Sistema Cardiovascular

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE
DEPARTAMENTO DE MEDICINA
DISCIPLINA DE PATOLOGIA
MANUAL TEÓRICO-PRÁTICO
DE PATOLOGIA
CARDIOVASCULAR
Antônio de Pádua
Lúcia de Noronha
Joel T. Totsugui
José Knopfholz
R. Imaculada Conceição, 1155 - Prado Velho
Curitiba – PR
Tel.: (041)330-1515
1
M294
Manual teórico-prático de patologia
cardiovascular / Antônio de Pádua,
Lúcia de Noronha, Joel T. Totsugui,
José Knopfholz -- Curitiba : PUCPR,
2000.
31 f. : il. ; 30 cm
Inclui bibliografias
1. Sistema cardiovascular – Doenças.
2. Anatomia patológica. I. Pádua, Antônio.
II. Noronha, Lúcia de. III. Totsugui, Joel T.
IV. Knopfholz, José.
CDD 20. ed. 616.1
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METABOLISMO LIPÍDICO
Os lipídios são representados pelos triglicerídeos (gorduras neutras), pelos
fosfolipídeos, pelo colesterol e por outras substâncias de menor importância.
Ácidos graxos: são os componentes fundamentais dos triglicerídeos e dos
fosfolipídeos.
São utilizados para a produção de energia e para outras funções intracelulares.
Os lipídios são transportados no sistema linfático e sangüíneo na forma de
quilomícrons.
Os quilomícrons são removidos do plasma pelo tecido adiposo (através da enzima
lipoproteína-lipase) e pelo fígado.
Para entrar na célula adiposa os triglicerídeos são lisados em ácidos graxos e
glicerol. No interior destas células os triglicerídeos são ressintetizados.
Quando a gordura armazenada precisa ser utilizada no organismo essa é liberada
pelo adipócito na forma de ácidos graxos, os quais se ionizam e se ligam as
albuminas, sendo denominados de ácidos graxos livres (para se distinguir dos
ésteres de glicerol).
Nível plasmático de ácidos graxos livres: 0,45g/100ml.
Apresenta renovação plasmática de 50% em 3 minutos.
LIPOPROTEÍNAS
 95% de todos os lipídios plasmáticos no período pós-absortivo.
 Menores do que os quilomícrons.
 Mistura de triglicerídeos, fosfolipídios, colesterol, proteínas.
 Concentração plasmática média: 700mg/100ml.
 Lipoproteína de densidade muito baixa (VLDL): altas concentrações de
triglicerídios e concentrações moderadas de fosfolipídios e colesterol.
 Lipoproteínas de baixa densidade (LDL): pequena quantidade de triglicerídios e
grande quantidade de colesterol.
 Lipoproteínas de alta densidade (HDL): contém cerca de 50% de proteínas.
 Formação hepática.
 Função: transporte lipídico
DEPÓSITOS DE GORDURAS
 Locais: adipócitos e no fígado.
 Células adiposas: consistem em fibroblastos modificados capazes de
armazenamento de triglicerídios puros, podendo ocupar 95% de seu volume.
 Funções hepáticas no metabolismo lipídico: degradar os ácidos graxos e pequenos
compostos passíveis de serem utilizados no suprimento de energia; sintetizar
triglicerídios a partir de outros substratos (carboidratos e proteínas); sintetizar outros
lipídios a partir dos ácidos graxos, em especial o colesterol e os fosfolipídios.
 As células hepáticas possuem grandes quantidades de triglicerídeos, colesterol e
fosfolipídios.
 O fígado promove a dessaturação dos ácidos graxos pela enzima desidrogenase.
SÍNTESE DE ATP A PARTIR DOS TRIGLICERÍDEOS
 Metade das calorias provém das gorduras.
 Parte dos carboidratos ingeridos é convertido em triglicerídeos para posterior
utilização.
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Os triglicerídeos são transportados até as mitocôndrias pela carreadora carnitina.
Lá ocorre degradação dos ácidos graxos a acetil-coenzima A por beta-oxidação.
Posteriormente ocorre oxidação da acetil-coenzima .
Para cada molécula de ácido esteárico oxidado ocorre liberação de 146 moléculas de
ATP.
REGULAÇÃO HORMONAL
 Epinefrina e norepinefrina: ativam a triglicerídio lipase, como em exercícios
intensos, por exemplo.
 Corticotropina: promove a liberação de glicorticóides. Esses dois hormônios atuam
também sobre a enzima triglicerídio lipase, aumentando a liberação de ácidos graxos
do tecido adiposo.
 Hormônio do crescimento: Apresenta o mesmo efeito dos anteriores.
 A diminuição na insulina também promove mobilização de ácidos graxos.
 Hormônio tireodiano: rápida mobilização de gorduras devido ao aumento do
metabolismo energético.
FOSFOLIPÍDIOS
 Principais tipos: lecitinas, cefalinas, esfigomielinas.
 Possuem uma ou mais moléculas de ácidos graxos, um radical de ácido fosfórico,
uma base nitrogenada.
 90% dos fosfolipídios são formados nas células hepáticas.
 Indispensáveis na formação das membranas.
COLESTEROL
 Presente em grande quantidade em membranas e nas organelas internas das células.
 É encontrado na dieta de todas as pessoas.
 Apresenta alta lipossolubilidade, ligeiramente hidroinsolúvel.
 70% do colesterol plasmático encontra-se na forma de esteres de colesterol.
 Colesterol exógeno: absorvido no tubo digestivo
 Colesterol endógeno: sintetizado nas células do organismo.
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ATEROSCLEROSE E SUAS COMPLICAÇÕES
A aterosclerose é principalmente uma doença das grandes artérias, caracterizada
pelo aparecimento de depósitos lipídicos, denominados placas ateromatosas, na
íntima e na subíntima das artérias.
Essas placas contém quantidades bastante grandes de colesterol e, com freqüência,
são simplesmente denominadas depósitos de colesterol.
Também estão associadas as alterações degenerativas na parede arterial.
Em estágio mais avançado da doença, ocorre infiltração de fibroblastos nas áreas
degenerativas, causando esclerose progressiva das artérias.
O cálcio freqüentemente precipita com os lipídios, resultando em placas
calcificadas.
Quando ocorrem esses dois processos, as artérias tornam-se extremamente duras, e a
doença é, então, conhecida como arteriosclerose.
As artérias arterioscleróticas perdem a maior parte de sua distensibilidade e, devido
à presença de áreas degenerativas, sofrem fácil ruptura.
As placas ateromatosas muitas vezes atravessam a íntima, protruindo no fluxo
sanguíneo; a rugosidade de suas superfícies provoca o desenvolvimento de coágulos
sangüíneos, com a conseqüente formação de trombos ou êmbolos.
Quase 50% de todos os seres humanos morrem de alguma complicação da
arteriosclerose.
Cerca de dois terços dessas mortes são causadas por trombose de uma ou mais
artérias coronárias, enquanto o terço restante é causado por trombose ou hemorragia
de vasos em outros órgãos- sobretudo o cérebro, os rins, o fígado, o tubo
gastrointestinal, os membros e assim por diante.
A aterosclerose é principalmente uma doença da velhice.
É possível verificar quase sempre a presença de pequenas placas ateromatosas nas
artérias de adultos jovens.
A doença totalmente desenvolvida representa mais o auge de uma deposição de
lipídios durante toda a vida do indivíduo do que uma deposição no decorrer de
alguns anos.
Coronariopatia aterosclerótica é o estreitamento focal das artérias coronárias como
resultado da proliferação, na íntima, de células musculares lisas e da deposição de
lipídios. A lesão básica denomina-se placa. Seus principais componentes incluem:
a) Células de músculo liso da íntima, que proliferam, provavelmente, como
resultado de dano reticuloendotelial.
b) Lipídios (ésteres de colesterol e cristais), que se depositam no centro da placa e
também se acumulam nas células de músculo liso.
c) Um revestimento fibroso feito de tecido conjuntivo.
