens, sendo 95,1% (271) do sexo feminino e 4,9% (14) masculino. Este fator está ligado às diferenças sociais nas relações de trabalho. Enquanto o trabalho feminino é relacionado a atividades domésticas, o trabalho masculino é relacionado a atividades profissionais (Chaves, 2004). Além disso, há também uma desvalorização da profissão. Os primeiros envolvidos nessa área eram voluntários, principalmente mães de alunos, que cozinhavam em espaços improvisados e sem estrutura. Essa situação informal e o tempo para que esta profissão fosse regulamentada permitiu que as merendeiras fossem consideradas semidomésticas e “desprofissionalizadas” (Monlevade, 1995). 56 Em relação à cor, 92 (32,3%) foram consideradas brancas, 138 (48,4%) pardas e 54 (18,9%) pretas. Uma pessoa (0,4%) não foi definida em relação a sua cor de pele. Uma maioria de mulheres não brancas é característica desse grupo profissional, ao lado das que atuam como serventes. Chaves (2001) tratou-as como sendo os “quadros negros da escola” ao discutir as implicações da caracterização dessas profissionais em relação ao lugar social que tem sido destinado a estas na sociedade. Observou-se que 63,2% (180) do grupo são casadas ou vivem com companheiro, 17,5% (50) são solteiras, 4,6% (13) são viúvas e 14,7% (42) são divorciadas. Declaram ser chefe de família 72% (36) das solteiras, 100% das viúvas, 88,1% (37) das divorciadas e 16,1% (19) das que se dizem casadas ou vivendo com companheiro. Temos então 40,4% (115) das merendeiras atuando como chefes de família. Na Tabela III a seguir, foram reunidas algumas das informações que auxiliam a caracterização do perfil dos manipuladores de alimentos. Entre os dados coletados para esta pesquisa, destacaram-se os relacionados à escolaridade dessas profissionais, pois parecem indicar uma mudança significativa em relação ao encontrado na literatura acerca de seu perfil. Tabela III – Caracterização dos manipuladores de alimento: escolaridade, classificação econômica e número de habitantes por domicílio Características Merendeiras APAS Total Escolaridade Fundamental 32 (11,2%) Médio 200 (70,2%) Superior 53 (18,65%) Classificação Econômica A2-B1 27(9,5%) B2 78(27,4%) C1 131(46,0%) C2-D 49(17,2%) Número habitantes p/ domicilio 1 17(6%) 2 53(18,6%) 3 84(29,5%) 4 83(29,1%) Mais de 4 48(16,8%) 57 Os estudos realizados com merendeiras apontam que estas profissionais apresentam baixa escolaridade. Esse dado é encontrado tanto na pesquisa realizada por Monlevade em 1995, no qual discute a criação de um novo profissional para alimentação escolar, quanto na pesquisa desenvolvida em Chapecó (RS), que teve como objetivo descrever as potencialidades e os limites das merendeiras como agentes da educação em saúde. Segundo Shafer (2010) de 25 merendeiras que trabalhavam em escolas municipais de Chapecó, 64% apresentavam o nível fundamental completo e 36%, fundamental incompleto. A alteração desse perfil no município do Rio de Janeiro possivelmente fundamenta-se na realização dos concursos. A contratação de funcionários na educação, principalmente de servente e merendeiras, vem sendo feita de duas formas: por indicação de interesses políticos ou por concurso. Quando realizada da primeira forma, a escolaridade não é uma exigência (Reis, 2009). Dos 285 profissionais entrevistados, 55 apresentam curso técnico ou superior. Para melhor entendermos a escolaridade dos profissionais estudados, foram definidas quatro áreas para os cursos das áreas humanas, das exatas, da educação e da saúde (Gráfico I). De 55 profissionais, duas apresentam pós-graduação, sendo uma em Geriatria e outra em Educação de Jovens e Adultos. Educação e saúde são os campos de conhecimento elegidos para a formação de nível superior destes profissionais, fato provavelmente relacionado à inserção destas na escola. Gráfico I – Formação por área 9% 31% 18% Humanas Exatas Educação Saúde 42% Apesar da transformação no perfil da escolaridade, apenas 19,3%(55) apresentam outra atividade remunerada, sendo que apenas 38,2%(21) consideram essa atividade mais importante financeiramente. Com a carga horária de trabalho de oito horas diárias e o acúmulo de funções, há uma dificuldade em desenvolver outras atividades, apesar dos baixos salários. 58 Com a finalidade de avaliar detalhadamente a situação econômica dos manipuladores de alimentos, foi utilizado como base o Critério Brasil (Anexo IV), a situação de moradia e o número de residentes por domicílio. Os dados estão apresentados na Tabela III. Não foram encontradas profissionais localizadas nos extremos da classificação, tanto entre os mais ricos (extrato A1, com renda média familiar de R$ 12.926,00) como também no extrato E ( com renda média de R$ 477,00). Praticamente a metade das profissionais afirmam estar numa faixa de renda familiar em torno de R$ 1.541,00 (C1), sendo este valor o dobro do recebido pelas APAS e praticamente o triplo no caso das merendeiras. De um modo geral, a situação econômica dos manipuladores de alimentos é semelhante ao conjunto da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Deste conjunto, 66,3% encontram-se na mesma situação dos 63,2% daqueles, que possuem rendimento familiar médio de até R$ 1.541, conforme especificado anteriormente (Anexo IV). No caso da moradia, temos que o número de habitantes por domicílio acompanha o perfil da população brasileira descrita na PNAD de 2009, no qual a maior parte da população reside em casas com até 3 pessoas, com média de 3,1 habitantes por domicílio. 221(77,5%) entrevistadas residem em casa própria, 34(11,9%) em casas alugadas, 16(5,6%) moram com parente e 14(4,9%) são residentes da escola. Estas, além de desenvolverem as atividades que competem à sua função, também são responsáveis por abrirem e fecharem a escola. Algumas delas, inclusive, são encarregadas por comunicar à diretoria os problemas referentes à estrutura dos prédios. Em estudo realizado por Chaves (2004), no qual se discute a situação dos funcionários residentes das escolas públicas do Rio de Janeiro, a autora descreveu algumas vantagens e desvantagens para o profissional. Entre as desvantagens, estão a falta de privacidade e o fato de a moradia estar em um local com muito barulho, além da submissão às regras do ambiente escolar constante, tanto para si quanto para seus familiares. Ao expor as vantagens, além da moradia gratuita e de alguns benefícios financeiros, Chaves destacou como sendo um aspecto importante o ambiente educacional que permite a educação de seus filhos e um amparo aos profissionais da escola. Nesse estudo, a autora verificou que os filhos dos residentes haviam completado o segundo grau e alguns fizeram faculdade ou seguiram carreira militar. Outra questão abordada foi a maior possibilidade desses moradores participarem como educadores, visto que moram por um longo tempo na escola e, por isso, conhecem o aluno em sua totalidade, tornandose muitas vezes inspetores informais. No entanto, concluiu-se que essa situação não é reconhecida pelos atores do ambiente escolar. 59 Por fim, uma última informação relacionada ao perfil dessa profissional refere-se à questão do deslocamento até o trabalho. O transporte predominantemente utilizado é o ônibus. A maioria dos entrevistados 58,9%(168), os quais dependem deste meio de transporte, demora mais de trinta minutos para chegar ao trabalho. Embora a cidade do Rio de Janeiro tenha metrô, trem e transporte alternativo, apenas 9,12%(26) utilizam esses transportes. Os profissionais relataram que há um desgaste grande com o trânsito, principalmente no retorno para casa quando este é intenso. Caminhar até o trabalho é uma escolha feita por profissionais que moram bem próximo às escolas, levando esses menos de trinta minutos. Foi possível observar que as merendeiras têm maior facilidade para se alocar em unidades escolares próximas à residência. Enquanto 70,7%(150) das merendeiras demoram menos de trinta minutos para chegar ao trabalho, seja de ônibus ou caminhando, apenas 30,3%(20) das APAS conseguem fazer o percurso nesse tempo. Tabela IV – Transporte e tempo médio de deslocamento até o trabalho Tempo de deslocamento Carro Ônibus Caminhando Outro Menos de 30 min. 2,4% (4) 42,4% (72) 46,5% (79) 8,8% (15) 30min. - 1hora 2,3 (1) 84,1% (37) 11,4% (5) 2,3% (1) Mais de 1 hora 0% 83,1% (59) 2,8% (2) 14,1% (10) 4.2 - Perfil profissional Conforme descrito anteriormente, são determinadas como funções das merendeiras as seguintes: preparar e distribuir merendas e outros alimentos; organizar o refeitório para as refeições; realizar procedimentos que assegurem a qualidade do alimento; verificar se os gêneros recebidos estão de acordo com o cardápio; higienizar refeitório, cozinha e utensílios; frequentar cursos para especialização; pesar e medir os ingredientes para a confecção da merenda e de outros alimentos; executar funções pertinentes a merendeiras (SME, 2007). No caso dos agentes de preparo dos alimentos, as atribuições são: (…) efetuar o preparo das refeições, baseando-se em cardápios prédeterminados, dosando as quantidades de gêneros necessários e o tempero dos alimentos em preparação, acompanhando a cocção dos mesmos até o ponto ideal, ornamentando os pratos a servir; operar 60 com fogões, aparelhos de preparação ou manipulação de gêneros de alimentação, aparelhos de aquecimento ou refrigeração e outros, elétricos ou não; selecionar verduras, carnes, peixes e cereais para cozinha quanto à qualidade, aspectos e estado de conservação; exercer perfeita vigilância técnica sobre a condimentação dos alimentos; manter livres de contaminação ou de deterioração víveres sob sua guarda; zelar pela higiene, limpeza, segurança e conservação de mantimentos, utensílios e local de trabalho; controlar o estoque de produtos de consumo e limpeza existentes; controlar o total de refeições distribuídas; verificar se os gêneros fornecidos para utilização correspondem à quantidade e às especificações das refeições ou de outros alimentos; pesar e medir os ingredientes para confecção da refeição ou de outros alimentos; zelar pela conservação e limpeza da copa e dos objetos de uso; executar serviços gerais de preparação das refeições, lavando, cortando, descascando gêneros, legumes e hortaliças, transportando e lavando utensílios e louças utilizadas, guardando-os em locais apropriados; efetuar limpeza nas instalações da cozinha e refeitório, varrendo, lavando, recolhendo detritos, a fim de manter a higiene necessária; arrumar mesas, distribuindo e/ou servindo refeições; preparar alimentos e cozer produtos alimentícios utilizando processos diversos; operar câmara fria para armazenar e conservar produtos, insumos e matérias primas; trabalhar em conformidade às normas e procedimentos técnicos e de qualidade, segurança, higiene, saúde e preservação ambiental; executar outras tarefas de natureza e de complexidade semelhantes (Edital COMLURB/ FDC 01/2011, p. 1-2). Apesar da descrição mais densa das atribuições dos Agentes de Preparo dos Alimentos, tanto as merendeiras quanto os APAS desenvolvem duas atividades básicas: produção da alimentação escolar (preparo e pré-preparo dos alimentos); higienização do refeitório, utensílios, cozinha; no entanto, ao conversar com algumas merendeiras na fase inicial do estudo, concluímos ser pertinente incluir na questão 15, além das atividades básicas, as opções referentes ao desenvolvimento de outras atividades na escola, como ser copeira da direção e fazer a limpeza e organização de outros setores da escola que não estão relacionados à alimentação escolar. 