CSO 089 * Sociologia das Artes

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CSO 089 – Sociologia das Artes
Aula 9 - 07/05/2012
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Pierre Bourdieu (1930-2002)
• Filósofo que se fez sociólogo. Mais importante
autor (mais citado) nas ciências de modo geral.
• Empreitada sociológica que procura sintetizar
discussões insolúveis com respeito aos mais
variados objetos.
• Trabalhou questões de educação, classe, estilo de
vida, arte, política, miséria social, religião,
filosofia, esportes, fotografia, direito, economia,
metodologia etc.
Por uma ciência das obras
• Teoria dos campos culturais.
• Bourdieu apresenta de modo sintético seu
programa de análise da arte, com ênfase na
literatura, mas sem prejuízo para as demais
formas artísticas.
• Conceitos centrais a serem compreendidos:
campo, habitus, posição, disposição, espaço
de possíveis, tomada de posição (obra),
capital.
Espaço de possíveis
• Espaço que, ao abrigar as posições já
constituídas, anula de antemão outras, dirigindo
a produção cultural de forma negativa e
relacional.
• Problemas, referências, marcas intelectuais
(personagens-guia), conceitos em ismo –
coordenadas necessárias para a produção de algo
relevante no campo.
• Espaço dos possíveis situa produtores e os
autonomizam em relação às urgências
econômicas e sociais.
Espaço de possíveis II
• Transcende os agentes singulares e fazem com
que estejam uns situados objetivamente em
relação aos outros, embora não necessitem
estar explicitamente referidos.
• O pressuposto para tal análise é o de que há
uma relação de homologia entre as tomadas
de posição e as posições no campo social
geral.
Obra como texto
• Divisão entre explicações internas (lectores) e
externas das obras culturais.
• Explicações internalistas atinam para a questão
da forma, da interpretacão, da absolutização do
texto, da interrelação entre textos, sem
referências exteriores.
• Tomam significações como atemporais,
universais, necessitando apenas de um
deciframento para a sua inteligibilidade.
• Ordem do discurso possui seu próprio princípio
de elucidação.
Crítica à análise internalista
• Ordem cultural não é sistema completamente
autônomo. Caso assim o considerem, torna-se
impossível traçar a razão das mudanças que
ocorrem em seu seio.
• Mudanças passam a ser vistas como “lei
natural”, ocasionadas em razão de “desgastes”
intrínsecos à própria forma (por exemplo,
poesia, literatura, artes pictóricas).
Obra como redução a um contexto
• Lógica do reflexo, que vincula de forma direta
as obras às caracteristicas sociais dos autores
ou dos grupos destinatários.
• Análise estatística e seus fracos.
• Análises de classe e de visões de mundo.
• Crítica: procuram apenas determinar as
funções sociais das obras, deixando de lado a
estrutura da mensagem da obra.
Campos
• Bourdieu desenvolve a teoria dos campos no
intento de ultrapassar as leituras internalistas e
externalistas das obras.
• Conserva atenção com a lógica interna da
estrutura formal das obras e acrescenta a análise
da função social que ela pode desempenhar.
• Campo tem origem na teoria religiosa de Max
Weber (profetas, sacerdotes, leigos, mensagem
religiosa).
Microcosmos sociais
• Campos são universos dotados de estrutura
institucional própria, leis próprias e uma
gravitação simbólica.
• É um espaço de relações objetivas entre posições,
seja de agentes ou de instituições.
• O objetivo em um campo determinado é o de
conservar ou modificar o próprio estado do
campo.
• Por isso, a luta perpétua pela imposição de novas
visões de mundo e a criação de novas posições.
Externo-interno
• Campo, no entanto, não se encontra isolado
da sociedade, das demais forças sociais.
• Quanto mais autônomo, no entanto, maior
capacidade de refração ele possuirá.
• As crises ecconômicas, políticas etc., por
exemplo, incidirão de acordo com a linguagem
própria do campo (em termos de gênero,
concepções artísticas etc.), não de maneira
direta.
