Preços e clientes Jorge, Fauzi Timaco & Morante, Antonio Salvador. Formação de preços de venda. São Paulo: Atlas, 2009. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge O conceito de valor econômico Segundo Moreira e Jorge (2009), “durante muito tempo, o conceito de valor econômico foi alvo das mais acirradas discussões entre os teóricos da análise econômica. Para uns, o valor de um bem seria determinado pelo trabalho aplicado na sua obtenção. Esse é o enfoque da oferta. Para outros, o valor econômico seria determinado pela escassez relativa dos bens, na sua utilidade nas escalas de preferência dos indivíduos. Esse é o enfoque da procura”. Essa diferenciação conceitual nos remete a um valor de troca – no caso da oferta – e a um valor de uso – no caso da demanda. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge Precificar um produto a partir do seu valor de troca é o que faz, por exemplo, um vendedor de refrigerantes numa praia abarrotada de potenciais consumidores. Ele, certamente, cobra um preço maior pelo fato de estar ali, no exato momento em que o consumidor está mais disposto a consumir o seu produto. Mas esse ofertante não está sozinho. Ele é acompanhado por outras dezenas de comerciantes desse cobiçado produto que, naquele particular momento e local, oferece uma alta lucratividade. O consumidor, percebendo isso, se vale do “excedente do consumidor”: ele sabe que, na disputa entre ofertantes e consumidores, o preço que equilibrará os interesses de um e de outro irá proporcionar um “ganho” para todos aqueles que estariam dispostos – e aptos – a consumirem tal produto a um preço maior. Esse “ganho” é o excedente do consumidor. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge Por sua vez, o ofertante também se valerá do “excedente do ofertante” que, analogamente, representa um preço de equilíbrio a nível maior do que aquele que ele estaria disposto – e apto – a oferecer seu produto no mercado, proporcionando, assim, um “ganho” a esse ofertante. Esse “ganho” é o excedente do ofertante. O preço de equilíbrio entre a oferta e a procura garante, portanto, excedente do consumidor equivalente ao excedente do ofertante. A esse preço, a quantidade oferecida no mercado é igual à quantidade demandada nesse mesmo mercado. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge Um valor econômico é determinado, sobretudo, pelas alternativas disponíveis aos clientes. Mesmo que numa lanchonete a 30 metros da praia se consiga pagar um preço menor pelo refrigerante, o consumidor está disposto a pagar um pouco mais por aquele que lhe é oferecido ali onde ele se localiza, porque se trata de uma “oferta de produto diferenciada”. E se esse ambulante da praia encontrasse outras formas de diferenciação do seu produto, devidamente valorizadas pelo seu potencial consumidor, ele certamente venderia mais para o mesmo cliente e cativaria outros consumidores do seu particular segmento de mercado. Por exemplo, oferecendo copos plásticos devidamente protegidos. Ou mesmo guardanapos de papel. E, quem sabe, também alguns pacotinhos de amendoim japonês expostos adequadamente em sua loja ambulante. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge Tem-se, então, que “o ‘valor econômico’ de um produto [...] é o preço da melhor alternativa para o cliente (chamado de valor de referência) mais o valor de tudo quanto diferencie o produto dessa alternativa (chamado de valor de diferenciação)”, conforme Nagle e Holden (2003). Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge Figura 4.1 Análise de valor econômico Valor de diferenciação negativo Valor de diferenciação positivo Valor de referência Formação de Preços de Venda Valor de diferenciação é o valor para o cliente (positivo ou negativo) de quaisquer diferenças entre a oferta de um fornecedor e o produto de referência. Valor econômico total Valor de referência é o custo (ajustado para diferenças em unidades) do produto concorrente que o cliente vê como a melhor alternativa à oferta de um fornecedor. [email protected] Fauzi T Jorge A percepção do valor O efeito preço de referência Você já se deu conta de que, em uma loja de calçados, mesmo que você indique expressamente ao vendedor que gostaria de provar aquele sapato na vitrina, ele sempre traz outros pares? E qual é o que ele apresenta primeiro e insiste para você provar? Um modelo mais caro do que aquele que você escolheu, não é mesmo? Isso se ele for um bom vendedor de sapatos, é claro. Essa é uma das muitas táticas utilizadas em vendas, conhecida por “venda de cima para baixo”. Aplica-se também a óculos, veículos, malas, roupas e até mesmo imóveis. Assim se constrói o “preço de referência”. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge A percepção do valor (continuação) O efeito comparação difícil A percepção de valor é, por vezes, adiada em função da superposição de outros atributos do produto usualmente adquirido. É o caso de alguns remédios não genéricos, por exemplo, que invocam uma confiança na marca. Os consumidores continuarão a pagar um preço mais alto pela segurança que sua marca habitual oferece: essa confiança. Também existem casos em que o preço é de difícil comparação entre produtos similares. É o caso de vendas via internet, que, além do preço do produto, também cobram frete, processamento e outros encargos. Ou produtos que, aparentemente iguais externamente, apresentam pesos diferentes em embalagens com forma e tamanho diferentes. Nagle e Holden citam o caso de estudo de apreçamento unitário que evidenciou que “a participação de mercado de marcas mais baratas cresceu substancialmente depois de as lojas terem ordenado as marcas pelos seus preços unitários”. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge A percepção do valor (continuação) O efeito custo de mudança O proprietário de uma frota de ônibus da marca “A” pode pensar em adquirir ônibus da marca “B”? Quais os custos envolvidos? Estoque de peças de reposição, treinamento do pessoal de oficina, pesquisa de custos de componentes vitais fabricados por terceiros, como pneus, por exemplo, levantamento de dados, na prática, sobre consumo e manutenção e tantos outros, não é mesmo? Por isso, é comum acontecer de o concorrente entrante – a marca “B”, no caso – oferecer um substancial desconto nos seus preços, tornando o seu produto muito atraente nesse particular aspecto. Até mesmo determinados serviços executados por profissionais, como contabilidade, advocacia e mesmo cuidado com os filhos são relativamente cativos. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge A percepção do valor (continuação) O efeito preço-qualidade Esse efeito indica que os compradores são menos sensíveis a preço de um produto porque, para eles, o preço mais alto sinaliza melhor qualidade. E é claro que “qualidade”, aqui no caso, é um conceito igualmente subjetivo. A qualidade de um renomado veículo de passeio pode não ser nada significativa para um consumidor apaixonado por utilitários. Nesse caso, o importante é o reflexo pessoal sobre o consumidor que tais objetos de desejo despertam nos outros. Em outras palavras, a aquisição de um produto reconhecidamente caro dá prestígio ao seu adquirente, porque ele comunica aos outros que tem condições de adquirir tal bem. É por isso que o prestígio da loja interessa no momento em que se está comprando um presente para alguém, mas é irrelevante quando se trata de um item para uso pessoal. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge A percepção do valor (continuação) O efeito gasto Esse efeito deve ser analisado sob duas óticas: a de uma empresa que vai empreender um gasto e a ótica de um consumidor doméstico. No caso da empresa, interessa o volume desse gasto como determinante da escolha pela melhor opção, ou seja, o tamanho do gasto. No ambiente doméstico, é a relação entre o gasto e a renda, ou seja, a proporção do gasto em relação à renda disponível, que irá nortear as avaliações a serem empreendidas no aspecto preço como determinante da escolha. É fácil perceber que, quanto maior o gasto, maior será o interesse em obter vantagens de preço. Mesmo o comprador doméstico, que normalmente faz pequenas compras em lojas de conveniência, geralmente mais caras do que um supermercado, não deixa de buscar alguma vantagem de preço em suas compras mensais. Isso demonstra sua sensibilidade a preço, nesse particular aspecto. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge A percepção do valor (continuação) O efeito benefício final Para Nagle e Holden, “a relação de uma compra com um benefício maior é a base do efeito benefício final, que pode ser dividido em duas partes: a demanda derivada e a proporção do preço”. A primeira parte diz respeito à relação entre o benefício final desejado e a sensibilidade a preço do comprador quanto a um dos produtos em particular, que contribui para a obtenção do benefício final. “Quanto mais sensíveis forem os compradores ao custo do benefício final, mais sensíveis eles serão ao preço dos produtos que contribuem para tal benefício”, dizem esses autores. O custo proporcional do preço, por sua vez, refere-se à porcentagem do custo total do benefício final representada pelo preço do produto ou serviço. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge A percepção do valor (continuação) O efeito custo compartilhado Responda depressa: o que é mais caro, um curso de graduação ou um MBA? Se você respondeu que é o MBA, acertou. As escolas sabem que uma boa parte da anuidade será paga pelos empregadores dos executivos que frequentarão tal curso. Se o consumidor sabe que só uma parcela do preço será paga por ele, quanto menor for essa parcela, menos sensível a preço ele será. As despesas de viagem e de representação, como um jantar num restaurante fino, quando são ressarcidas pela empresa, tornam o consumidor menos sensível a preço. Anuidades escolares, consultas médicas, aluguéis de veículos e de imóveis se encaixam nessa sensibilidade a preço, quando seu custo é parcialmente ou integralmente coberto pela empresa. O efeito de reembolso parcial ou total na sensibilidade a preço é chamado de efeito custo compartilhado. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge A percepção do valor (continuação) O efeito justiça Cada consumidor imagina o que seja um preço “justo” ou “razoável” com base no contexto de sua compra. Diversos experimentos e pesquisas realizadas apontam para o fato de que as percepções de justiça são subjetivas e, por isso, mais gerenciáveis do que se poderia imaginar. Nagle e Holden citam o caso em que “as pessoas deviam imaginar-se deitadas em uma praia, sedentas por sua marca favorita de cerveja. Um amigo estava caminhando até um local próximo e traria cerveja se o preço não fosse alto demais. Cada pessoa foi solicitada a especificar a quantia máxima que pagaria. Metade das pessoas foi informada de que o amigo visitaria um hotel de lazer luxuoso e a outra metade, de que ele iria a uma pequena e mal conservada mercearia. Embora as pessoas não fossem pessoalmente ao local de compra (ou aproveitar das amenidades dele), o nível mediano de preço daqueles que esperavam que a cerveja viesse do hotel – $ 2,65 – foi muito maior do que o preço mediano aceitável por aqueles que esperavam que ela viesse da mercearia – $ 1,50”. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge A percepção do valor (continuação) O efeito moldura Para entender esse efeito, vamos buscar a explicação na teoria prospectiva, uma linha de pesquisa que oferece inúmeras implicações importantes para o gerenciamento da sensibilidade a preço. Segundo essa teoria, “as pessoas colocam a decisão de compra dentro de uma ‘moldura’ em suas mentes, como um pacote de ganhos e perdas. [...] O efeito moldura estabelece que os compradores são mais sensíveis a preço quando veem o preço como uma ‘perda’ em vez de um ‘ganho’ renunciado, e que eles são mais sensíveis a preço quando o preço é pago separadamente, e não como parte de um pacote”. • Posto A: vende gasolina a $ 1,60 o galão [1 galão = 3,78541178 litros] e dá um desconto de $ 0,10 por galão se o cliente pagar em dinheiro. • Posto B: vende a gasolina a $ 1,50 o galão e cobra um acréscimo de $ 0,10 se o cliente pagar com cartão de crédito. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge Gráfico 4.1 Função de valor da teoria prospectiva Valor + Função valor A Perdas Ganhos Ponto de referência B Valor - Fonte: Adaptado de Nagle e Holden (2003) Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge Segmentação de clientes pela percepção de valor Finalizando esse capítulo, que tal desenvolver uma técnica simples para segmentar seus clientes com base no que eles percebem em relação a valor e em relação àquilo que Nagle e Holden chamaram de “dor do preço”? Vamos, então, iniciar esse tópico classificando os diversos efeitos aqui vistos em cada um desses dois grandes eixos, ou seja, o valor percebido das diferenças de um produto e a dor percebida do preço: Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge Quadro 4.1 Classificação dos fatores de sensibilidade a preço Valor percebido das diferenças de um produto Dor percebida do preço Dimensão Horizontal Dimensão Vertical Efeito preço de referência Efeito tamanho do gasto Efeito dificuldade de comparação Efeito proporção do custo do benefício final Efeito importância do benefício final Efeito justiça percebida do preço Efeito custo de mudança Efeito moldura do preço Efeito do preço sobre as percepções de qualidade Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge Baixa Dor do preço Alta Figura 4.2 Segmentação de clientes pela percepção de valor Compradores de preço Compradores de valor Compradores de conveniência Compradores de relacionamento Baixa Alta Valor da diferenciação Fonte: Adaptado de Nagle e Holden (2003) Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge E agora uma advertência àqueles que participam diretamente da formulação de estratégia e tática de preços em uma organização: a precificação não visa apenas clientes satisfeitos, que comprariam toda a produção possível. A precificação estratégica visa estabelecer preços que tragam mais lucro para a organização, por meio da captura de mais valor e não necessariamente vendendo mais. Deve-se, portanto, administrar adequadamente o conflito potencial entre duas áreas da organização: a de marketing & vendas – que deseja maior participação de mercado – e a de finanças – que busca maximizar o retorno para o acionista. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge Ainda no bojo destas advertências, é preciso considerar que a formação de preços de venda baseada no cliente apresenta dois problemas potenciais, conforme apontados por Nagle e Hogan (2007): O primeiro diz respeito à suposição de que os compradores são honestos na sua disposição de pagar determinados preços pelos produtos de que necessitam e, com base nisso, são formulados tais preços, em detrimento do verdadeiro valor para o comprador que o produto oferece. Mas é sabido que, numa negociação, as necessidades do comprador nem sempre são colocadas de forma transparente e honesta, com receio de que o vendedor se aproprie dessa informação para tirar proveito, aumentando seus preços. Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge O segundo problema diz respeito à própria atividade de vendas e marketing de uma organização. Seu trabalho “não é simplesmente processar pedidos a qualquer preço que os clientes estejam dispostos a pagar, mas, ao contrário, é aumentar a disposição dos clientes a pagar um preço que reflita melhor o verdadeiro valor do produto”. E recomendam esses autores: “Esqueça o que os clientes que nunca usaram seu produto estão inicialmente dispostos a pagar por ele! Em vez disso, entenda o valor que o produto tem para os clientes satisfeitos e comunique aos outros. Preço baixo nunca substitui um esforço adequado de marketing & vendas.” Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge Fim do programa Boas férias!! Formação de Preços de Venda [email protected] Fauzi T Jorge