TCC Giseli

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC
CURSO DE PSICOLOGIA
GISELI MESSAGGI
SUICÍDIO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.
CRICIÚMA, JUNHO DE 2009.
2
GISELI MESSAGGI
SUICÍDIO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado
como requisito parcial para a obtenção do grau
de Psicólogo no Curso de Psicologia da
Universidade do Extremo Sul Catarinense,
UNESC.
Orientador: Profª. Mestre Schirley dos Santos
Garcia.
CRICIÚMA, JUNHO DE 2009.
3
GISELI MESSAGGI
SUICÍDIO: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
como requisito parcial para a obtenção do grau
de Psicólogo no curso de Psicologia da
Universidade do Extremo Sul Catarinense,
UNESC.
BANCA EXAMINADORA
Prof ª Schirley Garcia – Mestre – (UNESC) – Orientadora
Prof ª Myrta Carlota Glauche Jaroszewski – Especialista – (UNESC)
Prof ª Vânia Kátia Menegalli Moojen – Mestre – (UNESC)
CRICIÚMA, JUNHO DE 2009.
4
Dedico este trabalho a todas as pessoas
vítimas de suicídio e seus familiares.
5
AGRADEÇO...
A Deus, pela existência e saber que me proporcionou para que eu
conseguisse chegar até aqui..
Aos meus pais, pelo incentivo e apoio nesta jornada;
A minha orientadora, professora Schirley Garcia pela calma, paciência e
tranqüilidade que teve durante a realização deste trabalho, e por dividir comigo sua
sabedoria e inteligência;
Às minhas colegas Patrícia e Samira, que sempre me deram forças para
continuar esta caminhada;
Ao meu namorado Jesiel pelo carinho e apoio nas horas em que eu
precisei;
Enfim, a todos que foram fundamentais para a realização de mais uma
etapa importante em minha vida.
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Não que eu esteja
com medo de morrer.
Apenas não queria estar lá
quando isso acontecesse.
O que chamais de morrer
é acabar de morrer
E o que chamais nascer
é começar a morrer
E o que chamais viver
É morrer vivendo.
Morrer deve ser como não haver nascido
e a morte talvez seja melhor até que a vida
de dor e mágoas, pois não sofre
quem não tem a sensação dos males.
O que é a vida e o que é a morte
Ninguém sabe ou saberá
Aqui onde a vida e a sorte
Movem as coisas que há
Mas, seja o que for o enigma
De haver qualquer coisa aqui
Terá de mim o próprio estigma
Da sombra em que eu vivi.
Alcy Gigliotti.
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RESUMO
O presente estudo, intitulado “Suicídio: uma revisão bibliográfica” constitui-se de um
estudo exploratório, descritivo, de cunho qualitativo, que busca compreender como o
suicídio e a tentativa de suicídio atuam nas pessoas, devido aos fatores
biopsicossociais. Sabe-se que atualmente vem crescendo de forma alarmante o
número de pessoas que praticam o suicídio. Conforme OMS o suicídio ocupa o
segundo lugar entre as mortes mais violentas do mundo e se torna um problema de
saúde pública. A pessoa que tenta praticar o suicídio na maioria das vezes é
portadora de alguma patologia. Vários são os fatores envolvidos, desde problemas
familiares, financeiros, sociais, entre outros.
Palavras-Chave: Suicídio. Fatores biopsicossociais. Psicopatologias.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Suicídios por faixa etária e gênero.........................................................35
Tabela 2 – Transtornos Psicóticos mais comuns por faixa etária ............................43
Tabela 3 – Características de Personalidade ..........................................................43
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense
CID – 10 – Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde
DSM – IV - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
OMS – Organização Mundial de Saúde
OPAS - Organização Panamericana da Saúde.
IML – Instituto Médico Legal.
SIM – Sistema De Informação Sobre Mortalidade.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11
2 HISTÓRICO DA MORTE .......................................................................................13
2.1 A MORTE E O OLHAR NAS DIFERENTES CULTURAS ..................................13
2.1.1 A morte no Egito Antigo....................................................................................14
2.1.2 A morte na Antiga Grécia .................................................................................15
2.1.3 Os cultos Africanos ..........................................................................................15
2.1.4 A morte na tradição Budista .............................................................................15
2.1.5 A morte na visão Ocidental ..............................................................................16
2.1.6 Considerações sobre o suicídio .......................................................................16
2.1.7 Prevalência.......................................................................................................23
3 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS E O SUICÍDIO ......................................................25
4 SUICÍDIO E PSICOPATOLOGIAS ........................................................................38
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................50
REFERÊNCIAS.........................................................................................................52
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1 INTRODUÇÃO
O tema sobre o suicídio mostra-se bastante proeminente no contexto
atual. A forma de morrer é algo cultural, ou seja, cada sociedade e cultura vivenciam
a morte não intencional e o suicídio de formas distintas.
A presente pesquisa surgiu devido à curiosidade em conhecer os motivos
e as conseqüências que levam uma pessoa a tirar a sua própria vida. Pois, sabe-se
que o índice de suicídio vem crescendo de uma forma assustadora e muitos são os
fatores que estão envolvidos.
De acordo com D`Assumpção (1984) o suicídio é visto como uma
intromissão do homem no seu próprio tempo de vida, ou seja, existe a
impossibilidade do indivíduo encontrar diferentes alternativas para seus conflitos,
entretanto acaba optando facilmente pela morte. Assim, da mesma maneira que o
homem não é capaz de criar a vida do nada, a maioria das pessoas defendem a
idéia de que o homem não poderia tirar sua vida, como se esta nada fosse.
É neste contexto que surgem os motivos patológicos onde estudos
mostram também que os fatores que levam as pessoas a cometerem o suicídio é a
patologia na qual se encontram, configurando-se numa estratégia emocional
altamente negativa para o abrandamento de mortes.
É na conexão dos aspectos emocionais e psicossociais com fatores
psicopatológicos que se situa o objeto de investigação deste estudo que possui
como problema de pesquisa o seguinte questionamento: Quais as configurações
emocionais do suicida?
Perante esta questão o presente estudo objetiva de maneira específica:
identificar os fatores principais da tentativa do suicídio; relacionar os problemas
enfrentados no cotidiano familiar pelo suicida; analisar a repercussão do suicídio na
dinâmica familiar do suicida, contribuir com a discussão acadêmica sobre a temática.
Justificam-se esses objetivos para o melhor entendimento do tema e do
processo de suicídio. Este é um termo novo nos estudos da psicologia e que traz
aspectos diferentes, um novo olhar sobre os problemas emocionais,pois se leva em
conta que, nos dias atuais, o número de registros de suicídio tem aumentado
consideravelmente, talvez por que as pessoas estejam sofrendo pressões frente à
vida em sociedade ou por aspectos mentais. Neste sentido, é necessário ter amplos
12
conhecimentos sobre o tema, pois, torna-se ferramenta essencial para o profissional
de psicologia.
13
2 HISTÓRICO DA MORTE
Para a vida humana, a morte é presença constante do nosso cotidiano.
Em sua etimologia, a palavra morte origina-se do latim “morte” e significa
ato de morrer; termo-fim. Destruição, ruína, grande dor, pesar profundo.
De acordo com Kovács (1992) a resposta psicológica mais comum diante
da morte é o medo, nesse sentido, o medo de morrer pode atingir todos os seres
humanos, independente da idade, sexo, nível sócio-econômico e crença religiosa. O
tema morte está relacionado com o medo da solidão, da separação de quem se
ama, do desconhecido, do julgamento pelos atos cometidos durante a vida diante da
concepção divina, de como irão ficar os seus dependentes, o medo da interrupção
dos planos, de não conseguir realizar os objetivos mais importantes. A morte, ainda,
pode ser definida por um processo de desorganização das funções biológicas
psíquicas e da decomposição do organismo. Do ponto de vista social, a morte seria
entendida por um rompimento irreversível do sujeito em relação a grupos que
participava, dos papéis que desempenhava tendo como causa o fim de sua própria
natureza biológica. Dessa forma, não é possível determinar quando o sujeito terá
completado o sentido de sua vida, portanto, independente da idade ou das
condições de vida, o tempo vital de cada pessoa é único. Entre as diferentes mortes
que podem ocorrer, há aquela que apresenta uma característica particular de ser
realizada pela própria vítima, ser resultado de um ato cujo próprio sujeito é o autor, o
suicídio (KOVÁCS, 1992).
2.1 A morte no olhar das diferentes culturas
A morte na cultura ocidental é encarada como algo triste, como uma
perda, uma parada, que traz muitas dores e sofrimentos. Entretanto, nem sempre
essa visão foi predominante no Ocidente, e em algumas culturas orientais a visão do
processo de morte também apresenta nuances diferentes. Os problemas emocionais
gerados no processo de morte ou morrer ocorrem porque não se observa a morte
como um fenômeno natural e inerente à condição humana, mas sim como a ruptura
do processo de viver. Pode-se perceber que seja qual for a concepção de morte que
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se acredite, tal concepção trilhou por um caminho histórico e culturalmente
construído, portanto, conhecer um pouco mais sobre os aspectos culturais da morte
torna-se importante para compreender as nuances que configuram a temática da
morte nos dias atuais. Diante disso, situa-se a seguir a morte em diferentes culturas
para que assim se compreendam melhor as configurações do processo de morte e
morrer. (BALDESSIN, 2005)
2.1.1 A Morte no Egito Antigo
A tradição egípcia é a mais antiga que possui registros documentados
sobre a morte, esses registros encontram-se em pirâmides (hieróglifos1) e em
papiros2 que acompanhavam os sarcófagos3 dos nobres e faraós. Constata-se que
os egípcios acreditavam que a vida não acabava na terra, por isso o processo de
mumificação4 e o livro dentro da tumba. Após atravessar a porta da morte a alma se
vê na luz do dia, começa uma longa caminhada de travessia numa região de trevas,
num caminho complicado onde falta água e ar. Depois dessa caminhada chega-se a
habitação dos mortos (Amenti, segundo o livro dos Mortos), onde o sujeito é julgado
por três deuses.
O morto ainda seguia para um tribunal de 42 juizes, onde se confessa o
que o defunto fez e deixou de fazer, para saber se será santificado ou não. (URPIA,
2009).
2.1.2 A Morte na Antiga Grécia
1
Hieróglifos - é cada um dos sinais da escrita de antigas civilizações, tais como os egípcios, os
hititas, e os maias.
