Questionário - Proficiência Clínica Área: Coagulação Rodada: Ago/2012 Tema Elaborador EXAMES BÁSICOS DE COAGULAÇÃO Ricardo Rosenfeld. Patologista Clínico (FMUSP), Mestrado (UNIFESP), Médico do Laboratório Central (HSP-UNIFESP) Texto Introdutório Os testes de coagulação mais realizados em laboratórios hospitalares são o tempo de protrombina (TP), o tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA), a dosagem de fibrinogênio e a dosagem de dímero D. O sangue deve ser colhido por punção venosa com mínimo trauma de preferência em membro que não esteja recebendo nenhum tipo de infusão endovenosa. Evita-se a coleta do primeiro tubo e após tubos com anticoagulantes (EDTA, heparina, etc). Estas medidas têm como objetivo diminuir erros pré-analíticos como a ativação da coagulação e a presença de interferentes. O sangue deve ser colhido em tubo contendo citrato de sódio na proporção ideal de 9:1 e homogeneizado por cerca de 10 inversões. O citrato remove o cálcio do plasma e impede a coagulação. A desproporção por coleta de volume inadequado, além de amostras com desproporções relativas de plasma como a anemia intensa (hematócrito diminuído) e, principalmente, a eritrocitose ou poliglobulia (hematócrito aumentado) podem modificar a quantidade ideal de cálcio plasmático removido pelo citrato. O sangue é centrifugado em velocidade e tempo suficientes para a formação do plasma pobre em plaquetas (PPP) no sobrenadante, idealmente com menos de 10.000 plaquetas/µL. Deve se evitar grandes variações de temperatura: o resfriamento ativa o fator VII e o aquecimento inativa os fatores V e VIII. A análise do TP e, principalmente, do TTPA, de modo crítico quando este estiver medindo a ação anticoagulante da heparina, deve ser prontamente realizada evitando a liberação de fatores plaquetários. O TP e o TTPA são tempos de recalcificação do plasma citratado. Avaliam conjuntamente vários fatores da coagulação por vias de ativação diferentes. A ativação do TP é feita pela tromboplastina (fosfolípide com ação de fator tecidual) e a ativação do TTPA é feita pela cefalina (fosfolípide com ação de plaquetas) e pelo fator de contato, que pode ser o caulim, a sílica ou o ácido elágico. O TP avalia a “via extrínseca” (VII) e o TTPA avalia a “via intrínseca” (XII, XI, IX, VIII). Tanto o TP quanto o TTPA avaliam a “via final comum” (X, V, II e I) após adição do cloreto de cálcio. Curiosamente, o fator XIII, um fator estabilizador dos polímeros de fibrina, atua após o início da formação do coágulo e não é avaliado. Os tempos que resultam das análises dos pacientes são comparados aos tempos normais determinados por cada laboratório, de preferência, a partir de resultados de, pelo menos, 20 indivíduos saudáveis. De modo geral, o TP normal é de 10 a 14 segundos e o TTPA normal é de 25 a 35 segundos, dependendo do método utilizado. Os resultados são também informados na forma de relações normalizadas ( R = TEMPO paciente / TEMPO normal ) que, em amostras normais, se aproximam de 1,0. No caso do TP, a relação normalizada é corrigida pelo índice de sensibilidade internacional (ISI) que padroniza a atividade das várias tromboplastinas de diferentes origens, resultando na relação normalizada internacional (RNI): RNI = ( TP paciente / TP normal )ISI Quando há deficiências de um ou mais fatores de coagulação, menos de 40% de atividade, o tempo se prolonga e a relação aumenta. De modo geral, na deficiência de vários fatores, o TP se altera de modo mais significativo que o TTPA: diminuição da produção nas hepatopatias, deficiência de vitamina K (os fatores II, VII, IX e X são produzidos na presença da vitamina K) e aumento do consumo na coagulação intravascular disseminada (CIVD). Na deficiência isolada de um fator, apenas o tempo no qual o fator faz parte da via ativada se altera: as hemofilias A (deficiência genética do fator VIII) e B (deficiência genética do fator IX) e a doença de von Willebrand grave (tipo 3 com deficiência secundária de fator VIII) alteram apenas o TTPA. Curiosamente, o TTPA pode estar prolongado em pacientes com trombose na presença do “anticoagulante lúpico”. Nesta trombofilia adquirida são descritos anticorpos anticardiolipina (síndrome antifosfolipídica) que interferem com a ativação pela cefalina “in vitro”. Ocasionalmente pode-se