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Atualmente, nos Estados Unidos, a incidência global de morte como resultado de
coronariopatia aterosclerótica é de 0,5 em 1000 e está diminuindo. Contudo a
freqüência da coronariopatia aterosclerótica difere nas subpopulações com os
seguintes fatores de risco:
a) Idade. A incidência da coronariopatia aterosclerótica aumenta progressivamente
com a idade. O risco da morte é de 1,5 em 1000 indivíduos com 50 anos.
b) Sexo. A coronariopatia aterosclerótica é mais prevalente em homens que em
mulheres. Essa diferença é mais acentuada em mulheres pré-menopausicas
comparadas com homens de idade semelhante; homens com 50 anos são
acometidos cinco vezes mais que mulheres da mesma idade.
c) Colesterol sérico. A incidência de coronariopatia aterosclerótica aumenta com a
elevação dos níveis séricos totais de colesterol.
-O colesterol sérico total é transportado no sangue pela lipoproteína de baixa
densidade (LDL) , pela proteína de densidade muito baixa (VLDL) e pela
lipoproteína de alta densidade (HDL).
-Quanto maior a percentagem de colesterol total transportado pela LDL com
relação à HDL, maior risco de coronariopatia aterosclerótica, Pacientes com
proporções LDL-HDL>4:1 são particularmente suscetíveis à coronariopatia
aterosclerótica . Em contrapartida, altos níveis séricos de HDL parecem ser
protetores. Uma teoria é a de que HDL permitiria a saída do colesterol do vaso
coronário.
-É desejável que o nível de colesterol total seja inferior a 200 mg/dl.
-O nível de colesterol LDL deve ser inferior a 130mg/dl; em pacientes com
doença coronariana conhecida, deve ser inferior a 100 mg/dl.
-O níver de colesterol HDL deve ultrapassar 40mg/dl.
d) Tabagismo. Os fumantes de cigarro têm 60% mais probabilidade de
desenvolver coronariopatia aterosclerótica que os não fumantes quando os
outros fatores de risco são controlados. O tabagismo aumenta os níveis de
monóxido de carbono no sangue, o que pode, por sua vez, lesar o endotélio das
coronárias. O tabagismo também aumenta a adesividade plaquetária e, portanto,
a probabilidade de obstrução coronária trombótica.
e) Hipertensão. Quanto mais alta a pressão sanguínea sistólica ou diastólica, mais
provável o desenvolvimento de coronariopatia aterosclerótica. Esta
probabilidade é observada tanto em homens quanto em mulheres e se torna mais
pronunciada com a idade avançada.
f) O diabetes mellitus está associado a um aumento de 50% na incidência de
coronariopatia aterosclerótica em homens e 100% em mulheres, explicado em
parte pelo aumento da adesividade plaquetária e dos níveis séricos de colesterol
associados ao diabetes. Todavia, em geral há uma correlação precária entre a
gravidade do diabete e a da coronariopatia aterosclerótica.
g) História familiar. Uma predisposição familiar para coronariopatia existe em
parte devido à herança dos fatores de risco supracitados (exceto o tabagismo).
h) Os anticoncepcionais orais estão associados a uma incidência elevada de
infarto de miocárdio, uma conseqüência clínica da coronariopatia
aterosclerótica. A incidência de infarto do miocárdio aumente de 0,01% para
0,04% em mulheres não fumantes entre os 30 e 40 anos de idade que usam
anticoncepcionais orais e, o que é mais grave, de 0,06% para 0,25% nas
mulheres da mesma idade que fumam.
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Os fatores de risco mencionados previamente não constituem um mecanismo
conhecido de coronariopatia aterosclerótica; entretanto, há duas teorias principais da
aterogênese que explicam sua origem.
a) Teoria da resposta à lesão. Essa teoria afirma que algum estímulo (p. ex.,
hipertensão arterial ou hipercolesterolemia) lesiona o endotélio, resultando na
liberação de vários fatores de crescimento, os quais causam proliferação de
células lisas e migração dos macrófagos para a parede do vaso. Ao mesmo
tempo, o endotélio agora lesado torna-se mais permeável, permitindo a entrada
de lipídios e colesterol na íntima. Estas alterações resultam na formação de
placa, que acaba comprometendo o lúmem do vaso o suficiente para impedir o
fluxo sanguíneo. Se a placa sofre ruptura, as plaquetas são ativadas, levando à
formação de trombo e ao agravamento da obstrução.
b) Teoria da neoplasia. Em mulheres, as células da musculatura lisa nas placas
ateroscleróticas têm a mesma isoenzima da glicose-6-fosfato desidrogenase
(G6PD), sugerindo uma origem monoclonal dessas células. Essa teoria postula
que um estímulo- talvez lesão à parede do vaso- leve à proliferação de uma
linhagem celular a partir de uma única célula.
COMPLICAÇÕES
 Calcificação: em ateromas avançados. As artérias tornam-se endurecidas e friáveis.
 Ruptura ou ulceração focal: exposição destas superfícies à substâncias
trombogênicas promove a formação de trombos e microembolos.
 Trombose: complicação de lesão ulcerada ou fissurada. Obstrução total ou parcial da
luz . Podem ser incorporados à placa na íntima.
 Hemorragia: após a ruptura da cápsula fibrosa, podendo formar hematoma e
consequentemente ruptura da placa.
 Dilatação aneurismática: ocorre nos casos mais graves.
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HIPERTENSÃO ARTERIAL
Existe hipertensão quando a pressão arterial (PA) excede 140/90mm Hg em diversas
determinações. Esta definição é arbitrária porque uma PA diastólica de 85 mm Hg
pode associar-se a aumento de morbidade cardiovascular e da mortalidade.
Conseqüências da hipertensão: Em geral a taxa de mortalidade em 20 anos entre
pacientes com PA sistólica> 160mm Hg ou diastólica > 100mm Hg aumenta 100%
nos que não recebem tratamento.
1. AVC. Pacientes com PA sistólica >160mm Hg correm um risco quatro vezes
maior de acidente vascular cerebral quando não se tratam.
2. Coronariopatia. Pacientes com PA diastólica > 95mm Hg correm mais do que
dobro do risco de coronariopatia que os normotensos.
3. Insuficiência cardíaca congestiva (ICC). Em pacientes com PA > 160/95 mm
Hg, a incidência de ICC é quatro vezes maior. Em 75% dos pacientes com ICC,
ocorre hipertensão em algum momento durante a evolução da doença. O
espessamento e a hipertrofia do ventrículo esquerdo como resultado da
hipertensão podem ocasionar ICC em decorrência de disfunção diastólica.
HIPERTENSÃO PRIMÁRIA
1. Hemodinânica cardíaca e periférica anormal. A PA é o produto do débito
cardíaco pela resistência periférica total; portanto, para que ocorra hipertensão, é
preciso que haja elevação do débito cardíaco e/ou da resistência periférica total.
a) Uma anormalidade na resistência periférica é um fator contribuinte na
maioria dos casos de hipertensão.
b) Muitos pacientes com hipertensão têm elevação persistente do débito
cardíaco ou da resistência periférica total no início da evolução da doença.
2. Comprometimento pressórico da natriurese
a) Em indivíduos normais, uma elevação da PA altera a hemodinâmica intrarenal e as forças físicas, o que resulta em natriurese. Isto, por sua vez, causa
diurese, redução do volume extracelular normal e queda da PA.
b) Em pacientes com hipertensão essencial, o rim não responde normalmente à
PA elevada e a natriurese fica comprometida. A anormalidade homeostática
pode elevar a pressão ou ajudar a mentê-la alta.
c) A causa da falha da natriurese pressórica normal não é conhecida. Fatores
hormonais, anormalidades na estrutura e na atividade do transporte de
proteínas (p. ex. o intercâmbio de sódio e hidrogênio no túbulo renal) e a
atividade
do
sistema
nervoso
autônomo
foram
implicados
experimentalmente e em bases clínicas.
