Comunicação na Cibersociedade Silvia RP de Quevedo Outubro de 2015 • Língua e Linguagem • Informação e Linguagem • Teorias da Comunicação/Jornalismo • Mídias • Meios de Comunicação de Massa (MCM) • Comunicação de Massa e Indústria Cultural • • • • Comunicação Comunicação na sociedade industrial Comunicação na Cibersociedade A sociedade que ‘virá’ Linguagem Do ponto de vista anatômico e fisiológico é função cerebral que permite a aquisição e utilização de uma língua, porta de entrada para a linguagem como fator estruturante do pensamento. (Godfeld, 2007) Do ponto de vista da função social é uma porta ao exercício da cidadania. Os direitos de um cidadão são exercidos pelo domínio da língua e da expressão. (André, 1998) A linguagem é o meio mais eficiente de expressão da inteligência, possibilita a organização, o desenvolvimento e a comunicação do pensamento, acelera o ajustamento socioemocional e é estímulo permanente à formação de conceitos, permitindo a expansão das tendências de um indivíduo. (Campbell, 2009, p. 98) • Linguagem e língua incluem a função do pensamento (Goldfeld, 2007) • O homem só consegue acumular conhecimento porque criou e emprega a linguagem (Faraco e Moura, 2005, p. 19) Língua é a linguagem formalizada por meio de códigos. “Posso inventar tudo o que quiser dentro do que minha língua deixar” (Brito, 2012) A língua tem bases inatas no cérebro e se localiza em uma região chamada Caixa de Letras, o centro de reconhecimento da palavra escrita. A área visual da palavra é sistematicamente ativada durante a leitura. Não é área isolada, mas o estágio final de extração das informações visuais no reconhecimento de letras e palavras. (Dehaene, 2012) Cérebros leitores têm regiões ativadas e desenvolvidas. A leitura causa efeito positivo no cérebro, demonstrando capacidade de organização e estruturação. (Dehaene, 2012) Deville Os efeitos da privação de língua & linguagem • Privado da língua, o sujeito não desenvolve linguagem e tem comprometidos os processos de cognição. • O Enigma de Kaspar Hauser (1974), de Werner Herzog Linguagem é todo um sistema de signos que permite identificar o mundo (Mello, 2005) Na base de ambas residem os sinais, que formam unidades geradoras de sentido: os signos. Ferdinand de Saussure (1857-1913) estabeleceu um divisor de águas nos estudos linguísticos ao introduzir o par significante/significado. Dado, informação, conhecimento Com o Iluminismo, no fim do século XVIII, a sociedade industrial tomou impulso centrada na produção em massa de bens materiais: tecido, aço, móveis e automóveis. (Encyclopédie – Diderot e D’Alembert) • O final do século XX, 200 anos mais tarde, marcou o nascimento da sociedade pós-industrial, centrada na comunicação de massa e na produção de serviços, informação, símbolos, valores, estética. • (Giorgio De Michelis, 2003) • Mutações ocorridas entre estes dois divisores históricos • (Demasi e Pepe, 2003) Encyclopédie de Diderot e d’Alembert - 1750 • Comunicação: • • • • Partilha ou cessão (comunicação de um movimento) Contiguidade, continuidade, comunidade Jurisprudência: prova ou ‘peça’ relativa a um processo Teológico: comunicação de idiomas: termo relativo ao mistério da encarnação de Cristo na natureza divina que o quer filho de Deus e na natureza humana que o vê tornar-se homem. • Nas ‘belas letras’, a comunicação é uma figura de retórica por meio da qual o orador se apresenta. • Informação: • Ato judiciário contendo o depoimento de testemunhas a serem ouvidas sobre um crime ou delito denunciado pela parte civil ou penal. A comunicação do movimento é a acepção em virtude do qual um corpo que golpeia um outro põe em movimento o corpo golpeado. Outras formas de ver o mundo • Novas disciplinas teóricas como a linguística e a semiótica contribuíram para o interesse da comunicação humana. • A psicologia e a sociologia estudavam suas formas de explicar os comportamentos individuais e sociais. Teorias da Comunicação • Hipodérmica • Empírica Experimental (persuasão)de campo • Empírica de campo (efeitos limitados) • Funcionalista • Canadense • Folkcomunicação • Crítica • Culturológica • Estudos Culturais • Estruturais de Comunicação: Teoria Matemática da Informação; Semiótica Teorias do Jornalismo • • • • • • • • • • • Teoria do Espelho Gatekeeper Teoria Organizacional Teoria da Ação Política Teoria da Distorção Involuntária Teoria Etnográfica Newsmaking Agenda Setting Espiral do silêncio Estruturalista Interacionista Teoria Hipodérmica Manipulação da informação (empírica experimental) Marshall Mcluhan (1911-1980): os meios de comunicação como extensão do homem • Os meios como extensões de nossos sentidos estabelecem novos índices relacionais , não apenas entre nossos sentidos particulares , como também entre si, na medida em que se interrelacionam. O rádio alterou a forma das histórias noticiosas, bem como a imagem fílmica, com o advento do sonoro. A televisão provocou mudanças drásticas na programação do rádio e na forma das radionovelas. O cinema incorporou o romance, o jornal e o palco – todos de uma vez. (McLuhan, 2014, p. 72) • Energia e produção tendem agora a fundir-se com a informação e o aprendizado. O mercado e o consumo tendem a formar um corpo único com o aprendizado, o esclarecimento e a absorção da informação. Tudo isso faz parte da implosão elétrica que agora segue e sucede aos séculos de explosão e especialização crescente. A era eletrônica, literalmente, é uma era de iluminação e de esclarecimento. Assim como a luz é, ao mesmo tempo, energia e informação, assim como a automação elétrica une a produção, o consumo e o ensino num processo inextricável.O mesmo processo de automação que provoca a retirada da força de trabalho da indústria faz com que o próprio aprendizado se transforme na principal espécie de produção e consumo. O aprendizado pago já vai se transformando tanto no emprego como na fonte dominante de novas riquezas na sociedade. (...) à medida que se eleva o nível de informação, toda uma sorte de materiais pode ser adaptada a toda espécie de utilização. (McLuhan, 2014, p. 393) Teoria Matemática da Comunicação e Informação • Teoria foi o protótipo de todos os estudos de comunicação com base na produção e distribuição de informação. • Público passou de receptor a usuário. • Ponto de vista externo: Todo sinal ou conjunto de sinais constitui informação (Shannon). Não há interesse no conteúdo da informação, considera apenas seu aspecto formal. Para o observador externo, o contato casual entre duas pessoas ou dois objetos estabelece comunicação, independente de sua importância para os envolvidos. • Ponto de vista interno: Sinal será relevante e considerado boa informação se significar algo importante para pelo menos uma das partes. Uma informação válida manifesta ‘valor de atração’ (atrai os sensores) e ‘valor de atenção’ (promove associações relevantes). A recepção qualifica a informação Não desperta o interesse dos enciclopedistas a communication como fenômeno social. Como a prática social que os seres humanos desenvolvem na linguagem e por meio da qual assumem o caráter de ‘animais sociais’. Hoje: transformações profundas • Ocupa papel central na caracterização dos fenômenos sociais, acompanhando a difusão dos jornais, rádio, televisão, modernos sistemas de comunicação de massa – os mass media. Crítica da comunicação como transferência • A comunicação não é só transferência de informação, mas criação, por parte da fonte, de indícios capazes de ativar inferências por parte do destinatário. • Ato de comunicação, informação e escuta são três processos irredutíveis um ao outro, que entram em parceria dinamicamente. (Giorgio de Michelis, 2003, p.120) Comunicação & Informação • Latim: communicatio, communis, accomunamento: ação que coloca em comum os seus participantes sob uma mesma autoridade, dentro de confins comuns, é a ação que os separa dos outros. (Giorgio De Michelis, 2003) Somente a comunicação cria comunidade. • A comunicação cria comunidade na medida em que, colocando em comum os seus participantes, lhes dá uma identidade coletiva que os distingue de quem não participa dela. A informação é, hoje, um dos conceitos fundamentais para: • Explicar o funcionamento do sistema nervoso (fisiologia) e o caráter genético dos seres vivos (genética). • Caracterizar o funcionamento dos meios transmissivos (cibernética e teoria da informação e da transmissão) e dos computadores (informática). • Estudar a mente humana (psicologia) • Distinguir