1. Ética empresarial

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ÉTICA GERAL E PROFISSIONAL
MÓDULO 7
Índice
1. Ética empresarial ..................................................... 3
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Ética Geral e Profissional - Módulo 7
1. ÉTICA EMPRESARIAL
É neste contexto, e com o objetivo de o mundo empresarial recuperar
a confiança, que vai surgindo a ética Empresarial. Para responder à situação,
as universidades começam a organizar cursos de ética aplicada aos
negócios. Diversas publicações científicas ou ligadas ao mundo empresarial
têm se interessado pelo tema. Atualmente nenhuma grande escola de
Gestão ou Economia deixa de integrar nos seus cursos a disciplina de ética
Empresarial.
Outro fator importante para o surgimento da ética Empresarial foi a
influência da luta ideológica promovida pelas forças de esquerda, partidos e
sindicatos e, também, de um modo particular, a atividade das Igrejas na sua
luta pela justiça social, dando especial destaque ao pensamento
desenvolvido pela Igreja Católica, sobretudo no que se refere à utilização
pelas empresas dos recursos hídricos e ecológicos que, sendo o bem
comum, terminam por ser apenas um meio de lucro para algumas empresas
em detrimento da comunidade. Como exemplo, podemos citar a poluição por
meio de dejetos industriais de rios e lagos.
A ética passa a ser, então, um caminho para promover as empresas
aos olhos da opinião pública. Uma empresa que põe em primeiro lugar os
seus clientes, que respeita o meio ambiente, que reconhece ter uma
responsabilidade social, que se preocupa com a vida cultural dos seus
trabalhadores, que está atenta a todos os que, direta ou indiretamente, têm
alguma relação com ela, melhora a sua imagem e tira disso benefícios
diversos, entre eles os benefícios econômicos. A ética empresarial é
rentável. Logo, os empresários verificaram que as empresas que
manifestavam preocupações éticas tinham melhores resultados do que as
outras. Essa constatação contribuiu muito para que a ética empresarial
entrasse na moda e fosse vista como instrumento para o aumento de lucros.
Os empresários rapidamente compreenderam que a ética, enquanto
marketing, favorecia o bom nome das empresas melhorando a sua imagem,
e, consequentemente, aumentava os negócios, criava fidelidades, contribuía
para aumentar os lucros. A ética é rentável não só quando usada no
marketing, mas quando a empresa, no seu interior, consegue fazer com que
a ética anime o espírito de todos aqueles que integram o seu quadro de
pessoal. Por outras palavras, a ética revela-se também rentável quando, por
meios eficazes, a empresa incute nos seus colaboradores princípios e regras
éticas que os conduzem na sua atividade dentro da empresa. Uma
organização que partilha valores comuns e assume regras de funcionamento
com uma marca ética é mais eficiente economicamente e sobrevive melhor
no mercado.
A ética aplicada à empresa produz dois fatores geradores de lucro. O
primeiro diz respeito à diminuição de investimento em mecanismos de
controle. Toda a organização tem necessidade de possuir mecanismos que
permitam controlar o seu funcionamento. Estes mecanismos vão desde
relógios de ponto, por exemplo, a sistemas de vigilância para controle de
tempos máximos ou mínimos para diversas operações, de modo a garantir
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os ritmos de trabalho, as hierarquias de responsáveis que zelarão pelo bom
funcionamento da empresa etc. Quando as pessoas estão sensibilizadas pelo
espírito ético e veem o seu trabalho como caminho de realização moral, a
empresa pode dispensar investimentos de controle, ou pelo menos reduzir
esses investimentos ao mínimo. Além disso, tal atitude é racional, uma vez
que é impossível controlar todas as pessoas o tempo todo.
O segundo fator que produz rentabilidade tem origem nos aumentos
de produtividade. Um trabalhador que encara o seu trabalho como um dever
moral desempenha as suas tarefas de um modo diferente daquele que vê no
trabalho apenas um processo para adquirir os meios necessários à sua
subsistência. Quando um homem ou uma mulher vê o seu trabalho na
empresa como um meio para a realização da sua dimensão moral, aderindo
aos princípios éticos propostos pela organização, a sua taxa de
produtividade aumenta. Isso porque falta menos ao trabalho, cumpre mais
rigorosamente os horários, dedica-se totalmente às suas obrigações de
trabalhador. Ocorre, então, um aumento do ritmo em que as diversas
tarefas são feitas porque o trabalhador se sente responsável pela empresa.
A justificação filosófica para a ética Empresarial não está só na
possibilidade do lucro das empresas, mas no homem, na dignidade do
homem. Uma vez que a empresa é uma criação humana, à medida que ela
contribui para a realização do homem, para a vida boa, ela deve ser ética. A
ética empresarial justifica-se assim não por ser rentável, mas porque a
empresa, sendo uma construção humana, deve acolher a dimensão que faz
do homem o que ele é, a dimensão moral.