61 Gráfico II – Função desenvolvida pelos manipuladores de alimentos Outra atividade Limpeza outras áreas Copeira Limpeza áreas AE Preparação 0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00% % desempenha função Com a análise do gráfico II, é possível observar que o profissional está voltado para as suas atribuições básicas. Os que relatam desenvolver a atividade de copeira da direção (responsáveis pela elaboração do café e de alguns lanches) ou outra atividade estão impossibilitadas de desenvolver as atividades de preparação e limpeza das áreas da alimentação escolar por problemas de saúde. No caso da higienização de outras áreas, os manipuladores realizam essa atividade no momento em que a unidade escolar apresentava falta de serventes. Dos manipuladores de alimentos, 278(97,5%) foram contratados após realização de concurso e apenas 7(2,5%) foram contratados por indicação. Estes últimos foram contratados no período em que não havia concurso. Inicialmente eram mantidos pelas caixas escolares, hoje são contratados pela prefeitura no regime de CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Dos 278 funcionários concursados, 76,3%(212) realizaram o concurso da prefeitura e 23,7%(66) foram selecionados através do concurso da COMLURB. A média de tempo de trabalho dos entrevistados é de 9,2 anos, sendo que 98(34,4%) têm entre 1 e 5 anos de trabalho, 140(49,1%) trabalham com a alimentação escolar entre 6 e 15 anos e 47(16,5%) há mais de 15 anos. Dos entrevistados, 256(89,8%) relataram que sabiam cozinhar e 29(10,2%) não sabiam. Ao relatarem que não sabiam cozinhar eram questionados como haviam passado na prova prática. Os manipuladores justificaram que foi possível fazer a prova, pois receberam uma ficha de preparação para a realização do alimento pedido e, depois, foram se aperfeiçoando ao trabalhar na escola. Dos que sabiam cozinhar quando começaram a trabalhar na alimentação escolar, 60,5%(155) disseram ter aprendido com a mãe, 23,4%(60) aprenderam sozinhos, 14,8%(38) aprenderam com outra pessoa e 62 apenas 3(1,2%) fizeram curso. Os manipuladores relataram que a troca de conhecimentos entre os profissionais é importante para o desenvolvimento do trabalho, pois muitos iniciam o serviço sabendo cozinhar em quantidades pequenas e não em larga escala como acontece na alimentação escolar. Portanto, temos que o manipulador de alimento em atuação no município do Rio de Janeiro, de um modo geral, se caracteriza por ser mulher de meia idade e por não ser branca. Sua renda familiar a coloca numa posição intermediária em relação à distribuição brasileira, numa posição semelhante ao conjunto da população da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Em relação ao perfil profissional, ainda há predominância da merendeira. As atividades desenvolvidas pelos dois grupos (merendeiras e APAS) são iguais. A realização de outra atividade operacional além do descrito nos editais ocorre raramente, apenas devido a imprevistos. A inserção dos APAS provoca algumas mudanças, no entanto, não tão marcantes no perfil socioeconômico e profissional dos manipuladores de alimentos como nas questões que discutiremos a seguir. 63 CAPíTULO 5. Possibilidades de formação das merendeiras para além das capacitações Visando à analise dos processos de formação das merendeiras e dos agentes de preparo, dividimos este tópico em três partes. Na primeira, iremos descrever a participação em cursos e/ou capacitações, o acesso a materiais informativos fornecidos pelo Instituto de Nutrição Annes Dias e à internet. Na segunda parte, abordaremos a participação em reuniões que ocorrem na unidade escolar e no Conselho Comunidade Escola (CEC). Na última seção, falaremos sobre questões relacionadas ao associativismo, o que possibilitará observar a participação dos entrevistados nas mais variadas esferas da vida social. 5.1 - Cursos, materiais informativos e internet A Portaria Interministerial n° 1010 de 8 de maio de 2006 institui, entre uma série de diretrizes, a necessidade de ações para sensibilizar e capacitar os profissionais envolvidos com alimentação na escola a fim de que eles possam produzir e oferecer alimentos mais saudáveis. Essa portaria reforça uma prática que acontece desde a implantação do programa no Rio de Janeiro. Inicialmente, as ações se resumiam a atividades educativas na unidade escolar com as professoras responsáveis pelo programa nas escolas, as merendeiras e a educadora de alimentação. A primeira capacitação geral para merendeiras foi relatada no boletim de 1964 do INAD, em que se observa a participação de 340 merendeiras, sendo que 318 concluíram o curso após teste para aprovação. No presente estudo, dividimos os cursos em cinco temáticas: higiene dos alimentos, culinária, alimentação saudável, saúde do trabalhador e segurança do trabalho. Caso tivessem participado de um curso com outra temática, no questionário de entrevista havia a opção para o relato. As participações dos entrevistados nos cursos estão representadas nos gráficos abaixo. 64 Gráfico III – Participação no Curso Gráfico IV – Participação no Curso Higiene dos Alimentos de culinária Higiene dos Alimentos 100,00% 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% 0,00% Culinária 100,00% 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% 0,00% Sim Não Participaram do curso Gráfico V – Participação no Curso Sim Não Participaram do curso Gráfico VI – Participação no Curso Alimentação Saudável Alimentação saudável 100,00% Saúde do Trabalhador 100,00% 80,00% 80,00% 60,00% 60,00% 40,00% 40,00% 20,00% 20,00% Saúde do trabalhador 0,00% 0,00% Sim Não Participaram do curso Sim Não Participaram do curso Gráfico VII – Participação no Curso Gráfico VIII – Participação em outros Segurança do Trabalho Cursos Outros cursos Segurança do trabalho 100,00% 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% 0,00% Sim Não Participaram do curso 100,00% 80,00% 60,00% 40,00% 20,00% 0,00% Sim Não Participaram do curso É possível observar, com a análise dos gráficos, que predomina o tema higiene dos alimentos, embora outros tenham um espaço maior nos cursos, como alimentação saudável, saúde do trabalhador e segurança do trabalho. A inserção constante do tema higiene dos alimentos nos cursos, capacitações e treinamentos pode ser observada 65 desde o início do programa nos Boletins do INAD (Costa, 2002). É possível também observar um grande número de leis e pesquisas voltadas a essa questão, não só na alimentação escolar, mas em toda área de produção de refeições. As práticas higienistas estão presentes nos conceitos da nutrição e, consequentemente, na educação alimentar e nutricional desde seus primeiros fundamentos teóricos. A necessidade de uma visão mais ampliada da saúde dos alunos atendidos pelo programa e da saúde das merendeiras provocou a inserção nas capacitações da alimentação saudável, da segurança do trabalho e da saúde dos trabalhadores. No entanto, paralelamente, a atividade desenvolvida permanece sendo vista como mecânica, tendo como objetivo apenas a produção de uma refeição seguindo os padrões nutricionais e as orientações dos órgãos regulamentadores. Isso provoca uma desvalorização dos cursos de culinária e de outros que auxiliariam na formação completa de um profissional. Dos profissionais que participaram de algum curso de culinária, 21,1% relataram que este não foi oferecido pelo INAD, pela prefeitura ou por algum outro órgão governamental. A exclusão da culinária pode estar relacionada à questão de serem ou não cozinheiras, muito discutida principalmente pelas merendeiras. A participação em outros tipos de capacitação é ainda mais reduzida. Apenas 4,2% realizaram outros cursos, predominantemente o de informática, os quais também não foram oferecidos pelos órgãos já citados. Associada à questão dos cursos frequentados pelos entrevistados, também foi perguntado em que ano havia sido realizado o último curso. Dos 285 profissionais, 23 não realizaram curso ou treinamento, 64 não recordaram o ano do último curso e 198 lembraram-se dele. Todas as profissionais que relataram não ter participado de capacitações são merendeiras. Para explicitar melhor os resultados, iremos distinguir a amostra de merendeiras e a amostra de agentes de preparo. Tabela V – Período que realizou o último curso Há quanto tempo realizou o último curso Merendeiras APAS Há 1 ano 32,4% (44) 83,9%(52) Entre 2 e 3 anos 20,5% (28) 16,1%(10) Entre 4 e 5 anos 24,3% (33) Há mais de 6 anos 22,8% (31) 66 A diferença entre os dois grupos é causada principalmente pela desconformidade no formato de realização dos cursos e no tempo de trabalho dos profissionais. No caso das merendeiras, os cursos acontecem todos os anos e possuem um tema determinado. No ano de 2011, os cursos foram realizados com as merendeiras de cada CRE, sendo predominantemente abordado o tema da utilização de equipamentos para cozinha industrial. Para a participação nesses processos de capacitação, solicita-se à diretora de cada Unidade Escolar que envie um profissional. Ao concluir o curso, o escolhido deve passar às demais merendeiras da escola o que foi aprendido. Geralmente, são orientadas a disponibilizar inclusive o material que receberam às outras. As merendeiras entrevistadas colocaram que essa estratégia de formação nem sempre é efetiva, porque não é realmente possível a troca de informações com as funcionárias que participaram dos cursos. Outra situação observada pelos pesquisadores é a tendência das escolas a escolher sempre os mesmos profissionais, causando uma exclusão dos outros. Em relação ao curso oferecido aos agentes de preparo dos alimentos, a dinâmica é diferente. Os APAS são capacitados antes de iniciarem o serviço na escola, realizando um curso que aborda higiene dos alimentos, alimentação saudável, saúde do trabalhador e segurança do trabalho. No entanto, após esse curso inicial, os profissionais entrevistados não passaram até o final da pesquisa por mais nenhuma atividade. Ao perguntarmos a opinião dos funcionários sobre os cursos, foi observada diferença significativa entre os dois grupos. A avaliação do curso como regular é maior no grupo dos APAS, enquanto no grupo das merendeiras prevalece na avaliação o conceito bom. Tabela VI – Avaliação dos cursos Opinião Merendeiras APAS Ótimo 11,9% (26) 6,1% (4) Bom 48,4% (106) 33,3% (22) Regular 20,1% (44) 50,0% (33) Ruim 4,1% (9) 7,6% (5) Não tem opinião 15,5% (34) 3,0% (2) Diferença significativa p<0,01 Apesar da diferença significativa em relação à avaliação do curso, os pontos críticos ressaltados pelos dois grupos se assemelham. Os profissionais expuseram que o conteúdo das capacitações é muito teórico e se afastam da realidade do trabalho, além de não ser dada a eles a oportunidade de opinar sobre o conteúdo, permanecendo estes 67 então apenas como ouvintes no momento das atividades educacionais. Relatou-se a recorrente semelhança entre os temas abordados, o que torna as atividades repetitivas e desinteressantes. A superação dessa abordagem dos cursos tem sido discutida por uma série de autores. Para Boog (1997) é necessária a elaboração de novos métodos educativos em nutrição, assim como a formalização de espaços institucionais voltados para o desenvolvimento de ações de educação, os quais devem ter como objetivo a elaboração, a implementação e a avaliação das atividades. Outros autores destacam a relevância da aproximação da abordagem dos cursos com a cultura popular e com a cultura da alimentação (Castro et al, 2007 e Costa et al, 2002). Embora bem delineadas e consolidadas as discussões, tal modificação efetiva envolve diversos fatores, entre eles a formação e atuação dos nutricionistas e a inserção de práticas pedagógicas que possibilitem a construção de conhecimentos e a valorização do saber popular. A consideração do nutricionista como um profissional apto a realizar educação alimentar e nutricional e capacitar profissionais para o desenvolvimento de suas funções nos serviços de alimentação e nutrição torna a formação deste profissional mais complexa. Pode-se observar inicialmente esta complexidade na formação do nutricionista na disciplina Educação Nutricional, em que o conhecimento técnico não se faz suficiente para realizar a educação alimentar e nutricional. Exige-se dos docentes da disciplina o ensino de diferentes conhecimentos a fim de habilitar o nutricionista a atuar como um educador, considerando a educação alimentar e nutricional como processo que ocorre em um contexto com pessoas e realidades diferentes, em uma relação entre teoria e prática (Franco e Boog, 2007). As reflexões sobre o nutricionista como educador atuando na educação alimentar e nutricional têm aumentado nos últimos anos, em consequência das diretrizes que apontam este tipo de educação como um caminho para a promoção da saúde. Estudos como o de Costa et al (2001) apontam que, na escola, o nutricionista só se tornará educador caso relacione o saber popular ao saber técnico, evitando assim que predomine a concepção de mudança de comportamento. No entanto, na prática, principalmente quando se tratam de cursos, treinamentos e capacitações de merendeiras, as ações que levam em consideração as teorias da educação são pontuais. Este é o caso de um estudo realizado por Castro et al (2007). Profissionais de saúde de nível superior da rede básica de saúde, equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF), professores do ensino fundamental e merendeiras da rede pública municipal participaram de uma prática educativa com foco na culinária e que apresentava métodos relacionando informação e motivação, assim como buscava a construção do conhecimento coletivo. O respeito, a 68 valorização individual e a diversidade de saberes e valores formaram a base desta pesquisa. Apesar do resultado positivo ao final do estudo, as merendeiras envolvidas colocaram a necessidade de aprofundamento teórico sobre o tema e de mais suporte para as ações de promoção da alimentação saudável. Em 2011, foi publicado por Leite et al um estudo em 97 escolas estaduais que também aborda a inserção de novos conceitos da educação na capacitação da merendeira. Porém, ainda estando focado em técnicas higiênico-sanitárias dos alimentos. Os autores ressaltaram a importância de ouvir as merendeiras e reconhecer seu papel no PNAE, valorizando suas atividades. Entre as políticas governamentais, as ações são extremamente escassas. O único projeto encontrado durante o estudo foi o que citamos anteriormente - a lei n.