LUÍS CARLOS DE LIMA LEI INTRONIZAÇÃO DE VALORES ORGANIZACIONAIS: estudo de caso do CIAAR Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Eng. Márcio José Borges Rio de Janeiro 2013 C2013 ESG Este trabalho, nos termos de legislação que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitido a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG _________________________________ Assinatura do autor Biblioteca General Cordeiro de Farias Lei, Luís Carlos de Lima. Intronização de valores organizacionais: estudo de caso do CIAAR / Cel Av Luís Carlos de Lima Lei. - Rio de Janeiro : ESG, 2013. 63 f.: il. Orientador: Engenheiro Márcio José Borges Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), 2013. 1. Análise do comportamento. 2. Comando da Aeronáutica. 3. Formação de recursos humanos. I.Intronização de Valores Organizacionais. A minha família que sempre me apoiou em todos meus sonhos, sendo a motivação para estes, e esteve presente nos momentos bons e ainda mais nos demais de minha vida. AGRADECIMENTOS Aos meus professores, atuais e anteriores, que plantaram e regaram a necessidade de saber um pouco mais sobre tudo que se descortina em nossas vidas. Aos estagiários da Turma “Força Brasil!”, do CAEPE 2013, pelo convívio harmonioso de todas as horas e pela amizade constante. Ao Corpo Permanente da ESG pelos ensinamentos e orientações que me fizeram refletir, cada vez mais, sobre a importância de se estudar o Brasil com a responsabilidade de todo cidadão que ama esta pátria. As demais pessoas, próximas ou distantes que propositadamente ou não colaboraram e me instigaram quanto à curiosidade científica. Somente a curiosidade não envelhece conosco e fica sempre criança. Emanuel Wertheimer RESUMO A adaptação de profissionais já formados pela Academia a funções que necessitem conjuntamente do conhecimento disponibilizado por este tipo de órgão de ensino e de novas características adequadas a suas características particulares é um desafio sempre presente, que é potencializado pelo fato da instituição destino ser uma força armada, com características distintas das demais instituições. Estas características diferenciadas geram uma cultura institucional a qual se pretende adaptar o profissional com formação acadêmica e psicológica completa. Restringindo o foco do estudo a um curso de uma escola militar, se estuda como é realizada a aprendizagem dos valores organizacionais e a adaptação ao serviço, tendo-se com fundo os ditames da análise comportamental, visto que nesta escola se trabalham mais os valores do campo afetivo e psicomotor que o cognitivo, em comparação com sistema de ensino tradicional. Avalia-se e confronta-se a cultura organizacional com as perspectivas dos discentes acerca do curso e da instituição onde realização a atuação profissional. É estudada, à luz da análise comportamental, como se procede ao processo de aprendizagem e como se pode trabalhar este processo para potencializar os resultados. Percebe-se que o processo de formação é bem estruturado, planejado, conduzido e realizado, com resultados adequados à necessidade da instituição, todavia com potencial de melhoria com a utilização dos conceitos da análise do comportamento. Propõem-se ações concretas para adequar a atual adaptação de novos profissionais para o Comando da Aeronáutica aos ditames básicos da utilização desta ciência, a análise do comportamento. Palavras chave: Análise do comportamento. Comando da Aeronáutica. Comportamento organizacional. Cultura organizacional. Formação de recursos humanos. ABSTRACT The professional’s adaptation of person already formed by the Academy to functions that requires jointly knowledge offered by this type of teaching organ and new characteristics appropriate to its particular characteristics is an ever-present challenge, which is busted by the fact that the destiny’s institution be an armed force with distinct characteristics of other institutions. These distinctive characteristics create an institutional culture which is intended to adapt the professional academic and psychological completed. Restricting the focus of this study to a school and a course, study how accomplished organizational values is learned and the service adapting done, having to fund the dictates of behavioral analysis , because in this school it works more affective values that psychomotor or cognitive ones, compared to traditional education system. Evaluates and confronted the organizational culture with the students perspectives about the course and the institution where professional performance will be done. It is studied, thinking about behavioral analysis, how is realized the learning process and how do this process can work to improve the final result. It can be seen that the adaptation process is well structured, planned, conducted and performed , with results suitable to the needs of the institution , but with potential for improvement by the use of the concepts of behavior analysis. We propose concrete actions to improve the current adaptation of new professionals to the Air Force Command to the definitions of this basic science, behavior analysis. Keywords: Air Force Command. Behavior analysis. Human resources training. Organizational behavior. Organizational culture. LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 Representação do Condicionamento Pavloviano.......................... 18 FIGURA 2 Condicionamento de uma Resposta de Medo............................... 19 FIGURA 3 Contracondicionamento.................................................................. 20 FIGURA 4 Comportamento Respondente / Comportamento Operante.......... 22 FIGURA 5 Espiral Evolutiva da Conversão do Conhecimento........................ 25 FIGURA 6 Considerações sobre o Conhecimento da Rotina da Vida Militar Antes de Ingressar no Comando da Aeronáutica.......................... 35 FIGURA 7 Impressões sobre a Rigidez da Instituição Militar Anteriores ao Início do EAOT............................................................................... 35 FIGURA 8 Considerações sobre a Aceitação de Idéias Individuais na Evolução e Modificação de Processos e Atividades Antes do Início do EAOT............................................................................... 36 FIGURA 9 Considerações sobre a Possibilidade da Instituição Militar Procurar Influenciar a Mudança do Comportamento e da Atitude de seus Membros Antes do Início do EAOT.................................. 37 FIGURA 10 Considerações sobre o Modo como a Instituição Militar Influenciaria a Mudança de Comportamento e Atitude de seus Membros Antes do EAOT............................................................... 37 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CA Corpo de Alunos CIAAR Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica COMAer Comando da Aeronáutica EAOT Estágio de Adaptação de Oficiais Temporários FAB Força Aérea Brasileira PTL Programa de Treinamento de Liderança TMA Treinamento Militar Avançado TMB Treinamento Militar Básico TML Treinamento Militar de Liderança SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 11 2 METODOLOGIA............................................................................................. 13 3 CULTURA ORGANIZACIONAL.................................................................... 15 4 PROCESSO DE APRENDIZAGEM............................................................... 17 5 PROGRAMA DE TREINAMENTO DE LIDERANÇA – PTL......................... 26 5.1 TREINAMENTO MILITAR BÁSICO – TMB (PERÍODO DE ADAPTAÇÃO).. 26 5.2 TREINAMENTO MILITAR AVANÇADO – TMA............................................. 27 5.3 TREINAMENTO MILITAR DE LIDERANÇA – TML....................................... 28 5.4 PRINCIPAIS ATIVIDADES REALIZADAS NO TREINAMENTO ATUAL....... 28 6 PERFIL DOS ALUNOS................................................................................. 32 7 PESQUISA COM DISCENTES...................................................................... 34 8 PESQUISA COM CHEFES DOS EX-DISCENTES....................................... 39 9 ATIVIDADES PROPOSTAS.......................................................................... 42 9.1 TREINAMENTO DOS DOSCENTES............................................................. 42 9.2 MELHORIA DO PROCESSO DE TREINAMENTO....................................... 43 9.3 AUMENTO DO PERÍODO DE DESCANSO.................................................. 47 9.4 REVISÃO DO MANUAL DO ALUNO............................................................. 48 9.5 REVISÃO DO SISTEMA DE PUNIÇÃO......................................................... 49 9.6 TREINAMENTO DE LIDERANÇA................................................................. 52 9.7 ACIONAMENTO INTELECTUAL................................................................... 52 9.8 UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE FUNCIONAL DO COMPORTAMENTO............. 53 9.9 SEMANA DA LIDERANÇA............................................................................ 55 10 CONCLUSÃO................................................................................................. 57 REFERÊNCIAS.............................................................................................. 60 APÊNDICE A – PESQUISA COM DISCENTES............................................ 62 APÊNDICE B – FICHA DE ACOMPANHAMENTO DA DINÂMICA DE OLHOS FECHADOS...................................................................................... 63 11 1 INTRODUÇÃO O Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica - CIAAR é a escola de formação da maioria dos oficiais do Comando da Aeronáutica, sendo responsável pela adaptação ao serviço de cerca de 70% dos novos oficiais introduzidos no serviço anualmente, descontando-se os oficiais temporários convocados pela Lei do Serviço Militar (Lei n° 4.375, de 17 de agosto de 1964). Deve-se considerar que uma força militar possui características bastante distintas de uma empresa tradicional. Provavelmente a mais destacada é, em determinadas situações e respeitando determinadas regras, realizar a aplicação do componente militar do poder nacional para resolver demandas não sanadas pelas demais manifestações deste poder. Os novos oficiais já entram no Comando da Aeronáutica com a formação técnica das suas especialidades (profissionais com a formação em terceiro grau e muitas vezes especialização), contudo tem que realizar a adaptação à vida militar e consequentemente a função a ser desempenhada como oficial. Estes recursos humanos adentram para as fileiras da Força Aérea Brasileira – FAB com seus valores sociais (honestidade, patriotismo, companheirismo, etc.) já consolidados, ou com estabilidade relativa, pois já são adultos e possuem fatores importantes da formação de sua personalidade completa. Deve-se considerar que as escolas de formação militar tradicionais trabalham com alunos com faixa etária reduzida, com entrada nos cursos de formação anterior aos 19 anos (pela definição anglo-saxônica de “teen” ainda no final da adolescência). Contudo os alunos recebidos no CIAAR já ultrapassaram esta fase de orientações para valores e há uma lacuna nos estudos de capacidade de transmissão de conceitos para estes profissionais militares. Esta instituição de ensino, decorrente de sua característica de objetivo e público, trabalha muito mais os campos afetivo e psicomotor de ensino que o cognitivo, comparando-se com as organizações educacionais tradicionais. Decorre deste fato o cerne de nosso problema: como os valores da cultura organizacional são transmitidos e intronizados pelos alunos dos cursos de adaptação de oficiais do Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica com relação aos princípios da análise comportamental, considerando a cultura organizacional do Comando da Aeronáutica. 12 Procura-se analisar a formação militar dos oficiais adaptados pelo Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica, considerando a formação profissional de cada um, bem como o perfil social de origem de cada grupo de alunos, com as seguintes preocupações: quais os processos envolvidos na captação de conhecimentos pelos alunos do CIAAR; qual a metodologia aplicada aos alunos na adaptação a vida militar; qual o perfil dos grupos formados pela instituição e se este perfil influencia no resultado final e como estes profissionais são percebidos pelas chefias, após a formação e no exercício de suas tarefas profissionais? Para resolver esta problemática se analisa o processo ensino-aprendizagem de valores sociais, baseado nos princípios da análise do comportamento. Ponderase como a cultura organizacional do Comando da Aeronáutica participa deste processo de ensino-aprendizagem. Sopesa-se com relação ao Programa de Treinamento de Liderança aplicado aos alunos dos cursos do Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica. Verificam-se as contribuições que a análise do comportamento, confrontada com a cultura organizacional do Comando da Aeronáutica, pode provocar na melhoria do processo de formação profissional dos alunos do Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica. A história de cada pessoa é importante para conhecermos qual a resposta esperada para um estímulo durante este treinamento. Naturalmente é muito difícil em um grupo heterogêneo termos um trabalho totalmente individualizado, mas este aspecto pode ser minimizado conhecendo os traços comuns deste grupo (idade, condição social, grau de instrução, etc.) que podem ser elencados e o trabalho ser realizado sob este aspecto. Tendo em vista a personalidade já formada dos seus alunos, bem como a história de cada grupo, busca-se verificar se na instituição CIAAR é alcançado adequadamente: Transmitir os valores militares e sociais a estes profissionais em fase de ingresso, procurando verificar quais os processos envolvidos na captação de conhecimentos pelos alunos do CIAAR; Qual a metodologia aplicada aos alunos na adaptação à vida militar; Qual o perfil dos grupos formados pela instituição e se este perfil influencia no resultado final; e Como estes profissionais são percebidos pelas chefias, após a formação e no exercício de suas tarefas profissionais. 