Alim. Nutr.= Braz. J. Food Nutr., Araraquara v. 24, n. 1, p. 29-35, jan./mar. 2013 ISSN 0103-4235 ISSN 2179-4448 on line AVALIAÇÃO QUALITATIVA DO CARDÁPIO E PESQUISA DE SATISFAÇÃO EM UMA UNIDADE DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Sabrina Alves RAMOS* Fábio Fernandes Ramos de SOUZA** Gabriela Carla Barbosa FERNANDES** Stéphane Kélian Porto XAVIER** RESUMO: O objetivo deste estudo foi avaliar a qualidade do cardápio e a satisfação dos comensais de uma Unidade de Alimentação e Nutrição (UAN). Aplicou-se o método avaliação qualitativa das preparações do cardápio (AQPC) e um questionário sobre aceitação do cardápio com os comensais da UAN. Os dados da AQPC e do questionário foram comparados a fim de identificar a percepção dos comensais quanto à qualidade das refeições servidas. Ao realizar a análise do cardápio verificou-se a utilização diária de um vegetal folhoso, uma fruta e um doce e elevada oferta de alimentos ricos em enxofre, carnes gordurosas e monotonia de cores. Em um terço dos dias avaliados observou-se a presença de frituras, doces associados à frituras e conservas. O cardápio foi bem aceito pelos comensais, exceto para os critérios número de saladas e qualidade das sobremesas ofertadas. Ao comparar os resultados obtidos pelo método AQPC com os da pesquisa de satisfação, observou-se que os comensais possuíam, para a maioria dos critérios avaliados, boa percepção em relação às refeições oferecidas. Conclui-se que os cardápios da UAN estudada precisam ser reformulados para melhorar os aspectos nutricionais e sensoriais, apesar de serem bem aceitos pela maioria dos comensais. A AQPC e a pesquisa de satisfação realizadas em conjunto tornam-se complementares fornecendo informações para melhoria dos serviços prestados em UAN. PALAVRAS-CHAVE: Serviços de alimentação; planejamento de cardápio; satisfação dos consumidores; qualidade dos alimentos. INTRODUÇÃO As Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) têm como finalidade produzir refeições segundo padrões higiênico-sanitários adequados, ofertar refeições nutricionalmente balanceadas, contribuir para manutenção ou recuperação da saúde e auxiliar ainda, no desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis. (ABREU; SPINELLI, 2009; COLARES; FREITAS, 2007; OLIVEIRA, 2004; PROENÇA et al., 2005). Em UAN o planejamento dos cardápios deve ser realizado por nutricionistas com a finalidade de programar refeições que atendam a pré-requisitos como hábitos alimentares e características nutricionais dos comensais, qualidade higiênico-sanitária, adequação ao mercado de abastecimento e à capacidade de produção. (ABREU et al., 2009; PROENÇA et al., 2005; SILVA; MARTINEZ, 2008; TEICHMANN, 2009). Um método que pode ser utilizado para auxiliar o nutricionista na atividade de planejamento de cardápios é a avaliação qualitativa das preparações do cardápio (AQPC), o qual propõe a avaliação de cores, técnicas de preparo, repetições, combinações, oferta de folhosos, frutas e tipo de carnes, além do teor de enxofre dos alimentos. (VEIROS, 2002; VEIROS; PROENÇA, 2003). Este método visa auxiliar o profissional na elaboração de cardápios mais adequados do ponto de vista nutricional e sensorial, dentro dos parâmetros de saúde cientificamente preconizados. (VEIROS, 2002; VEIROS et al., 2006). Nas UAN é importante avaliar também a opinião dos clientes quanto às refeições oferecidas. (PROENÇA et al., 2005). Para se obter uma percepção realista e atualizada, torna-se necessário realizar periodicamente a pesquisa de satisfação com os comensais. Os resultados da pesquisa são importantes para que a empresa de alimentação adeque os seus produtos e serviços e obtenha a confiança dos clientes. Como atualmente grande parcela da população realiza suas principais refeições em UAN, torna-se necessário avaliar a qualidade dos cardápios e a satisfação dos