Mecânica dos Fluidos II Semana 10 (9 a 15 de Maio de 2009) Problema 1 – Uma tubeira convergente acelera ar desde um reservatório à pressão p0 2 10 6 Pa , com temperatura T0 300 K . Suponha que a temperatura do reservatório é mantida aproximadamente constante, mas o escoamento é adiabático em todo o resto da instalação. Admita também que não há atrito significativo em nenhuma parte da instalação. A secção mais pequena, à saída, tem uma área A 1,5 10 2 m 2 . a) Para que valores da pressão exterior o escoamento é sónico na garganta, isto é, na secção de saída? b) Calcule o caudal para o caso em que o escoamento é sónico. c) Represente esquematicamente num gráfico as possíveis evoluções de pressão estática ao longo da conduta, supondo que a pressão no reservatório se mantém e a pressão de saída é variada, desde o vácuo até uma pressão igual à do reservatório. Sugestão: marque pelo menos uma evolução em que o escoamento seja subsónico em toda a conduta, outra em que o escoamento seja sónico à saída, com a pressão de saída igual à pressão exterior, e, finalmente, uma evolução de pressão em que haja onda de expansão no exterior. d) Calcule a temperatura de estagnação à saída. e) Calcule o caudal mássico máximo que pode escoar-se na instalação, nas condições do enunciado. Considere agora que a contracção anterior é complementada com um troço de conduta divergente, também isolado termicamente, com uma área de saída A 1,5 10 1 m 2 . A conduta divergente descarrega para uma atmosfera cuja pressão é pext 105 Pa . f) Calcule a temperatura de estagnação à saída. Esta temperatura depende de o escoamento ser subsónico ou supersónico nalgum ponto da instalação? Depende da eventual existência de uma onda de choque? g) Quando a pressão no reservatório varia de p0 2 10 6 Pa até p0 1 105 Pa , entre quais pressões do reservatório o escoamento é subsónico em toda a instalação? h) Calcule a pressão no reservatório quando ocorre uma onda de choque normal na secção de saída. i) Calcule a pressão no reservatório quando a onda de choque ocorre numa secção de área intermédia entre a garganta e a saída, A 8,25 102 m 2 . Resposta: O escoamento é sónico para pressões exteriores pext 1,057 106 Pa . A massa volúmica do ar no reservatório é 0 23,2 2 kg m 3 ; a massa volúmica em 70,0 kg s . escoamento sónico é * 14,7 2 kg m3 ; o caudal mássico é m A temperatura de estagnação é uniforme no espaço porque todo o escoamento é adiabático: T0 300 K . 70,0 kg s . O caudal mássico máximo é o mesmo calculado atrás, m A temperatura de estagnação continua a ser uniforme no espaço, qualquer que seja o número de Mach, haja ou não onda de choque. Na situação limite em que o escoamento é sónico na garganta e subsónico no difusor divergente, o número de Mach à saída é M s 0,05799 e a pressão máxima no reservatório para o escoamento ser sempre subsónico vem p0 1,00236 105 Pa . Quando ocorre uma onda de choque na secção de saída, o número de Mach imediatamente antes da onda de choque é M A 3,923 e a pressão estática e a de estagnação isentrópica imediatamente antes da onda de choque são p A 5,622 103 Pa ; p0 A 0,7699 106 Pa . A pressão no reservatório é igual a p0 A . Quando a onda de choque ocorre na secção de área A 8,25 102 m 2 , o número de Mach imediatamente antes da onda de choque é M A 3,275 ; imediatamente depois da onda de choque é M B 0,4607 ; o número de Mach à saída para a atmosfera exterior é M s 0,2309 ; entre a saída e a secção imediatamente depois da onda de choque a pressão de estagnação isentrópica é p0 s p0 B 1,0378 105 Pa ; finalmente, a pressão de estagnação isentrópica desde o reservatório até à onda de choque vem p0 A 4,0114 105 Pa . Problema 2 – Considere uma conduta convergente-divergente em que a área da saída é 16 vezes maior que a área da garganta. A conduta é alimentada por ar (razão de