9 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Joseli Quintana Tramujas A PSICOPEDAGOGIA E A APRENDIZAGEM NOS TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA CURITIBA 2010 10 A PSICOPEDAGOGIA E A APRENDIZAGEM NOS TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA CURITIBA 2010 11 Joseli Quintana Tramujas A PSICOPEDAGOGIA E A APRENDIZAGEM NOS TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA Trabalho de Conclusão de Curso (ou Dissertação) apresentada ao Curso de Psicopedagogia da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau (ou título) de Psicopedagoga. Orientador: Márcia Maria Loss de Carvalho CURITIBA 2010 12 TERMO DE APROVAÇÃO Joseli Quintana Tramujas A PSICOPEDAGOGIA E A APRENDIZAGEM NOS TRANSTORNOS DO ESPECTRO AUTISTA Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Especialista em Psicopedagogia no Curso de Psicopedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 18 de setembro de 2010 ____________________________________ Psicopedagogia Universidade Tuiuti do Paraná Orientadora: Prof. Márcia Maria Loss de Carvalho 13 AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço ao “Senhor”, meu Pai Eterno, que me ajudou a acreditar e a desenvolver minhas habilidades. Agradeço também por Ele ter colocado em meu caminho pessoas que me ajudaram e me apoiaram. Pessoas essas que fazem parte do meu dia a dia, assim como minha família; minhas filhas, que agüentaram o meu mau humor, meu stress e também as corridas a biblioteca para pegar livros, dos quais não fazem parte do seu universo. Ao meu esposo, que em dias ensolarados abriu mão de sair, para não me deixar sozinha, mesmo que eu estivesse atrás do computador. Agradeço a minha parceira de trabalho, minha coordenadora e amiga, que sem exitar em momento algum, me cedeu todo o material que possuía referente ao tema escolhido e me permitiu sair algumas vezes mais cedo do trabalho, para desenvolver minha pesquisa. E por fim, agradeço a minha querida amiga e orientadora que com toda certeza, foi um anjo que caiu em meu caminho, abriu as portas para o meu conhecimento, me dando oportunidades maravilhosas de compartilhar experiências fantásticas no mundo maravilhoso do Transtorno do Espectro Autista. Teve toda paciência do mundo em me orientar e corrigir meus erros de ortografia e concordância. A todos vocês o meu muito obrigada, por fazerem parte de mais essa conquista, da qual jamais achei que alcançaria. 14 “Temos que continuar a escrever, caminhar, servir e aceitar novos desafios até o fim de nossa própria história”. Gayle M. Clegg 15 SUMÁRIO RESUMO.............................................................................................................8 1.INTRODUÇÃO..................................................................................................9 2.HISTÓRICO....................................................................................................11 3.AATUAÇÃOPSICOPEDAGÓGICA................................................................17 3.1DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA...........................................................23 4. ABA - APLIED BEHAVIOR ANALYSIS (ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA).......................................................................................................28 4.1 O QUE É ABA? ...........................................................................................28 4.2 COMO A ABA É USADA PARA ENSINAR CRIANÇAS COM AUTISMO?.........................................................................................................30 4.2.1 Qual a maneira correta de usa a ABA?...................................................30 4.2.1.1.Comportamento Verbal .........................................................................31 4.2.1.2 Generalização .......................................................................................33 4.3 O QUE É DTT? ...........................................................................................33 4.4 Visão geral de um programa de ABA .........................................................34 4.4.1 Currículo ..................................................................................................34 4.4.2 Programas ...............................................................................................35 4.4.3 Estímulos .................................................................................................36 5. TEACCH – TREATMENT AND EDUCATION OF AUTISTIC AND RELATED COMMUNICATION HANDICAPPED HILDREN…………………………………38 5.1 OS OBJETIVOS DO TEACCH ....................................................................40 CONCLUSÃO....................................................................................................42 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS.................................................................43 16 LISTA DE ABREVIAÇÕES TEA - Transtorno do Espectro Autista ASA - Autism Society of American (Assoc. Americana de Autismo) ABA - Applied Behavioral Analysis (Análise do Comportamento Aplicada) TEACCH - Treatment and Education of Autistic and Related Communication Handicapped Children 17 RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo, através de uma revisão literária, discorrer como se processa a aprendizagem nos Transtornos do Espectro Autista (TEA). Trata-se de um estudo qualitativo, por meio de literatura pertinente ao tema. Foram pesquisados autores que abordam o Desenvolvimento Infantil, a Psicopedagogia e o Transtorno do Espectro Autista (TEA). É abordada a atuação do psicopedagogo diante de um processo investigativo de aprendizagem nos Transtornos do Espectro Autista (TEA) e os recursos que podem ser utilizados no desenvolvimento comportamental e cognitivo dessas crianças. Recursos esses apresentados e descritos como a ABA e o TEACCH, que tem como objetivo analisar e explicar a associação entre o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem. O TEACCH apóia o portador de autismo em seu desenvolvimento para ajudá-lo a conseguir chegar à idade adulta com o máximo de autonomia possível. Isto inclui ajudá-lo a compreender o mundo que o cerca através da aquisição de habilidades de comunicação que lhe permitam relacionar-se com outras pessoas, oferecendolhes, até onde for possível, condições de escolher, de acordo com suas próprias necessidades. Desta forma compreende-se que o psicopedagogo através de capacitação e orientação encontra-se apto a atuar no desenvolvimento cognitivo e comportamental dos portadores TEA. 18 1.INTRODUÇÃO O transtorno do espectro autista tem sido motivo de grande preocupação por parte de profissionais de diferentes áreas, por depender de fatores relacionados ao comportamento e sociabilidade. A pesquisa realizada teve o objetivo de discorrer como se processa a aprendizagem nos portadores do espectro autista (TEA). Como o psicopedagogo atua diante de um processo investigativo de aprendizagem nos Transtornos do Espectro Autista (TEA) percebe-se a necessidade de verificar quais os recursos que podem ser utilizados no desenvolvimento comportamental e cognitivo dessas crianças, uma vez que o psicopedagogo é visto como um detetive, assim afirma Edith Rubinstein, O psicopedagogo é visto como, um detetive que busca pistas, procurando selecioná-las, pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua meta é fundamentalmente investigar todo o processo de aprendizagem levando em consideração a totalidade dos fatores nele envolvidos, para, valendo-se desta investigação, entender a constituição da dificuldade de aprendizagem. (2009, p. 128). Desta forma pode-se perceber a importância do psicopedagogo no conhecimento da aprendizagem e desenvolvimento da criança, para que desta forma, tenha condições para atuar diretamente com os portadores do TEA. Vale ressaltar que o desenvolvimento da criança acontece passando por fases ou estágios, estes com crianças típicas acontece normalmente, ao contrario dos portadores do TEA, que necessitam da orientação e direção, para que possam atuar e desenvolver suas habilidades tornando-os mais auto-suficientes. Pensando