PRONUNCIAMENTO SOBRE A CRISE Na semana passada, senhor presidente, fomos acometidos por uma avalanche de notícias, baseadas em dados do IBGE, sobre a recessão que o país estaria enfrentando agora por conta da crise econômica internacional. O problema é que a divulgação dessas informações, como não poderia ser diferente, vieram acompanhadas do achismo dos economistas de plantão. Por intermédio de uma tecnocracia bem própria, esses especialistas insistem em tentar prever qual será o tamanho e o formato dos problemas futuros do país. Ora, senhores deputados, sem querer desprezar os números e os dados do IBGE – o órgão que de fato pode emitir pareceres técnicos –, tudo não passa de um mero exercício de adivinhação, de futurologia astrológica. O pior de tudo é que essas opiniões, muitas vezes infundadas, se transformaram numa espécie de cacoete do economês dessa gente. Fazendo uma análise do mercado, comparo esses fatos às promoções dos supermercados, onde você compra um produto e leva dois. Ou seja, quando o assunto é economia, você já pode esperar que ela venha acompanhada, como diria Nelson Rodrigues, do seu óbvio ululante, que nesse caso são os chamados especialistas. Só que ninguém compra isso de boa vontade. O produto, nesse caso, é empurrado goela abaixo. E ainda há os contrassensos. Os dados do IBGE mostraram que o resultado foi bem melhor que o mercado esperava. Isso quer dizer que os tais especialistas já haviam errado, e muito, sobre as projeções para o PIB do trimestre. Então, senhores deputado, eu fico muito à vontade para falar sobre o tema. Evidentemente, os senhores podem ficar tranquilos, que não vou ocupar essa tribuna para conjecturar sobre números e nem falar quais serão os próximos números da megassena. Mas economia, senhor presidente, é um tema onde muitos falam, poucos entendem e que na prática acaba fugindo à regra. É um mundo à parte, com fatos pitorescos sem precedentes. Por que digo isso? Porque pior que seja o gestor econômico, mais cedo ou mais tarde, mesmo que ele tenha cometido as maiores atrocidades administrativas, ele vai acabar emitindo opiniões sobre o que deve ou não ser feito na economia. É ou não é risível, senhores? Felizmente o governo não tem medidos esforços para nos salvar dessas incongruências. No mesmo dia da divulgação dos dados do IBGE, já à noite, o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou em um ponto percentual a taxa de juros, a Selic, quando o mercado apostava num corte de 0,75. Além de representar o menor patamar da história do país, a nova Selic, analisaram novamente os especialistas, evidenciava uma trajetória de 15 anos de política econômica responsável. Com certeza é para deixar qualquer um tonto da cabeça. Apesar de toda essa confusão, a economia brasileira, graças ao esforço do governo, dá sinais de melhoras nesse segundo trimestre. Em abril, a produção industrial cresceu 1,1% sobre março. Em maio, a fabricação de carros subiu 2,6%; o consumo de energia, 1,6%; e o uso da capacidade instalada das fábricas, 1,4%, em relação a abril. Fora isso, está havendo um retorno na procura e na oferta de crédito para pessoas físicas. A redução do IPI para carros e eletrodomésticos também incentivou a demanda de bens. Outro sinal de que a economia nacional vive novos tempos foi o empréstimo de US$ 10 bilhões concedido pelo Brasil, também na semana passada, ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Gostaria de lembrar ainda aos nobres colegas, que desempenho do PIB brasileiro foi o oitavo melhor entre 36 maiores economias globais. Somente Austrália, Coreia do Sul, Polônia, Chile, Canadá e Noruega tiveram um resultado do PIB melhor que a brasileira. A Suíça teve retração idêntica à nossa. São sinais que o país está no rumo certo, com ou sem recessão. A eleição para o Parlamento Europeu, senhores, mostrou que nem sempre há uma correlação entre o estado da economia e a avaliação do governo. Na Alemanha, o PIB caiu 3,8% no primeiro trimestre. Já na Itália, a queda foi de 2,4%. Foram as duas maiores recessões européias. Entretanto, os governos dos dois países se saírem bem nas eleições. Tivemos exemplos disso aqui. Em 1998, o presidente Fernando Henrique foi reeleito em plena turbulência econômica. Na época, como agora, a crise veio de fora, dos países asiáticos. Dizia-se, inclusive, que o Brasil seria a “bola da vez”. O país ainda não tinha feito o ajuste fiscal e a âncora do real era a política cambial, que tornou o país vítima de ataques especulativos. A equipe econômica procurou minimizar a ameaça, mas logo depois acabou admitindo a crise. A poucas semanas da eleição, o governo dobrou os juros para tentar proteger a moeda. Foi uma medida impopular, mas que não ficou clara para o eleitor. O governo acabou cedendo e deixou o câmbio flutuar, mas só dias depois da posse do segundo mandado. Em 1998, o eleitorado não associou Fernando Henrique à crise, apesar do discurso da oposição. Agora, novamente, como demonstram as pesquisas, o eleitorado não associa o presidente Lula à crise, apesar do discurso da oposição. Ao contrário, vê que os programas sociais do governam estão fazendo bem para o país. Nem sempre, senhores, a economia e seus analistas ditam as regras. Tendo relação ou não com as eleições, senhores, o importante é que o governo está atento e tomando as medidas necessárias. O mundo está atento a nós. Na semana passada, a revista britânica “The Economist” fez uma reportagem sobre o Brasil, dizendo que ele foi o último país a entrar em recessão e pode ser o primeiro a sair dela. A revista exalta o presidente Lula pela redução de um ponto percentual na Selic. A reportagem aposta em crescimento ainda este ano e diz que haverá uma expansão de 3,5% e 4% em 2010. O que quero dizer com todo esse discurso, senhor presidente e caros deputados, é que nós, da base aliada, estamos do lado do governo para o que der e vier. Sabemos que tudo isso já está sendo enfrentado. O país prepara novas medidas para estimular setores específicos da economia e tentar garantir crescimento de 1% ainda este ano. Há propostas para incentivar a produção de bens de capital, software e a indústria naval. Por isso, senhores, é hora de colaborar trabalhando, e não ficar dando palpites que muitas vezes não coadunam com a realidade. Muito Obrigado. BERNARDO ARISTON Deputado Federal