calores específicos 1,4 ) a partir de um reservatório à pressão p0 . A pressão de saída é pe . Determine a razão de pressões p0 pe , para a qual se dá onda de choque na secção cuja área é 25/4 maior que a da garganta. Resposta: A razão de pressões é pe p0 0,2259 . Valores intermédios, úteis para chegar ao resultado: o número de Mach antes do choque é M1 3,411 ; depois do choque é M 2 0,4547 . A razão de pressões de estagnação é p02 p01 0,2299 . Na secção de saída o número de Mach é M e 0,1597 e a razão de pressões pe p02 0,9823 . Problema 3 – Para a mesma geometria do problema anterior, determine a posição da onda de choque se a relação entre a pressão exterior e a pressão no reservatório for pe p0 1 8 . Resposta: O choque dá-se na secção com a relação de áreas: A A* 11,267 , em que A* é a área da garganta. Mecânica dos Fluidos II Semana 11 (16 a 22 de Maio de 2009) Problema 4 – Um reservatório alimenta, através de uma conduta convergente, um tubo de secção constante (d = 0,1 m) que transporta azoto até um ponto de consumo numa fábrica. A pressão exterior é atmosférica e igual a 100 kPa. Características do azoto: gás diatómico com razão de calor específicos γ = 1,4, calor específico a pressão constante Cp = 1039 J/(kg K) e constante de gás perfeito R = 297 J/(kg K). A temperatura e a pressão do fluido no depósito são T = 300 K e p = 318 kPa, uniformes em todo o espaço do reservatório. a) a) Numa secção 100 m a montante da saída do tubo de secção constante, a pressão medida na parede do tubo é de 161 kPa e a pressão medida por um tubo de Pitot é de 178 kPa. Determine o número de Mach do escoamento na secção em questão. Se não resolveu esta alínea e precisar do valor do número de Mach nesta secção para resolver alguma das alíneas seguintes tome o valor de 0,38. b) b) A temperatura do azoto medida nessa secção é de 291,6 K. Verifique se o escoamento é adiabático entre o reservatório e a secção em causa. Justifique. Nas alíneas seguintes, admita que a troca de calor entre o fluido e o exterior é desprezável em toda a instalação. c) c) Mostre que a saída deste escoamento é subsónica. (Sugestão: considere o escoamento entre a secção da alínea a) e a saída do tubo). Qual a pressão na secção de saída? (1,0 val.) d) d) Qual o factor de atrito do tubo (Sugestão: considere o escoamento entre a secção da alínea a) e a saída do tubo)? Qual o comprimento total do tubo? Problema 5 – À entrada de uma conduta de ar comprimido de secção constante, adiabática, verificam-se as seguintes condições de temperatura e pressão: T1 800 K ; p1 4,0 106 Pa . A velocidade do ar nessa secção de entrada é v1 850 m s . A viscosidade cinemática do ar àquela temperatura é aproximadamente 8,2 10 5 m 2 s . O diâmetro da conduta é D 0,1 m ; a rugosidade relativa é D 5 104 . A variação do número de Reynolds é pouco relevante para efeitos de cálculo do factor de atrito e por isso calcule este factor admitindo que o número de Reynolds é uniforme, igual ao da secção de entrada. Nota: A 800 K , os coeficientes de calor específico a pressão constante e a volume constante são C p 1098,7 J kgK e Cv 811,6 J kgK ; portanto a constante de gás perfeito do ar é R 287,1 J kgK e a razão de calores específicos é 1,354 ; contudo, como primeiro exercício, pode assumir 1,4 , se achar que isso facilita o cálculo. a) Qual o comprimento máximo da conduta, compatível com as condições referidas, sem haver onda de choque? b) Calcule a pressão que se atinge na secção de saída da conduta se o comprimento for máximo. Quais os valores da pressão exterior compatíveis com esse comprimento? c) Determine as condições de pressão e temperatura do escoamento 0,2 m à frente da secção inicial referida neste problema. d) Alguma coisa se alterava no escoamento se a tubagem fosse cortada nessa secção, 0,2 m à frente da secção inicial, e a pressão