13 2 METODOLOGIA ADOTADA Limita-se o escopo deste trabalho aos alunos formados pelo Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica, por ser a escola de formação de boa parte dos oficiais do Comando da Aeronáutica e é realizada em grupos com características relativamente semelhantes, focando-se na análise de uma turma do Estágio de Adaptação de Oficiais Temporários - EAOT. Esta turma tem características que interessam a este estudo, pois é o curso com maior diversidade de especialidades (profissões) entre os realizados no CIAAR, mantendo características comuns analisadas no capítulo 6 deste trabalho. Inicialmente foi realizada uma revisão bibliográfica sobre a análise do comportamento, onde se procurou entender os ensinamentos do behaviorismo de Skinner e as análises de Thorndik. Este campo do conhecimento foi lastreado especialmente em informações de Moreira e Medeiros, do ano de 2007. A base teórica principal foi também composta com os conceitos de Griffin e Moorhead, do ano de 2007, onde analisaremos o processo de aprendizado individual em confronto com a cultura da organização - prioridades e manifestação desta cultura nos indivíduos - onde estes iniciam o ciclo de trabalho, apreciando como este processo se estabelece em cada indivíduo. A pesquisa exploratória realizada nesta bibliografia básica, visa a entender como funciona o processo de aprendizagem, pela ótica da análise comportamental. É realizada também uma pesquisa de campo, com alunos em início de curso de formação, buscando as impressões destes acerca da instituição em que iniciam suas trajetórias profissionais, identificando valores relacionados a cultura organizacional das forças armadas. Para a coleta dos dados foi utilizado um questionário com perguntas fechadas (Apêndice A). Também realizamos a análise do Relatório de Validação Curricular que é confeccionado após dois anos de exercício profissional, verificando-se o desempenho apresentado sob a ótica da instituição. Estes dados do processo de ensino-aprendizagem são analisados e comparados à metodologia empregada na adaptação destes militares, o Programa de Treinamento de Liderança – PTL, bem como a cultura organizacional do Comando da Aeronáutica e tecem-se ações visando potencializar o resultado final e 14 perenizar os comportamentos apresentados no exercício da atividade profissional deste segmento de profissionais do Comando da Aeronáutica. No próximo organizacional. capítulo exploraremos conceitos referente a cultura 15 3 CULTURA ORGANIZACIONAL Todos tem dúvidas de como se portar em ambientes novos. Quais as atitudes corretas para cada situação? Existe alguma gíria diferente naquele grupo? Quando agir e quando se calar em uma situação nova? Qual é meu espaço neste novo ambiente? Enfim, onde e como eu me encaixo? Estas dúvidas são naturais e saudáveis e facilitam a adaptação. Os profissionais contratados para uma nova função, seja por recrutamento ou concurso, deveriam previamente ter as características adequadas à tarefa a ser realizada. Contudo esta lógica acima exclui a importância do treinamento para atividades onde a formação acadêmica deixa lacunas com relação a especificidades do mercado de trabalho. Os profissionais recrutados via concurso para os cursos de formação do Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica já possuem a formação acadêmica necessária à parte da tarefa a ser desempenhada, contudo existe a lacuna representada pela adaptação à função de oficial que exercerá. O Estatuto dos Militares, no seu Art. 36, calcado na importância do treinamento para o exercício das atividades funcionais, informa que o oficial é preparado, ao longo de sua carreira, para o exercício de funções de comando, chefia e direção. Não obstante, o treinamento destes profissionais passa pela adaptação à cultura desta nova instituição com que passam a conviver. Temos o conceito de que “cultura organizacional é o conjunto de valores, muitas vezes transmitidos por histórias e outros meios simbólicos, que ajuda os funcionários a compreender quais atitudes são consideradas adequadas e quais são inaceitáveis” (GRIFFIN; MOORRHEAD, 2007, p.399). É no treinamento inicial que acontece esta adaptação do funcionário à empresa. Há a necessidade que esta cultura seja realmente de conhecimento de seus funcionários. A cultura de uma organização não influenciará intensamente os comportamentos se os funcionários tiverem que recorrer a um manual para lembrar-se do que ela significa. Quando a cultura se torna parte das pessoas – quando elas podem ignorar o que diz o livro, pois já se imbuíram dos valores que ele descreve – terá um impacto importante nas atitudes delas (GRIFFIN; MOORHEAD, 2007, p.400). É também no treinamento inicial que os valores culturais da instituição são transmitidos. Estes valores culturais são aqueles que “servem de referência aos 16 funcionários, de modo que a organização possa implementar suas estratégias” (GRIFFIN; MOORHEAD, 2007, p.404), Os autores acima informam que: em primeiro lugar, o sistema formal de recompensas deve premiar os comportamentos desejados de uma maneira valorizada pelos funcionários. Segundo, histórias sobre funcionários cujos comportamentos resumam os valores culturais precisam ser divulgadas por toda a organização. Terceiro, a organização deve promover cerimônias ou rituais que deem destaque aos funcionários cujas ações são fundamentais para a concretização do ideal empresarial (GRIFFIN; MOORHEAD, 2007, p.404-405). Todos estes aspectos fazem parte do processo de adaptação do indivíduo à instituição ou do processo de socialização. Nesta arte de adaptação temos que considerar que: entre as múltiplas dimensões da identidade dos indivíduos, a dimensão profissional adquiriu uma importância particular. Porque se tornou um bem raro, o “emprego” condiciona a construção das identidades sociais; porque sofreu importantes mudanças, o trabalho apela a sutis transformações identitárias; porque acompanha intimamente todas as mudanças do trabalho e do emprego, a formação intervém nas dinâmicas identitárias muito para além do período escolar (DUBAR, 1997, p. 4). No mesmo trabalho acima, Dubar, citando dois filósofos da análise do comportamento, coloca que a socialização é: para Durkheim basicamente, uma transmissão do "espírito de disciplina" assegurada pelo constrangimento, complementada por uma "ligação aos grupos sociais" e interiorizada livremente graças à "autonomia da vontade" (DURKHEIM, 1992-19903 apud DUBAR, 1997, p.9), para Piaget, ela é, fundamentalmente, uma construção, sempre ativa e até interativa, de novas "regras do jogo", implicando o desenvolvimento autónomo da "noção de justiça" e a substituição de "regras de constrangimento" pelas "regras de cooperação (PIAGET, 1932 apud DUBAR 1997, p. 9). Este é um processo de troca entre o indivíduo e a instituição; todavia este se movimenta muito mais que aquela em direção à adaptação. Passaremos a estudar como ocorre este processo de aprendizagem, luz da análise do comportamento. 17 4 PROCESSO DE APRENDIZAGEM O ser humano é um animal social. Como tal tem a tendência a viver em grupo e a interagir dentro deste grupo, cada qual tendo sua função definida pelas circunstâncias e competência. Os conceitos apresentados neste capítulo são baseados principalmente no livro Princípios Básicos da Análise do Comportamento, de Márcio Borges Moreira e Carlos Augusto de Medeiros. Concordando com os autores acima temos Cesar Millan (2007, p. 120), conhecido como “encantador de cães” em um famoso programa de televisão, o qual escreve que a maioria dos cães – assim como a maioria dos seres humanos – nasce para ser seguidora, e não líder. Ser líder da matilha envolve não apenas dominância, mas também responsabilidade. Os recursos humanos contratados para as funções de oficiais das forças armadas, exceto os recrutados pela Lei do Serviço Militar, são contratados por concurso público. Estes profissionais não têm necessariamente “vocação” ou “perfil” para a função a exercer, contudo a instituição que realizará o treinamento tem que desenvolver ou aflorar as características necessárias para a atuação no universo que estão adentrando, pois independente da forma de seleção, uma pessoa de personalidade introvertida, na função de oficial de uma força armada terá que dirigirse a uma tropa, em atitude de comando e conseguir física e psicologicamente o melhor que cada um de seus subordinados pode produzir. Este treinamento ocorre pela transferência de conhecimento e padronização de ações. A fim de entendermos o processo de aprendizagem de uma nova conduta, recorremos a. Ivan Petrovich Pavlov, que foi um fisiologista russo que estudou os reflexos biologicamente estabelecidos, ou reflexos inatos. Este treinamento, conhecido como Condicionamento Pavloviano, consiste em um processo e procedimento em que um organismo aprende novos reflexos por estímulo e resposta. Tem-se que um reflexo é condicionado a partir de outro existente. Sabendo-se que um determinado estímulo possui com reflexo natural uma determinada resposta, pode-se emparelhar (produzir uma associação dentro do indivíduo) uma nova resposta ao proporcionar uma relação entre um estímulo inato a uma resposta aprendida. O treinamento associa uma resposta desejada ou planejada a um estímulo com resposta já previamente conhecido. 18 Figura 1: Representação do Condicionamento Pavloviano. Fonte: MOREIRA; MEDEIROS (2007, p. 33) É o treinamento utilizado, por exemplo, no treinamento de ordem unida, quando um estímulo neutro, o toque de uma determinada sequência de notas musicais, é condicionado ao reflexo de executar uma determinada ação, como a mudança de direção (direita ou esquerda volver). A resposta condicionada (R 2) é conseguida ao se introduzir o estímulo neutro para aquela situação (toque de corneta). As emoções são, em grande parte, relação entre estímulos e respostas [são, portanto, comportamentos respondentes]. Se os organismos podem aprender novos reflexos, podem também aprender a sentir emoções [respostas emocionais] que não estão presentes em seu repertório comportamental quando nascem (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p 32–33). Este aspecto é perceptível ao se observar a quantidade de atletas que choram ao ouvir o hino de seu país durante uma cerimônia de premiação, ou seja, um reflexo (se emocionar) é condicionado a partir de outro (ouvir uma melodia), associando-se ao esforço do treinamento, as privações, as pessoas que o ajudaram, etc. 19 Figura 2: Condicionamento de uma Resposta de Medo. Fonte: MOREIRA; MEDEIROS (2007, p. 34) Pela figura acima, verificamos que o bebê, inicialmente não demonstra medo do rato branco e assusta-se ao ouvir o barulho estridente do martelo batendo na bigorna, contudo após ser condicionado com estes dois estímulos em conjunto, associa o rato branco ao barulho estridente e passa a demonstrar medo do rato, ou seja, o bebe aprendeu a ter medo do rato. Estas experiências simples explicam o motivo pelo qual emoções são difíceis de controlar, pois elas são respostas reflexas (respondentes) de estímulos anteriormente condicionados. A razão de “respondermos emocionalmente” de forma diferente aos mesmos estímulos está na história de condicionamento de cada um de nós. Todos nós passamos por diferentes emparelhamentos de estímulos em nossa vida. Estes diferentes emparelhamentos produzem nosso “jeito” característico de sentir emoções (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p 32–33). Após compreendemos o processo de aprendizagem, segundo Moreira e Medeiros (2007) podemos considerar que, principalmente nos estágios iniciais do treinamento realizado pela CIAAR, ocorre o condicionamento de reações a determinados estímulos. Levando em consideração o comportamento final desejado – objetivo do curso de adaptação - e tendo controle do processo de treinamento – planejamento da metodologia adequada a ser utilizada - se pode condicionar o discente a determinadas emoções associadas a determinadas situações, que serão reforçadas pelas tarefas diárias a serem realizadas, principalmente porque 20 “estímulos que se assemelhem fisicamente ao estímulo condicionado podem passar a eliciar a resposta condicionada em questão. Este fenômeno [em psicologia] é chamado de generalização respondente” (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 36). Esta técnica pode ser eficiente tanto para condicionar novas respostas quanto para retirar uma resposta preexistente, visto que nossos discentes já iniciam suas atividades de treinamento com um vasto repertório emocional, derivado das experiências vividas até aquele momento em suas vidas, com conceitos e posturas que precisam ser adaptadas as necessárias do pleno desenvolvimento de sua atividade militar. Figura 3: Contracondicionamento Fonte: MOREIRA; MEDEIROS (2007, p. 41) Este tipo de condicionamento pode ou não ocorrer, existindo fatores que aumentam a chance desta ocorrência: Frequência dos emparelhamentos: em geral quanto mais frequente o CS [estímulo condicionado] é emparelhado com o US [estímulo incondicionado – estímulo que elicia a resposta incondicionada] mais forte será a resposta condicionada. Tipo de emparelhamento – respostas condicionadas mais fortes surgem quando o estímulo condicionado aparece antes do estímulo incondicionado e permanece quando o US é apresentado. Intensidade do estímulo incondicionado – um US forte tipicamente leva a um condicionamento mais forte. 