Abdome Agudo no Idoso R2 Maíra Fernandes Almeida Dra. Valéria Objetivos: Mostrar a importância dessa condição clínica nos pacientes dessa faixa etária Mostrar as dificuldades no diagnóstico Mostrar as especificidades epidemiológicas e na apresentação clínica de algumas condições específicas Atentar os colegas para a necessidade de mais estudos que envolvam esse segmento populacional para melhor abordagen diagnóstica Introdução: A população está envelhecendo rapidamente 25% dos pacientes atendidos em unidades de urgência nos EUA tem mais de 50 anos Dor abdominal aguda é uma queixa comum entre idosos Introdução: 50% necessitam internação hospitalar 30% necessitam intervenção cirúrgica Intervenção cirúrgica ocorre 2x mais que em pacientes mais jovens Tempo de internação 20% mais prolongado Taxa de mortalidade geral de aproximadamente 10% Taxa de mortalidade nas cirurgias abdominais de urgência de 15-34% Introdução: Forma de apresentação diferente A acurácia no diagnóstico é menor: aumento da morbimortalidade Formação médica deficiente em atendimento de urgência de idosos Pouca bibliografia Desafios ao diagnóstico: Alterações fisiológicas: Função alterada de linfócitos T Alteração de barreiras físicas à infecção com pele e mucosas Percepção alterada da dor Apresentação mais tardia Desafios ao diagnóstico: Anamnese: Dificuldades em colher uma história adequada: Hipoacusia Déficits de memória Alterações agudas ou crônicas do estado mental Indiferença Características da dor Comorbidades Caráter Localização: origem embriológica Início Irradiação Intensidade Duração e progressão Fatores associados Fatores de melhora e piora Episódios prévios Desafios ao diagnóstico: Medicações: Podem mascarar ou estar associada à patologia: Analgésicos comuns: diminuem a febre AINEs: redução da febre, associação com úlcera péptica Corticóides: alteração da contagem leucocitária, alteração da resposta inflamatória, úlcera péptica Betabloqueadores: mascarar a taquicardia reflexa Anti-colinérgicos: retenção urinária e íleo Opióides: mascaram a dor Digoxina, colchicina e metformina: dor abdominal Antibióticos: dor abdominal, náuseas e vômitos Desafios ao diagnóstico: Exame físico: Aspecto geral Sinais vitais: PA: normal pode significar hipotensão em pacientes previamente hipertensos P: uso de betabloq., doença do nó sinusal Fr: taquipnéia pode estar associada à dor ou acidose metabólica Temperatura: febre é menos comum, normotermia ou hipotermia Desafios ao diagnóstico Exame físico: ACV: ritmo de FA?, AR Abdome: Cicatriz cirúrgica, hérnias Ausculta Tensão Distenção Organomegalias Massas palpáveis Equimoses Neurológico: doença cerebrovascular? Extremidades: TVP prévia?, DOAP? Desafios ao diagnóstico: Alterações laboratoriais: Exames podem estar normais ou incompatíveis Leucocitose pode estar ausente ( 25% dos pacientes com apendicite podem não ter leucocitose) Hiperamilasemia: pancreatite, isquemia intestinal Hematúria: nefrolitíase, ITU, apendicite, diverticulite, AAA roto ECG: afastar IAM Desafios ao diagnóstico: Exames de imagem: Rx de abdome Screening Sinais de obstrução Pneumoperitonio Calcificação aórtica Colecistite enfisematosa Ultrassom : Escolha para trato biliar e patologia pélvica Pode ser realizado à beira do leito Limitações: obesidade, distenção gasosa, operador dependente Desafios ao diagnóstico: Exames de imagem: Tomografia: Estudo 2004: TC alterou o diagnóstico em 45% dos casos, necessidade de internação em 25%, introdução de antbioticoterapia em 20%, indicação cirúrgica em 12%. Aumentou o índice de diagnóstico de certeza de 36% para 77% Alta sensibilidade para perfuração intestinal, apendicite, AAA Angiografia: Suspeita de isquemia mesentérica Causas específicas: Obstrução intestinal: Intestino Delgado: 2ª causa de alta inadequada Mortalidade 14-35% Causas: Aderências (50-70%) Hérnias encarceradas (15-30%) Íleo biliar Obstrução