A atividade humana na empresa é movida por interesses econômicos,
mais precisamente objetivando ao lucro. Apesar de na nossa tradição o
dinheiro oriundo do lucro nem sempre ser visto como algo moral, lembremos
que a empresa como conhecemos foi uma criação dos protestantes que a
pensavam como a produtora do bem, uma vez que promove a felicidade
humana, pois evita a escassez por meio da produtividade. Desde a tradição
judaica, a riqueza era habitualmente vista como sinal da generosidade de
Deus para com aqueles que agiam bem. O protestantismo também pensa
dessa maneira a posse da riqueza. Já nos países de tradição católica, o
dinheiro foi habitualmente olhado com suspeita. Sintomatica mente, nos
países católicos, os ricos tendem, ou pelo menos tendiam, a mostrar-se
discretos no que se refere à manifestação pública da riqueza.
Como já referimos, para Kanta ação só tem valor moral quando é
determinada pelo dever. Antes de expor as consequências desta posição, no
que diz respeito à atividade empresarial, analisemos o agir humano em
geral.
A atividade humana em geral é sempre ditada por inúmeras
motivações. Agir humanamente implica estar atento a múltiplos fatores
tanto no que se refere aos fins a atingir como aos meios a utilizar, e nas
condicionantes da ação. A vida é assim e a reflexão ética deve ter como
ponto de partida a vida, e não deve ser uma ética abstrata, originada por
uma razão descarnada, que deve dizer o que a vida é; o que a vida é não
pode ser negado por uma teoria ética.
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Se uma atividade humana tem vários objetivos e entre eles está a
vivência da dimensão moral, não se pode negar a existência desta pelo fato
de ela não ser a única dimensão presente. Aliás, vendo bem as coisas,
nunca há uma ação que tenha como motor apenas a moral, que tenha a ver
apenas com a moral. Toda a ação é ao mesmo tempo política, econômica,
social e moral. A dimensão moral está presente na ação que é um agir
imensamente complexo.
Para uma ação ter dimensão moral é preciso que seja ação, ao
mesmo tempo livre e responsável. Este movimento implica complexidade.
Para haver moralidade no pagamento dos impostos é preciso cumprir a lei
pagando os impostos. Só se pode cumprir o dever de amar os outros,
amando-os. O que determina a moralidade da ação, para além da liberdade
e do conhecimento, é a intenção, a intenção dominante. Ora, a intenção
inicial dos fundadores do capitalismo era gerar riquezas que diminuíssem a
escassez natural de bens e serviços. Isso era sua responsabilidade, seu
dever, não só com a sociedade, mas com o próprio Deus. O lucro, a
princípício era apenas resultante do trabalho efetuado.
Hoje, a ética desvinculou-se dessa noção de dever, uma vez que as
intenções que movem o homem no seu agir são múltiplas. Na empresa, as
coisas não são diferentes; nessa atividade, o homem não visa apenas os
aspectos econômicos. A vida empresarial tem uma finalidade específica ou
interna, que lhe confere um sentido, e seu interesse racional é a obtenção
do lucro. Mas, por mais individual que possa parecer essa proposição, o fato
de agir levando em consideração os outros (clientes, fornecedores,
acionistas, colaboradores) dá um caráter social à atividade empresarial. O
dever, então, agora passa a ser um dever de responsabilidade com o futuro
da organização, com a sociedade em que está envolvida, com toda a
humanidade e com o futuro do planeta. É o que deve estar presente quando
se discute a moralidade nas empresas.
Além de atender a objetivos econômicos irrenunciáveis (o primeiro de
todos, evidentemente, é o da própria sobrevivência num mercado cada vez
mais competitivo) as empresas devem levar em consideração os interesses
legítimos dos diferentes parceiros, entre eles os interesses éticos. A empresa
não pode deixar de buscar seus interesses econômicos sob o risco de
desaparecer. E, entre seus interesses, o maior é o lucro, mas sendo
humana, a atividade empresarial, no seu desempenho, não pode deixar de
ser moral, moralmente boa ou moralmente má. Aí aparecem os limites de
como conquistar mercados, clientes e fornecedores, sendo moralmente boa.
É a própria racionalidade do capitalismo que impõe esses limites, uma vez
que humana e tornada pessoa jurídica lhe é impossível sob pena de fracasso
ir contra a humanidade.
Assim, mesmo que seja pelo pensamento egoísta de consecução dos
lucros, a atividade empresarial, nos dias de hoje, não pode ir muito longe
sem uma conduta ética e sem exigir de seus parceiros o mesmo agir ético
sob o risco de negar a si mesmo. A ética empresarial, enquanto vivência e
enquanto reflexão sobre a própria ética que deve presidir toda atividade
econômica, pois que, para além da sobrevivência das empresas, para além
de ganhar dinheiro, para além de todas as outras finalidades que a vida
empresarial deve perseguir, deve ser antes de tudo ser uma atividade
humana com e pelos outros em instituições justas.
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A empresa necessita desenvolver-se de tal forma que a ética, a
conduta ética de seus integrantes, bem como os valores e convicções
primários da organização se tornem parte de sua cultura. Entre essas ações
concretas de conduta empresarial voltada para a ética podemos citar:
1.
Balanço social: é um instrumento utilizado pela empresa para
divulgar sua política de gestão de pessoas e suas implicações no processo
produtivo. O balanço social é o instrumento utilizado pela empresa para
comunicar a todos os parceiros (partes envolvidas) a evolução na gestão
social e ambiental, o andamento dos diferentes programas implantados, seu
impacto nos públicos envolvidos e o firme comprometimento da
administração com o processo.
2.
Cidadania: é o exercício pleno dos direitos e obrigações por
parte dos cidadãos. A empresa ética procura participar em projetos que
busquem a prática da cidadania, uma vez que, nos tempos atuais, a
participação na luta contra a exclusão social é cada vez mais necessária para
evitarmos a explosão de violência. A empresa, enquanto pessoa jurídica, é,
muitas vezes, o único agente que pode promover e englobar a luta da
comunidade. Ela pode, dentro do lugar onde se estabeleceu, buscar apoios
públicos que valorizem o respeito às pessoas e ao meio ambiente. Assim,
estará no caminho do cumprimento dos seus deveres enquanto agente
social. É cada vez maior o número de empresas que procura cuidar dos
jovens e adultos, não só enquanto estudantes, mas enquanto profissionais,
bem como nas relações com a família e as instituições. Os jovens formados
nessas condições terão condições de, pela escolha consciente, votar em
representantes que promovam o bem comum por meio de suas ações
políticas. A empresa, então, estará inserida numa comunidade que
favorecerá uma maior produtividade.
3.
Compromisso social: se a comunidade é uma coletividade em
que os participantes possuem interesses comuns e estão afetivamente
identificados uns com os outros. Se estiver inserida nessa comunidade, se
for coerente entre o que ela cobra dos agentes públicos e sua prática, a
empresa tende hoje a se comprometer com a região em seu entorno,
promovendo diversas atividades que vão além da expectativa de lucro ou de
marketing, mas com compromisso social.
4.
Códigos éticos de empresas: quase todas as empresas
possuem um código de ética. Tal código procura dar conta do papel da ética
no desempenho profissional de cada um dos colaboradores. Tanto para o
quadro superior de uma empresa ou o gestor ou mesmo o empresário e os
trabalhadores mais humildes. Isso porque, fundamentalmente, as regras
éticas não são diferentes para diferentes papéis hierárquicos. Os modelos
desses códigos vieram das empresas estrangeiras que precisavam ensinar
aos brasileiros as normas de conduta que possibilitassem a polidez entre os
funcionários e desses para clientes e fornecedores. Com pequenas
diferenças entre seus preceitos, os códigos de conduta fornecem juízos de
valor comum a toda empresa capitalista para que as tomadas de decisões
resultem num agir voltado para a liberdade, o bem, a retidão moral e a
competência profissional, ou seja, para a ética profissional.
5.
Filantropia empresarial: é o apoio, em recurso financeiro ou
material, dado pela empresa a alguma ação social individual ou a entidades,
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sem acompanhar o uso desse recurso ou se envolver diretamente no
projeto. Isso porque é a única forma que a empresa pode utilizar para agir
dentro do principio ético da compaixão. Apesar de não ter coração (embora
seja uma pessoa), a empresa, por definição, não pode fazer caridade. Restalhe fazer filantropia. Trata-se da ação social externa à empresa, tendo como
beneficiário principal a comunidade em suas diversas formas: organizações
não governamentais, conselhos comunitários, associações e entidades do
terceiro setor, em geral. Como exemplo, podemos citar o Instituto Ethos.
6.
Governança corporativa: é o conjunto das melhores práticas
e relacionamentos entre acionistas, conselho de administração, diretoria,
auditoria independente e conselho fiscal, orientado a assegurar a
transparência das informações, no sentido de otimizar o desempenho da
empresa e facilitar o acesso ao capital por meio do mercado aberto, com
garantia de uso das melhores práticas de gestão. Em outras palavras,
governança corporativa é a forma de gestão pela qual a empresa reconhece
os direitos de todas as partes nela interessadas, ou seja: acionistas,
fornecedores, cliente, trabalhadores, governo e comunidade.
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