º 6.897, de 12 de setembro de 2007, da Prefeitura de Jundiaí - , também relatado por uma profissional do Instituto Kairós5 (...) as merendeiras passaram a ser auxiliares de serviço educacional e contribuem enormemente na educação alimentar dos alunos. Lá elas têm formação mensal, são todas informatizadas, têm hora de estudo semanal, desenvolvem trabalhos incríveis de educação alimentar, enfim, elas têm reconhecimento e melhores condições de trabalho. Durante as entrevistas para elaboração do questionário, foi relatado pelas merendeiras que, além das capacitações, o INAD fornecia um material instrucional, em que constavam principalmente fichas técnicas de preparação e orientações pertinentes às atividades na cozinha. Por terem as merendeiras colocado que o material é importante para esclarecer dúvidas e para preparar a merenda, foi incluída no questionário a pergunta sobre o acesso às cartilhas de alimentação escolar. Dos 285 entrevistados, 94%(268) afirmaram ter acesso ao material, utilizando-o para troca de informações. Destacam ainda os profissionais a necessidade deste material ser disponibilizado na área de produção, facilitando eventuais consultas. A utilização de cartilhas para orientação sobre a alimentação escolar é um recurso empregado desde o início do programa, como citamos anteriormente. No princípio, elaboraram-se folhetos com instruções sobre as caixas escolares; depois, foram elaborados por Dante Costa pequenos textos, entre eles um denominado Merendas Escolares que, além de tratar sobre a questão das caixas, também recomendava medidas para tornar a merenda variada e saborosa. Dentre 5 O Instituto Kairós Ética e Atuação Responsável é uma entidade civil sem fins lucrativos, fundada em 2000, que se propõe a: promover a educação para o Consumo Responsável, pautada pela educação ambiental, popular e em valores; desenvolver ações de formação em Comércio Justo e Solidário para os atores da cadeia produtiva; contribuir para a consolidação do Comércio Justo e Solidário e fortalecimento da Economia Solidária; desenvolver estratégias de comercialização justa e solidária visando à aproximação entre produtores e consumidores em sintonia com os movimentos de Segurança Alimentar e Nutricional e agricultura orgânica / agroecologia; produzir e difundir conhecimento acerca dos temas de referências (CR, CJS, ES, SAN). 69 folhetos, textos, cartilhas e livros destinados às merendeiras, o que mais se destacou foi o desenvolvido pelo MEC em 1967, denominado Manual da Merendeira. Este apresentava conteúdo sobre assistência alimentar, alimentação saudável e fundamentos técnicos do trabalho das merendeiras. Em estudo desenvolvido por Souza et al (2003) foi elaborado um impresso como estratégia de educação em saúde junto a trabalhadores de escolas da rede pública. Para o desenvolvimento deste, associou-se o saber formal dos pesquisadores com o saber construído na prática dos trabalhadores e nas relações sociais a que estão submetidos. O conteúdo do impresso foi organizado com caricaturas e imagens, facilitando a visualização das questões de saúde relacionadas ao trabalho. Os autores recomendaram a produção destes materiais, colocando o profissional não só como público-alvo, mas como sujeito do conhecimento que está sendo discutido. Embora esse método para capacitação tenha sido explorado anteriormente e seja relevante o uso de impressos, as reflexões permanecem baseadas em estratégias pontuais, desvalorizando um método considerado importante por merendeiras e APAS. Os meios para formação e informação têm se renovado ao longo dos anos, e o acesso à internet vem se destacando como um potencial canal para formação. Dados da PNAD de 2009 apontam que, nesse ano, 67,9 milhões de pessoas com 10 ou mais anos de idade declararam ter usado a internet, um aumento de 21,5% sobre 2008. Em comparação das regiões do país, a região sudeste mantém o maior percentual de usuários. Em relação ao acesso entre homens e mulheres, estas fazem mais uso da internet, principalmente na faixa etária maior de 30 anos. Pensando a internet como um meio de formação para merendeiras, as questões relacionadas a essa abordaram local de utilização e frequência, além da finalidade da utilização. Dos entrevistados, 77,2%(220) afirmaram utilizar a internet. Com o intuito de detalhar melhor a questão, discutiremos os dados complementares. Ao analisarmos o local onde ocorre o acesso à internet (gráfico IX), observamos que a maioria dos entrevistados possui o serviço em sua residência. Apesar da facilidade para o acesso, essa situação não influencia diretamente na frequência de acesso (gráfico X). É possível supor que o acesso diário pode ser influenciado por outros fatores, como a rotina extenuante tanto em casa como no trabalho. Embora o uso da internet não seja diário por todo o grupo, os profissionais que responderam acessar eventualmente, relataram ter uma regularidade e não ficar longos períodos sem a utilização desta. 70 Gráfico IX – Local onde utiliza a internet 90,0% 80,0% 70,0% 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% 10,0% 0,0% Em casa No serviço Em ambos os locais Outro local Gráfico X – Freqüência de utilização da internet 60,0% 50,0% 40,0% 30,0% 20,0% Diariamente Semanalmente Eventualmente 10,0% 0,0% Para avaliarmos os interesses que levam as merendeiras e os APAS a acessarem a internet, foi perguntado se os profissionais utilizavam a internet para se comunicarem por e-mail, para ver informações e notícias, para diversão, para informações profissionais, para compras e para comunicação (Facebook, Messenger, Orkut). Os respondentes podiam dizer sim a cada uma dessas opções. No gráfico XI, é possível notar que a internet é utilizada principalmente para informações, inclusive profissionais, e notícias. Os que responderam buscar informações profissionais, colocaram que se interessam por textos que abordam a temática culinária e as questões sobre condições de serviço e 71 melhorias para a categoria profissional. Sendo a formação um processo de desenvolvimento contínuo para obtenção de competências, com uma fase inicial que permite a aquisição de conhecimentos base e uma fase após aquisição base, focada no aperfeiçoamento que acontece ao longo de toda a vida profissional (Gasque e Costa, 2003), alguns autores apontam a internet como um meio para formação continuada, principalmente quando os profissionais estão distantes dos polos de educação ou não conseguem conciliar o aperfeiçoamento com a rotina do trabalho (Reis et al, 2001). Embora o suporte da internet na educação continuada venha se desenvolvendo para professores e outros profissionais, com o manipulador de alimento não há ainda nenhuma pesquisa ou programa que utilize essa metodologia. A utilização da internet, apesar de ter se expandido neste grupo, principalmente para busca de informações profissionais, ainda permanece como uma atitude a ser tomada pelo manipulador de alimentos e não como um instrumento consolidado para formação base ou continuada deste profissional. Gráfico XI – Finalidade de utilização da internet Comunicação Compras Informação profissional Diversão Não Sim Noticias E-mai 0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0 % 5.2 - A inserção das merendeiras e agentes de preparo dos alimentos nas atividades da escola. Ao considerarmos que a formação pode ocorrer além das atividades formais, as 72 que ocorrem na escola entre os profissionais pode se tornar um espaço para construção do conhecimento. Com o objetivo de verificar a inserção das merendeiras e dos agentes de preparo nas reuniões e em outras atividades que acontecem no ambiente escolar, aos entrevistados foi perguntado se participavam das seguintes reuniões: reunião de equipe da escola; reunião com pais de alunos; reunião com a diretora; reunião com a coordenadora pedagógica; e reunião com o nutricionista. Para que a pergunta não ficasse restrita, havia a opção para os entrevistados que houvessem participado de outra reunião ou atividade. Como nesse ponto foram observadas algumas diferenças entre as merendeiras e APAS, vamos apresentar os dados de forma dissociada entre os dois grupos. Dentre as reuniões citadas, a participação não é a mesma para os dois grupos, apresentando diferença significativa (p<0,01). Os dados estão descritos na Tabela VII. Tabela VII – Participação dos profissionais nas reuniões Reuniões Merendeiras APAS Equipe da escola 44,7% (98) 16,7% (11) Pais de alunos 6,4% (14) 4,5% (3) 73,05% (160) 54,5% (36) 21,5% (47) 13,6% (9) 14,6% (32) 6,1% (4) 1,4% (3) 1,5% (1) Diretora Coordenadora pedagógica Nutricionista Outra É possível verificar que a inserção das merendeiras e APAS em atividades externas ao espaço cozinha-refeitório ainda é restrita. As reuniões que apresentaram maior participação dos profissionais são a de equipe da escola e a reunião com a diretora. Em relação às reuniões de equipe da escola, os profissionais relataram que a participação não ocorre com regularidade e que geralmente acontece na primeira reunião do ano e ao longo do ano letivo, apenas quando há algum problema ou modificação na alimentação escolar. No caso das reuniões com a diretora, o panorama é um pouco diferente, visto que as reuniões são mais frequentes. Porém, o foco permanece em orientações para o preparo da alimentação escolar. A participação dos profissionais nas reuniões com pais de alunos, coordenadora pedagógica ou em outra reunião que aborde algum diferente tema é rara. Essa invisibilidade dos trabalhadores nas atividades realizadas na escola foi constatada por outros autores. Em pesquisa realizada em Chapecó, os autores consideraram que essa restrição pode ser atribuída à exclusão provocada pelos 73 profissionais da escola e à autoexclusão gerada pela merendeira ou pelos APAS, por não considerar a sua participação importante ou considerar seu trabalho extenuante, não restando tempo para a participação em outras atividades (Teo, et al, 2010). Bezzera (2002) expôs ainda que a visão da função da merendeira como técnica provoca aparentemente a desvinculação das merendeiras com os processos educativos. Ao discutirmos os processos formais para a capacitação das merendeiras, é possível notar que a participação dos nutricionistas e a inserção dos conceitos da nutrição são constantes. Essa situação não ocorre de forma semelhante nas atividades desenvolvidas no ambiente escolar, como é o caso das reuniões. Das merendeiras entrevistadas, como pode ser observado na Tabela VII, apenas 14,1%(30) participam das reuniões com nutricionistas. No caso dos APAS, essa porcentagem é ainda menor, sendo de 6,1%(4). As merendeiras e APAS entrevistados relataram que a atividade dos nutricionistas no espaço escolar está voltada para avaliação da estrutura da cozinha, para avaliação das atividades realizadas pelos profissionais e para avaliação dos produtos e preparações da alimentação escolar. Geralmente, essa avaliação ocorre periodicamente e, após a visita, são passadas orientações às diretoras. Para Costa et al (2001), em estudo que discute o PNAE como espaço de aprendizagem e construção de conhecimento, os nutricionistas, ao apresentarem uma formação com base nos conceitos da educação, devem ter participação ativa nas discussões, interagindo com toda a equipe escolar. Para os autores, por meio de processos interativos - quando ocorre a reflexão das diferentes estratégias desenvolvidas pelos profissionais da escola para resolução de problemas – é construído o conhecimento. Refletindo-se a respeito das atividades do ambiente escolar que podem propiciar a construção de conhecimentos, nota-se que a participação e o envolvimento dos profissionais aparentemente não são determinados de forma neutra. Ao desenvolver a pesquisa de campo, foi possível notar que a inclusão ou a exclusão dos profissionais não eram fundamentadas por orientações dos programas ou de outros órgãos. Cada escola apresentava uma forma de trabalho, orientada pelas concepções do diretor. Alguns profissionais descreveram que participar das reuniões dependia da escola onde estavam locados. Havia escolas em que eram sempre convidados a participar, enquanto em outras só eram chamados caso o foco fosse a alimentação escolar. Como citamos anteriormente, a participação dos agentes de preparo dos alimentos nas reuniões é mais baixa do que a participação das merendeiras. Essa exclusão também pode ser observada no Conselho Comunidade Escola (CEC). Das merendeiras entrevistadas, 15,6%(33) participam do CEC, enquanto no grupo dos APAS, nenhum profissional participa. O Conselho Escola- 74 comunidade foi criado no início dos anos 1980 como um espaço para o debate das questões educacionais entre pais, alunos, professores, funcionários, comunidade e direção. A escolha dos membros para composição do conselho ocorre através de eleições para a permanência no cargo por dois anos. Apesar de ter sido criado para o debate entre todos os atores do espaço escolar, o domínio de professores e diretores é presente. Essa característica de predominar a participação de dois setores da escola tem origem na estrutura da escola pública, mas também é influenciado pelas condições de trabalho, pelos interesses dos grupos dentro da escola e pela ideologia de participação, assim como por condicionantes econômico-sociais, culturais e institucionais (Zargidsky, 2005). Tais determinantes da participação no CEC aparentam se estender a outras atividades desenvolvidas no espaço escolar, sejam reuniões, confraternizações ou atividades de formação continuada. 