clientes para realizar possíveis adequações. (ABERC, 2012; VEIROS et al., 2006). Diante do exposto, o objetivo do presente estudo foi avaliar a qualidade do cardápio e a satisfação dos clientes de uma UAN e verificar a percepção dos usuários quanto à qualidade das refeições servidas. * Departamento de Nutrição – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-MG – 30640-070 – Belo Horizonte – MG – Brasil. E-mail: [email protected]. ** Curso de graduação em Nutrição – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC-MG – 30640-070 – Belo Horizonte – MG – Brasil. RAMOS, S. A.; SOUZA, F. F. R.; FERNANDES, G. C. B.; XAVIER, S. K. P. Avaliação de cardapio e pesquisa de satisfação. Alim. Nutr.= Braz. J. Food Nutr., Araraquara, v. 24, n. 1, p. 29-35, jan./mar. 2013. MATERIAL E MÉTODOS Este é um estudo de caso descritivo, de caráter qualitativo, realizado em uma UAN localizada em uma empresa de veículos e peças na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. O estudo foi realizado de fevereiro a abril de 2011. Caracterização da Unidade de Alimentação e Nutrição A UAN é terceirizada por uma concessionária especializada em alimentação, funciona de segunda a sexta-feira, sendo distribuídas, aproximadamente, 180 refeições diárias no serviço almoço. Os clientes da UAN trabalham no setor administrativo e operacional, faixa etária entre 18 e 60 anos, sendo 85% do gênero masculino. A unidade possui cardápio padrão médio, composto por prato base (arroz e feijão), dois pratos proteicos e uma opção (ovo ou omelete), uma guarnição, quatro tipos de saladas, duas sobremesas (doce e fruta da época) e três refrescos. As preparações são dispostas em balcões térmicos quente e refrigerado e a modalidade de distribuição das refeições é self-service com porcionamento de um prato proteico e uma sobremesa escolhidos pelos comensais. A unidade conta com dois cozinheiros, três auxiliares de cozinha e a supervisão de todo o processo é realizada por uma nutricionista. Avaliação Qualitativa das Preparações do Cardápio Foi realizada a AQPC, segundo os critérios elaborados por Veiros (2002), das preparações oferecidas no serviço almoço dos meses de fevereiro, março e abril de 2011, com exceção dos finais de semana e feriados, totalizando ao final 42 dias. Para realizar a análise das preparações ricas em enxofre foram considerados e contabilizados como alimentos flatulentos sulfurados: abacate, acelga, aipo, alho, amendoim, batata-doce, brócolis, castanha, cebola, couve-de-bruxelas, couve-flor, ervilha, gengibre, goiaba, jaca, lentilha, maçã, melancia, melão, milho, mostarda, nabo, nozes, ovo, rabanete, repolho e uva. (PROENÇA et al., 2005). Os cardápios que apresentaram dois ou mais alimentos citados acima foram considerados com alto teor de enxofre. O feijão, presente diariamente nas refeições, não foi considerado nesta análise. Monotonia de cores foi considerada quando três ou mais alimentos com cores iguais estavam presentes em um mesmo dia. Considerou-se como carnes gordurosas aquelas em que a gordura excedia 50,0% do total energético. (PHILIPPI, 2003; PROENÇA et al., 2005). Contabilizou-se ainda nos dias avaliados, a oferta de frutas, doces, frituras, folhosos, doces associados à frituras, conservas, duas ou mais frituras no mesmo dia e repetição da técnica de preparo dos pratos proteicos. (PROENÇA et al., 2005; VEIROS, 2002). Para subsidiar a avaliação, as fichas técnicas da UAN, os rótulos dos gêneros alimentícios utilizados nas preparações e tabela de composição nutricional foram con- 30 sultados. (NEPA, 2011). O preparo das refeições foi acompanhado para verificar se condizia com o cardápio elaborado e com o especificado nas fichas técnicas. A avaliação do cardápio foi realizada a partir da observação do percentual de ocorrência diária dos alimentos ou preparações relativos a cada critério. Em seguida, foi