3. Reajuste barorreceptor. Em pacientes hipertensos, os barorreceptores nas
artérias carótidas e na aorta estão “reajustados”, exigindo pressões mais altas
para exercer influência no sentido de reduzirem a PA.
4. Anormalidades no sistema renina-angiotensina-aldosterona. Cada vez há
mais evidências de que anormalidades em cada componente desse sistema
complexo podem contribur para a patogenia da hipertensão em muitos pacientes
hipertensos. Por exemplo, estudos experimentais recentes usando técnicas de
transferência genética mostram que camundongos com maior expressão gênica
para o gene do angiotensinogênio são hipertensos.
5. Anormalidades em outros sistemas vasorreguladores
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a) A endotelina, um peptídio produzido em muitos órgãos e tecidos, é um
vasoconstritor com potência várias vezes maior do que a da epinefrina.
b) O peptídio natriurético atrial (PNA) , derivado do músculo cardíaco, pode
ter influência na regulação vascular normal como vasodilatador e contribuir
para a homeostasia do volume extracelular e o controle de PA em estados de
excesso de mineralocorticóide por favorecer a excreção de sódio.
c) Acredita-se que o fator de relaxamento derivado do endotélio (FRDE)
seja o óxido nítrico um gás derivado do metabolismo da arginina, que é
crucial em inúmeros fenômenos vasorreguladores. Acredita-se que defeitos
nesse sistema contribuam para a hipertensão associada à gravidez.
HIPERTENSÃO SECUNDÁRIA
 Em5%-10% dos pacientes com hipertensão, esta é secundária a um distúrbio
identificável no sistema endócrino ou no sistema nervoso autônomo.
1. A hipertensão renovascular é uma causa importante de hipertensão secundária.
Neste distúrbio, a hipertensão é resultado de uma interação complexa da
ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona com o sistema nervoso
simpático. O padrão de estimulação endócrina também pode depender da uni ou
bilateralidade das lesões vasculares.
a) De início, níveis altos de angiostensina II acarretam vasoconstrição e
expansão do volume extracelular, à medida que a liberação d aldosterona é
estimulada.
b) Com o passar do tempo, a expansão de volume pode ocasionar supressão de
toda a produção renal de renina , de modo que os valores de renina circulante
podem estar normais apesar da PA elevada. Isto talvez explique por que os
níveis não-estimulados de renina não são um bom índice da existência de
hipertensão renovascular em todos os casos e por que alguns pacientes (p.
ex. aqueles com lesões vasculares unilaterais) podem mesmo não demonstrar
aumento da secreção de renina.
- Os níveis normais de renina, que são impróprios na vigência de
hipertensão e expansão do volume de líquido extracelular, mantém a
hipertensão.
- Além disso, durante essa fase crônica, o aumento da atividade do sistema
nervoso simpático resultante da estimulação crônica da angiotensina II
contribui para a hipertensão.
2. Doenças renais parenquimatosas. Com freqüência a hipertensão
acompanha várias doenças renais, ressaltando a contribuição importante da
função renal endócrina e excretora na regulação da PA.
a) Alteração da função excretora. Sem dúvida, os defeitos na excreção
renal de sal e água contribuem para a patogenia da hipertensão em
pacientes com insuficiência renal avançada . Naqueles mantidos sob
hemodiálise ou diálise peritoneal , reduções moderadas no volume de
líquidos extracelular podem provocar queda acentuada na pressão
arterial.
b) Alteração na atividade de renina-angiotensina-aldosterona.
Alterações isquêmicas resultantes de fibrose intra-renal podem ativar o
sistema renina-angiotensina-aldosterona e contribuir para a hipertensão
em pacientes com insuficiência renal em fase inicial ou avançada.
3. Causas endócrinas.
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a) Os anticoncepcionais orais causam hipertensão em cerca de 5% das
pacientes que os utilizam. A hipertensão ocorre como resultado de
aumentos na síntese hepática de angiostensina induzidos pelo estrogênio.
A redução dos níveis de estrogênio ou o acréscimo de progesterona pode
melhorar essa complicação.
b) Síndromes de excesso de mineralocorticóide. O excesso de
mineralocorticóide causa hipertensão por induzir a retenção de sódio e
água, acarretando expansão do volume extracelular. Em geral, a
hipertensão é acompanhada por hipopotassemia, pois os
mineralocorticóides promovem excreção renal de potássio no ducto
coletor do néfron. Diversos distúrbios causam estados de excesso de
mineralocorticóide.
- Hiperaldosteronismo primário. Os tumores da glândula supra-renal
são funcionalmente ativos em 1%-3% dos pacientes, ocasionando
excesso de mineralocorticóide. Os tumores podem ser unilaterais ou
bilaterais, ou o excesso pode resultar de hiperplasia bilateral difusa da
zona glomerular da supra-renal.
- Hiperaldosteronismo remediável por glicocorticóide. Em raros
pacientes, um depfeito no desenvolvimento da supra-renal resulta na
síntese de aldosterona na glândula em questão, sob a influência do
ACTH. Um rearranjo gênico permite a expressão da síntese da
aldosterona responsiva ao ACTH na zona fasciculada, em vez de na
zona glomerular, levando à produção de grandes quantidades de
hormônio mineralocorticóide. O tratamento com dexametasona
suprime essa via anormal. Deve-se suspeitar desse distúrbio em
pacientes com história familiar de hipertensão e hipopotassemia.
- Hipermineralocorticoidismo exógeno. Alguns pacientes podem ter
hipertensão por excesso de mineralocorticóide devido à ingestão de
ácido glicirretínico, substância encontrada no alcaçuz europeu e em
algumas formas de tabaco de mascar. O glicirretínico bloqueia a ação
de 11 ß-hidroxiesteróide desidrogenase (enzima que impede a ligação
de glicocorticóide a receptores do túbulo renal distal), resultando em
alto estado mineralocorticóide. Os pacientes têm hipertensão,
hipopotassemia e baixos níveis de renina e aldosterona.
- Síndrome de Cushing . O excesso de glicocorticóide resultante da
terapia exógena provoca hipertensão em cerca de 80% dos pacientes
com síndrome de Cushing. A hipertensão pode ocorrer porque o
cortisol tem efeitos mineralocorticóides e, portanto, leva à retenção
de sódio e água. Contudo, muitos pacientes com síndrome de
Cushimg e hipertensão não manifestam baixo estado de renina como
seria de se esperar no mineralocorticoidismo primário, significando
que outros mecanismos também podem contribuir para a hipertensão.
- Síndrome de Liddle é um distúrbio familiar transmitido como uma
forma autossômica dominante de hipertensão. Manifesta-se por
hipertensão e hipopotassemia, com baixos níveis de renina e
aldosterona. A causa é um defeito genético na subunidade ß de canal
do sódio na membrana apical do túbulo renal distal. Esse defeito
simula a ação de hormônios mineralocorticóides favorecendo a
entrada de sódio no néfron distal, o que failita a absorção de sódio,
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aumenta e excreção de potássio e expande o volume de líquido
extracelular , causando elevação da pressão arterial.
c) Feocromocitoma. Este tumor da medula supra-renal aumenta a secreção
de catecolaminas, ocasionando hipertensão. Cerca de 50% dos pacientes
que têm hipertensão episódica e o restante hipertensão constante.
d) Acromegalia, hiperparatireoidismo e hipertireodismo também
provocam hipertensão. A coartação da aorta, é uma causa de hipertensão
passível de correção.
