AUGUSTO CURIA O USO DA LINGUAGEM DA PROPAGANDA EM CONTRASTE COM A LINGUAGEM CULTA FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS NÚCLEO DE APOIO DE ZONA LESTE JABOTICABAL - SP 2008 AUGUSTO CURIA O USO DA LINGUAGEM DA PROPAGANDA EM CONTRASTE COM A LINGUAGEM CULTA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Educação São Luís, como exigência parcial para a conclusão do CURSO de Língua Portuguesa. Orientadora: Profª Drª Maria Carolina de Godoy FACULDADE DE EDUCAÇÃO SÃO LUÍS NÚCLEO DE APOIO DE ZONA LESTE JABOTICABAL - SP 2008 Dedicamos a nossa família, pelo constante estímulo na realização deste trabalho. AGRADECIMENTOS A Deus, pela saúde, sem a qual, nada é possível. Aos professores tutores, pela dedicação e disponibilidade nos momentos de orientação e esclarecimentos de dúvidas. Aos amigos de curso de pós-graduação, cuja convivência resgatou o sentido de equipe e solidariedade. ―Vou fazer uma seresta, Moderninha como quê, Misturar os tratamentos, Juntar o tú com você, Eu não quero que me chamem, Um boêmio démodé [...]‖ (MOREIRA, ADELINO - Boêmio démodé 1971 - https:/letras.terra.com.br). Acessado em 22/05/2008. RESUMO As Gramáticas Normativas mais tradicionais têm-se arrogado o direito de oferecer um padrão de ―bem‖ falar o idioma pátrio, colocando na condição de reprovável toda forma lingüística que margeie o que se costuma chamar de ―padrão culto‖ da língua. Todavia, estudos mais modernos e contemporâneos apontam para a observação de um viés diferente: a atenção à ocorrência - em largo espectro da sociedade - das formas variantes. Esse viés, evidentemente mais democrático e nada preconceituoso, traz, para o seio da comunicação verbal aceitável, um conjunto interessante de falares analisados à luz de fatores que explicam suas variantes. Obviamente, neste país de dimensões continental e exposto às mais variadas influências lingüísticas, desde suas origens, não é de se estranhar a rica diversidade nacional. Não resta dúvida de que a educação lingüística - a qual deve estar inserida em todo o processo de formação do educando - não pode ser desprezada, não se pode levar ao exagero de alçar à condição de ―texto sagrado‖ a determinação das gramáticas normativas (muitas das quais divergem entre si na explicação dos fatos da língua). Quando se trata do uso da língua nas mensagens propagandísticas - que visam a um universo amplo de receptores - nada mais justo e democrático do que a prevalência do dizer coloquial, tendo em vista a abrangência de seu escopo. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................... 8 1 ESTUDO DA PROPAGANDA .......................................................................... 9 2 A INFLUÊNCIA DA PROPAGANDA NA FORMAÇÃO LINGÜÍSTICA ............ 11 2.1 Processos de formação de palavras no texto publicitário ............................ 11 2.2 Análise de erros pesquisados nas propagandas ......................................... 12 CONCLUSÃO ..................................................................................................... 33 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 34 8 INTRODUÇÃO Este trabalho está voltando para a importância da propaganda, como forma de vinculação de bens e valores sociais. A propaganda, sem dúvida alguma, é a ―alma do negócio‖ e com ela está ligada. O primeiro capítulo tratará dos conceitos e importância da propaganda na disseminação do produto. O segundo capítulo trará exemplos de erros em propaganda em confronto com a gramática normativa. Dentro da visão mercadológica, deverá a propaganda, atingir seus receptores, mediante o uso coloquial e abrangente do vernáculo, sem distorções que extrapolem a variação lingüística. Desta forma, as empresas de propaganda devem ter muito cuidado na escrita, pois irão atingir uma camada significativa da sociedade. 9 1. O Estudo da Propaganda A propaganda não é um fenômeno isolado, faz parte da comunicação e está em constante envolvimento com fenômenos paralelos, por exemplo: a formação cultural. Sem comunicação não existiriam os grupos e as sociedades. Em sua forma mais simples, o processo de comunicação consiste em um transmissor, uma mensagem e um receptor. Nas palavras de Limeira (2008, p. 122): Na literatura de marketing, a propaganda ou publicidade (advertising, em inglês) é definida como a forma impessoal de comunicação persuasiva, que é paga por um patrocinador identificado e veiculada pelos meios de comunicação, visando convencer o público sobre os benefícios e significados dos produtos. Por ter a influência de modificar atitudes, deve a propaganda, para ser aceita pelo receptor, não ultrapassar a censura e as normas prevalecentes no grupo social. A partir da revolução industrial, no final do século XVIII, a sociedade passa por mudanças estruturais. Há o enfraquecimento de instituições que antes eram responsáveis por influenciar, de maneira decisiva, no modo de pensar da população como o clero e a nobreza, e o surgimento de uma camada urbana. A sociedade passa a ser influenciável pelo produto que passa a ser uma forma de reprodução cultural. Forma-se o binômio produto - propaganda. A propaganda vincula ao produto, um conjunto de imagens que possuem significado cultural e social. A função da propaganda é a persuasão, mas, esta função é dilatada porque a propaganda é capaz de influenciar e modificar hábitos de uma população, considerada em seu conjunto. 