EIXO 5 :PROCESSOS FORMATIVOS E QUESTÕES PEDAGÓGICAS PAINEL: APRENDER, ENSINAR , AVALIAR O primeiro texto intitula-se Aprender: indicações da prática docente e é de autoria de Joana Paulin Romanowski; o segundo intitula-se Tendência atual do processo didático, de autoria de Pura Lúcia Oliver Martins e o terceiro intitula-se Por uma teoria democrática da avaliação, de autoria de Lílian Anna Wachowicz. O painel tem a coordenação de Lílian Anna Wachowicz. 1º texto APRENDER: INDICAÇÕES DA PRÁTICA DOCENTE Joana Paulin Romanowski Pontifícia Universidade Católica do Paraná- PUCPR Esse texto apresenta a leitura realizada sobre a aprendizagem escolar considerando as indicações de professores que atuam nas diferentes modalidades e níveis de ensino. A aprendizagem ocupa o núcleo da finalidade da prática docente, pois aprender é de suma importância numa sociedade cada vez mais letrada, urbana, industrial e globalizada. A reestruturação do atual sistema produtivo exige desempenho profissional além da execução manual do trabalho, como aponta Martins (2004, p. 56) “torna-se fundamental que escola prepare um trabalhador intelectualmente ativo, criativo.” Em decorrência há um esforço para a inclusão de todos os grupos sociais na escola, ampliação do tempo de escolarização, da educação infantil à pós-graduação, e mesmo a formação continuada dos profissionais que atuam nas empresas. O processo de aprender torna-se exigência para a vida toda. Ainda, as sociedades entendem que a escolarização da população é necessária para o enfrentamento dos desafios da vida cotidiana, para acesso ao mundo do trabalho e para a participação na constituição das sociedades democráticas no exercício da cidadania. No entanto, a denúncia contínua do fracasso escolar expresso pelos índices de evasão e os resultados dos exames nacionais promovidos pelos órgãos governamentais, tais como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), não tem correspondido à melhoria do desempenho da aprendizagem dos alunos. A grosso modo a finalidade do ensino é a promoção da aprendizagem efetiva, significativa, que interage e produz mudança nos sujeitos e no próprio conhecimento. Nesse contexto os estudos e os debates sobre a aprendizagem tornam-se uma exigência para a área da didática. As atuais proposições das dimensões da didática incluem o aprender. Veiga (2004, p.15) expressa: O processo didático implica se expressa pela ação docente das quatro dimensões – ensinar, aprender, pesquisar e avaliar – considerando também a relação pedagógica, as estratégias de aprendizagem e de investigação e os caminhos didáticos e investigativos. Nessa perspectiva foi realizada uma investigação para verificar o que os professores da educação básica e superior consideram necessário compreender sobre o processo de aprender e como promover a aprendizagem efetiva nas salas de aula. Os depoimentos dos professores enfatizam como primordial as relações pessoais estabelecidas entre eles e seus alunos durante as aulas. Apontam a aprendizagem como resultado dessas relações. Afirma a importância do fazer docente estar articulado com contexto sócio-cultural. Nas relações entre eles e os alunos enfatizam a importância do conhecimento sobre seus alunos, tanto quanto à cognição com sobre os aspectos da afetividade. Na promoção da aprendizagem consideram necessário tomar como ponto de partida as experiências dos alunos, o conhecimento da vida cotidiana e a partir disso articular com o conhecimento universal. As perspectivas enfatizadas estão articuladas com os aspectos relacionais tanto interpessoais como a articulação escola e sociedade, com o desenvolvimento cognitivo e afetivo a abordagem metodológica principalmente com as estratégias de aprendizagem. O que dizem os professores Os professores, em seus depoimentos, apontam que para realizar a aprendizagem é “necessário conhecer os alunos”, “saber as dificuldades que os alunos apresentam”. 