21 Grau de predição do estímulo condicionado – para que haja condicionamento não basta que ocorra apenas o emparelhamento US – NS [estímulo neutro – estímulo que não elicia ou estimula a resposta que será condicionada, como o som da broca do dentista antes do tratamento] repetidas vezes. Um som que ocorre sempre antes da apresentação do alimento elicidará com mais facilidade a salivação do que um som que às vezes ocorre antes da apresentação da comida, ou às vezes não ocorre (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 45). Para o fumante o ato de fumar está associado a uma atividade prazerosa. O xarope de ipeca é um remédio utilizado para provocar vômitos em pessoas que ingeriram substâncias venenosas. Caso se beba este xarope imediatamente após fumar, o ato de fumar pode provocar vômito no indivíduo, que o contracondicionará ao prazer provocado pelo fumo. Naturalmente este tratamento será eficaz se o fumante aceitar as sensações desagradáveis deste condicionamento todas as vezes que fumar. De modo semelhante, o bebê condicionado a ter medo do rato pelo barulho estridente pode ser contracondicionado se forem emparelhadas as emoções causadas pelo relaxamento de uma canção de minar a presença deste rato. Após diversos emparelhamentos de estímulos (com variações de resposta de indivíduo para indivíduo) estas emoções serão contracondicionadas. Este comportamento respondente explica as situações mais simples, onde um estímulo produz uma resposta, contudo existe o Comportamento Operante, que é aquele que produz consequências, ou seja, modificações no ambiente, e é afetado por elas. Temos, portanto, a existência do condicionamento operante, que é o apreendido pelas suas consequências. Exemplo claro desta situação ocorre quando uma criança começa a ir à escola, sendo filho único e acostumada a ter todas suas vontades atendidas prontamente. Ao fazer uma birra consegue tudo que quer (respondente); quando começa a interagir com crianças de mesma idade este comportamento não é mais eficiente e pedir um brinquedo a um colega “por favor” (operante) pode ser mais eficiente que simplesmente chorar. A grande diferença é que o respondente produz modificações apenas no indivíduo e o operante também no ambiente. 22 Figura 4: Comportamento Respondente / Comportamento Operante Fonte: MOREIRA; MEDEIROS (2007, p. 48) O docente tem que estar preparado para interagir com o comportamento operante do discente, em busca dos interesses institucionais. Neste ponto temos que entender o termo manipular como haver uma possibilidade de haver um aproveitamento institucional e ético de um fato científico, sendo que decorre disto que podemos manipular as consequências dos comportamentos para compreendermos melhor como a interação comportamento (resposta)consequência (R→C) se dá e se os comportamentos das pessoas (e também de animais não humanos) são controlados pelas consequências, isto significa que podemos modificar os comportamentos das pessoas (e dos animais não humanos) programando consequências especiais para seus comportamentos (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 50). Este tipo de ação-reação é realizado naturalmente por qualquer pessoa na sua atividade diária, mas pode ser racionalmente estudada e planejada porque queremos produzir uma reação chamada de Reforço que é o “tipo de consequência do comportamento que aumenta a probabilidade de um determinado comportamento voltar a ocorrer” (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 62). Se as situações do período de treinamento levar a um condicionamento onde as atitudes corretas reforçarem as respostas desejadas pela instituição e reduzir a frequência de outros comportamentos, este teve pleno sucesso. Naturalmente este processo deve ser conduzido com cuidado e atenção, pois devido à maturidade e qualidade intelectual os discentes podem se sentir manipulados ou ainda se adaptarem ao processo comportamento-consequência, sem uma mudança de valores ou postura, isto porque, em algum momento este treinamento terá fim e não haverá necessariamente nas atividades profissionais diárias, situações de reforço de comportamento, com forte possibilidade de diminuição da frequência de ocorrências anteriormente reforçadas. 23 A diminuição desta frequência, ou resistência à extinção do comportamento é influenciada pelos seguintes fatores: Número de reforços anteriores – o número de vezes em que um determinado comportamento foi reforçado até haver quebra da contingência de reforço (extinção), ou seja, até que o reforço seja suspenso. Custo da resposta – quanto mais esforço é necessário para emitir um comportamento, menor será sua resistência e extinção. Por exemplo, ao término de um namoro, quanto mais difícil for para o “namorado teimoso” falar com a namorada, mais rapidamente ele parará de insistir em continuar namorando. Esquemas de reforçamento – quando um comportamento às vezes é reforçado e às vezes não o é, ele se tornará bem mais resistente a extinção do que um comportamento reforçado continuamente (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 58). Naturalmente a este último fator é que deve ater com maior atenção durante o período de treinamento, pois um novo comportamento a ser inserido no repertório comportamental do indivíduo tem que ser continuamente reforçado quando for realizado este treinamento. Também se deve trabalhar o lado emocional das respostas, pois associar emoção à resposta desejada tem um forte efeito para evitar a extinção do comportamento. Deve-se ter em mente que para termos uma adequação das respostas provocadas, com a extinção de respostas similares não desejadas ou aproximações sucessivas (exigir gradualmente comportamentos mais próximos do comportamentoalvo) a fim de ensinar um novo comportamento, um fato fundamental é a “imediaticidade do reforço, ou seja, quanto mais próximo temporalmente da resposta o reforço estiver, mais eficaz ele será” (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 61). Caso isto não ocorra a orientação quando da manifestação do comportamento indesejado haverá perda de foco e de tempo neste treinamento. A correção tem que ser imediata! Este processo individual acima explicitado deve ser convertido para o grupo, pois a memória do grupo reforça os comportamentos desejáveis. Grupos tendem a ter comportamentos semelhantes, e a ética deste grupo deve ser formada, desde o princípio, voltada para os valores e comportamentos aspirados. O processo de transformação do conhecimento individual em coletivo é conhecido como Conversão do Conhecimento e é o processo de socialização pelo qual o discente passa no seu período escolar em que se procura transmitir o conhecimento através de quatro etapas, conforme Nonaka e Takeuchi (1997, p. 68- 24 70): A socialização envolve a captura do conhecimento pela proximidade física (mesmo sendo o processo virtual); a externalização requer que o conhecimento tácito seja transformado em símbolos compreensíveis pelos demais; a combinação envolve a sistematização deste conhecimento de modo que o conhecimento explícito seja passível de ser incorporado ao tácito; por fim (e reinício do processo) o conhecimento se torna tácito pela internalização deste conhecimento pelos membros do grupo. Este processo de conversão ocorre naturalmente dentro dos grupos e faz com que um conhecimento transmitido de forma social passe a fazer parte do arcabouço de conhecimentos do indivíduo. Figura 5: Espiral Evolutiva da Conversão do Conhecimento. Fonte: Nonaka e Takeuchi, (1997, p.81) Choo (2003, p.37) explica que conhecimento tácito é o conhecimento pessoal, que é difícil de formalizar ou comunicar aos outros. É constituído de know-how subjetivo, dos insights e intuições que uma pessoa tem depois de estar imersa em uma atividade por um longo período de tempo [...]. Conhecimento explícito é o conhecimento formal que é fácil transmitir entre dois indivíduos e grupos. É frequentemente codificado em fórmulas matemáticas, regras, especificações e assim por diante (CHOO, 2003 apud CAVALCANTE; VALENTIM, 2010, p. 240). Todo o processo de treinamento deve ser ancorado nestas duas preocupações: formar o indivíduo e o grupo, privilegiando o indivíduo, sem esquecer o grupo, nem a importância do grupo em cada um dos seus indivíduos. Este grupo a ser formado possui características próprias que reforçam os comportamentos individuais. Conhecer o grupo com que se trabalha é fundamental para a consecução dos objetivos. 25 Há a necessidade de fazer uma diferenciação entre condicionar e intronizar um comportamento. O primeiro apenas faz com que o indivíduo adquira o comportamento, mas necessita de reforço para sua manutenção. A intronização de comportamento vai mais além, pois coloca a pessoa em contato com o estímulo, de forma planejada e projetando a reação desta, mas a leva a raciocinar sobre a pertinência deste estímulo, de forma crítica, de modo a aceitar ou não este novo comportamento e a mudança é mais profunda e duradoura. Esta diferenciação na aplicação faz-se necessária em função dos alunos em estudo neste trabalho não estarem mais em fase de formação psicológica típica das primeiras fases da vida. Segue-se a avaliação do Programa de Treinamento de Liderança aplicado aos alunos do CIAAR. 26 5 PROGRAMA DE TREINAMENTO DE LIDERANÇA APLICADO O atual Programa e Treinamento de Liderança – PTL é adequado à duração de cada curso realizado no CIAAR. No caso do EAOT, ele tem a duração de 13 semanas, divididas em três fases distintas e continuadas: treinamento militar básico, treinamento militar avançado e treinamento militar de liderança. Estes dados foram extraídos do documento interno do CIAAR que estabelece premissas e parâmetros para a realização do treinamento. 5.1 TREINAMENTO MILITAR BÁSICO – TMB (PERÍODO DE ADAPTAÇÃO) O curso inicia-se com o Treinamento Militar Básico, com duração média de duas semanas. A duração prevista no edital do concurso é 21 dias, contudo a duração real está condicionada ao atingimento pela turma de parâmetros subjetivos, avaliados pelo Corpo de Alunos – estrutura da organização do CIAAR responsável pelo contato direto com os alunos. O TMB é o início da formação militar, no qual o estagiário é submetido a intenso treinamento, dentro de um ambiente no qual se exige permanente sobreaviso mental, resistência física e estabilidade emocional, além de incutirem-se profundamente valores éticos, morais, espírito de corpo, disciplina e hierarquia. Tem ainda por objetivo informar sobre as peculiaridades do militarismo, estimular o gosto pela profissão, a organização, o hábito da atividade física e do estudo contínuo. Compreende o período que se inicia com a chegada dos estagiários ao CIAAR até o final da segunda semana (conhecido internamente como “Quinzentena”). Durante este período os estagiários permanecem em regime de internato. Nesta fase o instruendo recebe as orientações gerais referentes à rotina diária, procedimentos internos e externos ao Centro de Instrução, Manual do Aluno, ordem unida, atividade física, apresentação pessoal, Normas Padrão de Ação (padronização de rotinas, condutas e atividades), aquisição de fardamento e espada, apresentação das facilidades à execução das tarefas (como gráficas, venda de espadas, possíveis locais para realização da festa de formatura, etc.), confecção das identidades de oficial, estruturação da comissão de formatura e da sociedade 27 acadêmica e serviços de escala. Este programa é comum a todos os cursos e estágios do CIAAR. Desafios e obstáculos serão uma constante na rotina do aluno durante o TMB, pois assim, os limites físicos e psicológicos serão gradualmente ultrapassados, moldando o caráter e forjando as virtudes necessárias aos futuros líderes Força Aérea Brasileira. Nesta fase a ideia do exemplo é intensamente reforçada na conduta de não mentir, não ser omisso, não burlar nenhuma das regras e nem permitir que os outros o façam. O aluno cumpri uma rotina rigorosa, na qual aprende a antecipar-se aos acontecimentos, planejar seu tempo livre, que será escasso, de modo a estar sempre pronto a atender, com eficiência, às exigências da profissão militar. Neste período é formado o espírito do grupo, o qual é fundamental para dar apoio ao estagiário, confortá-lo nos momentos de dificuldade e saborear cada vitória. Até o final do TMB, o aluno/estagiário continua sendo orientado, acompanhado e intensamente cobrado em relação às regras e ao comportamento que lhe serão ensinados e os erros individuais são revertidos ao grupo, como forma de amadurecer mais rapidamente este grupo, forçando a coesão interna do mesmo. 5.2 TREINAMENTO MILITAR AVANÇADO – TMA É uma sequência do TMB, sem que haja solução de continuidade. Neste período, além de sedimentarem-se valores, habilidades, comportamentos e condutas desenvolvidas durante o TMB, motiva-se intensamente o aluno no sentido de orgulhar-se da FAB, do CIAAR e de si próprio. Neste sentido, o aluno é estimulado a manter os altos padrões de performance pessoal atingidos no TMB e a persistir na busca da excelência. São incentivados a realizar todas as tarefas com o melhor desempenho possível, sem que haja cobranças acerca deste aspecto. A excelência tem que ser, antes de tudo, um hábito. A cobrança e a imputação de responsabilidades passam a ser individuais. Menos intensamente, mas ainda controlado e sob a supervisão dos oficiais do seu esquadrão o aluno desenvolve a capacidade de planejar e utilizar seu tempo e 28 energia com maior eficiência. No EAOT ocorre do final do TMB até a oitava semana do curso. 