10 A urbanização da população e a concentração de grandes massas urbanas acentuam ainda mais a revolução que se vem processando nos métodos de comercialização dos produtos e no perfil do consumidor. O desenvolvimento do sistema de telecomunicações promove a integração nacional nas áreas comercial e promocional. A propaganda precisa ter a linguagem de uma geração mais instruída; comunicar é um dos segredos do êxito de uma sociedade e a propaganda exerce um importante papel para que o produtor com o consumidor, o empregador com o empregado, o professor com o aluno, os pais com os filhos, os governantes com os governados, possam exercer uma comunicação objetiva, moderna e clara. Nas palavras de Sant Anna (1998, p. 11): Na atual fase da evolução social do Brasil, poucas atividades poderiam dar uma contribuição mais decisiva para a ampliação do mercado interno, para a criação de novos métodos de vida, para difundir o conhecimento necessário à produção agrícola, para promover reformas sociais e renovar estruturas arcaicas, para desenvolver a alfabetização e a tecnologia, para retificar e atualizar a imagem do País, para ampliar nossa participação nos mercados mundiais, para desenvolver o sentimento de empatia nacional com o qual nenhuma nação pode vencer a barreira econômica. Há uma interligação como uso dos recursos oferecidos pela gramática normativa e a reação do consumidor às características da propaganda. Assevera Limeira (2008, apud SOUSA, AMÉRICO - A persuasão: Estratégias para uma comunicação influente, 2005, p. 133): As pesquisas indicam que os elementos da mensagem que influenciam as atitudes dos consumidores estão relacionados a: uso de texto ou fatos/ilustrações; uso de apelos racionais ou emocionais; freqüência de repetição de certos elementos da mensagem; se é oferecida uma conclusão ou o consumidor deve concluir por si mesmo; se a mensagem inclui apelos de medo, humor ou sexo, entre outros fatores. Verificou-se, por exemplo, que as frases curtas, as perguntas retóricas (de forma rebuscada ou pomposa), a paráfrase (modo diferente de expressar frase ou texto, sem que se altere o significado da primeira versão) e a repetição produzem força e impacto direto no receptor da comunicação [...]. 11 2. A influência da propaganda na formação lingüística 2.1 Processos de formação de palavras no texto publicitário A propaganda busca a construção de um texto criativo, sedutor e persuasivo; os processos de formação de palavras têm sido um recurso poderoso para o realce das vantagens e características de um determinado produto. É através das palavras que constituímos enunciados que atendem às necessidades da comunicação de um modo geral. O discurso publicitário utiliza não só a informação, como também a persuasão e brinca com as palavras para alcançar o seu objetivo. As criações penetram na língua por diversos caminhos. O primeiro deles é mediante a utilização dos elementos já existentes no idioma, quer no seu significado usual ou não. Outra fonte de renovação lexical são os empréstimos, palavras, prefixos e preposições tomadas ou traduzidas de outra comunidade lingüística dentro da mesma língua histórica (regionalismo, gírias) ou de línguas estrangeiras. As gramáticas tradicionais dão maior atenção à composição e à derivação. O discurso publicitário utiliza mais a derivação. Nas palavras de Rebello (2004-2005, p. 60): Entre os sufixos nominais, mais utilizados, destacam-se os de aumentativos e de diminutivos - com valor mais afetivo do que lógico. Tendência do texto publicitário de superlativizar através de prefixos: super, hiper, mega etc, a fim de realçar as características de um determinado produto ou as vantagens que ele oferece [...] [...] ler um texto publicitário é não somente desvelar a ideologia transmitida, mas também perceber as combinações feitas com as palavras, a fim de tirar o leitor da indiferença [...]. 12 2.2 Análise de erros pesquisados nas propagandas Propaganda 1 : ―GRANDE NEGOCIAÇÃO INFORMÁTICA CARREFOUR...