2
Papiros - Planta de 2 a 3 m. de altura com talo que cresce junto aos rios e lagos. Na antiguidade foi
usado como material de escritura.
3
4
Sarcófagos - Urna funerária de madeira ou pedra.
Mumificação - é um processo artificial de se preservar o corpo humano e de animais, da
decomposição após a morte. No período pré-dinástico os egípcios enterravam seus mortos em
mastabas, ou seja, covas não muito profundas.
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A morte na Grécia antiga era representada por uma simbologia muito
própria, e sua compreensão está fundamentada em alguns deuses mitológicos que
representam o processo da morte.
Nesta mitologia, o processo de morte é descrito como uma travessia, na
qual era preciso levar dinheiro para pagar o barqueiro. Após a travessia, a barca
atracava e um deus mitológico, Hermes, acompanhava o falecido até o reino dos
mortos, onde acontecia um julgamento num tribunal onde predominavam a justiça e
a piedade (PESSOTI, 1995 apud CHERUBINI 1997).
2.1.3 Os Cultos Africanos
A cultura africana apregoava que o indivíduo continuava vivo a partir de
seus descendentes, de modo que os antepassados estavam presentes de geração
em geração. Nesta tradição, a morte era encarada sem muitos medos, pois se
continuava vivo por meio dos familiares. Neste contexto o pensamento africano era
de que cada pessoa possuía várias almas, as quais deveriam morrer por uma, para
que a morte fosse completa, não havendo indestrutibilidade do ser.
Diante destes expostos destaca-se que os africanos não temiam a morte,
ressalta-se que as divindades nesta cultura eram chamadas de Orixás, sendo estas
divindades criadas por um Deus único. (BAYARD, 1996 apud SOUZA, 2003).
2.1.4 A Morte na Tradição Budista
Na concepção oriental e, mais precisamente no budismo, a morte e a
impermanência no mundo físico são objetos de contemplação e meditacão, isso
porque para eles existe um renascimento após a morte.
Portanto, constata-se que na cultura oriental, a morte praticamente não
existe, haja vista que ela é o renascimento. Nesta cultura a morte é encarada com
contemplação e meditação, pois, se a morte é uma certeza e seu momento uma
incógnita, a única coisa que pode auxiliar no processo de morrer é o
desenvolvimento mental e espiritual. O medo da morte para os tibetanos é algo que
16
é combatido culturalmente, pois eles acreditam que aquilo que os ocidentes chamam
de nascimento é apenas o lado inverso da morte e que morremos várias vezes antes
de virmos para esta encarnação. (WENTZ, 1998 apud KOVÁCS, 2003).
2.1.5 - A Morte na Visão Ocidental
A morte na tradição ocidental é encarada como uma experiência de
perda, configurando-se num dos elementos mais estressantes para os familiares,
pois a tendência a estabelecer laços afetivos com outras pessoas é inerente ao ser
humano.
Com isso o ser humano apega-se às pessoas que o rodeiam, haja vista
que assim sente-se mais seguro e protegido.
De acordo com Bowlby (1985 apud KOVÁCS & TADA, 2007) que
formulou uma interessante teoria sobre o apego, pode-se afirmar que quando o
homem sente-se ameaçado pela perda, ou seja, a separação de alguém, ele reage
de três maneiras: a princípio, protestamos, não admitimos a ausência da pessoa
amada; a seguir nosso comportamento é de desespero, pois não temos mais acesso
a ele, e, num terceiro momento, nos defendemos e nos desapegamos, precisando
restabelecer a nossa homeostase e, se não utilizamos esse mecanismo de defesa,
estaremos sujeitos a sucumbir emocionalmente.
Neste contexto argumenta-se que toda perda pressupõe o luto, que é
essa dor causada pela ausência ou falta do objeto amado, configurando-se num
“processo que visa retirar a energia fixada no objeto perdido e redirecionada para
outro objeto”. (FREUD, 1983 apud LAZZARINI, 2006).
2.1.6 Considerações sobre o suicídio
Historicamente, a palavra suicídio surgiu no Séc. XVII, passando a ser
mais utilizada a partir de 1734, no auge do Iluminismo. Antes disso, os termos
utilizados para denominar as mortes auto-inflingidas eram: auto-assassinato, autohomicídio, auto-destruição e morte voluntária (PALHARES & BAHLS, 2003).
17
A palavra suicídio vem do latim sui caedere, termo criado por
Desfontaines, matar-se, é um ato que consiste em pôr fim intencionalmente à própria
vida. Etimologicamente (sui = si mesmo; caedes = ação de matar) significa uma
morte intencional auto-inflingida (ABC DA SAÚDE, 2005 apud SHIKIDA; GAZZI &
ARAUJO, 2006). Vários autores e pensadores e filósofos formularam definições do
suicídio.
“Sêneca o define como “um ato de heroísmo”, Goethe como “um ato
próprio da natureza humana e, [que] em cada época, precisa ser
representado”. Kent como a destruição arbitrária e premeditada que o
homem faz da sua natureza animal”., Rousseau como “uma violação ao
dever de ser útil ao próprio homem e aos outros.”, Nietzsche como “admitir
a morte no tempo certo e com liberdade.”, Sartre como “uma fuga ou um
fracasso.”, Shopenhauer como “positivação máxima da vontade humana.”,
e Durkheim como “todo o caso de morte que resulta direta ou indiretamente
de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima, ato que a
vítima sabia dever produzir este resultado. (SILVA, 1992 apud SHIKIDA;
GAZZI & ARAUJO, 2006 p. 4).
Através de registros históricos é possível constatar que o suicídio faz
parte da história da humanidade, porém, não há uma data precisa de quando foi a
primeira ocorrência. Conforme Kalina e Kovadloff (1983), que fizeram um
levantamento bibliográfico da história do suicídio, a Enciclopédia Delta de História
Geral registra que, em um ritual no ano 2.500 a.C. na cidade de Ur, doze pessoas
beberam uma bebida envenenada e se deitaram para esperar a morte.
Emile Durkheim foi um dos primeiros estudiosos a tentar procurar padrões
para a taxa de suicídio. Ele publicou em 1987 a obra intitulada “Lê Suicide” na qual
analisava os suicídios ocorridos no século retrasado. As influências que mais
contribuíam para a formação de seu pensamento derivam da filosofia iluminista, que
tinha como convicção a crença de que a humanidade avança rumo ao
aperfeiçoamento ditado por forças muito importantes. A sociedade, para ele, é
formada pela soma de indivíduos que fazem parte dela, consequentemente pela
série de fenômenos que têm origem desse agrupamento, interações e interrelacionamentos do tempo presente e também estabelecido pelas gerações
passadas. (SHIKIDA; GAZZI & ARAUJO, 2006).
Kovács (1992) realiza uma análise do problema do suicídio e da tentativa
de suicídio, relatando que é importante levar em conta onde o sujeito está inserido
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socialmente, pois as reações ao suicídio vão depender da cultura, religião, valores,
como ao comparar a concepção do suicídio entre o Oriente e o Ocidente. No Japão
há um crescente aumento no número de suicídios ligados à questão da honra, de
jovens que fracassam na realidade escolar e são considerados indignos. Assim, na
cultura japonesa o suicídio é visto como uma maneira honrosa de escapar de
situações desesperadoras ou vergonhosas.
Na doutrina católica o suicídio é considerado um crime gravíssimo, que
vai contra as obrigações morais, sociais e religiosas do ser humano, sendo, do ponto
de vista religioso, visto como uma revolta contra Deus, que é o senhor da vida e só
cabe a Ele retirá-la. (ANTONIAZZI, 1984 apud ALVES 2007).
A doutrina espírita também acredita que só Deus dispõe do direito à vida,
e que a ilusão do suicida é de que ao cometer o ato acabarão as dores, os
problemas, todo o sofrimento que está passando.
Entretanto, a partir dos estudos de Peralva (1996) a concepção espírita,
quem se mata sai do sofrimento para entrar na tortura, onde passam por diversos
estágios até encontrarem a paz esperada.
Ao pensar na cultura da sociedade ocidental, o suicídio é visto como coisa
que não deve ser feita e, preferencialmente, não se deve falar, muito menos pensar,
por isso é comum as tentativas serem acompanhadas de sentimentos como
vergonha ou culpa, refletindo também nos laudos policiais onde, muitas vezes, as
informações são distorcidas com o objetivo de ocultar ocorrências verdadeiras de
tentativa de suicídio. (DIAS, 1991)
Segundo Freud (1923 apud Ferrari, 2005) foi definido que pelo menos três
desejos podem contribuir para um ato suicida, sendo o desejo de matar, de ser
morto e de morrer. O suicídio, a partir da visão psicodinâmica, pode estar atrelado a
sentimentos de dependência de um objeto perdido, como a mãe, por exemplo, como
um processo de luto patológico, principalmente se tal ato ocorrer em dias de
aniversário de alguém próximo ou mesmo de aniversário de morte da pessoa amada
que se foi.
O suicídio, enquanto questão política foi tratado de diferentes formas pelo
Estado. Na antiga Grécia quem cometia o suicídio era condenado politicamente e
juridicamente, sendo recusadas as honras da sepultura regular e suas mãos eram
enterradas separadamente. A mão era considerada assassina e o ato de separar
uma da outra tinha a intenção de que o indivíduo não pudesse cometer outros atos
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proibidos. Em Roma o indivíduo deveria expor ao Senado as suas razões para o
desejo de morrer. Era visto de forma diferente o suicídio do senhor, considerado um
homem livre e responsável pelos seus atos, do suicídio de um escravo, pois esse
tinha obrigações com o senhor e não era considerado livre para tomar suas próprias
decisões. (KALINA & KOVADLOFF, 1983).
Na Idade Média, o suicídio foi condenado teologicamente. A Europa
cristã acaba com as diferenças entre o suicídio legal e ilegal; cometer o suicídio era
atentar contra a vontade de Deus, o único que criou o homem e quem, portanto,
poderia decidir o fim da vida do ser humano. A vida do indivíduo deixava de ser um
patrimônio da comunidade para ser um dom de Deus e matar-se equivalia a um
sacrilégio. (KALINA & KOVADLOFF, 1983).
Haviam situações inusitadas, em que o suicídio era incentivado, como
no Egito quando o dono dos escravos ou o faraó morriam, além de serem enterrados
com seus bens, os seus servos deixavam-se morrer junto ao cadáver de seu amo.
