ESPAÇO DE EXCLUSÃO/INCLUSÃO DA MINORIA SURDA NAS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA NO 2º E 3º ANO DO ENSINO MÉDIO DE UMA ESCOLA EM COARI-AM Fabíola de Andrade 1 - UEA Monica Dias de Araújo 2 - UEA Rosineide Rodrigues Monteiro 3 - UEA Grupo de Trabalho - Diversidade e Inclusão Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este trabalho apresenta alguns resultados da pesquisa de campo realizada no Curso de Licenciatura em Letras da Universidade do Estado do Amazonas. A pesquisa constitui-se de um estudo de caso, de análise qualitativa e apresenta uma reflexão sobre o processo de inclusão/exclusão que os estudantes com surdez enfrentam no espaço escolar mais precisamente nas aulas de Língua Portuguesa. O objetivo geral é analisar o espaço de exclusão/inclusão da minoria surda nas aulas de Língua Portuguesa no 2º e 3º ano do ensino médio de uma escola em Coari – Amazonas. De modo específico, objetiva-se: pesquisar a valorização da Língua de Sinais na escola; conhecer a preparação da escola e dos professores de Língua Portuguesa referente à inclusão escolar; observar o processo de ensino e de aprendizagem do estudante surdo; verificar a inclusão na visão dos professores e estudantes e descrever participação do estudante surdo nas atividades desenvolvidas na escola. Participaram da pesquisa: estudantes ouvintes e com surdez e professores de Língua Portuguesa do Ensino Médio. Entre os procedimentos destaca-se o levantamento bibliográfico de autores como: Mantoan (2003), Duk (2006), Damásio (2007), Araújo (2013), entre outros. A coleta de dados realizou-se por meio de questionário e observação in lócus. Na análise dos dados utilizou-se a sistematização, tabulação e categorias de análises. Dentre os resultados encontrados percebe-se que a escola está aos poucos avançando com o processo da inclusão, contudo, ainda precisa de profissionais qualificados na sala de aula para mediar o processo de ensino e de aprendizagem durante as aulas de Língua Portuguesa. Ou seja, profissionais preparados para atuarem com os estudantes com surdez na perspectiva inclusiva. 1 Licenciada em Letras pela Universidade do Estado do Amazonas-UEA. Acadêmica do curso de Pedagogia Email: [email protected] 2 Professora Mestra em Educação pela UEPA. Professora Efetiva de Libras e Educação Especial da Universidade do Estado do Amazonas. Pesquisadora da Rede de Educação inclusiva da Amazônia Paraense e do Grupo de pesquisa, Educação, Sociedade e Cultura no Contexto do Médio Solimões na linha de pesquisa: Educação Inclusiva e Acessibilidade do Centro de Estudos Superiores de Tefé-AM. E-mail: [email protected] 3 Professora da Universidade do Estado do Amazonas- UEA. Especialista em Didática do Ensino Superior e Mestra em ciências da Educação. E-mail:[email protected] ISSN 2176-1396 4927 Palavras-chave: Inclusão e exclusão. Estudante surdo. Língua Portuguesa. Ensino Médio. Introdução A educação inclusiva nas politicas educacionais representa um avanço para um número significativo de estudantes que não tinham o direito de aprender em um ambiente comum de aprendizagem. Contudo, sabe-se que o simples fato de inserir a pessoa com necessidade educacional especial nas escolas, não significa que ela esteja recebendo atendimento adequado a sua necessidade. Assim, esta pesquisa que tem como objetivo analisar o espaço de exclusão/inclusão da minoria surda nas aulas de língua portuguesa no 2º e 3º ano do ensino médio de uma escola em Coari-Am. Aliam-se ao objetivo geral os objetivos específicos: (1) pesquisar a valorização da Libras na escola; (2) conhecer a preparação da escola e dos professores de língua portuguesa para o processo de inclusão escolar; (3) observar as metodologias utilizadas pelo professor de língua portuguesa para mediar o processo de aprendizagem do estudante surdo; (4) verificar a inclusão na visão dos professores e estudantes e (5) descrever participação dos alunos surdos nas atividades desenvolvidas na escola. O contato direto com os estudantes com surdez durante o estágio supervisionado II, alguns fatos presenciados marcaram a trajetória acadêmica e despertou interesse de conhecer melhor o processo de escolarização dos surdos, bem