Avaliação Neurológica do paciente na Terapia Intensiva A alteração do estado de consciência indica algum grau de falência cerebral, que pode ser decorrente de lesão estrutural, desordem metabólica ou psicológica. Na avaliação do nível de consciência o diagnóstico oscila dentro de um intervalo cujos extremos são a consciência e o coma. Considera-se as seguintes categorias do estado de consciência: Alerta: o paciente está ativo, responde apropriadamente aos mínimos estímulos, está desperto e perceptível ao meio. Letargia: o paciente pode apresentar-se lento aos estímulos tátil e verbal, pode manifestar-se confuso frente a problemas complexos. Obnubilação: o paciente requer estímulos sensoriais profundos para produzir uma resposta lenta de retirada do estímulo doloroso. A resposta pode ser verbal, com poucas palavras que não fazem sentido. Torpor: não tem resposta verbal ao estímulo doloroso profundo, pode apresentar movimentos inespecíficos. Coma: o paciente não apresenta nenhum tipo de resposta aos máximos estímulos. Portanto, o coma pode ser definido como o estado de abolição de respostas, ou um estado de respostas reduzidas, alteradas ou destituídas de compreensão, em que o paciente tem perda completa da percepção do meio ambiente e de si próprio. O coma pode ser dividido em neurológico e metabólico. -O coma neurológico pode ser decorrente de patologias como as doenças vasculares cerebrais, traumatismos cranianos, tumores cerebrais. -O coma metabólico, por sua vez, pode ser denominado de acordo com a patologia causadora do distúrbio metabólico, compreendendo patologias como o coma diabético, coma hepático e os produzidos por distúrbios eletrolítico e ácido-básico. Avaliação do nível de consciência -A avaliação do nível de consciência é um parâmetro importante para se avaliar as necessidades básicas afetadas, sendo o ponto de partida para o planejamento da assistência de enfermagem. Uma vez que é grande a incidência de pacientes com alterações do nível de consciência, o enfermeiro precisa conhecer métodos sistematizados de avaliação do nível de consciência, que auxiliarão na determinação do prognóstico e numa melhor interpretação do estado clínico do paciente. -A escala de coma de Glasgow define o nível de consciência através da observação do comportamento, baseando-se em um valor numérico. Através da avaliação do nível de consciência ou grau de profundidade do coma, avalia-se o estado funcional cerebral. Vantagens: -Rápida avaliação; - Fácil treinamento da equipe de enfermagem; - Fornecimento de linguagem comum entre os profissionais; A escala é baseada nos seguintes indicadores: 1- Abertura dos olhos: com 4 níveis de oscilação, de espontânea a nenhuma abertura ocular; 2- A melhor resposta verbal: com 5 níveis, de orientado a nenhuma resposta verbal; 3- A melhor resposta motora, com 6 níveis, de obedecer ao comando a nenhuma resposta motora. Essa escala não deve ser utilizada em pacientes que estão sob o efeito de drogas sedativas. Os valores fornecidos pelo somatório variam de 3 a 15 pontos. O total de 15 pontos indica um indivíduo neurofisiologicamente normal no que se refere ao nível de consciência. A menor pontuação indica a ausência de respostas do paciente a qualquer estímulo empregado, refletindo o nível da função cerebral. ABERTURA OCULAR: VARIA DE 1 A 4 4- é dada ao paciente que abre espontaneamente os olhos quando alguém se aproxima do leito ou durante o cuidado que lhe é prestado 3- abre os olhos ao ser chamado, ou seja, ao estímulo verbal ou com ruídos provocados; 2- abre aplicando-se o estímulo doloroso; 1- se todas as formas de estimulação forem aplicadas e não houver resposta de abertura dos olhos. Nos casos de impossibilidade de abertura, como hematoma ou edema palpebral, deve-se registrar (NT- não testável) e descrever o que impossibilitou o teste. MELHOR RESPOSTA VERBAL: VARIA DE 1 A 5 5- corresponde ao paciente orientado no tempo e no espaço, executando corretamente as ordens verbalizadas; 4- paciente capaz de manter a conversação, mas cujas respostas são confusas ou de forma desorientadas; 3- ao paciente que responde com palavras impróprias; 