contabilizado, por mês, o número de dias em que houve a ocorrência de cada critério analisado e, por fim, calculou-se a porcentagem, considerando todos os dias do estudo. Pesquisa de Satisfação No dia anterior a realização da pesquisa de satisfação foi executada na UAN uma campanha de conscientização e motivação, informando aos clientes sobre o projeto e solicitando a participação. Todos os comensais foram convidados e aqueles que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A pesquisa foi realizada por meio de questionário auto-explicativo, desenvolvido pelos pesquisadores, contendo atributos de qualidade com quatro escalas do grau de satisfação variando de “excelente” a “ruim”. Os atributos abordados foram: variedade dos alimentos, combinação, cor, variação da técnica de preparo (frito, assado, cozido), sabor, apresentação/aparência das preparações, temperatura, tempero, textura (tempo de cozimento), número de opções de saladas, teor de gordura dos alimentos, qualidade das sobremesas e qualidade geral das preparações/bebidas. Os resultados dos questionários foram separados por sexo, sendo aqueles classificados em excelente e bom, agrupados em satisfatório e regular e ruim, em insatisfatório. Alguns dos critérios avaliados na AQPC foram inseridos na pesquisa de satisfação: frequência de frituras, dois ou mais alimentos fritos no mesmo dia, doces industrializados na sobremesa, carnes gordurosas, conservas, repetição da técnica de cocção (frito, assado, cozido) nos pratos proteicos. Estes dados foram contabilizados conforme a frequência de cada resposta, ≤ 1 vez na semana, 2-3 vezes na semana, 4-5 vezes na semana. Os comensais foram questionados sobre possível desconforto gástrico após a realização das refeições na UAN para estimar se as preparações possuíam alto teor de enxofre. Este resultado foi analisado segundo a frequência de respostas “sim” e “não”. O questionário possuía espaço destinado a sugestões, elogios e críticas sobre o cardápio oferecido na UAN. Os resultados da pesquisa de satisfação foram divulgados aos comensais por meio de display de mesa, que possuía também agradecimentos pela participação e esclarecimentos sobre a importância dos resultados para a melhoria dos serviços prestados pela concessionária que terceiriza a UAN. Os dados obtidos na AQPC e na pesquisa de satisfação foram comparados a fim de identificar a percepção dos comensais quanto à qualidade das refeições servidas na UAN. RAMOS, S. A.; SOUZA, F. F. R.; FERNANDES, G. C. B.; XAVIER, S. K. P. Avaliação de cardapio e pesquisa de satisfação. Alim. Nutr.= Braz. J. Food Nutr., Araraquara, v. 24, n. 1, p. 29-35, jan./mar. 2013. Análise Estatística Pesquisa de Satisfação As variáveis categóricas foram descritas em frequência e os testes aplicados foram qui-quadrado de Pearson ou exato de Fisher. Foram considerados significativos valores de p<0,05 quando duas variáveis foram comparadas. Quando houve diferença significativa entre as frequências de respostas ≤ 1 vez, 2-3 vezes e 4-5 vezes na semana, utilizou-se para o teste de comparações múltiplas o critério de Bonferroni, considerado significativas diferenças cujo valor de p<0,0167. Os dados foram analisados no software Epi-Info versão 6.04. Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (CAAE 0022.0.213.000-11). Participaram da pesquisa de satisfação 155 comensais (86,1%), porém, foram descartados 15 questionários (9,7%), devido ao preenchimento incorreto ou incompleto. O setor operacional correspondeu a 78,6% de participação e o administrativo 21,4%. A maioria dos participantes era do sexo masculino (72,9%) e a média de idade foi de 29,5 anos, variação entre 18 a 58 anos. Dos atributos abordados no questionário o que apresentou maior nível de satisfação foi o referente à apresentação e aparência das preparações, correspondendo a 92,1% de satisfação dos homens e 