a sociedade contemporânea das modernas sociedades industriais (economia, sociologia) • Desenvolvimento das tecnologias de transmissão e elaboração de sinais, de base inicialmente eletromecânica, depois, microeletrônica, que configuram os vários meios de comunicação. • As disciplinas relevantes neste campo são: cibernética (com a teoria da comunicação e informação); a informática, a engenharia das telecomunicações e a telemática (que absorve as duas últimas). Delleuze e Guattari: rizoma Sociedade da Informação • Ao caracterizar a sociedade contemporânea como Sociedade da Informação , que conquistou como ‘condição pós-moderna’ a máxima popularidade e difusão, a informação tornou-se o principal fator produtivo: • Quanto mais informação temos à disposição, tanto mais seremos ordenados, organizados, racionais e, logo, eficientes e/ou eficazes. Não é mais o controle das fontes de energia, das matériasprimas, do mercado, que dá vantagem competitiva, mas o controle da informação. • A Internet como fenômeno provocou o debate entre quem reconheceu imediatamente o inevitável de sua difusão e quem considerava que, sem forças econômicas que a sustentassem, seria difícil que ela pudesse prevalecer sobre as redes sustentadas por gigantes industriais como Microsoft, a IBM e as várias companhias telefônicas. • A divergência não era sobre o valor do acesso à informação, mas sobre a possibilidade de que um interesse coletivo não sustentado nem por empresas nem por agências públicas pudesse prevalecer sobre os interesses privados de empresas poderosas e monopolistas em seus mercados. Na Sociedade da Informação, os cidadãos são submetidos cotidianamente por gigantescas massas de informações – notícias e dados – numa quantidade superior em algumas ordens de grandeza àquela das que conseguem de algum modo desfrutar. As massas de informações, por sua vez, são numa quantidade superior em algumas ordens de grandeza àquelas das quais efetivamente captam a atenção, a escuta e que são efetivamente informações, de modo que a vida de um cidadão parece reduzir-se ao mero consumo de informações. Sob o influxo desta visão fortemente caracterizada, o espaço social em que os seres humanos vivem vê cada interação entre eles mediada pelas informações que o povoam, de modo que estes últimos parecem sempre mais distantes uns dos outros. Os direitos dos indivíduos tendem cada vez mais a se definir em relação à própria informação: Exigem-se e definem-se sistemas legislativos e normativos orientados para a regulamentação de sistemas de comunicação de massa, de maneira que sua difusão não provoque fenômenos de marginalização e de exclusão e não difunda informações deseducativas e/ou ofensivas aos valores predominantes de cidadania... ... assim como em termos de proteção à privacidade, em que é preciso garantir legalmente o controle por parte de cada cidadão das informações que lhes digam respeito. Quanto ao direito de acesso à informação, as redes de satélite tornam qualquer regulamentação ineficaz; de outro lado, o direito de gerar e difundir livremente informações choca-se com o direito de não receber informações que ofendam ou deseduquem. Quanto ao direito à privacidade, o direito à intimidade é limitado pelo fato de que para ter acesso aos serviços do welfare, para pagar as despesas com cartões eletrônicos, administrar a conta em banco, etc. inúmeras informações pessoais são armazenadas em arquivos eletrônicos. Se antes da era da informação a defesa da privacidade podia ser garantida impedindo-se a coleta das informações, hoje esta defesa está cada vez mais frágil e irrelevante, na medida em que as informações não precisam ser recolhidas, basta que sejam combinadas e elaboradas. • Welfare: the condition of having good health, comfortable living and working conditions etc: work for the welfare of the nation; child/infant/social welfare; be concerned about the welfare of the family; welfare workers. Welfare State: (a country with) State-financed social services, health, insurance, pensions (Oxford University Press - Oxford Dictionary, 1988, p.709) A defesa da privacidade choca-se coma exigência sempre crescente de transparência que a opinião pública exige em terrenos sempre mais