(COELHO, 2006).
Na Índia, embora tenha sido extinta no Séc. XVII, a prática das viúvas
serem enterradas junto com o morto para fazer companhia a ele na outra vida,
desde os anos 40 foram registrados ainda 25 casos de mulheres que cometeram o
suicídio e foram enterradas junto com os maridos. Em outras culturas, onde há o
casamento poligâmico, quando o marido morria a esposa favorita era enterrada e, às
vezes, ocorria a disputa entre as esposas (CASSORLA, 1991).
Percebe-se por Kovács (1992) que atualmente não existem mais castigos
impostos pelo Estado, sendo que a maior causa, no Ocidente, de suicídios, deve-se
à solidão e ao sentimento de irrelevância social.
O suicídio é visto como uma intromissão do homem no seu próprio tempo
de vida, ou seja, existe a impossibilidade do indivíduo encontrar diferentes
alternativas para seus conflitos, entretanto acaba optando facilmente pela morte, ele
é definido como uma morte auto-inflingida causada de modo intencional e,
normalmente, representa uma atitude complexa. Assim, da mesma maneira que o
homem não é capaz de criar a vida do nada, a maioria das pessoas defendem a
idéia de que o homem não poderia tirar sua vida, como se esta nada fosse
(D`ASSUMPÇÃO, 1984 apud KOVÁCS, 2007).
20
Nesse sentido, o suicídio era interpretado pelos outros, antes de tudo,
como um ato de desespero de algumas pessoas que não faziam mais questão de
viver.
Segundo Durkheim (2000) é reconhecido como suicídio todo caso de
morte que resulta de maneira direta ou indiretamente de um ato efetivado pela
própria vítima, onde ela saberia que produziria tal resultado.
Para Dias (1991), o suicídio é entendido como uma agressão deliberada
que o sujeito exerce contra si próprio com o objetivo de pôr um fim a sua vida.
São considerados comportamentos suicidas, além do ato propriamente
dito, as idéias de suicídio, os planos, como também as tentativas de suicídio.
Considera-se tentativa de suicídio um ato, do indivíduo em relação a si
próprio, com variado grau de consciência sobre seu significado e com
possibilidade de provocar um dano físico que real ou aparentemente
ameaça a vida, de modo que é potencialmente perigosa a sua execução,
quer pela intencionalidade auto-destrutiva subjacente, quer pelo
desconhecimento do indivíduo sobre os riscos a que se expõe, e cuja
motivação situa-se no amplo espectro que vai desde o desejo de acabar
com a própria existência até o desejo de, com o ato, modificar o ambiente
sócio-familiar. (RESMINI, 2004, p. 39).
Para a Psicanálise, descreve Justus (2003), o suicídio é uma situação
psicótica. Isso não significa que a pessoa seja psicótica, mas que, no momento do
ato, nela tenham se ativado núcleos e componentes psicóticos da personalidade que
permaneciam inativos e neutralizados pelas partes não psicóticas da personalidade
e que acabam por se manifestar em dado momento da crise.
Pode-se dizer que o sujeito que tenta o suicídio quer duas coisas ao
mesmo tempo, viver e morrer, o que é ambivalente, pois se trata de dois desejos
contraditórios que existem ao mesmo tempo. Muitas vezes as pessoas que tentam
suicídio podem dar a impressão de que queriam mesmo morrer, mas ao mesmo
tempo, já tinham pensado na possibilidade de serem encontradas e de receberem
ajuda. (RESMINI, 2004). “Numa tentativa de suicídio temos sempre a combinação,
em proporções variadas, de duas tendências: o desejo de autodestruição e o desejo
de fazer com que as outras pessoas manifestem amor e compaixão e que procedam
de acordo com esses sentimentos”. (STENGEL, 1980 apud RESMINI, 2004 p.37).
21
Comprova-se então por Ansermet (1996, apud JUSTUS, 2003) que o
suicídio é atravessado por um paradoxo: o sujeito se suicida por medo da morte, ou
seja, salva-se evitando a si mesmo, tentando fugir de si mesmo, procurando na
morte uma saída para a vida.
Muitas vezes, o que os suicidas querem é melhorar uma situação que
para eles, está insustentável, não vêem mais possibilidades de obter essa mudança
e acham na tentativa de suicídio uma oportunidade de dizerem que estão com
problemas e precisam de atenção, mas não necessariamente querem morrer.
(RESMINI, 2004).
Para Kaplan (1964) Liria & Veja, (2002, apud SEMINOTTI et al, 2006)
assegura que o indivíduo em crise se encontra em uma luta para manter o equilíbrio
entre si e o meio, no caso da pessoa suicida, existe um sentimento de incapacidade
de resolução e encontro do equilíbrio, o que a leva a ver a morte como única saída.
O motivo pelo qual desencadeia uma crise, ou seja, um desequilíbrio
segundo Slaikeu (2000 SEMINOTTI et al 2006) não é definido por uma situação
única ou, mas sim por um conjunto de circunstâncias, pela percepção do indivíduo
do acontecimento e de sua capacidade ou incapacidade para conseguir enfrentar
aquela situação. Assim, quando um indivíduo não consegue apoiar-se na rede de
contato social, seus recursos pessoais estão falhos e a situação de crise para ele é
insuportável, sendo possível que ele veja a morte como solução para sua vida.
O suicídio pode ser compreendido como um evento que ocorre em
decorrência de uma série de fatores acumulados durante a vida do sujeito, não
havendo uma única causa para que ocorra, podendo estar relacionados desde
fatores constitucionais até fatores ambientais, culturais, biológicos e psicológicos.
A OMS avalia o suicídio como problema de saúde pública, pois é uma das
dez causas mais freqüentes de morte em todas as idades, além de ser a segunda ou
terceira causa de morte entre 15 e 34 anos de idade. Porém causar impactos na
sociedade através de perda de produção relacionada ao valor da vida do indivíduo
que comete o suicídio e seu ato se caracteriza muitas vezes como uma forma pelo
suicidado de mostrar os erros da sociedade contra sua pessoa. A sociedade impõe
de certa forma culpa no suicídio devido à estigmação social contra pessoas com
conflitos sexuais, cobranças excessivas, perdas grandes de status, parentes e
amigos são alguns dos motivos pelos quais as pessoas cometem suicídio. Existem
também os fatores econômicos que contribuem para a piora da saúde mental
22
individual e que podem culminar em suicídio, alguns deles são o desemprego, piora
da expectativa de vida, etc. (SHIKIDA; GAZZI & ARAUJO, 2006).
De acordo com Shikida; Gazzi & Araujo (2006, p.04) os fatores de risco
para o suicídio são vários, mas dentre eles destacam-se como principais:
Saúde mental (desordens de humor, como a depressão);
Saúde mental associada ao abuso de substâncias como
drogas e álcool;
História familiar de suicídio;
Perda (relacionamentos, saúde, identidade);
Eventos de muito estresse (Pressão, abuso sexual e/ou
corporal, instabilidade familiar, mudanças sociais, etc.);
Acessibilidade a métodos letais como armas de fogo;
Exposição ao suicídio (familiares ou amigos);
Problemas legais (prisão);
Conflito de identidade sexual.
Sendo assim, o que é visto como última causa do suicídio cometido
pode ser o acúmulo de todos esses fatores. É possível dizer que o suicida está
tentando fugir de uma situação de sofrimento que, para ele, está insuportável; pode
também estar relacionado ao medo de enlouquecer, de não conseguir realizar seus
objetivos, somando à angústia, uma desesperança, uma tristeza incomensurável,
uma melancolia, onde não vê mais nada que faça valer a pena viver. (SILVA &
BOEMER, 2004).
A morte, dessa forma, é vista como a solução para resolver todo esse
sofrimento, não necessariamente porque se deseje a morte, mas porque a vida
perde seu sentido (D`ASSUMPÇÃO, 1984 apud KOVÁCS 2007).
O ato suicida poderia ser ampliado se considerado outras interferências
nocivas realizadas pelo próprio ser humano, ao dirigir em alta velocidade,
alcoolismo, uso de drogas, etc. e também podendo ser identificados traços suicidas
coletivos, ao considerar a corrida armamentista, por exemplo.
Segundo Cassorla (1991), o suicida está tentando fugir de uma situação
de sofrimento que para ele está insuportável. Não existe uma causa única para o
comportamento suicida, ou seja, a partir da somatória de uma série de fatores que
23
podem acumular durante a história do sujeito até a situação em que ele se encontra
no presente é que pode ocorrer o suicídio.
Através das constatações judiciárias, como boletim de ocorrência e laudo
cadavérico, procedimentos que devem ocorrer sempre que é cometido um suicídio,
é anotado o motivo que aparentemente, foi a causa determinante. Dentre elas
podem constar desgosto na família, dor física, remorso, embriaguez, entre outros.
Nos relatórios de quase todos os países, são feitos quadros especiais onde os
resultados dos levantamentos estão registrados sob o título: Motivos presumíveis
dos suicídios.
Contudo, Durkheim (2000) descreve as razões coletadas nesses
levantamentos que, normalmente são apenas as causas aparentes, assim,
exprimem de maneira muito infiel, muitas vezes, destacando os pontos fracos do
indivíduo, sendo a situação completamente diferente do que é coletado, assim,
dificultando ainda mais a compreensão.
2.1.7 Prevalência
Para pessoas que já tentaram outras vezes se matar o risco de suicídio
aumenta para 20 e 30 vezes mais. (OPAS, 2006)
Outra forma que deve ser considerada, mas que dificulta a avaliação
epidemiológica e sempre está sempre presente em todo ato auto-destrutivo, envolve
os suicídios inconscientes, abrangendo diferentes manifestações que incluem desde
a toxicomania às doenças em geral. (CASSORLA, 1991)
Dessa forma, estatísticas sobre atos suicidas são falhas, podendo incluir
diversos fatores que dificultam a coleta desses dados, desde complicações na
conceituação até aspectos socioculturais. O processo estatístico se agrava quando
se trata de crianças e adolescentes, em que os atos auto-destrutivos, na maior parte
das vezes, podem ser negados ou até escondidos pela família, diante de
sentimentos de culpa e/ou vergonha pelo ato.
Estima-se que em 2.020 o suicídio será responsável por 2,4% do ônus
global ocasionado por doenças.
O Brasil encontra-se no grupo de países com taxas baixas de suicídio.