À fundoscopia ocular observa-se papilederma bilateral acompanhando ou não de
exsudatos e hemorragia retiniana.
As manifestações oculares podem independer da encefalopatia hipertensiva e
ocorrem isoladamente, sendo constituídas por escotomas e distúrbios da visão.
Decorrem quase sempre de hemorragias retinianas.
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CORONARIOPATIAS E INFARTO DO MIOCÁRDIO
CARDIOPATIA ISQUÊMICA (CI)
 CI é um nome genérico para as doenças do coração resultantes da isquemiadesequilíbrio entre o suprimento e a demanda de sangue oxigenado para o coração.
 Como a aterosclerose da a. coronária causa o estreitamento ou a obstruçào da
mesma, e isto fundamenta a isquemia miocárdica na grande maioria dos casos, a CI
é freqüentemente chamada cardiopatia coronariana.
 Em 90% dos casos de CI , a causa é a redução do fluxo sangüíneo nas coronárias. O
choque ou o transporte diminuído de oxigênio pelas hemácias também podem
causar CI , mas em números muito menores.
 Como o processo de aterosclerose evolui por um longo tempo, a CI na maioria dos
casos é apenas uma manifestação tardia desta última.
 Podemos dividir a CI em 4 síndromes, de acordo com a gravidade do estreitamento
coronariano e a resposta do miocárdio.
- angina do peito;
- infarto do miocárdio;
- cardiopatia isquêmica crônica com ICC;
- morte cardíaca súbita.
Epidemiologia
 A CI constitui a principal causa de morte nos EUA e países industrializados;
contribui com 80% sobre toda a mortalidade cardíaca.
 Esse número vem decrescendo, por diminuição dos fatores de risco (tabagismo,
colesterol sangüíneo elevado, hipertensão, vida sedentária) e por tratamentos mais
eficazes (medicações, UTI coronariana, bypass coronariano).
 Pode haver uma maior redução no risco com manutenção de níveis normais de
glicose sangüínea (em diabéticos), terapia de reposição de estrogênio (na pósmenopausa), profilaxia com aspirina (nos homens de meia-idade).
Patogenia
 A patogenia se dá pela interação entre:
- o estreitamento aterosclerótico das coronárias em posição epicárdica,
(fixas).
- a trombose intraluminal que se superpõe a uma placa aterosclerótica
rompida ou fissurada,
- a agregação plaquetária.
- vasoespasmo
Papel das obstruções nas coronárias fixas (epicárdicas)
 Mais de 90% dos pacientes com CI apresentam aterosclerose coronária estenosante
avançada.
 A maioria delas possuem, no mínimo, 75% de obstrução de pelo menos uma das
principais artérias epicárdicas.
 Mais comumente, na CI , há mais de um ramo coronário epicárdico afetado (os
ramos são: artéria descendente anterior esquerda- DAE, circunflexa esquerda- CE, e
coronária direita- CD); mas apenas um tronco destes comprometido pode causar a
CI.
 As placas estenosantes predominam nos 2 cm proximais da DAE e CE, e nos terços
proximal e distal da CD.
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Papel da alteração aguda na placa
 O rompimento de placas ateroscleróticas, com hemorragia, fissura ou ulceração é
fundamental para o desenvolvimento das síndromes coronárias agudas.
 Uma estenose crônica da artéria geralmente leva ao desenvolvimento de circulação
colateral - por isso o coração suporta certo grau de estenose. Deste modo os eventos
agudos não são devidos, em muitos casos, a uma estenose da artéria e sim ao
rompimento de uma placa moderadamente estenosante (de 50 a 75% de estenose),
levando a trombose e a obstrução aguda.
 O rompimento de uma placa aterosclerótica acontece devido a alterações agudas que
ocorrem na placa.
 Um vasoespasmo que frature uma placa calcificada, taquicardia por esforços físicos,
hipercolesterolemia e hemorragia intraplaca constituem contribuintes possíveis para
o rompimento da placa.
 Existe uma periodicidade circadiana para o estabelecimento da C. Isquêmica- entre
as 9 e 11h, concomitante com uma elevação na PA e imediatamente após a
reatividade plaquetária aumentada.
Papel do trombo coronário
 O trombo pode se formar na luz da coronária e comprometer o fluxo sangüíneo;
além disto, ele promove a agregação plaquetária e aumenta a vasoconstrição (por
aumento de tromboxane A2 e constituintes plaquetários).
 O trombo é um potente ativador de múltiplos sinais relativos ao crescimento das
células da musculatura lisa; os eventos mediados por plaquetas e por células
musculares lisas contribuem para o crescimento das lesões ateroscleróticas.
 No infarto do miocárdio, o trombo adicionado a uma placa que é parcialmente
estenótica, a converte em uma placa para uma completa e oclusiva.
Papel de vasoconstrição
 A vasoconstrição transitória pode ser introduzida em um sítio de rompimento da
placa e trombose- a elaboração dos fatores de relaxamento da célula endotelial estão
reduzidos, comparados com a secreção dos fatores de contração.
 Isto leva a uma diminuição ainda maior da luz coronariana e conseqüentemente
fluxo sangüíneo reduzido ao miocárdio.
MORFOLOGIA
 A maior parte dos infartos transmurais envolvem alguma porção do ventrículo
esquerdo.
 1 a 3% ficam restritos apenas ao ventrículo direito.
 Freqüentemente encontra-se infartos de idades variadas no mesmo coração.
 As áreas lesadas sofrem típica necrose isquêmica por coagulação.
 Segue-se inflamação e reparação.
 São macroscopicamente inaparentes com menos de 8 horas.
 Após 18 a 24 horas torna-se macroscopicamente visível, apresentando coloração
pálida ou vermelho-azulada.
 Após 2 semanas aparece na forma de uma área nitidamente definida, amarelada,
amolecida, margeada por tecido de granulação.
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Com o passar do tempo torna-se uma cicatriz fibrosa.
Nas primeiras 4 a 12 horas não é possível detectar a necrose na microscopia óptica.
Pode-se ver “fibras onduladas” e, nas margens do infarto, miocitólise.
Em 2 a 3 dias surge inflamação aguda.
Em 5 a 10 dia os macrófagos removem os miócitos necróticos.
A partir de 2 a 4 semanas torna-se mais evidente a substituição da área lesada por
tecido de granulação altamente vascularizado.
Este tecido torna-se menos vascularizado e mais fibroso.
Em uma lesão bem cicatrizada não é possível distinguir a sua idade.
14
MIOCARDIOPATIAS
1)Miocardiopatia dilatada (congestiva)
 Miocardiopatia dilatada é definida como uma diminuição na função contrátil do VE
e/ou VD na ausência de sobrecarga do volume ou coronariopatia. A perda da função
muscular cardíaca resulta em ICC.
 A causa da maioria dos casos de miocardiopatia dilatada não é conhecida. Infecção
viral foi implicada na patogenia dessa doença, mas em geral não há comprovação da
causa. As seguintes outras condições foram ligadas a miocardiopatia .
a) Abuso prolongado de etanol é a causa reversível mais comum de
miocardiopatia.
b) Terapia com doxirrubicina . Altas doses de doxirrubicina, um agente
antitumoral de uso comum, podem resultar em miocardiopatia dilatada
irreversível.
c) Exposição de cobalto, mercúrio, chumbo e/ ou altas doses de catecolaminas.
d) Endocrinopatias, incluindo tireotoxicose , hipotireoidismo e acromegalia,
e) Distúrbios metabólicos (p. ex. hipofosfatemia, hipocalcemia, deficiência de
tiamina)
f) Hemoglobinopatias (p.ex. anemia, falciforme, talassemia)
g) Anormalidades genéticas.


Os sintomas de miocardiopatia dilatada são aqueles de ICC direita e esquerda.
