Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade COMUNIDADE DE FALA DO IFSUL: RELAÇÕES LINGUÍSTICAS NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM. Márcia Helena Sauaia Guimarães Rostas - IFSul Beatriz Helena Zanotta Nunes - IFSul RESUMO O presente painel pretende discorrer acerca de parte do percurso, em andamento, da pesquisa que visa analisar o processo ensino-aprendizagem a partir da comunicação entre professor e aluno. O conhecimento dos códigos linguísticos é ferramenta imprescindível para que o estabelecimento da comunicação e consequentemente da compreensão. Com base nesta premissa iniciamos esta investigação, impulsionadas pelas seguintes inquietações: Há interação discursiva entre aluno e professor? O discurso existente em sala de aula influi no processo ensino-aprendizagem? O professor compreende os questionamentos e as dificuldades dos alunos, ao interagir com ele? O aluno compreende o que o professor fala? O aluno consegue externar as suas dificuldades a ponto do professor compreendê-las e assim, possa sanar suas dificuldades? A falta de compreensão entre esses sujeitos pode influenciar na relação ensino-aprendizagem? Apesar de, aparentemente, parecer ser suficiente para que seja estabelecido um processo de comunicação, entre duas pessoas, a língua comum entre os falantes a partir da língua oficial, e ainda, presumir que conhecendo o código linguístico, as pessoas se entendem do ponto de vista linguístico. Destacamos, porém, que o Brasil é um país rico no aspecto da linguagem. Nesta pesquisa percebemos que há inúmeras variações linguísticas a partir do contexto da procedência do falante: rural ou urbana bem como sua ascendência – origem familiar. Para caracterização do objeto de pesquisa delimitamos o universo nos alunos ingressantes nos cursos técnicos na modalidade integrada. Desta forma pudemos, com mais propriedade, descrever o perfil destes estudantes. Da mesma forma procedemos com os professores que trabalham com o primeiro e segundo semestre destes cursos. Detectamos um universo formado por pessoas de ascendências distintas com residências em espaços rurais e urbanos. Detectando as variações linguísticas existentes neste universo, questionamos se tais traços podem dificultar a comunicação dentro da escola e desta forma influenciar o desempenho do aluno. Palavras chave: comunicação – discurso pedagógico– ensino-aprendizagem 1 Considerações Iniciais Inúmeros são os questionamentos dos motivos que podem comprometer parcial ou integralmente o processo ensino-aprendizagem dentro do ambiente educacional, quer seja dentro ou fora da sala de aula. Observamos ao longo da trajetória docente que muitos professores não compreendem os posicionamentos de parte de seus alunos, em contrapartida, verificamos, ainda, que muitos alunos reclamam que não entendem a aula de seus professores. Partindo deste viés observamos a necessidade de investigar a relação entre a comunicação e a aprendizagem, tomando por base alunos e professores nos diversos ambientes de sala de aula. EdUECE - Livro 3 01308 Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade Delimitamos nosso universo, focando a investigação nos múltiplos aspectos que envolvem a linguagem falada e escrita dos alunos ingressantes no Ensino Técnico Profissionalizante, na forma Integrada, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense – campus Pelotas e os impactos no rendimento escolar. Partindo da premissa de que a fala pode caracterizar várias instâncias da comunicação direta e indireta destacamos, para este estudo, a importância dos códigos linguísticos no estabelecimento da compreensão entre o sujeito que fala e o que escuta. Na ausência desta compreensão, no espaço educacional, questionamos: quais fatores, dentro do universo da comunicação, podem influenciar a aprendizagem dos alunos? Na sala de aula, observamos a importância dos códigos linguísticos inseridos no cotidiano da relação entre professores e alunos durante o processo de ensinoaprendizagem. O domínio ou desconhecimento desses códigos se revelam como responsáveis por muitas deficiências existentes na relação de aprendizagem. Tal fator determinará, de certa forma, o rendimento escolar, que, por conseguinte, definirá a aprendizagem ou não do aluno. 2 A pesquisa: um processo em construção A análise da linguagem com vistas à observação do processo ensinoaprendizagem dentro de um ambiente escolar por meio do cotidiano da sala de aula é nosso foco de pesquisa. Para Bernstein (1996, p. 143): [...] um código é um princípio regulativo, tacitamente adquirido, que seleciona e integram significados relevantes, formas de realização e contextos evocadores [...] o código é um regulador das relações entre contextos e, através dessa relação, um regulador das relações dentro dos contextos [...] Partindo do pressuposto levantado pelo autor observamos não ser a unidade para análise dos códigos o enunciado abstrato ou o contexto isolado, mas as relações entre contextos. Em outras palavras, a análise da relação dialógica deve levar em consideração fatores linguísticos, sociais e ambientais. A linguagem - código restrito e código elaborado - se refere a um princípio regulador que está na base dos sistemas de mensagens: currículo, pedagogia e avaliação. EdUECE - Livro 3 01309 Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade Segundo Bernstein (1996) no uso dos códigos há diferenças nos códigos de comunicação dos filhos da classe trabalhadora e dos filhos da classe média. Estas diferenças refletem nas relações de classe e de poder na divisão social do trabalho, no ambiente laboral, familiar