24
No entanto, como se trata de um país populoso está entre os dez países
com maiores números absolutos de suicídio.
A evolução das taxas de suicídio no Brasil tem variado conforme o sexo.
Embora o Brasil apresente uma taxa geral considerada baixa pela OMS,
alguns estados brasileiros já apresentam taxas comparáveis aos países apontados
como de freqüência de média a elevada.
Os registros oficiais sobre tentativas de suicídio são mais escassos e
menos confiáveis do que os de suicídio. Estima-se que o número de tentativas de
suicídio supere o número de suicídios em pelo menos dez vezes. (OMS, 2009).
25
3 ASPECTOS PSICOSSOCIAIS E O SUICÍDIO
Na maioria dos países, o suicídio situa-se entre as dez mais comuns
causas de morte na população geral e entre as duas ou três mais comuns em
adolescentes
e
adultos
jovens.
Nos
países
desenvolvidos,
os
suicídios
correspondem de 1 a 2% de todas as mortes. (OMS, 2009). Existe uma tendência de
aumento entre os grupos etários mais jovens e, em alguns países, o suicídio vitima
mais pessoas que os acidentes de trânsito.
As taxas de suicídio entre jovens com idade entre 15 e 24 anos triplicaram
nos últimos 25 anos. (GREIST & JEFFERSON, 1992 apud OMS, 2009).
De acordo com estimativas da (OMS); em termos globais, a mortalidade
por suicídio aumentou em 60% nos últimos 45 anos.
Dados recentes da (OMS) relatam que 900.000 pessoas cometeram
suicídio em 2003, representando uma morte a cada 35 segundos. Para cada óbito
por suicídio, há no mínimo cinco ou seis pessoas próximas ao falecido, cujas vidas
são profundamente afetadas emocional, social e economicamente. (BOTEGA, 2007
apud VIEIRA, 2008).
O ato de suicidar-se envolve múltiplos aspectos, individuais, familiares,
sociais e ideológicos, exigindo um esforço no sentido de buscar uma visão mais
ampla da realidade do sujeito e do ato. (OLIVEIRA, AMÂNCIO & SAMPAIO, 2001
apud PADOVANI et al 2006). O suicídio revela um intolerável tormento interior, é um
meio de comunicar o desespero e a descrença na concretização de objetivos.
Segundo Silva (2005) em cada sociedade há uma tendência coletiva5
para o suicídio, uma força exterior6 aos indivíduos, essa tendência é específica em
cada sociedade e está vinculada aos diferentes hábitos, costumes, idéias, etc., ou
seja, cultura. Sua intensidade é também determinada socialmente, isto é, a partir do
contexto de cada sociedade específica. Observa-se que as sociedades não são
compostas apenas por indivíduos, mas também por fatores físicos e materiais e
5
Tendência coletiva – agir de forma padronizada.
6
Força exterior - a coerção social exercida sobre os indivíduos.
26
estes também influenciam a vida social das pessoas. A intensidade com que se
manifesta a tendência suicidogênea7 depende dos seguintes fatores:
“...primeiro, a natureza dos indivíduos que compõe a sociedade; segundo,
a maneira como estão associados, ou seja, a natureza da organização
social; terceiro, os acontecimentos passageiros que perturbam o
funcionamento da vida coletiva, sem alterar no entanto a constituição
anatômica desta, tais como crises nacionais, econômicas etc.” (Id.: 199
apud SILVA, 2005 p. 05).
É muito difícil compreender os inúmeros fatores internos e externos e os
contextos familiares, culturais e psicossociais que podem conduzir ao suicídio
segundo Oliveira, Amâncio & Sampaio (2001 apud PADOVANI et al 2006).
Lopes, Barreira & Pires (2001) relatam que em cada conduta suicida são
envolvidas variáveis sociais, psicológicas e biológicas e isto leva a entender a
tentativa de suicídio como uma situação multideterminada.
Segundo Solomon (2002 apud VIEIRA, 2008, p. 48) os suicidas dividemse em quatro grupos:
O primeiro, é aquele que comete o ato sem pensar no que
está fazendo. Tais pessoas são as mais impulsivas e mais propensas a
serem levadas ao suicídio por um evento externo específico, seu
comportamento suicida tende a ser repentino.
O segundo, meio apaixonado pela morte consoladora,
comete suicídio como vingança, como se o ato não fosse irreversível.
Tais pessoas não estão fugindo da vida, mas correndo para a morte,
desejando não o fim da existência, mas a presença da obliteração.
O terceiro comete suicídio por uma lógica falha, em que a
morte parece ser a única saída de problemas intoleráveis. Esses
indivíduos consideram as opções, planejam seus suicídios e escrevem
bilhetes. Geralmente, acreditam não somente que a morte vá melhorar
sua condição, mas também que ela removerá um fardo das pessoas
que os amam.
7
Suicidogênea – predisposições ou inclinações sociais e coletivas para o suicídio.
27
O último grupo comete suicídio através de uma lógica
racional. Tais pessoas, devido a uma doença física, instabilidade
mental ou uma mudança nas circunstâncias de vida, não desejam
experimentar a dor da vida e acreditam que o prazer que elas podem
vir a sentir é insuficiente para compensar a dor atual.
Para Durkheim (2003 apud VIEIRA, 2008, p. 50) os suicídios podem ser
divididos em três categorias sociais:
O egoísta: ocorre como resultado de um afastamento da sociedade,
resultando numa individualização desmesurada, que resulta de uma falta de
integração, na sociedade, e está associado com sentimentos de depressão e apatia.
O altruísta: difere do egoísta por características marcantes. Enquanto este
se deve ao intenso individualismo, aquele decorre do fato de o indivíduo estar sob
obediência do coletivo. O indivíduo se identifica tanto com a coletividade que é
capaz de tirar sua própria vida por ela, sendo visto como algo que ocorre,
principalmente, em sociedades coletivas, onde os indivíduos suicidam-se para o
bem comum, se sacrificando pela comunidade.
O anômico: ocorre como resultado de uma mudança brusca na ordem
social aceita e nas normas que prescrevem o comportamento na sociedade. Esse
tipo de suicídio é o mais comum após crises sociais ou políticas, e ocorre entre
indivíduos que estão tentando ajustar-se a novos status sociais ou ocupacionais.
Durkheim (1983 apud SILVA, 2005) ao analisar o tipo de suicídio
anômico, percebe que se rompe o domínio sustentado nas normas tradicionais e os
indivíduos ficam sem referências. A crise produz deslocamentos financeiros, gera
falências e processos de enriquecimento que fazem surgir os novos ricos. De um
lado, a dificuldade em aceitar a situação material inferior, de outro, a cobiça diante
da nova riqueza. E, em meio à crise, a moral não mais se sustenta e os indivíduos
são obrigados à se educarem em uma nova ética adaptada á nova situação. Este
processo é doloroso e coloca em movimento a tendência suicidogênea anômica. As
correntes
suicidogêneas
(egoísta,
altruísta
e
anômica)
“se
compensam
mutuamente”,pois, o indivíduo encontra-se em “estado de equilíbrio que o preserva
de qualquer idéia de suicídio. Mas, se uma delas ultrapassar certo grau de
28
intensidade em prejuízo das outras, tornar-se-á, ao individualizar-se e pelas razões
expostas, suicidôgenea”. (DURKHEIM, 1983 apud SILVA 2005).
Afirma-se ainda por Justus (2003) que o sentimento de culpa é o
problema mais importante do desenvolvimento cultural. O melhor tratamento para a
instigante expressão “sentimento inconsciente de culpa” seria, de fato, “necessidade
de punição”. Já que a culpa é sempre uma culpa recordada, ela seria encenada pelo
destino, o porta-voz oficial das figuras parentais.
A culpa da sociedade descrita por Shikida, Gazzi & Araújo (2006) em
suas pesquisas em relação ao suicídio vem da estigmatização social contra pessoas
com conflitos sexuais, cobranças excessivas, perdas grandes de status, parentes e
amigos são motivos pelos quais pessoas cometem suicídio. Existem os fatores
econômicos que são contribuintes na piora da saúde mental individual e que podem
resultar em suicídios. Alguns deles são o desemprego, piora de expectativa de vida,
entre outros.
Em aspecto geral segundo Quevedo; Shmitt; Kapczinski & cols (2008)
existe no paciente com ideação suicida a associação entre o desejo de morrer e
sentimentos como raiva, ódio e humilhação dirigidos contra algum objeto (indivíduo)
significativo na vida do mesmo.
Segundo Lowen (1986) o suicídio não é apenas um desejo de morrer,
mas sim uma vontade de morrer, então afirma:
(...) desejos, sensações e sentimentos fazem parte do ser; ações
pertencem ao fazer. No suicídio, a pessoa executa uma ação destrutiva
contra o si-mesmo e contra os outros. Este ato deriva, em grande parte, de
raiva reprimida que é dirigida contra o si-mesmo para magoar outras
pessoas. “Vocês ficarão sentidos quando eu estiver morto”. O suicídio
representa a rejeição do próprio ser. (LOWEN, 1986, p. 109).
Contata-se segundo Hamermesh e Soss (1974 apud SHIKIDA, GAZZI &
ARAÚJO, 2006) que o comportamento suicida não pode em hipótese alguma ser
atribuído apenas a fatores econômicos. Em suas pesquisas concluem que a fração
de indivíduos que cometem suicídio é formada a partir da definição da utilidade
intertemporal do valor da vida de um indivíduo e seu desgosto pela mesma. Existe
29
nesta mesma linha de pesquisa fatores desencadeadores de suicídio que ligam-se
mais a fatores religiosos.
Analisa-se então que desempregados possuem saúde mental pior do que
pessoas empregadas. Problemas de saúde mental são conhecidos como fatores de
risco para o suicídio e por isso são também de relevante análise. Bjorklund (1985
apud SHIKIDA, GAZZI & ARAÚJO, 2006), por exemplo, desenvolve um modelo
econométrico que explora a característica de painel dos dados para explicar
possíveis relações entre saúde mental e desemprego. O desemprego se
caracterizaria como sendo um evento bastante estressante para o indivíduo, já que
está relacionado à perda de renda e efeitos estigmatizantes causados pelo mesmo.