5.3 - Associativismo Até o momento para discutirmos as possibilidades de construção de conhecimento com as merendeiras, estivemos focados nos processos formais ou não formais que acontecem no ambiente escolar e nos órgãos responsáveis pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar, no entanto ao resgatarmos a concepção de que o conhecimento é uma construção social e que além do espaço escolar existem outros locais de convivência que propiciam processos de aprendizagem, entre eles a família, a comunidade, os sindicatos, as organizações não governamentais, as associações religiosas, as associações de moradores e as cooperativas (Silva, 2005) expandimos nosso estudo além do ambiente escolar, por tanto avaliamos a participação das merendeiras e agentes de preparo dos alimentos em: obras assistenciais (como voluntário ou doador); associações profissionais ou sindicatos; associações cívicas ou associações de moradores; greve; manifestações públicas ou abaixo assinados; conselho tutelar ou outro conselho de direito; eleições; partidos políticos; associação religiosa. Além das participações perguntamos também se realizavam contato com rádios, televisões e serviços para reclamar, denunciar ou opinar; e se haviam entrado em contato com algum político para reclamar, denunciar ou informar algo. Para discussão os dados foram trabalhados de duas maneiras. Na primeira observando a participação dos profissionais em cada situação e na segunda de uma forma geral, no qual foi atribuído a cada sim o valor 1, e a cada não o valor 0, após essa etapa os valores foram somados. resultados estão descritos na tabela VIII e IX. Os 75 Tabela VIII – Associações e participações Associações Obras assistenciais Total 58,2%(166) Associação profissional ou sindicato 19,3%(55) Contato com meios de comunicação para denuncia ou informações 25,3%(72) Associações cívicas ou de moradores 6,0%(17) Participação em greves 13,7%(39) Participação em manifestações públicas ou abaixo assinados Conselho Tutelar ou outro conselho de direito 42,1%(120) Vota em eleições 99,3%(283) Contato com político para denunciar, informar ou solicitar algo Partido Político Associação Religiosa 3,9%(11) 23,5%(67) 3,2%(9) 86,7%(247) Tabela IX – Associativismo – dados agrupados Grau de associação e participação Manipuladores de alimentos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0,7%(2) 2,5%(7) 18,9(54) 24,2(69) 23,2(66) 17,2(49) 7,0(20) 3,9(11) 1,8(5) 0,7(2) Ao analisarmos a tabela VIII é possível observar que a associação religiosa é a que tem maior participação dos manipuladores de alimentos, 86,7% (247) afirmaram participar 76 de associação religiosa. A participação em obras assistências também é bastante significativa, 58,2% (166) dos profissionais responderam que trabalham como voluntário ou fazem doações. É possível notar que há uma ligação entre a associação religiosa e a atuação em obras assistenciais, os profissionais que responderam afirmativamente a essa questão em sua maioria participavam junto ao grupo religioso que freqüentavam. Apesar da alta participação dos manipuladores de alimentos nessas duas associações este resultado não é encontrado nas associações profissionais e sindicatos, nas associações cívicas (ambiente, consumo, patrimônio) ou de moradores, no conselho tutelar ou outro conselho de Direito (idoso, saúde, juventude, conselho de alimentação escolar), ou nos partidos políticos para essa associações a participação é respectivamente 19,3%(55), 6,0%(17), 3,9%(11), 3,2%(9). Esses dados são semelhantes ao encontrado por Lavalle e Castello (2004), no estudo realizado em Paraisópolis. Estes autores encontraram uma associação alta em relação as organizações religiosas enquanto o associativismo políticoeconômico e de lazer é relativamente baixo. Colocam ainda que também nas associações de bairro, movimentos sociais, associações comunitárias e ONGs a participação é baixa. É importante ressaltar que diferentemente do estudo realizado em Paraisópolis onde há predomínio das associações evangélicas, no presente estudo os números em relação as associações evangélicas e o catolicismo são semelhantes, sendo respectivamente 43,1% (107) e 43,7% (108). Outro fator que se destacou foi que as merendeiras e agentes de preparo dos alimentos entrevistados não sabiam o que era o conselho de alimentação escolar e suas atribuições no PNAE. Ao passarmos análise para as questões que abordam a associação dos profissionais a ações para modificar questões econômicas, sociais e de serviço, observamos que o voto e as manifestações públicas ou abaixo assinados são os que têm maior participação, no entanto o voto não pode ser utilizado como um parâmetro, pois é um ato obrigatório em nosso país. No caso das manifestações públicas ou abaixo assinados ao responderem sim, os manipuladores afirmavam a participação em abaixo assinados, outras modalidades de manifestações não eram realizadas pelos entrevistados. Em relação a greve, 13,7% (39) já aderiram a esse tipo de manifestação, no entanto alguns dos entrevistados colocaram que essa adesão ocorreu quando ocupavam cargos em outras empresas. Para os profissionais essa baixa adesão acontece por uma desunião entre os próprios e pelo medo de retaliações. As merendeiras com tempo maior de trabalho relataram que em diversas situações de greve, apenas um pequeno grupo participava. O contato com a mídia para denunciar, informar ou solicitar algo é realizado por 25,3%(72) dos manipuladores de alimentos, estes relatam que a 77 televisão é um meio mais eficiente, que o contato com os políticos (realizado por 23,5% (67)) que aparecem apenas em período de eleições, essa descrença em relação a política é reafirmada na questão da associação a partido político que citamos anteriormente. Como pode ser observado é a associação que tem menor participação dos profissionais. Ao retornarmos a Tabela IX é importante expor que 53,7% dos manipuladores de alimentos participam de 4 ou mais associações, e que apenas 0,7%(2) não participam de nenhuma associação. Esses resultados nos mostram que é possível considerar para a formação das merendeiras e agentes de preparo dos alimentos o associativismo, como exposto por Frantz (citado por Silva, 2005) este é um dos processos educativos mais amplos para a formação de um grupo extenso da população. 78 CAPÍTULO 6. Intensidade do trabalho, valorização da profissão e relação afetiva: O olhar das merendeiras As possibilidades de formação, tanto externas quanto no ambiente escolar, nos permitem observar as concepções que as instituições e profissionais da saúde e educação têm da alimentação escolar e do papel das merendeiras no programa. Para que possamos levantar as possibilidades das merendeiras e APAS nos processos de educação em saúde e da educação alimentar e nutricional é preciso que façamos também uma análise: da percepção que os manipuladores de alimentos têm da alimentação escolar e das ações que podem estimular a alimentação e, consequentemente, servir como instrumento para educação alimentar e nutricional; da percepção dos trabalhadores sobre a intensidade do trabalho e valorização da profissão; da percepção sobre as relações afetivas no ambiente escolar. Para avaliação da percepção sobre intensidade do trabalho, valorização da profissão e relação afetiva, foram elaboradas nove questões, três para cada tema. No caso das ações relacionadas à educação alimentar e nutricional, foram elaboradas sete questões, sendo quatro voltadas para percepção do que é servido e o que deve ser servido na alimentação escolar, uma sobre a percepção do consumo da alimentação pelos alunos e duas a respeito da percepção das atividades para educação alimentar e nutricional. Para uma análise detalhada dos dados, faremos a discussão sobre intensidade do trabalho, valorização da profissão e relação afetiva. Em seguida, abordaremos as ações para estimular a alimentação e, para finalizar, refletiremos sobre as correlações existentes entre intensidade de trabalho, valorização da profissão, ações para estimular a alimentação e relações afetivas. 6.1 - Intensidade do trabalho, valorização da profissão e relação afetiva Objetivando a análise dos dados nesse momento, foi realizada a frequência relativa ponderada. Para tanto, as escalas utilizadas no questionário foram convertidas em valores que variavam de 1 a -1 (sempre / concordo totalmente = 1; muito frequente / tendo a concordar = 0,5; às vezes / nem concordo, nem discordo = 0; raramente / tendo a discordar = -0,5; nunca / discordo totalmente = -1). Após essa etapa, foi realizado em cada 79 bloco o somatório dos valores atribuídos a cada resposta e ficou determinado que para os valores entre -3 e -0,5 seria definido como baixo; para os valores entre 0 e 1 seria definido como moderado, e entre 1,5 e 3 seria definido como alto. Os resultados estão apresentados na tabela X. Tabela X – Percepção sobre intensidade do trabalho, valorização da profissão e relação afetiva Grau Intensidade do trabalho Valorização da Relação afetiva profissão Alto 27,4% (78) 84,6% (241) 94,0% (268) Moderado 44,2% (126) 14,0% (40) 4,9% (14) Baixo 28,4% (81) 1,4% (4) 1,1% (3) A intensidade do trabalho das merendeiras é uma questão que vem sendo discutida ao longo dos anos. Essa preocupação surgiu devido ao número de profissionais readaptados nas escolas por problemas de saúde. A readaptação ocorre após avaliação da condição de saúde do trabalhador pela perícia médica e social. Os trabalhadores avaliados como incapazes de realizar as atividades às quais haviam sido designados passam a desenvolver na escola outra função. Em estudo realizado no Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (SEPE/RJ), verifica-se que o número de solicitações para readaptação entre 1993 e 1997 foi de 4019 casos, sendo que entre os profissionais, as merendeiras foram os trabalhadores que tiveram o maior número de solicitações atendidas. Essa investigação em relação à saúde das merendeiras por parte do SEPE/RJ e dos pesquisadores provocou uma série de publicações em relação ao tema e levou as instituições de organização da alimentação escolar a desenvolverem algumas orientações para a proteção da saúde do trabalhador. No presente estudo com as escolas municipais do Rio de Janeiro, as três questões abordavam o cansaço provocado pela rotina na escola, o número de funcionários para realização das tarefas e os problemas de saúde provocados pelo trabalho. Dentre os entrevistados, como descrito na tabela X, 27,4% consideravam a intensidade do trabalho alta, 44,2% consideravam-na moderada e 28,4%, baixa. Esse resultado nos mostra uma variação na opinião sobre a sobrecarga de trabalho, o que pode ser indicativo de modificação na organização e planejamento do trabalho, interferindo diretamente na intensidade do trabalho (Brito et al, 2001). A alimentação escolar no Rio de Janeiro adotou duas medidas que considero influenciar