Os sinais físicos na miocardiopatia dilatada são aqueles da ICC. Um ritmo de galope
costuma estar presente. Também pode haver sopro de regurgitação mitral. Ocorre
regurgitação mitral devido a dilatação ventricular e alinhamento inadequado dos
músculos papilares.
Macroscopia:
 O coração é geralmente pesado (2 a 3 vezes mais) , grande e amolecido, em geral
com dilatação de todos os compartimentos. Pela dilatação, há adelgaçamento da
parede, e a espessura da parede ventricular pode ser inferior, igual ou superior ao
normal.
 Os trombos murais são comuns, principalmente a nível do ápice dos ventrículos
direito e esquerdo, e a nível dos átrios.
 Não existe alterações primárias nas válvulas.
 As artérias coronárias estão, em geral, com calibre normal.
 Com freqüência o ventrículo esquerdo apresenta cicatrizes fibrosas miocárdicas em
placa, refletindo o comprometimento isquêmico resolvido.
 O comprometimento isquêmico se deve pelo desequilíbrio de perfusão, entre o
aporte e a demanda sangüínea, devido à hipertrofia e dilatação do coração (aumento
do coração sem que haja aumento do aporte sangüíneo); pode ser devido, também, a
uma obstrução coronária ou por comprometimento embólico.
Microscopia
 As alterações histológicas são inespecíficas e não refletem um agente etiológico. O
tamanho das células musculares individualizadas variam, mas os núcleos estão
globalmente aumentados, indicando hipertrofia.
 Há fibrose intersticial e endocárdida na maioria das vezes, e pequenas cicatrizes
fibrosas substituem , com freqüência, células isoladas ou grupos de células (é fibrose
de substituição, que indica cura da necrose que existiu).
 Os leucócitos estão, na maioria das vezes, ausentes ou somente são encontrados no
tecido fibroso.
15
2)Miocardiopatia obstrutiva hipertrófica
 A miocardiopatia obstrutiva hipertrófica , antigamente era conhecida como estenose
subaórtica hipertrófica idiopática, ou hipertrofia septal simétrica. É um distúrbio em
que o septo intraventricular sofre hipertrofia excessiva. A hipertrofia do septo e do
folheto anterior da válvula mitral causa obstrução do fluxo do VE.
 A maioria dos casos é hereditária , com transmissão autossômica dominante, mas
também ocorrem casos esporádicos. Já foram identificadas anormalidades
específicas na miosina cardíaca, resultante de vários genes anormais.
 Fisiopatologia
a) Método de obstrução: O septo hipertrofiado “invade” a via de saída do VE,
ficando muito próximo do folheto anterior da válvula mitral.
b) O grau de obstrução ao efluxo varia de um paciente para outro e de tempos em
tempos no mesmo paciente.
c) A obstrução ao fluxo pode causar hipertrofia secundária de porções nãoseptais do ventrículo, mas a espessura do septo em geral permanece maior do
que a da parede livre do ventrículo.
 Os pacientes com miocardiopatia obstrutiva costumam queixar-se de dor toráxica.
 Em geral, ocorre síncope após exercícios em pacientes com miocardiopatia
obstrutiva, como resultado de redução do tamanho do VE e do consequentemente
agravamento da obstrução ao fluxo.
 Ocorrem dispnéia aos esforços, ortopnéia e dispnéia noturna paróxistica em
pacientes com miocardipatia obstrutiva. A função sistólica é, em geral, normal.
 O sopro é de ejeção, sistólico e audível ao longo da borda esternal esquerda. Ao
contrário do sopro que ocorre na estenose valvular aórtica, em geral não se irradia
para o pescoço.
Macroscopia:
 Há maciça hipertrofia miocárdica, com espessamento do septo interventricular,
denominado de hipertrofia septal assimétrica.
 A hipertrofia do septo se localiza mais comumente na região subaórtica.
Microscopia:
 Há imensa hipertrofia dos miócitos.
 Fibrose intersticial e de reposição.
 O desarranjo de fibras musculares envolve 10 a 15% do septo; mas ela não é
exclusividade da Cardiomiopatia Hipertrófica, podendo ocorrer em outras doenças
que cursam com hipertrofia miocárdica, mas em extensão muito menor.
3)Miocardiopatia restritiva
 As miocardiopatias restritivas constituem um grupo de doenças em que a
composição do miocárdio é alterada, de modo que ele se torna mais rígido. O
aumento da rigidez do miocárdio restringe o enchimento do VE, diminuindo o
débito sistólico e aumentando a pressão de enchimento do VE.
 Doenças infiltrativas do miocárdio, que produzem miocardiopatia restritiva, incluem
amiloidose, hemocromatose, eosinofilia idiopática, síndrome carcinóide e
fibroelastose endomiocárdica.
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


Em geral a função sistólica mantém-se normal nos estágios iniciais da doença, mas a
alteração das propriedades do miocárdio aumenta a rigidez diastólica. Assim sendo,
a pressão ventricular esquerda está acima do normal com qualquer volume
diastólico do VE. O aumento da pressão de enchimento acarreta congestão
pulmonar. À medida que o processo infiltrativo progride, a função sistólica também
fica comprometida.
Em geral, há sintomas de ICC esquerda e direita, sendo mais proeminentes os da
insuficiência direita.
Os sinais físicos incluem aqueles presentes na ICC esquerda e na direita.
Macroscopia
 Os ventrículos apresentam tamanho praticamente normal ou discretamente
aumentado.
 As cavidades ventriculares não se encontram dilatadas, e o miocárdio é firme.
 A dilatação bilateral é comumente observada.
Microscopia
 Há fibrose interstical em placa ou difusa.
 Esta fibrose pode variar de mínima a extensa, mas a etiologia é desconhecida.
17
MALFORMAÇÕES CARDÍACAS
1)Comunicação inter-atrial (CIA)
 Ocorre um defeito do septo interatrial do tipo ostium secundum na porção média
do septo, causado por falha na formação adequada do septo secundário.
 Um defeito do septo interatrial do tipo ostium primum resulta da septação
inadequada da porção de coxim endocárdico do septo. Invariavelmente, envolve a
válvula mitral, que é fendida e, com freqüência, regurgitante.
 Ocorre um defeito do septo interatrial do tipo seio venoso na parte alta do
septo, freqüentemente associado a drenagem anômala de uma ou mais veias
pulmonares para o átrio direito.
 A síndrome de Holt-Oram caracteriza-se por um defeito do tipo ostium
secundum associado a anormalidades ósseas dos antebraços e das mãos. A
síndrome de Holt-Oram é uma doença hereditária transmitida de modo
autossômico dominante.
2)Defeitos na divisão do canal atrioventricular
 A divisão ocorre por crescimento e fusão dos coxins endocárdicos dorsal e ventral.
 Estas estruturas participam também nas septação atrial.
18


A não fusão ou fusão incompleta dos coxins endocárdicos além de acarretarem a
persistência de um canal atrioventricular único ou parcialmnte separado, ocasionam
defeitos na septação atrial e ventricular.
A fusão imperfeita dos coxins endocárdicos pode levar a defeitos nas válvulas
mitral e tricúspide.
3)Anomalias do septo interventricular (CIV)
 Resulta da contribuição do septo interventricular primitivo, dos coxins endocárdicos
dorsal e ventral, e das duas cristas do tronco-cone.
 Para uma septação normal, estes cinco elementos devem exibir um crescimento e
alinhamento adequados. Isto explica o elevado número de defeitos observados no
septo interventricular.
 A agenesia de todos os elementos septais leva à condição conhecida como cor
triloculare biauriculare, na qual se observa uma única câmara ventricular.
 Porção muscular: as anomalias desta porção do septo ocorrem devido a defeitos do
septo interventricular primitivo, raras e com dimensões reduzidas.
 Porção membranosa: relacionadas à defeitos dos coxins endocárdicos e nas cristas
do tronco-cone; são as malformações cardíacas mais comuns.