Considera-se que o desemprego pode gerar dois problemas associados à saúde
mental. O primeiro seria o efeito da ocorrência, onde o fato de ficar desempregado
causa um choque mental no indivíduo. O segundo efeito seria o da duração do
desemprego que deteriora a saúde mental até que o indivíduo se reenquadre como
mão-de-obra ativa na sociedade, porém estas pesquisas não obtêm dados que
separem
desemprego
voluntário
e
involuntário.
O
desemprego
voluntário,
aparentemente, não causaria impactos no indivíduo, e não deve ser associado a
problemas de saúde mental.
Durkheim (2000) tem como um de seus exemplos preferidos a educação,
segundo ele, ninguém nasce sabendo as normas de conduta necessárias para a
convivência social. Então toda sociedade tenta educar seus membros, impondo
regras e fazendo com que este ser humano as aprenda através de suas gerações
adultas. Com isto o grupo social é perpetuado, apesar da morte dos indivíduos.
Justificando assim a religião como um fator desencadeador do suicídio, pois neste
grupo existem normas e regras a serem seguidas que limitam a ação do indivíduo e
se estas regras não forem seguidas é punido de alguma maneira pelo resto do
grupo.
Nos países católicos segundo Almeida & Neto (2004) a participação
religiosa evitaria a categoria de suicídios anômicos, pela maior possibilidade de
integração, pois esta religião requer contatos mais freqüentes com outros através
dos sacramentos, confissão e o ato de ir à missa, enquanto que a religião
protestante, por ser mais individualista, não requereria tanta interação social, e
assim, não proveria uma maneira de evitar o suicídio.
30
Além de uma rede social de apoio, outros mecanismos são propostos
para explicar o efeito protetor contra suicídio que a religião possui. Stack (1983 apud
ALMEIDA & NETO, 2004, p. 08) sugeriu alguns deles:
Crenças na vida após a morte e em um Deus amoroso;
Proporcionar objetivos à vida e auto-estima;
Fornecendo modelos de enfrentamento de crises;
Dar significado às dificuldades da vida;
Oferecer uma hierarquia social (que muitas vezes difere
da hierarquia socieconômica da sociedade);
Desaprovação enfática do suicídio.
A tolerância ao suicídio pode ser o mediador entre as crenças religiosas e
o risco de comportamento suicida. Há evidências de que indivíduos com maior
tolerância ao suicídio têm maior risco de comportamento suicida. (STACK, 1991
ALMEIDA & NETO, 2004). A maioria das religiões desaprova energicamente o
suicídio, desde as ocidentais ao hinduísmo e islamismo. (BATHIA, 2002 apud
ALMEIDA & NETO, 2004). Apesar de ainda haver poucos estudos neste perfil, tem
evidenciado uma relação negativa entre envolvimento religioso e suicídio.
A conduta suicidária, tanto letal (suicídio) como não letal (tentativa de
suicídio e para-suicídio), representa um verdadeiro desafio para os serviços de
saúde mental, nomeadamente no que respeita à compreensão dos fatores
psicológicos que a ela predispõem e a precipitam (MACLEOD et al, 1998 apud
LOPES, BARREIRA & PIRES, 2001).
A desesperança deve ser encarada como um preditor do suicídio tal como
a presença de perturbação afetiva, ideação suicida severa, história de tentativa de
suicídio, prévia história familiar de suicídio, história de abuso de álcool e drogas e
fatores demográficos relevantes como idade, sexo e raça. A “desesperança”, mais
do que a depressão, parece ser um forte indicador de intenção suicida. (BECK et al.,
1975; SALTER & PLATT, 1990 apud LOPES, BARREIRA & PIRES, 2001).
Para Guillon (1987 apud LOPES, BARREIRA & PIRES, 2001) mesmo que
as perturbações psiquiátricas sejam raras, alguns autores consideram que o
desenvolvimento psicoafetivo de pessoas que tenham feito tentativas de suicídio
será fortemente perturbado.
31
Marcelli (1998) assinala o episódio depressivo que frequentemente
ocorre, a partir de um acontecimento com valor de perda ou luto, como a separação
dos pais, o falecimento de algum familiar, a mudança de residência, a morte de um
animal de estimação. Percebe-se com isto, uma mudança do comportamento.
Apesar da inexistência de estudos que comprovem a relação entre o
transtorno depressivo e a ideação suicida, sabe-se que dentre os fatores
psiquiátricos associados ao suicídio, em primeiro lugar está a depressão, alteração
afetiva predominante no ato suicida, desde sua ideação, intenção, até o suicídio de
fato. Mas sabe-se que, frequentemente, existem pensamentos sobre a morte, nos
quadros depressivos. Tratando-se não apenas de ideação suicida típica, mas,
sobretudo da preferência em estar morto a viver desta forma. (BALLONE, 2003).
A depressão em nossa sociedade vem apresentando-se de forma
bastante significativa, configurando índices bastante elevados. Neste transtorno é
originado um sofrimento psíquico que interfere, significativamente, na diminuição da
qualidade de vida, na produtividade e incapacitação social do indivíduo, atingindo
desde crianças até pessoas idosas, rompendo barreiras de idade, classe sócioeconômica, cultura, raça e espaço geográfico. (COUTINHO et al, 2003 apud VIEIRA,
2008).
Nestas circunstâncias a depressão é conhecida como fator de risco para
o suicídio. A OMS afirma que a depressão afeta de 15 a 20% das mulheres e de 5 a
10% dos homens e que dois terços desses não tem acesso ou não procuram
tratamentos adequados, e dos que procuram somente 50% são diagnosticados
corretamente. Está constatado, também, que a maioria dos pacientes deprimidos irá
tentar pelo menos uma vez o suicídio e somente 17% destes irá realmente
consumar a tentativa. (OMS, 2002 apud SHIKIDA, GAZZI & ARAÚJO, 2006).
O impacto por mortalidade por suicídio levou a OMS a identificar o
suicídio como uma questão fundamental em saúde pública e orientou seus paísesmembros a desenvolver e programar estratégias de abordagem para este problema.
Já em 1990, fez as seguintes recomendações:
Reconhecer o suicídio como uma prioridade em saúde
pública;
Desenvolver programas preventivos nacionais e
Criar comitês de coordenação nacional.
32
Como
um
sério
problema
de
saúde
pública,
a
prevenção
do
comportamento suicida não é uma tarefa fácil, uma vez que várias doenças mentais
se associam ao suicídio. A detecção precoce e o tratamento apropriado dessas
condições são importantes na sua prevenção.
Para cada suicídio há, em média, 5 ou 6 pessoas próximas ao falecido
que sofrem conseqüências emocionais, sociais e econômicas.
Kaplan (1995 apud PAES JR. 2008) ressalta alguns fatores que
aumentam o risco do suicídio:
Pacientes com personalidade impulsiva;
História de migração;
Ausência de convicção religiosa (católicos suicidam-se
menos pelo perfil punitivo da sua ideologia, bem como a crença num
destino controlado por um Deus onipotente e responsável pelos
sucessos e frustrações da sua vida);
Sentimento persistente de desesperança e pessimismo;
Perda de status sócio-econômico: fracasso profissional ou
falência financeira;
Acidentes que causem incapacidade física ou impotência
sexual;
Acidentes que causem desfigurações, principalmente em
mulheres;
Ambivalência;
Fator desencadeante/estresse persistente;
Transtornos de personalidade (histriônico, boderline, etc.)
Transtorno bipolar: pode-se pensar no risco aumentado
apenas na fase depressiva, mas o perfil impulsivo da fase maníaca traz
cuidados particulares.
Doenças do SNC como epilepsia, demência, AIDS, entre
outros.
Observa-se um risco relativo de suicídio ou tentativas em familiares
próximos de sujeitos suicidas em alguns estudos. (APA, 2005 apud QUEVEDO et al
33
2008). Estudos com familiares, gêmeos e adoção proporcionam evidências
altamente sugestivas de hereditariedade no risco de suicídio, mas não existem
dados que comprovem o modo deste risco geneticamente. É de devida importância
registrar que a presença de suicídio ou de tentativa em parentes próximos aumenta
o risco de que um indivíduo venha a tentar o suicídio. Fatores como questões
psicológicas podem contribuir para o risco destes indivíduos, mas em outros podem
ser relevantes somente quando ocorrem em combinação com certos estressores
psicossociais.
Conforme os dados coletados por Valle (1884 apud PEDOVANI, 2006)
nos mostram que o suicídio não pode ser considerado hereditário, pois este aspecto
pode ser identificado em alguns casos e em outros não. Pode-se dizer que a
loucura-suicida, adicionada a uma predisposição hereditária e acrescida dos
caracteres e das doenças, forma uma combinação encontrada na maior parte dos
casos.
O fenômeno do suicídio não é raro de acontecer, e se dá quando, depois
de
um
suicídio,
algumas
pessoas
se
sentem
“liberadas”
para
imitar o
comportamento. As pessoas que já tem ideação suicida se sentem encorajadas a
tentar, estimuladas pelo outro. É essa a razão pela qual os jornais não publicam
frequentemente ou não dão destaque para estas notícias. Consequentemente, é de
grande relevância o desenvolvimento de técnicas de prevenção para que a taxa de
suicídio, atualmente tão alta, tenha um declínio. (SEMINOTTI, PARANHOS &
THIERS, 2006).
Em suas pesquisas Padovani et al (2006) chama atenção para a questão
do alto nível de discordância entre os estudantes e os autores do século XIX,
quando se trata da afirmação que o suicídio exprime erro ou fraqueza e é um ato
pensado, executado com plena liberdade do pensamento e da vontade, ou quanto à
influência da hereditariedade no ato suicida ou mesmo quando os autores trazem o
suicídio com características de alienação mental. Demonstrando que discussões
acerca do assunto podem ter mudado a forma de pensar e o olhar sobre os
indivíduos que atentam contra própria vida, bem como quanto aos aspectos
relacionados à saúde e doença mental.
Para Durkheim (1983 apud SILVA, 2005) existe a possibilidade de
demonstrar o suicídio como um fenômeno social e é possível compreendê-lo a partir
da compreensão da sociedade, pois, é um fenômeno presente em todas as
34
sociedades humanas, mas sob as condições da modernidade assume uma
intensidade nunca vista. A responsabilidade é social e não apenas individual. As
diversas áreas do conhecimento podem contribuir, mas é necessário que se respeite
as suas especificidades e limites, sem que, por isso, neguem-se mutuamente.