como os desafios que eles enfrentam no âmbito educacional. Assim, surgiu o interesse em pesquisar a temática. O estudo ocorreu em etapas distintas, tais como: primeiramente abordagem do quadro teórico a partir da perspectiva da história de lutas e conquistas alcançadas pelos surdos; etapa de observação, momento, no qual, vivenciou diretamente com os estudantes e professores, com o intuito de observá-los para colher informações para esta pesquisa. Nesta fase houve aplicação de um questionário composto por perguntas abertas e fechadas destinadas aos discentes e aos docentes do 2º e 3º ano do Ensino Médio. Para a fundamentação e análise dos dados trabalhou-se com levantamento bibliográfico de obras como: Mantoan (2003), Duk (2006), Damásio (2007), Araújo (2013), dentre outros que fizeram parte deste estudo. Este trabalho é relevante, tanto no contexto educacional quanto no social, considerando que, no primeiro contexto permite aos professores, gestores, educandos em geral e toda a comunidade escolar a conhecer as pluralidades e particulares existentes nos 4928 indivíduos que frequentam a escola, na tentativa de mostrar que o indivíduo surdo é capaz de realizar qualquer atividade que são trabalhadas em sala de aula. Todavia, este pode ajudar a romper o preconceito que ainda hoje, são encontradas no interior de algumas escolas comuns que recebem estudantes com surdez. De modo específico as escolas situadas no interior do nosso país. Enquanto no segundo contexto, este tem como relevância sensibilizar o público em geral de que a educação tem um papel fundamental no desenvolvimento da formação deles, bem como, mostrar que o estudante surdo possui capacidade de apreender e compreender a língua majoritária, como a Língua Portuguesa. Deste modo, o propósito é demostrar que as pessoas com surdez podem e devem ser considerados como cidadãos críticos e atuantes no meio educacional e social. Assim, este trabalho estrutura-se da seguinte forma: o processo de exclusão/ inclusão na educação do estudante com surdez, o ensino na disciplina de língua portuguesa no contexto de minoria surda na escola, a língua como fator de inclusão/exclusão, preparação para a inclusão, metodologias utilizadas pelos professores no ensino de Língua Portuguesa, a inclusão na visão dos professores e estudantes e a participação dos estudantes com surdez nas aulas de Língua Portuguesa. O processo de exclusão/ inclusão na educação do estudante com surdez Estudos apontam que o processo educacional da pessoa surda surgiu durante o séc. XVI, com os primeiros educadores de surdos na Europa, nos quais trabalhavam diferentes metodologias de ensino, utilizavam-se da oralização, leitura labial, escrita e outros. Segundo Gesser (2009, p. 55), “historicamente, a língua de sinais tem sido relegada a um estatuto de mímica. Vimos que a língua de sinais recebeu, tardiamente, o reconhecimento linguístico na década de 1960”. Por muito tempo os surdos foram privados de sua língua, viviam isolados e marginalizados pela sociedade majoritária de ouvintes. Eram obrigados a dominar a língua oral, a qual não fazia parte de sua realidade. No entanto, aos poucos essa visão tradicional e preconceituosa dos ouvintes foi perdendo forças e a comunidade minoritária passou a lutar pelos seus direitos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira - Lei nº 9.394/96 (BRASIL, 1996), na qual observamos, em um de seus capítulos sobre a educação especial, o apoio e a implicação de parâmetros para a integração, do aluno com necessidade especial na escola regular. 4929 Assim, no capítulo V que trata da Educação Especial, na seção I artigo 59 dispõe que, “os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais os seguintes projetos-políticos pedagógicos: currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica para atender às suas necessidades” (BRASIL,1996). Por outro lado, também é necessário que a escola de ensino regular esteja preparada para o desafio da inclusão do educando que necessite de atenção especial. Como bem podemos observar na opinião de Barbosa (2008, p.121), “para que tais objetivos sejam alcançados, a escola precisa estabelecer relação com as necessidades da comunidade escolar, estando