diretamente na intensidade do trabalho, foram 80 elas: a aquisição de equipamentos para produção da alimentação escolar e a realização de três concursos no período de cinco anos. A aquisição de equipamentos e o treinamento para a utilização vêm ocorrendo de forma lenta, no entanto, propicia algumas melhorias no serviço. Porém, alguns manipuladores relataram que a manutenção dos equipamentos é bastante irregular, fazendo com que os profissionais só possam utilizá-los por alguns períodos. A prática dos concursos possibilitou o aumento no número de funcionários na alimentação, substituindo os que haviam sido readaptados e reavaliando o número de funcionários necessários à escola. É importante frisar que, apesar do aumento de manipuladores de alimentos, o número deles é bastante reduzido, se o compararmos ao cálculo efetuado para definir mão de obra em alimentação coletiva. Essa situação ocorre também no caso do cálculo de equipamentos. Apesar da maioria dos profissionais entrevistados considerarem a intensidade de trabalho como alta e moderada, e relatarem dificuldades na rotina de trabalho, principalmente pelo número de funcionários e pelo tempo para o preparo dos alimentos, ao responderem sobre a frequência de afastamento por problemas de saúde, notamos que os resultados são antagônicos. Apenas 7,4% relataram que sempre ficam afastados, 8,1% disseram que isso é muito frequente com eles e 13,7% colocaram que o afastamento acontece às vezes, enquanto 26,3% disseram que raramente precisaram disso e 44,6% nunca ficaram licenciados. Embora este seja um dado relevante, não podemos afirmar que ao longo dos anos a atividade na escola tenha se tornado menos prejudicial à saúde. As causas para o não afastamento podem estar relacionadas a outras questões, como a dificuldade para conseguir uma avaliação médica que determine o afastamento. Durante a pesquisa, algumas profissionais relataram que muitas vezes desistem de se afastar, pois para conseguirem a liberação, o primeiro passo é ir ao médico, o que não está fácil de se conseguir na rede pública, e depois, precisam levar a documentação ao setor responsável na prefeitura. Na maioria das vezes, os profissionais negociam com a direção para que continuem trabalhando, reduzindo a carga de trabalho enquanto se recuperam. Esses resultados se assemelham aos encontrados por Brito et al (2001) que, ao tratar da readaptação, observou que, pela dificuldade de conseguir a homologação da readaptação pelos órgãos competentes, as merendeiras negociavam diretamente com os diretores e permaneciam em outra função na escola. Outros estudos apontam que o não afastamento é motivo de orgulho para os trabalhadores que associam adoecer ao fracasso de sua responsabilidade (Teo et al, 81 2010 e Nunes, 2000). Essa situação é encontrada principalmente na fala das merendeiras com maior tempo de serviço, as quais aparentam possuir orgulho por trabalharem há anos nesta função e raramente ou nunca terem se afastado do trabalho. Apesar das discussões e da conclusão da necessidade de se modificarem as condições de trabalho nas escolas, há ainda muito que fazer para que essa mudança ocorra efetivamente. A valorização da profissão dos manipuladores de alimentos no ambiente escolar pode ser observada através de quatro “olhares”. O olhar do manipulador de alimentos, o olhar dos alunos, o olhar dos diretores e professores e o olhar dos profissionais das instituições. Como objetivo do trabalho é analisar a percepção dos manipuladores, daremos ênfase ao olhar deste profissional, no entanto, sem excluir os outros. A primeira questão que compõe esse bloco faz uma comparação entre a profissão de manipulador de alimentos e a de cozinheiro de restaurante; a segunda discute sobre o profissional em relação a sua função na escola e a terceira aborda a importância do profissional para o funcionamento da escola. A maioria dos manipuladores de alimentos considera que a profissão tem um alto valor, conforme demonstram os resultados da tabela XIII. Essa valorização está aparentemente ligada principalmente às questões sobre a função do profissional e a importância deste para o funcionamento da escola. Ao responderem à questão que afirma não ser a merendeira uma simples cozinheira, os profissionais apresentaram duas justificativas. Na primeira, os manipuladores afirmaram ser também educadores, pois orientam os alunos, durante as refeições, quanto à alimentação e ao comportamento que devem apresentar no refeitório e em outros ambientes. Na segunda, quanto às tarefas desenvolvidas, relaram que, além de cozinheiros, são faxineiros, estoquistas, copeiros e, portanto, não devem ser considerados como simples cozinheiros. Apesar de se reconhecerem como educadores, essa denominação não é aceita por professores e diretores, assim como por profissionais das instituições. Ao longo do trabalho de campo, algumas falas chamaram atenção: uma entrevistada questionou como seria possível estudar processos educativos com merendeiras; outra questionou a pesquisa, dizendo haver apenas reclamações das condições do serviço; e a última resumiu que o trabalho da merendeira deveria ser restrito ao preparo da merenda. Apesar das leis e diretrizes apontarem a importância desse profissional como educador, as barreiras criadas pelos profissionais considerados da educação e saúde permanecem resistentes. A valorização da profissão está ligada também à importância atribuída ao consumo da alimentação no espaço escolar. Perguntamos às merendeiras se concordavam com a 82 afirmação “Considero muito importante a minha função para o funcionamento da escola”. Ao responderem afirmativamente, sempre havia o comentário de que, quando as merendeiras faltam e as preparações não podem ser totalmente elaboradas, os alunos são dispensados, mas se não tiver professor, os alunos podem ser encaminhados a outras atividades no espaço escolar. O funcionamento da escola está associado diretamente ao fornecimento da alimentação escolar. Apesar de demonstrarem considerar a profissão valorizada, nota-se que há mudança no padrão das repostas na questão que compara a valorização de merendeira com a de cozinheiro de restaurantes. Dos 285 manipuladores entrevistados, 77,2%(220) concordaram totalmente que, se fossem cozinheiro em restaurante, seriam mais valorizados. Com esse desenho da amostra, é possível perceber que os profissionais consideram sua profissão com alto valor, porém, ao refletirem sobre a remuneração, esta ideia se modifica um pouco. Os profissionais expuseram que os cozinheiros são mais valorizados, pois têm uma remuneração compatível com o trabalho e possuem a função bem definida no espaço da cozinha, além de não acumularem funções como os profissionais da escola. No entanto, 22,8%(65) colocaram que o trabalho na escola é muito valorizado pelos alunos e que, apesar da baixa remuneração, não concordam que os clientes do restaurante deem tal importância ao profissional da cozinha. A afetividade entre manipuladores de alimentos e os alunos é uma característica marcante nessa relação e pode ser considerada um fator influente na forma de trabalho dos profissionais. Para análise da relação afetiva, a primeira pergunta aborda a relação maternal entre merendeira e aluno; a segunda retrata o gostar do trabalho, do contato com as crianças; e a terceira, a preocupação com o aluno. Dentre os entrevistados, 94,0% (268) consideram a relação afetiva com os alunos alta. 6.2 - Ações para estimular a alimentação As ações para estimular a alimentação propostas nas diretrizes e nos órgãos de controle e que, consequentemente, servem como meio para educação alimentar e nutricional, podem ser classificadas de duas formas: as ações cotidianas (aumentar a quantidade e a variedade de legumes e verduras, oferecer uma alimentação variada, servir ao aluno todos os alimentos, mesmo que recusem, e incentivar o consumo), e as ações planejadas (atividades educacionais elaboradas com enfoque na educação alimentar e nutricional). Objetivando analisar a percepção dos manipuladores de alimentos sobre a 83 importância das ações cotidianas e planejadas, utilizamos novamente a frequência relativa ponderada para as cinco questões que apresentavam escala. Novamente, os valores foram convertidos como explicado anteriormente. Realizou-se então o somatório e foi definido: entre -5 e -0,5 como de pouca importância, entre 0 e 3 moderada importância, e entre 3,5 a 5 muita importância. Após análise, obtivemos o seguinte resultado: 49,8%(142) consideraram as ações muito importantes, 43,5% avaliaram-nas como tendo moderada importância e apenas 6,7%(19) julgaram as ações pouco relevantes. A distribuição no percentual observada pode ser explicada por alguns fatores apontados pelas merendeiras ao responderem às questões. Ao perguntarmos aos manipuladores se concordam que deveriam servir aos alunos todos os tipos de alimento, criando estes o hábito de comer, alguns profissionais levantaram a questão do desperdício. Colocaram que, como não há uma ação constante de estímulo aos alunos, tudo aquilo colocado no prato de que eles não gostam é diretamente descartado no lixo antes mesmo de se sentarem à mesa. Essa situação também foi observada pelo pesquisador no trabalho de campo. Diversas vezes os alunos pegavam a refeição e descartavam determinados alimentos, deixando apenas o arroz, o feijão e a proteína. Os manipuladores reafirmaram essa questão ao responderem em relação aos alunos que comem e repetem e os alunos com os quais é necessário ter paciência. Conforme relatado, em certos dias precisam dar incentivo aos alunos a todo o tempo para que o alimento não seja jogado no lixo, conversando com estes e estimulando-os a provar. É importante ressaltar que esse incentivo aos alunos não ocorre apenas em relação aos alimentos, mas também acontece quanto à forma de se comportar no refeitório e quanto a como fazer as refeições. Os profissionais mencionaram que alguns alunos chegam à escola sem saber utilizar o talher, além de falarem com o alimento na boca. Quando se intervem nessas ocasiões, nem sempre recebem a aprovação dos professores. Para os manipuladores, os estudantes têm muita dificuldade em reconhecer os alimentos e diferenciá-los, principalmente quando são legumes. No entanto, acrescentaram que, nas escolas localizadas em áreas mais pobres da cidade, a maioria dos alunos aceita qualquer tipo de alimento facilmente. O relato das merendeiras em relação à falta de ações contínuas que estimulem a alimentação saudável corrobora com informações de outras pesquisas. Em estudo recente, realizado por Santos (2012), a autora expôs que as ações no ambiente escolar não acompanham os projetos, apesar da elaboração de diversos projetos, como “Dez Passos para Alimentação Saudável na Escola”, “Projeto Criança Saudável Educação 84 Dez”, “Projeto Alimentação Saudável nas Escolas”, “Projeto Educando com a Horta Escolar”. Além dos projetos descritos acima, por Santos (2012) foi aprovada em 2009 a lei nº 11.947, de 16 de junho, que, além dispor sobre orientações para educação alimentar e nutricional nas escolas, determina a obrigatoriedade de 30% dos recursos do FNDE serem aplicados na compra de gêneros da agricultura familiar. Essa mudança provocará um aumento de frutas, legumes e verduras na alimentação escolar. Dentre as perguntas relacionadas às ações para estimular a alimentação, foi questionado aos profissionais se concordavam com essa medida, o que levantou algumas reflexões, visto que os manipuladores expuseram razões para concordar e discordar da lei. Alguns justificaram que a alimentação escolar no Rio de Janeiro tem um bom suprimento de frutas e legumes, no entanto, seria interessante uma maior variedade e a inserção de verduras. Outros profissionais questionaram que, apesar de ser importante, o aumento provocaria uma demanda maior no trabalho, sobrecarregando-as ainda mais, pois o número de profissionais e equipamentos disponíveis não seriam suficientes. Além da preocupação com o trabalho, essa questão levanta novamente o problema do desperdício. Os manipuladores reiteraram que inserir alimentos sem estímulo para o consumo aumentará o desperdício já existente. Percebe-se que, como o encontrado por Teo et al (2010), as merendeiras e APAS conhecem cada aluno - o que comem e o que rejeitam, o que é necessário fazer para que se alimentem, quais são suas maiores dificuldades - e ainda orientam sobre o comportamento ao se alimentar. Para os autores, essas ações das merendeiras contribuem de forma direta na formação dos hábitos alimentares e asseguram, mesmo que parcialmente, as suas necessidades nutricionais. É