2 Na perspectiva da cognição, muitos professores dizem que quando perguntam para os alunos sobre as suas dúvidas, eles respondem “não entendi”. E o professor indaga: - O que você não entendeu?” Diante da questão o aluno não consegue expor suas dúvidas e verbalizar a pergunta. Destacam que outros alunos dizem: “eu entendi, mas não sei explicar”. Os alunos são capazes de entender informações, realizar experiências, de resolver questões, mas não conseguem descrever os processos de raciocínios utilizados, nem de expressar o que sabem e o que não sabem, enfim regular a aprendizagem. Essas indicações remetem para o exame sobre o processo de cognição, pois como dizem os professores: “é preciso saber das dificuldades que eles apresentam na elaboração dos conceitos durante as aulas, é preciso saber como os alunos pensam”. Enfatizam os professores a importância de “conhecer as características pessoais dos alunos, as questões afetivas”, saber usar a emoção e dentro dela colocar a razão, para que a comunicação possa ser estabelecida. É difícil aprofundar os conteúdos para além da repetição. Todas as vezes que trabalhamos com os conceitos sem considerar a “afetividade não conseguimos aproximar os alunos da aprendizagem”, dizem os professores. Para os professores o aluno é o centro da aprendizagem e precisa ser considerado na promoção da aula interativa e no projeto pedagógico da escola. Alguns professores dizem que nem sempre o projeto estabelece essa prioridade, a relação entre a prática pedagógica realizada na sala de aula com o projeto pedagógico pode ser conflituosa o que exige do docente “descobrir de modo sábio como diblar a burocracia para colocar o aluno como ponto principal”. Apontam os professores como ponto de partida para a realização da aprendizagem a experiência, como nesses depoimentos: “os alunos aprendem pela vivência, pela reflexão pela crítica”; é a “experiência anterior dos alunos é ponto de partida para o ensino” e a realização de um ensino que resulte em aprendizagem por todos os alunos como sujeitos históricos, pois como destacam os professores “é preciso contextualizar o ensino”. Sobre o processo didático os depoimentos expressos por professores indicam a busca de superar uma aprendizagem centrada na transmissão e assimilação, dizem eles: “continuar o ensino só na transmissão de conteúdos não vai produzir uma aprendizagem que os alunos necessitam na atualidade”. Para professores a prática docente põe em movimento o projeto pedagógico, o planejamento de aula do professor, o conhecimento, o método, a avaliação, o interesse e 3 a participação dos alunos. Estão em jogo a organização da sala de aula, desde a disposição dos móveis, os materiais utilizados, a organização do tempo, os rituais e as tramas de relações, o método didático, os saberes docentes e a finalidade do ensino e da aprendizagem. Faz diferença compreender uma ação docente efetiva com o aluno e não sobre o aluno. Na sala de aula “as interações no ensino e na aprendizagem são semelhantes às outras situações de vida”, como indica um professor. Nesse espaço e tempo ocorre aprendizagem como um bem comum para professores e alunos, garantia da conquista do conhecimento e possibilidade do desenvolvimento de sujeitos emancipados. A interação respeita à diversidade, supera a dominação de um sobre o outro, nem professor, nem alunos, nem conhecimento. Trata-se de um espaço de interdependência. Do cotidiano para o conhecimento universal: proposições da prática docente para a promoção da aprendizagem Os professores consideram importante considerar as experiências dos alunos no processo didático, as relações inter-pessoais, conhecer os alunos e a diferenciação das estratégias de aprendizagem utilizadas pelos alunos. Experiência como ponto de partida A experiência como ponto de partida na dinâmica da aprendizagem para os professores consiste em uma das condições básicas no processo didático. Isto é “no mínimo colocar o aluno diante do campo de interações possíveis com o conhecimento” e “conhecer o que aluno já sabe, é muito importante, é colocar ele na roda da conversa para aprender”, dizem os professores. As experiências dos alunos compõem um campo denso de saberes, ponto de partida na estruturação cognitiva. Conhecimentos anteriores, experiências compõe a estrutura possibilidades da elaboração cognitiva. A relação entre experiência e aprendizagem foi analisada por Dewey. As suas proposições são de que a descrição e reflexão das experiências favorecem a percepção de regularidades, seqüências, ordenações entre os fatos. A experiência representa o fazer e o seu resultado ao mesmo tempo. Agir sobre alguma coisa é um ato de experiência que traz uma conseqüência para o sujeito e para o objeto. Num