atenta para a exigência ética de desenvolver sua ação educativa além dos muros da escola”. Sabe-se que a escola é um espaço onde os indivíduos ocupam para aprimorar o conhecimento e desenvolver a capacidade intelectual e, é em um ambiente como este que o sujeito consegue aprender e a respeitar a diferença existente em cada um, e, desta forma, saber conviver na coletividade. Acrescenta-se ainda, o uso bilíngue neste espaço educacional comum, para que possa contribuir no processo de inclusão com o avanço deste desafio. O modelo sócio antropológico de surdez aponta que o bilinguismo é uma direção a ser seguida pela comunidade surda, e por especialistas envolvidos com a causa surdez. A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva propõe: O ingresso dos alunos surdos nas escolas comuns, a educação bilíngue – Língua Portuguesa/Libras desenvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na modalidade escrita para alunos surdos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa e o ensino da Libras para os demais alunos da escola. O atendimento educacional especializado para esses alunos é ofertado tanto na modalidade oral e escrita quanto na língua de sinais. Devido à diferença linguística, orienta-se que o aluno surdo esteja com outros surdos em turmas comuns na escola regular (BRASIL, 2008, p.11). Nesta perspectiva, acredita-se que a pessoa surda desenvolva suas habilidades e competências quando a escola proporciona aos estudantes momentos, no qual, possam ser trabalhados os assuntos em sala de aula, tanto na Língua portuguesa como na Língua de sinais. Assim, o professor pode utilizar recursos que possam facilitar a compreensão dos mesmos. Diante disso, nota-se que aos poucos a comunidade surda vem conquistando seu espaço dentro do universo programado para uma sociedade dominada pelo discurso oralista. Contudo, dentre as conquistas, hoje é concreta a participação da pessoa surda em ambiente 4930 que até então eram apenas ocupados por comunidade majoritária. Vale ressaltar que o processo de inclusão, em pleno século XXI, ainda é um grande desafio, para tal, é preciso romper com barreira e preconceito que a maioria das pessoas na sociedade ouvinte tem com relação às diferenças. Portanto, conforme Mantoan (2003), a escola que acolhe as diferenças e que busca construir coletivamente uma pedagogia que parte das diferenças dos seus alunos é uma escola impulsionadora e construtora de novas formas de organizar o ensino, de modo que atenda a necessidade de todos. Portanto, para que a política da inclusão evolua positivamente, faz-se necessária a conscientização da sociedade para lidar com as particularidades existentes em cada indivíduo. A inclusão está determinada nas leis e políticas como na política da Educação Especial na perspectiva Inclusiva publicada no ano de 2008, contudo, a problemática da exclusão manifesta-se no cotidiano das escolas, quando a escola recebe o surdo e não garante seu direito de aprender. Ou seja, não providencia recursos e apoios necessários para mediar o processo de ensino e aprendizagem que os mesmos têm direito durante todo o período das aulas. A minoria surda na disciplina de Língua Portuguesa no contexto da escola pesquisada A Escola denominada pelo nome fictício de “Santa Terezinha 4”, nesta investigação situa-se em um dos bairros mais antigos da cidade que fica localizado na zona sudoeste do município de Coari – Amazonas. Ela foi construída no ano de 1994 e inaugurada no dia 04 de setembro de 1994, com ato de criação nº 16.207 de 02.09.19945. Oferta os cursos de Ensino Fundamental e Médio, funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno. Esta escola desenvolve alguns projetos, dentre eles, o projeto: “Ser diferente é normal” que é um projeto interdisciplinar e dinâmico, visando melhorar a inclusão e adaptação dos alunos com necessidades educacionais especiais no ambiente escolar e na sociedade. Dentre os departamentos da escola há a Sala de Recursos, onde são atendidos não apenas os estudantes da referida escola, como também os que veem de outras instituições. 4 Nome fictício atribuído à escola lócus da pesquisa. Como cuidado ético na pesquisa os nomes dos participantes da pesquisa e da instituição são fictícios. Os nomes fictícios dos estudantes são seguidos da letra “E”. 