e educacional. O processo ensino-aprendizagem, intermediado pela língua(gem) não pode ser um elemento de exclusão. O professor precisa conhecer a linguagem de seus alunos e, ainda, utilizar mecanismos de comunicação que permitam a interação deles em suas aulas. Caso contrário, como destaca Berstein (1996) estaremos segregando os códigos elaborados, não criando condições para que sejam apropriados e divulgando pelos alunos oriundos da classe trabalhadora, destacando os códigos restritos como única alternativa de comunicação para esta classe. Soares (2000), por meio de uma pesquisa sociológica, tematiza as relações entre linguagem e escola, demonstrando que, no interior desta instituição, a heterogeneidade social, cultural e, portanto, linguística não recebe um tratamento adequado. A autora explicita os conflitos que podem existir neste ambiente, desenvolvendo sua análise baseada em teorias que apontam diferenças culturais e linguísticas como responsáveis por boa parte da dificuldade de comunicação dentro da sala de aula. Outro dado importante, apontado, é a democratização do acesso e da permanência à escola como responsável pelas dificuldades encontradas neste ambiente. 3 objeto de pesquisa Baseadas no pressuposto da necessidade de comunicação de qualidade entre professor e aluno começamos a traçar objetivos e metas que dariam suporte a um trabalho de cunho investigativo que trará frutos para a comunidade como um todo. Nossos principais objetivos, nesta pesquisa, são: Investigar as variações que podem dificultar a comunicação entre professor e aluno, a partir do perfil dos discentes matriculados no IFSul – Campus Pelotas segundo sua procedência (rural ou urbana); Identificar, dentro de um espaço amostral significativo, o perfil dos alunos do IFSul – Campus Pelotas; Descrever o dialeto falado na cidade de Pelotas (Português Pelotense) a partir da análise da fala dos informantes; EdUECE - Livro 3 01310 Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade Verificar, a partir da origem dos sujeitos da pesquisa, especificidades linguísticas (campo lexical). Com base nestes dados, temos, ainda, por eixo principal: Analisar o impacto do discurso falado e escrito, em sala de aula, nos múltiplos aspectos da linguagem. Partindo de uma pesquisa qualitativa trabalhamos com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. Nesta ótica investigativa foi possível que os autores se envolvessem diretamente nesta situação, possibilitando observar os agentes no seu cotidiano, convivendo e interagindo socialmente. Confrontamos os dados e as informações coletadas sobre o assunto, o objeto da investigação, aliando estes procedimentos ao conhecimento teórico acumulado no decorrer do processo. Esta pesquisa se utiliza, ainda, do método descritivo, que tem como características observar, registrar, analisar, descrever e correlacionar fatos ou fenômenos sem manipulá-los, procurando descobrir e/ou analisar os dados coletados para provocar, sugerir alternativas ou soluções dos problemas diagnosticados. Envolve a preocupação em estudar o discurso existente entre professor e aluno no cotidiano educacional, investigando e observando aspectos variados da fala no universo dos alunos. Pesquisar no ambiente escolar requer, além do rigor do método, uma minuciosa análise dos agentes que compõe este universo. Este estudo tem a pretensão de continuar analisando uma amostragem significativa de professores que atuam nas séries iniciais, sejam nas disciplinas formativas ou profissionalizantes, para verificar, através de suas falas, como esse docente constrói o diálogo existente em sua sala de aula. Em contrapartida, necessitamos, ainda, continuar analisando, também, a fala dos alunos, suas interações linguísticas e, ainda, sua participação no diálogo dentro da sala de aula. Por fim, precisamos cruzar estas informações a fim de perceber como tem se dado a interação linguística entre professor e aluno. Desta forma, com base nestes dados levantados, pretendemos verificar quais as necessidades, neste ambiente comunicativo, para que haja diálogo – aprendizagem - neste universo. Em todo processo investigativo é importante o contato prévio com a comunidade de fala para se obter informações não só linguísticas, mas também sociais e EdUECE - Livro 3 01311 Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade culturais de cada indivíduo. Para isso, construímos e aplicamos uma ficha de identificação do perfil social desta comunidade de fala com vistas a sua caracterização. Realizada a coleta de dados e análise dos mesmos, seguimos a próxima etapa da pesquisa que é transcrição dos dados audiográficos, obtidos através de entrevistas semi-estruturadas operacionalizadas através da aplicação de questionários, que estão em fase de coleta. Após esta etapa procederemos à análise mais consistente, à luz de teóricos que abordam esta temática, por fim, os dados após serem organizados em categorias serão discutidos na forma de propostas que serão apresentados a comunidade. Os dados coletados, que serão apresentados a comunidade, configuram o ‘corpus’ desta pesquisa. A análise destes dados tem o intuito de observar quais os fatores linguísticos e extralinguísticos que influenciam a fala da comunidade linguística do IFSul, no interior do Curso de Eletrotécnica, em estudo. Essa análise consiste em usar os dados como argumento e não como ilustração. Referências BERNSTEIN, B. A estruturação do discurso pedagógico: classe, códigos e controle. Vozes: Petrópolis, 1996. SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 17. ed. São Paulo: Ática, 2000. EdUECE - Livro 3 01312