1 FAMÍLIA E PROTEÇÃO SOCIAL No modelo de “welfare State” gestado nos países centrais, a proteção e reprodução social tornou-se missão “quase total” de um Estado social de direitos do cidadãos. Parecia que o indivíduo “promovido “ a cidadão, podia trilhar sua vida apenas dependente do Estado e do trabalho, e não mais das chamadas sociabilidades comunitárias e familiares. Apostava-se em um Estado forte para assegurar políticas sociais e operar a partilhar a riqueza produzida, conter os apelos do capital e garantir pleno emprego . Assim, Estado e Trabalho são colocados como principais protagonistas do desenvolvimento e da promoção dos indivíduos em sujeitos de direitos; sujeitos com liberdade e autonomia. O Estado como o “grande tutor” na distribuição de bem-estar social e o trabalho como o “grande integrador” e “vetor de inclusão social “ ( Martin, 1995 ) É nos anos 90, que a Reforma do Estado, as compressões políticas e econômicas globais, as novas demandas de uma sociedade complexa, os défcits públicos crônicos, a revolução informacional, a transformações produtivas, desemprego estrutural e precarização das relações de trabalho, expansão da pobreza e aumento das desigualdades sociais , vão engendrar demandas de novos modos de gestão da política social. É neste cenário que as redes de solidariedade e sociabilidade engendradas a partir da Família, ganham importância na política social e, em especial, na proteção movida no fim do século. O “Welfare State” , ou Estado de Bem-Estar Social , apresenta como missão clara a partilha entre Estado, iniciativa privada e sociedade civil, um “welfare Mix” ou “pluralismo de bem-estar” . A redescoberta da FAMÍLIA como importante agente privado de proteção social, levando as agendas governamentais a investirem em medidas de apoio familiar: • • • • aconselhamentos e auxílios, incluindo novas modalidades de ajuda material aos pais e ampliação de visitas domiciliares por agentes oficiais; programas de redução da pobreza; políticas de valorização da vida doméstica, tentando conciliar o trabalho remunerado dos pais com as atividades do lar; redução dos riscos de desagregação familiar familiar por meio de campanhas de publicidade e conscientização, desde orientações pré-nupciais, combate da violência doméstica, gravidez precoce, drogadição, abusos sexuais, etc Se vislumbra um conjunto de políticas, atores e recursos contemplando a família. Esta se torna objeto de interesse acadêmico-científico especialmente pelo ângulo de sua relação com o Estado em ação, enquanto promotor de políticas públicas 2 Na América latina e Brasil, onde se conjugou um frágil Estado-Providência com a forte Sociedade-Providência, já se vivia a vigência do chamado pluralismo ou welfare mix : a partilha de responsabilidades entre Estado , sociedade civil ( terceiro setor) e iniciativa privada. No Brasil, as sociabilidades sócio-familiares e as redes de solidariedade nunca foram descartadas. A família alargada gera possibilidades de maximização de rendimentos, apoios, afetos e relações para obter emprego, moradia, saúde, etc. No desenho das políticas sociais, se enfatiza as micros-socialidades e sociabilidades sócio-familiares por sua potencial condição de assegurar proteção e inclusão social. Os serviços coletivos, implementados pelas políticas sociais - buscam combinar outras modalidades de atendimento ancoradas na família e na comunidade. ( médico de família, cuidado domiciliar, agentes comunitários, jornada ampliada,etc) A Família e revalorizada na sua função socializadora , convocada a exercer autoridade e definir limites. Espera-se que a Família seja parceira e partícipe. Busca-se a constituição de um pacto onde o envolvi-mento da família e da comunidade nos projetos e serviços públicos, tais como a escola, abrigos, hospitais, etc. torna-se essencial face, principalmente, a ineficácia das respostas institucionalizadas . O enfoque era priorizar projetos e serviços abertos e flexíveis de atenção a diversas demandas, capazes de envolver as solidariedades comunitárias, as pequenas ONGs prestadoras de serviços sociais, a família e o próprio beneficiário. A Família retoma lugar de destaque na política social como uma “miniprestadora “ de serviços de proteção e inclusão social. A Família se torna a ancoragem principal na socialização