‖ Empresa: Carrefour Com. e Ind. Ltda. Fonte: Folha de S.Paulo, 25/5/08. A referida propaganda evidencia a frase grande negociação, sem expressar o termo complemento nominal, regido pelo substantivo negociação, o qual exige o emprego da preposição de, introduzindo a previsível expressão equipamentos. Por sua vez, o termo em elipse também rege preposição de e, na seqüência, um adjunto adverbial, regido de preposição em. Dessa forma, o rigor gramatical exigiria o seguinte período: ―GRANDE NEGOCIAÇÃO DE EQUIPAMENTOS DE INFORMÁTICA NO CARREFOUR‖. ―Em se tratando de mensagens não específicas a circunscrito público, diferenciado quer pela especialização e quer pelo aprimoramento literário e cultural, mas destinadas à grande massa anônima e heterogênea, isto é, ao grande público em geral, o conceito de ―correção‖ nem sempre pode manter-se segundo a estrutura vernácula clássica. Embora os preceitos reguladores da boa linguagem devam merecer atenção, há de a mensagem adaptar-se ao nível do conhecimento e à compreensão dos receptores a que visa, a fim de lhes tornar plena e facilmente absorvida e memorizada de modo ideal.‖ (in O Estilo na Comunicação, NUNES, Mário Ritter, Agir Editora, 1973, p. 76. Rio de Janeiro). Apoiado pelo que diz o texto, o redator sentiu-se à vontade para não perseguir uma linguagem escorreita em sua mensagem. 13 Propaganda 2 : ―NO CENTER NORTE. NOVOS COM PREÇOS ANTIGOS.‖ Empresa: Banco GMAC Chevrolet. Fonte: Folha de S.Paulo, 18/5/08. A propaganda em apreço utiliza um ponto final após o termo NO CENTER NORTE. Considerando-se que a expressão usada não constitui uma frase gramatical - normalmente constituída de sujeito e predicado – o ponto final torna-se indevido. Provavelmente, a intenção do redator foi marcar a omissão de um verbo (haver/existir) e neste caso a pontuação sugerida pelas gramáticas normativas é a vírgula: NO CENTER NORTE, NOVOS COM PREÇOS ANTIGOS. De acordo com o que diz Carlos Henrique da Rocha Lima, em sua reconhecida Gramática Normativa da Língua Portuguesa, 18ª ed. Rio de Janeiro, Livraria José Olímpio Editora, 1976, p. 432. O ponto simples — vulgarmente chamado de ponto-final — deve ser empregado “nas abreviaturas, no final de orações independentes, no final de um período...‖. O mesmo autor indica o uso de vírgula para marcar a inversão de um adjunto adverbial. (idem, p. 424). Propaganda 3 : ―O FEIRÃO CHEVROLET UNIU TODOS OS PODERES. NA LUTA CONTRA OS MAUS NEGÓCIOS. VENHA NO CENTER NORTE E APROVEITE A LIQUIDAÇÃO 2008.‖ Empresa: Banco GMAC Chevrolet. Fonte: Folha de S.Paulo, 18/5/08. Nessa peça aparece a seguinte redação: VENHA NO CENTER NORTE... A norma culta padrão estabelece que verbos denotativos de movimento rejam preposição a. O redator deu preferência ao uso de uma preposição usada 14 coloquialmente (em). Em consonância com a forma erudita da língua a frase ficará assim redigida: VENHA AO CENTER NORTE... Celso Cunha e Lindley Cintra, em sua Nova Gramática do Português Contemporâneo, 16ª ed. 2000, Edições João Sá da Costa, LDA, Lisboa, Portugal, informam que se deve usar a preposição A com verbos denotativos de movimento no espaço, em direção a um limite. Nem mesmo uma intenção de tornar coloquial a linguagem pode abonar o uso preferido pelo redator. Propaganda 4: ―ALCANÇAMOS A PERFEIÇÃO. FOI SÓ COMBINAR POTÊNCIA E ESTILO. VERACRUZ. PERFEITO ATÉ NOS DETALHES.‖ Empresa: Hyundai Motor Company do Brasil. Fonte: Folha de São Paulo, de 25.05.2008. Na peça encontra-se a seguinte passagem: VERACRUZ. PERFEITO ATÉ NOS DETALHES. A melhor pontuação, recomendada por renomados gramáticos, seriam os dois-pontos, uma vez que fica sugerida a idéia de explicação com relação à qualidade e perfeição do veículo apresentado. A frase nos moldes da gramática tradicional assim ficaria: VERACRUZ: PERFEITO ATÉ NOS DETALHES. No comentário da propaganda nº 1, já se justificou a decisão de considerar erro o emprego do ponto-final nesses casos. O emprego dos dois-pontos encontra respaldo naquilo que diz a Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra, (2000, p. 651). Nesse caso, tem-se o uso de dois-pontos, para pospor um esclarecimento. Propaganda 5 : ―CONFORTO. BELEZA. PRATICIDADE. E VOCÊ PAGA MUITO POUCO.‖ 15 Empresa: Peg & Faça. Fonte Encarte de jornal Folha de S.Paulo, 22/5/08. Analisa-se uma peça publicitária que traz a seguinte passagem: CONFORTO. BELEZA. PRATICIDADE.... A gramática normativa indica o emprego de ponto final em frases e orações declarativas, o que não ocorre na passagem em apreço. Em tal caso, redatores que se prendem aos preceitos da norma culta usariam as vírgulas isolando as duas primeiras palavras do trecho: CONFORTO, BELEZA, PRATICIDADE. Nessa peça publicitária há o mesmo equívoco em pontuação já discutido no Comentário da propaganda nº 1. A melhor indicação é o uso de vírgulas, como atestam todos os gramáticos (in O Estilo na Comunicação, NUNES, Mário Ritter, Agir Editora, 1973, p. 76. Rio de Janeiro). Propaganda 6: ―SE O PRESIDENTE TAKA AJI-NO-MOTO LÁ, TAKE AJINO-MOTO AKI‖. Empresa: Ajinomoto Interamericana Ind. e Com. Ltda. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/2/77.jpg, acessado em 24/05/2008 A felicidade do redator está no emprego da letra ―k‖, recentemente incluída no alfabeto português do Brasil, porém amplamente utilizada em palavras de origem japonesa. Entretanto, o publicitário criou uma grafia não oficial em nossa língua, o que é, sem dúvida, reprovado pelos puristas do idioma. Além disso, ocorre o uso de palavras corriqueiras na expressão oral.Tal período, transposto para a forma oficial em Português será: SE O PRESIDENTE COLOCA AJI-NO-MOTO LÁ, COLOQUE AJI-NO-MOTO AQUI. 16 É indiscutível que não se pode alterar a grafia das palavras, embora, nesse passo, houvesse uma intenção particular do redator. Os mesmos autores já citados, Celso Cunha e Lindley Cintra, informam: ―Além dessas, há as letras k, w e y, que hoje só se empregam em dois casos: a) na transcrição de nomes próprios estrangeiros e seus derivados portugueses; b) nas abreviaturas e nos símbolos de uso internacional.‖ (Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 63). (O Estilo na Comunicação, NUNES, Mário Ritter, Agir Editora, 1973, p. 76. Rio de Janeiro). Propaganda 7: ―AMEI SUA AVÓ, ME APAIXONEI PELA SUA MÃE E AGORA ESTOU VIVENDO COM A SUA FILHA‖. Empresa: Cianê Fiação e Tecelagem Ltda. Fonte: www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/2/56.jpg, acessado em 24/05/2008. A peça em apreço apresenta o seguinte período: Amei sua avó, me apaixonei pela sua mãe e agora estou vivendo com a sua filha. A língua culta padrão repudia a colocação do pronome oblíquo átono após sinais de pontuação. O tal período, de acordo com o padrão da língua seria assim redigido: AMEI SUA AVÓ, APAIXONEIME PELA SUA MÃE E AGORA ESTOU VIVENDO COM A SUA FILHA. Diz Rocha Lima, ―Havendo pausa, impõe-se a ênclise: ...‖. (Gramática Normativa da Língua Portuguesa, 18ª ed. 1976, José Olympio Editora, Rio de Janeiro). Propaganda 8: ―CHIQUINHO SCARPA E TONINHO ABDALLA. JÁ QUE VOCÊS SÃO TÃO RICOS, POR QUE VOCÊS NÃO DOAM ALGUMAS BOLSAS DE ESTUDOS PARA OS MENORES ABANDONADOS? 17 Empresa: Conselho Nacional de Propaganda. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/2/72.jpg, acessado em 24/05/2008. O termo vocativo não faz parte da estrutura do período; por esse motivo deve ser isolado por vírgula. Isso não ocorre no texto da peça evocada, uma vez que o redator isolou o vocativo com ponto final: CHIQUINHO SCARPA E TONINHO ABDALLA. (....). A redação adequada seria: CHIQUINHO SCARPA E TONINHO ABDALLA, JÁ QUE VOCÊS SÃO TÃO RICOS, (.....) Novamente recorremos ao autor citado no comentário precedente: A vírgula isola o vocativo. (p.423). Todos os demais gramáticos dão a mesma indicação. Propaganda 9: ―OU DÁ OU NÓIS TOCA‖. Empresa: Exército de Salvação. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/2/73.jpg, acessado em 24/05/2008. Às vezes a publicidade enfatiza uma linguagem própria da oralidade; todavia, o padrão culto da língua resiste com tenacidade. O período em apreço: Ou dá ou nóis toca é um exemplo da oralidade inculta. Seguindo-se a orientação de uma linguagem mais elaborada teremos: OU DÁ OU NÓS TOCAREMOS. Ainda que haja a intenção de parecer original, o redator terminou por cair na vulgaridade da linguagem. Contra isso anota Mário Ritter Nunes: ―A originalidade constitui um dos elementos de destaque das mensagens. Se os meios de comunicação tendem a nivelar, planificar, massificar e descolorir a cultura, a personalidade ou a individualidade do elaborador e transmissor das mensagens encontra na originalidade valiosa condicionante para destacar e impor à massa de 18 receptores a que visa‖. (In O Estilo na Comunicação, NUNES, Mário Ritter, AGIR, 1973, p. 83). Propaganda 10: ―MANDE SEU MARIDO ARRUMAR A LOUÇA HOJE E, AMANHÃ, VOCÊ GANHA UMA LAVALOUÇA BRASTEMP‖. Empresa: Brastemp do Brasil. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/3/125.jpg, acessado em 25/05/2008. É recomendável o uso de vírgulas para isolar termos deslocados no período. Na peça publicitária aparece o seguinte período, assim redigido: Mande seu marido arrumar a louça hoje e amanhã você ganha uma lavalouça Brastemp. Tal como foi redigido o período pode ser lido de duas maneiras; ocorrendo, portanto, ambigüidade: a) Mande seu marido arrumar a louça hoje e, amanhã, você ganhará uma Lavalouça Brastemp; b) Mande seu marido arrumar a louça hoje e amanhã: você ganhará uma lavalouça Brastemp. Recomenda o autor citado no comentário da propaganda nº 9: ―Clareza em lugar de emprego de expressões e vocábulos inexatos, ambíguos, inexpressivos...‖ Não há dúvida de que a ambigüidade na propaganda é recurso interessante e válido; trata-se de um ―erro‖ necessário à dinâmica da informação. (p. 90). Observação: Dá-se preferência ao emprego do verbo no tempo futuro (ganhará). Na opção b, os dois-pontos justificam uma explicação, conforme já se justificou no comentário da propaganda nº 1. 19 Propaganda 11: ―ME DÁ UM DINHEIRO AÍ!‖ Empresa: Banco Itaú S.A. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/3/135.jpg, acessado em 25/05/2008. Não obstante tratar-se da representação de linguagem oral, a norma padrão da língua repele o pronome oblíquo átono em início de período. A frase na peça publicitária está redigida assim: Me dá um dinheiro aí!. Adaptada à norma culta será: DÁ-ME UM DINHEIRO AÍ. O redator valeu-se de frase encontrada em uma marcha carnavalesca. A colocação do pronome átono em próclise só se justifica quando houver fator determinante, conforme ensinam os mais renomados gramáticos de nossa língua, tais como os já citados: Rocha Lima, em sua Gramática Normativa da Língua Portuguesa, 18ª ed., 1976, José Olympio Editora e Celso Cunha, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, 16ª ed., 2000, Edições João Sá da Costa LDA, Lisboa. Propaganda 12: ―SE VOCÊ É O QUE VOCÊ COME, OLHA COMO VOCÊ É BONITA.‖ Empresa: Petybon. - Grupo J. Macedo. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/18/805.jpg, acessado em 25/05/2008. A linguagem coloquial a que o redator deu preferência vai de encontro ao que preceitua a norma culta padrão, uma vez que ocorre inadequação da forma verbal com a pessoa do sujeito admitido. Adaptada a linguagem formal, há duas possibilidades de construção: 20 a) Se você é o que você come, olhe como você é bonita; b) Se tu és o que tu comes, olha como tu és bonita. Sobre a concordância verbal com sujeito simples, ainda que implícito, recomenda-se que o verbo concorde em número e pessoa com o substantivo ou com o pronome que lhe serve de sujeito. (Gramática Fundamental da Língua Portuguesa. Cury. Adriano da Gama. LISA — Livros Irradiantes S.A. São Paulo. 1972. p. 64. Propaganda 13: ―DINHEIRO. SEXO. INTRIGAS. PODER.‖ Empresa: Fujifilm do Brasil Ltda. Fonte: site www.ccsp.com.br/ img/full/anuários/20/1616.jpg, acessado em 25/02/2008. Analisa-se uma peça publicitária que traz a seguinte passagem: DINHEIRO. SEXO. INTRIGAS. PODER.... A gramática normativa indica o emprego de ponto final em frases e orações declarativas, o que não ocorre na passagem em apreço. Em tal caso, redatores que se prendem aos preceitos da norma culta usariam as vírgulas isolando as três primeiras palavras do trecho: DINHEIRO, SEXO, INTRIGAS, PODER..... O assunto já foi apontado nos itens precedentes que envolvem o mesmo problema (in O Estilo na Comunicação, NUNES, Mário Ritter, Agir Editora, 1973, p. 76. Rio de Janeiro). Propaganda 14: ―ESTE TRECO SERVE PRA VOCÊ NUNCA MAIS ESQUECER O NOME DAQUELE COISO. Empresa: Grupo Estado - JT e ABN-AMRO Bank S.A. 21 Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/20/1583.jpg, acessado em 25/02/2008. ―Este Treco serve pra você nunca mais esquecer o nome daquele coiso.‖ Eis um período representante do uso oral inculto da língua. O redator valeu-se de palavras usadas unicamente por indivíduos não escolarizados. Embora, seja reconhecida a intenção da linguagem na peça, oferece-se a forma da linguagem culta padrão: ESTE OBJETO SERVE PARA VOCÊ NUNCA MAIS ESQUECER NOMES. ―As duas línguas, escrita e falada, não marcam, do mesmo modo, certos traços gramaticais. A gramática do português falado apresenta características específicas identificáveis através de estudos estatísticos. Com efeito, o exame de gravações de língua oral permite constatar que a freqüência de emprego de certas formas ou construções gramaticais é bem maior na língua falada do que na escrita‖ (in Usos da linguagem. Vanoye. Francis. 1ª ed. brasileira: abril de 1979. p. 40. Livraria Martins Fontes Editora Ltda. São Paulo). O texto traz de forma indisfarçável um vocabulário próprio da oralidade. Propaganda 15: ―O BOTICÁRIO ACABA DE CRIAR BIO ACTIVE PHASE 1 + 2. O ÚNICO PRODUTO FEITO NO BRASIL QUE CONTÉM BIOECOLIA E BETA HIDROXIÁCIDOS. Empresa: O Boticário. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/21/1771.jpg, acessado em 25/02/2008. O emprego do pronome relativo ―que‖ é perigoso, pelo fato de que pode gerar ambigüidade na frase. É o que ocorre na seguinte passagem da peça publicitária: ―O 22 Boticário acaba de criar BIO ACTIVE PHASE 1+2. O único produto feito no Brasil que contém BIOECOLIA e BETA HIDROXI ÁCIDOS. (......) O uso do relativo ―que‖, nesse fragmento, torna ambígua a compreensão do elemento que contém BIOECOLIA e BETA HIDROXI ÁCIDOS. Pode haver referência à palavra ―produto‖ ou à palavra ―Brasil‖. Uma nova redação: ―O BOTICÁRIO ACABA DE CRIAR BIO ACTIVE PHASE 1+2. O ÚNICO PRODUTO QUE CONTÉM BIOECOLIA E BETA HIDROXI ÁCIDOS FEITO NO BRASIL. (...). ―Os pronomes relativos são palavras que reproduzem, numa oração, o sentido de um termo ou da totalidade de uma oração anterior. Eles não têm significação própria; em cada caso representam o seu antecedente.‖ (LIMA. Rocha, Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 18ª ed., 1976, p. 103. José Olympio Editora. Rio de Janeiro). Propaganda 16: ―VAI VER SE EU ESTOU NO BAR DA ESQUINA.‖ Empresa: Cia. Souza Cruz S.A. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/9/680.jpg, acessado em 26/05/2008. Percebe-se que a maioria das peças publicitárias apóia-se na linguagem coloquial. A intenção é comunicar-se com a maioria da população falante do Português, mas com sacrifício do que instrui a norma culta padrão da língua, como se vê na seguinte passagem: ―Vai ver se eu estou no bar da esquina.