5.3 TREINAMENTO MILITAR DE LIDERANÇA – TML O TML, parcela mais avançada do Programa de Treinamento de Liderança, pautar-se no exemplo. Com o estagiário mais maduro e bem mais consciente das suas capacidades e limitações, com o seu senso de justiça e o autocontrole mais desenvolvidos, facilita a inserção de novos conceitos doutrinários (aproximá-los ao máximo da realidade do oficial) e dos ensinamentos teóricos (pacote de aulas voltadas à Chefia e Liderança) para que ele seja capaz de praticar esta liderança ainda na escola (serviços diários, exercício de campanha, dinâmicas de grupo, competições esportivas, etc.) baseando-se na dignidade e no respeito, sem abrir mão da hierarquia e da disciplina. O aluno é aperfeiçoado, compreendendo sua situação no contexto da Força Aérea, sabendo que ela necessita e espera que o seu comportamento seja o de um autêntico líder nos anos vindouros. Duração do TML é do final do TMA até o final do curso. 5.4 PRINCIPAIS ATIVIDADES REALIZADAS NO TREINAMENTO ATUAL Manual do Aluno – ao chegarem à organização, os discentes recebem uma coletânea de informações, o Manual do Aluno, que explica as premissas da vida militar e as principais regras a serem seguidas na atividade. Este manual complementa as orientações aos alunos disponibilizadas no sitio do CIAAR na internet, ambos voltados a disseminar a cultura organizacional aos ingressantes na instituição. Serviços de escala – os alunos tiram serviços de Aluno de Dia, Aluno de Dia às Esquadrilhas (parcelas da turma) e Auxiliar ao Oficial de Dia. Com estas atividades os alunos aproximam-se da realizada do serviço a ser tirado após a formatura, começando a vivenciar o fato de coordenar uma equipe de serviço de segurança. Este serviço é realizado portando armamento somente após receberem instruções 29 de utilização deste. Atividades acadêmicas importantes como a realização de provas pretere o serviço de escala durante a realização destas atividades. As Escalas de Serviço do Corpo de Alunos do CIAAR têm por principal objetivo o desenvolvimento da capacidade de liderança dos alunos. Nestes serviços os instruendos são colocados diante de situações que, sob o controle dos instrutores do CA, apresentam-se complexas, pois passam a serem coordenadores e executores diretos da rotina do CA, bem como das ordens do Comandante do Corpo de Alunos relativas às atividades inerentes do Corpo Discente. Dessa forma, o aluno se vê numa condição de aplicação imediata da sua atitude militar, responsabilidade, capacidade de organização e coordenação, entre outros. Treinamento de ordem unida – realizado em conformidade com o Manual de Ordem Unida do Ministério da Defesa, tem como objetivo adestrar o aluno a realizar os movimentos isolados e em tropa, reconhecer e executar os comandos a voz e com corneta e comandar tropas e frações de tropa, desenvolvendo a liderança sob seus pares e subordinados. Esta atividade psicomotora é executada com atividades teóricas e práticas. Ambientação à audiência – pacote de aulas de técnicas de plataforma e elaboração de aulas. Visa a melhorar a capacidade de exposição de ideias, a desinibição e a postura a frente de grupos. Taça eficiência – competição esportiva realizada entre as esquadrilhas do esquadrão. O desporto é uma importante ferramenta no estímulo e desenvolvimento da liderança. Na execução desta competição esportiva são priorizados os esportes coletivos, bem como o comportamento da torcida. Acionamento militar – atividade planejada onde se trabalham as reações individuais e do grupo a uma situação de elevado estresse decorrente de um ataque militar. Não é utilizado armamento letal e as atividades são voltadas sempre para a preservação da segurança dos participantes. Esta atividade ocorre no período noturno, sem o prévio conhecimento dos discentes da data e horário de realização. É dividida em quatro momentos sequenciais: acionamento militar propriamente dito, dinâmica perdidos na lua (explicitada em tópico abaixo), exercício de centopeia (dinâmica física que prioriza a coordenação de esforços por uma fração do grupo) e transposição de curso d’água (piscina) com utilização de cordas. 30 Exercício de campanha - O Exercício de Campanha visa aprimorar no futuro oficial da Força Aérea a liderança militar, a estabilidade emocional e o espírito militar, sob condições especiais de dificuldade e tensão, submetendo-o à execução de tarefas de campo nas quais sejam exigidas as suas qualidades como futuros oficiais. Devido à natureza do Exercício, a rotina diária é bastante exigente, tanto física como mentalmente. Muitos serão levados a limites que nunca alcançaram antes. A maioria fica satisfeita de verificar quão bem sabe lidar com esse estresse. Outros identificam fraquezas pessoais e deparando-se com experiências similares no futuro saberão a maneira mais adequada de proceder para galgar o sucesso. Neste exercício não é esperado a perfeição dos estagiários, pois eles estão em treinamento e pequenos erros são admissíveis. O que se deseja é à vontade e a determinação para agir corretamente e aprender. Os ensinamentos passados poderão muito bem salvar suas vidas algum dia. Todavia, o mais importante é o conhecimento que cada um irá adquirir de si mesmo e a descoberta da capacidade, mesmo mediante o desconforto físico e à pressão psicológica normal às instruções de campo e operações militares, de executar com presteza diversas tarefas. Viagens e visitas de instrução - possibilita ao aluno/estagiário o contato com outras unidades da FAB e, consequentemente, eles tem a possibilidade de vislumbrar a realidade do serviço e a grandeza da qual eles irão em breve fazer parte. Durante as viagens há a possibilidade de iniciar o processo de flexibilização da rigidez da escola, iniciando-se a mudança de postura entre o aluno e o oficial formado. Instrução de Chefia e Liderança – pacote de aulas e dinâmicas voltadas ao desenvolvimento de características ligadas a liderança de grupos, à desinibição a as atividades de chefia. Dinâmicas de grupo – realizadas em apoio à instrução de Chefia e Liderança, destacam-se: o Dinâmica Perdidos na Lua. Esta dinâmica ocorre durante um treinamento coletivo de reflexo no período do TMB e é voltada para a solução de um problema hipotético decorrente de um pouso forçado na lua, onde os meios de sobrevivência são restritos e devem ser priorizados. 31 o Dinâmica Observação, Memorização e Descrição. Esta dinâmica ocorre no TMB. Demonstra ao grupo como uma notícia vai se modificando ao ser transmitida de pessoa a pessoa e quais técnicas devem ser utilizadas quando da transmissão de ordens para evitar a perda de conteúdo. o Dinâmica da Centopéia. Esta dinâmica ocorre durante um treinamento coletivo de reflexo no período do TMB. É um exercício psicomotor onde a coordenação de esforços é fundamental. É realizada de forma lúdica como uma competição entre frações da tropa. o Dinâmica dos Olhos Fechados. Realizada em duplas, aonde um aluno conduz outro com os olhos fechados até um determinado ponto, apenas com comandos verbais, sem toca-lo a não ser por motivos de segurança. O conduzido não possui venda nos olhos para desenvolver a confiança (ele “escolhe” permanecer de olhos fechados diante da incerteza) e o condutor vai percebendo o que funciona ou não no decorrer do processo. Não é permitido conduzir com orientações do tipo: “siga a minha voz!”. Diversas duplas irão para os mesmos lugares sendo que, por vezes os caminhos se cruzarão e serão iguais. Após chegarem ao destino proposto as duplas esperam a chegada das demais duplas. O retorno é realizado por todas as duplas de uma vez, sendo que é escolhido um participante, que permanece de olhos fechados, sendo guiado por todos os demais conjuntamente. Desenvolve-se a capacidade de comunicação e se verifica o que produz efeito no processo de transmissão de informações. No final da dinâmica se realiza uma análise com todos os participantes verificandose as experiências bem e mal sucedidas. No apêndice B se propõe uma ficha de acompanhamento desta atividade. Neste momento passaremos a verificar como é o perfil esperado dos alunos do Estágio de Adaptação de Oficiais Temporários. 32 6 PERFIL DOS ALUNOS O treinamento atualmente realizado com os discentes do Estágio de Adaptação de Oficiais Temporários – EAOT, realizado no Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica – CIAAR é o Programa de Treinamento de Liderança, que descreve o processo e baliza as ações. Dentro deste PTL existe o perfil esperado para cada grupo de alunos, abaixo explicitado, decorrente das especificidades do edital do concurso e da experiência adquirida pelo trabalho com turmas anteriores. Classe D ou C, com alguns indivíduos oriundos da classe PERFIL SÓCIOD-. Basicamente vivem com os pais e poucos já possuíam ECONÔMICO vida financeira independente. Muitos estão no primeiro emprego. FAIXA ETÁRIA Na média figuram entre os 25 e os 35 anos de idade. Atingirem o posto de 1º Tenente. Utilizarem o tempo que PERSPECTIVAS NA permanecerão no COMAER (máximo de nove anos) para CARREIRA se prepararem para novos desafios. São oficiais temporários. Visualizam o Comando da Aeronáutica como um emprego. Para algumas especialidades receberão enquanto militares bem mais que o mercado de trabalho remunera suas especialidades. Alguns esperam ser efetivados no COMAer, embora tal PERSPECTIVA NO situação dependa de possíveis decorrências da Lei nº COMAER 12.797, de 04 de abril de 2013, que cria dispõe sobre criação do Quadro de Apoio no Corpo de Oficiais da Ativa do COMAer. Ficarão no máximo nove anos, sendo que a partir do sexto ano sofrem forte pressão interna e familiar para a busca de novo emprego. Desafio de se formarem, coerção e amizade do grupo, FATORES atitudes impulsivas típicas de jovens. Tudo lhes é novo e MOTIVACIONAIS vale a pena ser vivido com intensidade. Demonstrar que suas especialidades são importantes, CAUSAS conhecer novas cidades e se estabelecer IMPORTANTES economicamente. Pretendem constituir família, embora não em curto prazo. Baixo. Embora alguns militares encontrem no COMAer uma remuneração acima do mercado para a sua especialidade e se dediquem com afinco, tem a clara visão GRAU DE que este é um emprego temporário, havendo a COMPROMETIMENTO necessidade constante de busca de outra colocação. COM O COMAER AO A maioria entra para o curso apenas visando um emprego INICIAR O CURSO e não tem qualquer noção das exigências e peculiaridades da vida militar. Alguns chegam a pensar que trabalharão dentro de uma instituição militar, como civis [conforme pesquisa aplicada aos alunos e observação de campo]. 33 Ele projeta que uma nova turma de alunos do EAOT terá as caraterísticas acima listadas, que serão utilizadas nas abordagens e procedimentos com a turma, após uma validação destas informações com a turma em questão. Para potencializar os resultados, este perfil esperado de grupo deve ser confrontado com a realidade para haver pequenas adaptações ao planejamento previamente realizado, de forma a obter o melhor desempenho possível do processo de treinamento. Esta adaptação passa pelo conhecimento do que os discentes sabem sobre a instituição e sobre a atividade a ser realizada após a conclusão do estágio de adaptação. A seguir analisaremos pesquisa social com os atuais alunos do EAOT. 34 7 PESQUISA COM DISCENTES Para que ocorra a conversão do conhecimento explanada no capítulo 4 é importante saber o que o grupo a ser trabalhado conhece sobre o assunto para elaboração da melhor estratégia de abordagem. Visando a elucidação deste assunto foi aplicada uma pesquisa nos discentes do EAOT 2013 que procura retirar o empirismo do conhecimento de campo dos instrutores e produzir uma ferramenta mensurável acerca do tema. Na distinção entre saberes, é possível admitir que o senso comum orienta a ação cotidiana, ao passo que a ciência busca ultrapassar a fronteiras deste cotidiano ao observar, descrever, ordenar e explicar o extraordinário. Assim, mesmo que a ciência possa relacionar-se com a vida cotidiana, é sempre na atitude de problematizar com o cotidiano que encontramos qualquer ciência em sua gênese. (MEKSENAS, 2008, p. 147). “No fundo, o ato de conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos” (BACHELARD, 1996, p. 17 apud MEKSENAS, 2008, p. 147). O EAOT 2013 teve início no dia 03 de junho de 2013, com 155 (cento e cinquenta e cinco) novos estagiários, de diversas especialidades, a saber, administração, análise de sistemas, ciências contábeis, economia, estatística, jornalismo, psicologia clínica, psicologia educacional, psicologia organizacional e do trabalho, relações públicas, serviço social e serviços jurídicos. Destes novos discentes, 152 (cento e cinquenta e dois) responderam a pesquisa apresentada no apêndice A, versando sobre expectativas e experiências anteriores ao início do estágio. As perguntas e respostas tabuladas estão abaixo explicitadas. PESQUISA DE OPINIÃO - EAOT 1 – Qual era seu conhecimento sobre a rotina da vida militar antes de ingressar no Comando da Aeronáutica Nenhum 20 Muito pequeno 56 Pequeno 34 Mediano 27 Relativamente grande 14 Grande 3 Muito grande 2 35 Figura 6: Conhecimento Sobre a Rotina da Vida Militar Antes de Ingressar no Comando da Aeronáutica Fonte: Elaborado pelo Autor 2 – Pelos seus conhecimentos e impressões anteriores ao início do EAOT você considerava que a instituição militar é muito rígida? Discordo totalmente 5 Discordo 8 Discordo parcialmente 24 Nem concordo nem discordo 12 Concordo parcialmente 33 Concordo 60 Concordo totalmente 14 Figura 7: Impressões sobre a Rigidez da Instituição Militar Anteriores ao Início do EAOT Fonte: Elaborado pelo Autor 36 3 - Pelos seus conhecimentos e impressões anteriores ao início do EAOT você considerava que a instituição militar aceitaria de bom grado a participação das idéias individuais na evolução e modificação de seus processos e atividades? Discordo totalmente 8 Discordo 49 Discordo parcialmente 32 Nem concordo nem discordo 11 Concordo parcialmente 32 Concordo 22 Concordo totalmente 3 Figura 8: Considerações sobre a Aceitação de Idéias Individuais na Evolução e Modificação de Processos e Atividades Antes do Início do EAOT. Fonte: Elaborado pelo Autor 4 - Pelos seus conhecimentos e impressões anteriores ao início do EAOT você considerava que a instituição militar procurava influenciar a mudança do comportamento e da atitude de seus membros? Discordo totalmente 0 Discordo 6 Discordo parcialmente 5 Nem concordo nem discordo 2 Concordo parcialmente 31 Concordo 73 Concordo totalmente 38 37 Figura 9: Considerações sobre a Possibilidade da Instituição Militar Procurar Influenciar a Mudança do Comportamento e da Atitude de seus Membros Antes do Início do EAOT. Fonte: Elaborado pelo Autor. 