de seus membros ( particularmente crianças e adolescentes) e na proteção e garantia de vínculos relacionais que previnam os riscos, vulnerabilidades e isolamento social É esta condição que a introduz como centro mesmo da políticas sociais no final do século. Contudo, é preciso ter clareza que não pode se tratar de uma desresponsabilização do Estado em sua função de garantir e assegurar atenções básicas de proteção, desenvolvimento e inclusão social dos cidadãos. Logo, a revalorização da Família não pode significar recuo da proteção social destinada pelo Estado. É necessário que se entenda que a solidariedade familiar, só pode ser reivindicada se entender que a Família, ela própria, precisa de proteção para processar proteção. A solidariedade familiar, no entanto, só pode ser reivindicada se se entender que a Família, ela própria, precisa de proteção para processar proteção. 3 O potencial protetivo e relacional apontado para a Família, só é possível se ela receber atenções básicas : • • • • Acolhimento e escuta ( empática e humanizada) ; Rede de Serviços de Apoio Psicossocial, Cultural e Jurídico à Família ( serviços especializados, lúdicos , socializan-tes, trocas culturais, ampliação do universo informacional, Programas de Complementação de Renda ( articulados a processos sócioinformacional efortalecimento da autonomia familiar,articulação com outros programas; Programas de Geração de Trabalho e Renda ( crédito, assessoramento, qualidade de produção, gerenciamento de vendas,acesso consumidores, etc ). A ênfase posta em processos de desenvolvimento e autonomia familiar, ou em seu fortalecimento emancipatório, volta-se à superação do enfoque tutelar e assistencialista presente até então, na política social brasileira ( ex. cestas básicas, ticket leite, etc). Em lugar, busca-se consolidar uma política movida pela lógica do reconhecimento dos direitos sociais e, portanto, da justiça e da equidade A Família ganha um lugar de destaque, central na política pública. Sua inclusão em um cenário de partilha de responsabilidades entre Estado , sociedade civil e iniciativa privada, aliada a processos de descentralização e fortalecimento da gestão local (municipal), desenham as novas tendências na condução da política social para novo século. No Brasil a instituição familiar sempre fez parte integral dos arranjos de proteção social. Sempre se beneficiaram da participação autonomizada e voluntarista da família na provisão de bem-estar de seus membros. A concepção conservadora, encampada pelo ideário neoliberal hegemônico de que a sociedade e a família deveriam partilhar com Estado responsabilidades . O Pluralismo de bem-estar está alicerçada em conceitos : Descentralização, participação, controle social, parceria ou co-responsabilidade, solidariedade, relação das esferas público-privadas, sociedade providência, auto-sustentabilidade. FAMÍLIA E POLÍTICAS PÚBLICAS O Estado e a Família desempenham funções e papéis similares de reprodução e proteção social dos grupos que estão sob sua tutela - regulam, normatizam, impõem direitos de propriedade, poder e deveres de proteção e assistência. Funcionam como “ filtros redistributivos de bem-estar, trabalho e recursos” . ( Souza,2000) Pós-guerra : a efetivação das políticas públicas privilegiam o indivíduo-cidadão. A família seria “substituível” por um Estado protetor de direitos dos cidadãos. 4 Brasil : a família volta a ser pensada como co-responsável pelo desenvolvimento dos cidadãos. Déc. 70/80 - opção das políticas saciais recaiu sobre a mulher no grupo familiar ( programas voltados para habilidades e atitudes para gerência do lar, economia doméstica, planejamento familiar e capacitação para ingresso no mercado de trabalho). Déc.90 - o olhar das políticas públicas volta-se para as crianças na família ( CF 88 e ECA ) “ lugar de criança é na família, na escola e na comunidade” . CENTRALIDADE DA FAMÍLIA NAS POLÍTICAS SOCIAIS As demandas crescentes de proteção social se ampliam e não estão postas apenas por pobres ou desempregados, mas por uma maioria de cidadãos, que se percebem ameaçados e não vislumbram no Estado e no trabalho a capacidade de garantir inclusão e proteção social, superando as novas e complexas configurações da realidade contemporânea ( globalização, transformações produtivas, avanços