exterior fosse idêntica à calculada na alínea anterior? E se a pressão exterior fosse idêntica à calculada na alínea b)? e) Na hipótese da alínea anterior, de a tubagem ser cortada na secção 0,2 m adiante da secção inicial, qual é a gama de pressões exteriores compatíveis com a pressão e temperatura referidas no cabeçalho deste problema? Resposta: O número de Reynolds à entrada é Re 1,037 106 , o factor de atrito é f 0,01719 , o número de Mach na secção inicial é M1 1,524 (ou M1 1,499 , usando 1,4 ); o comprimento máximo é aquele para o qual se atingem condições sónicas à saída: L 0,8980 m (ou L 0,8944 m , usando e M 1 aproximados). Com esse comprimento máximo, atinge-se à saída escoamento sónico com temperatura e pressão: T * 959,2 K ; p * 6,676 106 Pa (ou T * 966,3 K ; p* 6,590 106 Pa , usando M 1 e aproximados). Na secção 0,2 m à frente da secção inicial a distância à secção crítica é 0,2 m menor. O número de Mach é M 2 1,436 (ou M 2 1,411 , usando valores aproximados); a pressão e temperatura são (ou p2 4,316 106 Pa ; T2 827,0 K 6 p2 4,382 10 Pa ; T2 823,2 K , usando M 2 e aproximados). Se a conduta fosse cortada nessa secção e a pressão exterior fosse igual a p2 acabada de calcular ( p2 4,316 106 Pa ), nada se alterava e o escoamento saía em jacto supersónico nas mesmas condições da secção b). Se a conduta fosse cortada e a pressão exterior fosse maior (concretamente a da alínea b), nada se alterava até imediatamente antes da secção de saída, mas haveria uma onda de choque fraca já no exterior. Para a pressão exterior da alínea b), pext 6,676 10 6 Pa , a onda de choque seria fraca, como se verá mais claramente ao resolver a alínea seguinte. As condições do enunciado para a secção a) só são possíveis para pressões exteriores inferiores à de uma onda de choque frontal mesmo na saída, isto é, para pressões pext 5,083 106 Pa (ou pext 5,053 106 Pa , usando M 2 e aproximados). Os passos intermédios são os seguintes: como se viu, o número de Mach à saída é M 2 1,436 (ou M 2 1,411 , usando valores aproximados) e, portanto, a pressão depois da onda de choque frontal é p2 4,316 106 Pa 2,222 9,593 106 Pa (ou p2 4,382 106 Pa 2,157 9,452 106 Pa , usando M 2 , p2 e aproximados). Problema 6 – Considere um escoamento de vapor de água alimentado, através de uma tubeira convergente, a partir de uma caldeira com temperatura T0 800 K e pressão p0 4,0 106 Pa . A viscosidade cinemática do vapor é 1,2 106 m 2 s . O escoamento ocorre numa conduta de diâmetro constante, D 0,10 m (com este diâmetro a área é A 7,8540 103 m 2 ). A extremidade da conduta oposta à caldeira descarrega directamente para a atmosfera, a qual tem condições de pressão e temperatura normais ( pext 1,013 105 Pa , Text 288,2 K ). Admita que a conduta está isolada termicamente e a rugosidade da parede interna do tubo é 1 10 5 m . a) Utilize as seguintes propriedades do vapor de água para estimar a respectiva constante de gás perfeito, R , e a razão de calores específicos, . Entalpia específica, h , e energia interna específica, u , do vapor: h 3214 kJ kg , u 2921 kJ kg 4,0 106 Pa e 400 C : 6 h 3445 kJ kg , u 3099 kJ kg 4,0 10 Pa e 500 C : h 3674 kJ kg , u 3279 kJ kg 4,0 106 Pa e 600 C : Atenção: valores em kJ/kg. b) É possível que haja uma onda de choque dentro da conduta? São possíveis ondas de expansão à saída? A temperatura do vapor pode diminuir ao longo da conduta? A velocidade do vapor vai aumentando desde a caldeira até à saída? A pressão na conduta pode aumentar? c) Represente num gráfico as possíveis evoluções de pressão estática ao longo da conduta, supondo que a pressão na caldeira se mantém e a pressão de saída é variada, desde o vácuo até uma pressão igual à da própria caldeira. d) Determine o caudal de ar e o comprimento da conduta para ter escoamento sónico à saída da conduta sem haver onda de expansão