nesse processo, foram apresentados nesta pesquisa alguns métodos os quais já são comprovados empiricamente sua eficácia. Cabe aos profissionais habilitados estudarem e capacitar-se o suficiente, para colocar em prática o processo de investigação que assim os compete, uma vez que os portadores do TEA possuem um distúrbio da comunicação e da interação social 19 muito intenso, dificultando desta forma sua aceitação por profissionais e até mesmo pela sociedade. Contudo o método ABA, como já mencionado é um programa que tem por objetivo trabalhar o comportamento dos portadores de TEA, ajudando-os no processo de orientação e organização das tarefas diárias, assim como no relacionamento social no meio em que vive. O programa TEACCH, apresenta sua proposta dando um referencial das coisas que irão acontecer e o que já aconteceu, pois se tratando de TEA, estes possuem muita dificuldade em perceber o que acontece do que já aconteceu. Tendo essa proposta como ferramenta de trabalho, percebe-se o psicopedagogo apto a trabalhar com portadores do TEA, uma vez que este se dedique e tenha o desejo de conhecer como se dá o processo de aprendizagem dos portadores do TEA. 20 2. HISTÓRICO O termo autismo vem do Grego Autós, significa algo como “por si mesmo” O Autismo é conhecido como um distúrbio do desenvolvimento humano que vem sendo estudado há pelo menos seis décadas. Em 1911, Bleuler usou pela primeira vez a expressão, “autismo” para apontar a perda de contato da realidade que decorria na comunicação. Em 1929, Melanie Klein apresenta para a psicanálise o “Caso Dick,” que descreve uma criança, considerada esquizofrênica na época, mas que apresentava sintomas autísticos diferenciados da esquizofrenia, a descrição foi considerada como referência por terapeutas durante algum tempo. Em 1943, o psiquiatra americano Leo Kanner, americano que trabalhava em Baltimore, nos Estados Unidos, descreveu um grupo de crianças em sua publicação intitulada “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo” (Autistic Disturbances of Affective Contact). As crianças investigadas por Kanner apresentavam dificuldades para se relacionarem com outras pessoas e situações desde muito pequenas. Possuíam falha no uso da linguagem e apresentavam um desejo obsessivo e ansioso para a manutenção da mesmice. Kanner acreditava que o autismo fosse causado por pais altamente intelectualizados, pessoas emocionalmente frias e com pouco interesse nas relações humanas. Em 1944, o pediatra austríaco Hans Asperger, sem ter nenhum conhecimento dos estudos de Kanner, descreve um artigo sobre crianças com características semelhantes ao autismo, ou seja, muita dificuldade na comunicação social, no entanto possuíam inteligência normal (GADIA, 2006, p. 423). 21 Ao contrário de Kanner, que via um prognóstico mais sombrio para estes pacientes, Asperger acreditava que eles responderiam melhor ao tratamento, possivelmente em função de que os pacientes descritos por ele apresentavam um rendimento superior ao daqueles descritos por Kanner. Coincidência ou não, os dois autores escreveram, na mesma época, trabalhando isoladamente, os sintomas da doença que hoje conhecemos como autismo infantil. Discordando do proposto por Kanner, Bender, em 1947, usou o termo esquizofrenia infantil, pois ele considerava o autismo como a forma mais precoce da esquizofrenia O Conselho Consultivo Profissional da Sociedade Nacional para Crianças e Adultos com Autismo dos Estados Unidos (salle, et al) define o autismo como uma síndrome que aparece antes dos trinta meses e que possui as seguintes características: distúrbios nas taxas e seqüências do desenvolvimento; distúrbios nas respostas a estímulos sensoriais; distúrbios na fala, linguagem e capacidades cognitivas; distúrbios na capacidade de relacionarem-se com pessoas, eventos e objetos. Contudo mais tarde com a evolução de pesquisas científicas pode-se saber que o autismo é considerado uma síndrome, definida por alterações presentes desde muito cedo, tipicamente antes dos três anos de idade, e que se caracteriza sempre por dificuldades na comunicação, na interação social e no uso da imaginação. Hoje existem instituições de amparo e assistencialismo aos portadores do TEA, uma delas e conhecida como a AMA – Associação de Amigos do Autista, que foi fundada em 1983, pelos pais de crianças autistas, que até então mal se conhecia 22 sobre a doença. A associação teve e tem a missão de proporcionar à pessoa com autismo uma vida digna: trabalho, saúde, lazer e integração à sociedade. Oferece à família da pessoa com autismo instrumentos para a convivência no lar e em sociedade e tende a promover e incentivar pesquisas sobre o autismo. Segundo a Autism Society of American Associação Americana de Autismo (ASA), O autismo é uma inadequacidade no desenvolvimento que se manifesta de maneira grave por toda a vida. É incapacitante e aparece tipicamente nos três primeiros anos de vida. Acomete cerca de 20 entre cada 10 mil nascidos e é quatro vezes mais comum no sexo masculino do que no feminino. É encontrado em todo o mundo e em famílias de qualquer configuração racial, étnica e social. Não se conseguiu até agora provar qualquer causa psicológica no meio ambiente dessas crianças, que possa causar a doença. (ASA 1978) Os sintomas geralmente são causados por disfunções físicas no cérebro verificado pela anamnese ou presente nos exames e entrevista com o sujeito. Segundo a ASA (1978) esses sintomas incluem: Distúrbios no ritmo de aparecimentos de habilidades físicas, sociais e lingüísticas. Reações anormais às sensações. As funções ou áreas mais afetadas são: visão, audição, tato, dor, equilíbrio, olfato, gustação e maneira de manter o corpo. Fala e linguagem ausentes ou atrasadas. Certas áreas específicas do pensar, presentes ou não. Ritmo imaturo da fala, restrita compreensão de idéias. Uso de palavras sem associação com o significado. Relacionamento anormal com os objetivos, eventos e pessoas. Respostas não apropriadas a adultos e crianças. Objetos e brinquedos não usados de maneira devida. Segundo Dr. Schwartzman o autismo é muito amplo podendo ser comparado com “a deficiência mental, outro conjunto de sinais e sintomas presentes numa série imensa de pessoas”, para ele ainda não existe o autismo, mas, um “espectro de desordens autísticas”, onde aparecem as mesmas dificuldades, mas, em graus de comprometimento diferentes. Ele caracteriza o autismo por três aspectos: Primeiro: são crianças que parecem não tomar consciência da presença do outro como pessoa. Segundo: apresentam muita dificuldade de comunicação. Não é que não falem, não conseguem estabelecer um canal 23 de comunicação eficiente. Terceiro: têm um padrão de comportamento muito restrito e repetitivo. (Acesso em 2010) O Diagnóstico deve ser uma investigação detalhada, onde a criança deverá ser acompanhada por um profissional competente e que entenda da síndrome do autismo . O autismo poderá estar associado a diversas síndromes como: Síndrome de Asperger, Síndrome X Frágil, Síndrome de Rett, Distúrbio Obsessivo – Compulsivo Deficiência mental - leve, moderada ou severa, etc. O diagnóstico ainda é uma etapa muito difícil, pois é feito com base em um quadro de comportamentos. Além desses aspectos específicos, a criança autista demonstra uma série de outros problemas não específicos, como medos, fobias, alterações do sono, alimentação e ataques de birra e agressão. Na ocorrência de retardo mental grave associado, é bastante comum a auto-agressão. Não existem exames que possam determinar objetivamente que uma pessoa é autista. Pode manifestar-se desde os primeiros anos de vida e quanto antes se iniciar o tratamento do autismo melhor serão os resultados. Conforme já mencionado anteriormente, o autismo foi estudado e descoberto através de pesquisas realizadas por Kanner. (assim como outros estudiosos). O que mais chamou a atenção desses pesquisadores foi a questão comportamental apresentada pelas crianças pesquisadas, sua dificuldade em relacionamento e comunicação. Desta forma novos estudos foram realizados como o intuito de compreender melhor essa síndrome e seus sintomas variáveis. Assumpção