Durkheim (1983) mostra a visão diferenciada clínica e sociológica:
“Eis, portanto o ponto essencial em que divergem as opiniões do clínico e
do sociólogo. O primeiro só vê os casos particulares, isolados uns dos
outros. Assim, contata muitas vezes que a vítima era um nervoso ou um
alcoólico e explica o ato por um destes estados psicopáticos. Num certo
sentido tem razão, porque, se o sujeito se matou mais cedo do que os seus
vizinhos, é frequentemente por este motivo. Mas não é por este motivo
que, de uma maneira geral, há indivíduos que se matam, em cada
sociedade, e num espaço de tempo determinado, um número definido de
indivíduos. A causa produtora do fenômeno escapa necessariamente a
quem só observa os indivíduos, porque ela é exterior aos indivíduos. Para
descobrir é necessário ir além dos suicídios particulares e aperceber o que
determina a unidade destes”. (DURKHEIM, 1983 apud SILVA 2005 p. 09).
Constata-se então que a psicologia desconsidera de certa forma que o
indivíduo vive em sociedade e que, portando suas atitudes não estão desvinculadas
do meio em que vive. Já a sociologia, despreza os fatores psíquicos e individuais,
como se fosse possível encarar a dor e o sofrimento dos que abraçam a morte
voluntária e dos seus próximos apenas se reportando aos fatores sociais. Ambos
têm tendências deterministas.
Em estudos estatísticos realizados por Baptista & Borges (2005) observase que no ano de 1998 as mortes por suicídio responderam por quarto lugar, no ano
de 1999 ocupou sexto lugar e em 2000 e 2001 as mortes por suicídio ocuparam
quinto lugar, precididas pelos homicídios, acidentes de trânsito e mortes a
esclarecer. A maior prevalência de suicídios ocorreu na faixa etária de 21 a 40 anos,
seguida pela meia idade, adolescência e terceira idade, em ambos os sexos.
Observa-se também que o suicídio é mais comum em brancos, que 88,9% da
amostra moravam no meio urbano. Segue-se então uma tabela com a distribuição
destes dados:
35
Tabela 1 – Suicídios por faixa etária e gênero
Feminino
Masculino
Total
Sexo
N
%
N
%
N
%
13
10,4
1
3,7
14
9,2
21 – 40 anos
57
45,6
18
66,7
75
49,4
41 – 65 anos
44
35,2
8
29,6
52
Acima de 65
11
8,8
0*
0,0*
11
Faixa etária
13 – 20 anos
34,2
7,2
anos
Total
125
100,0
27
100,0
152
100,0
Fonte: Baptista & Borges (2005).
Silva et al (1999 apud BAPTISTA & BORGES 2005), por meio de casos
de suicídio registrados no IML da cidade de Salvador desde o mês de janeiro do ano
de 1996 a dezembro de 1997, encontraram a faixa de 21 a 30 anos com a maior
freqüência (28,89%), seguida por 31 a 40 anos (24,45%) e 16 a 20 anos (16,59%), o
que sanciona os dados da pesquisa atual, onde se encontram 49,4% entre as idades
de 21 a 40 anos, embora outras faixas estejam dimensionadas de outra forma,
inviabilizando a comparação mais direta.
O estudo feito por Ponce et al (2008) revelou uma relação de 483 homens
(76,4%) para 149 mulheres (23,6%) nos casos de suicídio ou 3 homens para cada
mulher. Esses resultados contrastam com os dados do Sistema de Informações
sobre Mortalidade (SIM), que revelam que em 2004, no Brasil ocorreram 6.311
suicídios entre homens e 1.706 entre mulheres, ou seja, uma proporção de 3,7
homens para cada mulher. No estado de São Paulo, essa proporção é de 4,2
homens para cada mulher (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006 apud PONCE et al
2008).
36
Observa-se que o jovem que se mata por amor, deixando dúvidas se
realmente tinha intenção de dar cabo à vida, o velho funcionário que pensa em
suicidar-se, o indivíduo que se mata por vergonha diante da falência, o soldado que
se sacrifica pelos demais, o samurai que se mata em nome da honra, a renúncia
desesperada da vida, entre outros. São inúmeras as situações em que se adota o
suicídio. (GARCEZ, 2002). Seja o amor não correspondido, o apego ao trabalho ou
outra causa, apresenta-se a morte voluntária como resultante de motivações
individuais.
Bertillon (1985) afirma que o número de suicídios e o de divórcios varia
paralelamente porque ambos dependem de um mesmo fator: a freqüência maior ou
menor de pessoas mal equilibradas. A razão por este paralelismo não seria,
portanto, a instituição do divórcio ter, por si mesma, uma influência sobre suicídio,
mas essas duas ordens de fatos derivarem de uma mesma causa, que elas
exprimem diferentemente. Durkheim ao analisar o suicídio de divorciados são
incomparavelmente superiores em relação a outras parcelas da população. Pois,
quanto mais densa a sociedade doméstica (mais filhos), menor a taxa de suicídios.
Mulheres casadas matam-se menos do que em outras partes. A hipótese que
permanece é que o próprio divórcio, pela ação que exerce sobre o casamento, deve
produzir o suicídio.
Vansan (1978 apud TEIXEIRA & LUIS 1993) afirma encontrar maior
número de óbitos entre a população masculina, uma vez que se suspeita que
homens tenham mais sucesso que as mulheres nas tentativas de suicídio.
Assim, as perturbações afetivas assumem uma posição relevante na
compreensão do ato suicida segundo Sampaio (1991 apud LOPES; BARREIRA &
PIRES 2001). Contudo, não são condições suficientes para explicar a razão da
ocorrência da tentativa de suicídio, pelo que algo simbólico deve ter acontecido que
alcança no sentido completamente oposto ao normal a desejo de auto-preservação.
(LAUFER, 1995 apud LOPES; BARREIRA & PIRES 2001).
Um indivíduo com uma tentativa de suicídio prévia com dificuldades na
resolução de problemas e déficits nos mecanismos de “coping” pode, sem
intervenção adequada no tempo, tornar-se um sujeito com múltiplas tentativas de
suicídio, e permitindo patologias dos Eixos I e II do DSM-IV (APA, 1994), não só
para emergirem, mas também para cristalizarem.
37
De acordo com Botega org. (2006) em considerável proporção dos casos
de tentativa de suicídio, a intencionalidade suicida é pequena. Apenas um quadro
dos pacientes assume que queria realmente morrer, outros dizem que queriam
apenas
dormir,
afastar-se
dos
problemas.
Embora
isso
não
possa
ser
conscientemente admitido, pode-se interferir que, em uma parcela de casos, o
comportamento suicida pretendia alternar uma situação de desadaptação e
sofrimento, influenciando pessoas significativas. Um grito de socorro que pode dar
certo, provocando um movimento de apoio e reestruturação, ou que, ao contrário,
pode provocar mais agressões vindas de pessoas próximas ou de uma equipe
assistencial despreparada para atender estes casos.
38
4 SUICÍDIO E PSICOPATOLOGIAS
Segundo Vega-Piñero et al (2002 apud VIEIRA, 2008) a explicação
psiquiátrica é que os suicidas possuem alguns transtornos mentais, que implicam
num comportamento anormal. Baseia-se na alta prevalência de transtornos mentais
que aparecem nesses sujeitos.
Embora nem todos que cometam suicídio tenham transtornos mentais, a
mortalidade decorrente deste ato entre as pessoas que têm tal tipo de transtorno é,
significativamente, maior do que a observada na população geral. Dentre os fatores
de risco descritos por Botega et al (2006 apud VIEIRA, 2008) destacam-se:
transtornos mentais (como ex: a depressão), perdas recentes, perdas de figuras
parentais na infância, dinâmica familiar conturbada, personalidade com fortes traços
de impulsividade de agressividade, certas situações clínicas (doenças crônicas
incapacitantes, dolorosas, desfigurantes), ter acesso fácil a meios letais.
O risco de suicídio está aumentando em quase todas as doenças
mentais, principalmente naquelas graves e crônicas. É importante,entretanto,
destacar que a simples presença de doença mental não é suficiente para a
realização do ato suicida, pois, a maioria das pessoas com transtornos mentais não
se suicida. (HARRISON & LLOYD, 2000 apud BAHLS & BOTEGA, 2004).
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2006) alerta para o fato de existirem
alguns sinais na história de vida e no comportamento das pessoas, que indicam que
um determinado indivíduo possui um maior risco para o comportamento suicida
quando apresenta comportamento retraído, inabilidade para se relacionar com a
família e amigos, pouca rede social, doença psiquiátrica, alcoolismo, ansiedade ou
pânico, mudança da personalidade, irritabilidade, pessimismo, depressão ou apatia,
mudança no hábito alimentar e de sono, tentativa de suicídio anterior, odiar-se,
sentimento de culpa, de sentir sem valor ou com vergonha de si, uma perda recente
importante, morte, divórcio, separação, histórico familiar de suicídio, desejo súbito de
concluir os afazeres pessoais, organizar documentos, escrever testamento,
sentimento de solidão, impotência, desesperança, cartas de despedida, doença
crônica, limitante ou dolorosa, menção repetida de morte ou suicídio, entre outros.
Quando sentimentos principais são apresentados como indicadores de
risco para a consumação, ou pelo menos tentativa, do ato suicida, são denominados
39
de “regra dos 4D”, devido ao fato de todos os sentimentos começarem com a letra
“D”. São eles: depressão, desesperança, desamparo e desespero. (BRASIL, 2006).
A depressão é o diagnóstico mais associado com comportamento suicida.
Calcula-se que entre 50 a 75% dos suicídios são cometidos enquanto a pessoa está
sofrendo desta patologia. (BOTEGA, 2004). Estima-se que entre 15 a 20% dos
indivíduos com transtorno de humor morrerão por meio de suicídio. Algumas outras
patologias psiquiátricas costumam alcançar altos níveis de suicídio como a
esquizofrenia,
abuso
de
substâncias,
anorexia
nervosa
e
transtorno
de
personalidade borderline.
Para Andreasen & Black (2001; MANN, 2002 apud BOTEGA, 2004)
pessoas com doenças físicas potencialmente fatais, como câncer, apresentam um
aumento de duas a quatro vezes maior de risco de suicídio do que a população
geral.
Dados da OMS (2000) indicam que o suicídio, geralmente, aparece
associado a doenças mentais, sendo que a mais comum, atualmente, é a
depressão, responsável por 30% dos casos relatados em todo o mundo. Outras
doenças como o alcoolismo, a esquizofrenia e transtornos de personalidade também
são citados como fatores predisponentes.
