Conceição de Maria Ferreira Luz Garcez

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Conceição de Maria Ferreira Luz Garcez
Código ULHT: 2140 0636
Disciplina: Tecnologias Educacionais e Metodologias do Ensino Superior
Professor Doutor Vítor Duarte Teodoro
Metodologias Ativas de Ensino
2015
METODOLOGIAS ATIVAS DE ENSINO
No Brasil, os registros sobre as metodologias de ensino e aprendizagem evidenciam a
utilização dos modelos tradicionais onde o professor detém o conhecimento e os educandos se
enfileiram em sala de aulas em posição para receber conteúdos prontos, quase sempre sem
questioná-los, e em muitos casos com a clara intenção de conseguir a aprovação para o próximo
nível de ensino. Esse modelo se caracteriza basicamente pela transferência do conhecimento do
professor para o educando (retratado na figura abaixo).
Autor: desconhecido
A busca, porém por uma metodologia mais adequada e que estimulasse o
desenvolvimento do educando também fez e faz parte das preocupações de vários educadores
brasileiros muitos deles embalados pelos ideais de Paulo Freire cujo método enfatiza a relação
dialógica entre professor-educando, escola-comunidade provocando um novo despertar nos
atores sociais do processo ensino-aprendizagem.
Defendia como objetivo da escola ensinar o educando a "ler o mundo" para poder
transformá-lo propondo uma nova prática de sala de aula onde a criticidade dos educandos
pudesse ser desenvolvida, Freire se opõe ao ensino oferecido pela maioria das escolas, que ele
qualificou de educação bancária, alienante. Para ele “ensinar não é transferir conhecimento, mas
criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.
Esta teoria mesmo sendo referência em grande parte dos estudos sobre métodos
educacionais no Brasil continua sendo apenas uma “referencia”, pois a prática revela um
distanciamento com relação aos discursos e os ideais longamente discutidos em congressos,
seminários, trabalhos científicos e tantos outros encontros de educadores. Assim, cabe-nos
questionar o que nos impede de por em prática o que acreditamos ser uma saída para a
formação de sujeitos críticos e capazes de produzir transformações positivas em sua realidade,
na sociedade? Será que a nossa própria formação tradicional e reprimida é que nos impede de
levarmos em frente este processo transformador? Será que somos mais um a engrossar a
fileiras daqueles que apenas proferem discursos politicamente corretos e na prática estamos
sempre apontando culpados?
Reconhece-se que a mudança de rumo, de processo, no caso específico, das
metodologias de ensino aprendizagem a muito enraizadas é árdua porque significa uma ruptura
com o modelo tradicional de ensino-aprendizagem consolidado a gerações em nossa sociedade,
e em nós.
Araújo (2011 apud Barbosa and Moura 2013) resume o dilema da educação atual na
necessidade de reinventa-la considerando que o modelo tradicional de escola, consolidado no
século XIX, “tem agora, também, de dar conta das demandas e necessidades de uma sociedade
democrática, inclusiva, permeada pelas diferenças e pautada no conhecimento inter, multi e
transdisciplinar, com a que vivemos neste início de século 21”
Partindo deste pressuposto, Barbosa and Moura (2013), segue analisando o cenário
educacional tomando por base os cursos técnicos no Brasil afirmando que o modelo tradicional
de ensino está cada vez mais afastado das escolas atuais onde os educandos, a escola e a
sociedade buscam novos caminhos que lhe permitam maior eficiência e eficácia da
aprendizagem, assim conclui que, a escola, como ela é hoje, tem poucas chances de
sobrevivência nas próximas décadas.
Barbosa and Moura (2013) defendem a metodologia ativa como uma alternativa a
metodologia tradicional por entender que mudanças por decreto não inova conteúdo, não
capacita professores em novos métodos de ensino, nem reestrutura as escolas adequadamente
de modo a estimular uma nova forma de tratar os conteúdos.
Hoje, porém, podemos dizer que esta ruptura com o modelo tradicional passou a ser alvo
de várias escolas, não só o ensino técnico, e não só no Brasil a partir da adoção das chamadas
metodologias ativas. Segundo Mitre et al. 2008, metodologia ativa de ensino:
É uma concepção educativa que estimula processos de ensinoaprendizagem crítico-reflexivos, no qual o educando participa e se
compromete com seu aprendizado. O método propõe a elaboração de
situações de ensino que promovam uma aproximação crítica do educando
com a realidade; a reflexão sobre problemas que geram curiosidade e
desafio; a disponibilização de recursos para pesquisar problemas e soluções;
a identificação e organização das soluções hipotéticas mais adequadas à
situação e a aplicação dessas soluções.