5 Dados fornecidos pela secretaria da escola “Santa Terezinha”. 4931 No ano de 2014 na Sala de Recursos estão matriculados 42 (quarenta e dois) estudantes com necessidade educacional especial, dentre eles, encontram-se 17 (dezessete) estudante com surdez, matriculados nos turnos matutino e vespertino. Vale ressaltar que para que o processo de inclusão dos estudantes com surdez obtenha um resultado significativo é preciso que a escola disponha de professores qualificados para atuarem em sala de aula comum e não apenas homogeneizar os estudantes com um ensino que não consegue alcançar as necessidades individuais e coletivas. Ou seja, o docente precisa conhecer seu discente para mediar o processo de ensino e aprendizagem de acordo com a especificidade encontrada. Diante do não saber do professor sobre a Língua de Sinais a presença de um profissional intérprete minimizaria as dificuldades na comunicação. Foi possível observar com relação ao ensino de Língua Portuguesa e a prática dos dois professores que fizeram parte da pesquisa à falta de preparação para atuarem na perspectiva inclusiva, ambos não possuíam nenhuma especialização na área, e durante as aulas ministradas por eles, os estudantes surdos permaneciam sentados e não manifestavam nenhum tipo de questionamento. Todavia, percebe-se ainda que todas as aulas ministradas pelos professores de Língua Portuguesa não tinham auxílio de um profissional intérprete para mediar o contexto apresentado em sala de aula. No Decreto nº 5.626/05 (BRASIL, 2005), que regulamenta a Lei nº 10.436/2002, destaca a necessidade da “organização da educação bilíngue no ensino regular” e a presença do profissional interprete de Libras/Língua Portuguesa. Portanto, cabe à escola adequar o ensino na disciplina de língua portuguesa no contexto da minoria surda atentado para determinações legais. A língua como fator de inclusão/exclusão Para conhecer como os estudantes com surdez estão sendo incluídos no âmbito educacional, foi imprescindível saber como os professores mediam o processo de ensino aprendizagem desses educando na aula de Língua Portuguesa, por isso, na primeira pergunta do questionário direcionada aos professores de Língua Portuguesa foi: você conhece ou domina a Língua de Sinais Brasileira - LSB? Dos dois professores que responderam 01(um) respondeu que “não”, o outro respondeu que dominavam “um pouco” e, no entanto, nenhum respondeu que tinha domínio da Libras. Nota-se, então que ambos os professores de Língua Portuguesa que atuam na 4932 escola “Santa Terezinha” não possuem habilidades e competências necessárias para trabalhar com os estudantes com surdez. Contudo, para que haja um aprendizado de qualidade para os estudantes surdos é preciso que o professor e a escola estejam preparados para receberem os estudantes surdos principalmente quando se tem que trabalhar com o ensino de uma segunda língua, como no caso a Língua portuguesa. Para comunidade surda o meio de comunicação se dá através da Língua de Sinais. Diante disso, os estudantes surdos ao serem inseridos no contexto de ensino regular faz-se necessário o uso da primeira língua para mediar o processo de aquisição de uma segunda língua e quando o grupo escolar não se adequa a necessidade deste educando, de certa forma, a pessoa surda está sendo excluído pelo não uso de sua língua - Libras. Dando continuidade as indagações, foi feita a seguinte pergunta aos professores: você acredita que o estudante surdo consegue aprender a Língua Portuguesa sem o auxílio da Libras? Ambos disseram que “não”. Diante a esse resultado percebe-se que os professores são convictos de que sem o auxílio da língua de sinais os educando com surdez não compreendem o que o professor de Língua Portuguesa está ministrando na sala de aula. Para que haja um resultado significativo no processo de inclusão dos educandos surdos o professor de Língua Portuguesa precisa estar preparado para ministrar suas aulas de forma produtiva. Logo, para isso é necessário o uso da Libras para mediar o processo de aquisição dos estudantes surdo e desta forma ele possa apropriar da