primeiro momento essa ação não produz necessariamente cognição, o 4 sujeito sente o que aconteceu. Por exemplo, quando um sujeito constrói uma pipa, ela pode não conceituar as figuras geométricas que usou na confecção, mas manipula, vê as formas, Nesse momento é uma ação simplesmente, uso mecânico do corpo. Aguçada a observação, a reflexão sobre os acontecimentos implicados nessa ação, isto é levados à consciência, a experiência passa a ter sentido, e o conhecimento é produzido. De fato, se as tarefas escolares não produzirem uma interação cognitiva com o sujeito serão atos mecânicos. Refletir sobre a experiência é explicitar o processo realizado. Como afirma Dewey (1979, p. 159) “pensar é o esforço intencional para descobrir as relações específicas entre uma coisa que fazemos e a conseqüência que resulta, e modo a haver continuidade entre ambas”, descobrir o significado, desvelar as relações. Na sala de aula, ao analisar as experiências dos alunos não significa que o professor reduz as diferenças existentes entre os alunos a uma só explicação, ao contrário ajuda a ampliar as leituras e relações existentes. Pode ocorrer a instalação de outros questionamentos mais do que respostas prontas; trata-se de colocar em movimento as relações na construção do conhecimento. A aprendizagem realizada na escola direciona-se para a sistematização das experiências cotidianas para a mudança em conhecimento científico, como analisa Oliveira (2000) para um pensamento explicativo, generalista, distinto do pensamento empírico. A aprendizagem escolar, segundo o depoimento dos professores, sofre uma mudança de reprodução do conhecimento, repetição das lições para um processo de valorização da compreensão. É possível que a preocupação com o desenvolvimento de uma aprendizagem explicativa, uma aprendizagem de conceitos significativos possa vir a interferir no modo de pensamento realizado pelo sujeito. Os saberes escolares decorrentes dos conhecimentos disciplinares, científicos e formais, são vistos como diferentes do conhecimento do senso comum, do conhecimento tácito. A escola é instituição pertinente para contribuir com aprendizagem para o desenvolvimento da cognição, no desenvolvimento de formas de pensamento de grau superior de generalização. Nem sempre o processo realizado consegue ampliar e contribuir com esse desenvolvimento. A esse respeito Oliveira (2000) aponta que nem sempre a escolarização promove o desenvolvimento dos processos cognitivos. Os professores, em seus relatos e depoimentos sobre a prática pedagógica empregadas nas aulas, expressam preocupação metodológica para tomar como ponto de partida os conhecimentos da experiência. Dizem eles que esse conhecimento possibilita contextualizar o saber escolar, isto é, favorece as interações em aula, a aproximação do 5 aluno como o conhecimento científico. No entanto, a aprendizagem do saber escolar não significa a descrição do saber da experiência, do conhecimento tácito, é preciso ir além, buscar a compreensão do conhecimento e de sua sistematização. Em níveis de escolarização mais avançados, como os do ensino superior, colocar a experiência como ponto de partida passa do controle do professor para incluir a participação do próprio aluno. Os professores apontam à possibilidade da pesquisa por meio da análise de dados obtidos por levantamentos empíricos, por relatos de experiência possibilidade de contribuir para a produção do conhecimento, da elaboração da teoria e de promoção da aprendizagem. Conhecer os alunos Na prática pedagógica é importante, segundo os professores “conhecer e compreender como se realiza o processo de desenvolvimento cognitivo”. As questões fundamentais para compreender essa relação entre aprendizagem e o desenvolvimento do processo de cognição indicadas giram em torno de: O que é aprendizagem? Como aprendemos? Como ocorre o processo de desenvolvimento da cognição? No ensino tradicional a aprendizagem valoriza a capacidade de imitação, reprodução e memorização do conhecimento. Nesse processo o aluno aprende por seguir o modelo, observa e copia, repete e memoriza em que o professor é o modelo referencial. Os atuais projetos pedagógicos das escolas têm assumido uma nova perspectiva de aprendizagem. São referenciadas as proposições de desenvolvimento da cognição com base nas proposições