realizar um “teste de mistura” ou “50:50” para ajudar a interpretação de tempos prolongados, principalmente no caso do TTPA. A mistura em partes iguais de um “pool” de plasma normal com o plasma teste com TTPA prolongado aumenta a concentração de todos os fatores, inclusive os deficientes, para pelo menos 50% de atividade normalizando o TTPA. Na presença dos chamados inibidores, o TTPA não normaliza ou normaliza e, após incubação por 2 horas à 37ºC, se prolonga novamente. Isto ocorre na presença de anticorpos inibidores que dependem de tempo e temperatura adequados para sua ação. O TP e o TTPA, além de serem utilizados no diagnóstico dos sangramentos, como nos exemplos acima, são também utilizados na monitorização terapêutica dos anticoagulantes. A varfarina, um anticoagulante oral antagonista da vitamina K, prolonga o TP de modo que a RNI deva ser, de modo geral, entre 2,0 e 3,0. A heparina não fracionada (HNF), um anticoagulante parenteral potencializador da ação da antitrombina, prolonga o TTPA de modo que a R deva ser, de modo geral, entre 1,5 e 2,5. As novas heparinas de baixo peso molecular (HBPM) são controladas por testes mais específicos que avaliam a atividade do fator X. Página 1 de 4 Questionário - Proficiência Clínica Área: Coagulação Rodada: Ago/2012 A dosagem de fibrinogênio (fator I) é feita pela medida do tempo de coagulação do plasma após adição da trombina em altas concentrações. A trombina atua diretamente no fibrinogênio transformando-o em fibrina que se polimeriza e coagula o plasma. Uma curva de calibração correlaciona de modo inversamente proporcional o tempo de coagulação em segundos com a concentração do fibrinogênio em mg/dL, ou seja, quanto maior o tempo de coagulação, menor a concentração do fibrinogênio. Como o fibrinogênio é uma proteína de fase aguda, nos estados inflamatórios a sua concentração aumenta. A coagulação intravascular disseminada grave é uma causa da hipofibrinogenemia por consumo e sangramentos. Os sangramentos graves devido à deficiência de vários fatores de coagulação (TP e TTPA com relação maior que 1,5) são, em geral, tratados com a reposição dos fatores pelo plasma fresco congelado, enquanto que, os sangramentos graves devido à deficiência de fibrinogênio (fibrinogênio menor que 100 mg/dL) são, em geral, tratados com reposição de fibrinogênio pelo crioprecipitado. Os sangramentos de deficiências isoladas de um fator como hemofilias e doença de von Willebrand são, em determinados casos, tratados com reposição do fator pelos concentrados específicos. A dosagem do dímero D é feita, atualmente, por métodos imunológicos mais sensíveis e precisos que as determinações dos produtos de degradação da fibrina (PDF) utilizadas no passado. O dímero D circula em quantidades aumentadas quando há ativação da coagulação e fibrinólise, sendo um útil “indicador” de tromboembolismo (TVP – trombose venosa profunda e EP – embolia pulmonar), embora inespecífico. Sua utilidade prática em situações de urgência tem sido excluir um evento de tromboembolismo quando sua dosagem no sangue é normal (valor preditivo negativo). É, também, um importante marcador da coagulação intravascular disseminada. Questão 1 Questão 2 Questão 3 Questão 4 Questão 5 Qual das alternativas a seguir possibilita um erro pré-analítico na coleta do coagulograma? 1. Punção venosa sem trauma em membros que não recebem infusão endovenosa; 2. Coletar o sangue no tubo com citrato de sódio após a coleta da gasometria e antes da bioquímica; 3. Homogeneizar prontamente o sangue com o anticoagulante com várias inversões do tubo; 4. Encaminhar o tubo prontamente para o laboratório evitando a ativação das plaquetas e dos fatores de coagulação. Qual das alternativas a seguir é incorreta em relação à ação do citrato de sódio? 1. A proporção entre sangue e citrato de sódio deve ser 9:1; 2. A ação anticoagulante é devida à remoção do cálcio do plasma; 3. O hematócrito do sangue da amostra não interfere na ação do citrato de sódio; 4. O cloreto de cálcio repõe o cálcio removido pelo citrato e permite a coagulação do plasma. São cuidados do processamento da amostra, exceto? 