importante ressaltar, após análise dos resultados, que as concepções e percepções das merendeiras e APAS sobre os projetos e ações do programa de alimentação escolar são fundamentadas em um conhecimento abrangente dos alunos e do trabalho que desenvolvem. Ao abordarmos nas perguntas a importância da participação das merendeiras e APAS nas atividades planejadas com foco na educação alimentar e nutricional na escola, colocamos a questão de duas formas: na primeira, citamos o exemplo de uma merendeira que desenvolvia determinada atividade e depois perguntamos se elas concordavam; na segunda, colocamos a questão do tempo como central, perguntando se desenvolveriam várias atividades caso tivessem maior prazo. Entre uma questão e outra, o número de respondentes que concordaram totalmente difere apenas em 6,7%, sendo que, na questão do exemplo, 75,8%(216) responderam que concordam totalmente, enquanto na 85 segunda, 69,1%(197) estão de acordo. Essa diferença pode ter ocorrido devido à linguagem ser mais direta na segunda questão. Embora haja reconhecimento por parte dos manipuladores de alimentos de sua importância em participar das atividades, durante o estudo apenas uma merendeira relatou já ter desenvolvido esse tipo de trabalho, em um período em que trabalhou em creche. Para elas, o tempo, o excesso de trabalho e a visão dos profissionais que trabalham na escola são os principais empecilhos para que participem e desenvolvam projetos relacionados à educação alimentar e nutricional. Esse interesse na participação não foi encontrado em outros estudos. Os discursos deixam claro que atuar em outra atividade aumentaria sua carga de trabalho considerada alta (Teo et al, 2010). Para ampliarmos um pouco mais a discussão das percepções sobre as ações, perguntamos aos manipuladores de alimentos o que eles colocariam e o que retirariam da alimentação escolar. Como apareceu uma gama grande de alimentos, realizamos um agrupamento. Para a questão da inclusão (gráfico XII), formamos dois grupos: alimentos in natura e alimentos processados. Para a questão da exclusão, definimos três: peixe, vísceras, ovo e outras proteínas; guarnições ou acompanhamentos; legumes e frutas. Gráfico XII – Alimentos para inclusão no cardápio 27% 36% Nada Alimentos in natura Alimentos processados 37% 86 Gráfico XIII – Alimentos para serem retirados do cardápio 13% 19% Nada 4% Visceras, peixe Guarnições ou acompanhamentos Legumes e Frutas 64% A alimentação escolar antes de chegar aos alunos passa por cinco fases: a elaboração e distribuição do cardápio, responsabilidade do INAD; cálculo do per capta e encaminhamento de formulário com as requisições da CRE; responsabilidade dos encarregados da alimentação escolar6; envio do pedido aos fornecedores cadastrados que participaram das licitações; responsabilidade da CRE; recebimento dos produtos, pelo qual novamente o encarregado da alimentação escolar se responsabiliza, sendo realizado pelos manipuladores de alimentos em alguns momentos; pré-preparo e preparo das refeições de acordo com orientações do INAD, responsabilidade esta dos APAS e merendeiras (Marques et al, 2005). Embora os manipuladores de alimentos sejam responsabilizados apenas na última etapa e as perguntas sobre inclusão e exclusão do alimento serem consideradas simples, as respostas e os comentários adjacentes proporcionaram algumas reflexões. Conforme citado anteriormente, foi necessário agrupar os alimentos descritos nas duas questões para uma discussão mais concisa. No entanto, a primeira reflexão se dará em torno da diversidade de respostas, visto que foram citados cinquenta e três alimentos a serem incluídos e trinta a serem excluídos. O grande número de alimentos sugeridos nos faz considerar a complexidade da escolha alimentar. É necessário observar que existem determinantes biológicos, 6 Os encarregados da alimentação escolar geralmente são professores de formação básica ou de nível superior na área de licenciatura e são auxiliados por agentes administrativos da escola. 87 socioculturais, antropológicos, econômicos e psicológicos. Para a discussão, utilizaremos como base Furst et al (citado por Jomori et al, 2008), que desenvolveu um modelo ilustrativo do processo de escolha alimentar. Para este autor, existem três componentes determinantes na escolha: o curso de vida, que incluiria o papel pessoal e o ambiente sociocultural; as influências, baseadas no primeiro componente em que incluí os ideais, os individuais, os recursos disponíveis, a estrutura social e o contexto alimentar; e o sistema pessoal, que abrange valores e estratégias. Ao analisarmos primeiramente o que as merendeiras e APAS sugeriram servir na alimentação escolar, temos o seguinte cenário: as opiniões entre a inclusão de alimentos in natura (pera, berinjela, filé de merluza, brócolis, uva, aipim, espinafre, coxa de frango) e processados (salsicha, Danone, Todynho, manteiga, goiabada, chocolate, sorvete) têm valores próximos. Nota-se que, apesar de os manipuladores reconhecerem que os alimentos processados apresentam quantidade maior de açúcares e gorduras, tal conhecimento não foi predominantemente importante no momento das escolhas. Isso pode ser percebido na fala dos profissionais, ao solicitarem a inclusão de alimentos que são da preferência dos alunos e também das profissionais, apesar de não serem estes considerados saudáveis por eles. Observam-se então dois componentes presentes nas escolhas acima: as influências individuais e os ideais e valores. Referente ao primeiro, os manipuladores disseram que incluir macarrão com salsicha e carne moída já processada, por exemplo, facilitaria o trabalho, pois os recursos disponíveis para o desenvolvimento das refeições são considerados a todo o momento como empecilhos à utilização de certos alimentos, mesmo os considerados importantes. Ao responderem sobre o que excluiriam, utilizaram ambos os componentes, mas os valores predominaram e foram base para as estratégias. Entre eles, estão os valores atribuídos à saúde e à nutrição. Quando sugeriram a retirada de alimentos como peixe, cenoura, fígado, abóbora, repolho e beterraba, a primeira fala era o fato de estes serem saudáveis e, por isso, citaram uma substituição por alimentos que trouxessem o mesmo benefício. Quanto aos valores considerando as preferências, sugeriram a retirada do peixe cação e do fígado, pois relataram que os estudantes não os aceitam e tornaram a enfatizar as necessidades de práticas contínuas de educação alimentar e nutricional relacionadas à prevenção. A retirada do peixe cação apresenta outro valor, pois os manipuladores o consideram de baixa qualidade, relatando que alguns têm gosto amargo e perdem grande quantidade de água, ficando com aspecto esponjoso. A questão da qualidade também é bastante questionada na forma de preparar os alimentos. Os profissionais expuseram que, se fosse permitida uma nova elaboração das 88 preparações, seguindo ainda às orientações determinadas pelo INAD, a aceitação seria melhor. Como exemplo, citaram as preparações de arroz com beterraba que, por possuírem apresentação ruim, são rejeitadas por grande parte dos alunos. Ao percebermos as escolhas alimentares sendo baseadas em determinados componentes e a comida como um sistema de comunicação, um protocolo de usos, situações e condutas, concluímos ser necessária a consideração de que a educação alimentar e nutricional e os critérios para determinação dos alimentos e preparações a serem servidas devem ser ampliados para atender a complexidade que envolve a alimentação escolar. 6.3 - Uma abordagem ampla: correlações entre intensidade do trabalho, valorização da profissão, afetividade, ações para estimular alimentação Ao refletir sobre as possibilidades de as merendeiras e os agentes de preparo dos alimentos serem atuantes na educação em saúde nas escolas, observamos, como descrito nos capítulos anteriores, uma série de fatores que propiciam esta atuação e outros que a impedem. Nas seções 6.1 e 6.2, discutimos a intensidade de trabalho, a valorização da profissão, a afetividade e as ações para estimular a alimentação de forma isolada. Porém, a fim de analisar as relações entre estas e obtermos uma visão ainda mais ampla das possibilidades de os manipuladores atuarem principalmente na educação alimentar e nutricional, adotou-se como método estatístico a análise fatorial. Para o processamento da análise fatorial, foram excluídas as variáveis 1, 2, e 3, do bloco ações das merendeiras para estimular a alimentação correspondentes as questões 24, 25 e 26 do questionário; e a variável 1, do bloco relação afetiva correspondente a questão 34 do questionário. As variáveis foram excluídas por que apresentaram cargas fatoriais muito baixas (inferiores a 0,20) distribuídas em vários fatores . As variáveis da valorização da profissão foram analisadas separadamente. O desenvolvimento desta etapa da pesquisa contou com o suporte do Prof. Adilson Silva, matemático e bolsista de pós-doutorado do Observatório da Educação CAPES/INEP – Núcleo Local NUTES/UFRJ. Para o cálculo, foi utilizado o método principal Axis Factoring, com rotação Oblimin, uma rotação oblíqua, a qual possibilita informações sobre o grau a que os fatores estão correlacionados (Hair et al, 2009). O estudo resultou em três fatores, com os quais foram gerados os escores denominados por: Ações da merendeira; Intensidade de trabalho; e Afetividade Levando-se em consideração a base conceitual das variáveis que refletissem os fatores previstos hipoteticamente, no primeiro fator ficaram carregadas as assertivas 5 e 4 89 de ações da merendeira; no segundo, as três de intensidade de trabalho; e no terceiro, duas assertivas de afetividade (2 e 3), conforme se observa na Tabela XI. Tabela XI – Análise Fatorial Pattern Matrixa Factor 1 2 AÇ5-Se eu tivesse tempo fária várias atividades com as crianças ,701 AÇ4-Fiz essa cantiga e acho muito importante desenvolvermos alguma atividade com os alunos ,666 3 INT2-Aqui tem que ter mãos de centopeia ,645 INT1-Na maioria das vezes chego em casa tão cansado ,255 INT3-Já fiquei afastada do trabalho ,243 AFE2-É através das minhas mãos que as crianças se alimentam, é uma atividade que gosto de fazer ,483 AFE3-Tem alunos que fazem dessa refeição a principal do dia, por isso gosto de cozinhar. ,309 Extraction Method: Principal Axis Factoring. Rotation Method: Oblimin with Kaiser Normalization. a. Rotation converged in 7 iterations. A seguir, foram gerados, pelo mesmo processo, os escores de valorização da profissão pela merendeira com as assertivas correspondentes (Tabela XII). Os dados indicam três grupos de respondentes (Tabela XIII). O primeiro são aqueles que valorizam a função de merendeira (234 casos); o segundo são aqueles que não a valorizam (5 casos, os quais deformam a distribuição normal dos dados); e o terceiro grupo é formado por aqueles que estão entre os dos grupos citados (46 casos). Tabela XII – Escores valorização da profissão Final Cluster Centers Cluster 1 Valorização 123 ,23416 2 -3,45927 3 -,81513 90 Tabela XIII – Grupos respondentes valorização da profissão Number of Cases in each Cluster Cluster 1 234,000 2 5,000 3 46,000 Valid 285,000 Missing ,000 Com os escores produzidos, foi processada a Correlação de Spearman representada abaixo, pois estes não apresentam normalidade (Tabela XIV) Tabela XIV – Correlação de Spearman Correlations Ações Merendeira Spearman's rho Ações Merendeira Correlation Coefficient Sig. (2-tailed) Intensidade Trabalho Afetividade Valorização 123 1,000 Intensidade Trabalho Afetividade ,497** -,094 Valorização 123 ,186** . ,000 ,113 N 285 285 285 285 Correlation Coefficient ,497** -,163** ,096 Sig. (2-tailed) ,000 . ,006 N 285 285 285 285 -,094 -,163** 1,000 -,021 ,722 Correlation Coefficient 1,000 ,002 ,106 Sig. (2-tailed) ,113 ,006 . N 285 285 285 285 Correlation Coefficient ,186** ,096 -,021 1,000 Sig. (2-tailed) ,002 ,106 ,722 . N 285 285 285 285 **. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). Aos discutirmos anteriormente a percepção das merendeiras sobre a intensidade do trabalho, concluímos que os profissionais, em sua maioria, consideram as atividades realizadas como um trabalho pesado, com carga horária extensa, mas insuficiente para o cumprimento de todas as tarefas. Para os manipuladores de alimentos, essa sobrecarga de trabalho é um fato relevante para o não desenvolvimento de ações que extrapolem a produção de refeições. Realizando a análise fatorial, observou-se que há correlações significativas entre ações das merendeiras e intensidade do trabalho (0,497). Esses resultados não corroboram com o encontrado por Teo et al (2010), que afirma haver discordância entre as merendeiras quanto à percepção da importância do seu papel além da preparação da merenda no cenário escolar. Foram raros os momentos em que os 91 profissionais citaram não concordar com a participação nas atividades por não considerarem esta importante ou por serem inaptos a desenvolver essa função. Ainda no estudo desenvolvido por Teo et al, embora uma parte das merendeiras reduzissem seu papel e isso fosse reforçado pela concepção de outros atores do espaço escolar, havia outras que demonstravam percepções ampliadas sobre o próprio trabalho. A percepção sobre a profissão não se reduzir apenas ao espaço cozinha-refeitório é evidenciado nas assertivas sobre valorização. Como citamos anteriormente, ao responderem sobre valorização, a palavra educadora foi bastante utilizada para justificar que elas não se consideram simples cozinheiras. Verifica-se uma correlação significativa entre ações da merendeira com a valorização, no entanto, de nível baixo. Embora a valorização da profissão proporcione que as merendeiras se auto denominem educadoras e abram espaço para novas funções, ainda é possível perceber, em discursos de alguns profissionais, que o valor não está colocado fora da cozinha. Elas não atribuem a si funções além das operacionais que contribuem para o processo de desenvolvimento do aluno. Ao se colocarem como educadoras, associam a relação maternal que possuem com os alunos (Teo et al, 2010). Entre as análises, observa-se ainda uma correlação significativa de nível baixo entre a intensidade de trabalho e a afetividade (-0,163). Apesar de considerarem o trabalho de alta intensidade e não concordarem com a remuneração oferecida, a relação afetiva com os alunos permitiu que os manipuladores relatassem gostar de realizar as atividades, devido ao agradecimento dos alunos e à possibilidade de oferecer alimento a estudantes que não têm comida em casa reduzirem o impacto negativo da profissão. Essa preocupação e carinho com os alunos, apesar do trabalho intenso, propiciam a observação dos alunos no todo. As merendeiras e APAS conhecem cada aluno, os problemas que apresentam, suas características, como se comportam, o que comem e o que rejeitam, sabem o que é importante fazer para que se alimentem. 92 Considerações finais Buscamos no estudo observar a “merendeira” desde o surgimento da profissão até os dias atuais, com foco no município do Rio de Janeiro, abordando perfil socioeconômico e profissional, forma de contratação, estrutura do serviço, capacitações e aperfeiçoamentos, relações e participações nas atividades nas Unidades Escolares e a possível inserção deste profissional como um educador, principalmente no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Deste modo, notamos que o início da profissão ocorreu a partir da necessidade urgente de servir alimento aos alunos, suprindo suas carências a fim de que estes pudessem absorver o conteúdo escolar sem o prejuízo causado pela falta de nutrição. Entretanto, como a alimentação escolar era uma atividade nova no ambiente escolar e não foi consolidada de imediato pelos governos, o trabalho era realizado por voluntários. Apesar da alimentação escolar ser instituída no Rio de Janeiro em 1947, até então capital federal, e em 1953 ser propagada nacionalmente, apenas em 1956, com o nome de servente, o profissional surgiu no cenário da alimentação. Esta denominação foi modificada em 1957 para merendeira, o que, para alguns, foi consequência da composição do cardápio, que era composto por preparações simples. Entretanto, precisase ressaltar que, no Rio de Janeiro, desde 1948, a alimentação era composta por farinha de trigo, arroz, legumes, sagu, tapioca e frutas. O cardápio nacional, com o passar dos anos, se modificou aos poucos, influenciado principalmente pela política vigente e pelas parcerias com outros órgãos. Ao serem inseridas preparações mais elaboradas, a preocupação com o trabalho da merendeira tornou-se presente – primeiramente, nos treinamentos desenvolvidos pelo INAD e, depois, nas publicações do MEC. Apesar disso, a profissão foi regulamentada no Rio de Janeiro em 1982 e apenas em 1997 foi realizado o primeiro concurso. Até esse momento, a forma de contratação era por indicação. A forma de contratação e o reconhecimento tardio da profissão provocaram sua desvalorização, sendo assim definida como uma atividade semidoméstica. Além deste fato, concluiu-se com as pesquisas que os profissionais recebem baixos salários, apresentam baixa escolaridade e, em sua maioria, são mulheres. Essas características, por uma série de conceitos e valores, provocaram a invisibilidade das merendeiras no ambiente escolar, reduzindo sua função ao ato de cozinhar. O perfil socioeconômico e profissional dos manipuladores de alimentos se modificou ao longo dos anos no município do Rio de Janeiro. O nível de escolaridade apresenta um aumento significativo e a classe econômica não se concentra 93 predominantemente nos estrados mais baixos. São raros os profissionais não concursados e, além disso, surgiu no cenário o agente de preparo dos alimentos. Apesar das mudanças, a pedagogia tradicional e o conteúdo dando ênfase ao biológico, principalmente em relação às questões higiênico sanitárias, permanecem predominantes nas capacitações e treinamentos, sendo as práticas educativas com outra abordagem raras e pontuais. Ao observarmos a participação dos manipuladores de alimentos nas atividades, sejam em reuniões ou em outra atividade nas Unidades Escolares, notamos que a participação aumentou, porém, apenas em ações cujo foco seja no trabalho operacional desenvolvido. Como expõe Chassot (2006) se faz necessário , buscar meios que permitam a valorização do saber popular, tanto nas capacitações e treinamentos quanto nas reuniões. No ambiente escolar, a inserção do saber da merendeira - o saber popular - e a invisibilidade da função ainda presente constituem uma barreira à consolidação de um profissional que busca conhecimento, seja na internet, nas cartilhas fornecidas pelo INAD ou na participação em atividades externas à escola. Essa oposição pode ser explicada pelo predomínio do saber científico, pelos conflitos existentes no ambiente escolar e pela estrutura do serviço, que continua sendo desgastante e prejudicial à saúde do profissional, além restringi-lo ao ambiente da cozinha devido à carga horária. Entretanto, há um profissional com maior escolaridade que reconhece o valor da sua profissão e mantém uma relação afetiva com os alunos. Tanto a valorização quanto a afetividade aparentemente contribuem para que esse profissional se reconheça como um educador. Portanto, a fim de que a merendeira ou o agente de preparo dos alimentos sejam reconhecidos como importantes atores da educação em saúde e da educação alimentar e nutricional nas escolas, necessita-se de outras transformações, apesar das que ocorreram ao longo dos anos. Salientada a potencial e importante função que as merendeiras podem exercer no fortalecimento e ampliação do papel educativo da alimentação escolar que é preciso haver mudanças nas instituições, entre os profissionais do ambiente escolar e entre os profissionais responsáveis pelo Programa de Nacional de Alimentação Escolar. 94 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABEP - Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Critério de Classificação Econômica Brasil. 2012. ABREU, M. Alimentação Escolar: combate à desnutrição e ao Fracasso escolar ou direito da criança e ato pedagógico? Em Aberto. n. 67, ano 15, p. 21-32. Brasília, 1995. ANDRADE, M. do C. Ulysses Pernambucano. Pesquisa Escolar On-Line, Fundação Joaquim Nabuco. 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Quanto tempo demora para se deslocar de casa até o trabalho? ___________________ 15 minutos 1 30 minutos 2 1 hora 3 mais de 1 hora 4 mais de 2 horas 5 INFORMAÇÕES DA FAMILIA 9. Quem é o chefe de sua família? (a pessoa que mais contribui com a renda) Você mesmo 1 Cônjuge 2 Pai 3 Mãe 4 Outra pessoa 5 10. Quantas pessoas residem em sua casa, incluindo você? Preto 5 100 ___________ 1 2 3 4 mais de 4 11. Quantos (de cada item) existem na sua casa? 1 2 3 4 5 Aparelho de vídeo cassete ou DVD N 1 2 3 Banheiro N 1 2 3 Automóvel N 1 2 3 Empregada mensalista N 1 2 3 Freezer N 1 2 3 Geladeira N 1 2 3 Máquina de lavar roupa N 1 2 3 Rádio N 1 2 3 TV em cores N 1 2 3 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais INFORMAÇÕES PROFISSIONAIS 12. Qual função desempenha na escola? Prepara a merenda, limpar refeitório e cozinha 1 Copeira da direção 2 Limpa e organiza setores da escola 3 Outra atividade 4 13. Trabalhou ou trabalha com preparação de merenda escolar há quantos anos?_____________ anos 14. É concursada? S N 15. Qual foi o concurso? Prefeitura Comlurb Nenhum 16. Quando iniciou o trabalho, sabia preparar refeições? 1 2 3 S N 17. Com quem aprendeu a cozinhar? Sozinho Com a mãe Fazendo curso Com outra pessoa 1 2 3 4 INFORMAÇÕES SOBRE O TRABALHO NA ESCOLA Intensidade de trabalho 18. (…) ontem eu cheguei tão cansada, que entrei em casa, tomei banho, vesti minha camisola e caí na 101 cama, 6 horas da noite. Sempre Muito frequente Ás vezes Raramente Nunca 19. Aqui tem que ter mãos de centopeia, senão não dá conta. Sempre Muito frequente Ás vezes Raramente Nunca 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 20. (…) Já fiquei afastada, por problemas de saúde, devido ao nervosismo e cansaço do trabalho. Sempre 1 Muito frequente 2 Ás vezes 3 Raramente 4 Nunca 5 Ações da merendeira para estimular alimentação 21. Eu acho que deviam servir todos os tipos de alimento, porque assim as crianças vão acostumar a comer. Tem criança que não reconhece os alimentos e por isso não comem. Concordo totalmente 1 Tendo a concordar 2 Nem concordo / nem discordo 3 Tendo a discordar 4 Discordo totalmente 5 22. Tem alunos que comem e repetem, agora tem criança...que não come nada. Tem que ter paciência. Concordo totalmente 1 Tendo a concordar 2 Nem concordo / nem discordo 3 Tendo a discordar 4 Discordo totalmente 5 23. Cantiga feita por merendeira Comer feijão todinho Tô dentro Comer todo o arroz Tô dentro Comer toda a verdura Tô fora Que to fora crianças? Têm que dizer to dentro, [pois] quero ver todo mundo forte! Fiz essa cantiga e acho muito importante desenvolvermos alguma atividade com os alunos. Concordo totalmente 1 Tendo a concordar 2 Nem concordo / nem discordo 3 Tendo a discordar 4 Discordo totalmente 5 24. Se eu tivesse tempo faria várias atividades com as crianças. Concordo totalmente Tendo a concordar 1 2 102 Nem concordo / nem discordo Tendo a discordar Discordo totalmente 3 4 5 Valorização da profissão 25. Aqui não dá para seguir o regulamento do colégio a ferro e fogo, porque os alunos são meio barra pesada. Concordo totalmente 1 Tendo a concordar 2 Nem concordo / nem discordo 3 Tendo a discordar 4 Discordo totalmente 5 26. Se eu fosse cozinheira em restaurante seria mais valorizada. Concordo totalmente 1 Tendo a concordar 2 Nem concordo / nem discordo 3 Tendo a discordar 4 Discordo totalmente 5 27. Merendeira não é uma simples cozinheira, somos muito mais que isso. Concordo totalmente 1 Tendo a concordar 2 Nem concordo / nem discordo 3 Tendo a discordar 4 Discordo totalmente 5 Relação afetiva merendeira x aluno 28. Eu também me sinto um pouquinho mãe de cada um deles aqui. Concordo totalmente 1 Tendo a concordar 2 Nem concordo / nem discordo 3 Tendo a discordar 4 Discordo totalmente 5 29. É através das minhas mãos que as crianças se alimentam, é uma atividade que gosto de fazer, gosto de cozinhar, de estar em contato e alimentar as crianças. Concordo totalmente 1 Tendo a concordar 2 Nem concordo / nem discordo 3 Tendo a discordar 4 Discordo totalmente 5 30. Têm alunos que fazem dessa refeição a principal do dia. Concordo totalmente 1 Tendo a concordar 2 Nem concordo / nem discordo 3 Tendo a discordar 4 Discordo totalmente 5 Acidente de trabalho 31. Entrei de licença porque me machuquei, até fiquei com marcas pelo corpo. Sempre 1 Muito frequente 2 103 Ás vezes 3 Raramente 4 Nunca 5 32. Aqui na cozinha improvisamos o tempo todo. Usamos panos para pegar panelas quentes. Sempre 1 Muito frequente 2 Ás vezes 3 Raramente 4 Nunca 5 33. Quando nos acidentamos nessa escola, realizamos a notificação de acidente de trabalho. Já fez alguma notificação? Sempre 1 Muito frequente 2 Ás vezes 3 Raramente 4 Nunca 5 Ações de qualificação 34. Quantas vezes participou dos cursos listados abaixo? Higiene do alimentos N 1 2 3 Culinária N 1 2 3 Alimentação saudável N 1 2 3 Saúde do trabalhador N 1 2 3 Segurança do trabalho N 1 2 3 35. Além dos cursos sobre os temas anteriores, você já participou de alguma atividade com outras temáticas? Sempre 1 Muito frequente 2 Ás vezes 3 Raramente 4 Nunca 5 36. Das equipes que fazem reunião na escola, já participou de quantas das listadas abaixo? Reunião de equipe de escola N 1 2 3 Reunião com os pais de alunos N 1 2 3 Reunião com a diretora N 1 2 3 Reunião com a coordenadora pedagógica N 1 2 3 Reunião com a responsável técnica (nutricionista) N 1 2 3 37. Participa do Conselho Escola Comunidade (CEC)? S N 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 4 ou mais 104 38. Tem acesso as cartilhas de alimentação escolar? S N 105 ANEXO II – Questionário Versão Final Questionário para pesquisa – Merendeiras em foco: Perfil dos Manipuladores de Alimentos que trabalham nas escolas municipais do Rio de Janeiro. N°_____ 1. Ano de nascimento 2. Sexo 1 2 Feminino 1 2 3 4 5 Branco 1 2 3 4 Vive com companheiro ou casado 1 2 3 4 5 6 7 8 Não freqüentou 1 2 Sim 1 2 Sim 1 2 Aluguel Masculino 3. Cor Pardo Amarelo Indígena Preto 4. Situação conjugal Solteiro Viúvo Divorciado 5. Qual foi a última série que cursou? ________________ Até a quarta série Fundamental incompleto Fundamental completo Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Superior completo 6. Você tem outra atividade remunerada? Não 7. Considera essa atividade mais importante do que a de merendeira? Não 8. Qual sua situação de moradia? Casa própria 106 3 4 Mora com parente 1 2 3 4 5 6 15 minutos 1 2 3 4 Carro Residente na escola 9. Quanto tempo demora para se deslocar de casa até o trabalho? 