 33% das C.I.V. fecham espontaneamente no primeiro ano de vida.
 Ocorre passagem de sangue do ventrículo esquerdo para o direito durante a sístole
ventricular.
 Há conseqüente hiperfluxo pulmonar com maior retorno sangüíneo para o átrio
direito
4) Anomalias do tronco-cone
a) Transposição completa dos grandes vasos da base: comunicação entre o ventrículo
direito e a aorta, e entre o ventrículo esquerdo e a pulmonar. É incompatível com a
vida, pois a aorta recebe sangue venoso e as pulmonares sangue arterial, estando a
grande e a pequena circulações completamente separadas.
- Caso esta anomalia ocorra simultaneamente com uma CIA ou CIV, que permitam
a mistura do sangue arterial ao venoso, a sobrevida torna-se possível.
- A posição anômala assumida pelo tronco-cone é também causa de malformações.
b) Complexo de Eisenmenger: dextroposição do tronco-cone. Compreende três
defeitos simultâneos: (1) aorta situada à direita de sua oposição normal, recebendo
sangue também do ventrículo direito; (2)comunicação interventricular; e (3)
hipertrofia do ventrículo direito.
c) Tetralogia Fallot: septação desigual do tronco-cone, à expenssas da pulmonar.
Caracteriza por: (1) estenose pulmonar; (2) aorta abrindo-se em ambos os
ventrículos; (3) comunicação interventricular; e (4) hipertrofia do ventrículo direito.
- Obs.: Na Síndrome de Eisenmenger ocorre desvio patológico da direita para
esquerda, ocorrendo, portanto, inversão do fluxo de comunicação anterior.
5)Anomalias das válvulas aórtica e pulmonar
 Freqüentes.
 Resultam de uma septação anormal do tronco-cone ou de defeitos próprios dos
folhetos valvulares.
 Os folhetos valvulares podem: não se desenvolver (agenesia valvar), apresentar
um desenvolvimento incompleto sofrer fusão parcial ou total.
19

A estenose pulmonar corresponde à 10% dos casos de cardiopatia congênita.
Ocorre conseqüente hipertrofia do ventrículo direito.
6)Anomalia dos arcos aórticos
a) Ductus arteriosus patente
 Na persistência do canal arterial (PCA) , o sangue flui da aorta para a artéria
pulmonar após sair da artéria subclávea esquerda. É imposta uma sobrecarga de
volume ao VE, que precisa bombear sangue para ambas as circulações, sistêmica e
pulmonar, o que , com o tempo, leva a insuficiência ventricular esquerda. O maior
fluxo sangüíneo pulmonar criado por essa lesão pode levar ao desenvolvimento de
hipertensão pulmonar, impondo uma sobrecarga de pressão ao VD.
b) Arco aórtico à direita
 Normalmente à croça da aorta deriva da quarto arco aórtico esquerdo.
 Quando porém ocorre um desenvolvimento acentuado do quarto arco aórtico direito,
este formará a croça da aorta, a qual, portanto, se vira para a direita.
 Nesse caso, a subclávia esquerda deriva do quarto arco aórtico esquerdo, formandose assim uma imagem especular da condição normal.
d)



Duplo arco aórtico
O quarto par de arcos aórticos apresenta um desenvolvimento igual.
Devido a isso surge duplo arco aórtico, que envolve o esôfago e a traquéia.
Pode ocorrer compressão e distúrbios na respiração e deglutinação.
e) Coarctação da aorta
 Estreitamento da luz do vaso devido ao crescimento anormal de sua parede.
 Neste caso estabelece-se uma pressão alta na porção proximal ao streitamento,
desenvolvendo-se então uma circulação colateral através das artérias intercostais e
mamárias.
 A coartação pode ocorrer também em outros vasos.
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

MOLÉSTIA REUMÁTICA
Definição: Doença inflamatória que ocorre como seqüela tardia de uma
faringoamigdalite pelo estreptococo ß-hemolítico do grupo A de Lancefield em
indivíduos geneticamente predispostos, acometendo principalmente articulações,
coração, sistema nervoso certal, pele e tecidos subcutâneos.
A incidência na população é de 0,3% a 3%, sobretudo na faixa etária de 5 a 15 anos.
Ocorre de uma a cinco semanas após a infecção estreptóccica.
A incidência desta patologia tem diminuído nos países desenvolvidos devido à
melhora nas condições de vida e consequentemente diminuição nos índices de
infeção de vias aéreas ou melhor tratamento destas.
No Brasil 30% das 28.000 cirurgias cardiovasculares realizadas à nível de saúde
pública estão relacionadas à valvulopatias por febre reumática, tendo um custo de
2/3 de toda a verba destinada à cirurgia cardíaca.
A taxa de mortalidade, no Brasil é de 0,5/100.000 para a febre reumática aguda e
1,42/100.000 para a cardiopatia reumática crônica.
Mimetismo antigênico: a semelhança química entre determinados antígenos
estréptocóccios com estruturas presentes em tecidos humanos induz a formação de
anticorpos e ocorre a chamada “reação cruzada”. Esse mecanismo é exemplificado
na figura abaixo.
Predisposição genética: pode ser exemplificado por meio do marcador antigênico
883 do HLA. As pessoas que possuem este marcador tem 71 a 75% de chance de ter
febre reumática.
O diagnóstico é clínico. Não existe sinal, sintoma, exame laboratorial ou de imagem
que seja patognomônico. O diagnóstico é feito de maneira multifatorial.
Para orientar o processo do diagnóstico, o Dr Duckett Jones elaborou alguns
critérios, que ao conjunto dão o diagnóstico.
21


O diagnóstico de febre reumática aguda é sugerido na presença de dois critérios
maiores ou um maior e dois menores associados a evidência de infecção prévia pelo
estreptocorpo do grupo A (ASO).
No quadro abaixo estão descritos os critérios de Jones:
TABELA
Critérios para o diagnóstico do surto inicial de febre reumática (Jones)
______________________________________________________________________
Critérios Maiores
Critérios Menores
______________________________________________________________________
Cardite
Artralgia
Artrite
Febre
Coréia
Aumento do VHS
Eritema marginado
Aumento do PCR
Nódulo subcutâneo
Aumento do intervalo PR
Evidência de infecção prévia pelo Estreptococo do Grupo A: ASO ou cultura de
orofaringe
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
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50 a 75% das crianças desenvolvem cardite aguda.
Corpúsculos de Aschoff: focos de necrose fibrinóide, circundados por linfócitos,
macrófagos, células plasmática ocasional e células de Anitschkow ou células de
Aschoff.
Células de Aschoff: histiócitos ativados tumefeitos. Apresentam citoplasma
anfofilico, núcleos centrais, arredondados ou ovóides, cromatina disposta em faixa
central.
Pancardite: os corpúsculos de Aschoff pode ser encontrado no endocardio,
miocárdio, pericárdio.
Pericárdio: corpúsculos localizados no tecido adiposo subseroso e no tecido fibroso,
associados a exsudato fibrino ou serofibrinoso.
Miocádio: corpúsculos disseminados no tecido conjuntivo intersticial, sobretudo
perivascular, com freqüente lesão dos miócitos adjacentes.
Normalmente quando o endocárdio está afetado, também estão as válvulas do lado
esquerdo.
Ocorre necrose fibrinóide nas cúspides e nas cordoalhas.
Verrugas: lesões vegetastes irregulares, localizadas nas linhas de fechamento,
devido ao acúmulo de fibrina em locais de erosão.
Os desequilíbrios hemodinâmicos são causados por alterações a nível crônico.
Placas de MacCallum: espessamentos irregulares, sobretudo a nível de átrio
esquerdo, ocasionadas por lesões subendocárdicas com jatos regurgitantes.