84,2% das mulheres. O percentual de satisfação total foi maior que 70% para todos os critérios avaliados, exceto para número de opções de saladas (67,9%) e qualidade das sobremesas (59,3%). Houve diferença significativa entre os sexos para os critérios sabor dos alimentos, variedade da cor, tempero das refeições, qualidade das sobremesas e qualidade geral das refeições (Figura 1). Os usuários também foram indagados sobre a frequência semanal dos critérios pesquisados na AQPC. Para todos os itens, exceto presença de frituras, a maioria dos comensais relatou que a presença era menor ou igual a uma vez por semana (Figura 2). Sugestões, críticas e elogios foram fornecidos por 31,4% dos comensais participantes. A maioria sugeriu a introdução ou a retirada de determinados alimentos ou preparações do cardápio. Observou-se ainda, que os elogios predominaram sobre as críticas, porém com extremos de satisfação e insatisfação. RESULTADOS Avaliação Qualitativa das Preparações do Cardápio O cardápio da unidade é elaborado por nutricionistas do escritório central da concessionária, entretanto a nutricionista gerente da UAN realiza modificações para adequação do custo e principalmente, para atender a preferência dos comensais que frequentam o refeitório. Os resultados da AQPC estão demonstrados na Tabela 1. Ao realizar a análise do cardápio verificou-se que foram oferecidos todos os dias um vegetal folhoso na salada e uma fruta e um doce na sobremesa. Na maioria dos dias analisados houve monotonia de cores, alimentos ricos em enxofre e carnes gordurosas. Ressalta-se que em alguns dias houve a associação de alimentos ricos em enxofre com outros ricos em rafinose, como por exemplo, o grão-de-bico. As carnes gordurosas mais frequentes no cardápio foram paleta suína e bovina, linguiças toscana e calabresa, cupim, pernil, hambúrguer, salsicha e mini chicken. Também estão apresentados na Tabela 1, a presença de frituras, duas ou mais frituras no mesmo dia, doce associado à fritura, conservas e repetição da técnica de preparo nas duas opções de carne. Avaliação Qualitativa das Preparações do Cardápio versus Pesquisa de Satisfação Para analisar a percepção dos comensais sobre a qualidade do cardápio oferecido os resultados obtidos na AQPC e na pesquisa de satisfação foram comparados. Tabela 1 – Resultados da análise qualitativa das preparações do cardápio dos meses de fevereiro, março e abril da Unidade de Alimentação e Nutrição, Belo Horizonte, 2011. Dias de cardápio Fruta Folhosos Cores iguais Ricos em enxofre Doce Fritura Duas ou mais frituras no dia Doce + fritura Carne gordurosa Conserva Repetição de técnica de preparo das carnes Fevereiro 16 16 16 13 11 16 5 0 5 9 5 Março 20 20 20 13 15 20 7 1 7 10 6 Abril 6 6 6 3 6 6 3 1 3 3 3 Total (dias) 42 42 42 29 32 42 15 2 15 22 14 Ocorrência (%) 4 5 3 12 28,6 100,0 100,0 69,0 76,2 100,0 35,7 4,8 35,7 52,4 33,3 31 RAMOS, S. A.; SOUZA, F. F. R.; FERNANDES, G. C. B.; XAVIER, S. K. P. Avaliação de cardapio e pesquisa de satisfação. Alim. Nutr.= Braz. J. Food Nutr., Araraquara, v. 24, n. 1, p. 29-35, jan./mar. 2013. Variedade do cardápio Combinação das preparações a Variedade da cor b Variação da técnica de cocção a Sabor dos alimentos b Apresentação dos pratos Temperatura a Tempero das refeições b Textura Número de saladas Quantidade de gordura a Qualidade das sobremesas b a Qualidade da refeição 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 b 100 Satisfação (%) Total Feminino Masculino (a, b) Letras diferentes no mesmo critério indicam diferença significativa (p<0,05) entre os valores observados entre os sexos - Teste de Qui-Quadrado. FIGURA 1 – Resultados obtidos na pesquisa de satisfação realizada com os comensais da Unidade de Alimentação e Nutrição, Belo Horizonte, 2011. Os clientes apresentaram boa percepção quanto à presença diária de frituras, duas preparações