A especulaçãcao parasitária e a crise de 1929

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A especulaçãcao parasitária
e a crise de 1929
s
alejandro iturbe
Frente Operária Socialista (FOS), Argentina
O surgimento do capital financeiro e sua exportação aos países atrasados, característica central do imperialismo, melhorou as condições para a
obtenção de uma taxa média de lucro satisfatória, como Lênin analisava. Por
isso mesmo, e simultaneamente, cria também as condições para a existência
de um volume cada vez maior de “capitais excedentes” sem possibilidades
de investimentos lucrativos na produção. É o “capitalismo excessivamente
maduro” do qual falava Lênin.
O resultado é que estes “capitais excedentes” voltam-se à especulação
financeira; isto é, a parasitar a mais-valia extraída em outros ramos da economia. Um processo potencializado pela “arquitetura especulativa” que foi
sendo construída para compensar essa necessidade de lucros com a criação
do “capital fictício”.
Ao contrário do capital investido na produção, cujos ritmos de reprodução ficam determinados pelos ciclos próprios desse processo, o capital
especulativo tem uma “agilidade” muito maior e move-se rapidamente de um
setor a outro, buscando nichos, situações conjunturais favoráveis e criando
seus próprios mecanismos, como as “bolhas especulativas”.
À medida que o volume destes capitais cresce cada vez mais, e em maior
velocidade que o capital produtivo, cresce também sua proporção dentro do
total de capital circulante. Dessa forma, o conjunto do sistema capitalista
imperialista apresenta um caráter cada vez mais especulativo e parasitário, e
esta tendência transforma-se numa de suas características centrais.
Alguns autores consideram, inclusive, que o “capital especulativo parasitário” deve ser analisado como uma categoria diferente do “capital financeiro” definido por Hilferding. Seria “o resultado da conversão da forma
autonomizada do capital bancário ou portador de juros quando ultrapassa
os limites necessários para o funcionamento normal do capital industrial”.
Tradução:
Marcos
Margarido
A falsa diferenciação entre burguesia financeira–especuladora e a
burguesia produtiva
Neste ponto é necessário refutar um dos mitos com que a crise atual é
explicada por diversos economistas burgueses e, inclusive, de esquerda: o
suposto antagonismo entre uma burguesia produtiva (que, mesmo sendo
exploradora, em última instância jogaria um papel positivo) e uma burguesia
financeira-especuladora (a “má” do filme).
O mito parte da extrapolação de elementos parciais que o “sentido comum” percebe no funcionamento econômico. É evidente que, a partir dos
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investimentos burgueses em fábricas, campos, minas ou campos petrolíferos,
exista uma economia que produz nova riqueza e, também, que grande parte
da “esfera financeira” parasita a riqueza produzida na “economia real”.
Mas é completamente equivocado considerar que as burguesias produtiva
e financeira (ou, o que dá no mesmo, as formas ativa e monetária do capital)
enfrentem-se e sejam antagônicas. Ou que, em sua atual fase imperialista,
seja possível a existência de um “capitalismo plenamente produtivo”, com
um setor financeiro que só se limite a financiar a produção.
É necessário recordar que o conceito de “capital financeiro” supõe a fusão
altamente centralizada dos capitais bancário e produtivo, sob o predomínio
do primeiro. Se considerarmos o grande capital, especialmente o imperialista,
a burguesia bancária (financeira) é também industrial e vice-versa. Seria uma
tarefa muito longa enumerar os vasos comunicantes (em pessoas e investimentos cruzados) que exprimam esta fusão.
Um fato que desmente o mito da “burguesia puramente produtiva” é que
todas as grandes empresas industriais possuem fortíssimos departamentos de
investimentos financeiros. Na automobilística GM, esta divisão (a GMAC)
foi a primeira que sofreu a crise que hoje se estendeu a toda a empresa (foi
vendida em 2007 ao fundo de investimentos Ceberbus). A “burguesia produtiva” investe seus “lucros excedentes” na especulação.