Na lesão valvular crônica vê-se espessamento de folheto, fusão e encurtamento
comissural, espessamento e fusão da cardoalha tendínea.
Na microscopia, nota-se que as lesões crônicas apresentam fibrose e
neovascularização difusas, com substituição dos corpúsculos de Aschoff por tecido
cicatricial.
É a causa mais freqüente de estenose mitral.
A mitral está isoladamente atingida em 70% dos casos; em 25% o processo a lesão
acomente também a válvula aórtica.
22

Pode ocorrer, em conseqüência à estenose mitral, dilatação do ventrículo esquerdo,
alterações vasculares e parenquimatosas à nível pulmonar, hipertrofia ventricular
direita.
23


ENDOCARDITES
É o comprometimento do endocárdio, com reação inflamatória, por diversas
etiologias.
Pode ser, dentre outras, infecciosas, trombótica não-bacteriana, pelo lúpus
eritematoso sistêmico.
ENDOCARDITE INFECCIOSA
 É uma das mais graves dentre todas as infecções.
 Caracteriza-se por colonização das válvulas cardíacas ou do endocárdio mural por
um agente microbiológico.
 Há formação de vegetações volumosas e friáveis nestes locais, repletas deste agente
microbiológico.
 A maioria dos casos é por bactérias, e por isso é comumente chamada de
Endocardite Bacteriana; mas qualquer forma de agente macrobiológico pode fazer
uma endocardite infecciosa.
 É classificada, clinicamente, em endocardite aguda e subaguda.
 Endocardite Aguda refere a uma infecção por um organismo altamente virulento,
destrutivo, em um coração normal, que leva à morte dentro de dias a semanas em
mais de 50% dos pacientes.
 Endocardite Subaguda é aquela em que o organismo não é muito agressivo, faz
infecção em um coração previamente anormal e acomete, geralmente, as válvulas
que já estão deformadas; a doença aparece de maneira insidiosa e, quando não
tratada, tem uma evolução protraída de semana a meses; a maioria dos pacientes
recupera-se após terapia apropriada.
 As vegetaçòes encontradas em ambas, na aguda e na subaguda,são compostas por
fibrina, células inflamatórias e organismos.
 Mas os organismos altamente virulentos fazem infecções valvulares mais invasivas,
necrotizantes e ulcerativas.
Epidemiologia e patogenia
 Vários microorganismos podem causar endocardite, embora as bactérias sejam as
responsáveis por quase todos os casos. O agente específico de endocardite depende
da estruturas cardíacas acometidas.
a) Infecção de válvulas normais é rara e em geral associa-se ao uso de drogas
intravenosas. S. aureus é o patógeno mais comum.
b) A infecção de válvulas lesadas previamente com freqüência deve-se a
estreptococos viridans . Os outros agentes de endocardite neste caso são
esterococos, S. aureos e vários pequenos bacilos Gram-negativos que
compreendem parte da flora oral normal.
c) Infecção das próteses valvulares. Os estafilococos (tanto coagulase-positivos
quanto os coagulase-negativos) são os agentes mais comuns da doença de início
precoce (ocorrendo <2 meses após cirurgia ) e os estreptococos são os agentes
mais comuns da doença de início tardio (ocorrendo > 2 meses após cirurgia).
 Nos viciados em drogas injetáveis, o principal microorganismo é o S. aureus e o
lado E do coração é o mais acometido, mas comumente o lado D pode ser afetado.
Evolução clínica
 As manifestações clínicas variam muito
24



a) Os achados comuns incluem febre, que é quase universal , e um sopro cardíaco.
A endocardite é uma das causas mais comuns de febre de origem desconhecida.
b) Menos comumente, há evidências de doença embólica , como AVC ou embolia
e infarto da artéria esplênica. A maioria dos êmbolos é pequena é pode originar
achados físicos incomus, mas diagnosticamente úteis, incluindo manchas de
Roth, nódulos de Osler, lesões de Janeway e hemorragia conjuntival.
c) Pode haver vários sintomas constitucionais, como mialgia, dor nas costas,
confusão ou fadiga.
d) Anemia moderada está associada a endocardite presente há mais de 2 semanas.
Complicações cardíacas:
- insuficiência ou estenose valvar com insuficiência cardíaca;
- abscesso anelar miocárdico, com possível perfuração da aorta;
- pericardite supurativa
- deiscência parcial das válvulas artificiais.
Complicações embólicas, levando a infartos ou à infecção metastática :
- lesões à esquerda do coração; para o cérebro (abscesso), baço e rins
(abscessos), outros sítios;
- lesões à direita do coração: para os pulmões (abscesso, pneumonia).
Complicações renais:
- infarto por êmbolos;
- glomerulonefrite focal (por microembolias), levando à S. Nefrótica e/ou
Insuficiência renal.
- Glomerulonefrite difusa (por deposição de imunocomplexo antígenoanticorpo) , levando à Insuficiência renal.
Macroscopia:
 Os achados são, tanto na aguda quanto na subaguda, vegetações fibrinosas, friáveis,
volumosas e em geral, repletas de bactérias- mais amiúde sobre as válvulas
cardíacas.
 As vegetações podem ser isoladas ou múltiplas, em qualquer lado do coração, e são
facilmente fragmentadas.
 Na aguda provocam perfuraçào ou erosão do folheto valvular subjacente, podendo
gerar erosão do miocárdio adjacente e até formar um abscesso cavitário (abscesso
anelar).
 Na subaguda, são vegetações menores, fazendo menos erosão ou perfuração da
válvula.
 Com o tratamento, as vegetações podem sofrer esterilização progressiva,
organização e fibrose, algumas vezes até calcificadas ( “endocardite curada”)
 As válvulas com endocardite curada podem apresentar neovascularização, em
especial na camada esponjosa das áreas não atingidas.
ENDOCARDITE TROMBÓTICA NÃO-BACTERIANA (MARÂNTICA)
 É uma forma de endocardite vegetativa (nas válvulas) encontrado, mais comumente,
nos pacientes debilitados, como aqueles com câncer ou septicemia, por isso
chamada também de Marântica.
 Com freqüência ocorre junto com tromboses venosas ou embolia pulmonar-sugere
origem comum em um estado hipercoagulável, o que pode estar relacionado com a
doença básica como o câncer.
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



Há uma evidente associação com os Adenocarcinomas mucinosos- a mucina
circulante tem efeito pró-coagulante.
Mas também está relacionado a tumores não produtores de mucina e que promovem
a hipercoagubilidade, como leucemia.
A endocardite trombótica não-bacteriana pode produzir embolia e infartos
resultantes no cérebro, coração ou em outro local.
A endocardite infecciosa a partir de uma endocardite trombótica não é comum,
apesar desta última lesar a válvula- fator predisponente para a primeira.
Macroscopia:
 Há deposição de massas estéreis de fibrina e outros elementos sangüíneos sobre os
folhetos valvulares, em ambos os lados do coração.
 As vegetações não são destrutivas e tendem a ser pequenas (1 a 5 mm).
 Aparecem de forma isolada ou múltipla, ao longo do bordo de fechamento dos
folhetos.
Microscopia
 As vegetações são compostas de trombos delicados.
 Não há reação inflamatória, organização ou comprometimento valvular induzido.
ENDOCARDITE DO LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO (D. DE LIBMAN-SACKS)
 Nos L.E.S., a valvulite mitral e tricúspide é ocasionalmente encontrada e leva ao
desenvolvimento de pequenas vegetações estéreis.
Macroscopia
 São vegetações pequenas (1 a 4 mm), podendo ser isoladas ou múltiplas.
 Mais freqüentemente as vegetações localizam-se nas superfícies inferiores das
válvulas átrio-ventriculares, mas podem estar em qualquer local do endocárdio.
Microscopia
 As vegetações consistem em um material eosinofílico fibrinoso.