no exterior. Para efeitos de estimativa do número de Reynolds, pode considerar que a velocidade média ao longo da conduta é 400 m s . e) Determine o comprimento máximo da conduta compatível com metade do caudal estimado na alínea anterior, e com a pressão exterior indicada. Para efeitos de estimativa do número de Reynolds, pode considerar que a velocidade média ao longo da conduta é 400 m s . f) Determine a temperatura e a pressão do vapor para esse comprimento, na secção de saída. Resposta: Num gás perfeito, as diferenças de entalpia específica e de energia interna específica são proporcionais às diferenças de temperatura: h C p T e h Cv T . Assim, derivando numericamente, as propriedades do vapor de água àquela pressão e temperatura são: 2290 C p 2310 J kgK ; C p 2300 J kgK ; valor médio no intervalo: 1780 Cv 1800 J kgK ; valor médio no intervalo: Cv p 1790 J kgK ; valor médio no intervalo: 490 R 530 J kgK ; R 510 J kgK ; 1,272222 1,297753 ; 1,2849 . valor médio no intervalo: Uma vez que o escoamento acelera numa conduta só convergente, o número de Mach será sempre inferior a um. Portanto, não pode haver onda de choque, mas são possíveis ondas de expansão à saída. Como o escoamento é subsónico, a temperatura e a pressão estática do vapor diminuem ao longo da conduta, e a velocidade aumenta até à saída. Obtém-se o caudal máximo no limite de um comprimento da conduta nulo. Nessa altura, o escoamento acelera isentropicamente desde as condições de estagnação do reservatório até à saída. Se a pressão exterior for maior que a pressão crítica, p* 2,194 106 Pa , o escoamento sai em regime subsónico à pressão exterior; se a pressão exterior for menor ou igual à pressão crítica, o escoamento à saída é crítico, com ondas de expansão depois da saída. Neste caso, a pressão crítica é maior que a pressão exterior, pelo que o escoamento é sónico e o caudal mássico é 32,68 kg s . m Para os cálculos com atrito é necessário determinar o coeficiente de atrito. O número de Reynolds é Re 3,3 107 e a rugosidade relativa é D 104 , pelo que o coeficiente de atrito é f 0,01204 . O caudal é máximo sem haver onda de expansão se o escoamento for sónico à saída e a pressão igual à pressão exterior: p2 pext 1,013 105 Pa . Como o escoamento é sónico, a partir de p2 pode calcular-se a pressão de estagnação isentrópica à saída: p02 p0* 1,847 105 Pa . Na entrada da conduta, a pressão de estagnação isentrópica é a do reservatório: p01 4,0 106 Pa . Da relação p01 p0* retira-se o número de Mach na secção de entrada: M1 0,02708 . A distância da secção 1 até à saída, crítica, é L 66170 m . O caudal da alínea anterior pode calcular-se facilmente a partir das condições na secção de entrada: M1 0,02708 ; p1 3,9981105 Pa ; T1 799,9 K ; 1 9,800 kg m3 ; 1,509 kg s . c1 724,0 m s ; v1 19,61 m s . O caudal mássico vem: m 0,7546 kg s . Com as mesmas condições de estagnação à Metade desse caudal é m entrada e este novo caudal, o número de Mach à entrada passa a ser M1 0,01354 . Confirmemos o resultado: p1 3,9995 105 Pa ; T1 799,98 K ; 1 9,803 kg m3 ; c1 724,0 m s ; v1 9,800 m s : efectivamente, o caudal vem, como esperado, 0,7546 kg s . Com este número de Mach ( M1 0,01354 ) m à entrada, a distância dessa secção 1 até à secção crítica (virtual), é L*1 24.663 m e a pressão crítica (virtual) é p * 5,065 104 Pa . A pressão à saída é p2 pext 1,013 105 Pa e portanto a relação entre esta pressão e a pressão crítica (virtual) é p2 p * 2,000 , donde o número de Mach à saída é M 2 0,5243 e a distância da secção 2 à secção crítica (virtual), é L*2 5,755 m . Por diferença, obtémse o comprimento da conduta: L L*1 L*2 24.657 m . À saída, como se disse, é p2 pext . Como o escoamento é adiabático, a temperatura de estagnação mantém-se ao longo da conduta e, dado o número de Mach M 2 , a temperatura à saída vem T1 769,9 K .