segunda língua, no caso a Língua Portuguesa. O estudante surdo, que anteriormente era excluso do convívio social agora é privado do direito à sua Língua nesse processo de inclusão/exclusão e, para que esse processo seja satisfatório, o educando surdo precisa ser atendido pela sua língua materna, ou seja, a Língua de Sinais Brasileira- LSB. Neste sentido os 4 (quatro) educandos surdos também foram questionados quanto à atuação do professor de Língua Portuguesa na sala de aula, 50% consideram “bom”, 50% consideram “insuficiente” o desempenho do professor de Língua Portuguesa da escola “Santa Terezinha”. No que se refere à aquisição de uma segunda língua é fundamental o uso da língua materna para que se possa aprender outra língua. No caso dos surdos a Língua de Sinais Brasileira deve ser utilizada no contexto educacional para facilitar o diálogo a compreensão destes com os demais e com aquilo que é novo para eles, a Língua Portuguesa. E, o professor 4933 como exerce esse papel de educador e que trabalha na perspectiva inclusiva necessariamente precisa acompanhar a evolução que o meio educacional disponibiliza para aprender a lidar e a respeitar as diferenças que se encontram presente no ambiente escolar. Nota-se que nenhum dos estudantes surdos afirmou que estão satisfeitos com a atuação dos professores de Língua Portuguesa na sala de aula, o que demostra que não basta apenas inserir o considerado “diferente” se os profissionais que trabalham com eles, não são capacitados para ensinar o alunado de acordo com suas realidades e ou necessidades específicas. Assim, a Língua de Sinais que deveria ser um fator de inclusão o seu não uso está legitimando a exclusão escolar. Preparação para inclusão De acordo com Mantoan (2003, p. 24), “as escolas inclusivas propõem um modo de organização do sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos e que é estruturada em função dessas necessidades”. Nesta perspectiva a escola que trabalha na perspectiva da inclusão preza por viabilizar meios que se adeque as necessidades educacionais dos alunos, desta forma, serão utilizados recursos que possam contribuir no processo de ensino e aprendizagem dos estudantes inclusos nesse contexto. Para saber se escola “Santa Terezinha” preconiza por algum desses meios foi feita a seguinte perguntas para os professores e estudantes: a escola “Santa Terezinha” está preparada para o desafio da inclusão do educando com necessidade educacional especial, nas atividades em que ela propõe? Dos 26 (vinte e seis) que responderam, dentre estudantes e professores, 54% responderam que “não”, que escola não está preparada para o desafio da inclusão, 42% (quarenta e dois) disseram que “sim”; e apenas 4% não quiseram optar. Percebe-se que mais da metade dos participantes da pesquisa, da escola “Santa Terezinha” disseram que a escola não está preparada para receber o educando com necessidades educacionais especiais, isso revela que embora a escola abra as portas para inserir, no entanto, os estudantes com essas especificidades não tem o atendimento adequado a sua necessidade. Esta escola disponibiliza de uma Sala de Recurso que presta atendimento especializado, embora isso contribua positivamente para escola, ainda há muito que se fazer. Vale ressaltar é que a escola precisa se organizar para que os desafios enfrentados pelos discentes surdos sejam amenizados. De acordo com Mantoan (2003, p. 61) a escola que: 4934 Reconhece e valoriza as diferenças têm um projeto inclusivo de educação e o ensino que ministram difere radicalmente do proposto para atender às especificidades dos educandos que não conseguem acompanhar seus colegas de turma, por problemas que vão desde a deficiência até as outras dificuldades de natureza relacional, motivacional ou cultural do aluno. Quanto à preparação dos professores de Língua Portuguesa os estudantes ouvintes, 55% responderam que “sim”; 25% responderam que “não”; e 20% disseram que não tinham como optar. Destaca-se que a maioria dos estudantes ouvintes, responderam que os professores de Língua Portuguesa estão sim preparados para ministrarem suas aulas para os educandos surdos. Mas, vale ressaltar que essa é a opinião dos estudantes que ouvem