5 – Caso tenha concordado, pelo menos parcialmente, com a questão nº 4, de que modo isto ocorreria? Pode-se apontar mais de uma alternativa. Exemplo dos seus membros 79 Pressão nos seus integrantes 64 Legislação punitiva 79 Destaque dos melhores 46 Recompensa financeira 3 Recompensa administrativa 4 Adoção de regras rígidas 9 Alocação em futuras funções por desempenho 25 Figura 10:Considerações sobre o Modo como a Instituição Militar Influenciaria a Mudança de Comportamento e Atitude de seus Membros Antes do EAOT. Fonte: Elaborado pelo Autor. 38 Analisando este resultado de pesquisa, verifica-se que há um pequeno conhecimento dos discentes da rotina a ser seguida após a conclusão do estágio. Isto se explica pela baixa faixa etária dos alunos, atrelada ao desconhecimento da sociedade quanto às rotinas dos quarteis, fato este derivado do distanciamento auto imposto pela instituição perante a sociedade. O desconhecimento gera opiniões desprovidas de sólida fundamentação, aproximando o imaginário de preconceitos de fácil digestão pela comunidade. Um destes preconceitos é que a instituição militar é muito rígida com seus integrantes. Este receio de ingressar em uma organização muito rígida pode afastar potenciais candidatos competentes que muito colaborariam com a evolução desta organização. Outro fato demonstrado pela pesquisa é que se considera que a instituição militar não aceita a participação de seus membros com ideias individuais na evolução e modificação de seus processos e atividades. O fato dos discentes considerarem que a instituição militar procura influenciar a mudança de comportamento e da atitude de seus membros, algo natural, saudável e esperado de um processo de treinamento, dentro de limites éticos, pode gerar nestes discentes uma preparação para não intronizar os conceitos e valores a serem transmitidos. Este é o maior problema causado pelos preconceitos existentes, muitos deles suscitados ou ao menos existentes com a conivência organizacional, onde jovens com formação universitária e selecionados por concurso público concorrido, entram para a instituição preparados para adequarem-se apenas superficialmente a esta, protegendo-se de aprofundar na cultura institucional. A pesquisa ainda aponta quais as principais ferramentas utilizadas nesta mudança de comportamento e atitude: exemplo de seus membros, legislação punitiva e pressão nos seus integrantes. Temos dois pontos negativos e apenas um positivo nestes aspectos (exemplo de seus membros), mas mesmo este pode ser trabalhado internamente para ser bloqueado no processo de treinamento, evitando o espelhamento de comportamentos ao invés da intronização dos comportamentos. Todavia há de se verificar também como a organização percebe o resultado do treinamento realizado, atestando a adequabilidade do resultado final deste processo. Em complemento a esta pesquisa, exporemos a seguir a pesquisa realizada com chefes de alunos formados em curso semelhante realizado há dois anos. 39 8 PESQUISA COM CHEFES DO EX-DISCENTES O CIAAR, por determinação do Departamento de Ensino – DEPENS, órgão responsável pela política de ensino com COMAer, ao qual é subordinado, realiza o Relatório de Avaliação do Desempenho Pós-curso, com a finalidade de apresentar a aquele órgão a pesquisa em pauta, para servir de instrumento e evolução do processo ensino-aprendizagem, focando-se principalmente como ferramenta de validação curricular do processo. Esta pesquisa revela como é avaliado pelas chefias o desempenho destes militares, sendo uma ferramenta indireta (fase não ser este o objetivo original que motiva a elaboração deste instrumento) de aferição da qualidade dos resultados do processo de formação dos mesmos. Há de se considerar certa leniência nesta avaliação em função do fato de que uma avaliação desfavorável significa a não renovação anual do contrato de trabalho e consequente perda da mão de obra. Os dados aqui apresentados são referentes à turma do EAOT formados em 2010, com a pesquisa realizada em 2012 (dois anos após a formatura no EAOT e de exercício de suas funções) com 30 % (parâmetro estatístico adotado) dos chefes imediatos destes militares. Neste relatório foram consultadas 21 (vinte e uma) organizações militares diferentes. Este grupo constava com a seguinte distribuição por especialidades: Administração – ADM (1), Analista de Sistemas – ANS (4), Assistente Social – ASS (5), Arquitetura – AQT (1), Biblioteconomia – BIB (2), Ciências Contábeis – CCO (4), Economia – ECO (1), Educação Física – EFI (03), Enfermagem ENF (2), Estatística – EST (1), Fisioterapia – FIS (4), Fonoaudiologia – FON (1), Jornalista – JOR (2), Magistério Língua Espanhola – LME (2) Magistério Língua Inglesa - LMI (2), Museologia – MUS (1), Pedagogia – PED (3), Psicologia – PSI (2), Relações Públicas – REP (3), Serviços Jurídicos – SJU (6) e Terapia Ocupacional – TOC (1). Distribuição dentro do histórico das demais turmas deste curso. Serão transcritas as observações mais importantes referentes ao objetivo deste trabalho: 40 DESCRIÇÃO DO FATOR Desempenho militar (conhecimento de leis e normas que fundamentam uma organização militar). Cumprimento e à aplicação da legislação militar. Marcialidade e capacidade de comandamento durante formaturas e outras atividades. Manutenção do preparo físico. Apuro e correção no uso de uniformes e na apresentação pessoal. Aceitação e cumprimento das decisões superiores. Execução das tarefas pertinentes ao serviço de Oficial de Dia. Desempenho na Chefia e na Liderança. Aplicação dos princípios da disciplina e da hierarquia na condução dos subordinados. Iniciativa e proatividade. Capacidade decisória. Capacidade de julgar com critério e isenção, baseado em ampla análise dos processos envolvidos. Capacidade de planejamento. Firmeza de atividades e coerência nos procedimentos. Comportamento, dentro do meio militar, de acordo com as normas éticas e regras sociais. Comportamento, fora do meio militar, de acordo com as normas éticas e regras sociais. Controle emocional ao lidar com as situações adversas à rotina de trabalho: excelente. QUANTITATIVO APONTADO (%) EXCELENTE ÓTIMO BOM REGULAR DEFICIENTE 38 28 24 10 - 46 20 26 8 - 36 34 18 12 - 38 34 22 6 - 60 26 14 - - 64 22 10 3 1 44 20 20 4 42 32 18 8 - 40 28 22 10 - 42 32 30 30 20 30 8 8 - 32 34 26 8 - 42 28 24 6 - 44 24 26 6 - 66 24 8 2 - 64 22 8 - 54 26 12 6 12 (não observado) 6 (não observado) 2 Obs: o não observado do item “execução das tarefas pertinentes ao serviço de Oficiais de Dia” deve-se ao fato de algumas organizações militares não possuem o serviço de Oficial de Dia em suas instalações e estes militares realizam esta tarefa 41 em outras locais fisicamente distantes, sem o acompanhamento próximo de seus chefes imediatos. Os resultados apresentados demonstram claramente, de modo geral, o processo de treinamento é bem sucedido, contudo também demostram claramente que existe um enorme espaço para a melhoria deste processo de formação de recursos humanos, onde se verifica que há uma perda de qualidade dos conceitos transmitidos em um curto período de dois anos, visto que a escola tem um nível de cobrança sempre da proficiência, retratado na pesquisa como excelente ou, no máximo, ótimo para o desempenho em qualquer aspecto relacionado com valores e dedicação. No presente momento passa-se a sugerir medidas a serem adotadas para potencializar os resultados apresentados atualmente neste processo em análise. 42 9 ATIVIDADES PROPOSTAS Pela pesquisa com chefes existente no capítulo 7 verifica-se que os objetivos gerais do Programa de Treinamento são alcançados, todavia existe um caminho a ser percorrido na busca da excelência do processo. Algumas ações serão listadas visando esta excelência, depois de explicitadas acima as características, qualidades e deficiências percebidas. 9.1 TREINAMENTO DOS DOCENTES Em face de não apresentação de dados versando sobre o treinamento específico dos docentes, percebe-se que o elo menos trabalhado em todo o processo de formação é o instrutor. Há a necessidade de existir um treinamento específico a estes, onde todas as características sejam plenamente estudadas e os objetivos sejam do conhecimento de todos, em detalhes, visando a melhor cobrança e entendimento da motivação ode cada ação a ser implementada. A experiência dos instrutores e docentes propicia o sucesso alcançado, mas esta experiência não é trabalhada em plenitude. Cada partícipe do método deve ter conhecimento do todo e não apenas da atividade sob sua responsabilidade. É preciso entender quais são as atividades predecessoras e quais se seguem a sua instrução. Deve também entender quais os objetivos específicos da sua parte e como tem que serem cobrados. Antes do início do curso há de ocorrer uma séria de aulas – em caráter de estudos e debates - a todo o efetivo envolvido na formação dos alunos descrevendo a sequência de atividades e serem realizadas, os objetivos de cada fase, o grau de cobrança em cada uma delas e haver um treinamento de como será realizada esta cobrança. Tais procedimentos efetivariam a qualidade do trabalho a ser realizado pelo corpo docente. A grande experiência dos instrutores e do sistema na realização deste tipo de curso a mais de dez anos, com sucesso, não pode ser motivo para que cada indivíduo tenha suas verdades e conhecimentos. Há de ter uma transferência de conhecimentos adquiridos nestes anos de atividades. A cobrança aos alunos tem que ser de todos de modo equânime, de modo que os discentes percebam que o 43 processo de treinamento ocorre de forma coerente em qualquer local onde se encontram recebendo instrução. 9.2 MELHORIA DO PROCESSO DE TREINAMENTO Além da preparação prévia também há a necessidade de melhorar o processo de treinamento, principalmente das atividades psicomotoras (ordem unida e treinamento de tiro, por exemplo). O conteúdo a ser transmitido é por demais extenso para a carga horária disponível. As instruções exemplificadas no parágrafo acima, fundamentais para a adaptação ao exercício da atividade profissional militar ficam reduzidas a níveis mínimos e tem que ser aproveitas em plenitude. Nestes treinamentos o grupo deve ser reduzido a menor fração possível, de modo que cada instrutor esteja atento a menor quantidade de pessoas possível, individualizando este treinamento e possibilitando atenção aos menores detalhes (desvios). O domínio psicomotor de aprendizagem, predominante em atividades físicas como correr, atirar ou realizar um treinamento de ordem unida tem cinco estágios: percepção, posicionamento, execução acompanhada, mecanização e domínio completo do movimento. A percepção consiste na atenção prestada pelo aprendiz aos movimentos componentes da ação completa, suas conexões, e consequências. O segundo estágio da aprendizagem de uma atividade psicomotora é o posicionamento. Neste ponto, o aprendiz ajusta seu corpo para executar os movimentos, porem ainda não os executa. O terceiro estágio, denominado execução acompanhada, refere-se àquele no qual o aprendiz executa de modo hesitante os movimentos componentes da ação global. O quarto componente da taxionomia, mecanização, refere-se as ações complexas executadas correta e inconsciente pelo aprendiz. As sequências de movimento estão automatizadas e são rotineiras para o indivíduo. Na última categoria, domínio completo de movimentos, o indivíduo já seria capaz de executar as ações motoras automaticamente e sem erro (ZANELLI; BORGESANDRADE; BASTOS, 2004, p. 251). No caso da ordem unida, esta atividade envolve destreza física e rápido raciocínio para entender as ordens de comando e executa-las em uníssono com ao restante da tropa. Há de se adequar, em conjunto, a percepção do que deve ser feito, a execução perfeita do movimento e o tempo de sua execução. Para potencializar este processo, devem ser montados vídeos curtos demonstrando a correção desta execução, de modo a serem exibidos aos discentes imediatamente antes de cada atividade de treinamento. A visualização do correto é importante para a execução nas fases iniciais e intermediárias do treinamento. Estes vídeos devem 44 estar disponíveis para a consulta dos alunos fora do horário de treinamento em rede interna ou externa de dados. Este tipo de treinamento ocorre normalmente com mais de dois tempos de aula seguidos, chegando a durar uma manhã inteira. A demonstração dos exercícios a realizar naquele treinamento por 15 minutos atiça a percepção visual de como se executará a tarefa, restringindo o treinamento ao tempo de execução em conjunto e pequenos acertos individuais. O discente tem que, previamente, conhecer o que vai ser trabalhado em cada atividade, os comportamentos respondentes e operantes envolvidos e como lidar com cada situação. Tudo tem que ser constantemente avaliado, não esquecendo as diferenças individuais e culturais porque comportamentos de desvio sempre devem ser esperados. Deixar de agir conforme as normas, ou se desviar, ocorre quando um membro de um grupo viola uma norma do grupo [neste caso o grupo maiorinstituição militar]. O desvio sinaliza que o grupo não esta controlando o comportamento de um de seus membros (GEORGE; JONES, p. 548). Os comportamentos de desvio devem ser extintos reforçando-se o correto e punindo os desviados. A metodologia empregada deve levar o aluno à generalização de comportamentos, apresentando-se situações onde haverá similaridade com outras situações reais da vida após o termino do treinamento, o que projeta a elaboração de atividades semelhantes ao cotidiano da atividade militar. “A generalização é um processo importante porque permite que novas respostas sejam aprendidas de forma mais rápida, não sendo necessário a modelagem direta da mesma resposta para cada novo estímulo” (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 102). Afinal não temos que aprender cada vez que olhamos para uma mesa que aquilo é na realidade uma mesa. Para termos a possibilidade de levar os discentes a abstrair os comportamentos desejados há a necessidade de treinamento continuado, reforçando-se os desejados e extinguindo os demais. O comportamento desejado é uma sequência de comportamentos simples na ordem correta de execução, portanto a sequência de comportamentos a que o aluno é exposto também deve ser planejada visando a melhoria do processo, assim como neste treinamento também deve ocorrer na ordem correta, estabelecendo-se o comportamento final (desejável) atrelado à cultura organizacional. 