QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE ÁGUA MINERAL DA FONTE E ENVASADA E SOBREVIVÊNCIA MICROBIANA EM ÁGUA MINERAL NATURAL Kátia Teresinha Cabrini1, Edson Aparecido Abdul Nour2 Palavras chave: Água Mineral, Microrganismos, Contaminação O consumo de água mineral é bastante popular em certos setores da população do Brasil. A razão dessa popularidade reside em parte, nas propriedades medicinais e terapêuticas atribuídas à água, mas fundamentalmente, no conceito de elevada pureza associado ao produto(5). A crescente preocupação da população com a saúde, decorrente da poluição progressiva das águas, tornou maior o consumo de água mineral envasada a partir da década de 80 (4). Apesar do consumo de água mineral estar associado à pureza do produto, pode não ser verdadeira a afirmação de que a água mineral apresente qualidade microbiológica superior à das águas de abastecimento municipais, apesar de sua origem em mananciais subterrâneos (8). A qualidade microbiológica das águas consumidas pelos seres humanos é de suma importância, pois a maioria dos enteropatógenos causadores de infecções ao homem são transmitidos principalmente por via oral, através da água e de alimentos contaminados. As doenças de origem hídrica incluem as febres entéricas, salmoneloses, cólera, shigueloses (raras) e agentes virais incluindo os da poliomielite e os da hepatite A (6). Este trabalho tem por objetivo inicial avaliar a qualidade microbiológica de água mineral natural da fonte e envasada, bem como, a sobrevivência de microrganismos em água mineral natural. Dessa forma, numa primeira etapa, avaliou-se a qualidade microbiológica da água mineral natural de uma unidade industrial da região de Piracicaba - São Paulo, Brasil, onde foram analisadas trinta amostras da água mineral diretamente da fonte e trinta amostras da água mineral após o envase em galões de 10 L. A partir dessas amostras, foram realizadas análises para determinação de coliformes totais e Escherichia coli, utilizando-se a metodologia do Sistema Colilert (Tecnologia do Substrato Definido), bem como, análises para determinação de Pseudomonas aeruginosa, estreptococos fecais e Clostridium perfringens, utilizando-se a técnica dos tubos múltiplos. A determinação de bactérias heterotróficas foi realizada através da utilização da técnica do plaqueamento em profundidade (Pour Plate). As metodologias utilizadas constam do APHA(1) e CETESB, 1993(3). Quanto aos microrganismos pesquisados, seguiu-se os parâmetros bacteriológicos exigidos pela legislação brasileira vigente, ou seja, Resolução nº 54/2000 do Ministério da Saúde(2). Das trinta amostras de água coletas diretamente da fonte, apenas duas apresentaram-se contaminadas por coliformes totais e, em vinte delas, foram detectadas a presença de bactérias heterotróficas, cuja contagem variou de 1,0 UFC/mL de amostra a 6,0 x 102 UFC/mL de amostra. Os demais microrganismos pesquisados não foram detectados. Com relação às amostras de água mineral coletadas após o envase, das 30 amostras analisadas, oito apresentaram-se contaminadas por coliformes totais e uma apresentou-se contaminada por Pseudomonas aeruginosa. Em vinte e oito amostras verificou-se a presença de bactérias heterotróficas, cuja contagem variou de 2,0 UFC/mL de amostra a 5,6 x 1 Doutoranda, bióloga, DSA/FEC/UNICAMP e COTIL/UNICAMP; [email protected] Orientador, DSA/FEC/UNICAMP; [email protected] 2 103 UFC/mL de amostra. As bactérias Escherichia coli, estreptococos fecais e Clostridium perfringens não foram detectadas. Pelos resultados obtidos nessa primeira etapa da pesquisa, verificou-se uma excelente qualidade microbiológica da água mineral obtida diretamente da fonte da unidade industrial pesquisada, uma vez que, na grande maioria das amostras não se detectou bactérias que indicariam riscos à saúde pública ou que pudessem diretamente causar danos à saúde do consumidor. De forma geral, a água mineral após o envase também demonstrou qualidade microbiológica satisfatória. Contudo, maiores cuidados devem ser tomados no que diz respeito às condições higiênicas da unidade industrial, a fim de se eliminar a presença de coliformes totais e Pseudomonas aeruginosa na água mineral envasada. A segunda etapa da pesquisa, referente à análise da sobrevivência de microrganismos em água mineral, encontra-se em andamento e tem por objetivo avaliar a sobrevivência das bactérias Escherichia coli; Enterococcus