é que logo não encontram muitas barreiras para compreenderem o que o professor está trabalhando na sala de aula. Porém, foi possível perceber que durante as aulas de Língua Portuguesa, os professores apenas faziam uso da língua oral, sem considerar que a pessoa surda precisa do uso da língua materna, Libras para compreender um novo contexto, Língua portuguesa e acessar a comunicação e informação. Duk (2006, p. 24) destaca que: Ensinar constitui a atividade principal na profissão do docente e por isso deve ser compreendida como uma ‘arte’ que envolve aprendizagem contínua e envolvimento pessoal no processo de construção permanente de novos conhecimentos e experiências educacionais, as quais preparam o docente para resolver novas situações ou problemas emergentes no dia a dia da escola e da sala de aula. Ao perguntar para os 20 (vinte) estudantes ouvintes se a escola disponibilizava de algum profissional intérprete para auxiliar o educando surdo na sala de aula comum, obtevese o seguinte resultado, 63% responderam que “sim”, que escola disponibiliza de uma profissional capacitada para atender os estudantes com surdez; e 37% disseram que “às vezes”. A escola “Santa Terezinha” disponibiliza de profissional intérprete de Libras, porém, foi possível perceber durante a etapa de observação que nem sempre os estudantes eram assistidos por esse profissional durante as aulas de Língua Portuguesa. Portanto, presume-se que o aprendizado deste estudante fica comprometido pelo fato de não ter o auxílio constante das pessoas capacitadas para auxiliá-los nesse processo de compreensão da Língua portuguesa. O ensino de Língua Portuguesa Sabe-se que a prática pedagógica dos professores e a metodologia aplicada na sala de aula são de suma importância para o desenvolvimento do aprendizado dos educandos surdos, 4935 e para isso, faz-se necessário que o professor desenvolva suas atividades de forma significativa, principalmente no que se refere à educação inclusiva que requer um trabalho adequado às necessidades dos estudantes. Segundo Araújo (2013, p. 175): A prática educativa deve superar a aprendizagem individualizada e competitiva e priorizar a aprendizagem cooperativa. A escola enquanto Instituição de formação e o (a) educador (a) enquanto profissional envolvido (a) diretamente com as práticas educativas, cabe a priorização de estratégias que contribuem para minimizar ou extirpar do cenário educacional práticas e atitudes excludentes herdadas e reproduzidas por vários séculos. Durante a etapa de observação realizada na sala de aula pode-se perceber que os professores não utilizavam metodologias diversificadas e nem meios que pudessem auxiliar o educando surdo durante as aulas de Língua Portuguesa. Observou-se ainda que embora escola disponibilize de material didático que podia ser aproveitado para serem usados durante as aulas, os professores não usavam para facilitar o processo de ensino aprendizagem em suas aulas, e com isso, estudantes surdos não estão tendo um ensino de qualidade, comprometendo a aprendizagem da Língua Portuguesa. Contudo, a escola “Santa Terezinha” disponibilizava dos seguintes recursos didáticos: notebook, data show e até mesmo o laboratório de informática que poderia ser aproveitados pelos professores para mediar o processo de ensino e aprendizagem dos discentes com surdez. Conforme Duk (2006, p. 190), “existem diferentes possibilidades de apoio aos alunos (as). É importante definir a melhor considerando-se as características e necessidades das crianças, da competência do (a) professor (a), dos recursos disponíveis e da organização do ensino”. A inclusão na visão dos professores e estudantes Na visão de Mantoan (2003, p. 57): “A inclusão é uma inovação que implica um esforço de modernidade e de reestruturação das condições atuais da maioria de nossas escolas”, visto que, são grandes os desafios que a escola terá que enfrentar para prestar um atendimento de qualidade e, dentre os desafios, certamente estarão à falta de informação da maioria dos professores e estudantes com relação à necessidade educacional do estudante considerado “diferente”. Contudo os professores da escola pesquisada reconhecem a importância da inclusão