piagetianas e vygotskianas. Nos estudos piagetianos a aprendizagem origina-se da relação entre o sujeito com o objeto, na escola entre as pessoas e entre o sujeito e o conhecimento, mediada pelos esquemas de assimilação e acomodação. O resultado das ações do indivíduo sobre o meio em que vive, adquire significado quando o conhecimento é inserido em uma estrutura do sujeito, que caracteriza a assimilação. A aprendizagem exige sempre uma atividade do sujeito na interação estabelecida entre ele e o conteúdo a ser aprendido. Piaget defende a idéia que, antes da aprendizagem, é necessário o desenvolvimento das funções psicológicas, condições biológicas e dos esquemas cognitivos. Ao planejar uma aula o professor precisa observar o estágio de desenvolvimento que o aluno se encontra. Os esquemas de ação e esquemas de representação permitem a realização das interações entre o sujeito (aluno) e o objeto (conhecimento). 6 As proposições de vigostskianas, explicitadas por Oliveira (1992, 2000) indicam que a aprendizagem é compreendida como resultante da interação entre os processos externos e internos da cognição. Na efetivação da cognição o sujeito opera frente a um fato, um objeto, uma circunstância, um conhecimento. O ato de pensamento está articulado a essa condição externa, mas não é dependente dela, pois mesmo sem a presença dessa condição o sujeito opera mentalmente. A interação do sujeito no mundo promove a integração do conhecimento novo ao existente, realiza a desconstrução de preconceitos, possibilita novos procedimentos de ação. Uma boa aprendizagem produz sentido, mudanças significativas e duradouras. O sujeito constitui-se por interação, por relação, por mediação. Não basta o sujeito agir sobre o objeto, pois o objeto também modifica o sujeito. Oliveira (1992) explica que na elaboração dos processos mentais superiores as representações dos objetos, acontecimentos e situações do mundo real são as coisas com as quais os sujeitos realizam esses processos. Para efetivar a cognição é empregado um sistema de símbolos para manipular as representações mesmo quando os acontecimentos, fatos e objetos estão ausentes. Essa capacidade de representação simbólica, quer dizer pensar sem os objetos concretos, permite pensar sobre coisas passadas ou futuras, inexistentes, formular planos, projetos, intenções no tempo e no espaço. Podemos, por exemplo, traçar um roteiro de ações do que vai ser realizado amanhã, lembrar de locais, operar com quantidades sem que estejamos experimentando concretamente essas ações. A esse respeito Oliveira (1992, p. 52) explica: “Essa estrutura conceitual, a qual é uma espécie de rede de conceitos interligados por relações de semelhança, contigüidade e subordinação. Essa rede de conceitos representa, ao mesmo tempo, o conhecimento que ele acumulou sobre as coisas e o filtro por meio do qual ele é capaz de interpretar os fatos, eventos e situações com que se depara no mundo objetivo”. Durante as aulas essas representações mentais ajudam os professores para interagir com os alunos enquanto eles trabalham com conhecimento. A escola favorece a aprendizagem de conceitos adequados e precisos, assim como amplia para que novas relações sejam estabelecidas e interferindo na estrutura conceitual tornando-a mais complexa e mais completa. Nesse sentido a mediação do professor é fundamental, pois os processos interativos de formação de conceitos constituem processos de interação 7 entre o sujeito e a cultura em que esses conceitos são gerados. A qualidade dessa mediação faz diferença na aprendizagem. Relações interpessoais Como são as tramas interativas na escola, na aula? A sala de aula como ambiente de aprendizagem caracteriza-se como movimento, como práxis em que a produção de professor e alunos direciona-se para a mesma finalidade. O ambiente da aula é um espaço de vida coletiva, um espaço de relações únicas e originais semelhantes a um ecossistema, como propõe Doyle in Tardif e Lessard (2005) para a intensificação da aprendizagem em que os vínculos dos alunos e dos professores com o conhecimento são acentuados. Segundo os professores na prática pedagógica “professor e alunos transformam-se” e transformam o conhecimento em aprendizagem. O controle da aprendizagem dos alunos, por confronto do professor que sabe e do aluno que não sabe, estabelece uma