2- ao paciente que emite sons incompreensíveis; 1- quando nenhuma resposta verbal é emitida. É dado apenas quando após alguns estímulos repetidos não se obtém nenhuma resposta. Atentar para o NT em pacientes críticos intubados ou traqueostomizados, impossibilitados de executar o teste. Além disso, a depender da área cerebral afetada, o paciente pode estar afásico ou disfásico. MELHOR RESPOSTA MOTORA: VARIA DE 1 A 6 6- é dada à função motora normal, quando o paciente é capaz de obedecer aos comandos simples. Quando não responde ao estímulo verbal, aplica-se o estímulo doloroso; 5- é dada quando o paciente localiza a dor tentando removê-la ou movendo-se para ela; 4- é dada para o paciente que localiza a dor, mas não tenta retirar a fonte. 3- quando a resposta em flexão for a sua melhor resposta. Esta é observada nos MMSS e é conhecida como rigidez de decorticação; 2- é dada quando a resposta em extensão, tanto nos MMSS como nos MMII quando estimulados, conhecida como descerebração; 1- é dada na ausência de respostas motoras a estímulos dolorosos. A resposta de abertura ocular requer uma maior proximidade do leito do paciente, avaliada pela reação às falas, aos ruídos produzidos ao redor, aplicação do estímulo doloroso em algum segmento do corpo. A melhor resposta verbal deve ser obtida a partir da observação das reações do paciente a estímulos verbais e perguntas como: Qual o seu nome? Quantos anos você têm? Que dia da semana é hoje? A melhor resposta motora deve ser obtida por interlocução com o paciente, solicitando-o a desempenhar algum movimento, apertar e soltar a mão, estender e flexionar os MMII, ou por aplicação de um estímulo doloroso. O estímulo doloroso consiste na realização de uma pressão através de um objeto (caneta ou lápis) sobre a unha do dedo médio (por ser mais sensível) ou através de pressão em movimentos circulares na região esternal, com as mãos fechadas em punho. OUTROS PARÂMETROS NEUROLÓGICA DE AVALIAÇÃO Avaliação da resposta motora: a resposta motora aos estímulos pode ser através de movimento para o qual foi solicitado, movimentos patológicos ou nenhuma resposta. Poderá ocorrer força normal, paresia discreta, paresia acentuada, flexão (decorticação), extensão (descerebração) ou ausência de resposta (plegia). *Paresia: é quando o paciente não consegue manter os membros estendidos durante 2 minutos com simetria. *Plegia: é quando o paciente não consegue erguer os braços para a realização do teste. Se o paciente está arreflexivo, sem resposta a qualquer estímulo, há indicação de injúria ao tronco cerebral. Avaliação das pupilas: deve ser feita através da observação do tamanho, simetria e reatividade pupilar à luz. O diâmetro pupilar deve ser medido e comparado com uma série de círculos de 1 a 8 mm contidos na folha de avaliação. A estimulação simpática contrai o músculo dilatador da pupila e ela se dilata (midríase-7 a 8mm). A estimulação parassimpática contrai as fibras constritivas da pupila e ela se contrai (miose- 1 a 2 mm). O diâmetro pupilar normal varia de 2 a 5 mm, sendo que o adulto normal ela se encontra de 3 a 4 mm. A reatividade pupilar fotomotora deve ser verificada através de um farol de luz artificial e ser registrada através de um sinal positivo ou negativo relativo à contração pupilar quando exposto à luz forte. Se o exame estiver prejudicado por algum motivo (sutura, trauma, hematoma) anotar P. As vias pupilares são resistentes ao distúrbio metabólico, a presença o ausência de reação à luz constitui num sinal importante para distinguir o coma estrutural do coma metabólico. As áreas do tronco cerebral que controlam o nível de consciência são adjacentes das que controlam as pupilas. Assim as alterações nas pupilas são guias para identificar a presença e localização de doenças do tronco cerebral. Avaliação do reflexo oculocefálico: a posição em repouso dos olhos e qualquer movimento espontâneo devem ser observados. Os movimentos reflexos dos olhos dos olhos devem ser registrados quanto ao giro rápido da cabeça, conhecido como “olhos de boneca’. Os movimentos oculares assimétricos, desconjugados ou ausentes serão indicativos