45 “Para otimizar a aprendizagem de uma cadeia comportamental, ela deve ser estabelecida de trás para frente, ou seja, da última para a primeira resposta emitida” (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 138). Isto tem que ser fruto de um amplo trabalho multidisciplinar com a participação de agentes da Divisão de Ensino (coordenação dos discentes e do setor de avaliação), Corpo de Alunos (acompanhamento diário das rotinas e desempenhos), psicopedagogia, pedagogos, psicólogos, Batalhão de Infantaria (devido as instruções de ordem unida e tiro), sob a coordenação do Comando do CIAAR. O ato de liderar é um comportamento bastante estudado tanto na sociologia quanto na administração. Diversas características são associadas ao líder ou ao ato de liderar: carisma, capacidade de influenciar, conhecimento, oportunidade, capacidade agregativa, capacidade de condução, confiança, respeito, intuição, sacrifício, capacidade de motivar, etc. Esta lista nunca seria completa e conclusiva principalmente que também não se concluiria uma lista de situações onde a liderança seria necessária, mas características e comportamentos comuns podem ser estabelecidos. A análise destes “comportamentos raiz” da liderança leva a elaboração das principais características a reforçar no treinamento e a planejar atividades com este objetivo. Este trabalho deverá ser realizado anteriormente ao início das atividades acadêmicas, visando estabelecer os parâmetros desejáveis para o treinamento dos docentes para as atividades acadêmicas, visto a competência destes para a transmissão de conceitos de sua área de conhecimento (expertise), contudo estes não necessariamente detém conhecimento do processo de formação como um todo, nem das características a serem reforçadas. Os instrutores tem que ser treinados para reforçar ao máximo todos os comportamentos coerentes com o comportamento final desejado. O acompanhamento deve ocorrer em reuniões entre os principais atores deste treinamento, para análise das anotações feitas pelos instrutores em todas as atividades realizadas. Estas anotações devem ocorrer em formulários pré-planejados onde estejam explícitos os comportamentos desejados, os desvios esperados e as medidas corretivas a serem adotadas. Há a possibilidade de tabulação dos resultados apresentados para melhor visualização da evolução apresentada individualmente e em grupo. 46 Este acompanhamento é extremamente importante para gerar informações que possam vir a ser necessárias em um Conselho de Desempenho Acadêmico, que ocorre quando um discente é reprovado com base no Plano de Avaliação em vigor e há a necessidade institucional de verificação das medidas administrativas a adotar. Todo este processo é chamado de Análise Funcional do Comportamento. A análise funcional nada mais é do que a busca dos determinantes da ocorrência do comportamento. Sob a perspectiva behaviorista radical, esses determinantes estão na interação do organismo com o meio. Skinner defende a existência de três níveis de causalidade do comportamento, que, em maior ou menor medida, estarão sempre atuando em confluência na ocorrência ou não de uma resposta de um comportamento: Gênese – a nossa interação com o meio advém da evolução de nossa espécie. Ontogênese individual – aprendizagem por experiências individuais com o meio. Ontogênese sociocultural – nosso comportamento será determinado por variáveis grupais, como moda, estilo de vida, preconceitos, valores, etc. Nosso contato com a cultura estabelecerá a função reforçadora ou aversiva da maioria dos eventos. Além disto, podemos aprender pela observação de modelos e por instruções, o que compreende a aprendizagem social responsável pela emissão de grande parte dos comportamentos humanos (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 146). A análise funcional procura identificar as relações entre o comportamento e que tipo de consequências ele produz, procurando predizer o comportamento [...] [ou seja o] ato de conhecer um pouco melhor o que já conhecemos sobre em que circunstâncias as pessoas fazem o que fazem, pensam o que pensam ou sentem o que sentem [e] controlar o comportamento [sabendo-se que] quando falamos controlar comportamento, o que se quer dizer é dispor as condições necessárias e suficientes para que o comportamento se torne provável de ocorrer (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 162-163). Decorre desta aprendizagem social a necessidade dos discentes serem expostos constantemente aos valores da cultura organizacional. De igual importância está a necessidade de trabalhar no comportamento do grupo, visto que a individualização do comportamento passa pela gênese e ontogênese individual, mas complexas de serem trabalhadas. Deve-se atentar para possíveis respostas de contracontrole (apresentar o comportamento desejado apenas na presença dos instrutores), devido ao fato deste comportamento ser esperado quando o discente é exposto a um estímulo não agradável, não desejável ou ainda quando este percebe uma tentativa institucional de manipulação do comportamento. Esta resposta não é facilmente percebida pela instituição e não acarretará mudança de comportamento. 47 O treinamento também deve trabalhar os aspectos emocionais, pois os resultados serão mais duradouros, contudo este campo é de acompanhamento mais intrincado. É importante que a emoção trabalhada seja explicitada aos alunos após o término da atividade, explicando-se o objetivo daquele treinamento específico. A não adoção deste tipo de ação gera a perda da confiança do aluno na instituição por acreditar que estaria sendo manipulado. Após a conclusão do curso, a atividade diária produzirá uma redução dos comportamentos nos níveis anteriores, pelo falta de treinamento, falta de cobrança e, muitas vezes, falta de exemplo, contudo espera-se que os comportamentos tenham sido intronizados e o reforço necessário possa ocorrer sem uma alta frequência. 9.3 AUMENTO DO PERÍODO DE DESCANSO. Historicamente o treinamento militar é extenuante física e mentalmente. É realizado sob pressão mental. Esta pressão é necessária para condicionar a realização de tarefas sob estresse mantendo-se a concentração na atividade, o que aconteceria naturalmente em uma situação de conflito. Uma das melhores e mais fáceis maneiras de colocar um grupo sob estresse é reduzir as horas de descanso, contudo as atividades psicomotoras dependem de alto grau de concentração. O período de sono dos discentes tem que ser aumentado. O elevado nível de estresse no início do treinamento militar faz-se necessário visto as características peculiares da atividade militar. É necessário que o indivíduo seja confrontado, de forma controlada, com suas reações, visto as demais situações da atividade cotidiana, como coordenar uma equipe de segurança, armado, durante o serviço de Oficial de Dia. Naturalmente um treinamento militar não pode ser uma “colônia de férias” e a adequação da rotina individual a baixa disponibilidade de tempo faz parte do treinamento desejado, sem relevar o tempo mínimo para o descanso. A pressão psicológica durante a realização das tarefas é suficiente para elevar o nível de estresse e terá maior efeito em mentes relativamente descansadas. O poder de concentração e a percepção da atividade realizada são muito reduzidos pela fadiga 48 decorrente da falta de sono. O aluno descansado pode ser submetido durante os treinamentos à carga de estresse mais elevada, mantendo-se a performance desejada. Instruções de como relaxar após um dia cansativo devem ser aplicada aos alunos, ensinando como se atingir mais rapidamente as fase de sono profundo e como isto altera o aproveitamento do período de descanso. As atividades psicomotoras devem ser o mais concentrado possível, de modo a melhorar a percepção da realização. Deve-se atentar para não ultrapassar a fadiga física e mental dos discentes. Devem ocorrem, para os discentes e docentes, treinamentos especiais ou atividades direcionadas (uso da voz, psicologia da liderança, etc), tudo balanceado de modo a termos o necessário nível de estresse mantendo a capacidade de aquisição de conhecimentos. 9.4 REVISÃO DO MANUAL DO ALUNO. O Manual do Aluno é um documento (livro) que é distribuído aos alunos antes do início do curso e sua leitura estimulada, pois contem as regras a serem aplicadas aos discentes. Os ensinamentos contidos no Programa de Treinamento de Liderança devem ser adicionados ao Manual do Aluno, no que couber, evitando que dinâmicas sejam de conhecimento prévio dos alunos. O conhecimento prévio, bem direcionado, potencializa o processo de aprendizagem, visto que o patamar inicial do conhecimento é diferenciado. Este material pode ser disponibilizado eletronicamente aos alunos antes do início do curso, via internet, de modo que estes cheguem ao CIAAR com algum nível de conhecimento sobre o assunto. É esperado que esta ação não tenha grande eficácia, contudo a pesquisa realizada com os alunos sobre as impressões destes sobre a vida militar projeta a possibilidade destes ao menos lerem o material devido ao receio das possíveis cobranças ao iniciarem o curso. A Instituição deve fazer uso destas impressões dos discentes, a seu favor, antes e durante a realização das atividades acadêmicas. Os vídeos sobre ordem unida podem fazer parte de uma versão digital do Manual do Aluno, disponibilizado a estes. 49 9.5 REVISÃO DO SISTEMA DE PUNIÇÃO O controle individual e do grupo pela punição é lícito e necessário, fazendo inclusive parte da cultura militar. Contudo o aluno em período de adaptação à cultura organizacional tem dificuldade de entender como que não arrumar uma cama, ou não o fazer com perfeição, pode acarretar a perda de liberdade durante um final de semana. Temos que ter em mente que treinando um grupo temos que atentar para os indivíduos e o grupo ao mesmo tempo. A punição individual será sempre interpretada pelo grupo como uma agressão externa a este. A punição tem que ter um caráter educacional e, para tal, tem que ser digerida corretamente pelo indivíduo e pelo grupo. A punição [neste contexto] destina-se a eliminar comportamentos inadequados, ameaçadores ou, por outro lado, indesejáveis de um dado repertório, com base no princípio de que quem é punido apresenta menor possibilidade de repetir seu comportamento (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 69-70). Temos então a punição positiva que diminui a possibilidade do comportamento ocorrer pela adição de um estímulo aversivo (punitivo) ao ambiente e a punição negativa que diminui a probabilidade deste acontecimento pela retirada de um estímulo reforçador do ambiente. Como exemplo de punição positiva temos uma reprimenda ao se realizar propositalmente de forma inadequada uma tarefa no treinamento e de negativa a suspensão do licenciamento do aluno durante um determinado período de tempo ao fazer a mesma atitude. A abolição da punição é vista na sociedade disciplinar e de controle como utopia, uma bela utopia a ser compartilhada, e é desta mesma maneira que muitos tratam o fim da penalização, como algo nobre que anuncia o futuro, mas que deve ficar para este mesmo futuro (PASSETTI, 1999). A punição é licita dentro da tradição militar, deve ser executada quando necessário, até mesmo para que o aluno tenha esta ferramenta no seu repertório de ações a adotar após sua formação. Entretanto existem diversos modos de reforçar um comportamento e a punição é apenas um deles, os quais serão explorados a partir deste momento. 