fritas e técnica de cocção igual dos pratos proteicos (Tabela 1 e Figura 2). Para estes critérios a frequência semanal relatada pelos usuários foi similar a observada na AQPC. Pelo método AQPC foi observada a presença de alimentos ricos em enxofre em 76,2% dos dias analisados. Entretanto, apenas 26,4% dos comensais afirmaram que sentem desconforto gástrico, sendo que a maioria alegou senti-lo pelo menos uma vez por semana. Os usuários não foram capazes de avaliar de forma critica a monotonia de cores, a presença de carnes gordurosas e conservas no cardápio (Tabela 1 e Figura 2). DISCUSSÃO A elaboração do cardápio é uma atividade importante, sendo o ponto de partida no planejamento de com- 32 pras, produção, satisfação dos comensais e composição dos custos, além de ser imprescindível no acompanhamento nutricional dos clientes. (ABREU et al., 2009; SILVA; MARTINEZ, 2008). Entretanto, relacionar alimentação saudável, hábitos alimentares, características sensoriais e modo de apresentação ao prazer do consumo dos alimentos é um desafio para o profissional nutricionista. (PROENÇA et al., 2005). Em relação à composição do cardápio, é essencial a presença diária de frutas e verduras, pois são alimentos fonte de vitaminas, minerais e fibras, e quando consumidos diariamente podem contribuir para diminuir o risco de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). (BRASIL, 2005; PHILIPPI, 2008). Por questão contratual, estabelecido entre a concessionária e a empresa contratante, no cardápio houve a inclusão diária de um folhoso na salada e uma fruta na sobremesa. Outro ponto importante que deve ser observado ao planejar o cardápio é a variedade de cores, pois isto ajuda a Percentual RAMOS, S. A.; SOUZA, F. F. R.; FERNANDES, G. C. B.; XAVIER, S. K. P. Avaliação de cardapio e pesquisa de satisfação. Alim. Nutr.= Braz. J. Food Nutr., Araraquara, v. 24, n. 1, p. 29-35, jan./mar. 2013. 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 a a a a a a a b b b b b c c c 1 x/sem c 2-3x/sem b c 4-5x/sem (a, b) Letras diferentes no mesmo critério indicam diferença significativa considerando para o teste de comparações múltiplas o critério de Bonferroni (p<0,0167). FIGURA 2 – Resultados obtidos na pesquisa de satisfação realizada com os comensais da Unidade de Alimentação e Nutrição sobre a frequência dos critérios analisados pelo método avaliação qualitativa das preparações do cardápio, Belo Horizonte, 2011. garantir a ingestão diversificada de nutrientes. Além disso, preparações com cores vibrantes e contrastantes despertam o interesse do consumidor, visto que o primeiro contato com o alimento é visual. (PHILIPPI, 2008; PROENÇA et al., 2005; SILVA; MARTINEZ, 2008; TEICHMANN, 2009; VEIROS; PROENÇA, 2003). A maioria dos dias (69,0%) apresentou monotonia de cores devido a inadequações no planejamento do cardápio ou por alterações realizadas por ausência ou atrasos na entrega dos gêneros alimentícios. Outro problema decorrente das adaptações freqüentes dos cardápios foi o alto percentual de preparações fritas (35,7% dos dias analisados). Como esta técnica de preparo é rápida foi a opção escolhida quando alguma alteração foi necessária. Alimentos ricos em enxofre podem provocar desconforto gástrico devido ao elevado teor de compostos sulfurados. (PROENÇA et al., 2005). Na UAN estudada 76,2% dos dias o feijão estava associado a dois ou mais alimentos ricos em enxofre. Além disso, a associação destes alimentos com outros ricos em rafinose podem dificultar o processo digestivo. (PROENÇA et al., 2005). Outro critério avaliado pelo método AQPC que apresentou resultado elevado foi a oferta de carnes gordurosas, presentes no cardápio em 52,4% dos dias. Passos (2008) e Veiros & Proença (2003) encontraram percentual muito inferior em outras UAN, 37,5% e 15,6%, respectivamente. Ressalta-se que em alguns dias as carnes gordas