Nesse sentido para Mitre et al. (2008), a metodologia ativa possui duas características
marcantes, o problema e a problematização. Na primeira, o docente oferece aos educandos um
problema para que ele se sinta estimulado na busca de soluções, e assim, experimente várias
alternativas, discutindo com os seus pares até que encontrem a solução mais adequada, sendo
que os conteúdos ou disciplinas devem ser tratados de modo integrado.
Pode-se afirmar que neste caso, os educando vivencia um conjunto de etapas
sistematizadas que correspondem ao entendimento inicial do problema proposto; geração de
ideias a partir do que ele já conhece, análise a partir da decomposição do problema e
identificação das partes; elaboração de questões que ele busca solucionar; definição de
objetivos da tarefa; discussão com o grupo, síntese/avaliação dos
resultados obtidos, e
apresentação dos resultados.
A pedagogia da problematização, porém, possui seus fundamentos na teoria de Paulo
Freire, assim, os conceitos da educação libertadora, que valoriza o diálogo, desmistifica a
realidade e estimula a transformação social através de uma prática conscientizadora e crítica
estão presentes (Mitre et al. 2008).
Para a metodologia da problematização são propostas cinco etapas principais: a
observação da realidade e identificação dos seus problemas levando-se em conta o tema a ser
estudado; identificação dos pontos-chave admitindo-se que o educando parte de informações
prévias para refletir sobre as causas e determinar os pontos essenciais do problema; produção
teórica dos educandos com o objetivo de compreender as manifestações empíricas e os
princípios teóricos dos problemas; formulação de hipóteses de solução onde o educando analisa
a viabilidade de aplicação das soluções estudadas para os problemas identificados, e por fim, a
aplicação das soluções a realidade concreta (Sobral and Campos 2012).
Para Barbosa and Moura 2013, o conceito de metodologia ativa de ensino está sintetizado
em Silberman (1996) que parafraseando o provérbio chinês que diz: “O que eu ouço, eu
esqueço; o que eu vejo, eu lembro; o que eu faço, eu compreendo” fez a seguinte dedução:
O que eu ouço, eu esqueço; O que eu ouço e vejo, eu me lembro; O que eu
ouço, vejo e pergunto ou discuto, eu começo a compreender; O que eu
ouço, vejo, discuto e faço, eu aprendo desenvolvendo conhecimento e
habilidade; O que eu ensino para alguém, eu domino com maestria.
Neste conceito percebe-se que a chave da metodologia ativa está na interação do
educando com o assunto ministrado onde ele desenvolve, estimulado pelo professor, as
habilidades de ouvir, falar, perguntar, discutir, fazer e ensinar, o que lhe permitirá, com a pratica,
reter melhor os conteúdos e poderá estimulá-lo na produção de novos conhecimentos. Neste
sentido são apontadas algumas sugestões, entre elas, os debates sobre temas da atualidade e
geração de ideias (brainstorming) para buscar a solução de um problema.
Os autores aqui referenciados convergem, porém, para a adoção dos mesmos métodos
de aprendizagem ativas: Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) e Aprendizagem
Baseada em Projetos (ABP).
Com base nestes conceitos, identifica-se no Instituto Federal do Mato Grosso
(IFMT/CUIABÁ) na educação profissional em tecnologia, a utilização desse modelo cujo percurso
adotado se resume em: ensino contextualizado, aprendizagem significativa, uso dos recursos da
inteligência, transformar ideias em resultados, pensar, criar, inovar, decidir e resolver. O
educando interage com o assunto em estudo e é estimulado a construir o conhecimento ao invés
de recebê-lo passivamente (ensino focado no educando), assim ele deve:
a) Ouvir, ler, escrever, perguntar, discutir, resolver problemas ou desenvolver projetos;
b) Realizar tarefas mentais de alto nível, como análise, síntese e avaliação,
c) Estar fazendo algo e, ao mesmo tempo, pensando naquilo que está fazendo;
d) Exercitar sua inteligência (funções de pensar, observar, raciocinar, refletir, entender,
etc.)
Para esta escola, o maior desafio é incorporar a aprendizagem ativa no tempo e espaço
das tradicionais aulas expositivas uma vez que a mesma está enraizada na instituição.
Percebe-se que nesta escola, a metodologia ativa de ensino já faz parte dos discursos de
uma parcela de docentes considerando a existência de uma pratica efetiva descrita no parágrafo
anterior, porém, a aplicação desta metodologia embora venha se desenhando como uma
alternativa para atender às demandas e desafios da educação neste século, é imprescindível
que todos os atores da escola tenham uma compreensão ampla de seus fundamentos, e do seu
potencial para melhorar os processos de ensino e aprendizagem.