e Kuczynki (2007) relatam estudos das anormalidades genéticas causadas pelo autismo. Através das pesquisas apresentadas por Kanner estes 24 autores começam um estudo mais aprofundado com relação ao quadro caracterizado como o isolamento extremo, obsessividade, estereotipias e ecolalias. Novas alterações surgem associam-se ao autismo, o déficit cognitivo, deixando de ser considerado uma psicose para um distúrbio do desenvolvimento. Assim sendo o trabalho formulado define-se como transtorno global do desenvolvimento, ocorrendo antes dos três anos de idade, com critérios de alterações significativas na interação social, comunicação verbal e não-verbal. Mesmo com as pesquisas realizadas a etiologia do autismo ainda hoje é desconhecida, por mais que muitos estudos tentem desvendá-la. Alguns fatores sugerem as prováveis causas sendo estes apontados por Assumpção e Kuczynki (2007, p.18) como sendo: A alta associação com a deficiência mental; a alta incidência de convulsões nessa população; os níveis séricos aumentados de serotonina; o tamanho aumentado do encéfalo e a diminuição de neurônios e sinapses em amígdala, hipocampo e cerebelo. Segundo pesquisadores a investigação de fatores biológicos como um dos instrumentos em busca da compreensão da síndrome autística já se tornou evidente e deve continuar sendo exaustivamente pesquisada. Desde as descobertas realizadas por Leo Kanner, as atitudes e tratamentos com as crianças autistas mudaram muito. Novos pensamentos começaram a ganhar dimensões. Na visão deles o autismo era visto como uma desordem neurológica, ou seja, uma psicose. Com o passar do tempo e o aprimoramento das pesquisas o autismo passa a ser visto como um transtorno. Verifica-se que a criança autista tem grande dificuldade em reproduzir e criar fatos que não façam parte da sua realidade, tornando difícil para eles e para seus familiares ajudá-los. 25 Tendo essa preocupação, verifica-se a necessidade de perceber como os TEA, respondem a qualidade de vida. Estudos apontam que a qualidade de vida nas crianças é algo muito significativo, pois permite a eles condições de reconhecer o eu, e ao seu redor. Fator esse que com as crianças portadoras do TEA, não é atingido. Segundo Elias (2007, p.271) Qualidade de vida é algo bastante significativo na vida das crianças, pois permite a apreensão dos significados de sua vida. Porém o que se observa é que a saúde global das criança ainda recebe avaliações pouco satisfatórias; são escassos estudos sobre qualidade de vida na infância, ainda mais gritante no que se refere à qualidade de vida na criança autista. Em raros momentos foi estudada a qualidade de vida dos portadores de TEA, pelo fato de, em muitos casos, a comunicação ser ausente, Person (2000 apud Elias 2007) afirma ser: ... impossível estudar a qualidade de vida de modo direto em pessoas com autismo, especialmente em grupos nas quais a compreensão da fala está limitada ou ausente. Assim, para ele, medidas indiretas são essenciais para identificar a qualidade de vida nesse grupo. Quando se fala de qualidade de vida, fala-se do desenvolvimento da criança de forma que ela tenha situações de vida saudável e que dentro das possibilidades e limitações dela, seja feliz. Partindo do pressuposto que a criança precisa de uma qualidade de vida, estável e que permita a eles condições apropriadas para viverem inseridas na sociedade, propõem apresentar na pesquisa realizada alguns aspectos referentes à relação que a criança do TEA possui com aprendizagem. 26 3. A ATUAÇÃO PSICOPEDAGOGICA Pode-se afirmar que a Psicopedagogia é uma área interessada em investigar a relação da criança com a aprendizagem. Sendo assim esta relação pode configurar-se como problemática, em relação aos aspectos pedagógicos, psicológicos, afetivos e cognitivos. Por se tratar de uma área investigativa esse profissional deve criar condições para que o indivíduo desenvolva uma aprendizagem mais significativa, Bossa (1994, p.62) ressalta que “a psicopedagogia preventiva se baseia principalmente na observação e análise profunda de uma situação concreta”. Neste caso compete ao Psicopedagogo conhecer as características da criança com o TEA, para que este tenha condições de planejar uma intervenção que venha atingir as necessidades e os aspectos afetivos, cognitivos e comportamentais de seus clientes. Talvez esse profissional não tenha percebido ainda a riqueza dessa profissão, que além de ajudar no quesito aprendizagem, esse possui uma função bem especial que, segundo Bossa, (1994, p. 66) é “a de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta, dentro de um projeto social mais amplo”. Desta forma esse indivíduo pode se tornar inserido de maneira mais organizada em um mundo totalmente novo, pelo menos pra ele. Visto que a psicopedagogia usa muito a palavra intervenção, buscou-se o significado desta, no sentido de esclarecer melhor sua função. O dicionário informa que é o “ato de interpor”, consequentemente, interpor quer dizer, “por uma coisa entre outra”. Com isso fica claro que a psicopedagogia tem o papel de mediador, 27 aquele que está entre a dificuldade de aprendizagem e /ou comportamento com a expectativa de aprender e ter uma vida mais estruturada. Tratando de um sentido mais especifico, a intervenção é a interferência do profissional, onde realiza o processo de desenvolvimento do indivíduo. A intervenção tem como objetivo ajudar na compreensão, assimilação e orientação comportamentais, no caso dos portadores do TEA, introduzindo esse sujeito a novos elementos que poderão levá-lo a quebra de paradigmas. A intervenção psicopedagógica tem o objetivo de revelar um padrão de relacionamento com o mundo, diferente daquela vivenciada até o momento pelo indivíduo, que consequentemente poderá ser lançado ao aprendizado e integrandose a sociedade conforme suas condições o permitam. Vendo a psicopedagogia por essa perspectiva, ela nos projeta a uma análise e a uma reflexão da necessidade de perceber as angústias ali apresentadas, a estudar e pesquisar as condições que estão sendo requeridas nos aspectos relacionados com o desenvolvimento, cognitivo e/ou comportamental. A partir do momento em que o psicopedagogo percebe a aprendizagem como um processo de construção, onde se geram hipóteses, reformulações e a complexidade de fatores múltiplos, surgem inquietações e insatisfações, que nos permitem aceitar novos desafios convidando-os a sair da posição fria de mero expectador, para a de terapeuta que interage e busca maior entendimento e conhecimento referente ao indivíduo. Bossa (1994, p. 76) faz uma comparação ao psicopedagogo com um jogo de fichas, onde se requer atitude do profissional frente ao problema ali apresentado, diz ela: “Sei que a ficha simboliza um jogador – mas necessito negar – (para poder jogar), e então a ficha converte-se em um jogador e vejo na ficha uma 28 pessoa – não vejo mais a ficha – esqueço-me da noção de ficha” (apud Fernandez, 1990, p. 124). Se o terapeuta atuar dessa maneira no jogo, terá condições de perceber seu cliente e ajudá-lo a vencer seus obstáculos. Edith Rubinstein (2009, p. 128) confirma esse conceito quando diz que, O psicopedagogo é visto como, um detetive que busca pistas, procurando selecioná-las, pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua meta é fundamentalmente investigar todo o processo de aprendizagem levando em consideração a totalidade dos fatores nele envolvidos, para, valendo-se desta investigação, entender a constituição da dificuldade de aprendizagem. Quando o psicopedagogo perceber a importância de ser um terapeuta investigativo e participativo, ao desvendar o misterioso mundo das dificuldades de aprendizagem ou se tratando aqui especificamente do TEA, verifica-se a necessidade cada vez maior deste, investir na parceria da dinâmica do atendimento aos portadores do TEA. Ao se pensar na educação da criança autista, é preciso ter conhecimento sobre o padrão normal de desenvolvimento das demais crianças, e desta forma ser capaz de diferenciar o comportamento que seja decorrente do autismo. Sabendo que o indivíduo para aprender utiliza-se das estruturas do: organismo, corpo, estrutura simbólica e estrutura cognitiva, é importante abordar as características da ação psicopedagógica de não focar a patologia, mas os múltiplos aspectos que convergem na aprendizagem do indivíduo, o que se dará com a participação de conhecimentos próprios e a de outros campos do saber, o que amplia possibilidades deste olhar psicopedagógico. A psicopedagogia se destaca desta forma, por apresentar a questão da aprendizagem vista sob a ótica do indivíduo que aprende na sua forma peculiar de construir o seu conhecimento. Essa afirmação torna-se o ponto mais importante de toda essa pesquisa, pois é onde podemos unir a psicopedagogia ao autismo. 