 Há intensa valvulite (inflamação), caracterizada por necrose fibrinóide da substância
valvular.
 As pequenas vegetações podem ser, algumas vezes, confundidas com as vegetações
da endocardite infecciosa ou da endocardite trombótica não-bacteriana.
 Podem ocorrer complicações como fibrose e grave deformidade da válvula, o que
requer cirurgia.
26
MIOCARDITES
 É caracterizado por um envolvimento inflamatório do músculo cardíaco,
caracterizado por um infiltrado inflamatório leucocitário e uma necrose não
isquêmica ou degeneração dos miócitos.
 A clínica á muito variável, desde assintomático até dilatação do coração.
 Podem ser caudas por:
- infecções (vírus, bactérias, fungos, protozoários, helmintos).
 Reações imunomediadas (pós-viral, pós-estreptótica , LES, hipersensibilidae
medicamentosa, rejeição de transplante).
- Desconhecidas (sarcoidose, miocardite de células gigantes.
VIRAL
 A maioria dos casos é miocardite viral.
 Pode ocorrer em qualquer idade; mas lactentes, gestantes, imunossuprimidos são
particularmente vulneráveis.
 Agentes mais freqüentes: Coxsackievirus a e b, ECHO, poliovírus influenza A e B.
 Geralmente o comprometimento cardíaco surge após alguns dias ou semanas depois
de uma infecção primária em outro lugar do organismo (pulmão, trato respiratório
superior; sistema neuromuscular no caso da poliomelite).
 Ocasionalmente o coração é o foco primário da infecção; neste caso é chamada da
miocardite primária.
POR TRYPANOSSOMA CRUZI
 É o causador da Doença de Chagas.
 Afeta até 50% das pessoas em áreas endêmicas da América do Sul.
 O envolvimento miocárdico é encontrado em até 80% dos indivíduos infectados.
 10% dos pacientes morrem durante a fase aguda da doença; outros podem ir para
uma fase crônica, e desenvolver insuficiência cardíaca em 10 a 20 anos.
Macroscopia
 O coração pode estar normal ou aumentado, com dilatação dos ventrículos ou de
todo o compartimento.
 O miocárdio ventricular está tipicamente amolecido, com alguns focos pálidos ou
pequenas lesões hemorrágicas.
 O endocárdio e as válvulas não são afeadas- pode haver trombos murais, em
qualquer compartimento.
Microscopia
 As alterações histológicas variam muito.
 A miocardite é caracterizada por infiltrado inflamatório monomolecular intersticial,
com o predomínio de linfócitos, e por injúria aos miócitos adjacentes (o que não é
característica da lesão por isquemia).
 Biópsias podem ser úteis para o diagnóstico, mas podem ser falso-negativas pois a
inflamação pode ser apenas focal ou em placas.
 Nem toda a inflamação miocárdica constitui miocardite.
 Células inflamatórias no miocárdio sem que haja comprometimento dos miócitos
não pode ser considerado miocardite- outras situações podem fazer o mesmo
quadro.
27




Na Doença de Chagas, há infestação disseminada do tripanossoma nas fibras
musculares, acompanhada de infiltrado inflamatório (neutrófilos, linfócitos,
macrófagos e eosinófilos casuais).
Nas reações de hipersensibilidade, há infiltrados intersticiais -principalmente
perivasculares- de linfócitos, macrófagos e uma alta proporção de eosinófilos.
Se o paciente sobrevive à fase aguda da miocardite, as lesões inflamatórias
desaparecem, não deixando alterações residuais, ou curam por fibrose progressiva.
Nos casos de comprometimento mais grave, pequenas cicatrizes focais podem
permanecer.
28
DOENÇAS DO PERICÁRDIO
a) Pericardite aguda
Etiologia
 Pode ocorrer pericardite nas primeiras 24 horas após infarto miocárdio transmural,
porque a superfície inflamada da área infartada do miocárdio produz irritação
pericárdica. Um segundo tipo de pericardite, denominada Síndrome de Dressler,
também pode ser visto uma semana a vários meses após um infarto do miocárdio e
deve-se a uma reação auto-imune ao músculo cardíaco lesado.
 Muitos casos de pericardite aguda não tem etiologia conhecida. Contudo, como
freqüentemente ocorre pericardite após infecção viral das vias respiratórias
superiores, uma etiologia viral tem sido implicada.
 A pericardite aguda pode ser uma manifestação clínica de LES ou, menos
comumente, de esclerodermia.
 Tubercolose, infecção estreptocócica, infecção estafilocócica e as seqüelas de
endocardite infecciosa podem provocar pericardite .
 Os farmacos usados comumente que podem causar pericardite aguda são
procainamida, hidralazina e isoniazida.
 Pode ocorrer pericardite secundária a comprometimentos metastáticos do pericárdio.
Carcinomas pulmonares e de mama são os mais comuns locais primários.
 A pericardite é comum na insuficiência renal crônica sem tratamento ou subtratada.
 Durante cirurgia cardíaca a céu aberto, o pericárdio é incisado. Em geral, a
pericardite decorrente dessa lesão é de curta duração. Todavia, pode ser protraída e
grave em alguns pacientes.
 A irradiação dirigida ao tórax no tratamento de neoplasias malignas torácicas pode
causar pericardite.
Manifestações clínicas
 O sintoma mais comum na pericardite é dor torácica inspiratória.
- A dor localiza-se no lado esquerdo e costuma diminuir quando o paciente
se senta e inclina o corpo para a frente.
- Ocasionalmente, a dor pode ser semelhante à da isquemia miocárdica e
irradiar-se para o pescoço e o braço.
 O sinal físico clássico na pericardite aguda é o atrito pericárdico , que é um som de
fricção coriáceo tanto durante a sístole como a diástole. A contração atrial pode
acrescentar um terceiro componente ao atrito.
b)Derrame pericárdico
 A inflamação causada pela pericardite aguda costuma produzir exsudação de líquido
para o espaço pericárdico. Quando o líquido se acumula lentamente, o pericárdio se
expande para acomodá-lo, mas, quando o líquido se acumula rapidamente, ele
comprime o coração, inibindo assim, o enchimento cardíaco. Esta condição é
conhecida como tamponamento cardíaco.
 Diagnóstico
a) O ECG revela baixa voltagem; costuma haver alternância elétrica.
b) Ocorre aumento da silhueta cardíaca à medida que o derrame se desenvolve.
Tipicamente a silhueta cardíaca tem um aspecto de “garrafa d’agua”. O achado
de um aumento extremo das dimensões cardíacas sem sinais de congestão
vascular sugere o diagnóstico de derrame pericárdico.
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c) Um ecocardiograma que revele um espaço sem eco entre as duas camadas do
pericárdio é diagnóstico de derrame pericárdico.
d) O derrame pericárdico pode ser confirmado por aspiração de líquido do saco
pericárdico. O exame do líquido ajuda a estabelecer a causa do derrame.
- O líquido deve ser enviado para a contagem total e diferencial de células,
culturas para bactérias e fungos, colorações e culturas de Mycobacterium
tuberculosis, teor de proteína e de LDH.
- Uma alíquota adicional de líquido deve ser centrifugada e examinada à
procura de células tumorais.
- Caso se suspeite de colagenose, deve-se testar o líquido quanto à
presença de anticorpos antinucleares (AAN) .
- Derrames sanguinolentos são característicos de certas etiologias ( p. ex.
neoplasia, tuberculose). No entanto, também podem ocorrer derrames
sanguinolentos se a agulha for introduzida demais e for aspirado sangue
ventricular por engano. É possível distinguir os dois porque o sangue
ventricular coagula, enquanto o do derrame não o faz.
f) A terapia do derrame pericárdico é a mesma da pericardite aguda, mas
também envolve a aspiração do derrame.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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