O SR. INOCÊNCIO OLIVEIRA (PR/PE pronuncia o seguinte discurso.) – Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados: No último dia 16 de maio, reuniram-se em Ikaterimburgo, Rússia, os chanceleres do Brasil, Rússia, China e Índia para discutirem sistemas de defesa, metas de desenvolvimento econômico-social e produção de biocombustíveis. E esta reunião-cimeira e foi importantíssima porque mostrou a identificação dos cinco países (inclusive África do Sul) com problemas comuns de nações emergentes que buscam alternativas de progresso econômico com a redistribuíção de renda, a luta anti-inflacionária e a elevação dos padrões de vida de suas populações nos planos social, educacional e sanitário. Os países ricos – os “8” – estão preocupados com a crise de alimentos e de combustíveis e com os níveis de crescimento dos seus PIB’s, abaixo de 2% (alguns deles), quando os chamados “emergentes” vêm crescendo a um ritmo de 7% a 10% a.a. A União Européia – os “27” hoje reunidos em Bruxelas, com a incorporação de países do Leste europeu – reagem, no plano teórico, a duas posições: 1ª) a decisão do governo dos Estados Unidos de destinarem 20% da sua produção nacional de milho para a produção de etanol, retirando parte das safras normais, parte dos seus estoques estratégicos controlados pela CCC – Credit Commodity Corporation, entidade que, há muitos anos, financia os agricultores norte-americanos e exerce funções parecidas às da nossa CONAB e dos bancos oficiais brasileiros; 2ª) a produção brasileira extensiva de cana-de-açúcar, sob o argumento de que está sendo feito o desmatamento de áreas da Amazônia para a produção de etanol, a tal ponto que a União Européia já nos mandou um “aviso”: vai querer um acordo bilateral sobre etanol, caso o país queira exportar o produto para alguns ou algum dos “27”. Caso essa vertente exportadora brasileira se concretize para a União Européia, eles pretendem nos enviar uma missão de monitoramento, como ocorre no caso da carne bovina. A preocupação européia decorre do seu interesse em atingir 10% do consumo de etanol pela sua frota até 2020. Mas há uma forte corrente de ecologistas, no Parlamento europeu, que usa o velho “clichê” de biocombustíveis x alimentos, como se o Brasil, com a sua extensão territorial – o caso também da Rússia, China, África do Sul, Índia – e grande potencial de terras agricultáveis não pudesse, simultaneamente, como bem assinalou o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, produzir alimentos e produtos destinados à produção de biocombustíveis. A França e a Alemanha defendem critérios rigorosos frente aos produtores de biocombustíveis – em particular o etanol – temerosos da redução de alimentos e do desmatamento das florestas tropicais e subtropicais. Isto ficou demostrado durante a recente visita da Chanceler Alemã ao Brasil. A França vai mais longe: inclui, entre as exigências, a adesão ao Protocolo de Kyoto – o que o Brasil foi dos primeiros países a fazer – e mais as convenções contra o trabalho infantil e a liberdade sindical, exigências superados há muitos anos pelo nosso país, líder na defesa dos direitos humanos e signatário das convenções internacionais de trabalho. Recentemente, em Hokkaido, no Japão, os 8 países mais desenvolvidos repisaram a questão da produção de alimentos x biocombustíveis. E o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, convidado, reiterou que uma coisa não interfere com outra em países de grande extensão territorial, como são o Brasil, a Rússia e a China (esta, por sinal, hoje a primeira importadora mundial da soja brasileira em grãos). Também a produção de cana-de-açúcar no Brasil não vem ocupando espaços da agricultura familiar, pois sua produtividade tem aumentado, inclusive no Nordeste, saindo das modestas 50t de cana por hectare para 70t, 80t e até 100t em algumas sub-regiões do Nordeste canavieiro, à conta da introdução de novas variedades resistentes às pragas e, também, mais ricas em sacarose. A cana-deaçúcar, no caso de Pernambuco, ocupa apenas 30% da Zona da Mata, região acidentada, com aclives acima de 20%, o que não permite uma mecanização mais efetiva. Do ponto de vista social, a atividade beneficia, na atualidade, 100.000 famílias nos municípios canavieiros. Era isto que eu tinha a dizer. Muito obrigado! Sala das Sessões, em 09 de julho de 2008. Deputado INOCÊNCIO OLIVEIRA 2º. Vice-Presidente