coincidiram com a oferta de preparações fritas e doces, aumentando o valor calórico do cardápio. Em 28,6% dos dias houve repetição da técnica de preparo dos pratos proteicos, entretanto é essencial atentar para métodos diferentes em cada refeição, pois melhora a aparência e a aceitação dos clientes. (SILVA; MARTINEZ, 2008; TEICHMANN, 2009). Na UAN as conservas eram utilizadas apenas para enfeitar ou finalizar algumas preparações, porém deve-se considerar que estes alimentos possuem grande quantidade de sódio em sua composição e existem evidências que relacionam o consumo excessivo de sal ao desenvolvimento de doenças crônicas, como hipertensão arterial e câncer gástrico. (TSUGANE; SASAZUKI, 2007; WHO, 2006). Além das conservas, a UAN disponibilizava para os comensais molho de soja e saleiro à mesa, que também possuem grande quantidade de sódio. Como os usuários da UAN realizavam a principal refeição do dia na empresa, os resultados obtidos pela aplicação do método AQPC indicaram a necessidade de melhorar o planejamento dos cardápios com o intuito de prevenir o aparecimento de DCNT. Ressalta-se que a alimentação adequada é fundamental para garantir a saúde e a capacitação do trabalhador, aumentando a produtividade e reduzindo os riscos de acidentes de trabalho. Em relação à pesquisa de satisfação, observou-se grande participação e interesse por parte dos comensais. O critério com maior nível de satisfação, em ambos os se- 33 RAMOS, S. A.; SOUZA, F. F. R.; FERNANDES, G. C. B.; XAVIER, S. K. P. Avaliação de cardapio e pesquisa de satisfação. Alim. Nutr.= Braz. J. Food Nutr., Araraquara, v. 24, n. 1, p. 29-35, jan./mar. 2013. xos, foi o referente à apresentação e aparência dos pratos, demonstrando que os clientes estavam satisfeitos com a montagem do balcão de distribuição. Apesar do elevado percentual de cores iguais detectado pelo método AQPC, a decoração realizada com conservas, frutas e folhas agradava aos usuários da UAN. Observou-se maior descontentamento, em ambos os sexos, relacionado ao número de saladas e a qualidade das sobremesas. Em relação ao primeiro critério, a concessionária não tem autonomia para mudá-lo por estar determinado em contrato, entretanto, poderia melhorar a variedade, pois eram repetitivas. A maioria das sobremesas era produzida na própria UAN, tornando necessário reavaliar o processo de produção para melhoria da qualidade. Neste estudo verificou-se diferença significativa entre os sexos para os critérios sabor dos alimentos, variedade da cor, tempero das refeições, qualidade das sobremesas e qualidade geral das refeições, com maior insatisfação por parte das mulheres (p<0,05). Este dado pode indicar que o sexo feminino analisa de forma mais critica o serviço prestado, demonstrando assim, maior preocupação deste público com a alimentação ofertada no ambiente de trabalho. A maioria dos comensais insatisfeitos com a temperatura das refeições almoçava ao final do período de distribuição, o que sugere ineficiência do processo de aquecimento e/ou resfriamento dos balcões de distribuição. Desta forma, a concessionária deve ficar atenta com a manutenção dos equipamentos da UAN. Nos últimos anos têm sido observado aumento da concorrência das empresas especializadas na produção de refeições, portanto é essencial a análise constante da qualidade geral das refeições, pois é um fator determinante da satisfação dos clientes e da continuidade dos serviços prestados pelas concessionárias. Ao comparar os resultados obtidos pelo método AQPC com os da pesquisa de satisfação, observou-se que os comensais possuíam, para a maioria dos critérios avaliados, boa percepção em relação às refeições oferecidas na UAN. Contudo, os critérios que exigem determinado conhecimento teórico, como a presença de carnes gordurosas, conservas e monotonia de cores, os clientes não conseguiram detectar a elevada