espaço de exclusão/inclusão da minoria surda nas aulas de língua

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ESPAÇO DE EXCLUSÃO/INCLUSÃO DA MINORIA SURDA NAS
AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA NO 2º E 3º ANO DO ENSINO
MÉDIO DE UMA ESCOLA EM COARI-AM
Fabíola de Andrade 1 - UEA
Monica Dias de Araújo 2 - UEA
Rosineide Rodrigues Monteiro 3 - UEA
Grupo de Trabalho - Diversidade e Inclusão
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Este trabalho apresenta alguns resultados da pesquisa de campo realizada no Curso de
Licenciatura em Letras da Universidade do Estado do Amazonas. A pesquisa constitui-se de
um estudo de caso, de análise qualitativa e apresenta uma reflexão sobre o processo de
inclusão/exclusão que os estudantes com surdez enfrentam no espaço escolar mais
precisamente nas aulas de Língua Portuguesa. O objetivo geral é analisar o espaço de
exclusão/inclusão da minoria surda nas aulas de Língua Portuguesa no 2º e 3º ano do ensino
médio de uma escola em Coari – Amazonas. De modo específico, objetiva-se: pesquisar a
valorização da Língua de Sinais na escola; conhecer a preparação da escola e dos professores
de Língua Portuguesa referente à inclusão escolar; observar o processo de ensino e de
aprendizagem do estudante surdo; verificar a inclusão na visão dos professores e estudantes e
descrever participação do estudante surdo nas atividades desenvolvidas na escola.
Participaram da pesquisa: estudantes ouvintes e com surdez e professores de Língua
Portuguesa do Ensino Médio. Entre os procedimentos destaca-se o levantamento bibliográfico
de autores como: Mantoan (2003), Duk (2006), Damásio (2007), Araújo (2013), entre outros.
A coleta de dados realizou-se por meio de questionário e observação in lócus. Na análise dos
dados utilizou-se a sistematização, tabulação e categorias de análises. Dentre os resultados
encontrados percebe-se que a escola está aos poucos avançando com o processo da inclusão,
contudo, ainda precisa de profissionais qualificados na sala de aula para mediar o processo de
ensino e de aprendizagem durante as aulas de Língua Portuguesa. Ou seja, profissionais
preparados para atuarem com os estudantes com surdez na perspectiva inclusiva.
1
Licenciada em Letras pela Universidade do Estado do Amazonas-UEA. Acadêmica do curso de Pedagogia Email: [email protected]
2
Professora Mestra em Educação pela UEPA. Professora Efetiva de Libras e Educação Especial da Universidade
do Estado do Amazonas. Pesquisadora da Rede de Educação inclusiva da Amazônia Paraense e do Grupo de
pesquisa, Educação, Sociedade e Cultura no Contexto do Médio Solimões na linha de pesquisa: Educação
Inclusiva e Acessibilidade do Centro de Estudos Superiores de Tefé-AM. E-mail: [email protected]
3
Professora da Universidade do Estado do Amazonas- UEA. Especialista em Didática do Ensino Superior e
Mestra em ciências da Educação. E-mail:[email protected]
ISSN 2176-1396
4927
Palavras-chave: Inclusão e exclusão. Estudante surdo. Língua Portuguesa. Ensino Médio.
Introdução
A educação inclusiva nas politicas educacionais representa um avanço para um
número significativo de estudantes que não tinham o direito de aprender em um ambiente
comum de aprendizagem. Contudo, sabe-se que o simples fato de inserir a pessoa com
necessidade educacional especial nas escolas, não significa que ela esteja recebendo
atendimento adequado a sua necessidade.
Assim, esta pesquisa que tem como objetivo analisar o espaço de exclusão/inclusão da
minoria surda nas aulas de língua portuguesa no 2º e 3º ano do ensino médio de uma escola
em Coari-Am.
Aliam-se ao objetivo geral os objetivos específicos: (1) pesquisar a valorização da
Libras na escola; (2) conhecer a preparação da escola e dos professores de língua portuguesa
para o processo de inclusão escolar; (3) observar as metodologias utilizadas pelo professor de
língua portuguesa para mediar o processo de aprendizagem do estudante surdo; (4) verificar a
inclusão na visão dos professores e estudantes e (5) descrever participação dos alunos surdos
nas atividades desenvolvidas na escola.
O contato direto com os estudantes com surdez durante o estágio supervisionado II,
alguns fatos presenciados marcaram a trajetória acadêmica e despertou interesse de conhecer
melhor o processo de escolarização dos surdos, bem como os desafios que eles enfrentam no
âmbito educacional. Assim, surgiu o interesse em pesquisar a temática.
O estudo ocorreu em etapas distintas, tais como: primeiramente abordagem do quadro
teórico a partir da perspectiva da história de lutas e conquistas alcançadas pelos surdos; etapa
de observação, momento, no qual, vivenciou diretamente com os estudantes e professores,
com o intuito de observá-los para colher informações para esta pesquisa. Nesta fase houve
aplicação de um questionário composto por perguntas abertas e fechadas destinadas aos
discentes e aos docentes do 2º e 3º ano do Ensino Médio.
Para a fundamentação e análise dos dados trabalhou-se com levantamento
bibliográfico de obras como: Mantoan (2003), Duk (2006), Damásio (2007), Araújo (2013),
dentre outros que fizeram parte deste estudo.
Este trabalho é relevante, tanto no contexto educacional quanto no social,
considerando que, no primeiro contexto permite aos professores, gestores, educandos em
geral e toda a comunidade escolar a conhecer as pluralidades e particulares existentes nos
4928
indivíduos que frequentam a escola, na tentativa de mostrar que o indivíduo surdo é capaz de
realizar qualquer atividade que são trabalhadas em sala de aula. Todavia, este pode ajudar a
romper o preconceito que ainda hoje, são encontradas no interior de algumas escolas comuns
que recebem estudantes com surdez. De modo específico as escolas situadas no interior do
nosso país.
Enquanto no segundo contexto, este tem como relevância sensibilizar o público em
geral de que a educação tem um papel fundamental no desenvolvimento da formação deles,
bem como, mostrar que o estudante surdo possui capacidade de apreender e compreender a
língua majoritária, como a Língua Portuguesa. Deste modo, o propósito é demostrar que as
pessoas com surdez podem e devem ser considerados como cidadãos críticos e atuantes no
meio educacional e social.
Assim, este trabalho estrutura-se da seguinte forma: o processo de exclusão/ inclusão
na educação do estudante com surdez, o ensino na disciplina de língua portuguesa no contexto
de minoria surda na escola, a língua como fator de inclusão/exclusão, preparação para a
inclusão, metodologias utilizadas pelos professores no ensino de Língua Portuguesa, a
inclusão na visão dos professores e estudantes e a participação dos estudantes com surdez nas
aulas de Língua Portuguesa.
O processo de exclusão/ inclusão na educação do estudante com surdez
Estudos apontam que o processo educacional da pessoa surda surgiu durante o séc.
XVI, com os primeiros educadores de surdos na Europa, nos quais trabalhavam diferentes
metodologias de ensino, utilizavam-se da oralização, leitura labial, escrita e outros. Segundo
Gesser (2009, p. 55), “historicamente, a língua de sinais tem sido relegada a um estatuto de
mímica. Vimos que a língua de sinais recebeu, tardiamente, o reconhecimento linguístico na
década de 1960”. Por muito tempo os surdos foram privados de sua língua, viviam isolados e
marginalizados pela sociedade majoritária de ouvintes. Eram obrigados a dominar a língua
oral, a qual não fazia parte de sua realidade.
No entanto, aos poucos essa visão tradicional e preconceituosa dos ouvintes foi
perdendo forças e a comunidade minoritária passou a lutar pelos seus direitos. A Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Brasileira - Lei nº 9.394/96 (BRASIL, 1996), na qual
observamos, em um de seus capítulos sobre a educação especial, o apoio e a implicação de
parâmetros para a integração, do aluno com necessidade especial na escola regular.
4929
Assim, no capítulo V que trata da Educação Especial, na seção I artigo 59 dispõe que,
“os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais os seguintes
projetos-políticos pedagógicos: currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
organização específica para atender às suas necessidades” (BRASIL,1996).
Por outro lado, também é necessário que a escola de ensino regular esteja preparada
para o desafio da inclusão do educando que necessite de atenção especial. Como bem
podemos observar na opinião de Barbosa (2008, p.121), “para que tais objetivos sejam
alcançados, a escola precisa estabelecer relação com as necessidades da comunidade escolar,
estando atenta para a exigência ética de desenvolver sua ação educativa além dos muros da
escola”.
Sabe-se que a escola é um espaço onde os indivíduos ocupam para aprimorar o
conhecimento e desenvolver a capacidade intelectual e, é em um ambiente como este que o
sujeito consegue aprender e a respeitar a diferença existente em cada um, e, desta forma, saber
conviver na coletividade. Acrescenta-se ainda, o uso bilíngue neste espaço educacional
comum, para que possa contribuir no processo de inclusão com o avanço deste desafio. O
modelo sócio antropológico de surdez aponta que o bilinguismo é uma direção a ser seguida
pela comunidade surda, e por especialistas envolvidos com a causa surdez.
A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
propõe:
O ingresso dos alunos surdos nas escolas comuns, a educação bilíngue – Língua
Portuguesa/Libras desenvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua de
sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na modalidade escrita
para alunos surdos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa
e o ensino da Libras para os demais alunos da escola. O atendimento educacional
especializado para esses alunos é ofertado tanto na modalidade oral e escrita quanto
na língua de sinais. Devido à diferença linguística, orienta-se que o aluno surdo
esteja com outros surdos em turmas comuns na escola regular (BRASIL, 2008,
p.11).
Nesta perspectiva, acredita-se que a pessoa surda desenvolva suas habilidades e
competências quando a escola proporciona aos estudantes momentos, no qual, possam ser
trabalhados os assuntos em sala de aula, tanto na Língua portuguesa como na Língua de
sinais. Assim, o professor pode utilizar recursos que possam facilitar a compreensão dos
mesmos.
Diante disso, nota-se que aos poucos a comunidade surda vem conquistando seu
espaço dentro do universo programado para uma sociedade dominada pelo discurso oralista.
Contudo, dentre as conquistas, hoje é concreta a participação da pessoa surda em ambiente
4930
que até então eram apenas ocupados por comunidade majoritária. Vale ressaltar que o
processo de inclusão, em pleno século XXI, ainda é um grande desafio, para tal, é preciso
romper com barreira e preconceito que a maioria das pessoas na sociedade ouvinte tem com
relação às diferenças.
Portanto, conforme Mantoan (2003), a escola que acolhe as diferenças e que busca
construir coletivamente uma pedagogia que parte das diferenças dos seus alunos é uma escola
impulsionadora e construtora de novas formas de organizar o ensino, de modo que atenda a
necessidade de todos. Portanto, para que a política da inclusão evolua positivamente, faz-se
necessária a conscientização da sociedade para lidar com as particularidades existentes em
cada indivíduo.
A inclusão está determinada nas leis e políticas como na política da Educação
Especial na perspectiva Inclusiva publicada no ano de 2008, contudo, a problemática da
exclusão manifesta-se no cotidiano das escolas, quando a escola recebe o surdo e não garante
seu direito de aprender. Ou seja, não providencia recursos e apoios necessários para mediar o
processo de ensino e aprendizagem que os mesmos têm direito durante todo o período das
aulas.
A minoria surda na disciplina de Língua Portuguesa no contexto da escola pesquisada
A Escola denominada pelo nome fictício de “Santa Terezinha 4”, nesta investigação
situa-se em um dos bairros mais antigos da cidade que fica localizado na zona sudoeste do
município de Coari – Amazonas. Ela foi construída no ano de 1994 e inaugurada no dia 04 de
setembro de 1994, com ato de criação nº 16.207 de 02.09.19945. Oferta os cursos de Ensino
Fundamental e Médio, funciona nos turnos matutino, vespertino e noturno.
Esta escola desenvolve alguns projetos, dentre eles, o projeto: “Ser diferente é
normal” que é um projeto interdisciplinar e dinâmico, visando melhorar a inclusão e
adaptação dos alunos com necessidades educacionais especiais no ambiente escolar e na
sociedade. Dentre os departamentos da escola há a Sala de Recursos, onde são atendidos não
apenas os estudantes da referida escola, como também os que veem de outras instituições.
4
Nome fictício atribuído à escola lócus da pesquisa. Como cuidado ético na pesquisa os nomes dos participantes
da pesquisa e da instituição são fictícios. Os nomes fictícios dos estudantes são seguidos da letra “E”.
5
Dados fornecidos pela secretaria da escola “Santa Terezinha”.
4931
No ano de 2014 na Sala de Recursos estão matriculados 42 (quarenta e dois)
estudantes com necessidade educacional especial, dentre eles, encontram-se 17 (dezessete)
estudante com surdez, matriculados nos turnos matutino e vespertino.
Vale ressaltar que para que o processo de inclusão dos estudantes com surdez obtenha
um resultado significativo é preciso que a escola disponha de professores qualificados para
atuarem em sala de aula comum e não apenas homogeneizar os estudantes com um ensino que
não consegue alcançar as necessidades individuais e coletivas. Ou seja, o docente precisa
conhecer seu discente para mediar o processo de ensino e aprendizagem de acordo com a
especificidade encontrada.
Diante do não saber do professor sobre a Língua de Sinais a presença de um
profissional intérprete minimizaria as dificuldades na comunicação.
Foi possível observar com relação ao ensino de Língua Portuguesa e a prática dos dois
professores que fizeram parte da pesquisa à falta de preparação para atuarem na perspectiva
inclusiva, ambos não possuíam nenhuma especialização na área, e durante as aulas
ministradas por eles, os estudantes surdos permaneciam sentados e não manifestavam nenhum
tipo de questionamento. Todavia, percebe-se ainda que todas as aulas ministradas pelos
professores de Língua Portuguesa não tinham auxílio de um profissional intérprete para
mediar o contexto apresentado em sala de aula.
No Decreto nº 5.626/05 (BRASIL, 2005), que regulamenta a Lei nº 10.436/2002,
destaca a necessidade da “organização da educação bilíngue no ensino regular” e a presença
do profissional interprete de Libras/Língua Portuguesa. Portanto, cabe à escola adequar o
ensino na disciplina de língua portuguesa no contexto da minoria surda atentado para
determinações legais.
A língua como fator de inclusão/exclusão
Para conhecer como os estudantes com surdez estão sendo incluídos no âmbito
educacional, foi imprescindível saber como os professores mediam o processo de ensino
aprendizagem desses educando na aula de Língua Portuguesa, por isso, na primeira pergunta
do questionário direcionada aos professores de Língua Portuguesa foi: você conhece ou
domina a Língua de Sinais Brasileira - LSB?
Dos dois professores que responderam 01(um) respondeu que “não”, o outro
respondeu que dominavam “um pouco” e, no entanto, nenhum respondeu que tinha domínio
da Libras. Nota-se, então que ambos os professores de Língua Portuguesa que atuam na
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escola “Santa Terezinha” não possuem habilidades e competências necessárias para trabalhar
com os estudantes com surdez.
Contudo, para que haja um aprendizado de qualidade para os estudantes surdos é
preciso que o professor e a escola estejam preparados para receberem os estudantes surdos
principalmente quando se tem que trabalhar com o ensino de uma segunda língua, como no
caso a Língua portuguesa.
Para comunidade surda o meio de comunicação se dá através da Língua de Sinais.
Diante disso, os estudantes surdos ao serem inseridos no contexto de ensino regular faz-se
necessário o uso da primeira língua para mediar o processo de aquisição de uma segunda
língua e quando o grupo escolar não se adequa a necessidade deste educando, de certa forma,
a pessoa surda está sendo excluído pelo não uso de sua língua - Libras.
Dando continuidade as indagações, foi feita a seguinte pergunta aos professores: você
acredita que o estudante surdo consegue aprender a Língua Portuguesa sem o auxílio da
Libras? Ambos disseram que “não”. Diante a esse resultado percebe-se que os professores
são convictos de que sem o auxílio da língua de sinais os educando com surdez não
compreendem o que o professor de Língua Portuguesa está ministrando na sala de aula.
Para que haja um resultado significativo no processo de inclusão dos educandos surdos
o professor de Língua Portuguesa precisa estar preparado para ministrar suas aulas de forma
produtiva. Logo, para isso é necessário o uso da Libras para mediar o processo de aquisição
dos estudantes surdo e desta forma ele possa apropriar da segunda língua, no caso a Língua
Portuguesa.
O estudante surdo, que anteriormente era excluso do convívio social agora é privado
do direito à sua Língua nesse processo de inclusão/exclusão e, para que esse processo seja
satisfatório, o educando surdo precisa ser atendido pela sua língua materna, ou seja, a Língua
de Sinais Brasileira- LSB.
Neste sentido os 4 (quatro) educandos surdos também foram questionados quanto à
atuação do professor de Língua Portuguesa na sala de aula, 50% consideram “bom”, 50%
consideram “insuficiente” o desempenho do professor de Língua Portuguesa da escola “Santa
Terezinha”.
No que se refere à aquisição de uma segunda língua é fundamental o uso da língua
materna para que se possa aprender outra língua. No caso dos surdos a Língua de Sinais
Brasileira deve ser utilizada no contexto educacional para facilitar o diálogo a compreensão
destes com os demais e com aquilo que é novo para eles, a Língua Portuguesa. E, o professor
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como exerce esse papel de educador e que trabalha na perspectiva inclusiva necessariamente
precisa acompanhar a evolução que o meio educacional disponibiliza para aprender a lidar e a
respeitar as diferenças que se encontram presente no ambiente escolar.
Nota-se que nenhum dos estudantes surdos afirmou que estão satisfeitos com a
atuação dos professores de Língua Portuguesa na sala de aula, o que demostra que não basta
apenas inserir o considerado “diferente” se os profissionais que trabalham com eles, não são
capacitados para ensinar o alunado de acordo com suas realidades e ou necessidades
específicas. Assim, a Língua de Sinais que deveria ser um fator de inclusão o seu não uso está
legitimando a exclusão escolar.
Preparação para inclusão
De acordo com Mantoan (2003, p. 24), “as escolas inclusivas propõem um modo de
organização do sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos e que é
estruturada em função dessas necessidades”. Nesta perspectiva a escola que trabalha na
perspectiva da inclusão preza por viabilizar meios que se adeque as necessidades educacionais
dos alunos, desta forma, serão utilizados recursos que possam contribuir no processo de
ensino e aprendizagem dos estudantes inclusos nesse contexto.
Para saber se escola “Santa Terezinha” preconiza por algum desses meios foi feita a
seguinte perguntas para os professores e estudantes: a escola “Santa Terezinha” está
preparada para o desafio da inclusão do educando com necessidade educacional especial, nas
atividades em que ela propõe?
Dos 26 (vinte e seis) que responderam, dentre estudantes e professores, 54%
responderam que “não”, que escola não está preparada para o desafio da inclusão, 42%
(quarenta e dois) disseram que “sim”; e apenas 4% não quiseram optar.
Percebe-se que mais da metade dos participantes da pesquisa, da escola “Santa
Terezinha” disseram que a escola não está preparada para receber o educando com
necessidades educacionais especiais, isso revela que embora a escola abra as portas para
inserir, no entanto, os estudantes com essas especificidades não tem o atendimento adequado
a sua necessidade.
Esta escola disponibiliza de uma Sala de Recurso que presta atendimento
especializado, embora isso contribua positivamente para escola, ainda há muito que se fazer.
Vale ressaltar é que a escola precisa se organizar para que os desafios enfrentados pelos
discentes surdos sejam amenizados. De acordo com Mantoan (2003, p. 61) a escola que:
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Reconhece e valoriza as diferenças têm um projeto inclusivo de educação e o ensino
que ministram difere radicalmente do proposto para atender às especificidades dos
educandos que não conseguem acompanhar seus colegas de turma, por problemas
que vão desde a deficiência até as outras dificuldades de natureza relacional,
motivacional ou cultural do aluno.
Quanto à preparação dos professores de Língua Portuguesa os estudantes ouvintes,
55% responderam que “sim”; 25% responderam que “não”; e 20% disseram que não tinham
como optar.
Destaca-se que a maioria dos estudantes ouvintes, responderam que os professores de
Língua Portuguesa estão sim preparados para ministrarem suas aulas para os educandos
surdos. Mas, vale ressaltar que essa é a opinião dos estudantes que ouvem é que logo não
encontram muitas barreiras para compreenderem o que o professor está trabalhando na sala de
aula. Porém, foi possível perceber que durante as aulas de Língua Portuguesa, os professores
apenas faziam uso da língua oral, sem considerar que a pessoa surda precisa do uso da língua
materna, Libras para compreender um novo contexto, Língua portuguesa e acessar a
comunicação e informação. Duk (2006, p. 24) destaca que:
Ensinar constitui a atividade principal na profissão do docente e por isso deve ser
compreendida como uma ‘arte’ que envolve aprendizagem contínua e envolvimento
pessoal no processo de construção permanente de novos conhecimentos e
experiências educacionais, as quais preparam o docente para resolver novas
situações ou problemas emergentes no dia a dia da escola e da sala de aula.
Ao perguntar para os 20 (vinte) estudantes ouvintes se a escola disponibilizava de
algum profissional intérprete para auxiliar o educando surdo na sala de aula comum, obtevese o seguinte resultado, 63% responderam que “sim”, que escola disponibiliza de uma
profissional capacitada para atender os estudantes com surdez; e 37% disseram que “às
vezes”. A escola “Santa Terezinha” disponibiliza de profissional intérprete de Libras, porém,
foi possível perceber durante a etapa de observação que nem sempre os estudantes eram
assistidos por esse profissional durante as aulas de Língua Portuguesa.
Portanto, presume-se que o aprendizado deste estudante fica comprometido pelo fato
de não ter o auxílio constante das pessoas capacitadas para auxiliá-los nesse processo de
compreensão da Língua portuguesa.
O ensino de Língua Portuguesa
Sabe-se que a prática pedagógica dos professores e a metodologia aplicada na sala de
aula são de suma importância para o desenvolvimento do aprendizado dos educandos surdos,
4935
e para isso, faz-se necessário que o professor desenvolva suas atividades de forma
significativa, principalmente no que se refere à educação inclusiva que requer um trabalho
adequado às necessidades dos estudantes. Segundo Araújo (2013, p. 175):
A prática educativa deve superar a aprendizagem individualizada e competitiva e
priorizar a aprendizagem cooperativa. A escola enquanto Instituição de formação e o
(a) educador (a) enquanto profissional envolvido (a) diretamente com as práticas
educativas, cabe a priorização de estratégias que contribuem para minimizar ou
extirpar do cenário educacional práticas e atitudes excludentes herdadas e
reproduzidas por vários séculos.
Durante a etapa de observação realizada na sala de aula pode-se perceber que os
professores não utilizavam metodologias diversificadas e nem meios que pudessem auxiliar o
educando surdo durante as aulas de Língua Portuguesa. Observou-se ainda que embora escola
disponibilize de material didático que podia ser aproveitado para serem usados durante as
aulas, os professores não usavam para facilitar o processo de ensino aprendizagem em suas
aulas, e com isso, estudantes surdos não estão tendo um ensino de qualidade, comprometendo
a aprendizagem da Língua Portuguesa.
Contudo, a escola “Santa Terezinha” disponibilizava dos seguintes recursos didáticos:
notebook, data show e até mesmo o laboratório de informática que poderia ser aproveitados
pelos professores para mediar o processo de ensino e aprendizagem dos discentes com surdez.
Conforme Duk (2006, p. 190), “existem diferentes possibilidades de apoio aos alunos (as). É
importante definir a melhor considerando-se as características e necessidades das crianças, da
competência do (a) professor (a), dos recursos disponíveis e da organização do ensino”.
A inclusão na visão dos professores e estudantes
Na visão de Mantoan (2003, p. 57): “A inclusão é uma inovação que implica um
esforço de modernidade e de reestruturação das condições atuais da maioria de nossas
escolas”, visto que, são grandes os desafios que a escola terá que enfrentar para prestar um
atendimento de qualidade e, dentre os desafios, certamente estarão à falta de informação da
maioria dos professores e estudantes com relação à necessidade educacional do estudante
considerado “diferente”.
Contudo os professores da escola pesquisada reconhecem a importância da inclusão
para a troca de conhecimento e desenvolvimento de todos os estudantes. Para a professora
“Ana”, “é de suma importância a inclusão, tanto do aluno especial quanto o aluno normal
para o desenvolvimento de ambas as partes”. E o professor “Pedro” respondeu: “Concordo,
4936
porém, desde que haja profissionais preparados para desenvolver os trabalhos com esses
alunos”.
Ambos concordam com o processo da inclusão, contudo, percebe-se em suas respostas
que eles reconhecem que não estão preparados para atender as necessidades desses estudantes
que estão inseridos em suas salas.
Diante disso, dos (24) vinte e quatro estudantes que responderam a mesma pergunta
obteve-se o seguinte resultado 67% responderam “sim”, que estavam de acordo, 21%
responderam que “não” estavam de acordo e 13% disseram que não tinham como optar.
A maioria dos estudantes responderam que estão de acordo com o processo da
inclusão, porém, durante a etapa de observação, foi possível constatar que nas duas turmas
pesquisadas a maioria os colegas surdos eram tratados de forma indiferente, pois, isso revela
que o preconceito que reinava a séculos passados, ainda marca presença em ambientes
escolares, que cujo o objetivo é formar cidadãos capacitados para atuarem em uma sociedade
mais digna.
Percebe-se ainda que nem o básico está sendo garantido neste processo. Ou seja, os
estudantes relataram diversas dificuldades como: “Uma das dificuldades que encontro é em
não ter auxílio de um intérprete durante as aulas de Língua portuguesa, sinto a falta do uso
das Libras, e os professores não conhecem nossa língua” (NILDO-E). “É não entender o que
o professor está ensino na sala de aula” (EDU-E). “A falta de conhecimento do professor de
língua portuguesa com relação a língua de sinais” (CATARINA-E). “Minhas dificuldades
em língua portuguesa é de não poder falar e nem ouvir” (LUCAS-E).
Portanto, nota-se por meio das falas dos estudantes surdos que as suas dificuldades
variam entre a falta de intérprete e o não uso da Língua de Sinais dentro da sala de aula que
dificultam a comunicação deles com os demais integrantes da escola. Todavia, percebe-se que
a escola “Santa Terezinha” na visão dos professores e estudantes não está atentando para as
dificuldades existentes. E, isso fica nítido nos relatos dos estudantes surdos, que realmente
está sentido à falta de assistência necessária dentro desse ambiente escolar.
A participação dos estudantes com surdez nas aulas de Língua Portuguesa
Observou-se que a participação dos estudantes com surdez nas salas de aula do 2º e 3º
ano na escola “Santa Terezinha” é quase que nula, na maioria das vezes eles ficavam isolados
dos demais colegas, e às vezes em que se descontraiam eram porque estavam dialogando com
outro colega surdo. Segundo Damásio (2007, p.14),
4937
a escola comum precisa implementar ações que tenham sentido para os alunos em
geral e que esse sentido possa ser compartilhado com os alunos com surdez. Mais do
que a utilização de uma língua, os alunos com surdez precisam de ambientes
educacionais estimuladores, que desafiem o pensamento, explorem suas
capacidades, em todos os sentidos.
Dos dois docentes quando questionados sobre a participação dos discentes surdos na
nas aulas de Língua Portuguesa, 01(um) respondeu que sim, professor “Pedro” o outra,
respondeu que às vezes, professora “Ana”. Logo, percebe-se que embora um tenha respondido
que sim, em nenhum momento, durante três semanas de observação em sala de aula, não foi
vista a participação dos discentes surdos. Ainda nesta perspectiva Duk (2006, p. 30), destaca
que:
É fundamental a participação do aluno com relação à definição do conteúdo
curricular a ser trabalhado, à clareza acerca do que o docente quer que seja realizado
durante a atividade, por que tal atividade será realizada e a participação no trabalho
colaborativo em grupo, garantindo desta forma um maior envolvimento e uma
aprendizagem mais significativa para o estudante.
Desse modo, foi possível perceber que de certa forma, o espaço, onde deveria
contribuir com evolução de todos, por permitir trilhar novos horizontes e por estar
constantemente formando seres pensantes, nesse caso em específico, ao invés de se ter uma
corrente inclusiva, o que fica claro nesse contexto é a mera exclusão dos educandos surdos
que estão inseridos dentro do universo “educacional”.
Considerações finais
Este estudo teve como objetivo analisar o espaço de exclusão/inclusão da minoria
surda nas aulas de Língua Portuguesa no 2º e 3º ano do Ensino Médio de uma escola em
Coari-Am. Durante o desenvolvimento deste trabalho foi possível constatar que o espaço
escolar de modo específico na sala de aula na disciplina de Língua Portuguesa não estimula a
inclusão e vem evidenciando a exclusão dos estudantes com surdez sem as garantias mínimas
como o acesso a comunicação e informação.
Nesta perspectiva, sabe-se que o processo de inclusão da pessoa com necessidades
educacionais especiais não é uma tarefa fácil, mesmo porque ela move com toda uma
estrutura que há muito tempo já foi organizada. Ou seja, o sistema educacional, uma vez que
este foi construído e direcionado para sociedade de ouvintes. Um sistema que não foi
estruturado para atender todos. Ou seja, os surdos estão acessando a escola, contudo,
continuam excluídos dentro das salas de aula.
4938
Com relação à valorização da Libras na escola, notou-se que não há a valorização
devida nem a garantia das determinações legais. Quanto à preparação da escola e dos
professores de Língua Portuguesa referente à inclusão escolar, Embora a escola tenha uma
Sala de Recurso, ainda não se encontra preparada para a inclusão. Da mesma forma os
professores também não possuem formação para atuar no contexto da educação inclusiva.
Sobre o processo de ensino e de aprendizagem do estudante surdo, observou-se que
não há a priorização das metodologias diversificadas, embora a escola disponibilize alguns
recursos estes não são utilizados para a contextualização das aulas.
Quanto à inclusão na visão dos professores e estudantes, os mesmos relataram que
concordam, no entanto, reconhecem que para haja inclusão faz-se necessário a nomeação de
profissionais qualificados para atuarem na escola.
Sobre a participação do estudante surdo nas atividades desenvolvidas na escola
destaca-se que são inexistentes, eles estão na escola, contudo, não são contemplados como
seres participantes. Ou seja, são os invisíveis na escola “Santa Terezinha”.
Desse modo, constatou-se ainda que a pessoa com surdez ao frequentar a escola se
deparam com diversas barreiras que bloqueiam o processo de ensino e de aprendizagem dos
mesmos. Diante disso, são diversos os motivos pelo qual os educandos surdos enfrentam
diariamente dentro da escola que contribuem para o desinteresse da disciplina de Língua
Portuguesa e com isso até levá-los a evadirem desse ambiente de ensino.
Desta forma, é de suma importância discutir tais temáticas dentro do âmbito
educacional para contribuir e sensibilizar o público estudantil a aprender a respeitar as
diferenças presentes na sociedade. A conclusão de um estudo, ou a etapa final da educação
como o Ensino Médio não deve representar o mero recebimento de um certificado, e sim, o
reconhecimento da evolução e o desenvolvimento do ser para saber lidar com os desafios do
dia a dia. É poder fazer a diferença e não viver no anonimato.
Por tanto, ao partirmos do princípio que cada ser tem a sua singularidade, com certeza
aprenderemos a respeitar ao próximo na sua diversidade, seja ela, física, sensorial ou social. E
isso pressupõe que para tal conscientização é preciso conhecer o próprio “eu” para apagar os
pensamentos errôneos e ações discriminatórias, rompendo barreiras que bloqueiam a
acessibilidade dos que têm limitações. E assim, evoluirmos como cidadãos produtivos e não
destrutivos da nossa própria sociedade.
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REFERÊNCIAS
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município de Altamira-Pará. 2013. 212 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado
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educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
______. Decreto n. 5.626 de 22 de dezembro de 2005. Dispõe sobre a Língua Brasileira de
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sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola, 2009.
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Paulo: Moderna, 2003.
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