29 Pelo grau de comprometimento que muitos apresentam às propostas educativas para os indivíduos com TEA, estão mais focadas na modificação dos comportamentos, como se nada mais fosse possível ser feito para sua educação. Vendo por essa perspectiva, a abordagem a ser aplicada vai depender de cada caso, na medida em que a problemática aparece, “cada situação é única”, afirma Bossa (1994, p. 61) uma vez que a aprendizagem do indivíduo tem seu próprio contexto. E com certeza o terapeuta que se restringir a ser um mero aplicador de técnicas não será suficientemente educativo para conseguir resultados significativos e eficientes na sua atuação porque os autistas podem ser diferentes uns dos outros, desta forma cada caso exige uma adequação específica e concreta. Por se tratar de um trabalho com aspectos diferentes em seu procedimento é necessário ter metas norteadoras para que os terapeutas não se sintam perdidos em seus planejamentos e avaliações, pois respeitar essa individualidade não significa trabalhar sem metas a serem cumpridas. As metas propostas para o atendimento devem considerar os seguintes aspectos: Bastos • Promover o bem-estar emocional da pessoa autista, diminuindo suas experiências negativas de medo, ansiedade, frustração, incrementando possibilidades de emoções positivas de serenidade, alegria e auto-estima. • Promover a autonomia pessoal e as competências de auto-cuidado, diminuindo assim sua dependência de outras pessoas. • Aumentar suas possibilidades de comunicação, autoconsciência e controle do próprio comportamento. • Desenvolver habilidades cognitivas e de atenção, que permitam uma relação mais rica com o seu meio ambiente. • Aumentar a liberdade, espontaneidade e flexibilidade de suas ações, assim que estiver preparado. • Aumentar sua capacidade de assimilar e compreender as interações com outras pessoas, assim como sua capacidade de interpretar as intenções dos demais. • Desenvolver técnicas de aprendizagem, baseadas na imitação, aprendizagem de observação. • Diminuir aquelas condutas que trazem sofrimento para o próprio sujeito e para os que o rodeiam como as auto-agressões, ações destrutivas. • Desenvolver suas competências comunicativas. (apud Riviére 1997, p.128) 30 E para atingir essas metas o terapeuta deve atentar-se na individualidade de cada um e permear-se no processo terapêutico dessas crianças portadoras do TEA. Vejo o trabalho psicopedagógico como uma ferramenta para ajudar na organização e estrutura cognitiva e comportamental desses indivíduos. O relato apresentado no quadro abaixo, nos faz refletir no perfil de profissionais que desejamos ser: aquele que simplesmente faz por fazer ou aquele capaz de ajudar na compreensão das simples tarefas do dia a dia dos portadores do TEA? Quadro 1 “...Participar De Um Processo Educativo Extrapola A Aquisição De Conhecimentos Acadêmicos...”(BASTOS, 2005, p.129) “Prezados Senhores, Meu irmão Daryl, 18 anos, portador de deficiência mental severa, freqüenta escola há doze anos. Nunca foi atendido em nenhum outro ambiente. Recebe há vários anos atendimento no ensino especial e tem aprendido a fazer muitas coisas! Daryl pode agora, fazer muitas coisas que antes não conseguia: pode colocar 100 pinos num tabuleiro em menos de dez minutos, com 95% de exatidão; porém não consegue colocar moedas na máquina de refrigerantes; diante de instrução verbal, pode tocar o nariz, o ombro, a perna, o pé, os cabelos, a orelha; porém não consegue assoar o nariz quando necessário; pode armar um quebracabeça de 12 peças com 100% de precisão e colorir um desenho sobre a Páscoa dentro dos limites; porém prefere música, mas nunca o ensinaram a usar um radio de pilhas ou um toca disco; pode dobrar papéis em 4 partes iguais; porém não consegue dobrar a sua roupa; pode ordenar blocos de papel por cor em dez cores diferentes; porém, não pode separar a roupa branca da roupa colorida para lavar; pode fazer bonitos trabalhos com argila; porém não pode amassar a massa de pão e fazer biscoitos; pode enfiar contas coloridas alternadamente num fio, conforme o modelo apresentado num cartão, porém, não consegue amarrar os seus próprios sapatos; pode repetir o alfabeto e dizer o nome das letras quando lhe é pedido; porém, não consegue distinguir o banheiro masculino do feminino quando vamos ao McDonald’s; pode responder se um dia está nublado e até desenhar no quadro uma nuvem cinza; porém sai na chuva sem um abrigo ou guarda-chuva; pode contar até 100; porém não consegue contar o dinheiro para pagar o cachorro-quente pode sentar-se num círculo com comportamento adequado e cantar canções infantis; porém, nada mais próprio de sua idade é capaz de fazer Espero sinceramente, que alguém que se encontre na mesma situação de Daryl, tenha tido a oportunidade de aprender coisas diferentes.” Lewis, P. (1987). 31 Como esse irmão não compreende o comportamento de Daryl, muitos de nós também ficamos boquiabertos quando nos deparamos com situações semelhantes. Para não sermos surpreendidos, os autores abaixo nos remetem a uma reflexão de nossos conhecimentos e atitudes, quando eles afirmam: Fica evidente que ao trabalharmos com crianças portadoras do TEA devemos ter a preocupação com a generalização e manutenção das condutas aprendidas deve nortear os procedimentos pedagógicos, que também deve considerar a individualização dos processos de aprendizagem através das seqüências naturais desses processos, adequando as instruções verbais simples e de fácil compreensão para aquela situação. Não se pode também esquecer da “literalidade”, que normalmente os acompanha. As condutas são aprendidas quando usadas efetivamente numa variedade de situações onde sejam adequadas. Praticar uma conduta aprendida contribui para assegurar que o que aprendemos fará parte do nosso repertório comportamental. Portanto, basear o planejamento pedagógico nas necessidades do dia a dia, que se repetem no ambiente natural da criança ou do jovem é vital para conseguirmos algum sucesso. (BASTOS apud. Bereohff, Leppos e Freire 2005, p. 131) Diante de tantas informações e orientações de profissionais, familiares e dos próprios portadores do TEA, compete a nós profissionais, uma profunda reflexão do que temos, do que somos e do que queremos ser ao trabalhar com novos desafios. Inicialmente com a Psicopedagogia, após um reconhecimento e aproximação junto ao nosso paciente, temos dois recursos que nos auxiliam e com certeza ajudam na estrutura comportamental dos TEA. São esses recursos chamados de APLIED BEHAVIOR ANALYSIS (Análise Aplicada do Comportamento) – ABA e o TREATMENT AND EDUCATION OF AUTISC AND RELATED COMMUNICATION HANDICAPPED CHILDREN (Tratamento e Educação para crianças autistas e/ou com problemas relacionados com a comunicação) – TEACCH. Na sequência iremos apresentar os programas e de que maneira estes podem ajudar no desenvolvimento cognitivo e comportamental dos portadores do TEA. 32 3.1 DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA Uma vez visto que o papel do psicopedagogo é o de ser um investigador ou um mediador, parte-se do pressuposto que para tal função, é necessário conhecer um pouco mais sobre o desenvolvimento da criança, para então compreender o processo de desenvolvimento da aprendizagem da criança com TEA, construindo um trabalho terapêutico direcionado às suas necessidades mais especificas. Piaget apresenta, em seus estudos, como se dá o processo de desenvolvimento da criança: como pensa, aprende e se diferencia do adulto, consequentemente, tendo