‖ Transposto o trecho para a norma culta teremos: VEJA SE EU ESTOU NO BAR, À ESQUINA. Diz Rocha Lima, já citado: ‖... Neste emprego, o de indica muitas relações comuns, como as que se notam entre o autor e sua obra; o possuidor e a coisa possuída‖, etc. Não refere, porém o uso apreciado pelo redator. (GRAMÁTICA 23 Normativa da Língua Portuguesa, 18ª ed. 1976, José Olympio Editora, Rio de Janeiro, p. 340). Propaganda 17: ―- OLHA QUEM EU TÔ COMENDO NO FIM DE SEMANA, DISSE O BORRACHUDO PARA O PERNILONGO.‖ Empresa: Bayer S.A. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/21/1775.jpg, acessado em 25/05/2008. A redução dos vocábulos faz parte da linguagem oral, justificada pela lei do menor esforço. Muitas palavras freqüentes na língua atual são o resultado de reduções que com o tempo cristalizaram-se, tornando-se aceitas no processo formal; outras, porém, mantêm-se à margem do processo culto da língua, como se vê no texto desta peça publicitária: ―- OLHA QUEM EU TÔ COMENDO NO FIM DE SEMANA, ....‖Redigida em conformidade com a norma culta, teremos o seguinte período: - OLHA QUEM EU ESTOU COMENDO NO FIM-DE-SEMANA. O comentário da propaganda nº 9 já abordou a questão da originalidade no uso do vocabulário. Observação: O período que marca o encerramento da semana, como momento de lazer deve ser grafado com hífen: FIM-DE-SEMANA. O uso do hífen está abonado por Rocha Lima, na Gramática Normativa da Língua Portuguesa, 18ª ed. 1976, José Olympio Editora, Rio de Janeiro, p.50. Propaganda 18: ―TUDO O QUE A CONCORRÊNCIA MAIS QUERIA VER. UM AUDI SE ATIRAR CONTRA UMA PAREDE.‖ Empresa: Audi Brasil. 24 Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/21/1759.jpg, acessado em 25/05/2008. Relativamente à topologia pronominal, instrui a gramática normativa que, havendo processo verbal no infinitivo, não precedido de preposição ou palavra negativa, o pronome átono será colocado em ênclise. A peça publicitária em apreço não observou o rigor gramatical, como se vê em ―....UM AUDI SE ATIRAR CONTRA UMA PAREDE.‖ A forma adequada será: .....UM AUDI ATIRAR-SE CONTRA UMA PAREDE. É praxe da norma culta. Ver Rocha Lima, citado, p.418; Dizem Celso Cunha e Lindley Cintra,na Nova Gramática do Português Contemporâneo, 16ª ed. 2000, Lisboa, p.310: ―Sendo o pronome átono objecto directo ou indirecto do verbo, a sua posição lógica, normal, é a ÊNCLISE.‖ Propaganda 19: ―EU ADORO SÃO PAULO QUANDO NÃO TEM ENCHENTE.‖ Empresa: Rádio Bandeirantes - Grupo Bandeirantes de Comunicação. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/30/3194.jpg, acessado em 24/05/2008. De acordo com a norma culta o aposto explicativo deve estar precedido de vírgula. Na peça publicitária presente, o redator preferiu o uso do ponto final: ―BANDEIRANTES. A RÁDIO QUE BRIGA POR VOCÊ.‖ Obedecendo-se ao que regula a gramática normativa teríamos: BANDEIRANTES, A RADIO QUE BRIGA POR VOCÊ. 25 ―Entre o aposto e o termo a que ele se refere há em geral pausa, marcada por uma vírgula...‖ Nova Gramática do Português Contemporâneo. CUNHA. CELSO e CINTRA. LINDLEY, 16ª ed. 2000, Lisboa, p. 156. Na mesma peça ocorre uma ―inadequação‖ quanto ao emprego do verbo. Recomenda a norma culta que não se use o verbo ter no lugar dos verbos existir, ocorrer ou acontecer. O substituto desses verbos é o verbo haver. A peça em apreço traz a seguinte redação: ―EU ADORO SÃO PAULO QUANDO NÃO TEM ENCHENTE.‖. A se seguir a recomendação gramatical, dar-se-ão as seguintes redações: a) EU ADORO SÃO PAULO QUANDO NÃO HÁ ENCHENTE; b) EU ADORO SÃO PAULO QUANDO NÃO OCORRE ENCHENTE. É de praxe que a norma culta não aceite a construção aí comentada. Manual de Redação, CASTRO Izaldil Tavares de, Editora Universitário, 1990, São Paulo, p. 34. Propaganda 20: ―QUEM FOI PRA PORTUGAL, PERDEU.‖ Empresa: Editora Abril S.A. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/9/677.jpg, acessado em 26/05/2008. Já se viu que as formas reduzidas e também as sincopadas fazem parte do falar coloquial a propaganda destacada utiliza o recurso informal da síncope na preposição para: ―QUEM FOI PRA PORTUGAL, PERDEU.‖ Maior deslize ocorre no uso da vírgula separando o sujeito do verbo: ―QUEM FOI PRA PORTUGAL, ...‖ Efetuadas as devidas correções teremos: QUEM FOI PARA PORTUGAL PERDEU. 26 Os mais aceitos manuais de emprego das palavras recusam, para o dizer culto as formas que o vulgo reduziu. ―Tanta reflexão e vigilância exige o ato de escrever que já o Pe. Vieira magistralmente advertia: ―Não há coisa mais escrupulosa no mundo que papel e pena. Três dedos com uma pena na mão é o ofício mais arriscado que tem o governo humano”. In O Estilo na Comunicação, NUNES. Mário Ritter, AGIR, 1973, p.59. Propaganda 21: ―SANTA FÉ. O SUV MAIS PREMIADO E ADMIRADO DO MUNDO.