O BIBLIOTECÁRIO E AS PRÁTICAS DE PESQUISA ORIENTADA Simone Mara de Jesus - [email protected] SENAI/MG - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Minas Gerais Este trabalho trata de práticas de pesquisa orientada, embasadas nas teorias de competência e letramento informacional. A principal discussão gira em torno das seguintes questões: o processo da pesquisa escolar, enquanto estratégia adotada pelos professores é devidamente compreendido pelos alunos? Está sendo efetivamente utilizado como ferramenta no processo de aprendizagem? É trabalhado levando-se em consideração os detalhes de cada etapa? Qual a importância da parceria entre professores e bibliotecários? Como o bibliotecário pode contribuir na orientação à pesquisa? Em sua tese, Campello (2009) aponta que, no Brasil, práticas de pesquisa orientadas desenvolvidas por bibliotecários, são modestas e incipientes. Várias pesquisas já foram realizadas, como a de Neves (2000), que mostra a deficiência da atuação efetiva da biblioteca na pesquisa escolar do ensino fundamental, de escolas públicas de Porto Alegre, RS. Também Moura e Fialho (2005), abordam o mesmo problema, nas escolas estaduais de Belo Horizonte, MG. Então, o objetivo principal deste trabalho é identificar o papel educativo do bibliotecário e o seu impacto na aprendizagem. Criou-se um programa de pesquisa orientada para os alunos formandos dos cursos técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de Minas Gerais (SENAI/MG), unidade de Pedro Leopoldo, valorizando assim a aprendizagem na construção de cada parte do processo de pesquisa. Neste contexto, buscou-se compreender os efeitos da interação entre aluno, bibliotecário e professor. Competência e letramento informacional Competência informacional e letramento informacional são conceitos que abordam o ensino das habilidades informacionais no processo de aprendizagem escolar. Campello (2009) define estas habilidades como: saber localizar, interpretar, analisar, sintetizar, avaliar e comunicar informação. Nas escolas discute-se o conceito de letramento informacional, uma prática educativa que objetiva o desenvolvimento de tais habilidades. “Aumenta a necessidade de preparar os estudantes para lidar com o aparato informacional (...) de forma que se tornem aprendizes autônomos e críticos” (CAMPELLO, 2009). E esta preparação deve acontecer de forma sólida, com a inserção de programas de letramento informacional na proposta curricular das escolas. Para isto, o bibliotecário precisa deter conhecimentos e se aliar aos professores, demonstrando a importância da parceria entre ambos. Pesquisa orientada Os estudos de Kuhlthau (2010) enfatizam que toda pesquisa escolar necessita do uso de variadas fontes de informação e o aluno precisa usar suas habilidades informacionais. Os estudantes aprendem a ler e a escrever e então começam a necessitar de informações para realizarem seus trabalhos escolares. Com a ajuda dos professores precisam ser capazes de aprender, questionar, aplicar e transformar a teoria em conhecimento para a própria vida. Esta ideia é discutida nos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Básica (2003), que seguem os ideais construtivistas. A pesquisa orientada é uma prática de letramento informacional característica da aprendizagem construtivista. Campello (2009) define pesquisa orientada como a intervenção do professor e do bibliotecário, cuidadosamente planejada e supervisionada, para orientar os alunos na exploração de temas curriculares. Atuação do bibliotecário Após estudo das teorias envolvidas, definiu-se abordar o processo de construção do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) dos alunos formandos do SENAI de Pedro Leopoldo/MG. Foi planejado, durante o ano de 2013, junto com professores e supervisores, um programa didático para orientação, que foi implantado no primeiro semestre de 2014. Este programa foi desenvolvido com a participação da bibliotecária, que compõe a Coordenação do TCC e atua diretamente na sala de aula, mantendo contato diário com os alunos. As atividades de responsabilidade da bibliotecária são: Primeiras informações sobre a elaboração do TCC. São abordados os aspectos burocráticos e conceitos mais gerais sobre o que é um projeto de pesquisa. Acontece com as turmas no final do segundo semestre do curso técnico, que tem duração de três semestres. Aula expositiva em que aborda detalhes sobre cada item do TCC, aprofundando sobre como desenvolver a introdução, o referencial teórico, a metodologia, os resultados e as conclusões. É ensinado sobre citações e referências bibliográficas, além de trabalhar cada item dos elementos pré/pós-textuais e a normalização. Acontece na disciplina “Desenvolvimento de projetos”, com a parceria do professor. Encontros com os alunos, para orientação, com agendamento prévio. Elaboração e atualização do “Manual do Aluno”, onde se encontram todas as informações que os alunos irão necessitar ao longo do trabalho. Correção e pontuação da parte estrutural e gramatical do trabalho final. Práticas de pesquisa orientada Nos primeiros contatos em sala de aula, a bibliotecária explica a diferença entre assunto e tema. Os alunos demonstram certa confusão em meio a tantas opções e demoram cerca de duas semanas para conseguirem definir e delimitar o tema. É explicado que eles precisam escolher um assunto do interesse deles, de uma disciplina que mais se identificam. Este momento