O SENHOR LUIZ BITTENCOURT (PMDB-GO). Pronuncia o seguinte discurso: Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, são indiscutíveis os méritos do projeto brasileiro de produção de biocombustíveis, especialmente no que se refere ao etanol, que é renovável e apresenta baixos níveis de poluição. A repercussão positiva do programa já ganhou escala mundial, atraindo a atenção das nações que se preocupam com o futuro do planeta. Sucessivos relatórios de organizações ambientalistas e a própria ONU aprovam e recomendam a disseminação de biocombustíveis como alternativa limpa e qualitativamente mais viável do que petróleo. Diante de toda essa boa recepção internacional ao projeto de biocombustível, causou estranheza a posição assumida pelo presidente de Cuba, Fidel Castro, que vem condenando sistematicamente o programa brasileiro com argumentos dos mais disparatados. Em novo artigo publicado na imprensa de seu país, o sétimo em dois meses, o velho ditador cubano ataca o cultivo de cana-de-açúcar destinado à fabricação do etanol e denuncia as condições degradantes de trabalho nas lavouras. No texto, o antiquado líder cubano, que se recupera de cirurgia no intestino realizada há nove meses, comenta o documentário Bagaço, que a brasileira Maria Luisa Mendonça apresentou no recente VI Encontro Hemisférico contra os Tratados de Livre Comércio. Ele se lança com sofreguidão a uma cruzada santa contra o etanol, afirmando que é necessário desmistificar a propaganda sobre os supostos benefícios dos agrocombustíveis. Fidel disse que, no caso do etanol, o cultivo e processamento da canade-açúcar contaminam os solos e as fontes de água potável por utiliza grande quantidade de produtos químicos. Nos artigos anteriores, o ditador cubano lançou fortes críticas à política americana de produção de biocombustíveis de diferentes ângulos. O ataque agora ditador atingiu diretamente o Brasil, principal sócio dos Estados Unidos na empreitada dos biocombustíveis. “El comandante” quer assumir o combate à produção de etanol na América Latina como bandeira de sua política internacional pósconvalescença. Fidel lembra que ele próprio nasceu em meio a cultivos semelhantes, que considera insalubres. Embora essa realidade há muito seja conhecida na ilha, só agora o ditador encontrou um motivo para tirar as travas dos olhos e convenientemente denunciar o trabalho duro nas lavouras, agravado pela falta de equipamentos de proteção e pelo risco do manejo de facões. Não resta dúvida que comportamento de Fidel é pautado por questões ideológicas fora de moda. Com um discurso de defesa de um modelo socialista anacrônico e fortemente marcado pelo exacerbado antiamericanismo que perdeu a razão de ser depois do fim da Guerra Fria, o presidente cubano se coloca na contra-mão da história. O biocombustível não tem cor ideológica e é, efetivamente, uma alternativa moderna de energia, que, além do custo e das fontes renováveis, alia geração de novos empregos e respeito ao meio ambiente. O governo brasileiro faz muito bem em ignorar a catilinária de Fidel Castro e defender o programa de etanol no âmbito exclusivamente técnico, como o fez durante a recente cúpula sul-americana de energia, na Venezuela. O debate público sobre o assunto com figuras como Fidel Castro, Hugo Chaves e Evo Morales acabaria numa discussão política, como já ocorre com Cuba, Venezuela e Bolívia em relação aos Estados Unidos. O Brasil está na direção certa ao não ideologizar o tema do biocombustível. O momento é rico em oportunidades para o país, que se consolida com potência emergente e principal interlocutor dos países desenvolvidos na América Latina. A hora é de abrir e não de fechar a porta aos mercados que passaram a nos procurar em busca de tecnologia ecologicamente correta. Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente. Muito obrigado.