Vejamos dois exemplos desta “mão dupla” produção-especulação. Durante a crise da década de 1970, os lucros obtidos pela especulação financeira
na Argentina foram muito importantes para que a Ford sobrevivesse em
nível mundial. Ao mesmo tempo, uma parte dos capitais especulativos são
investidos em “setores produtivos”, se conjunturalmente for conveniente,
como sucedeu, em anos recentes, com a bolha imobiliária e a indústria da
construção nos EUA (este último, um setor claramente “produtivo”).
É certo que existem setores burgueses que se dedicam exclusivamente
à especulação financeira pura sem nenhuma ligação com a produção (os
chamados “abutres”). Mas são, na realidade, setores bastante minoritários
em relação ao conjunto da burguesia. Em última instância, são o resultado
da exacerbação da tendência especulativa de todo o sistema capitalista. Isto
é, da lógica da fórmula D-D’, buscando aqueles investimentos que dêem o
maior lucro no mais curto prazo.
Como se forma uma “bolha”?
Um dos mecanismos clássicos da especulação são as chamadas “bolhas”.
Quando certa quantidade de capitais especulativos fica concentrada num determinado mercado nacional ou internacional (ações, imóveis, commodities,
etc.), aumenta artificialmente a demanda por estes bens ou ativos, e uma
“bolha” é originada, na qual seus preços vão muito mais longe de sua base real.
As bolsas de valores são lugares especialmente propícios para a especulação
e a criação de bolhas. Tal como vimos, nelas se compram e vendem as ações das
grandes empresas e bancos, e uma sobredemanda gerada por capitais especulativos pode elevar seus preços a níveis bem mais altos que seu “valor patrimonial”.
Isto se vê favorecido porque na bolsa só está disponível para a compravenda uma quantidade limitada de ações; por exemplo, uma fração de 10%
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ou 20% do capital total das empresas. Por isso, pode-se provocar um movimento ascendente de seus preços com um volume de capital especulativo
bastante menor que o capital efetivamente atuante na produção. Mas, ao
subir o preço das ações “comercializáveis”, a cotação de todas as ações dessa
empresa também sobe; às vezes a uma velocidade muito alta (por exemplo,
duplicando-se em um ano).
Cria-se assim um grande capital fictício e todos os possuidores de ações
descobrem que, este ano, “duplicaram” seu capital. Outras empresas menores que não negociam ações na bolsa também vêem o preço de seu capital
aumentar. Por exemplo, se o preço das ações de uma grande empresa automobilística subir, as empresas de autopeças e fornecedoras também acompanham o movimento ascendente. Durante um período, a “bolha” (criada
pelos capitais especulativos, primeiro, e o capital fictício, depois) atua como
um fator dinamizador de outros ramos econômicos e da economia em seu
conjunto. O dinheiro e os lucros parecem surgir do nada.
Ao mesmo tempo (contra as previsões de Hilferding de que o capitalismo monopolista permitiria controlar, pelo menos em nível nacional,
a “anarquia” capitalista), toda a economia adquire uma fragilidade e uma
volatilidade muito maiores ao estar baseada, em grande parte, nesta “bolha”
e nesta afluência constante de capitais ao setor “inflado”. Em outras palavras,
prepara “anarquias” e crises muito maiores.
Em algum ponto, a “bolha” começa a desinflar-se. A “alfinetada” aparece,
à primeira vista, como o resultado de fatores específicos (o balanço negativo
de uma empresa importante) ou de um fator “externo” à economia (uma
guerra ou um fato importante da luta de classes). Mas, em última instância,
ela reflete a causa mais estrutural das crises capitalistas: a queda da taxa de
lucro, agravada por esta superabundância de capitais. O esgotamento da bolha
vai causar um impacto negativo nos demais ramos da economia, levando a
uma crise econômica generalizada. Foi o que ocorreu no “crack” de 1929.
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