necessidades diferentes e que em momento algum podem ser tratados da mesma forma. Piaget afirma que: Deste ponto de vista, o desenvolvimento mental é uma construção contínua, comparável à edificação de um grande prédio que, à medida que se acrescenta algo, ficará mais sólido, ou a montagem de um mecanismo delicado, cujas fases gradativas de ajustamento conduziriam a uma flexibilidade e uma mobilidade das peças tanto maiores quanto mais estável se tornasse o equilíbrio. (PIAGET, 2001, p. 14) É, portanto, importante ressaltar que para o bom desenvolvimento da criança é necessário respeitar sua estrutura, para que essa construção não corra o risco de desmoronar no meio do caminho e venha a ter problemas no processo evolutivo. Falando da diferença entre a criança e o adulto, Piaget diz que a criança pode ser uma “pequena personalidade”, mas, para isso acontecer esta já é capaz de saber bem o que quer e como pode agir, podendo ser vista como esse edifício, estruturado e sólido. Contudo, para que essa criança chegue a esse nível, é porque passou pelos estágios de desenvolvimento descritos por Piaget (2001, p. 15): 1. O estágio dos reflexos, ou mecanismos hereditários, assim como também das primeiras tendências instintivas e das primeiras emoções. 2. O estágio dos primeiros hábitos motores e das primeiras percepções organizadas, como também dos primeiros sentimentos diferenciados. 3. O estágio da inteligência sensório-motora ou prática, das regulações afetivas elementares e das primeiras fixações exteriores da afetividade. 33 4. O estágio da inteligência intuitiva, dos sentimentos interindividuais espontâneos e das relações sociais de submissão ao adulto. 5. O estágio das operações intelectuais concretas e dos sentimentos morais e sociais de cooperação. 6. O estágio das operações intelectuais na sociedade dos adultos. Estes seis estágios de desenvolvimento dividem-se em quatro fases, sendo a primeira composta dos três primeiros estágios compatíveis aos níveis de lactância que corresponde a um ano e meio até dois anos de idade. A segunda fase corresponde ao quarto estágio, que abrange a idade de dois até sete anos, ou como ele classifica “primeira infância”. A terceira fase corresponde ao quinto estágio do desenvolvimento, que abrange as crianças de sete até onze - doze anos. E a última fase está presente no sexto estágio que é a adolescência. Cada estágio significa uma evolução na estrutura do desenvolvimento da criança, fazendo desta forma alterar seus comportamentos e necessidades específicas, Piaget pontua a seguinte questão como: A criança, como o adulto, só executa alguma ação exterior ou mesmo inteiramente interior quando impulsionada por um motivo e este se traduz sempre sob a forma de uma necessidade (uma necessidade elementar ou um interesse, uma pergunta, etc.). (2001, p. 16) Ou seja, a criança evolui conforme surge o desequilíbrio, desequilíbrio esse, que permite a maturação necessária para o desenvolvimento do indivíduo. Desta forma nas fases iniciais do desenvolvimento podem-se considerar as estruturas mentais como formas de equilíbrio onde cada ação é um avanço significativo no desenvolvimento humano. Assim, não é possível definir um limite para o desenvolvimento, nem tão pouco da pessoa, pois dependem das condições oferecidas pelo meio e do grau de apropriação que o sujeito fizer delas. As funções psíquicas podem prosseguir num permanente processo de especialização e sofisticação, mesmo atingindo a maturação. 34 A criança precisa realizar no seu desenvolvimento a conquista do mundo físico com o social. O mundo é percebido como uma sucessão de estímulos, que precisa ser organizado para ser entendido. E o trabalho da aprendizagem, consiste justamente em construir procedimentos que o levem a organizar esse mundo. Mesmo porque o mundo sofre mudanças constantes, mas, dentro dessas mudanças, há uma determinada permanência, como por exemplo: um carro se movimenta, mas continua sendo o mesmo carro, só mudou de posição. Todas essas modificações mantêm alguma coisa sem mudar, enquanto existe outra parte que muda. No desenvolvimento da criança um aspecto importante é entender essas transformações e ser capaz de encontrar um ponto de equilíbrio. Assim a criança vai aprendendo a formar categorias e classificá-las de acordo com suas semelhanças, e ordená-las em função de suas diferenças. Desta forma a criança começa a adquirir um sentido cada vez mais precioso e, paralelamente, aumentam as possibilidades de agir sobre ele. Esse pode ser considerado o processo normal do desenvolvimento, adquirido por um individuo sem limitações na sua aprendizagem e relacionamento com o outro. Nesse caso os portadores do TEA, se diferenciam, no quesito, percepção, porque esses não conseguem compreender as mudanças ditas naturais destas fases do desenvolvimento, eles precisam de ajuda, no sentido de orientá-los e prepará-los para tais mudanças. Enquanto o desenvolvimento e aprendizagem do indivíduo típico passa de uma fase para outra sem grandes traumas, os portadores do TEA, sofrem grandes conflitos, pela incapacidade de sozinhos associarem o que dependem de suas ações, com o que vem do exterior. 35 Segundo um autor desconhecido a “educação é um processo que possibilita uma articulação das capacidades de agir intelectualmente e pensar produtivamente”. Neste sentido, a missão do ensino é transmitir não o mero saber, mas uma cultura que permita compreender a condição do ser humano e o ajude a viver de maneira simples e autosuficiente. O autor (2010) afirma que O processo de aprender é bastante complexo, envolve vários fatores: variáveis cognitivas, afetivas, sociais, econômicas e até políticas. O ensinar envolve também inúmeras variáveis e pode ser considerado como uma aprendizagem de construção permanente do conhecimento. A capacidade de aprender está presente em todos os indivíduos sendo que para alguns ocorre uma relativa dificuldade de assimilação e manutenção de seu conhecimento, ligando o processo de absorção daquilo que se quer aprender a fatores muito mais relevantes do que o simples fato de necessitar fixar aquilo que é ensinado. Assim entende-se que o processo de aprendizagem é desencadeado a partir da motivação, onde o mesmo se dá no interior do indivíduo, estando, entretanto, intimamente ligado às relações de troca que o mesmo estabelece com o meio em que vive. (p. 3) Para poder compreender melhor como se dá o processo de aprendizagem dos portadores do TEA, é preciso ficar bem claro que (esses) possuem “um distúrbio de desenvolvimento complexo, que é definido como um ponto de vista comportamental”, segundo Gadia (2006). Esses indivíduos possuem dificuldades no que diz respeito ao comportamento e habilidades sociais. Para o autor ainda: Os comportamentos que definem o autismo incluem déficits qualitativos na interação social e na comunicação, padrões de comportamento repetitivos e estereotipados e um repertorio restrito de interesses sociais (GADIA 2006, p. 423). Desta forma é alterada toda a maneira desses indivíduos se relacionarem e até mesmo em sua aprendizagem, não podendo assim usar os mesmos recursos metodológicos com eles. Podemos sim, atingir os mesmos objetivos na educação dos TEA, mas, é necessário perceber que enquanto trabalhamos com indivíduos 36 típicos de forma simples e objetiva, com os TEA, precisamos nos atentar aos mínimos detalhes. Como já mencionado acima, os TEA necessitam de uma intervenção mais especifica. Segundo o autor os métodos de intervenção podem ser subdivididos em três grupos: Aquelas que usam modelos de analise aplicada do comportamento; os que são fundamentados em teorias de desenvolvimento; e aqueles que são fundamentados em teorias de ensino estruturado (GADIA, 2006, p. 429). As teorias do desenvolvimento são conhecidas como Floor Time e o de Intervenção do Desenvolvimento de Relações, é conhecido como RDI. O Floor Time foi desenvolvido por Stanley Greenspan, que utiliza o modelo no qual os pais, familiares e terapeutas, fazem o mesmo que as crianças estão fazendo. Ele acredita que as crianças autistas teriam um déficit no processamento entre afeto e intenção, consequentemente afetando as habilidades de planejamento motor, processamento auditivo e capacidade da linguagem. Nesse método exige-se um extenso tempo de dedicação e participação dos familiares, pois o programa consiste em brincadeiras e interações com a criança por cerca de 3 - 5 horas diárias. Em contrapartida o RDI, trabalha com os pais, baseando-se em pesquisas do desenvolvimento socioemocional. Este método parte do princípio que as crianças autistas teriam disfunções nas habilidades em compartilhar experiências e a capacidade de pensar. Ambos os métodos são usados, mas necessitam da comprovação empírica, pois indícios levam a crer que estes, apresentam efeito placebo. Já o método da Analise do Comportamento Aplicada (ABA) e o TEACCH, são os métodos dos quais serão mencionados no capitulo seguinte, tendo estes melhores resultados e eficácia comprovada. 