interação baseada na autoridade. Esse tipo de prática difundido para promover a adaptação dos alunos para aprenderem o conteúdo por repetição, reprodução, pode gerar um processo de resistência. Os alunos passam a realizar o processo mecanicamente para cumprir as determinações da escola, formam uma coletividade e são capazes de recusarem a participar das atividades escolares, ainda que mantenham o silêncio durante as aulas. Tardif e Lessard (2005) chamam atenção do trabalho escolar com o excesso de controle, ainda que o professor tenha intenção de conduzir a bom resultado a aprendizagem dos alunos. Esses autores lembram ir para a escola nem sempre é decisão do próprio aluno, pois são exigências legais para os responsáveis das crianças, é necessária para a formação profissional dos jovens e adultos e formação continuada dos que já são profissionais. Cabe ressaltar neste processo a afetividade como afirma Pino (1997, p.131) “representam a maneira como os acontecimentos repercutem na natureza sensível do ser humano, produzindo nele um elenco de reações matizadas que definem seu modo de ser-no-mundo”. A afetividade envolve as emoções, os sentimentos, as inclinações e as paixões. As reações expressas nas relações entre professores e alunos favorecem a interação na aprendizagem. O professor ao encorajar seus alunos melhora a auto-estima, contribui para a formação de maior empenho dos alunos para enfrentarem os problemas de aprendizagem. 8 Conforme La Taille (1992, p. 76 - 82), apesar de Vygotsky não ter examinado em profundidade a relação entre pensamento e afetividade, suas pesquisas indicam motivação, inclinações, necessidades, interesses, impulsos, afeto e emoção como alicerce da cognição. A dimensão afetiva assume um aspeto mediador central, na formação da pessoa e no desenvolvimento cognitivo. Ao estabelecer novas relações sociais, ocorre o predomínio da emoção sobre as demais atividades. A subjetividade resulta também de como o sujeito aprender a lidar com seu estado emotivo. Faz diferença o acolhimento, a aceitabilidade, a sinceridade são suportes para a interação. A linguagem está no centro da trama cognitiva estabelecida na aprendizagem durante as aulas, além dos aspectos pessoais. No desenvolvimento da cognição verificase que durante as aulas as experiências ajudam os professores para interagir com os alunos enquanto eles trabalham com conhecimento. O conhecimento, objeto de trabalho entre professores e alunos, no processo de cognição interage com os esses sujeitos por meio da linguagem. A esse respeito Tardif e Lessard (2005) afirmam que as mensagens são polissêmicas, resultantes da não linearidade na comunicação entre professores e alunos, alunos entre si. Cada mensagem resulta em compreensões referenciadas por experiências anteriores, por expectativas e motivos. Além disso, várias linguagens interagem na aula: como gestos, expressões faciais, olhares, mímicas, em que até os silêncios intervêm. As proposições de interpretação estão em jogo, os alunos procuram ajustar o modo como compreenderam com as intenções do professor. O professor media para produzir um entendimento mais próximo possível do desejável. Para formular os conceitos, as representações da realidade, necessitamos da interagir com linguagem, principalmente a linguagem por meio das palavras. As palavras permitem ordenar as ocorrências do mundo real em categorias, de maneira a simplificar sua complexidade, como explicita Oliveira (1992). A linguagem é a ferramenta, principalmente a linguagem por meio das palavras, que o professor e aluno utilizam para realizar a mediação. As palavras são signos, ou seja, símbolos que permitem ordenar as ocorrências do mundo real em categorias, de maneira a simplificar sua extrema complexidade. A percepção do mundo é resultante do modo como atuamos com esses conceitos expressos pelas palavras. Outros signos como as formas numéricas e cálculos, a arte e técnicas de memorização, o símbolos algébricos, as obras de arte, a escrita, os gráficos, os mapas, os desenhos, as músicas são expressões de linguagem com as quais interagimos. 