de conversa informal tem o objetivo de fortalecer o relacionamento entre aluno e bibliotecária. O orientador também contribui nesta fase, norteando os alunos quanto aos aspectos técnico-científicos. É normal observar a mudança de assunto e tema, até que os alunos consigam se sentir seguros e confiantes. A busca por fontes de informação, desde o início do processo da escolha do tema, acontece de forma tranquila, visto que a bibliotecária mantém um acervo integrado aos planos de ensino de cada curso. A maior dificuldade observada é no momento de seleção do material disponível. Os alunos apresentam uma dependência à internet muito grande, sendo necessário que a bibliotecária apresente as outras fontes existentes e explique a importância do uso destas, sempre contando com a ajuda do orientador. Na construção do referencial teórico, a maior dificuldade dos alunos é ler e interpretar os conceitos, fazer comparações e citações. Em sala de aula, a bibliotecária ensina a fazer citações e explica a importância delas, visto que a maioria dos alunos ainda não teve contato com esta técnica, pois muitos alegam nunca terem sido cobrados quanto a isto. Os alunos apresentam muitas dúvidas na parte de metodologia, sendo considerada por muitos a mais difícil de ser desenvolvida. Confundir objetivos específicos com metodologia é comum entre os alunos e até mesmo entre os professores. Para ajudar, muitos exemplos de outras pesquisas científicas são exaustivamente demonstrados e analisados. Instrumentos de coletas de dados, tabulação, construção de gráficos comparativos são tópicos em que os alunos precisam de maior atenção, visto ser uma atividade pouco praticada na vida escolar. No momento de escreverem os resultados, assim como em toda a construção do trabalho, os alunos necessitam de explicações pontuais, que vão desde a interpretação dos dados, formatação, até ajuda sobre como criar e conectar os parágrafos, a forma culta da linguagem, normas gramaticais e uso do editor de texto. Os alunos são orientados a também utilizarem o Manual do Aluno para sanarem suas dúvidas. Interação bibliotecário/aluno/professor Fica evidente que sem a parceria do professor este programa não seria possível. É uma ajuda mútua em que ambos oferecem seus conhecimentos, visando o sucesso do aluno. Um bom relacionamento interpessoal facilita a troca de conhecimentos e abre portas para que o aluno se sinta a vontade para perguntar, apresentar suas dificuldades e seus problemas. O tratamento humanizado, que valoriza a individualidade de cada aluno, é fator importante, que é enfatizado em todas as reuniões da Coordenação, que acontecem periodicamente para alinhar procedimentos e alcançar melhorias. Durante todas as atividades expostas, é construída uma relação de confiança entre alunos, professores e bibliotecária. Eles começam a entender que esta profissional não está somente envolvida com livros, leitura ou eventos culturais. Percebem que, com a ajuda da bibliotecária, aos poucos, eles conseguem expor e registrar suas ideias, compreendendo a conexão das partes do TCC. Desta forma, a bibliotecária constrói sua imagem como educadora e se consolida como parte ativa do processo de aprendizagem. Considerações finais Este trabalho buscou destacar o papel educativo do bibliotecário, oferecendo subsídios aos que pretendem explorar este campo, com práticas concretas para a orientação no processo de pesquisa escolar. Como direcionamento de novos estudos, seria interessante uma pesquisa mais detalhada sobre as práticas de pesquisa orientada nas diversas unidades do SENAI/MG, como forma de conhecer como é realizado e se existe participação do bibliotecário que contribua neste processo. Também na unidade apresentada, depois de um ano de implantação e adaptação do programa, é interessante e necessário realizar uma análise mais aprofundada para compreensão de todo o processo de construção do conhecimento, na elaboração do TCC, inclusive com avaliação dos próprios alunos, demonstrando o alcance e os efeitos das práticas de pesquisa orientada realizadas pelo bibliotecário. Fazem-se necessárias ações que demonstrem que a biblioteca escolar de fato está colocando em prática o que se espera dela e indo além da promoção da leitura. É importante que estas ações educativas sejam efetivadas e bem sucedidas. Assim se forma um novo olhar sobre as bibliotecas, na medida em que elas se fazem necessárias e indispensáveis. Palavras chaves: Pesquisa orientada - Letramento informacional - Biblioteca escolar Referências bibliográficas CAMPELO, Bernadete Santos. Letramento informacional no Brasil: práticas educativas de bibliotecários em escolas de ensino básico. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Escola de Ciência da Informação, UFMG, Belo Horizonte, 2009. KUHLTHAU Carol C. Como orientar a pesquisa escolar: estratégias para o processo de aprendizagem. Traduzido e adaptado por professores do Grupo de Estudos em Biblioteca Escolar. Belo Horizonte: Autêntica, 2010 FIALHO, J. F.; MOURA, M. A. A formação do pesquisador juvenil. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 10, n. 2, p. 194-207, 2005. NEVES, I. C. Bitencourt. Pesquisa escolar nas séries iniciais do ensino fundamental: bases para um desempenho interativo entre sala de aula e biblioteca escolar. 2000. 177f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação e Documentação) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.