De acordo com o DSM – IV os seguintes critérios são utilizados para o
diagnóstico da depressão:
Estado deprimido: sentir-se deprimido a maior parte do tempo;
Anedonia: interesse diminuído ou perda de prazer para realizar as
atividades de rotina;
Sensação de inutilidade ou culpa excessiva;
Dificuldade de concentração: habilidade frequentemente diminuída para
pensar e concentrar-se;
Fadiga ou perda de energia;
Distúrbios do sono: insônia ou hipersonia, praticamente, diárias;
Problemas psicomotores: agitação ou retardo psicomotor;
Perda ou ganho significativo de peso, na ausência de regime alimentar;
Idéias recorrentes de morte ou suicídio.
40
Vieira (2008) afirma que o estado depressivo pode ser classificado em
três grupos: depressão menor: 2 a 4 sintomas por duas ou mais semanas, incluindo
estado deprimido ou anedonia; distimia: 3 ou 4 sintomas, incluindo estado deprimido,
durante dois anos, no mínimo e depressão maior: 5 ou mais sintomas por duas
semanas ou mais, incluindo estado deprimido ou anedonia.
Já classificação Internacional de Doenças – CID 10 descreve a depressão
sob os seguintes critérios: humor depressivo, perda do interesse (pelas atividades
habitualmente agradáveis), diminuição da energia (ou aumento da fadigabilidade),
perda da confiança ou da auto-estima, sentimentos inapropriados de culpa ou de
recriminação, ideação ou comportamento suicida, problemas de concentração,
atraso ou agitação psicomotora, perturbações do sono de qualquer tipo e aumento
ou diminuição do apetite.
Sendo assim, classificando a depressão através dos níveis de gravidade,
de acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2006), a depressão pode ser:
Leve: apresentando dois dos sintomas a seguir: humor deprimido, perda
de interesse (anedonia), falta de energia mais dois dentre os expostos anteriormente
(CID-10). O paciente não para suas funções completamente.
Moderada: Dois dos sintomas a seguir: humor deprimido, perda de
interesse (anedonia), falta de energia mais três dentre os expostos anteriormente
(CID-10). O indivíduo apresenta dificuldade em executar suas funções.
Grave ou Severa: Dois dos sintomas a seguir: humor deprimido, perda de
interesse (anedonia), falta de energia e pelo menos quatro dentre os expostos (CID
10), alguns em grande intensidade, mas considerável inquietação e agitação, ou
retardo psicomotor, às vezes, com sintomas psicóticos, como delírios e alucinações.
Dentre a causa, a depressão pode ser classificada como:
Depressão endógena: Trata-se de um tipo de depressão, onde,
predominam
sintomas
classificados
como
endógenos,
de
natureza
mais
neurobiológica, mais independente de fatores psicológicos.
Depressão reativa: Refere-se ao tipo de depressão desenvolvida como
uma reação a um fator estressor externo, representando uma associação entre
fatores precipitantes internos e externos; e formas moderadas dessa patologia.
41
Quando aos sintomas, a depressão pode ser classificada em neurótica e
psicótica:
Depressão
neurótica:
Segundo
Abreu
(2003),
caracteriza-se
por
apresentar, pelo menos, cinco dos itens a seguir: perda do interesse ou falta de
motivação, demora em responder aos estímulos prazerosos, piora dos sintomas pela
manhã, agitação ou retardamento psicomotor, significativa perda de peso e resposta
anterior a medicamentos antidepressivos, durante um episódio anterior com
sintomas desencadeantes similares.
Depressão psicótica: é um tipo grave que ocorre associado aos sintomas
depressivos, um ou mais sintomas psicóticos, como delírios de ruína ou culpa, delírio
hipocondríaco ou de negação de órgãos, alucinações com conteúdos depressivos.
(DALGALARRONDO, 2000 apud VIEIRA 2008).
Os fatores de risco apresentados são numerosos, no entanto as
perturbações psiquiátricas, principalmente a depressão, e tentativas de suicídio
anteriores configuram-se entre as mais citadas, bem como as perturbações do
comportamento e suas associações. (BOUVARD & DOYEN, 1996; GOULD et al.,
1996, apud LOPES, BARREIRA & PIRES, 2001).
A esquizofrenia segundo o DSM – IV é uma perturbação com duração
mínima de 6 meses e os seguintes sintomas são analisados para um diagnóstico:
delírios, alucinações, percepção, raciocínio lógico, linguagem, comunicação, controle
comportamental, afeto, fluência e produtividade do pensamento e discurso,
capacidade hedônica, volição, impulso, atenção, comportamento amplamente
desorganizado ou catatônico e sintomas negativos.
Observa-se que apenas um sintoma destes citados acima é necessário se
os delírios são bizarros ou as alucinações consistem de uma voz mantendo um
comentário sobre o comportamento ou pensamentos da pessoa ou duas ou mais
vozes conversando entre si. O diagnóstico envolve o reconhecimento de uma
constelação de sinais e sintomas associados com prejuízo no funcionamento
ocupacional ou social. Os sintomas característicos podem ser encaixados em duas
categorias sendo positivo e negativo:
Sintomas positivos: distorções ou exageros do raciocínio lógico (delírios),
da percepção (alucinações), da linguagem e comunicação (discurso desorganizado)
42
e do controle comportamental (comportamento amplamente desorganizado ou
catatônico).
Sintomas negativos: incluem restrições na amplitude e intensidade da
expressão emocional (embotamento do afeto), na fluência e produtividade do
pensamento (alogia) e na iniciação de comportamentos dirigidos a um objetivo
(avolição).
Atualmente, segundo o DSM IV (Diagnostic and Statistical Manual of
Mental Disorders - Fourth Edition), existem cinco tipos:
Paranóide: é a forma que mais facilmente é identificada com a doença,
predominando os sintomas positivos. O quadro clínico é dominado por um delírio
paranóide relativamente bem organizado. Os doentes com esquizofrenia paranóide
são
desconfiados,
reservados,
podendo
ter
comportamentos
agressivos.
Desorganizado: em que os sintomas afetivos e as alterações do pensamento são
predominantes. As idéias delirantes, embora presentes, não são organizadas.
Nalguns
doentes
pode
ocorrer
uma
irritabilidade
marcada
associada
a
comportamentos agressivos. Existe um contacto muito pobre com a realidade.
Catatônico: é caracterizada pelo predomínio de sintomas motores e por
alterações da atividade, que podem ir desde um estado de cansaço e acinético até à
excitação.
Indiferenciado: apresenta habitualmente um desenvolvimento insidioso
com um isolamento social marcado e uma diminuição no desempenho laboral e
intelectual. Observa-se nestes doentes certa apatia e indiferença relativamente ao
mundo exterior.
Residual: nesta forma existe um predomínio de sintomas negativos, os
doentes apresentam um isolamento social marcado por um embotamento afetivo e
uma pobreza ao nível do conteúdo do pensamento.
Segue-se demonstrando transtornos psicóticos mais comuns por faixa
etária:
43
Tabela 2 - Transtornos Psicóticos mais comuns por faixa etária:
Adolescência
Transtornos esquizofrênicos e psicoses reativas.
(11-18 anos):
Vida Adulta
Transtornos esquizofrênicos e psicoses reativas, na
(18-30 e 31-64 primeira etapa; transtornos afetivos ou do humor, com sintomas
anos):
psicóticos, na segunda.
Velhice
(65
anos
ou
mais):
Psicoses orgânicas (síndromes cerebrais orgânicas) e
transtornos afetivos do humor (depressões).
Geralmente, há um maior risco de comportamento suicida em pessoas
com as características de personalidade descritas no quadro a seguir:
Tabela 3 - Características de Personalidade
Borderline
Narcisista
Relações
Quer reconhecimento como
pessoais muito
Anti-social
Frio, insensível, sem compaixão
especial ou único
Instáveis
Atos
Considera-se superior
Irresponsável, inconseqüente
autolesivos repetitivos
Humor
muito Fantasias de grande sucesso Não sente culpa ou remorsos
instável
pessoal
Impulsivo
e Requer admiração excessiva
Agressivo, cruel
explosivo
Sentimentos
É freqüentemente arrogante
Mente de forma recorrente
intensos
de vazio
Transtorno de
identidade
Fonte: Dalgalarrondo (2000).
_____
Aproveita-se dos outros
44
Segundo D’Oliveira et al (2006) Os Transtornos mentais tem participação
decrescente nos casos de suicídio;
Transtornos do humor (ex.: depressão);
Transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de
substâncias psicoativas (ex.: alcoolismo);
Transtornos
de
personalidade
(principalmente
borderline,
narcisista e anti-social);
Esquizofrenia;
Transtornos de ansiedade;
comorbidade potencializa riscos (ex.: alcoolismo + depressão).
Estudos têm demonstrado que indivíduos que padecem de esquizofrenia
e transtorno afetivo bipolar possuem maior risco para suicídio. Para estes casos,
existem equipes responsáveis nos órgãos de saúde que lidam constantemente com
indivíduos em situação de crise, quando o risco de suicídio se encontra agudizado.
Também por estarem em contato próximo e duradouro com os pacientes, seus
familiares e sua comunidade, estão em posição privilegiada para avaliação da “rede
de proteção social” dos pacientes em risco de suicídio e a criação de estratégias de
reforço dessa rede. (D’OLIVEIRA et al 2006).
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais – versão IV (DSM-IV) Classifica o transtorno Borderline por um padrão
invasivo de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos,
bem como acentuada impulsividade, que começa no início da vida adulta e está
presente em uma variedade de contextos, indicado por cinco (ou mais) dos
seguintes critérios:
Esforços frenéticos para evitar um abandono real ou
imaginado;
Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e
intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e
desvalorização;
Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e
resistente da auto-imagem ou do sentimento de self;
45
Impulsividade
em
pelo
menos
duas
das
áreas
potencialmente prejudiciais à própria pessoa (por ex. sexo, gastos
financeiros,
abuso
de
substâncias,
direção
imprudente,
comer
compulsivamente);
Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças
suicidas ou de comportamento automutilante;
Instabilidade afetiva devido a acentuada reatividade do
humor (por ex. episódios de intensa disforia, irritabilidade ou ansiedade,
geralmente durando algumas horas e apenas raramente alguns dias;
Sentimentos crônicos de vazio;
Raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a
raiva (por ex. demonstrações freqüentes de irritação, raiva constante, lutas
corporais recorrentes);
Ideação paranóide transitória e relacionada ao estresse
ou severos sintomas dissociativos.