37 4. ABA - APLIED BEHAVIOR ANALYSIS (ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA) Segundo Gadia (2006, p. 430) a ABA é “o foco de terapia comportamental é a conduta mais observada na criança, é o que nos permite compreender como o individuo aprende”. 4.1 O QUE É ABA? De acordo com o manual de treinamento da ABA traduzido em 2005 por Margarida Hofmann Windholz e colaboradores, Análise do Comportamento Aplicada (Applied Behavior Analysis; abreviando: ABA) é um termo advindo do campo científico do Behaviorismo, que observa, analisa e explica a associação entre o ambiente, o comportamento humano e a aprendizagem. Uma vez que um comportamento é analisado, um plano de ação pode ser implementado para modificar aquele comportamento. O Behaviorismo concentra-se na análise objetiva do comportamento observável e mensurável em oposição, por exemplo, à abordagem psicanalítica, que assume que muito do nosso comportamento deve-se a processos inconscientes. (Lembre-se de Freud!). Ivan Pavlov, John B. Watson, Edward Thorndike e B.F. Skinner foram os pioneiros que pesquisaram e descobriram os princípios científicos do Behaviorismo. São considerados os “Pais do Behaviorismo”. O livro de B.F. Skinner, lançado em 1938, “The Behavior of Organisms” (O comportamento dos organismos), descrevia sua mais importante descoberta, o Condicionamento Operante, que é o que usamos atualmente para mudar ou modificar comportamentos e ajudar na aprendizagem. 38 Condicionamento Operante significa que um comportamento seguido por um estímulo reforçador resulta em uma probabilidade aumentada de que aquele comportamento ocorra no futuro. Em português, isso significa que à medida que você vai levando a vida, vão lhe acontecendo coisas que vão aumentar ou diminuir a probabilidade de que você adote determinado comportamento no futuro. Por exemplo, se durante seu caminho para o trabalho você acena e sorri para o motorista do carro ao lado, e ele deixa que você atravesse na sua frente, você provavelmente vai tentar a mesma estratégia no dia seguinte. Seu comportamento de acenar e sorrir ficarão mais freqüentes, porque foi reforçado pelo outro motorista! Todos nós aprendemos através de associações e nosso comportamento é “modificado” através das conseqüencias. Tentamos coisas e elas funcionam; então as fazemos novamente. Tentamos coisas e elas não funcionam; então é menos provável que as façamos novamente. Nosso comportamento foi “modificado” pelo resultado ou conseqüência. Ao lado do Condicionamento Operante, Skinner pesquisou e descreveu os termos: SD (Estímulo Discriminativo = Discriminative Stimulus), Reforçador (Reinforcer), Controle de Estímulo (Stimulus Control), Extinção (Extinction), Esquemas de Reforçamento (Schedules of Reinforcement) e Modelagem (Shaping). Todos esses conceitos podem ser aplicados para trabalhar com uma vasta gama de comportamentos humanos. ABA é um termo “guarda-chuva”, descreve uma abordagem científica que pode ser usada para tratar muitas questões diferentes e cobrir muitos tipos diferentes de intervenções. Educação, especificamente Educação Especial para crianças com autismo, é uma das aplicações dessa ciência. 39 4.2 COMO A ABA É USADA PARA ENSINAR CRIANÇAS COM AUTISMO? Para ensinar crianças com autismo, ABA é usada como base para instruções intensivas e estruturadas em situação de um-para-um. Embora ABA seja um termo “guarda-chuva” que englobe muitas aplicações, as pessoas usam o termo “ABA” como abreviação, para referir-se apenas à metodologia de ensino para crianças com autismo. Um programa de ABA frequentemente começa em casa, quando a criança é muito pequena. A intervenção precoce é importante, mas esse tipo de técnica também pode beneficiar crianças maiores e adultos. A metodologia, técnicas e currículo do programa também podem ser aplicados na escola. A sessão de ABA normalmente é individual, em situação de um-para-um, e a maioria das intervenções precoces seguem uma agenda de ensino em período integral – algo entre 30 a 40 horas semanais. O programa é não aversivo – rejeita punições, concentrando-se na premiação do comportamento desejado. O currículo a ser efetivamente seguido depende de cada criança em particular, mas geralmente é amplo; cobrindo as habilidades acadêmicas, de linguagem, sociais, de cuidados pessoais, motoras e de brincar. O intenso envolvimento da família no programa é uma grande contribuição para o seu sucesso. 4.2.1 Qual a maneira correta de usar a ABA? Apesar de Lovaas ter sido o primeiro a usar as metodologias da ABA para ensinar crianças com autismo, desde então muitos psicólogos vêm fazendo muitas contribuições e refinamentos a essa abordagem. Como com qualquer ciência, a ABA continua a evoluir. 40 Muitas técnicas têm sido descobertas e tornado o ensino de ABA mais eficiente e efetivo ainda. Essas “práticas melhoradas” serão incorporadas no Programa “Ajude-nos a aprender” (“Help Us Learn”). Há muitas escolas, organizações e indivíduos que usam ou oferecem consultoria em metodologias do tipo ABA e cada um tem seu jeito próprio de aplicálas, mas todos usam os mesmos conceitos básicos (ou deveriam usar!). A ciência que apóia a intervenção – a Análise do Comportamento Aplicada – é a mesma; somente a maneira de aplicá-la varia! Pense em ABA fazendo uma analogia com tocar piano. Quando você aprende a tocar, pode tocar rock, música clássica, blues ou jingles. Os sons podem variar, mas todos eles usam a mesma metodologia básica e seguem convenções musicais aceitas por todos. 4.2.1.1.Comportamento Verbal Em 1958, Skinner publicou um livro chamado “O Comportamento Verbal” (edição brasileira lançada pelas editoras Cultrix/EDUSP, 1978, esgotada), que descreveu a aquisição de linguagem como outro tipo de comportamento humano influenciado pelo reforçamento. Skinner acreditava que nós aprendemos linguagem através de associações e reforçamento. Por exemplo, um bebê que emite sons de balbucio e gorjeio ao acaso, pode emitir o som “maa”, que será então reforçado por um sorriso e um abraço da mãe. Isso serviria para aumentar a probabilidade do bebê fazer o som “maa” de novo, esperando a mesma reação da mãe. Skinner acreditava que você associou o item “bala” com a palavra “bala” porque quando você fez aquele determinado som (bala), freqüentemente apareceria uma bala reforçando, assim, a associação entre o som “bala” e o objeto concreto. Assim 41 trabalha o Condicionamento Operante. Isso foi uma virada e tanto para a comunidade científica, cuja crença até então era que “a linguagem fosse autogerativa” e inata. Skinner criou um novo conjunto de termos para descrever as diferentes unidades funcionais da linguagem – “operantes verbais”. (Você pode ter ouvido alguns desses termos – Mando, Tato, Intraverbal, que foram todos cunhados por Skinner). Skinner acreditava que as pessoas precisariam aprender as associações para palavras em todas as suas categorias funcionais antes que pudessem realmente entender e usar a palavra como parte da sua linguagem. É interessante notar que, embora Skinner tenha usado o termo Comportamento Verbal (Verbal Behavior – VB), ele também é aplicável para pessoas que usam sistemas de linguagem de sinais ou comunicação aumentativa em vez de linguagem vocal. Hoje em dia você pode ouvir pessoas dizendo que estão fazendo “VB”, em oposição à “ABA”, como no exemplo a seguir: “nós fazíamos ABA, mas agora fazemos VB”. Por favor, lembre-se que eles não são diferentes. Comportamento Verbal refere-se ao ensino da linguagem seguindo os princípios da Análise do Comportamento Aplicada. Comportamento Verbal é ABA. Jack Michael, Mark Sundberg, James Partington, Vince Carbone e Patrick McGreevy são, atualmente, alguns dos mais respeitados psicólogos e pesquisadores no campo do Comportamento Verbal e ABA. Sundberg e Partington são coautores do livro “Teaching Language to Children with Autism or Other Developmental Disabilities” (Ensinando linguagem para crianças com autismo ou outras deficiências de desenvolvimento, ainda sem tradução em português), que é amplamente usado para orientar pessoas na estruturação de programas de Comportamento Verbal. O suplemento desse livro é o 42 “ABLLS” (pronunciado como “ables”, em inglês) que é a abreviatura de “Assessment of Basic Language and Learning Skills” (Avaliação de habilidades básicas de linguagem e aprendizagem). O ABLLS é um guia curricular, um método de avaliação e um instrumento para monitorar a aquisição de habilidades. 