‖ Empresa: Hyundai Motor Company do Brasil. Fonte: Folha de São Paulo, de 27.05.2008 Na peça encontra-se a seguinte passagem: ―SANTA FE. O SUV MAIS PREMIADO E ADMIRADO DO MUNDO. A melhor pontuação, recomendada por renomados gramáticos, seriam os dois-pontos, uma vez que fica sugerida a idéia de explicação com relação à qualidade e perfeição do veículo apresentado. A frase nos moldes da gramática tradicional assim ficaria: SANTA FE: O SUV MAIS PREMIADO E ADMIRADO DO MUNDO. Esse problema de pontuação já foi justificado no comentário à propaganda de nº 4. Propaganda 22: ―USE CUECA DE LYCRA NUNCA SE SABE. QUEM VOCÊ PODE ENCONTRAR HOJE À NOITE.‖ Empresa: Du Pont - The Miracles & Sciece. Fonte: 27/05/2008. site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/6/329.jpg, acessado em 27 ―USE CUECA DE LYCRA NUNCA SE SABE....‖ Nessa passagem há um período composto por coordenação assindética. Nesse caso as orações devem ser separadas por pontuação. Como se trata de uma noção explicativa, após a primeira oração, o redator deveria ter usado ponto-e-vírgula ou dois pontos, redigindo-o assim: a) USE CUECA DE LYCRA; NUNCA SE SABE... b) USE CUECA DE LYCRA: NUNCA SE SABE... Mais recomendável que o ponto-e-vírgula, empregam-se os dois-pontos antes de uma explicação ou esclarecimento. Veja-se Gramática Normativa da Língua Portuguesa, LIMA. Rocha. 18ª ed. 1976, José Olympio Editora, Rio de Janeiro, p. 430. Propaganda 23: ―COUTINHO, NÃO COPIE OS ERROS DE SÁBADO E VOCÊ GANHA A COPA‖. Empresa: Xérox Comércio e Indústria. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/4/241.jpg, acessado em 27/05/2008. A gramática normativa e a lógica impõem a correlação dos tempos verbais. No seguinte trecho ―COUTINHO, NÃO COPIE OS ERROS DE SÁBADO E VOCE GANHA A COPA.‖ , o verbo ganhar está flexionado no presente do indicativo; a melhor forma, porém, seria usá-lo no futuro do presente: COUTINHO, NÃO COPIE OS ERROS DE SÁBADO E VOCÊ GANHARÁ A COPA. Trata do assunto o item coerência temporal, a que respeita a sucessividade dos acontecimentos. Veja-se Lições de Texto: Leitura e redação. Platão & Fiorin, Ática, 1996. São Paulo, p. 398. 28 Propaganda 24: ―FICANDO 3 DIAS SEGUIDOS HO HOTEL INTER- CONTINENTAL RIO, O DOMINGO SAI DE GRAÇA: VOCÊ SÓ PAGA DUAS DIÁRIAS. ...‖ Empresa: Hotel Inter-Continental Rio. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/4/231.jpg, acessado em 27/05/2008. A norma culta faz sérias cobranças relativamente à regência verbal. Muitos verbos admitem várias regências, como é o caso do verbo assistir, o qual na acepção de ver ou presenciar rege preposição a no objeto indireto. A peça publicitária em apreço na observou essa imposição, apresentando a seguinte redação: ―COM O DINHEIRO QUE SOBRA, VOCÊ PODE ASSISTIR 33 JOGOS NO MARACANÃ...‖. Mas adiante o redator insiste na mesma construção: ―...OU ASSISTIR 14 CONCERTOS...‖ . A norma culta determina as seguintes redações: a) COM O DINHEIRO QUE SOBRA VOCÊ PODE ASSISTIR A 33 JOGOS NO MARACANÃ... b) ...OU ASSISTIR A 14 CONCERTOS... Veja-se Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rocha Lima, citado, p. 389. Propaganda 25: ―LEMBRE-SE QUE O PRÓXIMO DOMINGO É O DIA DA ÚNICA PESSOA QUE INVESTE TUDO EM VOCÊ, SEM ESPERAR JUROS NEM CORREÇÃO MONETÁRIA.‖ Empresa: Banco Real S.A. Fonte: 27/05/2008. site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/4/227.jpg, acessado em 29 Outra peça publicitária em que o redator ignora a regência culta do verbo pronominal lembrar-se. Determinam as gramáticas que esse verbo, por ser pronominal, empregue a preposição de. ―LEMBRE-SE QUE PRÓXIMO DOMINGO É O DIA DA ÚNICA PESSOA QUE INVESTE TUDO EM VOCÊ, ...‖ Adequando-se a redação teremos: LEMBRE-SE DE QUE O PRÓXIMO DOMINGO É O DIA DA ÚNICA PESSOA QUE INVESTE TUDO EM VOCÊ,... Veja-se Gramática Normativa da Língua Portuguesa. Rocha Lima, citado, p. 403. Propaganda 26: ―TEM UMA PANELA PARA CADA TIPO DE COMIDA. E UMA MARGARINA PARA TODAS ELAS.‖ Empresa: Sanbra - Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro S.A. Fonte: site www.ccsp.com.br/_img/full/anuários/4/220.jpg, em 27/05/2008. Como já se viu, o linguajar privilegiado não admite o uso do verbo ter, em substituição do verbo haver. Essa peça publicitária traz a seguinte redação: ―TEM UMA PANELA PARA CADA TIPO DE COMIDA.‖ Uma redação adequada àquela forma de linguagem será: HÁ UMA PANELA PARA CADA TIPO DE COMIDA. A norma culta repele a prática de usar o verbo ter em lugar do verbo haver. In Manual de Redação, Ed. Universitário, 1990, São Paulo, p. 34 Propaganda 27: ―VOCÊ SABIA QUE AQUI TEM DE TUDO? PERFUMES. SE JÁ TEM TANTA COISA DIFERENTE EM APENAS UM DEPARTAMENTO, IMAGINA NOS OUTROS 34...‖ Empresa: Lojas Americanas Fonte: Folha de S. Paulo de 30 de maio de 2008. 