faecalis (estreptococos fecais); Pseudomonas aeruginosa; Clostridium perfringens e bactérias heterotróficas em água mineral natural acondicionadas em embalagens de PET (Polietileno Tereftalato) e vidro, sob diferentes parâmetros de armazenamento, por um período de até 120 dias. Para cada microrganismo analisado procede-se, inicialmente, a inoculação de alíquotas da cultura pura do microrganismo em questão, em 1000 mL de água mineral acondicionadas nas embalagens de PET e vidro (no caso das bactérias heterotróficas avalia-se a sobrevivência dessas bactérias naturalmente presentes em água mineral, utilizando-se o mesmo volume de água e as mesmas embalagens). Seis embalagens de PET são utilizadas para a pesquisa de cada microrganismo (duas embalagens mantidas, após a inoculação do microrganismo em estudo, sob refrigeração à temperatura de 7 graus Celsius; duas mantidas à temperatura ambiente protegidas da luz natural, através do revestimento dessas embalagens com folhas de alumínio e duas mantidas à temperatura ambiente sob exposição da luz natural) bem como, dois recipientes de vidro de 2.000 mL previamente esterilizados mantidos à temperatura ambiente sob exposição da luz natural, após o inóculo do microrganismo em estudo. A partir do conteúdo de cada uma dessas embalagens, realizam-se diluições em série da amostra em água peptonada esterilizada, até se obter a diluição decimal desejada. Em seguida, para a determinação da sobrevivência de Escherichia coli, Enterococccus faecalis, Clostridium perfringens e bactérias heterotróficas, são realizados plaqueamentos das amostras puras e à partir das diluições desejadas, em meios de cultivos específicos para cada determinação microbiana em questão, de acordo com metodologias padrões (7). Particularmente, no acompanhamento da sobrevivência da bactéria Pseudomonas aeruginosa utiliza-se a metodologia dos tubos múltiplos contida no APHA(1). Os resultados obtidos até o presente momento, referentes à sobrevivência microbiana em água mineral (exceto para a bactéria Clostridium perfringens, cujas análises ainda não foram realizadas), demonstram que, de forma geral, os microrganismos analisados sobrevivem por períodos prolongados em água mineral. Todos os microrganismos analisados apresentaram contagens elevadas até o último período de análise (120 dias), quando mantidos sob refrigeração em embalagens de PET. Parece haver alguma influência da luz na sobrevivência de certas bactérias, como Escherichia coli e Enterococcus faecalis, cujas sobrevivências sob esse parâmetro, não ocorreram por período superior à 30 dias, independente do tipo de embalagem. Referências bibliográficas (1) AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Microbiological examination of water. In: STANDARD METHODS FOR THE EXAMINATION OF WATER AND WASTEWATER. 20th edition, Washington. APHA, AWWA, WEF, 1998. (2) BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução nº 54 de 15 de junho de 2000. In: DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO. Brasília, 19 de junho de 2000. (3) CETESB. Clostridium perfringens. Determinação em amostras de água pela técnica dos tubos múltiplos - método de ensaio. São Paulo, 1993 (NT. L5.213). (4) COELHO, D.L.; PIMENTEL, I.C.; BEUX, M.R. Uso do método do substrato cromogênico para quantificação do número mais provável de bactérias do grupo coliforme em águas minerais envasadas. Boletim do Centro de Pesquisa e Processamento de Alimentos, v.16, n.1, p. 45-54, jan./jun. 1998. (5) EIROA, M.N.U.; JUNQUEIRA, V.C.A.; SILVEIRA, N.F. de A. Avaliação microbiológica de linhas de captação e engarrafamento de água mineral. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.16, n.2, p. 165-169, jul./set. 1996. (6) LEITE, C.C.; REGO, F.L.; SILVA, M.D. da.; SANT'ANNA, M.E.B.; ASSIS, P.N. de. Perfil microbiológico das águas minerais sem gás analisadas no laboratório de microbiologia de alimentos da faculdade de farmácia - UFBA. Higiene Alimentar, v. 13, n. 61, p.42-43, abr./maio 1999. (7) VANDERZANT, C.; SPLITTSTOESSER, D.F. Compendium of methods for the microbiological examination of foods. American Public Health Association. 3 th edition, Washington. APHA, 1992, 1219p. (8) WENDPAP, L.L.; DAMBROS, C.S.K.; LOPES, V.L.D. Qualidade das águas minerais e potável de mesa, comercializadas em Cuiabá - MT. Higiene Alimentar, v.13, n.64, p.40-44, set. 1999. Agradecimentos: Professor Doutor Cláudio Rosa Gallo – ESALQ/USP