50 No campo do sistema de recompensa/punição o mais comum é o reforço positivo, que é positivo porque aumenta a possibilidade do comportamento reforçado acontecer ou porque a modificação produzida no ambiente é a adição de um estímulo. Se a criança chorar para receber um doce e conseguir, vai associar o choro a conseguir seu intento; de modo semelhante se fizer alguma atividade bem realizada e receber publicamente um elogio, tenderá a repedir o comportamento. Temos que nos acostumar mais com o elogio! No lado oposto do espectro temos os estímulos aversivos, que reduzem a freqüência dos comportamentos que o produzem (reforço negativo). Se este mesmo militar realizar uma tarefa com desdém e for imediatamente punido (entenda-se o imediato como temporariamente havendo a capacidade do indivíduo associar o comportamento à punição) tenderá a não mais realizar este comportamento. “A relação de contingência é chamada de reforço [porque houve um aumento na freqüência/probabilidade de um comportamento] negativo [porque a conseqüência foi a retirada de um estímulo do ambiente].” (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 65). Segundo os autores citados acima (2007, p. 69), existem dois comportamentos ligados e este aspecto: o comportamento de fuga, que faz com que o indivíduo se retira (fuja) da situação e o comportamento de esquiva, que faz com que ele evite situações semelhantes. Estes dois comportamentos devem ser evitados nos alunos ao se dosar as situações indesejadas, em acompanhamento diário pelos instrutores, verificando-se os limites do grupo para a aceitação da pressão. A punição sempre trará uma reação. Deve-se estar preparado para este tipo de consequência, aceita-la e até mesmo utiliza-la como reforço positivo ao grupo. Respostas extremas são esperadas principalmente no início do processo de treinamento. “No momento em que os organismos entram em contato com estímulos aversivos, é observada a elicidação de várias respostas emocionais [raiva, choro, palpitação, tremores, transpiração excessiva, etc.]” (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 75). Esta resposta, em cada atividade executada pode e deve ser planejada ou, ao menos, prevista, de modo a ser utilizada em prol do reforço dos comportamentos pelo grupo. O instrutor, naturalmente, tenderá a ter uma reação emocional em reflexo à apresentada pelo grupo que conduz. Esta sua reação será tão mais adequada aos objetivos da instrução quanto mais previstos a reação do grupo for e quanto mais ele 51 puder conduzir este processo conscientemente. Do mesmo modo há de se atentar para a reação do grupo à punição e a quem a aplica, para evitar que o esperado respeito à instituição e absorção de conceitos não se transforme em medo ou aversão à mesma, supressão de outros comportamentos desejados ou, ainda pior, o boqueio aos ensinamentos a serem transmitidos. O peso das ações e o planejamento antecipado são fundamentais ao resultado final. O contracontrole é o efeito mais indesejado do processo de controle. Ele acontece quando a dose é exagerada podendo causar revoltas e rebeliões. Em um ambiente de escola militar ele tem uma face ainda mais perversa. Estas reações não são explícitas ao sistema, mas certamente significam que este grupo foi perdido. A confiança do grupo na instituição estará perdida e este grupo apenas se adequará ao comportamento solicitado, não intronizando estes valores. A duração do curso é pequena e também o tempo que o grupo, conscientemente ou não, vai manter o comportamento exigido será facilmente suportável. O acompanhamento da evolução e da reação do grupo é fundamental para evitar este tipo de situação. O contracontrole é evitado levando-se em consideração os motivos pelo qual punimos e exageramos na punição: Imediaticidade da consequência: quem pune para suprimir um comportamento é negativamente reforçado de forma quase imediata [o reforço também ocorre em quem aplica a punição porque percebe uma reação a sua ação, neste caso, a adequação ao comportamento pretendido]. Eficácia não depende da punição: para controlarmos positivamente um comportamento, temos que identificar quais eventos serão reforçados para o indivíduo [e para o grupo]. Além disso, mesmo os reforçadores primários não são eficazes o tempo todo. Caso o organismo não esteja privado do reforçador em questão, este não será eficaz. Facilidade no arranjo das contingências: existem alternativas ao controle aversivo [...] entretanto elas dão mais trabalho de organizar do que as contingências de controle aversivo (MOREIRA; MEDEIROS, 2007, p. 7980). Naturalmente existe alternativas a punição. O necessário é extinguir o comportamento para não haver a necessidade da punição. Para isto diversos estímulos devem ser utilizados ao mesmo tempo. O planejamento deve listar as ações a serem adotadas em cada tipo de atividade e os estímulos adequados em cada tipo de reação. É de se esperar que não seja cobertas todas as situações que venham a ocorrer, contudo o planejamento cobrirá parte significativa das situações e facilitará, por similaridade, a adoção da atitude mais coerente nas demais. 52 9.6 TREINAMENTO DE LIDERANÇA A liderança modernamente é uma atividade que possui características específicas para cada situação, é a chamada liderança situacional. Esse conceito repousa em uma relação funcional em que “o líder é percebido por um grupo como o possuidor ou controlador dos meios para a satisfação de suas necessidades” (CHIAVENATO, 2001, p. 158). Estas qualidades serão adequadas a cada situação da vida cotidiana ou profissional. Este é o motivo pelo qual qualquer lista de qualidades de um líder certamente será incompleta. Entretanto, uma lista básica de habilidades pode ser elaborada, embora não conclusiva: honestidade, confiabilidade, compromisso, encorajar as pessoas, possuir atitude positiva e entusiástica, demonstrar amor pelo que faz, caráter, confiança, tenacidade, capacidade de aceitar desafios, humildade, tratar as pessoas com respeito, visão e criatividade são algumas das características desejáveis. Estas características podem ser treinadas, com dinâmicas, palestras, estudos de caso e principalmente vivenciando experiências e estes comportamentos podem ser incorporados ao repertorio individual. Os valores de um líder podem, portanto, serem desmembrados em comportamentos mais simples que podem ser treinados e acompanhados durante este processo. 9.7 ACIONAMENTO INTELECTUAL Esta atividade, a semelhança do acionamento militar descrito no item 8.4, faz parte da proposta de treinamento militar, onde o discente passará por uma atividade voltada a vivenciar situação de estresse à semelhança da atividade militar passível de ocorrer durante sua carreira, contudo adequado ao seu grau hierárquico. Este evento é composto de aulas preparatórias voltadas para a constituição da FAB e do Ministério da Defesa – MD e as principais teorias voltadas para a aplicação do poder, do poder militar e do poder aéreo. Após este embasamento teórico, os discentes deverão, em grupo, elaborar um trabalho intelectual versando sobre a análise dos motivos históricos para determinas decisões políticas voltadas à FAB, a alocação de uma unidade área em determinadas regiões do país e as motivações para esta alocação. 53 Deve-se realçar que este trabalho em grupo, não tem como prioridade a qualidade e profundidade intelectual do resultado do relatório final, mas principalmente é uma dinâmica onde se vivencia o conflito de elaboração de um trabalho de cunho intelectual em grupo, sem que haja relação de hierarquia entre seus membros e com tempo reduzido para sua elaboração. Visa a propiciar a experiência de elaborar um trabalho de cunho intelectual cansado e sob estresse, verificando individualmente seus limites e potencialidades. A restrição de tempo e o grau de estresse são conseguidos ao se terminar as aulas preparatórias à meia noite do dia do acionamento e o início das orientações deste trabalho logo em seguida, com o término do tempo para sua elaboração às seis horas da manhã deste mesmo dia. O grupo necessariamente terá que se organizar internamente para a realização desta pesquisa e relatório. É dado acesso a internet, bem como material de pesquisa de apoio. Os relatórios apresentados por cada grupo deverão passar por uma correção, qualificando se os mesmos de forma a dar um retorno sobre a lógica das decisões apresentadas. Naturalmente os trabalhos que não atinjam um nível mínimo de qualidade deverão ser refeitos na primeira oportunidade. Deve-se ressaltar que o nível esperado por uma força armada para seus oficiais, mesmo nos primeiros postos, é voltado ao planejamento e a realização de tarefas predominantemente intelectuais e não através de serviços físico, exceto os combatentes diretos que não são formados pelo CIAAR. Devido ao cansaço gerado pela atividade, a ser realizada no período de adaptação, o grupo deverá ter um período de descanso na manhã seguinte ao evento sem atividades acadêmicas. De forma semelhante as demais dinâmicas, esta deverá ter um acompanhamento próximo quanto a execução e ao aproveitamento didático dos ensinamentos adquiridos. 9.8 UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE FUNCIONAL DO COMPORTAMENTO O treinamento atual é realizado baseado no comportamento desejado e da experiência dos instrutores, contudo a experiência pode ser transformada em ciência 54 se os princípios da análise do comportamento, descritas no capítulo 4 forem usados em plenitude. Esta utilização passa pelo planejamento antecipado da atividade a ser realizada, a percepção do desempenho inicial do grupo, a reação esperada a cada estímulo a ser empregado e a astúcia para saber qual atitude adotar em cada comportamento apresentado durante a tarefa, bem como a análise posterior do desempenho, visando uma possível correção posterior (reforço de aprendizagem) de algum desvio considerado fora de uma margem de aceitação. O apêndice B exemplifica uma sugestão de ficha de acompanhamento de atividade a ser empregada durante a realização de um determinado treinamento. Esta ficha deve ser elaborada antes da realização do mesmo e ser o resultado da análise do comportamento esperado pelo grupo (experiências anteriores) e da reação deste aos estímulos da atividade (estímulo condicionado e resposta condicionada conforme um estímulo incondicionado e resposta incondicionada). Para potencializar o resultado deste processo é mais eficaz se ter em mente que o melhor acompanhamento é realizado em pequenos grupos, por um instrutor treinado e voltado a poucas pessoas. O treinamento anterior nivelará o desempenho destes instrutores. Várias são as vantagens em se manter um grupo relativamente pequeno[...] Em comparação aos membros de grandes grupos, os participantes de pequenos grupos tendem a (1) interagir mais uns com os outros e achar mais fácil coordenar seus esforços, (2) ser mais motivados e comprometidos, (3) achar mais fácil trocar informações (GEORGE , JONES, 2008, p. 542). Outra vantagem do grupo pequeno é que o instrutor tem menos indivíduos para prestar atenção e corrigir, havendo uma melhor correção dos desvios individuais. Para cada atividade pode ser montado um formulário de acompanhamento explicitando o estágio inicial do subgrupo, os aspectos (comportamentos) a se desenvolver, as reações esperadas, os comentários e informações a registrar e transmitir. A análise das informações colhidas por esta ferramenta possibilitará a certificação da correção da aplicação do método ou da necessidade de atividades complementares, preferencialmente antes de se trabalhar com outros conceitos. Sugerimos a sequencia a ser implementada: determinação do comportamento a se trabalhar, decomposição em comportamentos mais simples, verificação dos comportamentos inatos atrelados a este processo, elaboração da atividade ou 55 dinâmica propriamente dita, preparação teoria dos discentes com os conhecimentos prévios necessários ao melhor aproveitamento da atividade, correção de rumos durante a realização da atividade e coleta de informações, análise das informações colhidas e correção de rumos, em caso de necessidade. Os alunos precisarão entender o que estão fazendo, o motivo daquela atividade e o objetivo a atingir. Naturalmente o processo terá etapas onde os alunos realizem atividades sem o conhecimento prévio dos objetivos, evitando uma preparação prévia, um bloqueio ou uma defesa aos comportamentos a serem trabalhados, contudo esta “explicação” do que foi realizado deve ocorrer no primeiro momento possível. As experiências vivenciadas devem ser exploradas ao máximo e isto passa pela discussão do realizado, em confronto com a teoria previamente informada, de modo a termos a sedimentação dos conhecimentos face ao previamente disponibilizado, a experiência vivida e o planejado a luz da análise funcional do comportamento. Considerando a complexidade da tarefa de treinamento e pouco tempo, nenhuma oportunidade deve ser desperdiçada, ou utilizada menos que a totalidade. O nível intelectual dos discentes possibilita que estes acompanhem a lógica do processo. 9.9 SEMANA DA LIDERANÇA As diversas atividades e dinâmicas voltadas a trabalhar as características de liderança podem ser agrupadas em atividades sequencias, partindo da atividade que trabalha o comportamento mais simples a mais elaborada. Estas atividades seguiriam a lógica já apresentada neste trabalho, com preparação para cada evento, realização acompanhada com monitor para cada subgrupo, análise do desempenho atingido e reorientação se necessária. Para potencializar a evolução individual entre os estágios do domínio psicomotor (percepção, execução acompanhada, mecanização e domínio completo do movimento) os aspectos pertinentes a cada fase e a periodicidade do treinamento devem ser aumentados, com a concentração das atividades de um determinado treinamento específico. 56 O Comando da Aeronáutica está construindo novas instalações para o CIAAR no município de Lagoa Santa – MG, em face da impossibilidade física de aumentar o quantitativo de oficiais formados para a instituição na atual configuração. Considerando este fato pode-se ter nestas novas instalações uma área preparada para os exercícios de campo voltados para liderança. Estes exercícios seriam compostos de atividades de grupo, onde a realização de cada tarefa dependeria essencialmente da participação de todo o grupo, de forma coordenada e, portanto, com uma liderança ativa. Sugere-se um trabalho entre o CIAAR e o IPA (Instituto de Psicologia da Aeronáutica) para a elaboração deste programa que poderia, inclusive, ter a doutrina e instalações utilizadas pelas demais escolas de formação do COMAer. Caso a programação do curso não comporte esta atividade isolada, ao menos deve haver um sequenciamento planejado destas atividades. Passaremos a tecer sugestões a serem adotadas, em função das considerações acima realizadas. 