O Sr. Carlos Bezerra pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, creio que a maioria dos senhores há de concordar que é um privilégio viver nesta tempo em que vivemos. Existem, claro, problemas que reclamam ainda solução, e problemas inerentes à época atual. Mas os progressos da ciência e da técnica nos proporcionam superiores às que condições de vida bem nossos antepassados podiam julgar possíveis. Mais além, há não poucas conquistas surgidas em nosso tempo de vida que nós mesmos não imaginávamos possíveis. Um campo em que isso é claramente visível é o da assistência à saúde. Hoje é possível tratar com sucesso, e não apenas em alguns grandes centros, mas onde quer que haja um serviço razoavelmente bem montado, enfermidades que não muito tempo atrás levavam quase sempre os pacientes à incapacidade ou à morte. É significativo que ao falar em doença mortal nossa mente nos remete quase inevitavelmente ao câncer. 2 Lembro, a maioria dos senhores lembra, que o diagnóstico de câncer correspondia praticamente a uma sentença de morte. Evitava-se até mesmo falar essa palavra, recorrendo-se a eufemismos. A batalha contra o câncer ainda não foi vencida, mas hoje os meios de prevenção, diagnóstico e tratamento evoluíram a tal ponto que mudaram o nosso próprio entendimento da doença. Isso, evidentemente, tem seu custo. Os modernos tratamentos de doenças neoplásicas devem grande parte de sua efetividade ao diagnóstico precoce, feito com o auxílio de aparelhos sofisticadíssimos, ao apuro técnico e aos numerosos acompanham a cuidados diretos aplicação da e indiretos quimioterapia que e da radioterapia e os procedimentos cirúrgicos. No final, há uma conta alta que precisa ser paga. Mas estamos falando aqui de vidas humanas. Quando se pretende implementar uma novidade há sempre dois grandes desafios. O primeiro é de ordem técnica. Como desenvolver aquele novo recurso de modo a 3 poder ser utilizado. Este desafio costuma ser vencido com investimento em pesquisa e muita persistência. O segundo é de ordem econômica: como tornar o novo recurso acessível ao maior número de pessoas. Aqui são necessários investimentos, mas também o trabalho sério e a vontade sincera de melhorar a vida das pessoas. O que me levou a trazer este tema a esta tribuna hoje foi a leitura de algumas matérias, publicadas em diferentes jornais, tratando do tratamento de câncer no Sistema Único de Saúde. A Constituição de 1988, bem sabem os senhores e senhoras, estabelece que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado. Com esse fundamento é que foi criado o SUS, para proporcionar à população brasileira um sistema de atenção à saúde adequado e digno. Todos somos testemunhas do crescimento e da evolução do SUS, e das lutas e esforços despendidos para tanto. Então, senhores deputados, foi uma surpresa bastante desagradável abrir o jornal e ler que os 4 tratamentos de câncer prestados pelo SUS a seus usuários estão em alguns casos defasados até vinte anos. O SUS foi criado em 1990, portanto há vinte anos. É como se esses tratamentos houvesse desde a fundação do SUS estacionado no tempo, ignorando todos os novos recursos disponíveis. Um profissional que passasse hoje a atender pacientes do SUS precisaria reaprender como usar medicamentos e técnicas há muito abandonadas, que ele talvez jamais tenha conhecido, para tratar seus pacientes de um modo que ele sabe que não terá o mesmo resultado. Não é somente no aspecto do tratamento que os pacientes de doenças neoplásicas se veem mal assistidos. Os recursos diagnósticos também são insuficientes e não são disponibilizados da maneira mais correta. Assim, doenças que poderiam ser diagnosticadas em fase inicial acabam por sê-lo somente quando já avançadas, piorando o prognóstico e dificultando a terapia. Neste caso, além de prejudicar os pacientes acaba-se por ter que gastar mais dos recursos que são reconhecidamente limitados. 5 Pior ainda, preocupante, é verificar que em alguns casos há até mesmo retrocesso. Segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, desde junho de 2008 o Ministério da Saúde simplesmente parou de pagar por vários tratamentos de alguns dos tipos mais comuns de câncer. Ou seja, piorando o que já era insuficiente, e na contra-mão de tudo o que se deseja para a saúde brasileira. Muitos dos senhores deputados presentes são médicos, e alguns são interlocutores frequentes do Ministério da Saúde. Por isso quero registrar minha grande preocupação com a situação dos doentes de câncer que dependem do SUS – nada menos que 80% do total de brasileiros com a doença – e solicitar aos nobres pares que façam gestões junto às autoridades competentes, abram os seus olhos e os seus corações para a necessidade de melhorar a assistência aos pacientes portadores de câncer no setor público. Recursos aplicados na saúde da população não são gastos, e sim investimentos. Obrigado. 2010_79_266