4.2.1.2 Generalização A meta do ensino é, obviamente, que o aprendizado adquirido na sessão de um-para-um, seja generalizado para situações mais cotidianas, como as de casa e da escola. Um bom programa de ABA sempre inclui a generalização do aprendizado. À medida que a criança progride pode tornar-se mais capaz de “aprender incidentalmente”, o que significa simplesmente assimilar linguagem ou conceitos ou habilidades que não são ensinadas diretamente em sessões individuais. Neste ponto, ele ou ela podem estar prontos para entrar em uma sala de aula ou em uma brincadeira em grupo onde haverá contato com outras crianças. Um bom currículo de ABA deve ter algum equilíbrio entre as atividades – trabalho de mesa, brincar, motora ampla, motora fina, etc; uma variedade de locações – sala de terapia, casa da família, quarto de dormir, carro, etc; e uma variedade de professores ou terapeutas. Tudo isso ajudará que a generalização das habilidades fique mais fácil. 4.3 O QUE É DTT? O Ensino por Tentativas Discretas (Discrete Trial Teaching – DTT) é uma das metodologias de ensino usadas pela ABA. Tem um formato estruturado, comandado pelo professor, e caracteriza-se por dividir seqüências complicadas de aprendizado em passos muito pequenos ou “discretos” (separados) ensinados um 43 de cada vez durante uma série de “tentativas”, junto com o reforçamento positivo (prêmios) e o grau de “ajuda 2” que for necessário para que o objetivo seja alcançado. Pense em aprender a jogar futebol – você não começou colocando um uniforme do seu time e apresentando-se como centro-avante. Provavelmente, começou aprendendo como chutar e controlar a bola com os pés. Então, depois que desenvolveu essas habilidades, começou a chutar a gol. Se foi sortudo, teve alguém – pai, mãe, um irmão mais velho – que lhe proporcionou muitas oportunidades para praticar (“tentativas!”), muito encorajamento (“reforçamento positivo!”) e que lhe ajudou a se posicionar corretamente para chutar a bola quantas vezes fosse necessário (“dando ajudas!”). É importante notar que apesar do termo “DTT” ser frequentemente usado como sinônimo de “ABA”, ele não o é. A ABA é muito mais abrangente e inclui muitos tipos diferentes de intervenções, estratégias de ensino e manejo comportamental. DTT é um método dentro do campo da ABA. 4.4 Visão geral de um programa de ABA Apresentamos aqui uma rápida visão geral dos elementos que compõem um programa de ABA 4.4.1 Currículo O currículo usado será dividido em uma série de categorias, ou “programas”, tais como habilidades de cuidados pessoais, habilidades sociais, habilidades de linguagem, habilidades acadêmicas etc, organizadas em níveis de dificuldade, de maneira que você comece com habilidades básicas, muito simples, e depois as use 44 para desenvolver as mais complexas. Os programas que você seleciona para trabalhar formam seu currículo: a) Programa de Linguagem Receptiva • Aponta para objetos quando solicitado • Segue instruções de um passo • Aponta para partes do corpo b) Programa Habilidades de Imitação • Imita ações motoras amplas • Imita ações motoras finas • Imita ações com objetos c) Programa Habilidades de Cuidados Pessoais • Tira as roupas • Usa colher e garfo • Usa o toalete 4.4.2 Programas Uma vez selecionados, os programas serão estabelecidos de maneira que todos saibam quais instruções dar, como apresentar os materiais que podem ser usados e qual resposta é aceitável. Há uma terminologia que geralmente é usada para ajudar nisso: a) Estímulo / SD • Conhecido e chamado de “SD” ou “Estímulo Discriminativo”. • A instrução inicial, a exigência, ou comando a ser dado. • Também conhecido como o antecedente. • Especifica a fala e/ou a apresentação dos materiais. b) Tentativa 45 • A seqüência completa de apresentar um SD, obter uma resposta (usando quantas dicas/ajudas forem necessárias) e o reforçar da resposta. • Unidade básica de um programa individual, que é praticada durante a sessão. c) Resposta • A(s) resposta(s) esperada(s) e aceitável(is). d) Reforçador • “Estímulo reforçador” abreviado para “SR+” • Também conhecido como reforçamento ou conseqüencia. • A conseqüencia que segue imediatamente a resposta da criança. e) Ajudas/ Dicas • Estímulos ou dicas suplementares dadas pelo professor. • Usadas antes ou durante a execução do comportamento. 4.4.3 Estímulos Uma lista de palavras ou ações, uma coleção de materiais, itens, etc. que estão sendo usados para determinado programa (por exemplo: figuras de animais, lista de palavras para praticar, conjunto de blocos de montar, cartões de pistas). a) Aula • O tempo de atividade gasto trabalhando com a criança no seu programa. • Também chamada “sessão” por pessoas que preferem usar linguagem terapêutica. b) Domínio • Os critérios que determinam quando a criança aprendeu a habilidade e está pronta para seguir em frente. 46 • A maioria das pessoas está adotando o critério de “fluência” (100% correto e rápido) das pesquisas de Comportamento Verbal. • Outras pessoas podem preferir permanecer com o tradicional “80%, ou melhor, em três sessões sucessivas de dez tentativas cada”. c) Dados • Registrar simplesmente como a criança age em cada tentativa. A resposta de uma criança a cada SD pode ser: - correta (indicada por um „+‟ou um „V‟) - incorreta (indicada por „-„ ou um “x”) - sem resposta (indicada por um NR /SR) - Aproximação muito próxima (indicada por um „A‟ ou você pode encontrar „S‟, para Aproximação Sucessiva) • Anotar dados e monitorar o progresso é uma parte vital da ABA. Se você não tiver uma visão clara e acurada de como a criança está, você pode correr o risco de frustrar e aborrecer a criança e você não vai saber quando está na hora de mudar para um novo programa. d) Método • Descreve qualquer apresentação especial de material, lugar ou estrutura usada. 47 5. TEACCH – TREATMENT AND EDUCATION OF AUTISTIC AND RELATED COMMUNICATION HANDICAPPED CHILDREN – (TRATAMENTO E EDUCAÇÃO PARA AUTISTAS E CRIANÇAS COM DÉFICITS RELACIONADOS À COMUNICAÇÃO) Em 1972 a Assembléia da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, aprovou a legislação que criava a Divisão para o tratamento e educação de crianças autistas e portadoras de problemas de comunicação correlatos dentro do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, Estados Unidos. Este programa que recebeu o nome de TEACCH foi inicialmente um programa estadual de serviços para crianças autistas e com problemas de comunicação correlatos e seus familiares visando também o esclarecimento da comunidade local para a compreensão de pessoas com este tipo de problemas. A origem do TEACCH remonta ao início da década de 60 quando foi montado um grupo no Departamento de Psiquiatria da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill para atender crianças portadoras de autismo, ou psicose infantil como era mais comum na época. Este grupo atuava a partir da de uma visão psicanalítica, oferecendo liberdade total às crianças e terapia aos pais destas para tentar modificar sua relação com os filhos, que segundo eles seria a causadora de seus distúrbios. Esta era a visão que se tinha de autismo na época, acreditando-se que a criança autista, devido a problemas causados pelos pais, embora tivesse toda sua capacidade intacta, se recusava executar qualquer tarefa sendo por isso classificada como “intestável”. 