30 A norma culta padrão exige que se diga: SE JÁ HÁ TANTA COISA DIFERENTE... ―Não há mais qualquer dúvida quanto ao valor coloquial de ter em lugar de haver. Os autores modernistas incluíram-no na Literatura Brasileira, à revelia da exigência da língua culta padrão, como fez Carlos Drummond de Andrade em conhecido poema‖. Manual de Redação, CASTRO. Izaldil Tavares de, Ed. Universitário, 1990, p.34. Propaganda 28: ―PIZZARIA PALAZZINA - TEMOS SUCOS, CERVEJAS, VINHOS, REFRIGERANTES E SOBREMESAS – ABERTO DE 2ª A 2ª FEIRAS À PARTIR DAS 18H‖ Empresa: Pizzaria Palazzina Fonte: Jornal do Cambuci & Aclimação - São Paulo, 30/5 a 5/5/2008. É um abuso grafar-se ―à‖ antes de verbo. Não se trata de estilo, mas de desconhecimento da língua portuguesa. A forma correta será ―...A PARTIR DAS... Veja-se Gramática Normativa da Língua Portuguesa, LIMA. Rocha, 18ª ed. 1976, José Olympio Editora. Rio de Janeiro, p. 332-333. Propaganda 29: ―MAGHALITTA PIZZARIE‖ – ATENDEMOS DE TERÇA À DOMINGO DAS 18h00min ÀS 00h00min‖. Empresa: Maghalitta Pizzarie. Fonte: Jornal do Cambuci & Aclimação - São Paulo, 30/5 a 5/5/2008. 31 É erro o acento indicador da crase antes de palavras masculinas, por motivos óbvios. Todavia, acerta-se quando se coloca o acento grave antes da palavra hora, quando estiver especificada. Veja-se Gramática Normativa da Língua Portuguesa, LIMA. Rocha, 18ª ed. 1976, José Olympio Editora. Rio de Janeiro, p. 332-333. Propaganda 30: ―CLÍNICA VETERINÁRIA ZELÃO DOG ....TAXI-DOG NAS REGIÕES PRÓXIMAS A VILA MARIANA...‖ Empresa: Clínica Veterinária Zelão Dog. Fonte: Jornal do Cambuci & Aclimação - São Paulo, 30/5 a 5/5/2008 O adjetivo próximas requer complemento nominal regido de preposição A. O nome Vila Mariana admite uso do artigo definido A, razão por que deverá ocorrer o acento indicador da crase. TÁXI-DOG NAS REGIÕES PRÓXIMAS À VILA MARIANA. Veja-se Gramática Normativa da Língua Portuguesa, LIMA. Rocha, 18ª ed. 1976, José Olympio Editora. Rio de Janeiro, p. 332-333. Propaganda 31: ―INSTALAÇÃO REINSTALAÇÃO MANUTENÇÃO...FLEX FUEL SEU CARRO BI-COMBUSTÍVEL CONVERSÃO GASOLINA X ÁLCOOL...‖ Empresa: SEMPRE GÁS. Fonte: Jornal do Trânsito de 21/5 a 03/6/2008. A grafia bi-combustível deve ser considerada errada. Deve-se grafar: BICOMBUSTÍVEL. ―Quando se perde a noção do composto, quase sempre em razão de um dos elementos não ter vida própria na língua, não se escreve com hífen...‖ LIMA. 32 ROCHA, Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 18ª ed. 1976, José Olympio Editora. Rio de Janeiro, p. 51. Propaganda 32: ―A VENITE FAZ UM CONVITE À VOCÊ:...‖ Empresa: Venite. Fonte: Folha da Vila Prudente, dia 30 de maio de 2008, pertencente aos seguintes bairros: São Lucas, Vila Alpina, Sapopemba, Jardim Avelino, Jd. Independência, Vila Prudente, Mooca, Tatuapé, Vila Zelina e Vila Ema. Pronomes em geral recusam a anteposição do artigo definido; por isso, é inconcebível a ocorrência da crase. Não deve haver o acento. A VENITE FAZ UM CONVITE A VOCÊ... Veja-se Gramática Normativa da Língua Portuguesa, LIMA. Rocha, 18ª ed. 1976, José Olympio Editora. Rio de Janeiro, p. 332-333. 33 CONCLUSÃO A propaganda tornou-se uma força que não só move produtos, como também pode mudar o modo de vida das pessoas. Os anúncios e o contexto histórico reforçam-se mutuamente, formando um círculo de causa e efeito. A propaganda é o espelho que reflete a sociedade e, ao mesmo tempo, forma mentalidades. Isto traz à lume a utilização de ―formas variantes‖ para que a propaganda atinja o amplo universo dos receptores. Esta importância não pode ser afastada e, as grandes empresas, têm consciência deste papel formador. Portanto, não se pode descartar, por completo, o uso do vernáculo culto em contraste com as influências lingüísticas, ainda que com a prevalência do ―dizer coloquial‖. As informações passadas para a Sociedade, por meio da propaganda, devem obedecer aos padrões das normas cultas, porque, ao atingir um grande número de pessoas, podem, para os mais desavisados, transmitir conceitos equivocados sobre a sintaxe, escrita e significado dos termos usados pela língua. 34 REFERÊNCIAS CASTRO, Izaldil Tavares de. Manual de Redação. 1ª. ed. São Paulo: Editora Universitário, 1990. CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo. 16ª. ed. Lisboa/Portugal: Edições João Sá da Costa Ltda., 2000. CURY, Adriano da Gama. Gramática Fundamental da Língua Portuguesa. 1ª. ed. São Paulo: Livros Irradiantes S.A., 1972. LIMA, Carlos Henrique da Rocha. Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 18ª. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olímpio Editora, 1976. LIMEIRA, Tânia Maria Vidigal. Comportamento do consumidor brasileiro. 1ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. NUNES, Mário Ritter. O Estilo na Comunicação. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Agir Editora, 1973. PLATÃO, Francisco; FIORINI, José Luiz. Lições de Texto: Leitura e redação. 1ª ed. São Paulo: Ática, 1996. REBELLO, Ilana da Silva. Cadernos de Letras da Universidade Federal Fluminense: Desvelando os processos de formação de palavras no texto publicitário. 1ª. ed. números 30-31. Rio de Janeiro: Fluminense, 2004-2005. 35 SANT’ANNA, Armando. Propaganda: Teoria - Técnica - Prática. 7ª. ed. São Paulo: Thomson Learning, 2007. VANOYE, Francis. Usos da linguagem. 1ª. ed. São Paulo: Livraria Martins Fontes Editora Ltda., 1979.