Posição e tomada de posição
• Espaço das obras (formas, estilos etc.), espaço
relacional de diferenciação interna, imbrica-se
com espaço dos criadores ou das escolas, quer
dizer, um sistema de posições diferenciais.
• Ortodoxia encontra-se em perpétua luta contra a
heresia. Cada parte se define pela posse de
capitais (internos) diferenciados.
• Esta luta central distingue os agentes de maneira
interna ao campo, ensejando possibilidades de
mudança ou de conservação, de acordo com o
estado anterior do campo e da sociedade.
Análise das obras
• Tomadas de posição dependem da posição,
portanto, que o agente ocupe na estrutura do
campo.
• Capital específico (jnstitucionalizado ou não) mais
a mediação do habitus inclina o agente à
subversão ou à conservação do atual estado ddo
campo, ous eja, a uma ou outra posição.
• É na trinca posição, disposição (habitus) e tomada
de posição (obra) que reside a especificidade da
empreitada analítica bourdiesiana.
Arte pura X Arte comercial
• Distinção fundamental a cindir os campos de
produção artística que está baseada, em última
análise, na estrutura do campo do poder, que
abriga o da arte.
• Arte pura: simbolicamente dominante e
economicamente dominada. Destinada a um
público de pares, inciados, restrito.
• Arte comercial: simbolicamente dominada e
economicamente dominante. Destinada ao
grande público, ao sucesso imediato.
Autonomia X Heteronomia
• Arte pura tende à buscar a autonomia formal.
• Produto destinado ao público de alto capital cultural,
intelectualizado, de iniciados, capaz de compreender e
deleitar-se com questões formais.
• Tende a realizar-se, em razão disto, no futuro.
• Instituições que a abrigam esse tipo de arte sofrem
revés da “antieconomia”, ou da denegação do interesse
econômico.
• Artistas buscam o reconhecimento e a antiguidade.
• Geralmente divide-se entre vanguardas (estabelecidas
ou novas).
Autonomia X Heteronomia II
• Arte comercial tende a realizar-se sem autonomia
formal. É espécie de reflexo de questões sociais.
• Busca sucesso imediato junto a um público
difuso, geralmente dotado de baixo capital
cultural.
• Artistas buscam a notoriedade e fogem do
envelhecimento.
• Produtos possuem curta vida temporal.
• Abrigadas por grandes instituições que não
denegam interesse econômico.
Referências externas
• Há de se lembrar que essa disputa interna é a
refração da disputa externa, que ocorre no
seio da sociedade, no campo global (classes).
• Quanto mais autônomo o campo for
(instituições, linguagem própria, legislação,
capitais específicos etc.), mais abertas e
explícitas as disputas se encontrarão.
• Sinal de autonomia: um campo dividido em
dois pólos (arte pura X arte comercial).
Dinâmica do campo
• Luta entre os que marcaram época (criação de
nova posição no campo), os que lutam para
persistir (tornar-se clássicos) e os que desejam
enviar ao passado os que querem eternizar o
presente (jovens, vanguarda).
• Tal dinâmica leva a vanguarda a colocar em
questão os fundamentos dos gêneros,
clamando por um retorno constante à
“pureza”.
Essencialização
• O resultado desse eterno retorno crítico, dessa
perene revolução é a essencialização da forma
artística.
• Produtores de vanguarda erigem elementos caros
à história do campo como meta a ser superada.
• Contrapartida é que eles são determinados por
esta mesma história até mesmo nas inovações
mais radicais.
• Processo de “depuração” estilística demanda
cada vez mais conhecimento pretérito daqueles
que estão inseridos no jogo.
Habitus e campo
• Trajetória, isto é, série de posições ocupadas
por um mesmo autor em estados sucessivos
no campo, objetiva-se em uma obra.
• O encontro entre a hierarquia das posições e a
hierarquia das origens sociais resolve-se na
predisposição a um autor produzir uma obra
relativa a um gênero determinado.
• Vale a pena, por fim, quebrar o encanto da
arte via um historicismo radical?
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