30 minutos 1 hora Mais de 1 hora Mais de 2 horas Menos de 15 minutos 10. Qual tipo de transporte? Ônibus A pé Outro INFORMAÇÕES DA FAMILIA 11. Quem é o chefe de sua família? (a pessoa que mais contribui com a renda) 1 2 3 4 5 Você mesmo 1 2 3 4 5 6 7 8 Não freqüentou 1 2 3 4 5 1 Cônjuge Pai Mãe Outra pessoa 12. Qual a ultima série que o chefe de família cursou?___________ Até a quarta série Fundamental incompleto Fundamental completo Médio incompleto Médio completo Superior incompleto Superior completo 13. Quantas pessoas residem em sua casa, incluindo você? ___________ 2 3 4 Mais de 4 107 14. Quantos (de cada item) existem em sua casa? N N N N N N N N N 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 3 3 3 3 DVD 4 OU MAIS 4 OU MAIS 4 OU MAIS 4 OU MAIS 4 OU MAIS 4 OU MAIS 4 OU MAIS 4 OU MAIS 4 OU MAIS Banheiro Automóvel Empregada Mensalista Freezer Geladeira Máquina de lavar roupa Rádio TV INFORMAÇÕES PROFISSIONAIS 15. Das funções a baixo qual desempenha na escola? Sim 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 Não Prepara a merenda Limpa a cozinha Copeira da direção Limpa e organiza setores da escola Outra atividade 16. Trabalhou ou trabalha com preparação de merenda escolar há quantos anos?_____________ anos 17. É concursada? 1 2 Sim 1 2 Prefeitura 1 2 Sim 1 2 3 4 Sozinho Não 18. Qual foi o concurso? Comlurb 19. Quando iniciou o trabalho, sabia preparar refeições? Não 20. Com quem aprendeu a cozinhar? Com a mãe Fazendo curso Com outra pessoa 108 INFORMAÇÕES SOBRE O TRABALHO NA ESCOLA Intensidade do trabalho 21. Na maioria das vezes chego em casa tão cansado, que entro em casa, tomo banho,e caio na cama, no início da noite. 1 2 3 4 5 Sempre Muito frequente As vezes Raramente Nunca 22. Aqui tem que ter mãos de centopéia, senão não dá conta. 1 Sempre 2 Muito frequente 3 As vezes 4 Raramente 5 Nunca 23. (…) Já fiquei afastada do trabalho, por problemas de saúde, devido ao nervosismo, cansaço ou outra dificuldade relacionada a atividade de merendeira . 1 Sempre 2 Muito frequente 3 As vezes 4 Raramente 5 Nunca Ações da merendeira para estimular alimentação 24. Eu acho que deviam servir todos os tipos de alimento, porque assim as crianças vão acostumar a comer. 1 Concordo totalmente 2 Tendo a concordar 3 Nem concordo / Nem discordo 4 Tendo a discordar 5 Discordo Totalmente 25. Tem alunos que comem e repetem, agora tem criança...que não come nada. Tem que ter paciência. 1 Concordo totalmente 2 Tendo a concordar 3 Nem concordo / Nem discordo 4 Tendo a discordar 5 Discordo Totalmente 26. Uma lei aprovada em 2009 prevê o aumento de frutas, legumes e verduras na alimentação escolar. Você concorda com essa medida? 1 Concordo totalmente 2 Tendo a concordar 3 Nem concordo / Nem discordo 4 Tendo a discordar 5 Discordo Totalmente 109 27. Qual alimento você incluiria na alimentação escolar? R: 28. Qual alimento você retiraria da alimentação escolar? R: 29. Cantiga feita por merendeira Comer feijão todinho Tô dentro Comer todo o arroz Tô dentro Comer toda a verdura Tô fora Que to fora crianças? Têm que dizer to dentro, [pois] quero ver todo mundo forte! Fiz essa cantiga e acho muito importante desenvolvermos alguma atividade com os alunos. 1 Concordo totalmente 2 Tendo a concordar 3 Nem concordo / Nem discordo 4 Tendo a discordar 5 Discordo Totalmente 30. Se eu tivesse tempo faria várias atividades com as crianças. 1 Concordo totalmente 2 Tendo a concordar 3 Nem concordo / Nem discordo 4 Tendo a discordar 5 Discordo Totalmente Valorização da profissão 31. Se eu fosse cozinheira em restaurante seria mais valorizada. 1 2 3 4 5 Concordo totalmente Tendo a concordar Nem concordo / Nem discordo Tendo a discordar Discordo Totalmente 32. Merendeira não é uma simples cozinheira, somos muito mais que isso. 1 Concordo totalmente 2 Tendo a concordar 3 Nem concordo / Nem discordo 4 Tendo a discordar 5 Discordo Totalmente 33. Considero muito importante a minha função para o bom funcionamento da escola 1 Concordo totalmente 2 Tendo a concordar 3 Nem concordo / Nem discordo 4 Tendo a discordar 5 Discordo Totalmente Relação afetiva merendeira x aluno 34. Eu também me sinto um pouquinho mãe de cada um deles aqui. 110 1 2 3 4 5 Concordo totalmente Tendo a concordar Nem concordo / Nem discordo Tendo a discordar Discordo Totalmente 35. É através das minhas mãos que as crianças se alimentam, é uma atividade que gosto de fazer, gosto de cozinhar, de estar em contato e alimentar as crianças. 1 Concordo totalmente 2 Tendo a concordar 3 Nem concordo / Nem discordo 4 Tendo a discordar 5 Discordo Totalmente 36. Têm alunos que fazem dessa refeição a principal do dia, por isso gosto de cozinhar. 1 Concordo totalmente 2 Tendo a concordar 3 Nem concordo / Nem discordo 4 Tendo a discordar 5 Discordo totalmente Ações de qualificação 37. Participação em curso Sim 1 1 1 1 1 1 Não 2 Higiene dos alimentos 2 2 2 2 2 Culinária Alimentação Saudável Saúde do trabalhador Segurança do trabalho Outro. Qual temática?________________ 38. Quando foi o último curso que participou? Mês Ano Qual tema? ______________________ 39. Considera os cursos oferecidos? 1 2 3 4 5 Ótimo Bom Regular Ruim Não tem opinião 111 40. Participação em reuniões Sim 1 1 1 1 2 2 2 2 1 1 2 2 Não Reunião de equipe de escola Reunião com os pais de alunos Reunião com a diretora Reunião com a coordenadora pedagógica Reunião com o nutricionista Outra. Qual?________________ 41. Participa do conselho comunidade escola (CEC) 1 2 Sim 1 2 Sim 1 2 Sim 1 2 3 4 Em casa 1 2 3 Diariamente Não 42. Tem acesso as cartilhas sobre alimentação escolar Não 43. Utiliza a internet? Não 44. Onde utiliza? No serviço Em ambos Em outro local 45. Com que frequência utiliza? Semanalmente Eventualmente 46. Qual finalidade da utilização? (assinale todas as que se aplicam) Sim 1 1 1 1 1 1 Não 2 2 2 2 2 2 Verificar e-mail Informação (noticias) Diversão Informação (especifica/profissional) Compras / Escolha de produtos Comunicação (chat, voz, vídeo conferencia) ASSOCIATIVISMO Sim 47. 48. 49. 50. 51. 52. Faz doações ou participa como voluntário de uma obra assistencial? Pertence a associações profissionais ou sindicatos? Contacta jornais, rádios, televisões ou serviços? (dar opinião, reclamações, denuncia) Pertence a associações cívicas ou associações de moradores? (ambiente, consumo, patrimônio, etc.) Já participou de greve? Participou de manifestações públicas ou abaixo assinados? 1 1 1 1 1 1 Não 2 2 2 2 2 2 112 53. 54. 55. 56. 57. Participa de Conselho Tutelar ou outro Conselho de Direito (idoso, saúde, juventude, CAE) ? Vota em eleições? Dirigiu-se a algum político para solicitar, reclamar ou informar algo? Pertence a um partido político? Participa de alguma associação religiosa? Qual?_________________ 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 113 ANEXO III - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA A SAÚDE Projeto de Pesquisa: “Merendeiras em foco: perfil das merendeiras que trabalham nas escolas Municipais do Rio de Janeiro”. “Termo de Consentimento Livre Esclarecido” (Em atendimento à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde / Ministério da Saúde) Características do estudo: Trata-se de uma pesquisa quantitativa com objetivo de analisar os processos educativos que ocorrem no contexto da merenda escolar a partir das percepções das merendeiras. Levantamento dos dados: Para a obtenção dos dados serão aplicados, pela pesquisadora responsável, um questionário com as merendeiras. Riscos: A participação no estudo não implica em nenhum risco para os participantes. Benefícios: Espera-se que a pesquisa possa contribuir para identificar possibilidades e limites na atuação dos profissionais na promoção de saúde dos alunos. Privacidade: Qualquer informação obtida nesta investigação será confidencial. Os dados individuais obtidos nesta pesquisa serão divulgados de forma sigilosa e anônima. Entretanto, as informações científicas resultantes poderão ser apresentadas e publicadas em revistas científicas, sem a identificação dos participantes. A participação neste estudo será totalmente voluntária e a qualquer momento o indivíduo poderá desistir de participar por qualquer motivo. A responsável pela pesquisa poderá ser contatada para maiores esclarecimentos sobre o estudo, e informações decorrentes dele, no telefone 9108-4880, e-mail: [email protected] (Ana Gabriela de Souza Fernandes). Contato do Orientador Alexandre Brasil Fonseca: Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES) – UFRJ; Ilha do Fundão – Centro de Ciências e Saúde (CCS) – Bloco A, sala 28 / Rio de Janeiro/RJ. E-mail: [email protected]. Caso você tenha dificuldade em entrar em contato com o pesquisador responsável e o orientador, comunique o fato ao Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de SaúdeRio, tel. 3971-1590, e-mail: [email protected]. Declaração de Consentimento Li e entendi o documento de consentimento e o objetivo do estudo, bem como seus possíveis benefícios e riscos. Tive oportunidade de perguntar sobre o estudo e todas as minhas dúvidas foram esclarecidas. Entendo que estou livre para decidir não participar desta pesquisa. Receberei uma cópia assinada e datada deste documento. Rio de Janeiro, .......de .............................de 2011. ___________________________________ Nome do Participante ___________________________________ Assinatura do participante __________________________________ Ana Gabriela de Souza Fernandes Pesquisadora Responsável 114 ANEXO IV - Classificação econômica Critério Brasil O Critério de Classificação Econômica Brasil tem a função de estimar o poder de compra das pessoas e famílias urbanas, abandonando a pretensão de classificar a população em termos de “classes sociais”. A divisão de mercado definida abaixo é de classes econômicas. QUANTIDADE DE ITENS 0 1 2 3 4 OU + 1 2 3 4 0 Televisão em cores Rádio Banheiro Automóvel Empregada mensalista Máquina de lavar Videocassete e/ ou dvd Geladeira Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex) 0 0 0 0 0 0 0 0 1 2 3 4 4 5 6 7 4 7 9 9 3 4 4 4 2 2 2 2 2 2 2 2 4 4 4 4 0 2 2 2 Analfabeto/ Até 3ª série Fundamental/ Até 3ª série 1º. Grau Até 4ª série Fundamental / Até 4ª série 1º. Grau Fundamental completo/ 1º. Grau completo Médio completo/ 2º. Grau completo Superior completo CLASSE A1 A2 B1 B2 C1 C2 D E Classe Gde FORT A1 0,4% A2 3,5% B1 5,7% B2 13,8% C1 18,6% C2 28,3% D 25,9% E 3,8% *ABEP, 2012 Gde REC 0,5% 1,8% 5,4% 11,9% 21,1% 30,1% 26,9% 2,3% PONTOS 0 1 2 4 8 PONTOS 42 – 46 35 – 41 29 – 34 23 – 28 18 – 22 14 – 17 8 – 13 0-7 Gde SALV 0,3% 3,1% 6,2% 11,7% 19,7% 32,1% 25,5% 1,4% Gde BH 0,3% 3,2% 9,8% 16,8% 26,3% 26,0% 17,3% 0,3% Gde RJ 0,5% 2,6% 9,5% 21,1% 29,0% 23,9% 13,2% 0,2% RENDA FAMILIAR MÉDIA (R$) 12.926 8.418 4.418 2.565 1.541 1.024 714 477 Gde SP 0,4% 4,3% 10,6% 24,1% 27,9% 20,3% 11,8% 0,6% Gde CUR 1,4% 4,2% 13,1% 27,6% 25,1% 17,2% 10,9% 0,5% Gde POA 0,6% 2,8% 10,4% 25,3% 31,3% 18,4% 10,5% 0,7% DF 0,9% 6,6% 15,2% 23,7% 21,8% 19,5% 11,9% 0,4% Total 9RMs 0,5% 3,6% 9,6% 20,8% 26,3% 23,2% 15,2% 0,8%