para a troca de conhecimento e desenvolvimento de todos os estudantes. Para a professora “Ana”, “é de suma importância a inclusão, tanto do aluno especial quanto o aluno normal para o desenvolvimento de ambas as partes”. E o professor “Pedro” respondeu: “Concordo, 4936 porém, desde que haja profissionais preparados para desenvolver os trabalhos com esses alunos”. Ambos concordam com o processo da inclusão, contudo, percebe-se em suas respostas que eles reconhecem que não estão preparados para atender as necessidades desses estudantes que estão inseridos em suas salas. Diante disso, dos (24) vinte e quatro estudantes que responderam a mesma pergunta obteve-se o seguinte resultado 67% responderam “sim”, que estavam de acordo, 21% responderam que “não” estavam de acordo e 13% disseram que não tinham como optar. A maioria dos estudantes responderam que estão de acordo com o processo da inclusão, porém, durante a etapa de observação, foi possível constatar que nas duas turmas pesquisadas a maioria os colegas surdos eram tratados de forma indiferente, pois, isso revela que o preconceito que reinava a séculos passados, ainda marca presença em ambientes escolares, que cujo o objetivo é formar cidadãos capacitados para atuarem em uma sociedade mais digna. Percebe-se ainda que nem o básico está sendo garantido neste processo. Ou seja, os estudantes relataram diversas dificuldades como: “Uma das dificuldades que encontro é em não ter auxílio de um intérprete durante as aulas de Língua portuguesa, sinto a falta do uso das Libras, e os professores não conhecem nossa língua” (NILDO-E). “É não entender o que o professor está ensino na sala de aula” (EDU-E). “A falta de conhecimento do professor de língua portuguesa com relação a língua de sinais” (CATARINA-E). “Minhas dificuldades em língua portuguesa é de não poder falar e nem ouvir” (LUCAS-E). Portanto, nota-se por meio das falas dos estudantes surdos que as suas dificuldades variam entre a falta de intérprete e o não uso da Língua de Sinais dentro da sala de aula que dificultam a comunicação deles com os demais integrantes da escola. Todavia, percebe-se que a escola “Santa Terezinha” na visão dos professores e estudantes não está atentando para as dificuldades existentes. E, isso fica nítido nos relatos dos estudantes surdos, que realmente está sentido à falta de assistência necessária dentro desse ambiente escolar. A participação dos estudantes com surdez nas aulas de Língua Portuguesa Observou-se que a participação dos estudantes com surdez nas salas de aula do 2º e 3º ano na escola “Santa Terezinha” é quase que nula, na maioria das vezes eles ficavam isolados dos demais colegas, e às vezes em que se descontraiam eram porque estavam dialogando com outro colega surdo. Segundo Damásio (2007, p.14), 4937 a escola comum precisa implementar ações que tenham sentido para os alunos em geral e que esse sentido possa ser compartilhado com os alunos com surdez. Mais do que a utilização de uma língua, os alunos com surdez precisam de ambientes educacionais estimuladores, que desafiem o pensamento, explorem suas capacidades, em todos os sentidos. Dos dois docentes quando questionados sobre a participação dos discentes surdos na nas aulas de Língua Portuguesa, 01(um) respondeu que sim, professor “Pedro” o outra, respondeu que às vezes, professora “Ana”. Logo, percebe-se que embora um tenha respondido que sim, em nenhum momento, durante três semanas de observação em sala de aula, não foi vista a participação dos discentes surdos. Ainda nesta perspectiva Duk (2006, p. 30), destaca que: É fundamental a participação do aluno com relação à definição do conteúdo curricular a ser trabalhado, à clareza acerca do que o docente quer que seja realizado durante a atividade, por que tal atividade será realizada e a participação no trabalho colaborativo em grupo, garantindo desta forma um maior envolvimento e uma aprendizagem mais significativa para o estudante. Desse modo, foi possível perceber que de certa forma, o espaço, onde deveria contribuir com evolução de todos, por permitir trilhar novos horizontes e por estar constantemente formando seres pensantes, nesse caso em específico, ao invés de se ter uma corrente inclusiva, o que fica claro nesse contexto é a mera exclusão dos educandos surdos que estão inseridos dentro do universo “educacional”. Considerações finais Este estudo teve como objetivo analisar o espaço de exclusão/inclusão da minoria surda nas aulas de Língua Portuguesa no 2º e 3º ano do Ensino Médio de uma escola em Coari-Am. Durante o desenvolvimento deste trabalho foi possível constatar que o espaço escolar de modo específico na sala de aula na disciplina de Língua Portuguesa não estimula a inclusão e vem evidenciando a exclusão dos estudantes com surdez sem as garantias mínimas como o acesso a comunicação e informação. Nesta perspectiva, sabe-se que o processo de inclusão da pessoa com necessidades educacionais especiais não é uma tarefa fácil, mesmo porque ela move com toda uma estrutura que há muito tempo já foi organizada. Ou seja, o sistema educacional, uma vez que este foi construído e direcionado para sociedade de ouvintes. Um sistema que não foi estruturado para atender todos. Ou seja, os surdos estão acessando a escola, contudo, continuam excluídos dentro das salas de aula. 4938 Com relação à valorização da Libras na escola, notou-se que não há a valorização devida nem a garantia das determinações legais. Quanto à preparação da escola e dos professores de Língua Portuguesa referente à inclusão escolar, Embora a escola tenha uma Sala de Recurso, ainda não se encontra preparada para a inclusão. Da mesma forma os professores também não possuem formação para atuar no contexto da educação inclusiva. Sobre o processo de ensino e de aprendizagem do estudante surdo, observou-se que não há a priorização das metodologias diversificadas, embora a escola disponibilize alguns recursos estes não são utilizados para a contextualização das aulas. Quanto à inclusão na visão dos professores e estudantes, os mesmos relataram que concordam, no entanto, reconhecem que para haja inclusão faz-se necessário a nomeação de profissionais qualificados para atuarem na escola. Sobre a participação do estudante surdo nas atividades desenvolvidas na escola destaca-se que são inexistentes, eles estão na escola, contudo, não são contemplados como seres participantes. Ou seja, são os invisíveis na escola “Santa Terezinha”. Desse modo, constatou-se ainda que a pessoa com surdez ao frequentar a escola se deparam com diversas barreiras que bloqueiam o processo de ensino e de aprendizagem dos mesmos. Diante disso, são diversos os motivos pelo qual os educandos surdos enfrentam diariamente dentro da escola que contribuem para o desinteresse da disciplina de Língua Portuguesa e com isso até levá-los a evadirem desse ambiente de ensino. Desta forma, é de suma importância discutir tais temáticas dentro do âmbito educacional para contribuir e sensibilizar o público estudantil a aprender a respeitar as diferenças presentes na sociedade. A conclusão de um estudo, ou a etapa final da educação como o Ensino Médio não deve representar o mero recebimento de um certificado, e sim, o reconhecimento da evolução e o desenvolvimento do ser para saber lidar com os desafios do dia a dia. É poder fazer a diferença e não viver no anonimato. Por tanto, ao partirmos do princípio que cada ser tem a sua singularidade, com certeza aprenderemos a respeitar ao próximo na sua diversidade, seja ela, física, sensorial ou social. E isso pressupõe que para tal conscientização é preciso conhecer o próprio “eu” para apagar os pensamentos errôneos e ações discriminatórias, rompendo barreiras que bloqueiam a acessibilidade dos que têm limitações. E assim, evoluirmos como cidadãos produtivos e não destrutivos da nossa própria sociedade. 4939 REFERÊNCIAS ARAÚJO, Monica Dias de. Tessituras da inclusão na educação de jovens e adultos no município de Altamira-Pará. 2013. 212 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado do Pará, Belém, 2013. BARBOSA, Walmir de Albuquerque. Políticas públicas e educação. Manaus: Valer, 2008. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996. ______. Decreto n. 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 22 dez. 2005. ______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. 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