48 Em 1967, Alpern comprovou através de suas investigações científicas, não só que as crianças eram testáveis, mas também que à medida que baixava-se o nível de dificuldade dos testes aplicados diminuía o negativismo da criança e seus problemas de comportamento. Quando Eric Schopler se juntou ao grupo, descontente com os resultados obtidos, solicitou verba federal ao Instituto Nacional de Saúde Mental para poder testar as suas idéias. Schopler acreditava na base neurológica do autismo. Não encontrou através de seus estudos nenhuma diferença substancial entre os pais de crianças autistas e os demais pais (Schopler e Reichler, 1972), portanto propõe uma abordagem diferente que consistia basicamente em uma proposta individualizada de ensino contando com os pais como co-terapeutas. Schopler também demonstrou que ambientes estruturados eram mais positivos na adaptação destas crianças (Schopler, Bhehm, Kinsbourne e Reichler, 1971). Na medida em que a ciência foi avançando e mais estudos foram sendo realizados, as teorias que culpavam os pais foram caindo, a educação foi assumindo um papel cada vez mais importante no tratamento do autismo e os pais, além de coterapeutas, foram também ocupando um papel político importante na luta pelos direitos de seus filhos. O programa TEACCH, nos Estados Unidos, tem recebido reconhecimento nacional e internacional e é visto por um grande número de pessoas como um modelo de serviços, treinamento e pesquisa de excelência. Em 1972 o programa recebeu o Gold Achievement Award da Associação Americana de Psiquiatria “pelo estabelecimento de pesquisas produtivas sobre distúrbios de desenvolvimento e implementação de sua efetiva aplicação clínica”. 49 A publicação do Instituto Nacional de Saúde Mental, Families Today, em sua edição para a Conferência Nacional da Casa Branca em 1980 sobre a família, descreveu o TEACCH como o programa de abrangência estadual para crianças autistas, mais efetivo dos Estados Unidos. A divisão de patologias da infância da Associação Americana de Psicologia reconheceu o TEACCH como programa modelo nacional em serviços dirigidos a crianças e seus familiares. O TEACCH tem sido agraciado com um grande número de premiações tanto para os serviços de atendimento quanto aos de treinamento. 5.1 OS OBJETIVOS DO TEACCH O objetivo máximo do TEACCH é apoiar o portador de autismo em seu desenvolvimento para ajudá-lo a conseguir chegar à idade adulta com o máximo de autonomia possível. Isto inclui ajudá-lo a compreender o mundo que o cerca através da aquisição de habilidades de comunicação que lhe permitam relacionar-se com outras pessoas, oferecendo-lhes, até onde for possível, condições de escolher de acordo com suas próprias necessidades. A meta fundamental é o desenvolvimento da comunicação e da independência e o meio principal para isto é a educação. A avaliação é a ferramenta para a seleção de estratégias, que deverão ser estabelecidas individualmente. O TEACCH desenvolveu o PEP – Perfil Psicoeducacional em 1976 por Schopler e Reichler, com a finalidade de avaliar habilidades e défictis de crianças portadoras de autismo, assim como seu nível de desenvolvimento em 9 diferentes áreas funcionais e comportamentos incomuns em 4 áreas de patologia. O TEACCH ao contrário de métodos comportamentais não ataca os problemas de comportamento diretamente, mas tenta analisar e eliminar as suas 50 causas, procurando indicar visualmente ao estudante quais tarefas serão realizadas, é o instrumento de apoio para ensinar o que vem antes, o que acontece depois, proporcionando o planejamento de ações e seu encadeamento numa seqüência de trabalhos. Este pode ser apresentado com diversas formas, por exemplo: – Com objetos – Com figuras (desenhos ou fotos) – Figuras e descrições – Por Escrito Resumidamente o TEACCH ajuda nas tarefas que devem desenvolver a capacidade para realizar atividades de forma independente,estabelecer relação causa-efeito, noção de sequência(início / meio / fim). São individuais e devem informar ao estudante : Qual é a atividade O quanto deve trabalhar (quantas vezes, quanto tempo) Como saber que terminou e o que fazer depois de terminada a tarefa O que vem depois São ensinados primeiramente nas sessões individuais e após apresentar domínio na realização passará a fazê-los de forma sistemática e independente. 51 CONCLUSÃO Por se tratar de uma pesquisa qualitativa e descritiva, esta não se encontra totalmente concluída, uma vez que faltam alguns dados e informações, que permita uma conclusão clara e objetiva. Por hora pode-se afirmar que todos nós, psicopedagogos, temos condições para trabalhar com os portadores do TEA, uma vez que estejamos aptos a desenvolver nosso instinto investigativo, pois nunca um TEA vai ser igual ao outro, ou seja, o que pode resultar positivamente para um, para o outro pode não obter sucesso algum. No entanto compete aos psicopedagogos não desistir, mas sim, explorar e investigar todas essas diferenças, permitindo a esses indivíduos mais autonomia e consequentemente uma interação social suficiente para uma boa qualidade de vida. Se o terapeuta atuar dessa maneira no jogo, terá condições de perceber seu paciente e ajudá-lo a vencer seus obstáculos. Edith Rubinstein (2009, p. 128) confirma esse conceito quando diz que, O psicopedagogo é visto como, um detetive que busca pistas, procurando selecioná-las, pois algumas podem ser falsas, outras irrelevantes, mas a sua meta é fundamentalmente investigar todo o processo de aprendizagem levando em consideração a totalidade dos fatores nele envolvidos, para, valendo-se desta investigação, entender a constituição da dificuldade de aprendizagem. Acredito não ter ouvido definição melhor do que está para o psicopedagogo atuante e perseverante. Podemos sim fazer a diferença desde que estejamos atentos as necessidades advindas por nossos pacientes. A Psicopedagogia ainda não é reconhecida no Brasil como gostaríamos que fosse, mas, nada nos impede de atuar com conhecimento e fundamentados nas necessidades relatados por indivíduos que buscam por esse auxílio. 52 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS – AMA ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS http://www.ama.org.br/html/apre_curs.php?modo=func|offl DOS AUTISTAS ACESSO EM 06/09/20010. ASSUMPÇÃO JUNIOR, Francisco Baptista. KUCZYNSKI, Evelyn. Anormalidades Genéticas e Autismo Infantil. In: ______. Autismo Infantil: Novas Tendências e Perspectivas. São Paulo: Atheneu, 2007. p.17-41. Autism Society of American = Associação Americana de Autismo. ASA (1978). http://www.autismo.com.br/site.htm. Acesso em 26/08/2010. BARBOSA, Laura Monte Serrat. A Psicopedagogia e o momento do aprender. São José dos Campos. Pulso, 2006. 140 p. BASTOS, A M B P. A PSICOPEDAGOGIA APLICADA AOS PORTADORES DE T.I.D. In: CAMARGOS. 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Aprendizagem e Autismo. In: ROTTA, N. T. OHLWEILER, L. RIESGO, R.S. Transtornos da Aprendizagem: Abordagem Neurobiológica e Multidisciplinar. Porto Alegre. Artmed, 2006. P.423-434. CLEGG, Gayle M. A História Terminada. A Liahona, São Paulo, p.14, maio, 2004. Http://PT.shvoong.com/social-sciencies/education/1780139-processoaprendizagem/. Acesso em 04/09/2010. LEAR. K. Help Us Learn: A Self-Paced Training Program for ABA: Training Manual. Um Programa de Treinamento em ABA (Análise do Comportamento Aplicada) Toronto, Ontário – Canadá, 2a edição, 2004, 152p. PIAGET, J. A equilibração das estruturas cognitivas-problema central do desenvolvimento. Rio de Janeiro. Zahar, 1975. PIAGET, J. Seis estudos de Psicologia. Tradução Maria Alice Magalhães D‟Ámorim e Paulo Sérgio Lima Silva. 24 ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001. p.14-16. RIESGO, R.S. Transtornos da Aprendizagem: Anatomia da aprendizagem. In:_________. 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