intestinal: Intestino Delgado: Quadro clínico: Dor abdominal difusa em cólica Náuseas e vômitos Obstipação/ diarréia Exame físico: RHA alterados Distenção Desidratação Sensibilidade difusa Massa mal definida Peritonite (perfuração) Obstrução intestinal: Intestino Delgado: Exames de imagem RX TC Obstrução intestinal: Obstrução intestinal: Íleo biliar: Cálculo maior que 2,5cm impactado no íleo terminal Quadro clínico: Obstrução de delgado Pneumobilia Cálculo biliar 50% tem história prévia de colelitíase Mais comum em mulheres Diagnóstico tardio Mortalidade de 25% Obstrução intestinal: Íleo biliar: Obstrução intestinal: Intestino Grosso Menos comum que obstrução de I. Delgado Aumento proporcinal da incidência com a idade Mortalidade de aproximadamente 40% Causas: Câncer coloretal Diverticulite Volvulo Obstrução intestinal: Intestino Grosso: Quadro clínico: Início mais incidioso Clássico: Dor abdominal Vômitos fecalóides Obstipação severa 1/5 apresentam diarréia Apenas 50% queixam obstipação ou vômitos Desidratação Questinar sobre: perda de peso, alteração do hábito intestinal ou calibre das fezes, fadiga Obstrução intestinal: Intestino Grosso: Exame físico: Semelhante à obstrução de Delgado Distenção mais importante Obstrução intestinal: Intestino Grosso: Exames de imagem: Rx Tc Obstrução intestinal: Intestino Grosso: Doenças do trato biliar Principal causa de cirurgia abdominal de urgência em pacientes idosos A incidência de colelitíase aumenta com a idade: Menor resposta à colecistoquinina Diminuição da motilidade da vasícula Aumento do diâmetro do ducto biliar comum Doenças do trato biliar Colecistite aguda: Quadro clínico: Estudo com 168 pacientes com mais de 65 anos: 5% dos pacientes não apresentaram dor 40% não apresentaram náuseas e vômitos > 50% não tiveram febre 41% não tiveram alteração da contagem leucocitária 13% além de contagem leucocitária normal não apresentavam alterações de enzimas hepáticas Doenças do trato biliar Colecistite aguda: Como fazer diagnóstico diagnóstico????? Alto índice de suspeição clínica Uso mais liberal de exames de imagem Escolha: USG de abdome Lembrar que a idade também aumenta o risco de colecistite acalculosa!!!!!!!!!! Doenças do trato biliar Complicações: Ocorrem em mais de 50% dos idosos com colecistite aguda: Colangite ascendente Perfuração de vesícula / peritonite biliar Colecistite enfisematosa Íleo biliar Pancreatite biliar Coledocolitíase Doenças do trato biliar Colangite ascendente: Raramente ocorre antes dos 40 anos Tríade de Charcot Pêntade de Reynold – 14% Doenças do trato biliar Doenças do trato biliar Colecistite enfisematosa: Pancreatite: Aumento da incidência com a idade Aumento da mortalidade: 20-25%, 40% após os 70 anos, comparado a 8-10% na população geral Causa mais comum: biliar 65-75% dos casos Pancreatite: Quadro clínico Dor apigástrica com irradiação para o dorso Náuseas e vômitos Desidratação SIRS 10% podem se apresentar inicialmente apenas com hipotensão e alteração do estado mental!!!!!!!!!!!!!!! Pancreatite: Diagóstico: Aumento da amilase (3-5X o valor de referência) Cuidado com aumentos moderados podem significar isquemia ou perfuração intestinal!!! Aumento da lipase: mais específico Pancreatite: E a TC de abdome??? Maior risco de pancreatite necrotizante Atentar para sinais de sepse Não esperar febre!!!!!!!!!!! Doença Ulcerosa Péptica Causa de dor abdominal em 16% dos pacientes idosos Fatores de risco: Tabaco AINEs H. pylori Doença Ulcerosa Péptica Quadro clínico: Maioria inespecífico, 30% assintomáticos (8% nos mais jovens) O primeiro sinal pode ser uma complicação como perfuração Outras complicações: sangramento, obstrução, úlcera terebrante Doença Ulcerosa Péptica Perfuração: Mortalidade de 30% na população geriátrica comparada a 10% na população geral Dor súbita em epigástrio Rigidez abdominal pode estar ausente em até 80% dos casos RX de abdome: presença de ar livre na cavidade peritonial Normal em até 40% dos casos Doença Ulcerosa Péptica Doença Diverticular Incidência aumenta com a idade: 50% em pacientes com mais de 70 anos 80% em pacientes com mais 85 anos Quadro clínico: Doença diverticular dolorosa Diverticulite Sangamento Doença Diverticular Diverticulite: Inflamação com ou sem perfuração de divertículos Quadro clínico: Dor em FIE, aguda e intensa Náuseas e vômitos Distensão Massa palpável Febre Leucocitose Piúria e hematúria Doença Diverticular Divertculite: Complicações: aumentam muito a mortalidade Abscesso Obstrução intestinal Perfuração Fístula Sepse Diagnóstico: Quadro clínico + TC Doença Diverticular: Apendicite: Mais comuns em pacientes mais jovens Terceira causa de indicação cirúrgica nessa faixa etária Mortalidade de 4-8% (<1% na população geral) 50% dos óbitos por apendicite ocorrem nesta faixa etária Diagnóstico inicial incorreto em 54% dos casos Apendicite: Quadro clínico: Apresentação arrastada 1/5 se apresentam com mais de 3 dias de sintomas 5-10% com mais de uma semana Menos de 1/3 apresentam quadro clínico típico (febre, leucocitose,anorexia, dor em FID) 50% não apresentam febre 50% não apresentam DB Apendicite: Diagnóstico: Alto grau de suspeição clínica Avaliação precoce da equipe cirúrgica Exames de imagem: Uso de TC deve ser maior nesses pacientes Catástrofes vasculares: Ruptura de aneurisma de aorta abdominal (AAA) : 13ª causa de óbito nos EUA Mortalidade extremamente alta (~70% em alguns estudos) Quadro clínico: Tríade clássica: 25-50% dos casos Dor abdominal Hipotensão Massa pulsátil 65% não apresentam hipotensão ( tamponamento) Catástrofes vasculares: Ruptura de AAA: Erro diagnóstico em 30-50% Diagnóstico diferencial: Cuidado com cólica nefrética que se inicia nesta faixa etária!!!!! Abdome agudo perfurativo SCA (síncope) Catástrofes vasculares: Ruptura de AAA: Diagnóstico: Pacientes estáveis: TC Pacientes instáveis: USG à beira do leito Tratamento: Cirúrgico: de urgência em pacientes estáveis Idade avançada não é contra-indicação A mortalidade não se altera com a idade: é igualmente fatal em pacientes não submetidos à cirurgia Catástrofes vasculares: Isquemia Mesentérica: Diagnóstico muito difícil Elevada mortalidade 1% das causas de dor abdominal Quatro entidades: Embolia da artéria mesentérica superior (MAS) Trombose da AMS Trombose da veia mesentérica superior (VMS) Isquemia não oclusiva Catástrofes vasculares: Isquemia mesentérica: Embolia da AMS: Fatores de risco: fibrilação atrial- 50% Doença valvar Aneurisma de ventrículo Trombo em ventrículo, pós IAM Trombose da AMS: Angina mesentérica Perda de peso Doença aterosclerótica conhecida Catástrofes vasculares: Isquemia mesentérica: Trombose de VMS: Apresentação mais arrastada Associação com estados de hipergoagulabilidade 50% tem história familiar de TVP/ TEP Isquemia não oclusiva: Hipoperfunsão por: SEPSE Desidratação grave ICC Catástrofes vasculares: Isquemia mesentérica: Diagnóstico: Sinais peritoniais: tardios (necrose transmural) Dor abdominal desproporcional aos achados do exame físico Laboratório: inespecífico Leucocitose Acidose metabólica Aumento de lactato hiperamilasemia Catástrofes vasculares: Isquemia mesentérica: Imagem: RX TC Angiografia: padrão ouro Uso precoce foi o único fator associado à redução da mortalidade Tratamento: cirúrgico Causas extra-abdominais IAM Pneumonia Causas endocrinológicas Herpes zoster Porfiria Efeito de medicações Patologias ginecológicas e genitourinárias Conclusões: Pela dificuldade no diagnóstico a abordagem inicial desses pacientes deve ser sistematizada Apresentação atípica e ausência de alterações ou alterações incompatíveis em exames laboratoriais devem ser esperadas Diagnóstico diferenciais devem ser pensados amplamente Exames de imagem devem ser solicitados de forma mais liberal Equipe cirúrgica deve ser consultada precocemente