tecnológicos, etc ). DESAFIOS : •A questão da partilha de responsabilidades na proteção social, face a pobreza persistente, desemprego estrutural, envelhecimento populacional; • A questão da partilha de responsabilidades formativas, face à exacerbação do individualismo, à perda de valores, a menor eficácia dos educadores institucionais ; • O descrédito e o descarte de soluções institucionalizadas de proteção social ( internatos, asilos, manicômios, orfanatos, etc ). Nos últimos anos se observa que principalmente as políticas de Assistência Social e Saúde, ambas de Seguridade, colocam ênfase estratégica em compor com a Família projetos e processos mais efetivos na proteção social. O “Welfare Mix” busca combinar recursos e meios tanto na esfera do Estado como do mercado, das organizações sociais sem fins lucrativos e nas microssilidariedades originárias na família, nas igrejas no local,de modo que as políticas sociais estejam hoje com responsabilidades partilhadas. As políticas públicas descartaram alternativas institucionalizadoras na oferta de proteção a doentes crônicos, idosos, jovens e adultos dependentes ou a crianças e adolescentes abandonados. Tal alteração só foi possível retomando a família e a comunidade como lugares e sujeitos imprescindíveis de proteção social. Nesta direção, as políticas de saúde e de assistência social introduzem serviços de proximidade voltados à família e comunidade. Também as políticas de combate a pobreza elegeram a família e a comunidade. 5 Os diversos programas criados, buscam garantir ao grupo familiar recursos compensatórios ( renda mínima, transferência de renda ) , combinados com outros programas de cunho emancipatórios, voltados à geração de renda ( microempreendimentos, microcrédito ) e programas socioeducativos voltados a ampliação do universo cultural e informacional. Ações públicas conjugadas . A perspectiva emancipatória, vislumbrada nas políticas e propostas nos programas, ainda estão em estágios iniciais e e com um desenvolvimento tímido e descontínuo. Desta forma, a família, é a mediação imprescindível dos processos sociais de inclusão social. No entanto, é preciso atentar para alguns equívocos : • Eleger apenas a mulher na família como porta de relação e parceria; Pensar idealizadamente num padrão de desempenho da Família, visto perpassar diversas formas de expressão, condições de maior ou menor vulnerabilidade afetiva, social, econômica, ou ainda de seu ciclo vital com maior vulnerabilidade, disponibilidade e potencial; • Oferecer apenas assistência compensatória, desenvolvimento da autonomia do grupo familiar. com escasso investimento no Independente das mudanças e alterações substantivas na composição e nos arranjos familiares, a Família é um forte agente de proteção social de seus membros : idosos, dependentes, doentes, crianças, adolescentes e jovens, desempregados, etc. Contudo deve se garantir uma “mão dupla” nas interfaces com a esfera pública. PROGRAMAS SOCIAIS E FAMÍLIA Objetivo Geral : Ampliar os níveis de inclusão social dos membros das famílias no contexto local ( comunitário e da cidade ), fortalecendo o grupo familiar de modo a se autogerir seu processo de desenvolvimento. Objetivos Específicos : Apoiar economicamente as famílias; Garantir a permanência das crianças e dos adolescentes na escola e o progressivo sucesso em seus resultados escolares; Incluir jovens e adultos das famílias nos programas de alfabetização e na qualificação / requalificação profissional; Incluir os adultos em programas de geração de emprego, de renda, de proteção e de fomento a formas cooperativadas de trabalho; Integrar física e socioeconomicamente os núcleos de favelas, nos contextos do bairro e 6 da cidade; Ampliar os vínculos relacionais da família , aumentando suas trocas culturais e de seu acesso a novas informações; Fortalecer o grupo familiar, de modo a gerir seu processo de desenvolvimento e inclusão social de forma autônoma. Bibliografia: CARVALHO, M. C. Família e Políticas Públicas. In: Família : Redes , Laços e políticas Públicas. 2ª ed. São Paulo: Cortez / IEE-PUC-SP, 2005 PEREIRA, P . A . Mudanças estruturais, Política Social e papel da Família : crítica ao pluralismo de bem-estar. In: Política Social, família e juventude : uma questão de direitos. São Paulo : Cortez, 2004