1. Centrifugar, prontamente, para obter o plasma pobre em plaquetas com menos de 10.000 plaquetas/µL; 2. Evitar a refrigeração para não ativar o fator VII; 3. Evitar a demora para não interferir na atividade dos fatores, principalmente no TTPA com heparina; 4. Permitir a ativação dos fatores “in vitro” antes da análise. Sobre o TP, indique a alternativa incorreta: 1. Os reagentes são o ativador de contato, a cefalina e o cloreto de cálcio; 2. A ativação é pelo fator tecidual iniciando pelo fator VII; 3. São avaliadas a “via extrínseca” e a “via final comum”; 4. O TP normal é cerca de 12 segundos. Sobre o TTPA, indique a alternativa incorreta: 1. Os reagentes são a tromboplastina e o cloreto de cálcio; 2. A ativação é por fosfolípides e por contato iniciando pelo fator XII; 3. São avaliadas a “via intrínseca” e a “via final comum”; 4. O TTPA normal é cerca de 30 segundos. Página 2 de 4 Questionário - Proficiência Clínica Área: Coagulação Rodada: Ago/2012 Questão 6 Questão 7 Questão 8 Questão 9 Questão 10 Questão 11 Questão 12 Questão 13 Indique a alternativa incorreta: 1. É necessária deficiência com atividades de fatores menores que 40% para prolongar o TP ou TTPA; 2. A “via final comum” é formada pelos fatores X, V, II e I até a formação do coágulo de fibrina; 3. A deficiência do fibrinogênio prolonga o TP e o TTPA porque está na “via final comum”; 4. A deficiência do fator XIII prolonga o TP e o TTPA porque atua na estabilização do coágulo de fibrina. Em um laboratório, o TP normal é de 12,0 segundos e a tromboplastina em uso tem ISI de 1,20. Qual o RNI de um paciente cujo TP é 24,0 segundos ? 1. 2,00; 2. 2,30; 3. 1,50; 4. 0,50. São causas de sangramento com TP prolongado pela deficiência de vários fatores, exceto: 1. Hepatopatias; 2. Deficiência de vitamina K; 3. CIVD; 4. Deficiência genética do fator VII. São causas de sangramento com TTPA prolongado, exceto: 1. Hemofilias A e B; 2. Doença de von Willebrand tipo 3; 3. Presença do “anticoagulante lúpico”; 4. Deficiência genética do fator XI. Sobre os anticoagulantes, podemos afirmar: 1. A varfarina é um anticoagulante VO que potencializa a antitrombina; 2. A heparina é um anticoagulante SC ou EV que antagoniza a vitamina K; 3. A ação da varfarina é controlada pelo RNI (relação normalizada internacional); 4. A ação da heparina é controlada pelo TT (tempo de trombina). O que podemos afirmar quando o teste de mistura do TTPA não é corrigido? 1. Trata-se de hemofilia A e há um inibidor no plasma do paciente; 2. Trata-se de hemofilia B e não há um inibidor no plasma do paciente; 3. Trata-se de doença de von Willebrand tipo 3 e não há um inibidor no plasma do paciente; 4. Há um inibidor no plasma do paciente. Assinale a alternativa incorreta quanto à dosagem do fibrinogênio: 1. Adiciona-se trombina em altas concentrações ao plasma teste para obtenção do tempo de coagulação; 2. O tempo de coagulação é inversamente proporcional à concentração do fibrinogênio; 3. Uma curva de calibração correlaciona o tempo (seg) com a concentração (mg/dL) a partir de diluições de um calibrador; 4. A hipofibrinogenemia é observada em estados inflamatórios. Qual a causa de hipofibrinogenemia com sangramentos? 1. Uso de heparina em doses excessivas; 2. Uso de varfarina em doses excessivas; 3. CIVD grave; 4. Estados inflamatórios. Página 3 de 4 Questionário - Proficiência Clínica Área: Coagulação Rodada: Ago/2012 Questão 14 Questão 15 Referências Quando está indicado o uso do plasma fresco congelado e do crioprecipitado? 1. Em sangramentos cutâneo-mucosos por plaquetopenia; 2. Em pré-operatórios de pacientes que usam antiagregantes plaquetários; 3. Em pacientes com sangramento com R ou RNI > 1,5 e fibrinogênio < 100 mg/dL, respectivamente; 4. Em pacientes hemofílicos com sangramento grave. Sobre o dímero D indique a alternativa incorreta: 1. Trata-se de um dos produtos de degradação da fibrina que circulam após a ação da plasmina sobre o coágulo; 2. É quantificado no plasma anticoagulado por métodos imunológicos; 3. Quando aumentado faz diagnóstico de TVP e/ou EP, ou seja, é específico; 4. Quando normal exclui o diagnóstico de tromboembolismo. • Diagnósticos clínicos e tratamento por métodos laboratoriais. John Bernard Henry (tradução Ida Cristina Gubert). 20ª edição, Manole, 2008. • Hematologia prática de Dacie e Lewis. S. Mitchell Lewis, Barbara J. Bain e Imelda Bates (tradução Renato Failace). 9ª edição, Artmed, 2006. Bibliográficas: Página 4 de 4