Afirma-se pela Classificação Internacional de Doenças – versão 10 (CID10) afirma que o Transtorno de personalidade caracteriza-se por tendência nítida a
agir de modo imprevisível sem consideração pelas conseqüências; humor
imprevisível e caprichoso; tendência a acessos de cólera e uma incapacidade de
controlar os comportamentos impulsivos; tendência a adotar um comportamento
briguento e a entrar em conflito com os outros, particularmente quando os atos
impulsivos são contrariados ou censurados. Dois tipos podem ser distintos: o tipo
impulsivo, caracterizado principalmente por uma instabilidade emocional e falta de
controle dos impulsos; e o tipo "borderline", caracterizado, além disto, por
perturbações da auto-imagem, do estabelecimento de projetos e das preferências
pessoais, por uma sensação crônica de vacuidade, por relações interpessoais
intensas e instáveis e por uma tendência a adotar um comportamento
autodestrutivo, compreendendo tentativas de suicídio e gestos suicidas.
Personalidade (transtorno da):
Agressiva;
Borderline;
Explosiva.
46
Estudos feitos por D’Oliveira et al (2006) demonstram na sua totalidade
que as pessoas que tentam tirar sua vida padecem de algum tipo de transtorno
mental. O principal transtorno mental associado ao risco de suicídio é a
Esquizofrenia.
A prevalência da esquizofrenia situa-se ao redor de 1% da população.
Segundo Dalgalarrondo (2000) há um maior risco de comportamento
suicida em pessoas com as características de personalidade descritas no quadro a
seguir:
Relações pessoais muito instáveis;
Quer reconhecimento como especial ou único;
Frio, insensível, sem compaixão;
Atos autolesivos repetitivos;
Considera-se superior;
Irresponsável, inconseqüente;
Humor muito instável;
Fantasias de grande sucesso pessoal;
Não sente culpa ou remorsos;
Impulsivo e explosivo.
As pessoas que pensam sobre suicídio segundo aspectos analisados por
D’Oliveira et al (2006) em geral falam sobre o assunto. Entretanto, existem alguns
sinais que podemos procurar na história de vida e no comportamento das pessoas.
Esses sinais indicam que determinada pessoa tem risco para o comportamento
suicida.
Portanto, deve-se ficar mais atento com aqueles que apresentam:
Comportamento retraído, inabilidade para se relacionar com a
família e amigos, pouca rede social;
Doença psiquiátrica;
Alcoolismo;
Ansiedade ou pânico;
47
Mudança
na
personalidade,
irritabilidade,
pessimismo,
depressão ou apatia;
Mudança no hábito alimentar e de sono;
Tentativa de suicídio anterior;
Odiar-se, sentimento de culpa, de se sentir sem valor ou com
vergonha;
Uma perda recente importante – morte, divórcio, separação, etc;
História familiar de suicídio;
Desejo súbito de concluir os afazeres pessoais, organizar
documentos, escrever um testamento, etc.;
Sentimentos de solidão, impotência, desesperança;
Cartas de despedida;
Doença física crônica, limitante ou dolorosa;
Menção repetida de morte ou suicídio. (D’OLIVEIRA et al 2006).
Segundo o DSM-IV, o abuso e a dependência ao álcool são, de longe, os
transtornos mais comuns relacionados a substâncias. O abuso ao álcool reduz a
expectativa de vida em cerca de 10 anos e está à frente nos casos de mortes
relacionadas a substâncias psicoativas. As causas comuns de morte entre pessoas
com transtornos relacionados ao álcool são o suicídio, câncer, cardiopatias, doenças
hepáticas e, conforme mostram as estatísticas, cerca da metade todos os acidentes
automobilísticos com vítimas fatais envolvem motoristas embriagados. A CID - 10,
define a Síndrome de Dependência a substâncias ou álcool da seguinte forma:
Síndrome de dependência: é o conjunto de fenômenos comportamentais, cognitivos
e fisiológicos que se desenvolvem após repetido consumo de uma substância
psicoativa, tipicamente associado ao desejo poderoso de tomar a droga, à
dificuldade de controlar o consumo, à utilização persistente apesar das suas
conseqüências nefastas, a uma maior prioridade dada ao uso da droga em
detrimento de outras atividades e obrigações, a um aumento da tolerância pela
droga e por vezes, a um estado de abstinência física.
48
Encontra-se associados ao abuso / dependência e à abstinência ao
álcool, tendo seus critérios diagnosticados no DSM – IV, como transtornos
relacionados a substâncias.
Fatores genéticos: Os dados indicam fortemente a presença de
componente genético e apontam para a hereditariedade ser mais atuante no sexo
masculino do que no feminino, nos transtornos relacionados ao álcool. Indivíduos
com parentes em primeiro grau afetados com transtornos relacionados ao álcool
estão de 3 a 4 vezes mais propensos, a desenvolverem a dependência e seus
transtornos,do que os indivíduos que não tem parentes afetados.
Fatores psicossociais: Assim como os fatores culturais podem influenciar
o consumo alcoólico, o mesmo também ocorre com os hábitos dentro do ambiente
familiar. Já no ambiente escolar, os problemas relacionados ao álcool estão
correlacionados com uma história de dificuldades acadêmicas, que se apresentam
na forma de evasão escolar, com inúmeras faltas injustificadas e delinqüência na
adolescência. Esses dados demonstram a alta incidência de co-morbidade ente os
transtornos relacionados ao álcool e os transtornos da personalidade anti-social.
A síndrome de dependência é um conjunto de fenômenos fisiológicos,
comportamentais e cognitivos no qual o uso de uma substância alcança prioridade
na vida do indivíduo. Pelo menos três dos seguintes critérios devem estar presentes:
Forte desejo ou compulsão pelo consumo;
Dificuldade de controlar o consumo a partir de seu início;
Sinais e sintomas de abstinência quando o uso cessa ou
é reduzido, ou uso da substância para evitar ou aliviar sintomas de
abstinência;
Evidência de tolerância;
Abandono de atividades e interesses em favor do uso da
substância;
Persistência do uso a despeito de conseqüências nocivas.
(D’Oliveira et al 2006, p. 44).
49
Especificamente com o álcool, à medida que a dependência se instala, há
uma tendência a beber independentemente da situação ou do horário, bem como
preferência por bebidas de maior teor alcoólico. Também ocorre uma rápida
reinstalação da síndrome após período de abstinência. (D’OLIVEIRA et al 2006).
Percebe-se por Hawton & Catalán (1982 apud BOTEGA (org.), 2006) que
doenças orgânicas incapacitantes, dor crônica e lesões desfigurantes relacionam-se
com a maior taxa de suicídio. Doentes renais crônicos, por exemplo, têm um
coeficiente de suicídio 400 vezes maior do que a população geral. Os coeficientes
de suicídio em hospitais gerais também são maiores do que na população geral.
No tratamento do paciente com risco de suicídio, a diversidade de
circunstâncias de vida e dos problemas emocionais exigirá variedade de enfoques
terapêuticos. Impedir que o paciente venha a se matar, em que pesem
considerações diferentes escolas terapêuticas, éticas ou filosóficas, se tornará regra
preliminar e fundamental. De parte do profissional que assiste o paciente, há uma
linha divisória tênue entre preservar a intimidade do indivíduo, quando a ameaça não
for séria, e sua responsabilidade em salvar-lhe a vida quando da iminência do ato
suicida. (BASTOS, 1983 apud BOTEGA (org.), 2006). O plano de tratamento deve
ser flexível, e a disponibilidade e a capacitação da equipe assistencial são
importantes. O contato pessoal mais freqüente deve vir como apoio, e não de
intrusão e vigilância simplesmente.
50
5 CONCLUSÃO
Diante da magnificiência teórica apresentada ficou explícita a importância
do tema no contexto atual. Como se pode constatar é um tema presente nos
estudos da psicologia. Pode-se concluir diante esta pesquisa que o suicídio se dá
por traumas gerados ao decorrer da toda uma vida, sendo ela muitas vezes
devastadora , pois envolve não só o emocional do ser humano, como o fator físico
através do ato de suicidar-se.
Neste contexto percebe-se que o motivo pelo qual se desencadeia um
colapso, ou seja, um desequilíbrio, segundo Slaikeu (2000, apud SEMINOTTI et al,
2006) não é definido por uma situação única ou mas sim por um conjunto de
circunstâncias, pela percepção do indivíduo do acontecimento e de sua capacidade
ou incapacidade para conseguir enfrentar aquela situação. Assim, quando um
indivíduo não consegue apoiar-se na rede de contato social, seus recursos pessoais
estão falhos e a situação de crise para ele é insuportável, sendo possível que ele
veja a morte como solução para sua vida.
Nessa direção ficou evidente segundo Hamermesh e Soss (1974 apud
SHIKIDA, GAZZI & ARAÚJO, 2006) que o comportamento suicida não pode em
hipótese alguma ser atribuído apenas a fatores econômicos. Em suas pesquisas
concluem que a fração de indivíduos que cometem suicídio é formada a partir da
definição da utilidade intertemporal do valor da vida de um indivíduo e seu desgosto
pela mesma.
Deste modo, deve-se compreender como um processo interativo entre a
pessoa e seu meio, considerado como uma variação individual em resposta ao risco,
sendo que os mesmos fatores causadores de estresse podem ser experienciados de
formas diferentes por pessoas diferentes. O suicídio pode ser compreendido como
um evento que ocorre em decorrência de uma série de fatores acumulados durante
a vida do sujeito, não havendo uma única causa para que ocorra, podendo estar
relacionados desde fatores constitucionais até fatores ambientais, culturais,
biológicos e psicológicos. (PEDOVANI et al, 2006).
Conclui-se que de acordo com aspectos mais ou menos favoráveis o ser
humano vai conseguir superar seus problemas ou não. Cada indivíduo tem uma
forma especial de se adaptar a situações negativas, ou seja, compreende-se que os
51
indivíduos têm formas diferentes de agir frente ao ato suicida. Argumenta-se que
esse é um tema extremante complexo e não se esgota aqui, sendo necessárias
muitas pesquisas para melhor exploração e conhecimento das configurações do
suicídio e suas configurações emocionais.
52
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