Então porque as escolas ainda resistem à implantação das metodologias ativas de
ensino?
É natural que as dificuldades e resistências apareçam durante o processo de implantação.
Normalmente em função da resistência de alguns atores da educação, ou simplesmente em
função da rigidez sistêmica e deficiências na formação dos professores. Mesmo assim, no Brasil,
o uso de metodologias ativas de ensino ainda não está em grande escala embora se reconheça
o seu grande potencial para melhoria do processo de ensino e aprendizagem.
As experiências ainda são pontuais, e nas escolas onde elas já acontecem as dificuldades
enfrentadas passam pela compatibilização dos conteúdos disciplinares considerados
imprescindíveis de serem aprendidos pelos educandos com esta nova proposta metodológica
sendo a mais utilizada os projetos/problemas.
Sugere-se, então, que cada escola antes de adotar a nova metodologia deve verificar o
nível de aceitação pelo sistema educacional onde está inserido, e dos docentes que compõem a
sua estrutura de ensino, identificar o grau de compreensão existente sobre estas metodologias, e
por fim, verificar se há na escola o uso, parte dos professores, de métodos que se aproximam
das chamadas metodologias ativas ensino. Uma vez realizadas esta verificações acredita-se ser
possível traçar um planejamento adequado para a implantação gradativa dessa metodologia
Considerações Finais
A metodologia ativa de ensino conforme abordamos nos parágrafos anteriores foi
apresentada como uma alternativa para a educação neste século por possibilitar a formação de
um sujeito melhor capacitado para interpretar e propor novos caminhos, no mínimo, para a
realidade vivenciada pela sociedade onde ele está inserido, e é neste sentido que essa
metodologia se coloca dentro do processo de ensino e aprendizagem.
Sabe-se que os métodos de ensino centrados no educando possibilitam o seu protagonismo ao
dar a ele a possibilidade de assumir o papel de agente principal de sua aprendizagem onde ele pode demonstrar ser
capaz de construir o próprio caminho, de reconhecer e desenvolver o próprio potencial. Porém, para que este
processo se torne uma realidade em todas as escolas, independente, do nível de ensino em que atuem, é
necessário o envolvimento de todos os setores educacionais passando pela redefinição/adequação das politicas
públicas voltadas para área, incluindo as diretrizes curriculares e formação de professores, entre outros.
Fica claro, nos discursos dos autores aqui referenciados, que a metodologia tradicional
está obsoleta, e enquanto permanecer nas escolas, os resultados serão os mesmos, alunos
pouco reflexivos, passivos, com raras exceções. Diante desta constatação torna-se urgente a
revisão das práticas tradicionais de ensino e aprendizagem face às necessidades educacionais
atuais.
Não é novidade que o modelo educacional precisa ser adequado ao novo momento
histórico, aos interesses e habilidades desenvolvidas pelas novas gerações. Há registros
frequentes de que a chamada geração Z desenvolve um processo de comunicação em grande
velocidade, em uma clara demonstração de que cognitivamente são mais hábeis para lidar com
desafios mentais como afirma alguns autores. Em seminários, por exemplo, é comum,
professores relatarem suas dificuldades em atrair e manter a atenção e o interesse desses
educandos.
Então, onde buscar a solução para a própria escola diante deste contexto? Como motivar
o aluno de modo que ele ingresse e permaneça na escola até o final do curso? Foi com esse
intuito que relatamos aqui, os benefícios da metodologia ativa de ensino embora não que seja a
saída definitiva, nos parece mais adequada a este novo momento por tornar o ensino e a
aprendizagem mais significativa e contextualizada na medida em que possibilita o
desenvolvimento de competências e habilidades dos educandos.
Bibliografias
Barbosa, Eduardo Fernandes, and Dácio Guimarães De Moura. 2013. “Metodologias Ativas de
Aprendizagem Na Educação Profissional E Tecnológica.” Boletim Técnico do Senac 39:
48–67.
Mitre, Sandra Minardi et al. 2008. “Metodologias Ativas de Ensino-Aprendizagem Na Formação
Profissional Em Saúde: Debates Atuais.” Ciência & Saúde Coletiva 13.
Sobral, Fernanda Ribeiro, and Claudinei José Gomes Campos. 2012. “Utilização de Metodologia
Ativa No Ensino E Assistência de Enfermagem Na Produção Nacional: Revisão
Integrativa.” Revista da Escola de Enfermagem da USP 46: 208–18.
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