9 Além disso, a dinâmica da comunicação estabelecida entre professores cria um clima de cumplicidade. Os alunos estabelecem previsibilidade das possíveis reações dos professores perante determinados atos realizados. Estratégias de aprendizagem Os professores já indicam que cada aluno estabelece modos e formas de aprendizagem diferenciadas tanto em níveis de cognição como em significado, usam suas próprias estratégias de aprendizagem. Quer dizer que os alunos podem utilizar desde anotações durante as aulas, atenção ao ouvir a explicação do professor, sublinhar o texto enquanto realizam a leitura, resumir o texto, enfim organizar diferentes modos para compreender os conceitos, para aprender. Além de considerar a experiência como ponto de partida a dinâmica da aprendizagem solicita a interação dos alunos com o conhecimento. Para Pozzo (2002) a nova cultura na aprendizagem tem por fundamento considerar a diversidade. Os professores também reconhecem importância de considerar a diversidade dos alunos na promoção da aprendizagem. Uma prática de aprendizagem interativa, em que a diversidade dos processos de aprendizagem dos alunos é considerada, fundamenta-se na diferenciação das estratégias didáticas. Na perspectiva de auxiliar os alunos no processo de tomada de consciência dos próprios processos de aprendizagem, ou seja, no desenvolvimento dos processos meta cognitivos, estudos das práticas pedagógicas indicam os professores como ajuda aos alunos para perceberem as estratégias e procedimentos utilizados na efetivação da aprendizagem. A realização de conversas com o professor e entre os alunos parece ser uma das possibilidades para descobrir as estratégias de aprendizagem. Em círculo cada aluno pode relatar como faz para aprender. Essa atividade ajuda os alunos a perceber seu próprio modo de aprender, tomar consciência de seus processos cognitivos, como também, o ouvir os procedimentos utilizados por seus colegas, e com isso ampliar seus próprios procedimentos. ( SANTOS, 2005) Aprender: desafio permanente para a prática docente Os trabalhadores enfrentam novos desafios na atualidade, pois além de realizar a produção com o uso da força manual são convocados a apresentar suas proposições de 10 melhoria do processo produtivo, participar da gestão do trabalho uma nova forma de organização do trabalho como aponta Martins (2004) que exige processos intelectuais e cognitivos. Em decorrência há uma valorização dos processos de aprendizagem. A escola insere nesse contexto em que não é suficiente o ingresso e permanência na escola, mais que isso a realização de uma prática pedagógica direcionada para a aprendizagem efetiva. Os professores indicam preocupações com a formação realizada na escola que vai além das atividades desenvolvidas na sala de aula, pois as finalidades da escolarização são determinadas historicamente, principalmente a formação para o mundo do trabalho. Cabe destacar que os projetos pedagógicos das escolas e os objetivos dos sistemas escolares vinculam-se às exigências sociais de cada contexto sócio-histórico. . Numa outra vertente, a preocupação dos professores direciona-se para a formação da pessoa além dos aspectos cognitivos uma formação dos sujeitos históricos, afetivos, capazes de perceber suas expectativas imediatas e de futuro. Entendem a sala de aula como um ambiente de cultura plural por receber alunos heterogêneos, com experiências e histórias marcadas por trajetória peculiar, expressão da diversidade. Um espaço de construção do futuro, um espaço de interação e de esperança. Outras análises na perspectiva do que é aprender a aprender para os professores e como eles realizam a prática docente considerando essa perspectiva é da maior urgência. REFERÊNCIAS DEWEY, John. Democracia e educação. 4 ed. Trad. Godofredo Rangel e Anísio Teixeira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979. LA TAILLE, Yves de et al. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992. MARTINS, Pura Lúcia O. Princípios didáticos na ação docente: conhecimento como expressão da ação humana. In ROMANOWSKI, Joana P., MARTINS, Pura L. O. e JUNQUEIRA, Sérgio R. A. (Orgs.) Conhecimento local e conhecimento universal: pesquisa, didática e ação docente. Vol.1 Curitiba: Champagnat, 2004. MOLON, Susana Inês. Subjetividade e constituição do sujeito em Vygotski. Petrópolis: Vozes, 2003. OLIVEIRA, Marta Kohl de. Algumas contribuições da psicologia cognitiva. Série Idéias n. 6, São Paulo: FDE, 1992. p. 47-51. 11 OLIVEIRA, Marta Kohl de. 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