de disfunção do tronco cerebral. Avaliação da Pressão Intracraniana -A hipertensão intracraniana aguda requer medidas terapêuticas específicas, dada a vulnerabilidade do sistema nervoso central. Nesse caso a monitorização da pressão intracraniana fornece informações importantes que precedem os sinais e sintomas de descompensação, permitindo um tratamento mais precoce e eficaz; -Os cateteres intracranianos são utilizados para mensurar e monitorar continuamente a PIC, calcular a pressão de perfusão cerebral, e avaliar a complacência e autoregulação cerebral, prevenindo eventos que podem desencadear lesões cerebrais secundárias ou agravar lesões já existentes; -A PIC é a pressão resultante da presença de 3 componentes dentro da caixa craniana: Componente parenquimatoso: constituído pelas estruturas encefálicas; Componente liquórico: constituído pelo líquido cefalorraquidiano; Componente vascular: caracterizado pelo sangue circulante. -O valor da PIC varia entre 0 a 15 mmHg, quando a pressão liquórica intraventricular é medida com o paciente em decúbito dorsal e a cabeça levemente elevada; -O volume intracraniano é igual ao volume do encéfalo, mais o volume do sangue cerebral crescido ao volume do LCR. Quaisquer alterações no volume de algum desses componentes, bem como a adição de uma lesão, podem levar ao aumento da PIC; -O encéfalo normal tem a capacidade de auto-regulação do fluxo sanguíneo cerebral, assegurando um fluxo sanguíneo constante ao encéfalo através dos vasos cerebrais, por mecanismos que alteram a capacidade dos vasos cerebrais de se contrair ou dilatar; -Existem dois estágios de ajuste cerebral à hipertensão intracraniana: compensação e descompensação; -Durante a fase de compensação o encéfalo é capaz de alterar o seu volume, permitindo a expansão dos demais componentes. A PIC nessa fase é menor que a Pressão arterial média, permitindo uma perfusão cerebral adequada, sem alterações neurológicas no cliente; -Contudo, a partir de um certo volume, a capacidade do encéfalo de compensar o aumento da PIC torna-se ineficaz, iniciando a fase de descompensação, com alterações do nível de consciência e dos SSVV (bradicardia, bradipnéia, hipotensão arterial). A partir desse ponto a PIC aumenta exponencialmente; -Existem 4 mecanismos de compensação da PIC: desvio do LCR para o espaço subaracnóide; aumento da absorção do LCR; diminuição da produção do LCR; desvio de sangue venoso. Indicações: -Glasgow inferior a 9 com TC de crânio anormal (presença de hematomas, contusões, edemas, compressões). -Glasgow inferior a 9 com TC de crânio normal, se dois ou mais fatores estiverem presentes: Idade superior a 40 anos; Pressão arterial sistólica inferior a 90mmHg, postura anormal (descerebração, decorticação) Classificação: Para efeito de classificação dos níveis de PIC são utilizados os seguintes critérios: PIC menor que 10 mmHg: valor normal; PIC entre 11 a 20 mmHg: levemente elevada; PIC entre 21 e 40 mmHg: moderadamente elevada; PIC maior que 41 mmHg: gravemente elevada. Os valores da PIC devem ser relacionados com os procedimentos realizados com o paciente como: Posicionamento inadequado; Períodos de agitação psicomotora; Alterações hemodinâmicas como hipotensão e hipertermia ( a febre aumenta o metabolismo cerebral e a taxa em que o edema se forma); Estímulos dolorosos; Aspiração nasotraqueal. Cuidados de enfermagem para controle da hipertensão intracraniana: -Manter alinhamento céfalo-caudal; -Manter a cabeceira elevada entre 30 e 45º; -Manter temperatura corporal menor que 37,5º; -Evitar hipotensão arterial; -Manter PIC menor que 20 mmHg -Promover oferta de O2 a 100% antes das aspirações; -Atentar para não tracionar e/ou deslocar o cateter; -Realizar curativo diariamente no local de inserção do cateter; -Monitorar e registrar a presença de extravasamento de LCR pelo nariz, ouvidos ou pelo local de inserção do dispositivo. Vantagens: -Detecta precocemente a elevação da PIC, permitindo suspeitar de lesões; -Permite a drenagem do LCR e controle da PIC, quando em posição ventricular; -Permite a adoção de tratamento adequado e avaliar a eficácia do tratamento.