amplos e diferenciados: não somente políticos e celebridades são obrigados a viver em ‘casa de vidro’ para alimentar uma imprensa cada vez mais ávida de informações atualizadas e ao vivo, mas também sobre os vizinhos de casa, colegas de trabalho, professores dos filhos, exigem-se informações pessoais sempre mais detalhadas como proteção contra doenças, estilos de vida e comportamentos sexuais que poderiam ser ameaçadores. A passagem das políticas welfare para a população, sem diferenciações, gera políticas mistas nas quais os cidadãos pagam ou não os serviços que recebem de acordo com suas rendas e seu status social e a diferenciação das apólices de seguro de acordo não apenas com a idade ou o estado de saúde, mas também com estilos de vida, são exemplos que mostram como o aumento da transparência não é apenas uma degeneração cultural, mas um pilar de uma sociedade que se organiza de maneira cada vez mais articulada em torno das exigências dos indivíduos. Um fenômeno está se tornando decisivo: seja no plano das relações sociais, ou no imaginário das massas, a sociedade adquire, cada vez mais, a configuração de um mega-agregado social em que os cidadãos confrontam-se entre si e com a instituições individualmente e em termos econômicos e jurídicos. Na Sociedade da Informação as relações sociais parecem cada vez mais reduzidas a relações econômicas: cada coisa, cada serviço é caracterizado por seu custo e por quem o paga, enquanto os outros valores, aqueles não redutíveis a termos econômicos, como os valores mais especialmente sociais e humanos, não apenas são registrados no plano institucional, mas tendem a assumir conotações distorcidas e regressivas. Há uma perfeita síntese entre o homo oeconomicus com o homo juridicus: a pessoa é reduzida a ator de mercado, cujos direitos nele são garantidos pelas instituições e por normas e leis que elas estabelecem, e de outra, os valores sociais tornam-se valores privados no nível da comunidade eletiva, que são defendidos contra os outros e não com os outros. Informação em uma sociedade complexa • A sociedade que vem é o processo de mudança em que a humanidade está imersa, não o seu resultado. • Aumenta a complexidade das relações sociais. A Sociedade da Informação é, desse ponto de vista, um projeto que visa a recriar as condições para uma ordem racional, ou seja, reduzir a complexidade social, mergulhando as comunidades em uma sociedade global indiferenciada, na qual os seres humanos transformam-se em átomos cada vez mais desprovidos de vínculos e de experiências sociais, cujos direitos são garantidos em toda a parte por sistemas normativos invasivos. A perspectiva da Sociedade da Informação – o ‘esvaziamento da sociedade’ e a degeneração cultural – é o ‘adversário a ser batido’ para que se chegue a assumir a complexidade das relações sociais como um valor a ser defendido e desenvolvido, como um indicador de riqueza de uma forma social. A coleta de informação e conhecimento em data base não perde seu significado, assim como o direito a ela ligado: eles se transformam nos reguladores das relações entre as comunidades e entre as instituições que lhes dão forma, evitando a consolidação de tendências isolacionistas. • O contínuo criar e recriarse de novas comunidades exige que uma outra mobilidade institucional acompanhe as dinâmicas sociais e que o direito defina o terreno no qual as comunidades e suas instituições se confrontam. Mas aqui se abre um novo discurso. Grupo 1: Em vez do acesso às informações é necessário desenvolver a comunicação, ou seja, o contínuo criar e recriar-se de uma comunidade. Seu ponto de debilidade é que o eixo informacional das instituições vigentes em cada nível não está em condições de influenciar o desenvolvimento da comunidade, mas tende a deprimi-lo. Corre-se o risco de um enfrentamento entre tendências comunitárias e o desenvolvimento informacional das instituições, com resultados nefastos? Grupo 2: A abertura incondicional de um acesso sempre mais amplo, desimpedido e generalizado às informações que caracteriza as inúmeras opções (de produção, memorização, consumo, estudo, trabalho, lazer) oferecidas hoje em escala planetária é, então, a única resposta progressiva à condição pósmoderna?