freqüência com que apareceram nos cardápios. A nutricionista gerente deve avaliar de forma crítica os comentários realizados pelos comensais, considerando não apenas as preferências ou opiniões individuais, mas também a realidade da UAN e o contrato. Ressalta-se que é importante a conscientização dos clientes quanto ao contrato estabelecido entre a concessionária e a empresa contratante, apresentando assim, as medidas que são cabíveis e possíveis de serem adotadas para a melhoria dos serviços prestados. Um aspecto inerente do estudo de caso é a impossibilidade da generalização de dados, por outro lado, o estudo ajuda evidenciar a importância e a eficácia de instrumentos 34 para avaliação da qualidade das preparações servidas e satisfação dos consumidores de uma UAN. CONCLUSÃO Através da realização desta pesquisa, verificou-se alta oferta de alimentos ricos em enxofre, carnes gordurosas, conservas, doces, frituras e monotonia de cores. Desta forma, os cardápios da UAN estudada precisam ser reformulados para melhorar os aspectos nutricionais e sensoriais. Apesar dos resultados insatisfatórios obtidos pela AQPC os comensais estavam satisfeitos com as refeições oferecidas na UAN e apresentavam boa percepção da qualidade das preparações. A aplicação de dois métodos de avaliação, um que avalia de forma técnica o cardápio, AQPC, e outro a percepção dos clientes, pesquisa de satisfação, permite a coleta de informações complementares que são essenciais para a melhoria dos serviços e produtos oferecidos nas UAN. RAMOS, S. A.; SOUZA, F. F. R.; FERNANDES, G. C. B.; XAVIER, S. K. P. Qualitative evaluation of menu and satisfaction survey in a foodservice. Alim. Nutr.= Braz. J. Food Nutr., Araraquara, v. 24, n. 1, p. 29-35, jan./mar. 2013. ABSTRACT: This paper aimed to evaluate the quality of the menu and the satisfaction of the customers in a foodservice. The qualitative evaluation of menu components (QEMC) has been applied and a questionnaire about the menu acceptance has been conducted with the customers of the foodservice. The QEMC data and the questionnaire results were compared in order to identify the perception of the customers about the food served. By analyzing the menu, it has been noticed a daily use of one leafy vegetable, one fruit and one dessert and it is offered a lot of sulfur-rich foods, fatty meat and it can also be observed color monotony in the dishes. In a third of the evaluation days observed the presence of fried dishes, sweets combined with fried dishes and canned goods. The menu has been well evaluated by customers, except when it has come to the variety of salads and to the quality of desserts. By comparing the results of the QEMC with the questionnaire answers, it has been observed that the customers had a good perception of the meals that are served. It has been concluded that the menus of the foodservice where this research has been done need to be modified, in order to improve the nutritional and the sensory aspects – though it is already well accepted by most of the customers. When combined, the QEMC and the satisfaction survey provide information that can be used in the improvement of the services offered in foodservice. KEYWORDS: Foodservices; menu planning; customer satisfaction; food quality. RAMOS, S. A.; SOUZA, F. F. R.; FERNANDES, G. C. B.; XAVIER, S. K. P. Avaliação de cardapio e pesquisa de satisfação. Alim. Nutr.= Braz. J. Food Nutr., Araraquara, v. 24, n. 1, p. 29-35, jan./mar. 2013. REFERÊNCIAS ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N. A unidade de alimentação e nutrição. In: ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N.; ZANARDI, A. M. P. Gestão de unidades de alimentação e nutrição: um modo de fazer. 3. ed. São Paulo: Metha, 2009. p. 33-40. ABREU, E. S.; SPINELLI, M. G. N.; ZANARDI, A. M. P. 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