57 10 CONCLUSÃO A adaptação de profissionais já capacitados em suas especialidades a um labor com características diferenciadas do senso comum a aquela atividade propicia desafios e a possibilidade de potencializar o resultado final deste produto. Tendo como norte o estudo desta situação, à luz da análise comportamental, e considerando a cultura organizacional do Comando da Aeronáutica, a quem prestarão serviço após este período de adaptação, se procurou avaliar a formação militar dos oficiais capacitados pelo Centro de Instrução e Adaptação da Aeronáutica, considerando a formação profissional de cada um, o perfil social de origem de cada grupo de alunos e a avaliação realizada pelos chefes dois anos após o término do treinamento inicial, de onde se observou como o sistema afere este profissional na realização de sua lida. O trabalho baseou-se em pesquisa exploratória sobre os mecanismos de aprendizagem de adultos, concernentes com a análise comportamental, pesquisa realizada com alunos, sobre as expectativas destes quanto ao curso e a instituição com quem iniciavam relação trabalhista e pesquisa com os chefes de alunos de semelhante perfil, focada na análise do desempenho profissional no COMAer. A adaptação destes profissionais à carreira militar é baseada no Programa de Treinamento de Liderança, que faseia esta formação e estabelece as linhas principais deste processo, assim como as principais atividades a realizar. Cada grupo de alunos de turmas de cursos de mesmos atributos possui características previsíveis, considerando as físio-sociais, como idade média, grau de instrução e classe social de seus integrantes. Do estudo destas características esperadas, confrontadas com a realizada observada em cada turma que inicia o curso, advêm abordagens com potenciais perspectivas de serem as mais adequadas a adotar. Contudo faz-se necessário, também, verificar o que estes profissionais têm com imagem da instituição a que adentram, seu conhecimento prévio e como, consequentemente, se prepararam mentalmente para esta formação. Há disponível uma ferramenta que parece ser muito útil ao objetivo deste trabalho, que é a pesquisa realizada com chefes de profissionais de perfil semelhante à turma estudada, focada no desempenho profissional alcançado dois 58 anos após o início do exercício da atividade profissional, e consequentemente do término do período de adaptação. A arte de treinar pessoas exige conhecimento, planejamento antecipado, coordenação de esforços e dedicação. Treinar adultos com formação universitária certamente é um desafio diferenciado, mas merece ser realizado. A tradição militar pauta o exercício desta atividade em quatro preceitos básicos da vida militar: HONRA, HIERARQUIA, DISCIPLINA e EXCELÊNCIA. Os alunos tem que constantemente serem expostos, em instruções e pelo exemplo, a estes preceitos. Muita atenção deve ser dada no processo de formação do grupo, visto que este será o primeiro grupo da força armada que o aluno fará parte, sua turma. Entretanto o objetivo do treinamento é a adequação individual ao grupo Comando da Aeronáutica. Independente de apreciações individuais o aluno deve entender que na vida militar a confiança supera até mesmo a amizade. É extremamente importante que o aluno seja exposto aos conceitos e valores da cultura organizacional do Comando da Aeronáutica e que lhe seja dado oportunidade de racionalmente avaliar a correção e a adequabilidade destes conceitos. Ele não pode apenas ter que exercer estes valores, ele tem que desejar exercê-los. Sugere-se a aplicação de uma pesquisa nos ex-alunos formados a 5 (cinco) anos sobre as qualidades e deficiências na formação para ter uma ferramenta de comparação com a que atualmente é aplicada nos chefes destes profissionais. Esta pesquisa deve ter espaço para que se abordem as atividades que não foram realizadas e quais foram desnecessárias, aproveitando-se a maturidade destes na realização das tarefas e distanciamento emocional do processo de formação. Fica claro no corpo do trabalho que as características a trabalhar prioritariamente são de difícil definição e priorização, de onde decorre que deve ocorrer um trabalho, a ser realizado por órgão superior, elencando as competências necessárias para os futuros oficiais. Estas competências balizariam a revisão do processo de formação, bem como a adequação dos métodos utilizados no processo de ensino-aprendizagem, adequando-os as necessidades da função a exercer. Deve ser realizada uma pesquisa entre os atuais alunos para levantar o nível financeiro e educacional das famílias destes. Este trabalho deve funcionar para 59 possibilitar o respeito ao multiculturalismo e diferenças sociais, adequando isto as necessidades da força. Existe um perfil esperado dos alunos, com perspectiva de conhecimento do que os motiva a ingressar e permanecer na instituição. Sabem-se também quais características do exercício da atividade profissional pós-formação são consideradas menos eficientes pelos chefes destes ex-alunos. Sabe-se ainda como ocorre o processo de aprendizagem no campo afetivo. Deve-se, portanto, trabalhar estas características visando a potencialização dos resultados, a permanência dos valores no período pós-curso e a melhora dos recursos humanos do Comando da Aeronáutica. O Comando da Aeronáutica possui um instituto que necessita de maior participação nesta atividade, o Instituto de Psicologia da Aeronáutica. Os estudos apresentados neste trabalho podem ser aprofundados pelos profissionais deste órgão, elaborando novas atividades, refinando a previsão de comportamentos, ações a implementar e ampliando o conhecimento do processo de aquisição de repertório comportamental desejado pelo COMAer. A observação cuidadosa do processo de treinamento e do resultado que se percebe da avaliação pós-curso resulta da certeza de que o processo ensinoaprendizagem é realizado de forma correta, responsável, planejada e eficiente, mas também abre espaço para a verificação de que, aplicando os conceitos de análise comportamental, este processo pode ser potencializado. Por fim verifica-se que o objetivo de todo processo de treinamento institucional é prover adestramento a comportamentos condizentes com a cultura organizacional, voltados para o comportamento ético, a responsabilidade e a iniciativa, adaptando a mão-de-obra já especializada pela academia tradicional as especificidades de uma força militar, onde cada indivíduo fornece sua contribuição para, no caso do Comando da Aeronáutica, cumprir sua destinação constitucional, qual seja: “Manter a soberania no espaço aéreo nacional, com vistas a defesa da Pátria”. 60 REFERÊNCIAS BRANCO, A. U. Crenças e práticas culturais: co-construção e ontogênese de valores sociais. Disponível em: <http://mail.fae.unicamp.br/~proposicoes/textos/50_dossie_branco_au.pdf> Acesso em: 06 maio 2013. BRASIL. Ministério da Defesa. Comando da Aeronáutica. Programa de Treinamento de Liderança, CIAAR, 1998. BRASIL. Lei n° 4.375 de 17 de agosto de 1964. Lei do Serviço Militar. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 3 set.1964. ______. Lei n° 6.880 de 9 de dezembro de 1980. Estatuto dos militares. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 dez.1988. ______. Lei nº 12.797 de 04 de abril de 2013. Dispõe sobre a criação do Quadro de Oficiais de Apoio - QOAp no Corpo de Oficiais da Ativa do Comando da Aeronáutica e dá outras providências.Diário Oficial da União, Brasília, DF, 05 abr. 2013. CAVALCANTE, L. F. B.; VALENTIM, M. L. P. Informação e conhecimento no contexto de ambientes organizacionais. In: VALENTIM, M. Gestão, mediação e uso da informação. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010. p.240. CHIAVENATO, I. Teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001. DESCRITORES em Ciências da Saúde. Disponível em: <http://decs.bvs.br/> Acesso em: 06 maio 2013. DUBAR, C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. Porto: Porto Editora, 1997. ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). Manual para elaboração do trabalho de conclusão de curso: monografia. Rio de Janeiro, 2013. GEORGE, J. M.; JONES, G. R. Administração contemporânea. Porto Alegre: Mcgraw Hill : Artmed, 2008. GESTÃO do conhecimento: uma revisão crítica orientada pela abordagem da criação do conhecimento. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/ci/v33n2/a15v33n2.pdf > Acesso em: 06 maio 2013. GRIFFIN, R. W.; MOORHEAD, G. Fundamentos do comportamento organizacional. São Paulo: Ática, 2007. MEKSENAS, L. B. P. A trama do conhecimento: teoria, método e escrita em ciência e pesquisa. Campinas: Papirus, 2008. 61 METODOLOGIA científica. Disponível em: <http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/met01.htm > Acesso em: 27 jun. 2013. MILLAN, C. Compreenda melhor o melhor amigo do homem. Campinas: Verus, 2007. MOREIRA, M. B.; MEDEIROS, C. A. Princípios básicos da análise do comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2007. NONAKA, I; TAKEUCHI, H. Criação de conhecimento na empresa : como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. PARTICULARIDADE do processo de socialização contemporâneo. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/ts/v17n2/a15v17n2.pdf >. Acesso em: 06 maio 2013. PASSETTI, E. Sociedade de controle e abolição da punição. Perspectiva, São Paulo, v. 13, n. 13, jul./set. 1999. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010288391999000300008&script=sci_arttext >. Acesso em: 01 ago. 2013. PIOVESAN, A.; TEMPORINI, E. R. Pesquisa exploratória: procedimento metodológico para o estudo de fatores humanos no campo da saúde pública. Rev Saúde Pública, [s. l.], v. 29 1995. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rsp/v29n4/10> Acesso em: 06maio 2013. ZANELLI, J, C; BORGES-ANDRADE, J, E; BASTOS, A, V, B. Psicologia, organizações e trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004. 62 APÊNDICE A – Pesquisa com Discentes PESQUISA DE OPINIÃO Esta pesquisa é totalmente confidencial e não deve ser identificada. O objetivo desta pesquisa é o levantamento de dados para utilização em trabalho de cunho científico na Escola Superior de Guerra, cujo tema de estudo é a Formação de Pessoal para o Comando da Aeronáutica. Favor responder qual alternativa melhor retrata sua percepção nos temas abaixo antes do início do curso (Estágio de Adaptação de Oficiais Temporários). 1 – Qual era seu conhecimento sobre a rotina da vida militar antes de ingressar no Comando da Aeronáutica ( ) nenhum ( ) muito pequeno ( ) pequeno ( ) mediano ( ) relativamente grande ( ) grande ( ) muito grande 2 – Pelos seus conhecimentos e impressões anteriores ao início do EAOT você considerava que a instituição militar é muito rígida? ( ) discordo totalmente ( ) discordo ( ) discordo parcialmente ( ) nem concordo nem discordo ( ) concordo parcialmente ( ) concordo ( ) concordo totalmente 3 - Pelos seus conhecimentos e impressões anteriores ao início do EAOT você considerava que a instituição militar aceitaria de bom grado a participação das idéias individuais na evolução e modificação de seus processos e atividades? ( ) discordo totalmente ( ) discordo ( ) discordo parcialmente ( ) nem concordo nem discordo ( ) concordo parcialmente ( ) concordo ( ) concordo totalmente 4 - Pelos seus conhecimentos e impressões anteriores ao início do EAOT você considerava que a instituição militar procurava influenciar a mudança do comportamento e da atitude de seus membros? ( ) discordo totalmente ( ) discordo ( ) discordo parcialmente ( ) nem concordo nem discordo ( ) concordo parcialmente ( ) concordo ( ) concordo totalmente 5 – Caso tenha concordado, pelo menos parcialmente, com a questão nº 4, de que modo isto ocorreria? Pode-se apontar mais de uma alternativa. ( ) exemplo dos seus membros ( ) pressão nos seus integrantes ( ) legislação punitiva ( ) destaque dos melhores ( ) recompensa financeira ( ) recompensa administrativa ( ) adoção de regras rígidas ( ) alocação em futuras funções por desempenho Grato pela colaboração! 63 APÊNDICE B Ficha de Acompanhamento da Dinâmica de Olhos Fechados DINÂMICA OLHOS FECHADOS DESCRIÇÃO DA ATIVIDADE: esta dinâmica destina-se a demonstrar a importância da confiança na formação do grupo e a importância deste no crescimento da qualidade de todos os indivíduos, bem como na capacidade de transmitir, receber informações e utiliza-la corretamente. A comunicação intergrupo é exercitada durante o treinamento. Na primeira fase, aonde apenas um conduz e um é conduzido, deve-se atentar para a atitude do conduzido, sua reação à informação recebida e a sua postura (andar relaxado ou braços levantados, por exemplo). Na segunda fase, onde todo o grupo que realizou o mesmo circuito na primeira fase conduz o retorno de apenas um indivíduo, deve-se verificar a capacidade do conduzido em captar a quantidade de informação necessária e adequada e nos condutores a coordenação de esforços, da capacidade de calar-se para não atrapalhar alguém que esteja colaborando e o momento de participar ou não da atividade. MACRO GRUPOS TRABALHADOS: pensar, falar e coordenar. CARACTERÍSTICAS ANTERIORES DO GRUPO OU COMPONENTES DESTE: Ansiedade ( ) Medo ( ) Timidez ( ) Estrelismo ( ) Voz baixa ( ) Voz sem clareza ( ) Baixa coordenação motora ( ) Dispersão ( ) Insegurança ( ) Voz alta demais atrapalhando outras duplas ( ) EVOLUÇÃO OBSERVADA: Melhora da atenção ( ) Melhora da coordenação entre os membros ( ) Melhora da capacidade de ouvir ( ) Melhora da capacidade de calar-se pelo grupo ( ) Colaboração indireta no processo ( ) Indiferença para com o processo ( ) Utilização de linguagem clara ( ) Utilização de linguagem clara ( ) ATITUDES CORRETIVAS PÓS-ATIVIDADE: Ansiedade, medo: ou timidez: informar que é um apenas um exercício. Estrelismo: lembrar da importância do trabalho em grupo. Voz baixa, voz alta demais voz sem clareza: informar que as pessoas realizarão o que entenderam do que foi transmitido. Dispersão, insegurança: realçar a importância do foco na atividade. Baixa coordenação motora: relembrar da importância do treinamento para toda atividade. PONTOS POSITIVOS OU NEGATIVOS OBSERVADOS: