Comunicação e sociologia Capítulo 26 A INDÚSTRIA EDITORIAL • O desenvolvimento e a difusão da linguagem escrita acabaram por multiplicar o número de documentos manuscritos. • Em decorrência desse acúmulo de papeis e documentos, surgiram técnicas de armazenagem e gerenciamento de informações, como arquivos e bibliotecas. • A passagem das placas de argila para o papiro marcou a criação de rolos manuseáveis, mas foi o princípio de um feixe de folhas encadernadas que alcançou o mais duradouro sucesso. • Do século IV até o século XIV, quando o papel surgiu na Itália, o pergaminho foi o suporte mais utilizado. • Popularizou-se o códice, nome dado ao formato livro. • Os primeiros códices eram em madeira, depois foram fabricados em pergaminho e, finalmente, em papel. • A cultura livresca resultou desse desenvolvimento na busca de suportes mais leves, baratos e portáteis e de tecnologias de registro que facilitassem a disseminação das informações. • A grande revolução aconteceu com a invenção da prensa por Gutenberg, tornando possível infinitas reproduções de um mesmo original. • A alfabetização e até mesmo a escrita manual foram estimuladas, levando mais pessoas a aprender a ler e escrever. • Instalava-se a produção em série de textos e surgia um público de leitores que, com a leitura, submetia-se à mesma experiência literária. • Era o início do processo de massificação da cultura. • Outra consequência dessa revolução tecnológica foi a homogeneização da linguagem com a possibilidade concreta de se unificar a gramática, os diversos idiomas e as mais diferentes formas de falar. • Na Europa, os tipógrafos foram os primeiros a perceber o potencial da palavra impressa e a produzir, no século XVII, os primeiros jornais diários, os quais traziam decretos, notícias e anúncios. • Mas foi a república e o liberalismo que criaram as condições para o amplo desenvolvimento da imprensa como veículo capaz de colocar em debate as ideias controversas dos diferentes partidos políticos. • A revolução tecnológica, com o auxílio das ferrovias e do telégrafo, fizeram com que as notícias impressas chegassem mais rapidamente a pontos cada vez mais distantes. • Tinha início, assim, a sociedade midiática, em que as relações dos seres humanos entre si e com o mundo à sua volta passaram a ser mediadas pelos meios de comunicação. • A importância da comunicação na sociedade obrigaria os sociólogos a se voltar para seu estudo no intuito de entender o comportamento social, as ações políticas, os movimentos populares e uma nova forma de percepção do mundo que se desenvolvia junto ao público leitor e à audiência dos meios de comunicação. COMUNICAÇÃO E VIDA SOCIAL • No século XX, a comunicação de massa alcançou maior desenvolvimento, o que despertou o interesse de vários autores. • Um grupo de cientistas sociais, reunido em Frankfurt, Alemanha, dedicou-se ao estudo crítico do impacto da mídia na sociedade. • Eles também contribuíram para a compreensão da linguagem e da comunicação na vida social. • Bernstein, importante sociolinguista, admitia que diversos fenômenos como os papeis sociais, por exemplo, só podiam ser entendidos pela forma como se manifestavam na linguagem. • Desempenhar um papel social é ser capaz de expressar-se de determinada maneira, dentro de um contexto. • Assim, o sistema linguístico é consequência das relações sociais ou atributo da estrutura social. • Bernstein identifica dois tipos de código de comunicação linguística: 1. Códigos restritos – dizem respeito a formas expressivas impessoais, formais, padronizadas e previsíveis; 2.Códigos elaborados – adaptados a situações sociais específicas, complexas e não previsíveis. Uma aula, um sermão ou mesmo um discurso. COMUNICADOR E RECEPTOR • Talcott Parsons foi um importante sociólogo norte-americano que procurou desenvolver uma teoria geral da ação social. • A constelação de inter-relações, que constitui o sistema social, se expressa sob a forma de expectativas orientadoras da ação individual. • Exemplo: se uma pessoa entra em uma loja para comprar um objeto, seu comportamento tende a provocar no vendedor reações, que serão dirigidas a ela. Promove-se, assim, a articulação entre ações e reações. • Se duas pessoas se ofendem e brigam na rua ou em uma festa, também suas ações constituem reações ao comportamento de uma e de outra. • Estão elas mutuamente orientadas, e suas ações são movidas por reciprocidade, afável ou violenta. • As ações sociais dependem da comunicação. • O que distingue uma interação social de uma relação social é o fato de a primeira ser ocasional e dizer respeito a diversas situações de contato que enfrentamos cotidianamente. • A relação social pressupõe certa persistência das interações, configurando papéis sociais mais permanentes e estáveis, como os que ligam pais a filhos, professores a alunos, patrões a funcionários. • A capacidade que demonstramos em responder de modo adequado às situações é parte do êxito que obtemos na vida social. • Demonstramos domínio dos códigos restritos, ou seja, daqueles que fazem parte do formalismo da vida social - cumprimentar, pedir, desculparse, apresentar-se. • O conhecimento da língua, dos signos e dos códigos de comunicação é essencial para o bom desempenho dos sujeitos nas suas interações. • Nos termos da troca comunicativa, os envolvidos na interação recebem denominação própria: emissor ou comunicador é aquele que envia uma mensagem, e receptor é aquele a quem se dirige a mensagem. • Quando o receptor responde ao emissor, dizemos que houve resposta ou feedback. • Podemos identificar a motivação de uma dada mensagem. (exemplo reino) OPINIÃO PÚBLICA • Há situações em que uma mensagem provém de um emissor e alcança muitos receptores, constituindo uma audiência ou público. • Quando um emissor se comunica com um grupo, há interação impessoal e muitas vezes anônima. • Pesquisas procuram entender como as mensagens transitam por uma coletividade, estabelecendo certo consenso, que também pode ser chamada de opinião pública. • Mesmo que determinada ideia ou interpretação de fatos não seja a mesma para todos os membros do grupo, sabe-se que esse consenso serve de referência para a formação das opiniões individuais. • A busca por entender como agem as pessoas quando submetidas a uma situação coletiva e anônima foi uma das preocupações que estiveram na origem das ciências sociais. • Espaços públicos – praças, avenidas e ambientes de lazer – propiciaram a reunião de pessoas desconhecidas entre si e sem vínculos umas com as outras, mas submetidas a um estímulo comum. • Observou-se que o comportamento que essas situações geravam não era previsível, e o receio de violência e desordem fez com que inúmeros pesquisadores se dispusessem a estudar a natureza dessa forma de ação coletiva, massiva ou social. (jogo futebol, greve) • Com o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, um novo tipo de público se cria: aquele formado pelas pessoas conectadas a determinados veículos, como o rádio, o cinema e a televisão. INDÚSTRIA CULTURAL • Um dos primeiros núcleos de pesquisa sociológica a avaliar a importância dos meios de comunicação em sua influência sobre o comportamento coletivo foi a Escola de Frankfurt, que, com a teoria crítica, denunciava o caráter ideológico das mensagens que transitam pelos meios de comunicação. • Crítica à hegemonia crescente da circulação de mercadorias e à impossibilidade de o homem se reconhecer num mundo de produção e consumo. • Os frankfurtianos desacreditavam na capacidade humana diante da influência da produção cultural programada e midiatizada, perceber a realidade circundante e reagir a ela. • Para mostrar como os meios de comunicação de massa participavam do processo de alienação humana, criaram o conceito de indústria cultural, que veio a substituir o de cultura de massa. • O conceito significava a produção simbólica programada para tornar imutável a mentalidade passiva do público submetido ao mass media. • Há uma denúncia ao caráter comercial e mercantil dos meios de comunicação contaminados, desde sua origem, pelo princípio do lucro. • A indústria cultural, segundo esses autores – Adorno, Marcuse e Horkheimer – é responsável pela passividade do público. • Outras abordagens teóricas das ciências da comunicação relativizaram as críticas contundentes dos frankfurtianos à indústria cultural. • Os estudos culturais, desenvolvidos inicialmente na Inglaterra, valorizaram o papel da cultura na recepção de mensagens, mostrando que não existe uma recepção massiva homogênea e que cada mensagem passa pela apreciação da cultura da audiência, entendida como portadora da estrutura básica de valores, de um grupo. • Assim, um mesmo produto simbólico, seja uma notícia, um filme ou um programa de televisão, é recebido por um determinado grupo de acordo com os padrões interpretativos de sua cultura. • Também as teorias das mediações mostram que diversos elementos intervêm na percepção e na interpretação de um produto simbólico, desde processos tecnológicos até particularidades relativas a geração, referências, formação e crenças dos componentes de uma dada audiência.